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PAISAGEM: CONCEITOS E REALIDADES. UMA PERSPECTIVA ALÉM
DO AMBIENTE ESCOLAR.
Elvis Vieira Moreira
Abraão Levi dos Santo Mascarenhas
Marcos Mascarenhas Barbosa Rodrigues [email protected]
UNIFESSPA
INTRODUÇÃO
A paisagem é um conceito que vem evoluindo ao longo do tempo e as suas
diferentes definições vem sendo difundidas em vários seguimentos da ciência desde sua
origem até hoje. Tal aprimoramento é conduzido pelo viés dos conceitos nas salas de aula
de todo o país, bem como na cidade de Marabá (situada no sudeste Paraense), o qual a
aplicação do conceito de paisagem não atendem as necessidades dos estudantes, pois
segundo Vygotsky (2001) apresentar as definições de conceitos prontos e acabados para
o aluno, quase sempre, haverá apenas uma reprodução do conceito sem a correlação com
a realidade do aluno, assimilando apenas palavras, mas dissociado de conteúdo,
permitindo com que o aluno não absorva as aulas adequadamente.
O trabalho em questão visa pontuar os conceitos de paisagem a serem trabalhados
e aplicados pelos professores de geografia na realidade escolar do aluno na rede municipal
de ensino1, observando as formas de apropriação e transformações do espaço, benefícios
e suas contradições, tendo em vista, como a dinâmica da cidade e as políticas atreladas ao
plano diretor, o qual afetam a vida cotidiana dos alunos do município de forma positiva
ou negativa no estabelecimento do desenvolvimento econômico e social do município.
O objetivo da pesquisa é contribuir na prática para uma compreensão geográfica
do conceito de paisagem e os direitos de uso da cidade assegurado em lei para os alunos
do nono ano (9A e 9B), especificamente, da E.M.E.F. Professor Jonathas Pontes Athias,
sendo desenvolvidos atividades de pesquisa e coleta de dados, observação e registro
fotográfico da praça da folha 16 e nas folhas 19, 20, 21 e 23 tidas como objeto de estudo,
1 A escola em tela é a Escola Municipal de ensino fundamental e médio E.M.E.F Professor Jonathas Pontes
Athias.
devido à proximidade com a escola, onde são desenvolvidas variadas funções sociais por
grupos urbanos em diferentes horários, no caso da folha 16, e nas demais folhas (19, 20,
21, 23) enfatizamos as dificuldades no planejamento urbano, em que, serão relacionados
com as atribuições contidas no plano diretor e se afetam direta e/ou indiretamente a vida
dos alunos, que ao final, resultará com uma exposição das fotos obtidas pelos alunos no
trabalho, sendo utilizado nesse artigo como referência (CAVALCANTI, 2008) frisando
o direito à cidade constrói-se na escola, auxiliando na formação de cidadãos;
(MEZZOMO, 2010), contribuindo na formação histórica do conceito de paisagem;
(SALGUEIRO, 2001) faz uma relação individuo-ambiente focando a exploração dos
recursos naturais e a predominância da paisagem urbana; (BÓLOS, 1992) relação do
homem com o natural e formação de paisagens distintas; (COSTA, 2007) ao utilizar
Humboldt enfatiza a inserção da técnica na análise da paisagem; (BERTRAND, 1971)
faz um relação da dinâmica física, natural e antrópica que resulta na perpetua evolução
da paisagem; (PCN, 1998) discute o reconhecimento da paisagem e seus elementos
sociais, culturais e naturais e a interação existente entre eles; (PDM, 2011) que traça as
metas e os objetivos do desenvolvimento em todos os quesitos da cidade, mas que possui
certo distanciamento da pratica na realidade; (SOUSA, 2013) contribui no que diz
respeito a formação, expansão e apropriação da cidade e os impactos que isso
proporciona; (ANASTASIOU, 2000) vem contribuir com a aplicação metodológica no
que tange a participação dos alunos na criação e desenvolvimento da constituição do
painel. Todos usados como fonte de pesquisa bibliográfica que condizem com a realidade
do tema, como parâmetro de reflexão sobre o assunto, além das contribuições do projeto
PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Docência - Faculdade de Geografia)
do qual atuamos como bolsistas. Além disso, tem-se a observação do conceito de
paisagem inseridas na realidade dos alunos, como por exemplo, saber se os mesmos
usufruem dos seus direitos como cidadãos (direito ao saneamento básico, asfalto,
segurança etc), após a aplicação do conceito de paisagem e posteriormente a execução
dos registros fotográficos, terão como finalidade exporem em um mural na escola sobre
a deficiência dos direitos básicos de todo cidadão, mostrando através de fotos a falta de
prioridade do público nas melhorias de infraestruturas da cidade.
MATERIAIS E MÉTODO
A metodologia que foi seguida para a realização deste estudo na escola EMEF
Professor Jonatans Pontes Athias pode ser entendida através das seguintes atividades:
Levantamento/Pesquisa bibliográfica: Nesta fase inicial constitui em um
levantamento da produção científica de artigos em periódicos e livros que
correspondem a trabalhos relacionados e similares com a referente pesquisa;
Observação e descrição da prática docente: Onde podem ser observadas as
formas de compreensão dos alunos sobre o conceito de paisagem através de
atividades pedagógicas, no caso, a construção do painel relacionando com os
problemas da cidade e, como os mesmos, afetam a vida dos alunos, em especial,
referente às transformações na estrutura urbana;
Registro fotográfico: Nessa etapa será feito registros de fotografias, da Praça da
Folha 16, Núcleo Nova Marabá, enfatizando as mudanças contidas no mesmo
espaço em diferentes horários, buscando observar a apropriação cultural dessa
paisagem. E, também, dos locais onde moram (no caso, as folhas 19, 20, 21, 23),
e/ou durante o seu trajeto até a escola;
Síntese da Metodologia: Todo o material pesquisado será interpretado dentro da
busca das características que visem às transformações sociais, culturais e
econômicas relacionados ao conceito de paisagem desenvolvido na escola, do que
surgem as primeiras conclusões.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Contexto de formação da Cidade de Marabá-PA
Marabá cidade localizada no sudeste do Pará ao longo de sua história desde sua
emancipação do município de Baião em 1913, também passou por sucessivas divisões
territoriais para formação de outros municípios como Itupiranga em 1948, São João do
Araguaia e Jacundá em 1961 e por fim em 1988 Parauapebas e Curionópolis, restando
lhe uma área de 15.157,90 Km² (IBGE, 1995). Assim como outras cidades da Amazônia,
surgem às margens de rios, nesse caso, Marabá entre a planície de inundação de dois rios,
o Tocantins e Itacaiunas, servindo como entreposto comercial para circulação de
mercadorias e acesso a capital do Estado.
Seu primeiro núcleo urbano a Marabá Pioneira (conhecida também por cidade
velha) surge sem nenhum projeto de urbanização e sofre sucessivas enchentes devido a
sua localização geográfica. Nova Marabá que aparece no contexto dos anos de 1970 como
centro planejado pela SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) em
uma área de fazenda com o padrão altimétrico mais elevado a salvo das enchentes e
atendendo as necessidades expansionistas da cidade e que é cortada por diversas rodovias
como a BR-230 (Transamazônica), facilitou o processo de migração. O núcleo Cidade
Nova as margens do rio Itacaiunas cresce com residências de iniciativas individuais
(invasões), e, posteriormente o núcleo do São Felix e núcleo Morada Nova nos limites do
perímetro urbano fazendo parte dos cinco núcleos descontínuos da cidade. (SOUZA,
2013).
Todo esse Crescimento se deu através de ciclos econômicos começando pela
extração do caucho e da castanha passando pela pecuária e mineração atraindo migrantes
de todas as partes do país (SOUZA, 2013). Marabá sofreu grandes transformações na
paisagem em pouco intervalo de tempo resultando na modificação cultural da sociedade
nativa, tendo em vista os níveis de relações e as novas dinâmicas econômicas que utilizam
os recursos da região e produzem e reproduzem espaços como lhe convém disseminando
pobreza e riqueza no mesmo território.
A construção do conceito de Paisagem
A concepção do conceito de paisagem que a trata de forma integrada prevê a
compreensão da estrutura, do funcionamento e da evolução a partir do entendimento das
características de cada elemento natural, as relações entre si e as relações com a ação
antrópica. Esta última é entendida pelas interferências do uso e ocupação que acabam por
interromper, acelerar ou promover determinados processos. Essa forma de interpretação
é oriunda de pesquisas que foram sendo desenvolvidas ao longo do tempo na Geografia
e, por isso, a apreensão histórica sobre o sentido do termo paisagem é pertinente para
entender o atual estágio da concepção aqui utilizada (MEZZOMO, 2010).
A paisagem desde sua constituição como conceito vem sofrendo uma serie de
transformação de acordo com as atribuições das quais são conferidas, tal estudo baseando-
se em uma escala no tempo e no espaço, nos remonta a origem do termo derivado do latim
Pagus que significa país com o sentido de lugar e unidade territorial criado por volta dos
séculos XII a XIV no período renascentista (MEZZOMO, 2010). Até o momento a
paisagem estava associada ao belo, a perfeição (divino), ao conjunto natural dos
elementos terrestres e marinhos representados pela arte estampadas em pinturas,
evidenciando imagens contemplativas que nos séculos pôsteres levaram a valorização dos
espaços, despertando um novo interesse diante da natureza, o da exploração, resultado
dos avanços técnicos e científicos que distanciaram a interpretação da natureza do divino,
sendo vista cada vez mais como um recurso, objeto de conhecimento e transformação
(SALGUEIRO, 2001 citado por MEZZOMO, 2010).
O desenvolvimento do termo paisagem se deu a partir do século XIX, dentro da
geografia pela escola alemã, no qual, Bolos (1992, p.6) define paisagem como:
Um conjunto de elementos observáveis de um determinado ponto, as
concepções passam a considerar, cada vez mais, as formas terrestres,
sendo resultantes da associação dos elementos da superfície terrestre
com o homem, derivando em paisagens diversas como rural, urbana,
natural e cultural.
E ainda no mesmo século Alexander Von Humboldt foi o primeiro a introduzir a
técnica e ciência no termo paisagem com descrições e observações da natureza associando
localização, clima e características das plantas feitas no decorrer de suas viagens. Ao
descrever a Cordilheira dos Andes, Humboldt correlaciona vários elementos podendo ser
considerados:
A vegetação, os animais, os fenômenos geológicos, o cultivo, a
temperatura do ar, o limite das neves permanentes, a diminuição da
gravidade, a intensidade da cor azul do céu, o grau de extinção que
perde a luz ao atravessar as camadas de ar, as refrações horizontais e o
calor da água em seu ponto de fervura, a diferentes alturas
(HUMBOLDT, 1805 p. 42 apud COSTA 2007, p.10).
Em que hoje poderia ser denominado de ecossistêmico. Além desses autores que
ampliaram o conceito de paisagem como um elo entre a geografia humana e geografia
física, suas bases auxiliaram nas pesquisas de outros autores de outras escolas na Europa
como as da Rússia, anglo-saxônica e da França. Segundo a autora, Ferdinand Von
Richthofen apresenta uma visão de superfície terrestre baseada na interação das diferentes
esferas (litosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera), as quais proporcionariam a
compreensão das interconexões do planeta. Já Sigfrid Passarge é considerado o primeiro
autor a publicar uma obra sobre paisagem (Grundlagem der Landschaftskunde,
1919/1920), o que teria influenciado na constituição da chamada ciência da Paisagem. No
caso de Alfred Hettner, as contribuições vieram da preocupação com questões
metodológicas, em que buscava a globalidade da paisagem com a inclusão do homem, o
que também contribuiu nos estudos sobre a inter-relação dos elementos naturais com os
humanos. Com estudos que aproximaram a paisagem das concepções da Ecologia, Carl
Troll ampliou a relação organismo e ambiente e aproximou a Geografia da Biologia com
a criação, em 1939, do termo Ecologia da Paisagem. Josef Schmithüsen, por sua vez,
trabalhou com a ideia de globalidade da paisagem destacando questões em relação à
dinâmica e funcionalidade (MEZZOMO, 2010).
Nas escolas anglo-saxônicas merece destaque Ludwig Von Bertalanfy (1977) se
referindo ao modelo sistêmico, que segundo ele em qualquer situação é preciso estudar
as partes e os processos envolvidos de forma integrada e não isoladas, pois os
comportamentos são diferentes quando os objetos são vistos separados e quando são
considerados no todo.
Na Rússia Vassili Vassiliévitch Dokouchaev, com suas pesquisas sobre solo e
Victor Sotchava (1977) com os estudos dos geossistemas que contribuíram de forma
expressiva no desenvolvimento do conceito, correspondendo a aplicabilidade em
qualquer paisagem concreta “os fenômenos naturais que não excluem os fatores sociais e
econômicos, os quais influenciam na estrutura e peculiaridades espaciais”.
A paisagem foi definida por George Bertrand pesquisador da escola francesa
como:
O resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos
físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre
os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em
perpétua evolução (BERTRAND, 1971, p. 2).
Para o autor a paisagem deveria ser objeto de estudo da geografia física e
atribuindo um conjunto de elementos dinâmicos e em constante evolução de acordo com
as constantes trocas de energia e matéria resulta na formação da paisagem.
Outro autor que contribuiu com o conceito foi Jean Tricart (1977), com uma
perspectiva evolucionista baseada na interação de elementos bióticos e abióticos, em que,
não há ecossistema sem que haja interferência humana. Tais definições tiveram bastante
expressão no Brasil no século XX, devido à quantidade de pesquisadores da escola
francesa atuando no país, com destaque para teoria sistêmica baseado no geossistemas,
pelo professor Carlos Augusto Figueiredo Monteiro que trabalhou suas pesquisas de
acordo com as necessidades das diferentes paisagens brasileiras. Para o autor a paisagem
é entendida assim como o resultado de integração dinâmica dos elementos de suporte e
cobertura (físicos, biológicos e antrópicos), sendo expressa em partes delimitáveis
infinitamente, mas individualizadas por meio das relações entre elas, que organizam um
complexo (sistema) conjunto em perpétua evolução (MONTEIRO, 2000, p. 39. Apud,
MEZZOMO, 2010).
Em escala global, a evolução teórica do conceito desencadeada ao longo do tempo,
fez com que as pesquisas sobre paisagem ganhassem espaço, favorecendo para
constituição de uma disciplina científica definida pela União Geográfica Internacional em
1983 como a Ciência da Paisagem. Tal disciplina inclui diferentes interpretações sobre o
termo paisagem, o que pode ser explicado pela própria evolução da ciência geográfica,
dos diferentes referenciais teóricos utilizados e do crescente aparato tecnológico para o
levantamento e tratamento das informações (MEZZOMO, 2010).
Conforme descrevem entre algumas das interpretações que estão sendo
empregadas destacam-se, a paisagem como um aspecto externo de uma área ou território,
que representa uma ou outra qualidade e que se associa à interpretação estética, resultado
de percepções diversas; paisagem como formação antropo-natural, consistindo em um
sistema territorial composto por elementos naturais e antropotecnogênicos condicionados
socialmente, que modificam ou transformam as propriedades das paisagens naturais
originais; paisagem como um sistema econômico-social, que correspondente à área onde
vive a sociedade humana, caracterizando o ambiente de relações espaciais que tem uma
importância existencial para a sociedade. Esta paisagem seria composta por uma
determinada capacidade funcional para o desenvolvimento das atividades econômicas;
paisagem cultural, sustentada na ideia de que a paisagem é o resultado da ação da cultura
ao longo do tempo, modelando-se por um grupo cultural, a partir de uma paisagem
natural. Inclui três formas: paisagem visual, percebida e valorizada (RODRIGUEZ et al.
2004, p. 14, citado por MEZZOMO, 2010).
Para Aziz Ab’Saber (2003) a paisagem é sempre uma herança, na verdade, ela é
uma herança em todo o sentido da palavra: herança de processos fisiográficos e
biológicos, e patrimônio coletivo dos povos que historicamente as herdaram como
território de atuação de suas comunidades.
Para essa nova forma de pensar a paisagem, Salgueiro 2001, Afirmar;
A relação indivíduo-ambiente é colocada em novos termos teóricos mas
volta ao centro da preocupação de muitos geógrafos e, neste contexto,
os estudos sobre a paisagem e a paisagem urbana assumem particular
destaque, em paralelo com uma maior atenção prestada às ameaças e
aos perigos que a exploração intensa de recursos está a colocar.
Essa forma de entendimento possibilita assim, o desenvolvimento de pesquisas
que apresentam uma grande quantidade de informações, dados e análises, levando ao
reconhecimento de fragilidades e/ou potencialidades da paisagem. Os resultados dos
estudos são utilizados para subsidiar trabalhos e projetos de diversas áreas, como os de
planejamento da paisagem seja ela qual for. (MEZZOMO, 2010).
A Paisagem como referência dos estudos em ambientes urbanos no ensino de
Geografia
Sobre essa didática destaca-se a forma de ler a paisagem, a descrição, observação,
explicação e analogias que buscam entender as diversas paisagens, mesmas aquelas que
o indivíduo não tem contato. Porém a ideia centra-se em buscar entender a paisagem a
qual o aluno se insere, para este. Coloca-se inicialmente a evolução da paisagem urbana
de Marabá- PA, enquanto produto das diversas relações sociais, pois a perspectiva do
conceito de paisagem em relação à aplicabilidade no ensino básico pode ser
compreendida pela ação antrópica, sendo tanto na área urbana quanto na rural, tendo em
vista, o seu espaço de vivência, a percepção e como o aluno concebe as transformações
na paisagem evidenciando de forma mais clara os impactos causados por essa alteração,
do qual possui grande relevância, pois afeta diretamente nas formas de vida e as relações
em diversas escalas dos habitantes do município e região.
As ideias fomentadas para trabalhar a paisagem também são discutidas para o
ensino, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, (PCN’s) que:
A abordagem dos conteúdos da Geografia pode colocar-se na
perspectiva da leitura da paisagem, o que permite aos alunos conhecer
os processos de construção do espaço geográfico. Conhecer uma
paisagem é reconhecer seus elementos sociais, culturais e naturais e a
interação existente entre eles; é também compreender como ela está em
permanente processo de transformação e como contém múltiplos
espaços e tempos.
No ensino da geografia, o conceito de paisagem é visto apenas com ilustrações e
ligadas apenas a natureza, ao relevo, mas, ela vai muito além disso, que ao invés de
esclarecer, confunde os alunos. O professor de geografia tem como objetivo principal ao
ensinar as categorias analíticas de forma diferente, fazendo com que o aluno realmente
entenda o conceito delas e com isso, passe a aplicar no seu cotidiano dentro e fora da
escola.
A paisagem como conceito real, além de ser tudo aquilo que o sentido alcança, é
necessário mostrar a ação do homem sobre ela, na perspectiva de paisagem humanizada
e organizada, humanizada porque o homem utiliza da paisagem de forma demasiada,
prejudicando e intervindo de forma negativa no elemento da paisagem. Organizada
porque a exploração da natureza existe, no entanto de forma harmônica, como na
construção de praças, orlas, cidades planejadas, entre outros.
Estratégia didático-pedagógica para trabalhar o conceito de Paisagem no ensino de
Geografia Escolar – transposição curricular
De maneira simplificada para compreensão do conhecimento sobre paisagem de
forma mais rápida e eficiente pelos alunos será aplicada a metodologia de painel,
seguindo quatro fases: a descrição, a operacionalização do conhecimento, a dinâmica da
atividade e a avaliação.
Na primeira fase – a descrição - o professor organiza grupos de alunos que
discutem sobre a forma, como veem a paisagem urbana, tendo como objeto de analise a
praça da folha 16, e nas folhas 19, 20, 21, 23 entre outros, observando a maneira como
esse espaço é apropriado pela população e o caráter da função social empregado pela
administração pública atribuindo à mesma, se corresponde com a utilização pelos grupos
urbanos que a frequentam em diferentes horários, apresentando seus pontos de vista
diversos sobre o tema, se há problema ou não e se os afeta direta e indiretamente. E, além
disso, nas demais folhas, identificar se o planejamento urbano está de acordo com o Plano
Diretor, se não, apontar as dificuldades enfrentadas devido ao “esquecimento” por parte
da prefeitura.
Já na segunda fase será feita a busca de dados, a organização, a obtenção de
arquivos, fotografias, observação, analises e interpretação que mostrem a praça e sua
utilização. A obtenção de dados será pela observação e por registro fotográfico feito pelos
alunos (podendo ser por celular, câmeras fotográficas, internet e ipad, etc) em diversos
horários e dias da semana objetivando maior precisão da pesquisa.
Não obstante, na terceira fase o professor coordena os grupos compostos por sete
pessoas da classe, do 9A para falar sobre o assunto (ocupação urbana na folha 16) em
meio aos ouvintes, cada estudante possui um tempo máximo 10 minutos para falar, sendo
o professor a anunciar o tema da discussão. Já os alunos do 9ºB, após fazerem o registro
fotográfico, serão feitas dissertações sobre os problemas enfrentados por eles em suas
ruas, mostrando sua indignação com tal descaso. No final o professor fará as
considerações finais sobre o assunto e convida os ouvintes a tirarem duvidas e fazer
comentários sobre o tema observando o registro fotográfico dos alunos da praça da folha
16 e as demais folhas na classe como forma de exposição.
Por fim, o último passo será a avaliação dos alunos por assiduidade, concentração,
argumentos consistentes e perguntas elaboradas, além da qualidade das imagens obtidas
pelos alunos.
Quadro 01 – Elementos didático-pedagógicos da aula sobre conceito de paisagem
Conteúdo
Formas de Ensinar o
conteúdo
Forma de Aplicar o
conteúdo –
intervenção no campo
ou na aula
Formas de
avaliar
Paisagens
Urbanas
Breve debate sobre o
assunto, seguido de uma
aula expositiva dentro da
sala de aula, para melhor
entendimento do assunto,
além de fotos da cidade.
Debates antes, durante e
depois da explicação do
conceito em sala de
aula, e observação
crítica sobre a paisagem
das folhas 16, 19, 20,
21, 22.
Avaliação através
de texto
dissertativo
realizado pelos
alunos, discussão
sobre o tema,
registro
fotográfico e, por
fim, exposição
das fotos.
Fonte: Plano de Aula, 2014
Org.: Mascarenhas; Martins; Vieira; Sousa; Farias, 2014.
Considerações Finais
O conceito de paisagem pode ser observado por diferentes elementos, podendo
ser de domínio natural, humano, cultural etc, podendo sofrer modificações ao longo do
tempo. É possível observar, principalmente na praça da folha 16 e no seu entorno, a
constante mudança de paisagem, visto que em diferentes horários o público e os serviços
mudam. Já nas folhas 19, 20, 21 e 23 a paisagem corrente é o descaso público que não só
os alunos, mas todo restante da população residente nessas folhas enfrentam, como
buracos, ruas não asfaltadas, esgotos à céu aberto.
Dentro das salas de aula das escolas espalhadas pelo país, a aplicação do conceito
de paisagem é deficiente, visto que é apenas retratado de forma ilustrativa, como o relevo,
não atentando para a realidade dos alunos, ou seja, a paisagem que os cerca, seja natural
ou modificada pelo homem. A maneira mais relevante de retratar o conceito de paisagem
é, de acordo com o que foi explanado ao longo do texto, “aguçar” o senso crítico dos
alunos para o seu entorno, atentando para sua realidade, observando geograficamente a
paisagem e as mudanças que nela ocorrem, voltados para uma escala local (onde moram,
onde estudam, lugares que frequentam), fotografando, escrevendo, aplicando e expondo
tudo o que observaram.
A arte de ensinar deve ser além da sala de aula, do livro didático, a ação mediática
do professor é a ponte do conhecimento científico e do senso comum dos alunos, a
apresentação diferenciada do conteúdo transforma os alunos em críticos do saber, o qual
passam a analisar o seu cotidiano sempre ligando com o conteúdo ministrado em sala.
Daí a arte de ensinar além das paredes das escolas, gerando novos conhecimentos e
verdadeiros cidadãos.
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