Pancreatite Aguda 2
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8/6/2019 Pancreatite Aguda 2
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Ano 8, Janeiro / Junho de 2009 61
ResumoA pancreatite aguda uma inflamao
pancretica que pode determinar sndrome
de resposta inamatria sistmica acarretan-
do signicativa morbidade e mortalidade em20% dos pacientes. Colelitase e etilismo so as
causas mais frequentes. Na maioria dos casos,
as apresentaes so brandas e tratadas com
suporte clnico. J os casos graves necessitam de
cuidado especializado e interveno cirrgica.
O emprego de antibioticoterapia proltica e
o uso da CPRE, nos casos de etiologia biliar,
ainda continuam controversos..
PALAVRASCHAVE: Pancreatite aguda;
Colelitase; Tratamento.
IntRoduoNo nal do sculo XIV e incio do sculo
XX, diversos pesquisadores, como Rugero
Oddi e Claude Bernard descreveram detalhes
da anatomia biliopancretica e sua siologia.
Estes estudos culminaram com os trabalhospublicados por Reginald H. Fitz1 e H. Chiari2,
que inauguram o estudo da pancreatite aguda
e suas complicaes. Desde ento, considervel
esforo vem sendo empregado no estudo da sua
siopatologia e em seu tratamento.
Atualmente, a pancreatite aguda a segunda
causa de internao dentre as doenas do trato
gastrintestinal, sendo superada apenas pela
colelitase/colecistite nos EUA. Como sua in-
cidncia vem aumentando nas ltimas dcadas
e a mortalidade das apresentaes mais graves
permaneceu inalterada neste mesmo perodo,
o desenvolvimento de novas teraputicas para
a pancreatite aguda deve ser prioridade na pes-
quisa biomdica.
No presente artigo, sero revisados a etio-
logia, apresentao clnica, o diagnstico e otratamento da pancreatite aguda.
defInIoUma reunio de consenso realizada em
Atlanta, em 19923, padronizou a nomenclatura e
as denies utilizadas no estudo da pancreatite
aguda, que foi denida como um processo ina-
matrio agudo do pncreas com envolvimentovarivel de outros tecidos regionais ou sistemas
orgnicos. A pancreatite deve sempre ser con-
siderada aguda, salvo prova em contrrio for-
Marco Antonio C. Guimares-Filho
Maria Cristina A. Maya
Paulo Roberto F. Leal
Andre de S. Melgao
Pancreatite aguda:etiologia, aPresentaoclnicae tratamento
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necida por tomograa computadorizada (TC),
ressonncia magntica (RM) ou colangiopan-
creatograa endoscpica retrgrada (CPRE).
A pancreatite aguda grave denida como
quadro de pancreatite aguda acompanhada de
disfuno orgnica importante e/ou presena decomplicaes locais (necrose, abscesso ou pseu-
docisto). Podem tambm ser utilizados como
critrios de pancreatite aguda grave a presena
de mais de dois critrios de Ransom ou ainda
escore APACHE II maior que 8 (Quadro 1).
etIologIa
A identicao do fator etiolgico respon-svel pela pancreatite aguda capital no seu
tratamento j que este pode determinar o trata-
mento e sua eliminao pode levar resoluo
do quadro ou preveno de um novo episdio.
Em torno de 75% dos casos so causados
por colelitase ou abuso de lcool. O percentual
exato de casos de origem biliar ou causados pelo
lcool depende da populao estudada. Outros
10% no tm seu fator etiolgico bem denido
e so considerados idiopticos.
Os principais fatores etiolgicos esto resu-
midos no Quadro 2.
colelitase
a causa mais comum de pancreatite agu-
da4. De 3 a 7% dos pacientes com litase biliar
desenvolvem quadro de pancreatite aguda.
Este risco pouco maior em pacientes do sexo
masculino e nos casos de clculos pequenos,menores que 5mm5.
H mais de um sculo, Eugene Opie sugeriu
que a pancreatite seria causada pela impactao
de clculos biliares na ampola de Vater6. Duas
teorias foram desenvolvidas: a obstruo da
papila, pela presena do clculo ou pelo edema
secundrio ao trauma de sua passagem pela pa-
pila, levaria ao reuxo de bile para do ducto pan-
cretico principal atravs de um canal comum,
denominada Opie 1; ou ocorreria obstruo dos
ductos pancreticos diretamente pelo clculo,
sem reuxo biliar, conhecida como Opie 2.
Estudos experimentais em modelos animais
mostraram que a infuso de sais biliares nos
ductos pancreticos leva ao desenvolvimento
de pancreatite aguda, corroborando os achados
de Opie. Acredita-se que a captao destes saispelas clulas acinares pancreticas leve ao au-
mento do clcio citoplasmtico que, por sua vez,
age em vrios alvos intracelulares, tais como as
mitocndrias, cujo resultado necrose celular7.
QuadRo 1 - CRItRIosde atlantapaRadIag-nstICodepanCReatIteagudagRave.Falncia Orgnica
Choque: presso sistlica < 90mmHg
Insucincia pulmonar: pO2 < 60 mmHg
Insucincia renal: creatinina srica > 2mg/dl
Hemorragia digestiva: > 500 ml / 24h
Complicaes Locais
Necrose
Abscesso
Pseudocisto
Fatores Prognsticos Desfavorveis
3 ou mais critrios de Ranson
APACHE II > 8
modIfICadode: BRadley el 3Rd. a ClInICallyBasedClassIfI-CatIonsystemfoRaCutepanCReatItIs. summaRyofthe InteR-natIonal symposIum on aCute panCReatItIs. atlanta (ga);septemBeR 11 thRough 13, 1992. aRCh suRg. 1993;128:586.
QuadRo 2 - pRInCIpaIsfatoResetIolgICosdapanCReatIteaguda.
Denidas
Colelitase
Etilismo
Hipertrilgiceridemia
Ps-CPRE
Drogas
Autoimune
Hereditria
Trauma
Infeces
Hipercalcemia
Ps-operatrioControversas
Disfuno do esfncter de Oddi
Pancreas divisum
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lcool
O uso crnico de lcool uma das princi-
pais causas de pancreatite aguda e, certamente,
a causa mais comum de sua forma crnica. A
siopatologia da pancreatite de etiologia alco-
lica ainda no bem conhecida e acredita-se
que seja multifatorial. Vrios mecanismos foram
propostos, tais como espasmo do esfncter de
Oddi, obstruo de dctulos pancreticos pela
precipitao de protenas no ducto pancretico
com formao de plugues, ativao de zimog-
nios pancreticos e resposta secretiva exagerada
pancretica colecistoquinina (CCK)8.
Como apenas 5 a 10% dos alcoolistas so
acometidos pela pancreatite aguda, a presena
de fatores genticos e ambientais fortemente
suspeitada. O tabagismo, mutaes nos genes
CFTR (cystic fibrosis transmembrane con-
ductance regulator) e SPINK1 (serine protease
inhibitor kazal type 1) e sexo masculino foram
identicados como fatores de risco para o desen-
volvimento de pancreatite aguda em alcoolistas 9.
HiPertrigliceridemia
Responde por 2% dos casos. Deve ser
suspeitada quando o nvel srico encontra-se
acima de 1000mg/dl. Como ocorre rpida que-
da do nvel srico ainda nos primeiros dias de
evoluo, a dosagem de triglicerdeos deve ser
solicitada para os pacientes com quadro clni-
co compatvel com pancreatite aguda que no
apresentem outra causa bvia10.
Normalmente, as elevaes da amilase e
lipase so pouco acentuadas e a evoluo cl-
nica semelhante aos casos de etiologia biliar.
O tratamento da dislipidemia previne novos
episdios de pancreatite aguda.
Ps-cPre
A pancreatite aguda a complicao mais
comum da CPRE, ocorrendo em 5% dos pa-
cientes submetidos ao exame. Como frequente
a elevao assintomtica da amilase aps aCPRE, s deve ser considerado como caso de
pancreatite na presena de dor abdominal tpica
e elevao de, pelo menos, trs vezes dos nveis
sricos de amilase ou lipase11.
drogas
O uso de diversas drogas foi relacionado
com o desenvolvimento de pancreatite aguda.
Foram postulados diversos mecanismos de ao,
que podem, inclusive, ocorrer simultaneamente(Quadro 3). De uma forma geral, o quadro clni-
co tende a ser brando, evoluindo com resoluo
total aps a suspenso do frmaco.
autoimune
A pancreatite autoimune tem apresentao
clnica caracterstica. O quadro subagudo e os
achados clnicos apresentam mais semelhana
com os encontrados na pancreatite crnica,tais como dor abdominal de leve a moderada e
elevao discreta da amilase e lipase.
Os exames de imagem mostram aumento
localizado do pncreas, geralmente em sua por-
o ceflica com estenose ou irregularidades no
ducto pancretico. Por conta destes achados, a
pancreatite autoimune pode ser confundida com
tumores pancreticos. So achados caracters-
ticos da pancreatite autoimune a elevao dosnveis sricos de IgG4, presena de inltrado
linfoplasmoctico e elevados nveis de IgG4 no
tecido pancretico12.
O tratamento feito com corticosteroides,
com rpida melhora clnica e normalizao dos
achados tomogrcos.
QuadRo 3 - dRogasImplICadasComoCausadepanCReatIteagudaeseusmeCanIsmos.
Reao de Hipersensibilidade
5-ASA/Sulfasalazina
Azatioprina
6-mercaptopurina
Metronidazol
Tetraciclina
Metablito txico
Pentamidina
cido Valproico
DDIHipergliceridemia
Tiazidicos
Tamoxifeno
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Hereditriae gentica
A pancreatite hereditria tem carter
autossmico dominante com penetrncia va-
rivel e, na maioria dos casos, decorrente de
mutaes do gene PRSS1 (protease, serina1)13.
Essas mutaes levam converso prematurado tripsinognio e autodigesto pancretica, que
se manifestam clinicamente atravs de quadros
recidivantes de pancreatite aguda na infncia
que evoluem para pancreatite crnica. A idade
mediana de incio dos sintomas 10 anos. H
risco aumentado de desenvolvimento de cncer
pancretico, principalmente se associado a ou-
tros fatores de risco como tabagismo e etilismo.
Outros genes implicados na pancreatiteaguda so o SPINK1 e gene da brose cstica
(CFTR)14.
apResentao ClnICaO principal sintoma dor abdominal, pre-
sente em mais de 95% dos pacientes. Geralmente
aguda, de instalao sbita, sem prdromos,
localizada na poro superior do abdome, com
irradiao dorsal e de intensidade moderada aforte, apresentando piora com a alimentao
ou uso de lcool. Nos casos de etiologia biliar, a
dor tende a ser mais localizada no hipocndrio
direito e pode ter incio mais gradual, j que se
confunde com a clica biliar.
A dor acompanhada, em 90% dos casos, de
nuseas e vmitos, que podem ser incoercveis.
Os achados do exame fsico so proporcio-
nais gravidade do quadro de pancreatite. Oexame abdominal mostra dor em hipocndrio
direito e/ou epigstrio com defesa muscular,
mas raramente com descompresso dolorosa.
Pode haver distenso abdominal e diminuio
da peristalse em decorrncia do leo adinmico
determinado pelo processo inamatrio pan-
cretico. Taquicardia e hipotenso variveis
so decorrentes da hipovolemia secundria ao
sequestro de lquido.Alguns achados so especcos de algumas
complicaes da pancreatite aguda. Alteraes
da ausculta pulmonar podem ser indicativas do
derrame pleural, comumente esquerda, que
pode acompanhar os casos de maior gravidade.
A presena de equimose em anco esquerdo (si-
nal de Gray-Turner) ou na regio periumbilical
(sinal de Cullen) so indicativos de hemorragia
retroperitoneal que pode ocorrer em casos de
pancreatite grave.
exames laboratoriais
Os principais achados laboratoriais so
leucocitose e hiperglicemia moderada como
resultado da resposta inamatria sistmica.
H tambm elevao discreta das transami-
nases. Caso haja elevao signicativa de ALT
(acima de 150 UI/l), a etiologia biliar deve ser
fortemente suspeitada15.Os principais exames laboratoriais no
diagnstico da pancreatite so as dosagens de
amilase e lipase sricas.
A hiperamilasemia o marcador clssico da
pancreatite. Apresenta alta sensibilidade, mas
pouco especca, j que em diversas situaes
tais como insucincia renal, parotidite, aps
a realizao de CPRE, perfurao esofgica
e gravidez pode haver aumento de amilasesem a presena de pancreatite. Normalmente,
a hiperamilasemia discreta no ultrapassando
trs vezes o valor normal. Mesmo nos pacientes
com pancreatite aguda, a dosagem de amilase
pode estar normal em alguns casos particulares:
diagnstico tardio, j que os nveis de amilase
tendem a se normalizar aps alguns dias de
evoluo; hipertrigliceridemia; e surtos de agu-
dizao de pancreatite crnica em decorrnciade insucincia do parnquima pancretico
cronicamente inamado.
A dosagem da lipase srica considerada o
exame laboratorial primrio para o diagnstico
de pancreatite, j que apresenta alta sensibi-
lidade e especicidade e se mantm elevado
por vrios dias, superando assim a dosagem de
amilase como exame diagnstico.
exames radiolgicos
A tomograa computadorizada helicoidal
o exame central na avaliao da pancreatite
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aguda. Sua realizao est indicada nos casos
de apresentaes graves e nas pancreatites leves
que no apresentam melhora aps vrios dias de
tratamento clnico, j que permite a conrmao
do diagnstico, diagnstico de complicaes
como necrose pancretica ou colees e avalia-
o prognstica (ver adiante).Os principais achados tomogrcos so
aumento do rgo, borramento da gordura
peripancretica. O uso de contraste venoso
permite a identicao de reas hipocaptantes
no parnquima pancretico que so sugestivas
de necrose.
Outros exames complementares que podem
ser empregados so a colangiorressonncia, in-
dicada na avaliao dos casos em que h icterciaassociada ou suspeita de coledocolitase no
demonstrada por outros exames ou a ultrasso-
nograa endoscpica que pode ser empregada
nos pacientes com contraindicao realizao
de colangiorresonncia e naqueles em que a
ressonncia no foi conclusiva.
avaliaodagravidade
A determinao da gravidade da pancreatiteno momento do seu diagnstico fundamental
no seu tratamento, j que permite a identicao
precoce das complicaes, a triagem de pacien-
tes para tratamento em Terapia Intensiva e baliza
decises teraputicas.
Como as dosagens de amilase e lipase
sricas tm baixa correlao com a gravidade
da doena e a avaliao de clnica tem baixa
sensibilidade na identicao das apresentaesgraves, diversas outras formas de avaliao mais
objetivas foram desenvolvidas, podendo ser di-
vididas em escores clnico-laboratoriais, exames
laboratoriais e exames radiolgicos.
Os critrios de Ranson (Tabela 1) foram
o primeiro escore largamente utilizado na
pancreatite aguda. Inicialmente desenvolvido
para avaliao da pancreatite alcolica, foi
modicado posteriormente para o uso tambmnos casos de etiologia biliar. A presena de mais
de dois critrios dene o caso como grave com
sensibilidade de 40% a 88%, especificidade
de 43% a 90% e valor preditivo negativo em
torno de 90%17. Como principais desvantagens
temos a necessidade de avaliao por 48 horas
e a relativa baixa sensibilidade e especicidade.
Seu principal valor na excluso da presena
de pancreatite grave, graas ao seu alto valor
preditivo negativo.A escala de APACHE II um escore clnico
amplamente utilizado na avaliao de gravidade
em pacientes crticos. Inclui uma extensa lista
de parmetros siolgicos e laboratoriais, idade,
status neurolgico e presena de comorbidades.
Valores acima de 8 so muito sugestivos de do-
ena grave. A reavaliao do escore diariamente
pode ser utilizada como parmetro de resposta
ao tratamento clnico18. A principal desvanta-gem do APACHE II sua complexidade e pouca
praticidade.
Como a definio de pancreatite aguda
grave prev a presena de disfuno orgnica,
escores utilizados na avaliao de falncia org-
nica tambm podem ser utilizados no acompa-
nhamento do tratamento, tais como o Sequential
Organ Failure Assesment Score (SOFA) e o
Multiple Organ Disfunction Score (MODS).Como a presena de necrose pancretica
um dos fatores prognsticos mais importantes
na pancreatite aguda grave e a TC considerada
como padro ouro no seu diagnstico, o uso da
TC de abdome como indicador da gravidade da
pancreatite foi estudado por Balthazar. Inicial-
taBela 1. CRItRIosde RansompaRa pan-CReatIte aguda.
Na admisso
Idade > 55 anos
Leucometria > 16.000 /ml
Glicose > 200 mg/dl
LDH > 350 UI/l
TGO > 250 U/dl
Primeiras 48h
Queda do hematcrito > 10%
Aumento da BUN > 5 mg/dl
Clcio srico < 8 mg/dlPaO2 < 60 mmHg
Dcit de base > 4 mEq/l
Sequestro lquido estimado: 6.000 ml
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mente, foi descrito o primeiro escore, conhecido
informalmente como escore de Balthazar. A
presena de escores D ou E acarretavam em
mortalidade superior a 13%, enquanto os clas-
sicados como A, B ou C apresentavam morta-
lidade mnima. Posteriormente, foi descrito o
CT Severity Index (CTSI), em que a extensoda necrose eram somados aos achados iniciais
e resultava em um escore numrico (Tabela 2)19.
Valores de CTSI superiores a 5 so considerados
sugestivos de pancreatite grave, apresentando
risco 8 vezes maior de morte, 17 vezes maior
de internao prolongada e 10 vezes maior de
necessidade de necrossectomia, quando compa-
rados a pacientes com CTSI menor ou igual a 5.
Como a presena de necrose pode ocorreraps alguns dias do incio do quadro, o CTSI
pode subestimar a gravidade da pancreatite na
apresentao.
Alguns marcadores laboratoriais tambm
podem ser empregados na tentativa de prog-
nosticar os casos de pancreatite. Destes, o mais
utilizado a dosagem de protena C reativa. Uti-
lizando o valor de corte de 150mg/l, apresentasensibilidade e especicidade de, aproximada-
mente, 80% quando dosado aps 48h do incio
do quadro clnico21.
Outros marcadores que tambm podem ser
utilizados so a procalcitonina srica, interleu-
cina-6, interleucina-8, fosfolipase A2, peptdio
ativador do tripsinognio urinrio e elastase
leucocitria.
tRatamentoA base do tratamento o suporte clnico e
a suspenso da ingesta oral, j que ainda no h
tratamento especco para a pancreatite. Este
suporte clnico consiste em manuteno da
perfuso tecidual atravs de reposio volmica
vigorosa e manuteno da saturao de oxige-
nao, analgesia e suporte nutricional.
Pacientes com pancreatite aguda geralmen-te apresentam hipovolemia importante secun-
dria ao sequestro de lquido, necessitando de
hidratao volmica agressiva para melhorar a
perfuso tecidual pancretica e tentar evitar o
desenvolvimento de necrose pancretica e pre-
venir a evoluo para formas graves. Como no
h como antecipar as necessidades de reposio
volmica, os pacientes devem ser monitorados
continuamente para avaliar a efetividade do
tratamento. Os critrios utilizados so o hema-tcrito, dbito urinrio, frequncia cardaca,
azotemia e turgor cutneo. No caso de pacientes
com comorbidades como insucincia renal ou
cardiopatias, pode ser necessria a utilizao de
monitorizao invasiva.
Tambm com o objetivo de manter a oxi-
genao tecidual, todos os pacientes devem
ser monitorados atravs de oximetria de pulso
objetivando uma saturao arterial de oxignioacima de 95%.
A analgesia tambm essencial, sendo
classicamente utilizados opioides parenterais,
como a morna e a meperidina, sendo ainda
controversa qual a melhor opo de droga.
A utilizao de descompresso gstrica atra-
vs de cateter nasogstrico, antes parte integral
do tratamento inicial da pancreatite aguda, deve
ser reservada aos casos de vmitos incoercveisou distenso abdominal importante secundrio
ao leo adinmico.
A maioria dos pacientes apresenta quadro
de pancreatite aguda leve que responde satisfa-
toriamente ao tratamento clnico, com resoluo
dos sintomas e normalizao dos nveis sricos
de amilase e lipase. Nestes pacientes, reiniciada
a dieta com lquido sem resduos, e evoluda
progressivamente para evitar dor ps-prandiale recidiva da pancreatite.
Nos casos de pancreatite de etiologia biliar,
estes pacientes devem ser submetidos colecis-
tectomia com colangiograa videolaparoscpica
precoce, logo aps a normalizao da amilase e
melhora dos sintomas22.
A pancreatite aguda grave (PAG) deve ser
tratada, inicialmente, com medidas gerais de
suporte j descritas, idealmente em unidade deterapia intensiva.
Como a PAG determina um estado catab-
lico importante e antecipado um longo perodo
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sem ingesta oral, fundamental o planejamento
de suporte nutricional adequado. Classicamente,
o suporte nutricional destes pacientes era reali-
zado atravs de nutrio parenteral total (NPT).
No entanto, estudos prospectivos randomizados
demonstraram que pacientes que receberam
dieta enteral atravs de cateter nasojejunalapresentaram menos complicaes infecciosas
e menor mortalidade22. Tais resultados levaram
adoo da dieta enteral como primeira opo
na PAG nas recomendaes de diversas Socie-
dades Mdicas.
Outra rea de controvrsia o uso pro-
ltico de antibiticos. Diversos estudos foram
desenvolvidos com resultados conitantes em
relao eccia na preveno da necrose infec-tada. Recentemente dois estudos multicntricos
e duplo-cegos foram realizados utilizando pro-
laxia com ciprooxacino com metronidazol em
um estudo e meropenem no outro23, 24. Ambos
no identicaram vantagem no uso proltico
de antibiticos. No entanto, meta-anlise rea-
lizada pela Cochrane Collaboration25 mostrou
vantagem na utilizao de antibiticos, com
diminuio da mortalidade, ainda que notenha havido diminuio na taxa de necrose
pancretica infectada.
Apesar do tratamento inicial da PAG ser
conservador, em casos particulares de pancreati-
te biliar pode ser necessrio o emprego precoce
de tratamento invasivo.
Nos casos de PAG associada coledocoli-
tase, h controvrsia na indicao precoce de
CPRE com papilotomia e extrao de clculos.Os que defendem seu uso acreditam que possa
prevenir ou tratar possvel colangite ou, ainda,
evitar o desenvolvimento de falncia orgnica.
Estas hipteses foram testadas em diversos es-
tudos que mostraram que a CPRE no levou
diminuio da mortalidade, mas apresentaram
dados discordantes em relao ao impacto da
CPRE na diminuio da morbidade26.
A principal complicao da PAG o de-senvolvimento de infeco nas reas de necrose
pancretica. Ela ocorre em 10% a 50% dos
pacientes com necrose pancretica, geralmente
aps 3 a 4 semanas aps o incio do quadro
clnico. Deve ser suspeitada nos pacientes com
necrose pancretica que no apresentem me-
lhora clnica aps trs semanas de tratamento.
O diagnstico feito atravs de puno com
agulha na (PAF) guiado por TC.
H inmeras abordagens descritas parao tratamento da necrose infectada, desde tra-
tamento conservador com antibiticos, trata-
mento com colocao de drenos percutneos,
at cirurgia minimamente invasiva atravs de
cirurgia endoscpica transgstrica e utilizao
de nefroscpio rgido. No entanto, o tratamento
padro ainda a cirurgia aberta. H controvr-
sias quanto ao momento ideal da interveno e
as tcnicas operatrias empregadas.Estudos publicados nos anos 1990 mostra-
ram que o adiamento da interveno cirrgica
levou a quedas expressivas da mortalidade
quando comparadas cirurgia precoce (27%
versus 65%), o que levou recomendao que
os pacientes com PAG sejam submetidos
cirurgia apenas aps a 3/4 semanas do incio
dos sintomas27.
Diversas tcnicas foram descritas para otratamento da necrose pancretica. Em todas, o
objetivo o controle do foco infeccioso atravs
da remoo do tecido necrtico, preservao
do tecido pancretico normal e drenagem do
exsudato inamatrio e debris.
Na necrossectomia com tamponamento e
relapatomias programadas, realizada resseco
do tecido necrtico, drenagem de exsudato e
debris e relaparotomias a cada dois dias at que acavidade seja considerada saneada e, nalmente,
fechada com drenos na loja pancretica.
Outra tcnica utilizada a necrossectomia
com lavagem peritoneal. Aps a necrossectomia,
so colocados drenos calibrosos na loja pancre-
tica que so utilizados para irrigao contnua.
ConClusoApesar da maioria dos casos de pancreatite
aguda ter evoluo favorvel, todos devem ser
avaliados atravs dos escores clnicos dispon-
veis para identicao precoce dos pacientes
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68 Revista do Hospital Universitrio Pedro Ernesto, UERJ
com potencial de evoluo desfavorvel. O
tratamento inicial conservador, devendo a
cirurgia ser reservada aos casos de necrose
pancretica infectada.
O uso proltico de antibiticos nos pa-
cientes com necrose pancretica e o emprego
precoce da CPER nos casos de pancreatite biliarainda so controversos e aguardam novos estu-
dos para esclarecer seu papel no tratamento da
pancreatite aguda.
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Ano 8, Janeiro / Junho de 2009 69
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aBstRaCtAcute pancreatitis is a pancreatic inamma-
tion that can determine syndrome of systemicinammatory response promoting mortalityand morbidity in 20% of pacients. Cholelithia-sis and ethylism are the most frequent causes.
Presentations are normally mild and treatedwith clinical support. Hard cases need specialcare and chirurgical intervention. e use ofprophilatic antibiotical therapy and the use ofCPRE, in cases of biliar etiology, the uses arestill under question..
KEY WORDS: Acute pancreatitis; Choleli-
thiasis; Treatment.