PAPEL DA OBESIDADE E DA DISFUNÇÃO HEPÁTICA SOBRE A...

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – ICS CURSO DE BACHARELADO EM FARMÁCIA _________________________________________________________________________________ PAPEL DA OBESIDADE E DA DISFUNÇÃO HEPÁTICA SOBRE A ATIVIDADE VASCULAR DE RATOS MILENA DO NASCIMENTO Sinop-MT 2016/2

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – ICS CURSO DE BACHARELADO EM FARMÁCIA

_________________________________________________________________________________

PAPEL DA OBESIDADE E DA DISFUNÇÃO HEPÁTICA SOBRE A ATIVIDADE

VASCULAR DE RATOS

MILENA DO NASCIMENTO

Sinop-MT

2016/2

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE SINOP INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – ICS CURSO DE BACHARELADO EM FARMÁCIA

_________________________________________________________________________________

PAPEL DA OBESIDADE E DA DISFUNÇÃO HEPÁTICA SOBRE A ATIVIDADE

VASCULAR DE RATOS

MILENA DO NASCIMENTO

Trabalho de Curso apresentado ao Curso de

Farmácia da Universidade Federal de Mato

Grosso – UFMT, campus de Sinop como

requisito parcial para obtenção do título de

Farmacêutica, sob a orientação da Professora Dra

Gisele Facholi Bomfim

Sinop-MT

2016/2

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Dedico este trabalho ao meu pai Sidney do

Nascimento (em memória) pelo exemplo de vida

e inspiração profissional, e à minha mãe Sandra

Regina Menin do Nascimento por seu amor

incondicional e por sempre me incentivar.

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AGRADECIMENTOS

“Não há no mundo exagero mais belo que a Gratidão.” (Jean de la Bruyere)

Agradeço primeiramente à Deus que é a força divina que tem me sustentado e me dado forças

nos momentos difíceis, além de estar sempre iluminando e abençoando o meu caminho.

Ao meu pai Sidney do Nascimento (em memória) que foi e sempre será a minha inspiração

profissional e pessoal.

À minha mãe Sandra Regina Menin do Nascimento, que se tornou pai e mãe há 12 anos e não

mediu esforços para que eu pudesse alcançar meus objetivos, sempre me incentivando e

apoiando com seu amor incondicional.

À toda a minha família: meus irmãos Maiara e Paulo Henrique; meu avós maternos Helena e

Leonildo; meus tios Marcia, Marcio, Marcos, Paulo e Ana Paula; meus primos Felipe,

Gabriela, João Vitor e José Otávio; os agregados Thiago e Vera, que já são da família.

Agradeço imensamente por serem a base da minha vida, sempre me dando forças e

incentivando à ir atrás dos meus sonhos, participando de cada conquista em minha vida.

À minha orientadora Dra Gisele Facholi Bomfim, que considero como uma “mãe científica”,

pela oportunidade, paciência, carinho e por todos os conhecimentos compartilhados. Obrigada

por me mostrar o mundo da pesquisa científica e me ajudar a finalizar essa etapa importante

em minha vida.

Aos meus amigos e colegas de sala, “cats da farmácia”: Aléxia, Renata, Caio, Lauren, Juliana,

Maristela, Joyce, Kamila, Kesye, Rosane, Veridiana, Caroline e Charles. Muito obrigada por

toda a amizade e companheirismo que foram essenciais durante os anos da graduação.

À minha melhor amiga, Esther, pelo total apoio, por me suportar nos momentos de

nervosismo e sempre me distrair quando preciso.

À toda equipe UPEX: minhas amigas Renata e Caroline (sempre será parte de nossa equipe),

o apoio e amizade de vocês foi essencial para tornar a rotina dos experimentos mais leve e

agradável. Aos colegas e ex-colegas de laboratório, Bianca, Carina, Amanda, Larissa, Livia,

Thais, Lucas, Manoel, Ana Carolina, Angélica, Gabriel, Miguel, Ingrid, Paulo, Amadeu,

Felipe e Cintia que foram fundamentais, pois sem a ajuda de vocês nenhum experimento

poderia ter sido executado e finalizado de formas melhores. Agradeço também à todos os

professores da nossa equipe, André, Mario, Ricardo, Renata,

Eveline, Marcos, Julio, Nadia e Danilo; especialmente ao professor Mario, por abrir as portas

de seu laboratório e estar sempre disposto a nos ajudar em tudo que está ao seu alcance.

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Ao meu co-orientador Dr André Ferreira do Nascimento, que teve um papel importante

durante a licença maternidade da minha orientadora compartilhando conhecimentos e

ajudando durante os protocolos experimentais.

À técnica do laboratório Morenna Giordani, por ser tão prestativa e ajudar sempre em tudo

que é necessário durante os experimentos.

À Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Sinop, e ao Instituto de

Ciências da Saúde, por todo o suporte dado para que minha formação acadêmica fosse

concluída com êxito.

À Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP, que através do XII Curso de Inverno de

Farmacologia me proporcionou um aprendizado ímpar sobre a pesquisa científica.

Principalmente ao Dr Fernando Carneiro pela ótima recepção em seu laboratório e sua

colaboração para com o nosso trabalho.

Aos ratos, que deram suas vidas para os experimentos deste trabalho.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de

iniciação científica e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso pelo apoio

financeiro.

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“O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo.

Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas

admiráveis.”

(José de Alencar)

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RESUMO

NASCIMENTO, M. Papel da obesidade e da disfunção hepática sobre a atividade

vascular de ratos. 2016. 47. Trabalho de Curso de Farmácia – Universidade Federal de

Mato Grosso, Campus de Sinop.

Palavras-chaves: DHGNA, obesidade, cardiovascular

INTRODUÇÃO: Estudos têm demonstrado que a doença hepática gordurosa não alcoólica

(DHGNA) cresce em paralelo ao aumento da obesidade, tornando-se um problema de saúde

pública. A DHGNA também é considerada um fator de risco independente para o

desenvolvimento de doenças cardiovasculares, podendo causar prejuízo na função dos vasos,

entretanto ainda é incerto o papel da DHGNA sobre as propriedades funcionais do sistema

vascular. OBJETIVO: avaliar se ratos com obesidade e inflamação hepática, um modelo de

DHGNA, apresentam disfunção vascular. MÉTODOS: Ratos machos Wistar foram divididos

em quatro grupos: controle (C), dieta ocidental (D), controle e tioacetamida (C+TAA), dieta

ocidental e tioacetamida (D+TAA). A dieta rica em gordura é constituída por ração rica em

gordura e água com açúcar (300g/L). A administração de tioacetamida (100mg.kg), um agente

hepatotóxico indutor de inflamação e fibrose no fígado, foi feita via intraperitoneal, duas

vezes por semana. Após oito semanas foi avaliado a função vascular através da reatividade

vascular, usando anéis isolados de aorta com e sem endotélio. Foram realizadas curvas

concentração resposta (CCR) para fenilefrina, acetilcolina (Ach) e nitroprussiato de sódio

(NPS). Fizemos ainda o bloqueio com L-NAME (inibidor da óxido nítrico sintase).

RESULTADOS: Nas CCR para fenilefrina em anéis de aorta com endotélio, tanto o grupo

C+TAA quanto o D+TAA apresentaram maior EC50 em relação aos grupos C e D

respectivamente (C=6,32±0,4 vs C+TAA=6,8±0,19 e D+TAA=6,52 ± 0,20 vs D=6,080,32).

O bloqueio com L-NAME aumentou a resposta contrátil apenas nos grupos C e D e não

alterou nos animais tratados com tioacetamida. Na ausência de endotélio, a resposta máxima

foi elevada apenas no grupo D+TAA em comparação ao D (D+TAA=1,88 ± 1,03 vs D=1,00 ±

0,37). Em relação ao relaxamento com Ach não houve diferença entre os grupos. No entanto,

nas CCR para o NPS, os grupos D+TAA e C+TAA apresentaram menor EC50 quando

comparados aos seus respectivos controles, sugerindo que a TAA causa um prejuízo no

relaxamento independente do endotélio (C=8.1±0,1 vs C+TAA=7,3±0,4 e D+TAA=7,50,2

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vs D=8,3 ± 0,4). CONCLUSÃO: a obesidade induzida pela dieta isoladamente não

comprometeu a função vascular; em contraste, o tratamento com o agente hepatotóxico, foi

um fator relevante para causar uma disfunção vascular, através da menor liberação de óxido

nítrico.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Consumo alimentar dos animais submetidos à dieta hipercalórica e

tioacetamida ............................................................................................................... 28

Tabela 2 – Dados morfológicos dos animais submetidos à dieta hipercalórica e

tioacetamida ............................................................................................................... 28

Tabela 3 – Dados bioquímicos dos animais submetidos à dieta hipercalórica e

tioacetamida ............................................................................................................... 29

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LISTA DE ABREVIATURAS

ALT – Alanina aminotransferase

Ang – Angiotensina

AST – Aspartato aminotransferase

CCR – Curva concentração resposta

CEUA – Comitê de Ética no Uso de Animais

COBEA – Colégio Brasileiro de Experimentação Animal

C – Controle

D – Dieta

DCV – Doença cardiovascular

DHGNA – Doença Hepática Gorduroso Não Alcoólica

DMEs – Enzimas metabolizadoras de drogas

DRC – Doença Renal Crônica

EDCF – Fatores Contráteis Derivados do Endotélio

EDHF – Fator hiperpolarizante derivado do endotélio

EDRF – Fatores Relaxantes Derivados do Endotélio

eNOS – Óxido Nítrico Sintase endotelial

ET – Endotelina

EROS – Espécies Reativas de Oxigênio

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IL – interleucina

iNOS – Óxido Nítrico Sintase induzida

LDL – Lipoproteína de baixa densidade

L-NMMA – NG-monometil-L-arginina

NASH – Esteato- hepatite

NO – Óxido Nítrico

NOS – Óxido Nítrico Sintase

OMS – Organização Mundial da Saúde

TAA – Tioacetamida

TNF – Fator de necrose tumoral

TXA – Tromboxano A

VLDL – Lipoproteína de muito baixa densidade

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SUMÁRIO

RESUMO 7

LISTA DE ABREVIATURAS 10

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................................

2.1. Obesidade ....................................................................................................................

2.1.1. Fisiopatologia da Obesidade ...................................................................................

2.1.2. Obesidade e reatividade vascular ...........................................................................

2.2. Doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA) ..............................................

2.2.1. DHGNA e doenças cardiovasculares ......................................................................

2.2.2. Tioacetamida em modelo de DHGNA ....................................................................

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3.OBJETIVOS .................................................................................................................... 21

4. MÉTODOS ....................................................................................................................

4.1. Animais ........................................................................................................................

4.2. Modelo de obesidade e DHGNA ................................................................................

4.3. Caracterização do modelo ..........................................................................................

4.3.1. Índice de adiposidade ..............................................................................................

4.3.2. Glicemia ....................................................................................................................

4.3.3. Parâmetros bioquímicos ..........................................................................................

4.3.4. Consumo alimentar ..................................................................................................

4.4. Reatividade vascular ...................................................................................................

4.5. Histologia .....................................................................................................................

4.6. Análise estatística ........................................................................................................

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 28

5. CONCLUSÕES .............................................................................................................. 40

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 41

ANEXOS ............................................................................................................................ 46

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1. INTRODUÇÃO

Os hábitos alimentares não saudáveis têm sido cada vez mais observados na população

brasileira e mundial, e quando estes são associados ao sedentarismo, podem ocasionar

aumento de peso como consequência do acúmulo excessivo de tecido adiposo, caracterizando

o desequilíbrio metabólico chamado de obesidade. Indicadores da Organização Mundial de

Saúde mostraram que, no ano de 2014, mais de 1,9 bilhões de pessoas em todo o mundo, com

18 anos ou mais, apresentaram sobrepeso; destes, mais de 600 milhões eram obesos1. Em

relação aos índices de crianças obesas, resultados apontam que no ano de 2013, 42 milhões de

crianças, com idade inferior a 5 anos, já estavam com sobrepeso ou obesas1. No Brasil,

segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o excesso de peso atingirá

um terço da população brasileira nos próximos dez anos2. Quanto aos dados em infantis, em

1974-75 o excesso de peso atingia 10,9% e 8,6% dos meninos e meninas, respectivamente;

estes valores aumentaram para 34,8% e 32% no período 2008-092. Com estes estudos

podemos comparar os dados e observar que a prevalência da obesidade no mundo mais do que

duplicou nos últimos trinta anos, tornando-se um importante problema de saúde pública.

A obesidade pode ser definida como um excesso de gordura corporal, que pode se

desenvolver por fatores genéticos, ambientais e psicossociais. Essa condição pode influenciar

o estado de bem-estar do indivíduo, visto que o acúmulo de tecido adiposo é considerado um

fator de risco para diversas doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes mellitus,

câncer e doenças cardiovasculares3.

Diversos estudos já demonstraram que a obesidade está relacionada com o

desenvolvimento de doenças cardiovasculares e que indivíduos obesos apresentam prejuízo na

função arterial e disfunção endotelial4. Apesar do fato de que as doenças relacionadas com a

obesidade podem prejudicar a função endotelial, a adiposidade visceral e o depósito de

gordura ao redor dos vasos sanguíneos também podem afetar a função endotelial através da

liberação de fatores vasodilatadores e vasoconstritores, e também de adipocitocinas5-6.

Trabalhos clínicos têm demonstrado que a obesidade está diretamente relacionada com

o desenvolvimento da doença hepática gordurosa não-alcóolica (DHGNA). A DHGNA pode

ser considerada a principal doença hepática crônica do mundo e é caracterizada pelo acúmulo

de gordura (esteatose) nos hepatócitos na presença ou não de inflamação hepática, também

conhecida como esteato-hepatite (NASH), podendo evoluir para quadros mais graves como

fibrose e cirrose. Estima-se que a DHGNA esteja afetando 30% da população adulta de países

ocidentais. Sua alta prevalência é reconhecida como um componente epifenômeno da atual

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epidemia de obesidade, desde que ambas demonstraram um crescimento em paralelo nas

últimas décadas7.

Devido a sua relação com a obesidade, sugerem-se ainda, que a DHGNA é um

importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares como infarto

do miocárdio, acidente vascular cerebral, hipertensão, angina, entre outras. Estudos utilizando

marcadores das doenças cardiovasculares mostram que pacientes com esteatose hepática

comprovada por biópsia, e, em particular, NASH, apresentam disfunção endotelial8, função

diastólica comprometida, aumento da espessura das camadas íntima-média da carótida9-12, e

mostrou uma maior prevalência de placas ateroscleróticas carotídeas em comparação com

pacientes sem DHGNA. Senturk et al.13, relataram que a disfunção endotelial foi pior em

grupos com apenas esteatose ou com NASH quando comparados com os controles, sugerindo

a influência da inflamação no fígado sobre a função vascular. Além disso, Thakur et al.14,

demonstraram a associação significativa entre aterosclerose e disfunção endotelial em um

grupo de índios asiáticos com DHGNA.

Apesar da existência de diversos estudos que relacionam a obesidade com doenças

cardiovasculares e que sugerem que a DHGNA é considerada um fator de risco para o

desenvolvimento destas doenças, ainda não se conhece muito sobre o efeito da DHGNA sobre

o sistema vascular. Sendo assim, o objetivo do nosso estudo foi testar a hipótese de que a

DHGNA é um fator de risco causal para o surgimento de alterações no sistema vascular,

incluindo a disfunção endotelial.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2. 1. Obesidade

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal no indivíduo.

Pode ser considerada um problema de saúde pública, pois sua prevalência está aumentando e

atingindo proporções epidêmicas. Segundo a OMS, em 2014 mais de 1,9 bilhões de adultos

(com 18 anos ou mais) estavam acima do peso, nos quais mais de 600 milhões eram obesos1.

Além disso, aumenta-se a cada ano o número de mortes devido a doenças relacionadas ao

excesso de peso. Assim, torna-se extremamente importante a realização de estudos

relacionados a essa morbidade e suas consequências.

2.1.1. Fisiopatologia da Obesidade

Estudos têm demonstrado que as células adiposas não são consideradas apenas como

estruturas de proteção e sustentação, mas sim como um verdadeiro órgão responsável por uma

intensa atividade endócrina e metabólica15. A descoberta da leptina, por exemplo, deixou

claro que o tecido adiposo participa ativamente do controle energético e do apetite, através de

seus efeitos sobre o sistema nervoso simpático e função cardiovascular16. Dessa forma, o

excesso de gordura corporal está associado às disfunções metabólicas envolvidas em

mecanismos que resultam no aparecimento de doenças cardiovasculares.

Na obesidade, durante a hipertrofia do tecido adiposo observa-se um aumento da

expressão e liberação das chamadas adiponectinas, como a interleucina (IL) 1β, IL-6,

resistina, leptina e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), que são necessárias para a

diferenciação celular, hematopoiese, dentre outras funções. Porém, suas funções dependem de

suas concentrações na corrente sanguínea, no qual o aumento das mesmas já se torna

responsável por iniciar o processo inflamatório de baixo grau17. Ao alcançarem o hipotálamo,

no Sistema Nervoso Central, essas proteínas interferem na regulação da fome e do gasto

energético exercida por ele. Desse modo, o indivíduo apresenta um desequilíbrio da

saciedade, aumentado assim a ingestão de alimentos e consequentemente seu peso e acúmulo

do tecido adiposo, que acarreta em maior liberação de leptina causando hiperleptinemia.

A leptina, compartilha com a insulina, alvos neuroquímicos e anatômicos no

hipotálamo medial, sendo considerada um sinal adipostático endógeno, induzindo redução no

consumo alimentar18. Ambas as moléculas podem ser consideradas fatores de risco no

desenvolvimento de doenças cardiovasculares, quando associadas à resistência à insulina. Um

exemplo para demonstrar este fato vem de um estudo populacional realizado por Courten et.

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al19, onde se registrou alta prevalência de diabetes não insulino-dependente e obesidade que se

correlacionaram fortemente aos elevados níveis de leptina. Além disso, a leptina apresenta

característica inflamatória quando está em altas concentrações e sua estrutura é homóloga aos

receptores das citocinas inflamatórias contribuindo para o desenvolvimento do quadro

inflamatório.

A IL-6 é o principal regulador de síntese de proteína de fase aguda com propriedades

pró e anti-inflamatórias20, além de ser induzido por outras citocinas, como o TNF-α21. Altos

níveis de TNF-α estão associados ao desenvolvimento da resistência à insulina no tecido

adiposo22. Além disso, está associada a danos significativos nos tecidos causados por espécies

reativas de oxigênio (EROS) e à promoção da angiogênese23. A IL-6 e o TNF-α também são

responsáveis por promoverem a produção de leptina pelo tecido adiposo, mas a leptina

também aumenta a produção de citocinas inflamatórias24. Sendo assim, a hiperleptinemia está

relacionada com a resposta pró-inflamatória e com o estado sub-inflamatório crônico que é

observado na obesidade. Além disso, a leptina também é responsável por induzir a captação

de colesterol pelos macrófagos, angiogênese e agregação plaquetária, e estimula o estresse

oxidativo nas células endoteliais, inibindo o relaxamento dos vasos sanguíneos e aumentando

o risco de aterosclerose25. A resistina, outra adipocina pró-inflamatória, atua através da

ligação ao receptor Toll-like 426. Além de estar correlacionada com outros marcadores

inflamatórios, a resistina está associada à diminuição da sensibilidade à insulina e ao

desenvolvimento de doenças relacionadas à obesidade, como a doença hepática gordurosa não

alcoólica27.

2.1.2 Obesidade e reatividade vascular

Os vasos sanguíneos são constituídos de uma camada interna, chamada de túnica

íntima, que é formada por células endoteliais. O endotélio é considerado um órgão endócrino

responsável pela manutenção da homeostase cardiovascular. Além de proporcionar uma

barreira física entre o lúmen e a parede do vaso, o endotélio controla o tônus muscular e a

reatividade vascular através da liberação de fatores contráteis e relaxantes. Através da ação de

determinados estímulos, as células endoteliais podem liberar os fatores relaxantes derivados

do endotélio (EDRF), como também liberar fatores contráteis derivados do endotélio (EDCF).

Os EDRFs são a prostaciclina (PGI2), fator hiperpolarizante derivado do endotélio (EDHF) e

o óxido nítrico (NO). Já os EDCFs compreendem as espécies reativas de oxigênio (EROs),

angiotensina II (Ang II), endotelina (ET) e tromboxano A2 (TXA). Em uma condição de

desequilíbrio na produção e/ou liberação tanto dos fatores de contração quanto dos fatores de

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relaxamento, seja por aumento de EDCFs ou pela redução de EDRFs, caracteriza-se a

disfunção endotelial28.

Apesar dos mecanismos envolvidos não estarem esclarecidos, estudos experimentais

reportam que a obesidade, em diferentes leitos vasculares, é acompanhada por aumento da

liberação de fatores contráteis e diminuição da vasodilatação dependente de óxido nítrico, que

pode ocorrer devido ao aumento da produção de espécies reativas de oxigênio, como o ânion

superóxido (O2-), que inativa o NO29. O NO é um gás, capaz de se difundir pelas membranas

celulares e exercer alta atividade biológica. A produção enzimática do NO ocorre a partir do

aminoácido L-arginina e é mediada por uma família de três sintases de óxido nítrico (NOS),

codificadas por genes distintos30. A óxido nítrico sintase endotelial (eNOS) e a óxido nítrico

sintase neuronal (nNOS) possuem mecanismo de ativação constitutivo. A isoforma induzida

(iNOS) encontra-se expressa em processos celulares anormais, como na insuficiência

cardíaca, induzidas por citocinas e agentes inflamatórios, resultando no aumento do fluxo de

NO30-32. Para avaliar a participação do NO na homeostasia desse sistema, estudos in vivo em

indivíduos saudáveis demonstraram que a administração intra-arterial de NG-monometil-L-

arginina (L-NMMA), um bloqueador inespecífico da atividade das NOS, reduz o fluxo

sanguíneo local entre 25% e 50%33. Embora o tônus vascular basal seja o produto das forças

constritoras versus forças vasodilatadoras, esses resultados demonstram que o NO participa

em uma parte desta modulação.

Na obesidade, a gravidade da disfunção endotelial está correlacionada com o grau de

adiposidade visceral. Os adipócitos e os macrófagos derivados do tecido adiposo secretam

vários fatores, chamados adipocinas, que são capazes de afetar a função endotelial. A

secreção descontrolada das adipocinas pelos adipócitos em indivíduos obesos promove um

estado inflamatório sistêmico, que contribui para o desenvolvimento de doenças

cardiovasculares34. Além disso, já foi demonstrado que o tecido adiposo perivascular também

contribui para a disfunção endotelial por promover a liberação de fatores relaxantes, contráteis

e diversas adipocinas. O processo inflamatório local causado pelas adipocinas derivadas do

tecido adiposo perivascular juntamente com o estado inflamatório sistêmico pode ocasionar

alteração na função endotelial35.

Estudos demonstraram que as citocinas pró-inflamatórias prejudicam a função

endotelial, manifestada pela redução do relaxamento dependente de NO. A redução da

expressão da eNOS foi observada em aortas de camundongos com obesidade induzida por

uma dieta rica em gordura, que exibem marcadores inflamatórios aumentados como o TNF-α

35. Dessa forma, observa-se que a obesidade modifica a regulação da eNOS que,

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consequentemente, resulta na diminuição da produção de NO que está envolvida com a

redução do relaxamento dependente do endotélio nos animais obesos.

Através da estimulação das fontes de EROS pelas citocinas pró-inflamatórias em

células endoteliais ocorre não só a redução da produção de NO, como também a diminuição

da sua biodisponibilidade, devido ao aumento da biodisponibilidade de EROS34. Embora o

aumento de EROS produzida por células vasculares possa ser observado em artérias de

animais obesos36, as EROS derivadas do tecido adiposo perivascular obeso podem ter ação

parácrina na parede vascular e prejudicar o relaxamento dependente do endotélio6. Sendo

assim, o aumento dos níveis de EROS associado à redução da produção de NO, representa

uma parte do mecanismo da disfunção endotelial na obesidade.

2. 2. Doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA)

A doença hepática gordurosa não alcoólica é caracterizada pelo acúmulo de gordura

no fígado denominada esteatose hepática, que pode evoluir para quadros de esteato-hepatite

(NASH), cirrose hepática e até carcinoma hepatocelular37 (Figura 1). A esteatose hepática é

caracterizada por acúmulo de gordura nas células hepáticas, que são os hepatócitos. Já na

esteato-hepatite observa-se acúmulo de gordura associada à inflamação nos hepatócitos. A

DHGNA é uma doença que está associada à síndrome metabólica e pode ser considerada a

principal causa de doença hepática crônica em todo o mundo. Aproximadamente 20 a 30%

dos adultos da população geral dos países ocidentais têm doença hepática gordurosa não

alcoólica e sua prevalência aumenta de 70 a 90% entre pessoas obesas ou com diabetes38.

Além disso, diversos estudos têm demonstrado associações entre a DHGNA e doenças

cardiovasculares (DCV), doença renal crônica (DRC) e câncer colo retal. Em vista dos riscos

relacionados a DHGNA, é necessária a realização de estudos que investiguem os mecanismos

de correlação entre esta e outras doenças para propor novos métodos de prevenção e

tratamento.

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2.2.1. DHGNA e doenças cardiovasculares

A causa da relação entre a DHGNA e doenças cardiovasculares se deve

principalmente a fatores que encontram-se aumentados nessa condição, como, colesteróis

VLDL e LDL, resistência à insulina, aumento de proteínas de fase aguda como proteína C

reativa e fibrinogênio, fatores estes que estão diretamente relacionados com o

desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Dessa forma o aumento desses fatores

juntamente com o aparecimento de um processo inflamatório com aumento de citocinas pró-

inflamatórias e infiltrado celular, bem como a influência dos e fatores genéticos relacionados,

tornam o aparecimento de doenças cardiovasculares uma consequência da DHGNA39.

Estudos sugerem que os pacientes com DHGNA possuem uma sobrevida reduzida em

comparação com a população geral, e que as doenças cardiovasculares determinam o

resultado, mais do que a progressão da doença hepática. Adams et. al40 demonstrou em um

estudo baseado na população, que 25% da morte relacionada à DHGNA estava ligada ao

infarto agudo do miocárdio e apenas 13% à doença hepática. Outro estudo publicado em

2006, que inclui 212 pacientes com biópsia de DHGNA, encontrou-se que a maior

mortalidade dos pacientes com NASH foi principalmente resultado de DCV e, em menor

grau, de causas relacionadas aos danos hepáticos41.

O aumento da camada intima-média (IMT) da artéria carótida, também têm sido

utilizado para caracterizar o risco de DCV de pacientes com DHGNA42. Targher et al43

demonstraram que pacientes com DHGNA tiveram uma IMT carotídea marcadamente maior

(1,14 ± 0,20 vs. 0,82 ± 0,12 mm, P <0,001) do que os indivíduos controle, sugerindo que a

DHGNA

Figura 1. Histologia do fígado normal, com esteatose e NASH. (Cohen JC et al.

Science 2011; 332:1519-23)

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gravidade da lesão hepática poderia desempenhar um papel no desenvolvimento da

aterosclerose.

A medida das propriedades elásticas das artérias tornou-se um importante parâmetro

utilizado na pesquisa epidemiológica cardiovascular. A perda de propriedades elásticas

arteriais resulta em uma série de alterações fisiopatológicas relacionadas com a circulação,

incluindo o aumento da pressão de pulso, a hipertrofia ventricular esquerda, isquemia

subendocárdica, disfunção endotelial dos vasos e fibrose cardíaca. Vários estudos recentes

relataram uma forte associação entre DHGNA e propriedades elásticas arteriais. Kim et al44,

indicaram que a presença e o grau de DHGNA estavam associados à rigidez arterial, medida

pela velocidade da onda de pulso braquial-tornozelo, em indivíduos não hipertensos, não

diabéticos, especialmente na ausência de síndrome metabólica.

Outro parâmetro avaliado é a função ventricular esquerda, no qual vários estudos

relataram que a DHGNA estava associada à disfunção diastólica do ventrículo esquerdo,

alterações no metabolismo energético e perturbação do ritmo cardíaco. Goland et al45

descobriram que os pacientes com DHGNA apresentavam características iniciais de disfunção

diastólica do ventrículo esquerdo e geometria ligeiramente alterada do ventrículo esquerdo.

Hallsworth et al46, relataram que adultos com DHGNA tinham parede ventricular esquerda

significativamente mais espessa à sístole e diástole quando comparados aos controles.

Embora muitos estudos já tenham demonstrado a relação entre a DHGNA e o risco de

DCV, vários mecanismos podem estar envolvidos, incluindo predisposição genética,

resistência à insulina, dislipidemia aterogênica, estresse oxidativo, inflamação crônica, níveis

reduzidos de adiponectina e produção alterada de pró e anticoagulantes47. Todos esses

mecanismos podem estar presentes ao mesmo tempo em uma condição de DHGNA. Sendo

assim, faz-se necessária a realização de estudos mais aprofundados sobre cada mecanismo de

forma individual para melhor conhecimento e esclarecimento de suas correlações.

2.2.2. Tioacetamida em modelo de DHGNA

A tioacetamida (TAA), é um agente hepatotóxico bem conhecido para induzir

insuficiência hepática aguda e crônica. A exposição prolongada à TAA resulta sempre na

proliferação dos ductos biliares e cirrose hepática histologicamente semelhante à da infecção

por hepatite viral humana48. Sendo assim, TAA tem sido amplamente utilizada para

desenvolver modelos animais de fibrose hepática e/ou cirrose imitando doenças hepáticas

humanas não-biliares. As doenças hepáticas são causadas por vários fatores que geralmente

levam à desregulação da maioria das enzimas metabolizadoras de drogas (DMEs),

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especialmente os citocromos P450 (P450s). Visto que os modelos de fibrose e cirrose hepática

induzidos pela TAA têm sido amplamente aplicados para imitar doenças do fígado humano, é

definitivamente importante entender os padrões de desregulação induzidos pela TAA sobre as

DMEs. A TAA é um composto que contém enxofre (Figura 2) e é bioativado por CYP2E1 e

mono-oxigenase contendo flavina para produzir acetamida e tioacetamida-S-dióxido. Estes

metabólitos reativos podem ligar-se covalentemente a várias proteínas, o que é de fato o

principal mecanismo da TAA para causar toxicidade hepática. Com base nestas

características, sugere-se que a intoxicação por TAA pode levar tanto a desregulações

translacionais como à inativação direta de enzimas do sistema citocromo P45049. É importante

lembrar que estudos relatam a ação deste medicamento exclusivamente no fígado, não

apresentando, até o momento, toxicidade em outros órgãos.

Dashti et. al50, relataram a indução de cirrose hepática com a administração de

tioacetamida na água potável (0,3 g / l) durante 16 semanas, verificando nas imagens

histológicas a presença de atipias nucleares e proliferação do tecido hepático, além de

demonstrarem elevados níveis plasmáticos das enzimas transaminases. Guerra et. al51,

também utilizaram a tioacetamida como modelo para indução de cirrose hepática, porém

realizaram o tratamento através da administração intraperitoneal de 200 mg / kg em ratas

Wistar fêmeas por 14 semanas. Furtado et. al52, demonstraram inflamação e cirrose hepática

através da administração intraperitoneal de 200 mg/kg durante 8 semanas, 2 vezes por

semana, em ratos Wistar machos.

Figura 2. Fórmula estrutural da Tioacetamida.

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3.OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar a função vascular em aorta de ratos Wistar em um modelo de obesidade e

disfunção hepática, simulando a doença hepática gordurosa não alcóolica.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar em ratos Wistar obesos e com disfunção hepática os seguintes parâmetros:

Parâmetros bioquímicos: glicemia, ALT, AST, albumina, colesterol, triglicerídeos e

HDL;

Dados morfológicos dos animais (peso antes e após os tratamentos);

Consumo alimentar e a ingestão energética dos animais;

Reatividade vascular em anéis de aortas com e sem endotélio;

Analisar os possíveis mecanismos de ação envolvidos na função vascular;

Avaliar a histologia de aortas e fígados.

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4. MÉTODOS

4.1. Animais

Os animais utilizados foram ratos Wistar machos, provenientes do Biotério Central da

Universidade Federal de Mato Grosso, Campus Universitário de Cuiabá. Antes de iniciarmos

o experimento, os animais foram aclimatados à temperatura e umidade controladas, em ciclo

de claro/escuro de 12/12 horas, com oferta de água e ração ad libitum. Após a aclimatação,

quando os animais atingiram cerca de 200 gramas (o peso padronizado para o início do

protocolo experimental) os animais foram divididos de forma aleatória em quatro grupos

(n=8): Controle (C), Dieta hipercalórica (D), Controle mais Tioacetamida (C+TAA) e Dieta

mais Tioacetamida (D+TAA).

Os animais dos grupos C e C+TAA receberam água ad libidum e ração padrão para

roedores (NUVILAB CR-1, Sorgob Indústria e Comércio Ltda, São Paulo/SP, Brasil) na

presença ou não de Tioacetamida (TAA, Sigma-Aldrich®, EUA). Já os animais dos grupos D

e D+TAA receberam água acrescida de sacarose e dieta rica em gordura também na presença

ou não de TAA. A dieta rica em gordura53 foi produzida com a colaboração da professora

Valéria Sinhorin (Laboratório de Bioquímica, UFMT Sinop). Após o período experimental de

8 semanas, os animais foram eutanasiados sob anestesia com tiopental (50mg/kg). O estudo

seguiu as recomendações do Guide for the Care and Use of Experimental Animals, na Lei

11.794/2008, e nos Princípios Éticos na Experimentação Animal adotado pelo Colégio

Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) que foi aprovado pelo Comitê de Ética no

Uso de Animais (CEUA), sob protocolo n°23108.700353/14-0.

4.2. Modelo de obesidade e DHGNA

O modelo de obesidade foi induzido através da ingestão de uma ração rica em gordura

(Figura 3) e água acrescida de sacarose. A ração rica em gordura é constituída de pó de ração,

caseína, banha, leite condensado, bolacha maisena, mistura vitamínica e mistura mineral.

Foram ofertadas 500 gramas de ração por dia para cada caixa, as quais haviam entre 3 ou 4

animais cada uma. A solução de água com sacarose foi preparada com 300 gramas de açúcar

comercial diluída em 1 L de água quente, no qual foram ofertados 1 L de água acrescida de

sacarose por dia para cada caixa.

Para a indução da Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) nos ratos foi

realizada a ingestão da dieta rica em gordura e a administração do agente hepatotóxico

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tioacetamida (TAA), baseado no trabalho de Furtado et. al.52. A dose administrada de TAA

foi de 100mg/kg via intraperitoneal (Figura 4), duas vezes por semana durante as 8 semanas.

A dose utilizada foi menor que a utilizada no trabalho referenciado, devido à baixa taxa de

sobrevida dos animais, sendo considerada uma dose tóxica.

4.3. Caracterização do modelo

4.3.1. Índice de adiposidade

O índice de adiposidade foi utilizado como indicador do modelo de obesidade. Após a

eutanásia, foram dissecados os depósitos de gordura epididimal, visceral e retroperitoneal dos

animais. A soma dos depósitos normalizada pelo peso corporal [(epididimal + visceral +

retroperitoneal) /peso corporal x 100] foi considerada o índice de adiposidade.

4.3.2. Glicemia

A glicemia dos animais foi medida através da coleta de uma gota de sangue caudal dos

ratos submetidos a privação alimentar de 8 horas e com o auxílio de glicosímetro (InjexSens

II) e fitas reagentes adequadas para esse aparelho.

Figura 3. Ração rica em gordura produzida em nosso laboratório.

Figura 4. Administração por via intraperitoneal em ratos.

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4.3.3. Parâmetros bioquímicos

Os animais foram submetidos a privação alimentar de 8 horas, anestesiados e

eutanasiados por decapitação. Em seguida, amostras do sangue foram coletadas em tubos

Falcon, centrifugadas (3000rpm; 10 minutos; Eppendorf®Centrifuge 5804-R, Hamburg,

Germany) e o soro foi utilizado para analisar os níveis de: glicemia, albumina, alanina

aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST), colesterol, triglicerídeos e

lipoproteína de alta densidade (HDL). Foram utilizados kits da Labtest para a realização

dessas análises.

O princípio do teste para glicemia é que a glicose oxidase catalisa a oxidação da

glicose e o peróxido de hidrogênio formado reage com 4-aminoantipirina e fenol, sob ação

catalisadora da peroxidase, através de uma reação oxidativa de acoplamento formando uma

antipirilquinonimina vermelha suja intensidade de cor é proporcional à concentração da

glicose na amostra. Já o princípio do teste para albumina é que o sistema se baseia no desvio

do pico de absortividade máxima de um corante complexo (verde de bromocresol) quando

este se liga à albumina, onde a cor formada é proporcional à quantidade de albumina na

amostra até a concentração de 6,0 g/dL.

Os testes para ALT e AST se baseiam nos seguintes princípios: a ALT catalisa

especificamente a transferência do grupo amina da alanina para o cetoglutarato, com

formação de glutamato e piruvato. O piruvato é reduzido à lactato por ação da lactato

desidrogenase, enquanto que a coenzima NADH é oxidada a NAD. A leitura da absorbância

em 340 nm, consequente à oxidação da coenzima NADH, é monitorada fotometricamente,

sendo diretamente proporcional à atividade da ALT na amostra. Já a AST catalisa

especificamente a transferência do grupo amina do ácido aspártico para o cetoglutarato com

formação de glutamato e oxalacetato. O oxalacetato é reduzido a malato por ação da malato

desidrogenase, enquanto que a coenzima NADH é oxidada a NAD. A leitura da absorbância

em 340 nm, consequente à oxidação da NADH, também é monitorada fotometricamente,

sendo diretamente proporcional à atividade da AST na amostra.

As análises para o colesterol total e para os triglicerídeos das amostras foi realizada

através do método enzimático colorimétrico Trinder, no qual a intensidade da cor vermelha

formada na reação final é diretamente proporcional à concentração do colesterol na amostra

de soro. Enquanto que para a avaliação de HDL foi utilizado método colorimétrico, através de

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um sistema de precipitação seletiva das lipoproteínas de baixa e muito baixa densidade (LDL

e VLDL) com ácido fosfotúngstico e cloreto de magnésio.

4.3.4. Consumo alimentar

O consumo alimentar de ração, água e ingestão calórica foram controlados diariamente

e calculou-se a média de consumo por animal; a ingestão calórica foi determinada pelo

produto do consumo e teor energético das dietas.

4.4. Reatividade vascular

Para a análise de reatividade vascular foi utilizada a aorta torácica isolada de cada

animal de todos os grupos, dissecada e imersa em solução nutriente de Krebs Henseleit

modificado (mmol/L: NaCl 113; KCl 4,7; CaCl2 2,5; NaHCO3 25; MgSO4 1,1; KH2PO4

1,1; EDTA 0,03; glicose 5,5, pH 7.4), saturado com 95% de O2, 5% de CO2 e mantida a 37

ºC. A aorta torácica foi cortada em anéis de 4mm (Figura 5) sendo que em alguns anéis o

endotélio foi mantido intacto e em outros a camada endotelial foi removida por fricção,

utilizando uma haste fina envolta com algodão embebido em Krebs Henseleit. Em seguida,

um par de ganchos de aço inoxidável, em forma de “L”, foi introduzido no lúmen dos anéis de

aorta.

Os anéis de aorta foram suspensos pelos ganchos e colocados em uma cuba de vidro

em banho para estudo de órgãos isolados (Figura 6), contendo 10 ml de solução de Krebs

Henseleit modificado saturado com 95% de O2, 5% de CO2 e mantido a 37 ºC durante todo o

protocolo experimental. Nessa condição, um dos ganchos foi fixado na base da cuba de vidro

e o outro gancho foi conectado a um transdutor isométrico de tensão (ML T001,

PowerLab/8S, ADInstruments, Ltda) que, por sua vez, está acoplado a um computador.

Durante o período de estabilização, a solução nutriente foi trocada três vezes em intervalos de

10 minutos e a tensão ajustada a 1,5 gramas.

Após este procedimento, foram realizadas curvas concentração-resposta cumulativas

para o agente vasoconstritor fenilefrina e para os vasodilatadores acetilcolina e nitroprussiato

de sódio. Em alguns experimentos o endotélio foi removido dos anéis de aorta friccionando

delicadamente a parte interna da aorta (camada íntima) com o auxílio de uma haste metálica

fina envolta em algodão embebido com solução de Krebs. Além disso, também foram

investigados possíveis mecanismos de ação envolvidos, usando o bloqueador da óxido nítrico

sintase (LNAME). Para comparação entre os grupos foram utilizadas: as respostas máximas

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(Rmax) produzidas pelos diferentes agonistas e a pD2 (logaritmo da concentração molar que

produz 50% da Rmax) o qual avalia a potência dos agonistas sobre as preparações.

A fenilefrina é um agonista α1-adrenérgico sintético utilizado como agente

vasoconstritor no músculo liso vascular por agir de maneira específica nos receptores

adrenérgicos α-1, promovendo contração através do aumento do cálcio intracelular nas células

musculares lisas. A acetilcolina é um neurotransmissor endógeno liberado por células

nervosas do sistema nervoso autônomo parassimpático. No músculo liso vascular a

acetilcolina age nos receptores muscarínicos M3, acoplados à proteína G, promovendo

vasodilatação através do aumento da produção de óxido nítrico, o vasodilatador mais potente

derivado do endotélio. Dessa forma, a acetilcolina é considerada um vasodilatador dependente

do endotélio. Enquanto que o nitroprussiato de sódio, é um nitrato orgânico que, quando

metabolizado, libera óxido nítrico, responsável por promover o relaxamento do músculo liso

vascular, sendo assim considerado um vasodilatador independente do endotélio.

Figura 5. Anéis de aorta torácica.

Figura 6. Banho para estudo de órgãos isolados.

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4.5. Histologia

Os animais foram anestesiados e eutanasiados por decapitação. Em seguida, amostras da

aorta e fígado foram coletadas para a análise histológica. O material foi coletado com auxílio

de bisturi, pinça ou lâmina de barbear. Em seguida, as amostras foram fixadas em formaldeído

tamponado. Os tecidos foram então armazenados no fixador por um período entre 6 a 24

horas. Após a fixação, a primeira etapa da inclusão foi feita que é a desidratação, na qual foi

retirada a água dos tecidos e substituída por álcool. A etapa seguinte foi substituir o álcool

presente nos tecidos por xilol. A última etapa foi a impregnação, onde o xilol é substituído por

parafina fundida a 60 ºC em pequenos blocos. Após a impregnação, foi utilizado um

micrótomo para obter cortes sucessivos, delgados e uniformes dos blocos de parafina, estes

cortes então foram utilizados para a montagem das lâminas histológicas que, após serem

coradas com hematoxilina e eosina (HE), foram posteriormente analisadas com auxílio de

microscópio.

4.6. Análise estatística

Os dados estão apresentados em média desvio padrão. A comparação entre os grupos

foi realizada pela Análise de Variância para o modelo de dois fatores independentes (Two

Way ANOVA), e o nível de confiança utilizado foi de 95%.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 1. Consumo alimentar dos animais submetidos à dieta hipercalórica e

tioacetamida

Grupos

Variáveis C C+TAA D D+TAA

Ração (g) 32 0 38 1* 17 0 # 25 1*#

Água (mL) 49 0 38 3 * 38 0 # 36 1 *#

Calorias (Kcal) 120 1 141 3 * 137 2 # 174 8 *#

Dados apresentados em média desvio padrão. C, controle; TAA, tioacetamida; D, ração rica em gordura e água

com açúcar; D+TAA ração rica em gordura e água com açúcar + tioacetamida. * indica p<0,05 na comparação

entre C vs C+TAA ou D vs D+TAA. # indica p<0,05 na comparação entre de D vs C ou D+TAA vs C+TAA.

A Tabela 1 demonstra que houve uma diminuição do consumo alimentar e de água dos

grupos que possuíam dieta quando comparados aos grupos controle. Porém houve uma maior

ingestão calórica dos animais dos grupos que possuíam dieta devido ao seu alto teor de

calorias. Em relação aos grupos que receberam administração de tioacetamida, observou-se

um aumento de ingestão alimentar e de calorias, mas redução da ingestão de água quando

comparados aos seus grupos controles.

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Tabela 2. Dados morfológicos dos animais submetidos à dieta hipercalórica e

tioacetamida

Grupos

Variáveis C C+TAA D D+TAA

PCI (g) 264 41 263 34 267 49 267 26

PCF (g) 418 40 355 44 * 490 41 # 433 33 *#

AT (g) 0,10 0,03 0,08 0.02 0,10 0,03 0,08 0,02

AT/PCF 0,23 0,06 0,23 0.05 0,20 0,06 0,17 0,05

VD (g) 0,24 0,04 0,20 0.04 * 0,27 0,04 0,22 0,04 *

VD/PCF 0,57 0,09 0,54 0.12 0,55 0,06 0,47 0,08

VE (g) 0,81 0,11 0,66 0.19 0,91 0,08 0,71 0,16 *

VE/PCF 1,94 0,30 1,83 0.46 1,87 0,27 1,53 0,32

Fígado (g) 12 2 12 2 16 2 # 14 2

Fígado/PCF 29 6 34 4 * 33 4 31 4

Gordura retroperitoneal

(g) 9 3 5 2 20 7 # 18 2 #

Gordura epididimal (g) 7 2 4 1 15 4 # 11 3 *#

Gordura visceral (g) 6 2 5 1 13 4 # 13 2 #

Gordura total (g) 21 5 15 4 48 14 # 42 6 #

Indice de adiposidade

(%) 5 1 4 1 10 2 # 9 1 #

Dados apresentados em média desvio padrão. C, controle; TAA, tioacetamida; D, ração rica em gordura e água

com açúcar; D+TAA ração rica em gordura e água com açúcar + tioacetamida; VE, ventrículo esquerdo; VD,

ventrículo direito; AT, átrios; PCF, peso corporal final; PCI, peso corporal inicial. * indica p<0,05 na

comparação entre C vs C+TAA ou D vs D+TAA. # indica p<0,05 na comparação entre de D vs C ou D+TAA vs

C+TAA.

Observou-se na tabela 2, que o peso corporal final dos animais que receberam a droga

diminuiu quando comparado aos seus controles. Observou-se ainda um aumento do peso do

fígado do grupo D sugerindo então que houve um aumento do órgão quando comparado ao

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grupo C. Além disso, observou-se um aumento em todos os depósitos de gordura

(retroperitoneal, periepididimal e visceral) e consequentemente no índice de adiposidade nos

grupos dieta quando comparado com seus respectivos controles, demonstrando o aumento da

gordura corporal total nos animais que recebram a dieta ocidental, caracterizando o modelo

proposto de obesidade.

Tabela 3. Dados bioquímicos dos animais submetidos à dieta hipercalórica e

tioacetamida

Grupos

Variáveis C C+TAA D D+TAA

Glicemia (mg/dL) 119 18 107 11 140 21 # 129 17 #

Albumina (g/dL) 2,50 0,48 2,35 0,10 2,08 0,18 # 2,39 0,20*

ALT (U/L) 76 8 139 57 * 70 18 80 25 #

AST (U/L) 217 25 354 23 * 196 29 191 52 #

Colesterol (mg/dL) 107 16 86 17 * 102 15 95 15

Triglicerídeos (mg/dL) 73 14 79 31 146 53 # 108 33 *

HDL (mg/dL) 39 5 42 4 39 3 40 3

Ureia (mg/dL) 31 3 49 14 * 29 4 36 7 #

Creatinina (mg/dL) 0,70 0,13 0,88 0,17 * 0,63 0,13 0,69 0,12 #

Dados apresentados em média desvio padrão. C, controle; TAA, tioacetamida; D, ração rica em gordura e água

com açúcar; D+TAA ração rica em gordura e água com açúcar + tioacetamida; ALT, enzima alanina

aminotransferase; AST, enzima aspartato aminotransferase; HDL, lipoproteína de alta densida. * indica p<0,05

na comparação entre C vs C+TAA ou D vs D+TAA. # indica p<0,05 na comparação entre de D vs C ou D+TAA

vs C+TAA.

A tabela 3, demonstra que houve um aumento da glicemia dos grupos dieta quando

comparado aos controles. Sugerindo-se que a ingestão da sacarose acrescida na água alterou

esse parâmetro bioquímico. Além disso, observou-se aumento das enzimas hepáticas ALT e

AST caracterizando o dano hepático, visto que as enzimas são intracelulares e só estão

presentes no soro se houver lise dos hepatócitos.

O modelo de D+TAA inicialmente utilizado para caracterizar a DHGNA mostrou que

os animais realmente ficaram obesos, devido ao aumento do peso corporal e do índice de

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adiposidade. No entanto, esse modelo não apresentou alterações das enzimas hepáticas visto

que as enzimas ALT e AST não se alteraram quando comparados ao grupo Controle.

Entretanto, de forma interessante, verificamos que a dieta reduziu os níveis plasmáticos da

concentração das enzimas ALT e AST no grupo D+TAA comparando-o com o grupo

C+TAA. Além disso, também observamos um aumento destas enzimas no grupo Controle

tratado com TAA, mostrando que a droga realmente causou o dano hepático desejado.

Além da dosagem das enzimas hepáticas, avaliamos também cortes histológicos do

fígado desses animais. Apesar de não termos quantificado as lesões hepáticas presente nos

animais tratados com dieta e tioacetamida, as imagens representativas demonstradas na figura

7 mostram as diferenças morfológicas.

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Figura 7. Cortes histológicos do fígado. Imagens representativas da análise histopatológica dos

grupos no aumento de 20x na coluna à esquerda e 40x na coluna à direita. Grupo Controle (A e

B). Grupo Dieta (C e D). Grupo Controle + Tioacetamida (E e F). Grupo Dieta + Tioacetamida

(G e H). Em todas as imagens a barra de escala é 50 µm. Coloração HE.

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Na análise histológica do grupo Controle, obtivemos cortes histológicos do fígado que

demonstraram a presença de hepatócitos sem alteração histológica em cordões em meio aos

capilares sinusóides ao redor da veia centrolobular (Figura 7A e B). Enquanto que no grupo

Dieta, observamos a presença de hepatócitos com muitas inclusões lipídicas no citoplasma ao

redor da veia centrolobular, demonstrando um quadro de esteatose hepática causado pela dieta

rica em gordura (Figura 7C e D).

Ao analisar os cortes histológicos do fígado dos animais do grupo Controle +

Tioacetamida, observamos a presença de processo inflamatório com leucócitos ao redor da

veia centrolobular e hepatócitos alterados (ex: núcleo picnótico), além de apoptose celular e

quadro de fibrose progredindo à um cirrótico hepática, demonstrando o dano hepático causado

pela administração da Tioacetamida (Figura 7E e F). Enquanto que na análise dos cortes do

grupo Dieta + Tioacetamida, verificamos a presença do processo inflamatório ao redor dos

hepatócitos e hepatócitos com inclusões lipídicas, demonstrando esteatose e inflamação

hepática (Figura 7G e H) conforme se desejava na caracterização do modelo de DHGNA.

Além do fígado, também foram realizadas as análises histológicas da aorta (Figura 8)

dos animais, sendo que não observamos diferenças entre os grupos. Dessa forma, o resultado

vai de acordo com o descrito por um estudo realizado por Marin et. al., no qual demonstraram

que não foram observadas alterações morfológicas significativas em aorta de animais

controles quando comparados ao grupo com dieta hipercalórica.

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Em relação aos experimentos de reatividade vascular observamos que as curvas

concentração resposta para o agonista vasoconstritor fenilefrina apresentaram um

deslocamento para esquerda em segmentos de aorta em ratos tratados com tioacetamida

quando comparado com seus controles (Figura 9). O grupo D+TAA apresentou menor

resposta contrátil máxima (D+TAA=1,03 ± 0,38 vs D=1,55 ± 0,29) e maior EC50

(D+TAA=6,52 ± 0,20 vs D= 6,08 0,32) quando comparado ao D, enquanto o grupo C+TAA

apresentou diferença apenas na EC50 em relação ao C (C+TAA=6,81 ± 0,19 vs C=6,32 ± 0,40.

Sugerindo-se que a droga hepatotóxica contribui para o aumento da resposta contrátil do vaso,

caracterizando uma disfunção vascular gerada pelo tratamento com tioacetamida e a

associação com a dieta hipercalórica mostrou um efeito contrário, diminuindo a resposta

contrátil do vaso.

Figura 9. Curvas concentração resposta à fenilefrina em segmentos de aorta com endotélio. Cada ponto

representa a média desvio padrão.

Figura 10. Resposta contrátil máxima e EC50 à fenilefrina em segmentos de aorta com endotélio intacto. Dados

apresentados em média desvio padrão. * indica p<0,05 na comparação entre C vs C+TAA ou D vs D+TAA.

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Para as curvas concentração resposta com o agonista vasoconstritor fenilefrina em

segmentos de aorta na ausência do endotélio observou-se que houve redução da atividade

contrátil em ratos tratados com tioacetamida quando comparado com seus controles (Figura

11). A resposta contrátil máxima foi elevada apenas no grupo D em comparação ao D+TAA

(D+TAA=1,00 ± 0,37 vs D=1,88 ± 1,03), enquanto que não houve diferença para EC50 entre

os grupos (Figura 12).

Quando o endotélio é removido nas preparações de reatividade vascular sob o estímulo

de agente vasoconstritor o que ocorre é um aumento da resposta contrátil quando comparado

com preparações na presença do endotélio. Isso ocorre porque o endotélio vascular, sob o

estímulo da fenilefrina, libera fatores relaxantes e contráteis, no entanto há mais fatores

vasoconstritores do que relaxantes, o que culmina na contração do vaso. Na ausência do

endotélio não há fatores relaxantes sendo liberados portanto o que se observa é apenas o efeito

da fenilefrina diretamente no músculo liso vascular, por isso é observado uma maior

contração deste vaso.

Nas curvas apresentadas observamos uma menor contração vascular do grupo C+TAA

quando comparado com o grupo C, o que nos leva a sugerir que o endotélio do grupo tratado

com o agente hepatotóxico está liberando mais fatores contráteis do que relaxantes, já que na

presença do endotélio esse grupo contraiu mais. Dessa forma sugerimos que a tiocetamida

está causando um dano vascular que gerou uma disfunção nesse vaso.

De forma semelhante, no caso do grupo D+TAA foi observado uma grande

diminuição da resposta contrátil em relação ao grupo D, o que sugere que a droga

hepatotóxica associada a dieta hipercalórica contribui para a piora da resposta contrátil através

da menor liberação de fatores relaxantes derivados do endotélio.

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Figura 11. Curvas concentração resposta à fenilefrina em segmentos de aorta sem endotélio. Cada ponto

representa a média desvio padrão.

Figura 12. Resposta contrátil máxima e EC50 à fenilefrina em segmentos de aorta sem endotélio. Dados

apresentados em média desvio padrão. * indica p<0,05 na comparação entre C vs C+TAA ou D vs D+TAA.

Em relação ao relaxamento, não houve diferença entre os grupos para o agonista

vasodilatador Acetilcolina (Figura 13). No entanto, nas CCR para o nitroprussiato de sódio, os

grupos D+TAA e C+TAA apresentaram menor EC50 quando comparadas aos seus

respectivos controles (Figura 14). Esse resultado sugere um prejuízo na resposta

vasodilatadora causada pela tiocetamida, visto que o grupo D não teve alteração em relação ao

controle, sugerindo que a dieta sozinha não altera essa resposta.

O NPS é um agente vasodilatador doador de óxido nítrico que pode agir tanto

diretamente no músculo liso vascular liberando NO e gerando uma dilatação ou através da

diminuição da geração de espécies reativas de oxigênio, o que aumenta a biodisponibilidade

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de NO e favorece a vasodilatação54. Dessa forma a menor resposta ao NPS encontrada nos

grupos tratados com tioacetamida reforça a hipótese da presença de uma disfunção vascular

presente em ratos com disfunção hepática.

Figura 13. Curvas concentração resposta à acetilcolina em segmentos de aorta com endotélio intacto. Cada

ponto representa a média desvio padrão.

C C + TAA Dieta D + TAA0

2

4

6

8

EC

50

Figura 14. Resposta relaxante máxima e EC50 à acetilcolina em segmentos de aorta com endotélio intacto.

Dados apresentados em média desvio padrão. # indica p<0,05 na comparação entre de D vs C ou D+TAA vs

C+TAA.

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Figura 13. Curvas concentração resposta ao nitroprussiato de sódio em segmentos de aorta com endotélio

intacto. Cada ponto representa a média desvio padrão.

Figura 14. Resposta relaxante máxima e EC50 ao nitroprussiato de sódio em segmentos de aorta com endotélio

intacto. Dados apresentados em média desvio padrão. * indica p<0,05 na comparação entre C vs C+TAA ou D

vs D+TAA

Para verificar o possível mecanismo de ação envolvido nas alterações vasculares

encontradas nas CCR para fenilefrina, fizemos o bloqueio com L-NAME que é o inibidor da

óxido nítrico sintase (NOS), uma enzima responsável pela produção de óxido nítrico, o

principal vasodilatador e responsável pela manutenção da homeostase vascular. Verificamos

que no grupo controle, o bloqueio com L-NAME aumentou a resposta contrátil (Figura 15),

como já era esperado e já foi bem demonstrado na literatura, pois mostra que está havendo

liberação de NO sob o estímulo da fenilefrina e que com o bloqueio da NOS essa liberação

cessa e então há a prevalência apenas de agentes vasoconstritores, o que gera uma maior

contração do vaso. No entanto, no grupo tratado com tioacetamida vimos que não houve

diferença na resposta com L-NAME, mostrando que a droga prejudica a síntese de NO, já que

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com o bloqueio da NOS não há diferença na resposta contrátil pois não está havendo síntese

de NO por essa enzima, colaborando dessa forma com a disfunção vascular.

O mesmo não foi observado nos grupos dieta (Figura 16), onde vimos que os ratos

com dieta hiperlipídica tratados com tiocetamida tiveram um aumento da resposta contrátil na

presença do L-NAME, quando comparado com os ratos apenas com dieta. Esse resultado

sugere um papel “protetor” da dieta em relação ao prejuízo na síntese de NO causado pelo

agente hepatotóxico.

A disfunção vascular na obesidade é bem controvérsia na literatura, pois a função

vascular nesta condição pode variar de acordo com o leito do vaso e o modelo de obesidade

utilizado. Um estudo demonstrou que a obesidade promove um aumento da resposta contrátil

e redução da resposta vasodilatadora dependente do endotélio no leito arteriolar mesentérico

isolado. Essas alterações foram relacionadas com a redução da produção de NO, aumento da

geração de EROs e redução da razão PGI2/TXA2 no leito arteriolar mesentérico55. Assim, o

papel na manutenção da homeostasia no cenário vascular, é caracterizado por uma harmonia

entre substâncias liberadas pelo endotélio, no qual o NO é visto como um composto de grande

relevância. Caracterizada como uma desordem sistêmica que antecede a aterosclerose e suas

complicações, a disfunção endotelial em artérias coronárias ateroscleróticas foi inicialmente

demonstrada por Ludmer e cols.56 e, depois, relacionada à alteração na biodisponibilidade do

NO. Em trabalhos atuais, mostra-se que a baixa atividade biológica do NO, causada pela

redução na síntese ou pelo aumento da sua degradação através do estresse oxidativo, é

determinada como o mecanismo relevante na disfunção endotelial e de algumas disfunções

cardiovasculares. No processo de disfunção endotelial, ocorre um aumento na produção de

EROs, e estas podem diminuir a disponibilidade de NO por diferentes vias: inativação direta

do NO por superóxido, com formação de peroxinitrito (ONOO-)57; redução na expressão e na

atividade das sintases do NO, por causa das mudanças nos seus substratos ou cofatores, e no

aumento dos níveis de dimetilarginina assimétrica (ADMA)55; e, ainda, desacoplamento da

NOS endotelial causado pela oxidação aumentada de tetraidrobiopterina (BH4)58.

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3

Figura 15. Curvas concentração resposta à fenilefrina com bloqueio L-NAME em segmentos de aorta com

endotélio intacto dos grupos C e C+TAA. Cada ponto representa a média desvio padrão.

Figura 16. Curvas concentração resposta à fenilefrina com bloqueio L-NAME em segmentos de aorta com

endotélio intacto dos grupos D e D+TAA. Cada ponto representa a média desvio padrão.

Como estudos de função vascular em modelos de DHGNA é algo novo, não existem

trabalhos realizados no qual podemos realizar comparações entre os nossos resultados. Sendo

assim, nosso trabalho demonstrou de forma inédita uma disfunção vascular gerada a partir do

tratamento com um agente hepatotóxico. Dessa forma, pacientes com disfunção hepática

podem desenvolver disfunção vascular e esse pode ser um dos mecanismos relacionados com

o aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares nessa condição.

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6. CONCLUSÕES

Em resumo, demonstramos no presente trabalho que a obesidade induzida pela dieta

hipercalórica isoladamente não comprometeu a função vascular; em contraste, o tratamento

com o agente hepatotóxico, foi um fator relevante para aumentar a função vasoconstritora e

reduzir a função vasodilatadora da aorta. Sugere-se que o mecanismo envolvido nessa

disfunção vascular gerado pelo tratamento com tioacetamida é a menor biodisponibilidade de

óxido nítrico na aorta.

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8. ANEXOS

Anexo 1. Protocolo de aprovação do Comitê de Ética no Uso de Animais da

Universidade Federal de Mato Grosso

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