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A OBSERVADORA OBSERVADA: Limites e as possibilidades de uma pesquisadora negra estudando construções identitárias de adolescentes negros de elite em escola particular – um estudo etnográfico 1 Pollyanna Nicodemos – Doutoranda PUC / MG - Brasil RESUMO Este artigo analisa os limites e possibilidades de uma pesquisadora negra estudando construções identitárias de adolescentes negros de elite em escola particular. Os dados são provenientes da pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao programa de Pós – Graduação em Educação da PUC-MG, que investigou o processo de construção identitária de adolescentes negros de elite, estudantes do ensino médio, matriculados e regulamente freqüentes em uma escola da rede particular de Belo Horizonte, Minas Gerais. Assim, os objetivos centrais deste artigo visam descrever os caminhos trilhados pela pesquisadora, na condição de “Observadora, observada”,com destaque para os estranhamentos, aproximações e singularidades vivenciados ao longo do trabalho de campo, realizado durante nove meses com um grupo de adolescentes negros de elite . Palavras – chave: Adolescentes negros de elite; Escola particular de Belo Horizonte- MG; Trabalho de campo. INTRODUÇÃO A pesquisa de campo em Antropologia- a Etnografia, como bem argumenta Damatta (1987), significa um tenso e denso “ritual de passagem”. Seja para o antropólogo em início de carreira, sendo este ritual parte de sua formação; seja para veterano pesquisador, inclusive aqueles de outros campos das ciências humanas e sociais, conforme observa Cardoso de Oliveira (2000) em seu consagrado artigo: O trabalho do antropólogo- olhar, ouvir, escrever, referindo-se a estes três momentos, como atos verdadeiramente cognitivos, de conhecimento das culturas. Atitudes fenomenológicas diante do outro, exercício de reflexividade pelo qual sistemas culturais distintos se encontram. Fato é que este ritual de imersão no campo é pleno de imponderáveis, de situações em que, por mais que estejamos preparados teórica e metodologicamente para 1 “Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN. 1

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A OBSERVADORA OBSERVADA: Limites e as possibilidades de uma pesquisadora negra estudando construções identitárias de adolescentes negros de elite em escola particular – um estudo

etnográfico1

Pollyanna Nicodemos – Doutoranda PUC / MG - Brasil

RESUMO

Este artigo analisa os limites e possibilidades de uma pesquisadora negra estudando

construções identitárias de adolescentes negros de elite em escola particular. Os dados

são provenientes da pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao programa de Pós –

Graduação em Educação da PUC-MG, que investigou o processo de construção

identitária de adolescentes negros de elite, estudantes do ensino médio, matriculados e

regulamente freqüentes em uma escola da rede particular de Belo Horizonte, Minas

Gerais. Assim, os objetivos centrais deste artigo visam descrever os caminhos trilhados

pela pesquisadora, na condição de “Observadora, observada”,com destaque para os

estranhamentos, aproximações e singularidades vivenciados ao longo do trabalho de

campo, realizado durante nove meses com um grupo de adolescentes negros de elite .

Palavras – chave: Adolescentes negros de elite; Escola particular de Belo Horizonte-

MG; Trabalho de campo.

INTRODUÇÃO

A pesquisa de campo em Antropologia- a Etnografia, como bem argumenta

Damatta (1987), significa um tenso e denso “ritual de passagem”. Seja para o

antropólogo em início de carreira, sendo este ritual parte de sua formação; seja para

veterano pesquisador, inclusive aqueles de outros campos das ciências humanas e

sociais, conforme observa Cardoso de Oliveira (2000) em seu consagrado artigo: O

trabalho do antropólogo- olhar, ouvir, escrever, referindo-se a estes três momentos,

como atos verdadeiramente cognitivos, de conhecimento das culturas. Atitudes

fenomenológicas diante do outro, exercício de reflexividade pelo qual sistemas culturais

distintos se encontram.

Fato é que este ritual de imersão no campo é pleno de imponderáveis, de

situações em que, por mais que estejamos preparados teórica e metodologicamente para

1 “Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN.

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interagir nelas, nos surpreendem, desconcertam! E, se por um lado e num primeiro

momento, as traduzimos como impossibilidades no campo a partir de um plano de

pesquisa previamente elaborado; por outro, são estas situações que nos propiciam a

medida exata da dimensão humanizadora tão presente na experiência etnográfica.

Pensando assim, reporto novamente a Damatta para com ele reafirmar que:

Em Antropologia, é preciso recuperar esse lado extraordinário e estático das relações pesquisador/nativo. Se este é o lado menos rotineiro e o mais difícil de ser apanhado da situação antropológica, é certamente porque ele se constitui no aspecto mais humano da nossa rotina (DAMATTA, 1987, p. 173).

Pois bem, é sobre os estranhamentos inesperados como parte da experiência

etnográfica como um extraordinário aprendizado para o pesquisador que trato neste

artigo. Primeiramente, consciente de que as reflexões apresentadas podem ser familiares

as vivências de muitos pesquisadores. Em outros termos, trata-se, evidentemente, de

uma trajetória singular, mas espero que alguns de seus traços encontrem

correspondentes em situações mais gerais vivenciadas por outros pesquisadores; Em

segundo lugar, acredito que posso contribuir para a compreensão de desafios que

implicam o estar no campo em busca da descrição e interpretação de totalidades sociais,

em mundos de cultura do qual somos parte.

Neste caso, envolvendo uma mulher negra pesquisando adolescentes negros de

elite, alunos de uma escola particular da capital do estado de Minas Gerais,

acompanhada, de perto, por sua orientadora.2 Nos termos de uma viagem a um mundo

ainda muito pouco conhecido na área educacional, inclusive pela academia, e

constituído “nativo” de minha parte, para torná-lo mais familiar e visível no contexto

das investigações de temas escolares.

Na releitura da referida pesquisa, me detive em “retornar” ao campo, buscando

alguns registros etnográficos que marcaram a presença da pesquisadora na escola, desde

os primeiros momentos e se prolongaram até o final da investigação que durou cerca de

nove meses no ano de 2009. Em outros termos, pretendo por em discussão as relações

entre sujeitos numa experiência etnográfica que envolveu interações no cotidiano da

escola e, poucas vezes, fora do espaço institucional, considerando o tempo da pesquisa

como encontros, em meio a desencontros de intersubjetividades.

2 Tratou-se da pesquisa realizada para compor a dissertação no mestrado em educação da PUC- Minas, sob a orientação da Profª. Doutora Sandra de Fátima Pereira Tosta.

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O que me permitiu fazer esta releitura foi a memória da investigação registrada

fiel e cuidadosamente no diário de campo que, não é demais destacar, em meio as

tecnologias de comunicação que povoam nosso trabalho, continua sendo um

equipamento indispensável à boa e correta etnografia. O “bom e velho caderno de

campo”, o qual, conforme explica Magnani, é um “equipamento indispensável na

mochila do etnógrafo, seja ele marinheiro de primeira viagem ou velho lobo do mar”

(MAGNANI, 1997, p. 03). Foi este caderno que levou-me novamente ao campo em

busca de fatos e de especificidades muito importantes no decorrer da investigação mas

que, nos limites de uma dissertação não puderam ser suficientemente descritos e

interpretados, apenas às vezes referenciados.

Na condição de pesquisadora, busquei analisar detalhadamente os fenômenos

característicos da cultura estudada, sem privilegiar somente aspectos que lhes

transmitam admiração e estranhanheza em detrimento de fatos rotineiros. Mas

compreender a cultura nativa em sua totalidade. Haja vista que a lei, a ordem e a

coerência que prevalecem no objeto de estudo são as mesmas que os unem e fazem dele

um todo coerente. (MALINOWSKI, 1978).

Ao analisar o “Sentido da Etnografia” como fenomenologia do conhecimento,

Rocha e Tosta (2009) afirmam que a forma que entendemos uma determinada situação

estudada está relacionada ao distanciamento que assumimos para a interpretar o

fenômeno. Assim, a experiência etnográfica constitui – se em um momento privilegiado

no que tange à compreensão das verdades e da produção do conhecimento social. Haja

vista que o trabalho de campo entendido como um “rito de passagem” exige uma

reeducação dos sentidos, articulada a uma atitude que busca o conhecer.

Tais reflexões permitem apresentar neste artigo os limites e as possibilidades de

uma pesquisadora negra em campo, estudando sobre construções identitárias de

adolescentes negros de elite numa escola particular. Portanto a proposta é apontar

alguns desafios enfrentados na construção da pesquisa cujos dados referendam este

texto. Pesquisa que identificou, ainda, lacunas na literatura no que se refere à

tematização de processos que dizem da mobilidade social e de percursos de

escolarização de negros de elite.

NOTAS TEÓRICAS METODOLÓGICAS

De modo a apreender e interpretar esta realidade, a realização do trabalho de

campo configurou um estudo de caso como um procedimento teórico e metodológico

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que atendeu aos objetivos da pesquisa com a finalidade de dar, também, visibilidade à

situação estudada numa complexa trama de relações totais. Com isso foi possível

compreender que o campo pode apontar ao pesquisador aspectos inusitados e não

contemplados em seu roteiro de observação, suscitando outros ângulos sobre a temática

enfocada.

Com efeito, conforme explica Becker (1999) o pesquisador que efetua o estudo

de caso sobre uma comunidade ou uma organização, normalmente faz uso do método da

observação participante, aliada a outros métodos mais estruturados, tais como as

entrevistas que podem realizar-se isoladamente ou em grupo. Para o desenvolvimento

do estudo em pauta, tanto a observação participante, quanto as entrevistas foram

utilizados. Como também foram elaborados e aplicados foi empregados questionários

para uma maior aproximação de hábitos relativos ao lazer, ao consumo, ao acesso a

informação e a bens culturais do grupo de alunos.

A pesquisa esteve ancorada nas seguintes categorias: cultura, identidade étnico

– racial, adolescentes negros e elite, dentre outras que foram sendo demandadas ao

longo da investigação e de sua sistematização posteriormente. A concepção de cultura,

sem desconhecer as tensões que cercam este conceito, adotada para a realização desta

discussão se baseia no sentido mais amplo do termo, conforme destacam Rocha e Tosta.

A cultura, no sentido amplo, significa a maneira total de viver de um grupo, sociedade, país ou pessoa. Não significa isso uma defesa da Cultura com C maiúscula, no sentido absoluto do termo, mas também não se trata de uma defesa relativista e ingênua que, se tudo é cultura e cada um tem a sua cultura, logo, a cultura não existe porque tudo é cultura. Destarte, cultura é, antes de tudo, um instrumento utilizado por nós com o objetivo de apreendermos o significado das ações e representações sócias desenvolvidas pelas pessoas em seus rituais, mitos, festas, comportamentos rotineiros, enfim, no curso da vida social. (ROCHA; TOSTA, 2010, p. 345 -346).

O conceito de identidade etnicorracial foi utilizado na pesquisa, por permitir

analisar com maior consistência as construções identitárias, buscando compreender

como sujeitos se vêem enquanto integrantes ou não de um grupo etnicorracial negro. No

caso dos negros, em seu processo de construção identitária, estes se deparam com

ambigüidades em função do preconceito e da discriminação racial presentes no contexto

social brasileiro. Como afirma Lopes:

Numa sociedade absolutamente contraditória como a nossa, que nega a existência do negro e que diz que para o negro existir tem que ser branco, já que o negro no Brasil é educado para entender desde muito cedo, que para ser homem, ele deve ser branco. Na verdade, para se afirmar como pessoa, o negro precisa se negar, mas como tem que ser ele mesmo, entra em contradição total. (LOPES, 1987, p.38).

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Na verdade, a construção identitária de negros e negras não é um processo fácil,

sem dor, pois várias questões contribuem para a negação de si mesmo. Kabenguele

Munanga (1996) argumenta que a construção de uma identidade passa pela cor de pele,

pela cultura, pela construção histórica do grupo negro no Brasil, a partir de uma visão

de mundo, da recuperação da ancestralidade africana, da religião etc. Porém o que

ocorre, é que para assumir-se negro o sujeito não tem que freqüentar o candomblé,

gostar de músicas de origem negra como o samba, o rap, o samba-rock, o pagode etc.

Mas, formar uma consciência, no sentido de valorizar a cultura negra como diferente e

não como inferior às outras culturas, explica Munanga (1996):

A questão fundamental é simplesmente esse processo de tomada de consciência da nossa contribuição, do valor dessa cultura, da nossa visão do mundo, do nosso “ser”como seres humanos; e valorizar isso, utilizar isso como arma de luta para uma mobilização, isso é que é importante. Agora, já ouvi muitas vezes pessoas da minha cor se queixando que há muitos brancos no candomblé, brancos que são pais de santo e mães-de-santo. Qual é o problema? É uma visão do mundo; eles gostaram dessa religião, mais isso não impede que haja maioria de negros nessa religião.Creio que aí estão criando falsos problemas. Pagode pode ser uma música de péssima qualidade em relação ao samba, mais qual é o problema? É uma música de origem, de inspiração no ritmo negro africano; como qualquer elemento cultural, tem uma dinâmica, se transforma no tempo e no espaço, não vai ficar estático. Creio que nós não podemos criar problemas onde não há. É uma dificuldade séria construir uma identidade baseada na cor da pele que todos os negros não aceitam. (MUNANGA, 1996, p.225).

Todavia, tal conceito “é usado abusivamente fora da vida acadêmica, como

rótulo mágico e simplificador, para explicar e explorar as características da população

brasileira e dos segmentos étnicos que a compõem”. Então, por mais contraditório que

seja o processo de construção identitária do negro, esse é um dos fatores fundamentais

para a compreensão de sua visão de mundo, representação de si mesmo e de outros, nas

relações sociais, bem como nos vários espaços que o mesmo ocupa na sociedade

É nas interações com outros sujeitos que escolhemos elementos para a

transmissão de uma imagem identitária que, na verdade, pode ser aceita e ou recusada.

Em outros termos, a identidade implica em um constante processo de identificação do

“eu” com “o outro” e do “outro” com o “eu”. Assim, o olhar estabelecido em relação ao

outro aponta as diferenças que, conseqüentemente, levam à consciência de uma

identidade. (D’ADESKY, 2005), ou, é no olhar do outro que nos descobrimos.

Em síntese, o conceito antropológico de identidade a caracteriza como um

fenômeno emergente da dialética entre indivíduo e sociedade, distanciando-se de

qualquer tipo de essencialismos ou fixidez e no Brasil, como em qualquer outra região

do mundo, a identidade não é estática, varia de época e de lugar.

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No caso dos negros as diferenças existentes, quando comparados aos brancos,

são tão arraigadas na sociedade que os próprios negros tendem a depreciar sua cor e

suas feições, devido ao imaginário de negação que se construiu em torno daqueles que

apresentam descendências africanas. Tanto que foram construídas na sociedade

brasileira as várias nuances de cor em relação ao pertencimento étnico-racial do negro,

tais como: moreno, moreno-escuro, marrom-bombom, mulato, escuro etc, em cuja

gradação quanto mais se aproxima do preto, mais se identifica como tal. São

mecanismos lingüísticos de negação do pertencimento étnico, cuja identidade, também

representada no senso comum, é sempre vista pelo negativo.

Gomes (1995) chama atenção que o “Movimento Negro”, ao utilizar o termo

negro, busca ressignificar o papel desta população na construção do processo histórico,

não relacionando-o a uma definição carregada de preconceito ou a uma simples questão

da cor de pele, mas, sim, a uma origem racial. Lembrando, também, que este termo é

utilizado enquanto construção político-social, distanciando-o da idéia de raças

superiores e inferiores. A partir das “características perceptíveis” (como a cor da pele e

textura dos cabelos) e da análise dos traços morfológicos (formato do nariz e da boca),

foi possível configurar o grupo de adolescentes vistos por mim como negros, no interior

da escola pesquisada. Posteriormente, em diálogo com eles, foi possível constatar que

os critérios da escolha coincidiram e foram referendado pelos posicionamentos dos

adolescentes, ao se declararem negros.

Sobre a categoria adolescência Peralva (1997) compreende que esta fase, como

outra qualquer, se funda numa construção social, cultural e histórica, considerando a

pluralidade que cada um apresenta. Por mais que as fases da vida estejam relacionadas

ao desenvolvimento bio-psíquico de cada sujeito, esta, na verdade, não ocorre somente a

partir dos fenômenos puramente naturais. Tosta (2005) argumenta que:

Fica claro que pensar adolescentes e jovens no contexto atual apresenta configurações distintas e complexas que trazem questões próprias da época, principalmente quando se toma como referencia as grandes metrópoles. Em termos legais e de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, ser jovem é estar na faixa etária entre 12 e 18 anos. Entretanto, estudos na Europa e no Brasil deslocando o foco da linha jurídica preferem trabalhar com uma faixa bastante mais alargada, que chega aos 30 anos ou mais, baseando – se em pesquisas que buscam a percepção dos sujeitos e consideram o contexto em que vivem. (TOSTA, 2005, p. 03).

Portanto, trabalhar a questão da identidade etnicorracial com os adolescentes se

deu por essa ser uma fase da vida em que eles começam a enfrentar o tempo como uma

dimensão significativa e contraditória da própria identidade. E nesse contexto, a

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formação e o fortalecimento de uma identidade racial passam por várias mudanças. Pois

é nesse tempo, mais especificamente, que o adolescente cria expectativas em relação a

sua aparência física, bem como a forma como os outros os vêem e como eles querem ser

vistos.

Dada a complexidade do próprio conceito de classe social é importante explicitá-

lo brevemente a fim de situar os leitores e leitoras na compreensão do que chamo neste

texto de “elite negra”. Conforme afirma Figueiredo (2002), o termo classe ao longo dos

anos, vem sofrendo várias alterações, e o principal objetivo refere-se às próprias

mudanças ocorridas nas sociedades modernas. Hoje encontramos dificuldades para

definir classes sociais, como Marx as definiu a partir de dois blocos: os donos dos meios

de produção de um lado e de outro os trabalhadores que vendem sua força de trabalho.

Com as diversificações ocorridas no mercado de trabalho, construíram-se espaços

intermediários que não se enquadram dentro dessa classificação. Uma possibilidade

então, seria estabelecer alguns critérios objetivos que pudessem indicar a posição dos

indivíduos enquanto classe como: a renda, somada a outros determinantes sociais.

Neste artigo o conceito de “elite negra” não se deu apenas, no sentido da

identificação econômica do grupo pesquisado, mas também à noção de “status social”.

Assim, convém pensar na noção de “elite negra” usada por Domingues (2001) apud

Santana (2008); pois o autor explica que o termo apresenta três conotações: “política” à

medida que o grupo configura-se como dirigente político da comunidade e “foi aceito

como tal” pelos brancos; “educacional e cultural”, haja vista que, ao ser alfabetizado, a

elite negra é considerada “culturalmente evoluída”.

E, por último, o sentido “ideológico” ao reproduzir valores ideológicos da classe

dominante, ou seja, da elite branca. Nesta perspectiva entender a “elite negra”, uma vez

que não é um indicador trabalhado por um instituto, como o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), o que contribuiria bastante para acertar um recorte. Uma

alternativa que pareceu razoável foi pensar a “elite negra” a partir da noção de status

social; pois, sua definição extrapola o campo econômico para o campo simbólico,

evidenciando que aspectos como a ocupação profissional, educação e acesso a bens de

consumo são importantes e servem de indicadores de um poder aquisitivo referido a um

elevado status social.

A escolha por pesquisar adolescentes negros de elite, encontra sua razão numa

primeira e importante observação, aliás, já referida neste texto: à época da construção

do problema que resultou na dissertação, constatou – se uma escassez de trabalhos sobre

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negros que compõem as classes economicamente mais favorecidas no Brasil, dentre

estas poucas pesquisas, pouco ou quase nada sobre os que estudam numa escola da rede

privada de ensino. É como se já houvesse um senso naturalizado de que a população

negra no Brasil se encontra em sua totalidade nos extratos inferiores da sociedade. O

que não deixa de ser verdade, basta olhar os censos demográficos. Assim sendo, o

esforço foi romper com qualquer tipo de pré-noção ou raciocínio dicotômico e realizar

uma imersão junto aos meninos e meninas negros pertencentes a extratos

economicamente mais elevados da sociedade, para observar e interpretar seus modos de

interação e sociabilidade na escola.

Outro desafio se deu na aceitação da pesquisa por parte da instituição de ensino,

pois, da construção do problema à chegada a algumas escolas com o perfil necessário a

investigação, já suspeitava que não seria fácil conseguir que uma instituição privada

abrisse as portas para o desenvolvimento do pretendido estudo. É sabido que existe

muita resistência das instituições educacionais, não somente das escolas privadas,

quanto à presença de pesquisadores em seus espaços. Sobretudo quando a proposta é

discutir questões relacionadas ao grupo étnico-racial negro, pois, a exemplo da

sociedade em geral, as escolas não assumem o racismo presente no seu interior. Como

bem observa Gomes:

Se aceitarmos o desafio de desconstruir o discurso homogeneizante e unificador que paira no nosso imaginário social e na escola, teremos que concordar com o fato de que os alunos negros estão, na sua maioria, alocados nas ditas últimas classes, assentados no fundo das salas de aula, ausentes das inúmeras festinhas e teatros em que aparecem príncipes, princesas e fadas. Deveremos, também, assumir que a rara presença de alunos e professores negros nas escolas particulares (principalmente as de grande porte) não se restringe à situação sócio - econômica ou a uma questão de competência, mas, principalmente, as formas seletivas e segregacionistas de admissão, próprias de uma sociedade racista. (GOMES, 1996, p.54).

A verdade é que, por mais que as instituições escolares se mostrem resistentes

no trato com a diversidade, cada vez mais torna - se impossível ignorar esta questão. A

diversidade é uma realidade na sociedade e está presente em todos os espaços sociais,

bem como nas instituições de ensino públicas e privadas. Por tudo isto, é preciso

agradecer a escola que, de pronto, me aceitou como pesquisadora da pesquisa

protagonizada em seu interior.

O ESPAÇO DA PESQUISA

A instituição escolar escolhida e que aceitou ser pesquisada atendia, à época da

realização da investigação, ou seja, no ano de 2009, a um total de novecentos e oitenta e

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oito estudantes, em sua em sua maioria absoluta branca, que compõe parte da elite da

cidade. Fato que pode ser constatado na documentação referente ao perfil sócio,

econômico e cultural dos alunos e apareceu, com freqüência, nas falas de entrevistados,

brancos e negros. Como a do professor negro Jorge: Não adianta negar, é de elite, de

elite, não adianta a gente negar. (Informação verbal). A escola existe há oitenta e três

anos e sempre foi reconhecida como uma instituição cujo ensino é de excelência, onde o

aluno é muito exigido e atende a camadas de elite, como disse a estudante Alessandra3

em entrevista:

O... É um colégio elitizado mesmo! A própria região onde ele está na região Sul de BH. Então, os moradores das aproximidades optam pelo ... por ser um colégio mais elitizado. Então eu sinto que dentro da sala de aula existe alunos da classe média normal, como todo mundo e existem alunos que tem tipo bolsa ou alunos que eram do antigo noturno, então estão inseridos na sala em um outro contexto desses alunos mais elitizado. Então assim... Não há um desrespeito, mas há um interesse em procurar os alunos de um grupo mais elitizado. Tem interesse às vezes. São gente muito rica, muito rica mesmo, assim meu avó, você não sabe? Meu pai, meu pai tem esse nome, minha mãe é fulana de tal! Então assim dentro do colégio eu sinto que há! A classe média baixa e a classe média se interage muito bem! Agora a classe média alta há os que são tranquilíssimos e há aqueles que não se enturmam e ficam lá no grupo deles. São muito ricos! (Alessandra – entrevista concedida em - 22/09/2010).

A escola é de natureza confessional e sua proposta pedagógica está pautada na

vida de um santo da religião católica que, no imaginário popular e devocional, é aquele

que se despojou inteiramente dos bens materiais em favor dos pobres, necessitados e

dos pequenos animais. No Projeto Político Pastoral Pedagógico – (PPP), está inscrito

que o objetivo da escola é com a formação humana, tendo como eixo norteador a ética,

a autonomia, a responsabilidade, a solidariedade, a simplicidade, os direitos e os

deveres, o respeito ao bem comum, à diversidade das manifestações artísticas e

culturais.4 Tais princípios não são percebidos e confirmados nas falas de alguns

professores e alunos ouvidos na pesquisa. Disse uma professora:

Tem hora que eu fico achando que eu estou em um lugar errado, eu não concordo com uma educação de elite! Aqui é uma escola de elite sabe? Se não é de elite no dinheiro que de fato tem muitas pessoas que tem, é de elite na capacidade de aprender, de conhecimento e de estudo entendeu? Porque quem não dá conta disso sai! Vai ficar tomando bomba toda vida? É uma peneira, uma peneira, uma peneira, querendo ou não é uma peneira (Marília – entrevista concedida em – 22/09/2010).

3 Alessandra, André e Marília, nomes que irão aparecer ao longo do texto, são nomes fictícios dados pelos atores que contribuíram com a pesquisa que resultou neste artigo.4 Informações construídas a partir do Projeto Político Pastoral Pedagógico (PPPP) da instituição pesquisada.

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A “peneira” a qual a professora se refere diz de algo que tem sido comum às

escolas, principalmente as particulares, que é a entrada de seus alunos na universidade

via o sucesso no vestibular. Preocupação traduzida em “valor” mercadológico que

adquire visibilidade positiva ou negativa, através da publicação de rankings das

melhores escolas em revistas e amplamente repercutidos pelas demais mídias, Em

outros termos, a imagem e conceito de uma escola em relação a outras similares, diz

diretamente dos índices de aprovação no vestibular. Tanto que o currículo destas

escolas, no ensino médio, especialmente o último ano, é consagrado à preparação do

aluno para enfrentar e muito bem a seleção para o ensino superior, com atividades

conteudísticas de reforço, em turnos além daquele que o aluno frequenta. Deste rol de

escolas privadas, a instituição pesquisada encontra – se sempre bem colocada no

ranking, que se pauta, dentre outras medidas, pela aprovação nos exames dos

vestibulares, com destaque para universidades públicas do país ou as particulares,

consideradas de qualidade.

OS PROTAGONISTAS DA PESQUISA: observando o familiar, observando o

familiar?

Foram nove adolescentes negros os protagonistas do estudo, em um grupo de

doze alunos identificados,5 em meio a um universo de cerca de Novecentos e oitenta e

oito alunos, como dito antes. A escolha destes adolescentes foi feita a partir da hetero-

classificação da pesquisadora em relação àqueles que apresentavam características

perceptíveis e traços morfológicos relacionadas ao grupo étnico-racial negro (textura

dos cabelos, cor de pele, formato do nariz e boca), fato que veio a confirma com a auto-

declaração desses em entrevistas. A condição de não ser bolsista, também foi uma dos

aspectos levado em consideração, já que o colégio havia aderido a um programa de

gratuidade. Ao longo das observações na escola em vários momentos tive que me conter

para não perder a “imparcialidade”,6 sobretudo devido a minha condição de negra.

Entretanto por mais que relutasse, em determinados momentos situações isso não foi

possível. Como no caso de uma situação vivenciada com alunas brancas que, no me

entender, insinuaram para que eu levantasse do banco, no qual estava sentada, para dar

o lugar a elas.

5 A participação na pesquisa foi antecedida de um termo de esclarecimento encaminhado pela escola, aos familiares. A autorização foi encaminhada para doze famílias, portanto, entendi que três alunos não estavam autorizados a participar.6 Imparcialidade no sentido da objetivação.

10

Um grupo de alunas brancas em torno de seis ficam em pé em minha frente. Olho para o banco e vejo que ainda tem espaço considerável para comportar-las. Assim, as desejei um bom dia e indaguei: Vocês desejam se sentar? Uma delas respondeu: “Ah... Pode ficar!”. Dito isso, elas empilharam as mochilas ao lado que eu estava sentada e sentaram-se no banco. Em seguida ficaram cochichando e sorrindo.7

Recuando um pouco na memória e nas primeiras anotações do caderno de

campo, vale destacar que atitudes de estranhamento as que esta cena demonstrou, foram

comuns desde os primeiros contatos na escola, os quais ficaram marcados por olhares

de estranhamento daquelas pessoas em relação a mim. Cheguei a me sentir-se como um

“bicho exótico”, devido aos olhares e supostos elogios a mim destinados, tais como :

“Nossa! Você parece a Helena”;8 “Olha a nossa Helena aí”; “Tão bonita e

fazendo pesquisa!?”; “Você tinha que desfilar”; “Nossa, você desfila?”; “Meu Deus

olha o corpo dela”; “Ela tem uma postura que marca, vejam!”; “Olha a nossa Glória

Maria”,9 “Você parece com a Tina Turner10 e também com a Whitney Houston”,11 “A

voz parece de cantora de jazz” (Informação Verbal).12 Comentários ouvidos nos

primeiros dias de estada na escola, não sem estar associadas a olhares intensos dos

porteiros e funcionários de um modo em geral. Diante desses comentários e

comparações estranhamentos pergunto: Porque uma mulher negra não poderia ser

pesquisadora?

A entrada de pesquisadores negros como produtores de ciências no contexto

social, sobretudo quando se é mulher, configurou-se como um campo de tensão e

estranhamento. Fato que nos permite afirmar como os negros intelectuais enfrentam um

tenso processo da passagem do lugar não-hegêmonico para o contra-hegêmonico, em

espaços que, historicamente, o poder foi instaurado, como no caso da produção do

conhecimento nas universidades. Ao assumir este lugar intelectuais negros

7 Dados das observações sistemáticas. Pesquisa de campo realizada na escola, em 08/07/2010. Esse acontecimento, levou-me a refletir sobre o fato ocorrido com a cidadã negra norte-americana, Rosa Park

, no ano de 1955, que foi presa, ao recusar ceder o seu lugar no autocarro público (ônibus) a um cidadão branco. O fato acabou por se tornar o estopim do movimento “Boicote aos autocarros de Montgomery”, que deflagrou, posteriormente, o início da luta anti-segregacionista nos Estados Unidos da América (EUA).8 Helena, Top model de renome internacional, vivida pela atriz negra Tháis Araújo, como protagonista na novela “Viver a Vida” do autor Manuel Carlos, que foi ao ar no horário nobre da TV Globo no período de 14/09/2009 a 14/05/20109 Jornalista e repórter negra da Tv Globo de Televisão.10 Cantora e atriz negra norte-americana.11 Contara e atriz negra norte-americana.12 Informação obtida na escola pesquisada no início do trabalho de campo, em 03/03/2011.

11

desnaturalizam o cânone e denunciam o quanto este foi e ainda é preconceituoso,

classista, androcêntrico, eurocêntrico e outros tantos modos de etnocentrismo.

(GOMES, 2009).

Argumentos legítimos, principalmente se considerarmos o lugar que a sociedade,

ao longo do processo histórico, relegou à população negra. Portanto, é possível

compreender a origem das percepções explicitadas nos comentários por parte daqueles

que compunham o espaço escolar em relação à presença de uma pesquisadora negra.

Mas, de modo algum, é possível concordar e pactuar com tais posturas.

Sabemos e aprendemos sempre, pesquisando, que a aproximação com os atores

envolvidos leva tempo, além de exigir do pesquisador sensibilidade para estabelecer

uma rede de contatos com o grupo estudado, familiarizar-se com o mesmo, bem como

enfrentar os conflitos que podem surgir ao longo de sua estada no campo. Etapa que

exigirá do pesquisador apreender e compreender as regras do lugar para alcançar a

confiança e colaboração dos sujeitos envolvidos.

Desta forma, o êxito do etnógrafo no campo pressupõe a consciência da

importância da aplicação sistemática e paciente de algumas regras de bom-senso e

domínio dos princípios científicos da antropologia. O que implica dizer da definição

clara de propósitos científicos (teoria) e domínio de valores e critérios etnográficos que

possam assegurar as condições adequadas para o trabalho de campo. Reportando ao “pai

fundador” da etnografia:

Vivendo na aldeia, sem quaisquer responsabilidades que não a de observar a vida nativa, o etnógrafo vê os costumes, cerimônias, transações, etc., muitas e muitas vezes; obtém exemplos de suas crenças, tais como os nativos realmente as vivem. Então, a carne e o sangue da vida nativa real preenchem o esqueleto vazio das construções abstratas. [...] Ele é capaz, em cada caso de estabelecer a diferença entre os atos públicos e privados; de saber como os nativos se comportam em suas reuniões ou assembléias públicas e que aparências elas têm; de distinguir entre um fato corriqueiro e uma ocorrência singular ou extraordinária; de saber se os nativos agem em determinada ocorrência com sinceridade e pureza da alma, ou se a consideram apenas como uma brincadeira; de dela participam com total desinteresse, ou com dedicação e fervor (MALINOWSKI, 1978, p. 29).

Os contatos na escola foram semanais – minha presença podia ser notada nos

períodos da entrada, recreio e saída dos alunos, sempre observando atentamente as

dinâmicas que ocorriam nestes tempos e espaços escolares. Contudo, a presença na

portaria, chamou a atenção daqueles que ali estavam rotineiramente executando seus

trabalhos, como foi o caso de porteiros e recepcionistas. Deles, os olhares de

estranhamentos sempre foram muito intensos, e, por algumas vezes, ocorreram

12

abordagens desagradáveis em relação à minha presença. Como, por exemplo, a reação

de um porteiro que, ao se ver diante de uma pesquisadora devidamente autorizada pela

gestão da escola, respondeu de modo pouco cordial: “Não as coisas não podem ser

assim! Não me foi avisado nada, com isso preciso saber” (Informação Verbal).13

A omissão de uma funcionária da recepção que assistiu à cena e nada disse, a

quem já havíamos sido apresentadas, denotou um “silenciamento” constrangedor. Sem

ação por um momento, nos dirigimos à funcionária da recepção para que ela

confirmasse a permissão de entrar na escola: “É verdade, ela está fazendo a pesquisa

aqui sim! (Informação Verbal).14 Ao ouvir a confirmação, o porteiro foi se afastando e

disse: “Me desculpe, mas preciso ter certeza de seu credenciamento na escola, e essas

são as normas da escola. (InformaçãoVerbal)”.15 Em seguida ele me entregou um crachá

onde estava escrito “visitante”.

Cabe ressaltar que, ao narrar tal situações, não cabe nenhuma discordância

relativa as atribuições do porteiro, o que importa em questão é a forma como ele se

dirigiu a mim, criando uma situação constrangedora. Após o acontecido, permaneci na

portaria observando a entrada dos alunos e deste lugar foi possível observar uma

mulher, de cor branca, com duas crianças, também brancas, se aproximando da portaria

sendo tratada pelo mesmo porteiro de modo mais adequado. De igual modo, cabe

lembrar com outros pesquisadores, suas impressões acerca dessa situação vivenciada

por mim, dado que, também, experimentarão situações similares: “O problema é a

rejeição que sentimos quando entramos em qualquer lugar onde somos as únicas

pessoas negras e todos nos olham se perguntando: “o que é que essa neguinha está

fazendo aqui?”(LOPES, 1987, p.39).

O sentimento de raiva naquele momento aflorou na memória a lembrança de

que a representação social que se constrói em relação aos cidadãos negros, tem sido,

predominantemente, negativa, oriunda de um sistema cultural e social que classifica e

hierarquiza as pessoas pela cor da pele.

PRIMEIRAS CENAS ...13 Informação Verbal - obtida na escola pesquisada, durante a pesquisa de campo em 14/04/2010.14 Informação Verbal - obtida na escola pesquisada, durante a pesquisa de campo em 14/04/2010.

15 Informação Verbal - obtida na escola pesquisada, durante a pesquisa de campo em 14/04/2010.

13

Para o desenvolvimento da primeira fase do estudo, buscamos inserir no campo

levando em consideração as três faculdades tão bem definidas por Oliveira (2000) “o

olhar, o ouvir e o escrever”, sobretudo, o olhar, que sempre busquei disciplinar, uma vez

que estava entrando “em um mundo desconhecido”. Ademais, neste primeiro momento

o objetivo principal era analisar, através das observações sistemáticas, o processo de

socialização dos alunos negros e brancos, além de compreender o campo sobre o qual

havia a possibilidade de novas revelações para o enriquecimento da pesquisa.

O “olhar” e o “ouvir” estão relacionados à percepção que construímos quanto as

nossas ações no trabalho de campo, ou seja, à realidade focalizada durante o

desenvolvimento da pesquisa empírica. Nesse sentido “escrever” passa a fazer parte

indissociável do pensamento do pesquisador, haja vista que acaba sendo um ato

simultâneo no momento de nossas reflexões, já que, durante todo o processo da escrita,

os pensamentos caminham de modo a encontrar soluções que dificilmente iram surgir

antes da textualização, dos dados coletados a partir de observações sistemáticas. Desse

modo, afirma Oliveira (2000) ser impossível dissociar o ato de “olhar” e o de “ouvir”,

que permite ao pesquisador interpretar, bem como, compreender a sociedade e a cultura

do “outro” a partir de seu interior.

Neste processo a observação participante contribuiu de maneira decisiva na

primeira fase da pesquisa, pois permitiu o contato direto da pesquisadora com os atores

culturais observados, bem como na obtenção de informações sobre as dinâmicas de

socialização dos atores pesquisados. Haja vista que as observações sistemáticas

permitem que o pesquisador absorva várias situações ou fenômenos que geralmente não

são obtidos por meio de perguntas, pois ao observar diretamente a própria realidade,

transmite aquilo que há de mais imponderável e evasivo na vida real. (NETO, 1998).

A condição de pesquisadora negra pesquisando o próprio grupo étnico-racial,

colocou – me a todo o momento a refletir sobre o lugar que ocupo no contexto social,

os limites e as possibilidades de relativizar ou transcender ao me colocar no lugar do

outro. Pois a similaridade étnica impôs riscos, possíveis imprevistos, coincidências e

desconfortos por ambas as partes. No Brasil as características físicas como a “cor da

pele” é um dos fatores que apresenta uma forte influência nas relações étnico – raciais.

Sendo um determinante social que não possui uma conotação no que se refere a uma

origem, é sim a elementos relacionados á aparência física, ou seja, aos aspectos

corporais. (PIZZA, 2000). Nesse sentido, cito a afirmação de Oracy Nogueira (1998), ao

defender que o “preconceito no Brasil não é de origem, mas sim de marca”.

14

A mudança de lugar que negros e negras vêm alcançando no contexto social,

como no caso da inserção enquanto pesquisadores nas Universidades é reflexo das

articulações políticas, econômicas, sociais e culturais decorrente das ações dos

movimentos sociais, em destaque para a luta dos movimentos negros e entidades negras.

Entretanto, a inserção de negras e negros no campo da pesquisa científica, bem como

na produção do conhecimento, causa estranhamentos já que ao longo do processo

histórico quem ocupou e ainda ocupa em uma maior proporção o espaço acadêmico são

os pesquisadores brancos.(GOMES, 2009). Realidade que ajuda compreender,

conforme explicitado, acontecimentos vivenciados durante a realização da coleta dos

dados no trabalho campo.

Os intelectuais negros – principalmente aqueles que elegem a questão racial como seu foco de investigação - irrompem contra essa alteridade forjada em contextos de poder. A diferença étnico-racial que deveria ser suprimida no projeto moderno ou que é produzida em outros moldes no atual processo de globalização do capital adquire outro tipo de visibilidade. O “outro” da razão passa a ocupar os lugares da racionalidade científica desafiando-a por meio de uma outra racionalidade que não se dissocia da corporeidade, da musicalidade, das narrativas, da vivência da periferia, das culturas negras, das formas comunitárias de aprender. (GOMES, 2009, p.429).

Ao analisar as relações étnico-raciais na sociedade é possível identificarmos que

os grupos étnicos dominados (negros e índios) encontram-se em uma posição de

desigualdade, tanto no que se refere ao nível socioeconômico e educacional,

comprando-se com os cidadãos brancos. Desigualdades que causaram e ainda causam

sérios problemas nas relações sociais entre os diferentes grupos, passando a existir, em

certas situações, hostilidades entre negros e brancos, em decorrência da discriminação

racial. Desse modo, discutir relações etnicorracias na sociedade brasileira, não é

discutir somente a importância da valorização e do respeito à diversidade biotípica, mas,

principalmente, combater a discriminação racial presente em nossa sociedade e que cria

obstáculos aos cidadãos negros e o direito de exercer sua cidadania plena.

OUTRAS CENAS ...

Minha presença na escola gerou incômodos e desconfortos de lado a lado. O

assédio de alunos adolescentes e funcionários foram constantes, na forma de

interrogatórios sobre os reais objetivos da pesquisa, como por exemplo:

“Moça você trabalha aqui na escola”; “ Por que você fica vigiando a gente”; “

Por que você fica anotando coisas da gente”; “Você está estudando, pois só fica

anotando”; “ A sua pesquisa é sobre o quê ?”; “Você pesquisa o que dos alunos?”;

15

“Como está a pesquisa”?, “Você já está conversando com os alunos?”; “Qual a

percepção que você já teve nessas observações em relação aos alunos?”; “A pessoa

acaba incomodando, pois só fica anotando”. (Informação Verbal).16

Situações como esta, em que estive envolvida por força das rotinas da pesquisa,

me permitiu refletir que aquilo que vivenciava nada mais era do que uma prática

evidente de preconceito racial. E, essas atitudes e comportamentos, desmascaram a idéia

de que no Brasil não existe preconceito em relação aos negros, além de denunciar o

racismo como fator presente em todos os níveis da sociedade, ou seja, escola, mercado

de trabalho, universidade (espaço onde o conhecimento ainda é eurocêntrico) comércio,

etc. Bem como, os lugares que a sociedade designou aos negros no contexto social

brasileiro.

Por essas questões e por tantas outras as ações dos intelectuais negros são

intensas ao reivindicarem o direito ao conhecimento, bem como à produção deste; luta

que exige um intenso exercício de fôlego para desvelar a ideologia racista que ocultou e

ainda oculta a dominação político, econômica, social e étnico-racial que sustentou e

ainda sustenta a alienação em relação aos conhecimentos produzidos pelos grupos

sociais com histórico de discriminação e exclusão. Realidade presente no imaginário e

nas práticas acadêmicas das universidades brasileiras. (GOMES, 2009).

É importante citar que as indagações dos atores sociais que compunha o espaço

pesquisado foram constantes. Pois mesmo após três meses em campo, considero que os

estudantes, bem como os funcionários, não havia se acostumado com minha presença.

Os olhares de estranhamentos me acompanharam sempre. Posso afirma que em algumas

situações cheguei perceber no olhar dessas pessoas, certa antipatia em relação a mim,

como ocorreu em um evento do colégio do qual participei para observar os alunos:

“Essa mulher chata de novo aqui também?” (Informação Verbal).17 Os relatos que

apresento neste artigo são situações que, através das observações sistemáticas, foram

registradas no caderno de campo, já que este:

Evoca e supõe um estado de aprendiz, daquele que, por nada saber, tudo anota, não deixa passar nada. E é justamente por esse atributo que o caderno de campo, mais do que qualquer outro objeto do kit, representa e simboliza a prática e a atitude fundamental do antropólogo [...]. Diante da cultura dos outros, somos todos aprendizes e, quase sempre, aprendizes desajeitados. [...] E é do confronto de teorias e visões de mundo de nativos e antropólogos que surgem aqueles “resíduos reveladores” a que se refere Peirano18 e dos quais o caderno de campo é o primeiro testemunho. (MAGNANI, 1997, p. 04).

16 Informação obtida na pesquisa de campo, realizada durante o período de 03/03/2010 a 25/11/2010.17 Informação obtida no festival de sorvete da escola pesquisada, em 14/05/2010.18 Peirano, Mariza. - A favor da etnografia. Rio, Relume-Dumará, 1995.

16

O mesmo autor afirma que o caderno de campo é um instrumento de pesquisa

que permite ao pesquisador, através das situações registradas, compreender o contexto

no qual os dados e as informações foram obtidas. Bem como captar, afirma Magnani

(1997) “informação que os documentos, as entrevistas, os dados censitários, a descrição

de rituais – obtidos por meio do gravador, da máquina fotográfica, da filmadora, das

transcrições - não transmitem” (MAGNANI, 1997, p. 03). Nesse sentido, foi possível

registrar e observar olhares cruzados, risos e comentários entre grupos de alunos e

funcionários, bem como desconfianças em relação aos reais objetivos daquela coleta de

informações. Conforme ficou explícito neste comentário.

Eu também já fiz um trabalho com alunos da educação infantil, através da observação. É um trabalho complexo e apresenta muita subjetividade. Alunos da PUC, monitorados por professores, fizeram uma pesquisa aqui no [...] sobre violência na escola e acho que a pesquisa não apresentou um questionário claro. Levando os alunos a responder coisas que o pesquisador queria ouvir. “É preciso tomar cuidado, agindo assim acaba divulgando resultados que não são verdadeiros. Essas pesquisas são até mesmo publicadas! (Informação Verbal).19

Também cheguei a ouvir colocações carregadas de preconceito em relação aos

negros, sobretudo, no que se refere à questão das cotas reservadas nas universidades:

Eu não sou de acordo em relação a esse negócio de cotas para negros!. “Olha o Ministro do Supremo Tribunal de Justiça, Joaquim Barbosa, ele venceu mesmo!” “Não precisou de cotas para chegar onde chegou”, “ O negro precisa ser bom ! bom mesmo, para vencer o branco”, “ Somente na música que o branco não tem chances de competir com o negro” , “ Porque aí o negro é o melhor, não tem jeito mesmo do branco competir, eles são os melhores [...]”. (Informação Verbal).20

Parafraseando Pereira (1987) os mecanismos modeladores da opinião pública,

bem como os do comportamento social, sejam eles de indivíduos, de grupos ou da

grande massa, podem atuar de forma explícita, ou não, na construção da figura do

“negro caricatural”, conforme pode ser lido no comentário acima.

Essa figura é construída a partir de estereótipos referentes às suas características

fenotípicas, como: feio, macaco, tição. Tais colocações, também se referem à sua

descaracterização social: malandro, rufião, delinqüente, maloqueiro, amasiado, bêbado,

vagabundo, mandingueiro, pernóstico, servil, ou até mesmo menções relacionadas com

19 Informação obtida em conversa com a gestão da escola, durante a pesquisa de campo em 30/04/2010.20 Informação obtida em conversa com a gestão da escola, durante a pesquisa de campo em 01/07/2010.

17

certas qualidades “positivas”, como no caso das afirmações que os negros têm talento

para a música, que são astutos, ingênuos, ou então quando são associados ao preto velho

bondoso, a meiga mãe-preta ou o humilde e fiel servidor do homem branco, sendo

menções que na realidade estão relacionadas à nossa tradição paternalista e escravista.

(PEREIRA, 1987). Sobre essa questão o adolescente negro André relata:

Bom... Fica aquele negócio... Usa aquele boné para trás é negro é malandro. Aí tipo assim você entra na sala, aí os professores... Já vêm... Esse menino é malandro. Já me falaram, não que eu era negro, só falou ah... Esse menino com esse boné pra trás deve ser malandro. É tipo ... Piadinhas assim, às vezes tem mas é ... Tipo, sei que é brincadeira, meus amigos de verdade que fazem isso, tranqüilo. Agora pessoas que eu não conheço fazem isso aí eu tipo tesouro. (André- entrevista concedida em 20/09/2010.)

Nestas experiências vivenciadas no campo outro fato chamou minha atenção:

somente os alunos brancos se aproximavam para indagar sobre os motivos de minha

presença na escola, ao contrário dos negros, que sequer me olhava. Nestas ocasiões o

sentimento que tive foi de evitação dos estudantes negros em relação à minha pessoa.

Cheguei a pensar que esse comportamento poderia colocar em risco o desenvolvimento

do estudo, pois, agindo assim, alguns poderiam se recusar a participar das entrevistas

planejadas. Ana Paula Gomes (2007a) nos ajuda a compreender essa discussão ao

afirmar que:

Para alguns negros permanecer ou ser visto publicamente em companhia de outros negros significa expor – se à associação, empreendida pelo olhar dos brancos (“estabelecidos”), com pessoas que trazem já em sua aparência o estigma da inferioridade social. Aproximar – se do dominante é uma estratégia, entre outras, de sobrevivência social criada em contextos de pressão e constante violência simbólica no sentido da negação do EU. Negar a identidade coletivamente atribuída, ou fugir à identificação com os “semelhantes” equivale a uma tentativa desesperada de escapar ao terror de enxergar – se menos humano. (GOMES, 2007a, p.537).

Esse acontecimento, inevitavelmente, nos coloca certas interpretações: Se fosse

uma pesquisadora de cor de pele branca ou mais clara, os atores sociais que atuavam

naquele espaço teriam outro olhar, atitudes e comportamentos diferentes

comparativamente ao dado à minha pessoa? Gomes (2008) comenta sobre isso a partir

de suas experiências de pesquisadora e de antropóloga e que, admito, ter me ajudado a

refletir sobre minha atuação na pesquisa de campo:

Se falar sobre as relações raciais e identidades negras é um exercício de fôlego para qualquer intelectual que se dedica a tal assunto, é possível imaginar como essa tarefa se torna ainda mais desafiadora se esse intelectual for uma mulher, negra, educadora e antropóloga. Essa explicitação subjetiva e política do lugar do/a perquisador/a, muitas vezes, recebe um olhar

18

desconfiado no campo do conhecimento científico. Esse processo de suspeição recai também sobre outros pesquisadores e pesquisadoras que elegem como tema de investigação o seu próprio grupo social, cultural e étnico-racial, sobretudo, se esse fizer parte de um histórico de discriminação e de exclusão social. Tal situação nos revela que o antropólogo ocupa um lugar posicionado no mundo e no campo do conhecimento científico, por mais que alguns ainda apelem para certa “neutralidade etnográfica”, Ele/ela é um intelectual e um cidadão. E a escrita que o/a antropólogo produz, a ida a campo que realiza, as reflexões que socializa não se constroem no vazio, antes, são opções, escolhas e interpretações. Alguns intelectuais explicitam mais essa conjunção de fatores e outros menos, porém, isso não altera o fato de que tais fatores estão presentes na realização de toda a etnografia. (GOMES, 2008, p.134).

O campo é sempre um desafio, e aprendemos com Oliveira (2000) que o “ouvir"

é um dos atos cognitivos que contribui para a aceitação do pesquisador entre os nativos.

O ato de ouvir os atores estudados, contribui com a formação de uma “relação

dialógica” entre ambos, e conseqüentemente uma verdadeira interação, entendida por

Oliveira, como observação participante. E, neste processo, o pesquisador, ao assumir

uma posição de destaque, viabiliza uma melhor aceitação com o grupo pesquisado. Com

isso:

Faz que os horizontes semânticos em confronto – o do pesquisador e o do nativo – abram – se um ao outro, de maneira que transforme um tal confronto em um verdadeiro “encontro etnográfico”. Cria um espaço semântico partilhado por ambos interlocutores, graças ao qual pode ocorrer aquela “fusão de horizontes” – Como os hermeneutas chamariam esse espaço -, desde que o pesquisador tenha a habilidade de ouvir o nativo e por ele ser igualmente ouvido, encetando formalmente um diálogo entre “iguais”, sem receio de estar, assim, contaminado o discurso do nativo com elementos de próprio discurso. (OLIVEIRA, 2000, p.24).

A paciência também é uma condição necessária no campo de pesquisa, e sobre

esta questão Rocha e Tosta (2009) diz que é preciso levar em consideração o tempo no

trabalho de campo, já que não será de imediato que iremos alcançar as respostas que

buscamos. A “maturação do olhar”, conforme defendem os autores, também é

importante durante todo o processo, bem como o envolvimento entre o pesquisador e os

atores pesquisados, que acaba sendo uma aproximação “inevitável”. Desse modo,

convém lembrar que estudar o cotidiano é ter claro que o tempo pode operar ou não a

nosso favor! Um intervalo de tempo que dificilmente se precisa, mas sabe – se que não

pode ser tão curto como aquele que remete à aplicação de um questionário e análise de

dados, por exemplo, considerando que o tempo no cotidiano não é necessariamente, o

tempo administrado e controlado pelos nossos recursos e desejos. (ROCHA; TOSTA

2009, p. 138). A plena realização em um trabalho de campo requer algumas

19

articulações, com destaque para a interação entre o pesquisador e os atores sociais

envolvidos na pesquisa, uma vez que, nesse processo, mesmo analisando planos

desiguais, ambas as partes buscam uma compreensão mútua, visto que o objetivo do

pesquisador não é ser considerado igual, mas ser aceito na convivência com os outros.

(NETO, 1998).

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES...

O interagir entre pesquisador e atores pesquisados, não se limita às entrevistas e

conversas informais, mas, também aponta para a compreensão da fala dos sujeitos em

suas ações. Vale lembrar que é através dessa compreensão que nos tornamos capazes de

compreender melhor os aspectos rotineiros, as relevâncias, os conflitos, os rituais, assim

como a delimitação dos espaços público e privado. Haja vista que os atores pesquisados

não são ingênuos espectadores ou mesmo atores não-críticos. A observadora é também

observada! Deste modo, é possível afirma que os olhares dado a minha presença na

escola, estimularam ainda mais, penso eu, estudos que busquem tematizar a construção

identitária de adolescentes negros integrantes de classes economicamente mais

favorecidas em escola particular de elite; desafio colocado durante todo o tempo do

processo de investigação e que se revelou, principalmente, devido a minha condição de

negra, conforme discutido neste artigo. Pois, ao longo de minhas observações na escola

pequisada, vivenciei uma “socialização controlada”, onde eu observava e era também

constantemente observada. Não só pelos estudantes negros, mas pelos estudantes

brancos, professores e funcionários em geral. Conforme DaMatta, “o trabalho de campo

implica na possibilidade de redescobrir novas formas de relacionamento social, por

meio de uma socialização controlada.” (1987, p. 152).

Neste processo, sendo os adolescentes negros de elite os protagonistas do estudo

que resultou neste artigo, não posso negar que, em várias situações, destacando algumas

entrevistas (momento em que tive o prazer de ouvi – los falarem de si mesmo, de suas

frustrações, conquistas, desafios e objetivos) seus depoimentos levaram – me a refletir

sobre meus tempos de adolescente negra estudante, sobre minhas escolhas atuais e

ações em defesa de uma sociedade mais democrática e igualitária.

Outro dado importante desta vivência na pesquisa é que o contato com estes

estudantes, em diálogo permanente com as possibilidades e escolhas teóricas feitas,

também reforçou sobre a importância do ouvir o “outro”, bem como de “disciplinar”

20

nossos olhares, escutas e escritas, levando sempre em consideração a alteridade

imprescindível ao pesquisador.

Devo dizer, finalmente, que uma das motivações para este texto nasceu de uma

necessidade de refletir sobre minha curta trajetória na antropologia, pensando as

pesquisas que realizei em termos de problemas que não seriam apenas meus. Dentro

dessas condições, este trabalho adquire as feições de um ensaio (no duplo sentido da

palavra), e espera despertar interesse pelas provocações que coloca. No mais, essas

reflexões contribuíram muito para meu crescimento em todos os aspectos, ou seja,

étnico – racial, cultural, social e acadêmico. Especialmente no que se refere à minha

condição enquanto pesquisadora negra, do campo das relações étnico–raciais,

comprometida com o fortalecimento da afirmação de minha negritude e da cultura com

a qual me identifico em todos os espaços da sociedade.

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