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  • 8/6/2019 Pancreatite Aguda 2

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    Ano 8, Janeiro / Junho de 2009 61

    ResumoA pancreatite aguda uma inflamao

    pancretica que pode determinar sndrome

    de resposta inamatria sistmica acarretan-

    do signicativa morbidade e mortalidade em20% dos pacientes. Colelitase e etilismo so as

    causas mais frequentes. Na maioria dos casos,

    as apresentaes so brandas e tratadas com

    suporte clnico. J os casos graves necessitam de

    cuidado especializado e interveno cirrgica.

    O emprego de antibioticoterapia proltica e

    o uso da CPRE, nos casos de etiologia biliar,

    ainda continuam controversos..

    PALAVRASCHAVE: Pancreatite aguda;

    Colelitase; Tratamento.

    IntRoduoNo nal do sculo XIV e incio do sculo

    XX, diversos pesquisadores, como Rugero

    Oddi e Claude Bernard descreveram detalhes

    da anatomia biliopancretica e sua siologia.

    Estes estudos culminaram com os trabalhospublicados por Reginald H. Fitz1 e H. Chiari2,

    que inauguram o estudo da pancreatite aguda

    e suas complicaes. Desde ento, considervel

    esforo vem sendo empregado no estudo da sua

    siopatologia e em seu tratamento.

    Atualmente, a pancreatite aguda a segunda

    causa de internao dentre as doenas do trato

    gastrintestinal, sendo superada apenas pela

    colelitase/colecistite nos EUA. Como sua in-

    cidncia vem aumentando nas ltimas dcadas

    e a mortalidade das apresentaes mais graves

    permaneceu inalterada neste mesmo perodo,

    o desenvolvimento de novas teraputicas para

    a pancreatite aguda deve ser prioridade na pes-

    quisa biomdica.

    No presente artigo, sero revisados a etio-

    logia, apresentao clnica, o diagnstico e otratamento da pancreatite aguda.

    defInIoUma reunio de consenso realizada em

    Atlanta, em 19923, padronizou a nomenclatura e

    as denies utilizadas no estudo da pancreatite

    aguda, que foi denida como um processo ina-

    matrio agudo do pncreas com envolvimentovarivel de outros tecidos regionais ou sistemas

    orgnicos. A pancreatite deve sempre ser con-

    siderada aguda, salvo prova em contrrio for-

    Marco Antonio C. Guimares-Filho

    Maria Cristina A. Maya

    Paulo Roberto F. Leal

    Andre de S. Melgao

    Pancreatite aguda:etiologia, aPresentaoclnicae tratamento

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    62 Revista do Hospital Universitrio Pedro Ernesto, UERJ

    necida por tomograa computadorizada (TC),

    ressonncia magntica (RM) ou colangiopan-

    creatograa endoscpica retrgrada (CPRE).

    A pancreatite aguda grave denida como

    quadro de pancreatite aguda acompanhada de

    disfuno orgnica importante e/ou presena decomplicaes locais (necrose, abscesso ou pseu-

    docisto). Podem tambm ser utilizados como

    critrios de pancreatite aguda grave a presena

    de mais de dois critrios de Ransom ou ainda

    escore APACHE II maior que 8 (Quadro 1).

    etIologIa

    A identicao do fator etiolgico respon-svel pela pancreatite aguda capital no seu

    tratamento j que este pode determinar o trata-

    mento e sua eliminao pode levar resoluo

    do quadro ou preveno de um novo episdio.

    Em torno de 75% dos casos so causados

    por colelitase ou abuso de lcool. O percentual

    exato de casos de origem biliar ou causados pelo

    lcool depende da populao estudada. Outros

    10% no tm seu fator etiolgico bem denido

    e so considerados idiopticos.

    Os principais fatores etiolgicos esto resu-

    midos no Quadro 2.

    colelitase

    a causa mais comum de pancreatite agu-

    da4. De 3 a 7% dos pacientes com litase biliar

    desenvolvem quadro de pancreatite aguda.

    Este risco pouco maior em pacientes do sexo

    masculino e nos casos de clculos pequenos,menores que 5mm5.

    H mais de um sculo, Eugene Opie sugeriu

    que a pancreatite seria causada pela impactao

    de clculos biliares na ampola de Vater6. Duas

    teorias foram desenvolvidas: a obstruo da

    papila, pela presena do clculo ou pelo edema

    secundrio ao trauma de sua passagem pela pa-

    pila, levaria ao reuxo de bile para do ducto pan-

    cretico principal atravs de um canal comum,

    denominada Opie 1; ou ocorreria obstruo dos

    ductos pancreticos diretamente pelo clculo,

    sem reuxo biliar, conhecida como Opie 2.

    Estudos experimentais em modelos animais

    mostraram que a infuso de sais biliares nos

    ductos pancreticos leva ao desenvolvimento

    de pancreatite aguda, corroborando os achados

    de Opie. Acredita-se que a captao destes saispelas clulas acinares pancreticas leve ao au-

    mento do clcio citoplasmtico que, por sua vez,

    age em vrios alvos intracelulares, tais como as

    mitocndrias, cujo resultado necrose celular7.

    QuadRo 1 - CRItRIosde atlantapaRadIag-nstICodepanCReatIteagudagRave.Falncia Orgnica

    Choque: presso sistlica < 90mmHg

    Insucincia pulmonar: pO2 < 60 mmHg

    Insucincia renal: creatinina srica > 2mg/dl

    Hemorragia digestiva: > 500 ml / 24h

    Complicaes Locais

    Necrose

    Abscesso

    Pseudocisto

    Fatores Prognsticos Desfavorveis

    3 ou mais critrios de Ranson

    APACHE II > 8

    modIfICadode: BRadley el 3Rd. a ClInICallyBasedClassIfI-CatIonsystemfoRaCutepanCReatItIs. summaRyofthe InteR-natIonal symposIum on aCute panCReatItIs. atlanta (ga);septemBeR 11 thRough 13, 1992. aRCh suRg. 1993;128:586.

    QuadRo 2 - pRInCIpaIsfatoResetIolgICosdapanCReatIteaguda.

    Denidas

    Colelitase

    Etilismo

    Hipertrilgiceridemia

    Ps-CPRE

    Drogas

    Autoimune

    Hereditria

    Trauma

    Infeces

    Hipercalcemia

    Ps-operatrioControversas

    Disfuno do esfncter de Oddi

    Pancreas divisum

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    lcool

    O uso crnico de lcool uma das princi-

    pais causas de pancreatite aguda e, certamente,

    a causa mais comum de sua forma crnica. A

    siopatologia da pancreatite de etiologia alco-

    lica ainda no bem conhecida e acredita-se

    que seja multifatorial. Vrios mecanismos foram

    propostos, tais como espasmo do esfncter de

    Oddi, obstruo de dctulos pancreticos pela

    precipitao de protenas no ducto pancretico

    com formao de plugues, ativao de zimog-

    nios pancreticos e resposta secretiva exagerada

    pancretica colecistoquinina (CCK)8.

    Como apenas 5 a 10% dos alcoolistas so

    acometidos pela pancreatite aguda, a presena

    de fatores genticos e ambientais fortemente

    suspeitada. O tabagismo, mutaes nos genes

    CFTR (cystic fibrosis transmembrane con-

    ductance regulator) e SPINK1 (serine protease

    inhibitor kazal type 1) e sexo masculino foram

    identicados como fatores de risco para o desen-

    volvimento de pancreatite aguda em alcoolistas 9.

    HiPertrigliceridemia

    Responde por 2% dos casos. Deve ser

    suspeitada quando o nvel srico encontra-se

    acima de 1000mg/dl. Como ocorre rpida que-

    da do nvel srico ainda nos primeiros dias de

    evoluo, a dosagem de triglicerdeos deve ser

    solicitada para os pacientes com quadro clni-

    co compatvel com pancreatite aguda que no

    apresentem outra causa bvia10.

    Normalmente, as elevaes da amilase e

    lipase so pouco acentuadas e a evoluo cl-

    nica semelhante aos casos de etiologia biliar.

    O tratamento da dislipidemia previne novos

    episdios de pancreatite aguda.

    Ps-cPre

    A pancreatite aguda a complicao mais

    comum da CPRE, ocorrendo em 5% dos pa-

    cientes submetidos ao exame. Como frequente

    a elevao assintomtica da amilase aps aCPRE, s deve ser considerado como caso de

    pancreatite na presena de dor abdominal tpica

    e elevao de, pelo menos, trs vezes dos nveis

    sricos de amilase ou lipase11.

    drogas

    O uso de diversas drogas foi relacionado

    com o desenvolvimento de pancreatite aguda.

    Foram postulados diversos mecanismos de ao,

    que podem, inclusive, ocorrer simultaneamente(Quadro 3). De uma forma geral, o quadro clni-

    co tende a ser brando, evoluindo com resoluo

    total aps a suspenso do frmaco.

    autoimune

    A pancreatite autoimune tem apresentao

    clnica caracterstica. O quadro subagudo e os

    achados clnicos apresentam mais semelhana

    com os encontrados na pancreatite crnica,tais como dor abdominal de leve a moderada e

    elevao discreta da amilase e lipase.

    Os exames de imagem mostram aumento

    localizado do pncreas, geralmente em sua por-

    o ceflica com estenose ou irregularidades no

    ducto pancretico. Por conta destes achados, a

    pancreatite autoimune pode ser confundida com

    tumores pancreticos. So achados caracters-

    ticos da pancreatite autoimune a elevao dosnveis sricos de IgG4, presena de inltrado

    linfoplasmoctico e elevados nveis de IgG4 no

    tecido pancretico12.

    O tratamento feito com corticosteroides,

    com rpida melhora clnica e normalizao dos

    achados tomogrcos.

    QuadRo 3 - dRogasImplICadasComoCausadepanCReatIteagudaeseusmeCanIsmos.

    Reao de Hipersensibilidade

    5-ASA/Sulfasalazina

    Azatioprina

    6-mercaptopurina

    Metronidazol

    Tetraciclina

    Metablito txico

    Pentamidina

    cido Valproico

    DDIHipergliceridemia

    Tiazidicos

    Tamoxifeno

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    Hereditriae gentica

    A pancreatite hereditria tem carter

    autossmico dominante com penetrncia va-

    rivel e, na maioria dos casos, decorrente de

    mutaes do gene PRSS1 (protease, serina1)13.

    Essas mutaes levam converso prematurado tripsinognio e autodigesto pancretica, que

    se manifestam clinicamente atravs de quadros

    recidivantes de pancreatite aguda na infncia

    que evoluem para pancreatite crnica. A idade

    mediana de incio dos sintomas 10 anos. H

    risco aumentado de desenvolvimento de cncer

    pancretico, principalmente se associado a ou-

    tros fatores de risco como tabagismo e etilismo.

    Outros genes implicados na pancreatiteaguda so o SPINK1 e gene da brose cstica

    (CFTR)14.

    apResentao ClnICaO principal sintoma dor abdominal, pre-

    sente em mais de 95% dos pacientes. Geralmente

    aguda, de instalao sbita, sem prdromos,

    localizada na poro superior do abdome, com

    irradiao dorsal e de intensidade moderada aforte, apresentando piora com a alimentao

    ou uso de lcool. Nos casos de etiologia biliar, a

    dor tende a ser mais localizada no hipocndrio

    direito e pode ter incio mais gradual, j que se

    confunde com a clica biliar.

    A dor acompanhada, em 90% dos casos, de

    nuseas e vmitos, que podem ser incoercveis.

    Os achados do exame fsico so proporcio-

    nais gravidade do quadro de pancreatite. Oexame abdominal mostra dor em hipocndrio

    direito e/ou epigstrio com defesa muscular,

    mas raramente com descompresso dolorosa.

    Pode haver distenso abdominal e diminuio

    da peristalse em decorrncia do leo adinmico

    determinado pelo processo inamatrio pan-

    cretico. Taquicardia e hipotenso variveis

    so decorrentes da hipovolemia secundria ao

    sequestro de lquido.Alguns achados so especcos de algumas

    complicaes da pancreatite aguda. Alteraes

    da ausculta pulmonar podem ser indicativas do

    derrame pleural, comumente esquerda, que

    pode acompanhar os casos de maior gravidade.

    A presena de equimose em anco esquerdo (si-

    nal de Gray-Turner) ou na regio periumbilical

    (sinal de Cullen) so indicativos de hemorragia

    retroperitoneal que pode ocorrer em casos de

    pancreatite grave.

    exames laboratoriais

    Os principais achados laboratoriais so

    leucocitose e hiperglicemia moderada como

    resultado da resposta inamatria sistmica.

    H tambm elevao discreta das transami-

    nases. Caso haja elevao signicativa de ALT

    (acima de 150 UI/l), a etiologia biliar deve ser

    fortemente suspeitada15.Os principais exames laboratoriais no

    diagnstico da pancreatite so as dosagens de

    amilase e lipase sricas.

    A hiperamilasemia o marcador clssico da

    pancreatite. Apresenta alta sensibilidade, mas

    pouco especca, j que em diversas situaes

    tais como insucincia renal, parotidite, aps

    a realizao de CPRE, perfurao esofgica

    e gravidez pode haver aumento de amilasesem a presena de pancreatite. Normalmente,

    a hiperamilasemia discreta no ultrapassando

    trs vezes o valor normal. Mesmo nos pacientes

    com pancreatite aguda, a dosagem de amilase

    pode estar normal em alguns casos particulares:

    diagnstico tardio, j que os nveis de amilase

    tendem a se normalizar aps alguns dias de

    evoluo; hipertrigliceridemia; e surtos de agu-

    dizao de pancreatite crnica em decorrnciade insucincia do parnquima pancretico

    cronicamente inamado.

    A dosagem da lipase srica considerada o

    exame laboratorial primrio para o diagnstico

    de pancreatite, j que apresenta alta sensibi-

    lidade e especicidade e se mantm elevado

    por vrios dias, superando assim a dosagem de

    amilase como exame diagnstico.

    exames radiolgicos

    A tomograa computadorizada helicoidal

    o exame central na avaliao da pancreatite

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    aguda. Sua realizao est indicada nos casos

    de apresentaes graves e nas pancreatites leves

    que no apresentam melhora aps vrios dias de

    tratamento clnico, j que permite a conrmao

    do diagnstico, diagnstico de complicaes

    como necrose pancretica ou colees e avalia-

    o prognstica (ver adiante).Os principais achados tomogrcos so

    aumento do rgo, borramento da gordura

    peripancretica. O uso de contraste venoso

    permite a identicao de reas hipocaptantes

    no parnquima pancretico que so sugestivas

    de necrose.

    Outros exames complementares que podem

    ser empregados so a colangiorressonncia, in-

    dicada na avaliao dos casos em que h icterciaassociada ou suspeita de coledocolitase no

    demonstrada por outros exames ou a ultrasso-

    nograa endoscpica que pode ser empregada

    nos pacientes com contraindicao realizao

    de colangiorresonncia e naqueles em que a

    ressonncia no foi conclusiva.

    avaliaodagravidade

    A determinao da gravidade da pancreatiteno momento do seu diagnstico fundamental

    no seu tratamento, j que permite a identicao

    precoce das complicaes, a triagem de pacien-

    tes para tratamento em Terapia Intensiva e baliza

    decises teraputicas.

    Como as dosagens de amilase e lipase

    sricas tm baixa correlao com a gravidade

    da doena e a avaliao de clnica tem baixa

    sensibilidade na identicao das apresentaesgraves, diversas outras formas de avaliao mais

    objetivas foram desenvolvidas, podendo ser di-

    vididas em escores clnico-laboratoriais, exames

    laboratoriais e exames radiolgicos.

    Os critrios de Ranson (Tabela 1) foram

    o primeiro escore largamente utilizado na

    pancreatite aguda. Inicialmente desenvolvido

    para avaliao da pancreatite alcolica, foi

    modicado posteriormente para o uso tambmnos casos de etiologia biliar. A presena de mais

    de dois critrios dene o caso como grave com

    sensibilidade de 40% a 88%, especificidade

    de 43% a 90% e valor preditivo negativo em

    torno de 90%17. Como principais desvantagens

    temos a necessidade de avaliao por 48 horas

    e a relativa baixa sensibilidade e especicidade.

    Seu principal valor na excluso da presena

    de pancreatite grave, graas ao seu alto valor

    preditivo negativo.A escala de APACHE II um escore clnico

    amplamente utilizado na avaliao de gravidade

    em pacientes crticos. Inclui uma extensa lista

    de parmetros siolgicos e laboratoriais, idade,

    status neurolgico e presena de comorbidades.

    Valores acima de 8 so muito sugestivos de do-

    ena grave. A reavaliao do escore diariamente

    pode ser utilizada como parmetro de resposta

    ao tratamento clnico18. A principal desvanta-gem do APACHE II sua complexidade e pouca

    praticidade.

    Como a definio de pancreatite aguda

    grave prev a presena de disfuno orgnica,

    escores utilizados na avaliao de falncia org-

    nica tambm podem ser utilizados no acompa-

    nhamento do tratamento, tais como o Sequential

    Organ Failure Assesment Score (SOFA) e o

    Multiple Organ Disfunction Score (MODS).Como a presena de necrose pancretica

    um dos fatores prognsticos mais importantes

    na pancreatite aguda grave e a TC considerada

    como padro ouro no seu diagnstico, o uso da

    TC de abdome como indicador da gravidade da

    pancreatite foi estudado por Balthazar. Inicial-

    taBela 1. CRItRIosde RansompaRa pan-CReatIte aguda.

    Na admisso

    Idade > 55 anos

    Leucometria > 16.000 /ml

    Glicose > 200 mg/dl

    LDH > 350 UI/l

    TGO > 250 U/dl

    Primeiras 48h

    Queda do hematcrito > 10%

    Aumento da BUN > 5 mg/dl

    Clcio srico < 8 mg/dlPaO2 < 60 mmHg

    Dcit de base > 4 mEq/l

    Sequestro lquido estimado: 6.000 ml

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    mente, foi descrito o primeiro escore, conhecido

    informalmente como escore de Balthazar. A

    presena de escores D ou E acarretavam em

    mortalidade superior a 13%, enquanto os clas-

    sicados como A, B ou C apresentavam morta-

    lidade mnima. Posteriormente, foi descrito o

    CT Severity Index (CTSI), em que a extensoda necrose eram somados aos achados iniciais

    e resultava em um escore numrico (Tabela 2)19.

    Valores de CTSI superiores a 5 so considerados

    sugestivos de pancreatite grave, apresentando

    risco 8 vezes maior de morte, 17 vezes maior

    de internao prolongada e 10 vezes maior de

    necessidade de necrossectomia, quando compa-

    rados a pacientes com CTSI menor ou igual a 5.

    Como a presena de necrose pode ocorreraps alguns dias do incio do quadro, o CTSI

    pode subestimar a gravidade da pancreatite na

    apresentao.

    Alguns marcadores laboratoriais tambm

    podem ser empregados na tentativa de prog-

    nosticar os casos de pancreatite. Destes, o mais

    utilizado a dosagem de protena C reativa. Uti-

    lizando o valor de corte de 150mg/l, apresentasensibilidade e especicidade de, aproximada-

    mente, 80% quando dosado aps 48h do incio

    do quadro clnico21.

    Outros marcadores que tambm podem ser

    utilizados so a procalcitonina srica, interleu-

    cina-6, interleucina-8, fosfolipase A2, peptdio

    ativador do tripsinognio urinrio e elastase

    leucocitria.

    tRatamentoA base do tratamento o suporte clnico e

    a suspenso da ingesta oral, j que ainda no h

    tratamento especco para a pancreatite. Este

    suporte clnico consiste em manuteno da

    perfuso tecidual atravs de reposio volmica

    vigorosa e manuteno da saturao de oxige-

    nao, analgesia e suporte nutricional.

    Pacientes com pancreatite aguda geralmen-te apresentam hipovolemia importante secun-

    dria ao sequestro de lquido, necessitando de

    hidratao volmica agressiva para melhorar a

    perfuso tecidual pancretica e tentar evitar o

    desenvolvimento de necrose pancretica e pre-

    venir a evoluo para formas graves. Como no

    h como antecipar as necessidades de reposio

    volmica, os pacientes devem ser monitorados

    continuamente para avaliar a efetividade do

    tratamento. Os critrios utilizados so o hema-tcrito, dbito urinrio, frequncia cardaca,

    azotemia e turgor cutneo. No caso de pacientes

    com comorbidades como insucincia renal ou

    cardiopatias, pode ser necessria a utilizao de

    monitorizao invasiva.

    Tambm com o objetivo de manter a oxi-

    genao tecidual, todos os pacientes devem

    ser monitorados atravs de oximetria de pulso

    objetivando uma saturao arterial de oxignioacima de 95%.

    A analgesia tambm essencial, sendo

    classicamente utilizados opioides parenterais,

    como a morna e a meperidina, sendo ainda

    controversa qual a melhor opo de droga.

    A utilizao de descompresso gstrica atra-

    vs de cateter nasogstrico, antes parte integral

    do tratamento inicial da pancreatite aguda, deve

    ser reservada aos casos de vmitos incoercveisou distenso abdominal importante secundrio

    ao leo adinmico.

    A maioria dos pacientes apresenta quadro

    de pancreatite aguda leve que responde satisfa-

    toriamente ao tratamento clnico, com resoluo

    dos sintomas e normalizao dos nveis sricos

    de amilase e lipase. Nestes pacientes, reiniciada

    a dieta com lquido sem resduos, e evoluda

    progressivamente para evitar dor ps-prandiale recidiva da pancreatite.

    Nos casos de pancreatite de etiologia biliar,

    estes pacientes devem ser submetidos colecis-

    tectomia com colangiograa videolaparoscpica

    precoce, logo aps a normalizao da amilase e

    melhora dos sintomas22.

    A pancreatite aguda grave (PAG) deve ser

    tratada, inicialmente, com medidas gerais de

    suporte j descritas, idealmente em unidade deterapia intensiva.

    Como a PAG determina um estado catab-

    lico importante e antecipado um longo perodo

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    sem ingesta oral, fundamental o planejamento

    de suporte nutricional adequado. Classicamente,

    o suporte nutricional destes pacientes era reali-

    zado atravs de nutrio parenteral total (NPT).

    No entanto, estudos prospectivos randomizados

    demonstraram que pacientes que receberam

    dieta enteral atravs de cateter nasojejunalapresentaram menos complicaes infecciosas

    e menor mortalidade22. Tais resultados levaram

    adoo da dieta enteral como primeira opo

    na PAG nas recomendaes de diversas Socie-

    dades Mdicas.

    Outra rea de controvrsia o uso pro-

    ltico de antibiticos. Diversos estudos foram

    desenvolvidos com resultados conitantes em

    relao eccia na preveno da necrose infec-tada. Recentemente dois estudos multicntricos

    e duplo-cegos foram realizados utilizando pro-

    laxia com ciprooxacino com metronidazol em

    um estudo e meropenem no outro23, 24. Ambos

    no identicaram vantagem no uso proltico

    de antibiticos. No entanto, meta-anlise rea-

    lizada pela Cochrane Collaboration25 mostrou

    vantagem na utilizao de antibiticos, com

    diminuio da mortalidade, ainda que notenha havido diminuio na taxa de necrose

    pancretica infectada.

    Apesar do tratamento inicial da PAG ser

    conservador, em casos particulares de pancreati-

    te biliar pode ser necessrio o emprego precoce

    de tratamento invasivo.

    Nos casos de PAG associada coledocoli-

    tase, h controvrsia na indicao precoce de

    CPRE com papilotomia e extrao de clculos.Os que defendem seu uso acreditam que possa

    prevenir ou tratar possvel colangite ou, ainda,

    evitar o desenvolvimento de falncia orgnica.

    Estas hipteses foram testadas em diversos es-

    tudos que mostraram que a CPRE no levou

    diminuio da mortalidade, mas apresentaram

    dados discordantes em relao ao impacto da

    CPRE na diminuio da morbidade26.

    A principal complicao da PAG o de-senvolvimento de infeco nas reas de necrose

    pancretica. Ela ocorre em 10% a 50% dos

    pacientes com necrose pancretica, geralmente

    aps 3 a 4 semanas aps o incio do quadro

    clnico. Deve ser suspeitada nos pacientes com

    necrose pancretica que no apresentem me-

    lhora clnica aps trs semanas de tratamento.

    O diagnstico feito atravs de puno com

    agulha na (PAF) guiado por TC.

    H inmeras abordagens descritas parao tratamento da necrose infectada, desde tra-

    tamento conservador com antibiticos, trata-

    mento com colocao de drenos percutneos,

    at cirurgia minimamente invasiva atravs de

    cirurgia endoscpica transgstrica e utilizao

    de nefroscpio rgido. No entanto, o tratamento

    padro ainda a cirurgia aberta. H controvr-

    sias quanto ao momento ideal da interveno e

    as tcnicas operatrias empregadas.Estudos publicados nos anos 1990 mostra-

    ram que o adiamento da interveno cirrgica

    levou a quedas expressivas da mortalidade

    quando comparadas cirurgia precoce (27%

    versus 65%), o que levou recomendao que

    os pacientes com PAG sejam submetidos

    cirurgia apenas aps a 3/4 semanas do incio

    dos sintomas27.

    Diversas tcnicas foram descritas para otratamento da necrose pancretica. Em todas, o

    objetivo o controle do foco infeccioso atravs

    da remoo do tecido necrtico, preservao

    do tecido pancretico normal e drenagem do

    exsudato inamatrio e debris.

    Na necrossectomia com tamponamento e

    relapatomias programadas, realizada resseco

    do tecido necrtico, drenagem de exsudato e

    debris e relaparotomias a cada dois dias at que acavidade seja considerada saneada e, nalmente,

    fechada com drenos na loja pancretica.

    Outra tcnica utilizada a necrossectomia

    com lavagem peritoneal. Aps a necrossectomia,

    so colocados drenos calibrosos na loja pancre-

    tica que so utilizados para irrigao contnua.

    ConClusoApesar da maioria dos casos de pancreatite

    aguda ter evoluo favorvel, todos devem ser

    avaliados atravs dos escores clnicos dispon-

    veis para identicao precoce dos pacientes

  • 8/6/2019 Pancreatite Aguda 2

    8/9

    68 Revista do Hospital Universitrio Pedro Ernesto, UERJ

    com potencial de evoluo desfavorvel. O

    tratamento inicial conservador, devendo a

    cirurgia ser reservada aos casos de necrose

    pancretica infectada.

    O uso proltico de antibiticos nos pa-

    cientes com necrose pancretica e o emprego

    precoce da CPER nos casos de pancreatite biliarainda so controversos e aguardam novos estu-

    dos para esclarecer seu papel no tratamento da

    pancreatite aguda.

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    aBstRaCtAcute pancreatitis is a pancreatic inamma-

    tion that can determine syndrome of systemicinammatory response promoting mortalityand morbidity in 20% of pacients. Cholelithia-sis and ethylism are the most frequent causes.

    Presentations are normally mild and treatedwith clinical support. Hard cases need specialcare and chirurgical intervention. e use ofprophilatic antibiotical therapy and the use ofCPRE, in cases of biliar etiology, the uses arestill under question..

    KEY WORDS: Acute pancreatitis; Choleli-

    thiasis; Treatment.