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PROCESSO DE APRENDIZAGEM Deniele Simões [email protected] Como toda mulher que trabalha fora, Heloísa Pappalardo Collet leva uma vida muito agitada. Além do tra- balho como veterinária, em São Paulo (SP), ela dedica-se às tarefas do dia a dia, o que inclui a educação de três fi- lhos. Bernardo, de 12 anos, é o filho do meio e também o que exige mais aten- ção por parte da mãe. Assim como os irmãos, o garoto estuda em um bom colégio, porém começou a apresentar dificuldades de aprendizagem, quando estava com oito para nove anos. “Além de estar com a escrita horrorosa para a idade dele, ele escrevia na prova coisas que nada tinham a ver com a pergunta”, relembra. Os problemas intensificaram-se e então Heloísa foi chamada pela orien- tadora da escola. A suspeita era que Bernardo tivesse dislexia, uma disfun- ção que afeta o processo de aprendiza- gem. A mãe foi aconselhada a levar Ber- nardo até a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) e lá teve acesso ao diagnóstico por meio de uma equipe multidisciplinar. Na instituição, a sus- peita foi confirmada e detectou-se um grau severo de dislexia. Hoje, Bernardo faz tratamento com uma fonoaudióloga e já apresentou me- lhoras significativas. O garoto consegue ler e interpretar textos sozinhos, mas a presença da mãe para auxilá-lo nos estu- dos em casa ainda é imprescindível. Diagnóstico precoce e bullying Ao contrário de Heloísa e Bernardo, nem sempre pais e filhos têm acesso ao diagnóstico da dislexia – fato que pode Pais: Fiquem atentos! Quando falta diagnóstico e tratamento, dislexia facilita bullying e prejudica desenvolvimento escolar comprometer bastante a qualidade de vida dos portadores. Segundo a ABD, pesquisas reali- zadas em vários países mostram que entre 5% e 17% da população mundial apresentam dislexia. A psicóloga clíni- ca Márcia Barreira, diz que o impacto causado pela falta de diagnóstico e de tratamento é muito grande. “Quando as crianças começam a apresentar essas dificuldades, são consideradas desmo- tivadas, desinteressadas, burras, porque existe uma dificuldade em aprender a ler e escrever.” As dificuldades colaboram para que a autoestima do disléxico fique muito rebaixada. Como se não bastasse isso, os portadores do distúrbio são frequen- tes alvos de bullying, principalmente no ambiente escolar. “As crianças real- mente sofrem muito por serem deixa- das de lado pelo grupo porque têm di- ficuldades na compreensão dos textos e na leitura, e ainda são consideradas pelos colegas como burras, sofrendo uma série de gozações o tempo intei- ro”, salienta Márcia Barreira. O diagnóstico é fundamental para que o paciente possa partir para o trata- mento e, de acordo com a profissional, tem como sinal indicativo a ocorrência de dois anos de atraso no desenvolvi- mento escolar, ou seja, na aprendiza- gem e, principalmente, na alfabetiza- ção. “As crianças, a partir dos seis ou sete anos, já são trabalhadas e saem com um diagnóstico de crianças de ris- co para um quadro de dislexia. Então, elas não vão encontrar tantas dificulda- des como quem não foi diagnosticado e tratado.” Desmistificação do tema A doutora em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo, Suely Laitano Nassif, ressalta que o impacto da dislexia na vida de uma pessoa depende muito da capacidade de enfrentamento da frustração. “A maioria das crianças com problemas de aprendizagem desiste de seguir os estudos e acaba dedicando-se a outras atividades”, justifica. Atenta à problemática gerada pelo distúrbio, Suely Nassif mantém o blog “As histórias de Mariana”. O espaço mostra o universo de uma garota dis- léxica, que levava uma vida normal e cheia de habilidades, até começar a estudar. “Quando chega à escola, ela se depara com a dificuldade ‘intrans- ponível’ de não conseguir se alfabeti- zar, que não é só dela, mas dos irmãos também.” Assim como esse blog, existem outros meios de informação sobre a dislexia. Fundada em 1983, a ABD tem sido um canal de relacionamento direto com o público e traz orienta- ções sobre a questão, além de atendi- mento tanto a pais e portadores como a profissionais da área clínica e da educação. Ao descobrir que o filho era dislé- xico, na ABD Heloísa encontrou o su- porte necessário para enfrentar o pro- blema. O envolvimento com a causa fez com que ela passasse a frequentar a instituição e lá conhecesse outras pessoas que vivem a mesma realidade dela. “Você vê que não está sozinha nesse barco. A gente troca ideias, vê como é que faz; temos mesmo é que nos unir.” Conheça o distúrbio, os impactos sobre o portador e as formas de tratamento O que é? A dislexia é um distúrbio neuro- biológico caracterizado pela dificul- dade de leitura. O problema é detec- tado a partir da alfabetização, quan- do o paciente sente dificuldades na leitura, afetando também a escrita. O distúrbio é hereditário e pode apresentar alguns impactos sobre a criança. • Atrasos: – na locomoção; – na aquisição da linguagem; – na habilidade para segurar a co- lher e comer sozinha; – em fazer o laço no cadarço do sa- pato; – em pegar e chutar a bola. • Dificuldades: – na aprendizagem das letras; – percepção; – memória; – análise visual. Tratamento e diagnóstico A criança disléxica possui inteligên- cia normal ou, muitas vezes, acima da média. Apesar disso, enfrenta dificulda- des por não conseguir identificar símbo- los gráficos como letras e/ou números, tendo como consequência principal a dificuldade na leitura e na escrita. Estudos mostram que disléxicos possuem pelo menos um familiar pró- ximo com dificuldade na aprendizagem da leitura e escrita. O tratamento para a dislexia não é medicamentoso, mas ocorre normal- mente a partir da ação de um profissio- nal credenciado de psicopedagogia ou de fonoaudiologia. O diagnóstico exige uma série de procedimentos: 1. Relatório Escolar. 2. História clínica: – crianças com dificuldades persis- tentes de aquisição da leitura, princi- palmente após os nove anos; – antecedentes de atraso de aquisi- ção ou transtornos da linguagem; – história familiar de distúrbios da linguagem ou dislexia. 3. Exame neurológico evolutivo: atenção; percepção; memória; coorde- nação; praxia; avaliação da escrita e leitura; fluência e compreensão. 4. Avaliação da acuidade audi- tiva e visual. 5. Testes psicométricos para avaliar potencial cognitivo. 6. Avaliação linguística. 7. Avaliação do processamento auditivo. 8. Questionários de comporta- mento. Na Internet, acesse: Site da ABD: http://www.dislexia.org.br Blog: As história de Mariana: http://ashistoriasdemariana.blogspot.com Helo í sa e Bernardo: uma hist ó ria de persist ê ncia e supera çã o Arquivo Pessoal 4 A 10 DE JUNHO DE 2011 PÁG. 8 SANTUÁRIO DE APARECIDA

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PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Deniele Simõ[email protected]

Como toda mulher que trabalha fora, Heloísa Pappalardo Collet leva uma vida muito agitada. Além do tra-balho como veterinária, em São Paulo (SP), ela dedica-se às tarefas do dia a dia, o que inclui a educação de três fi -lhos.

Bernardo, de 12 anos, é o fi lho do meio e também o que exige mais aten-ção por parte da mãe. Assim como os irmãos, o garoto estuda em um bom colégio, porém começou a apresentar difi culdades de aprendizagem, quando estava com oito para nove anos. “Além de estar com a escrita horrorosa para a idade dele, ele escrevia na prova coisas que nada tinham a ver com a pergunta”, relembra.

Os problemas intensifi caram-se e então Heloísa foi chamada pela orien-tadora da escola. A suspeita era que Bernardo tivesse dislexia, uma disfun-ção que afeta o processo de aprendiza-gem.

A mãe foi aconselhada a levar Ber-nardo até a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) e lá teve acesso ao diagnóstico por meio de uma equipe multidisciplinar. Na instituição, a sus-peita foi confi rmada e detectou-se um grau severo de dislexia.

Hoje, Bernardo faz tratamento com uma fonoaudióloga e já apresentou me-lhoras signifi cativas. O garoto consegue ler e interpretar textos sozinhos, mas a presença da mãe para auxilá-lo nos estu-dos em casa ainda é imprescindível.

Diagnóstico precoce e bullyingAo contrário de Heloísa e Bernardo,

nem sempre pais e fi lhos têm acesso ao diagnóstico da dislexia – fato que pode

Pais: Fiquem atentos!Quando falta diagnóstico e tratamento, dislexia facilita bullying

e prejudica desenvolvimento escolarcomprometer bastante a qualidade de vida dos portadores.

Segundo a ABD, pesquisas reali-zadas em vários países mostram que entre 5% e 17% da população mundial apresentam dislexia. A psicóloga clíni-ca Márcia Barreira, diz que o impacto causado pela falta de diagnóstico e de tratamento é muito grande. “Quando as crianças começam a apresentar essas difi culdades, são consideradas desmo-tivadas, desinteressadas, burras, porque existe uma difi culdade em aprender a ler e escrever.”

As difi culdades colaboram para que a autoestima do disléxico fi que muito rebaixada. Como se não bastasse isso, os portadores do distúrbio são frequen-tes alvos de bullying, principalmente no ambiente escolar. “As crianças real-mente sofrem muito por serem deixa-das de lado pelo grupo porque têm di-fi culdades na compreensão dos textos e na leitura, e ainda são consideradas pelos colegas como burras, sofrendo uma série de gozações o tempo intei-ro”, salienta Márcia Barreira.

O diagnóstico é fundamental para que o paciente possa partir para o trata-mento e, de acordo com a profi ssional, tem como sinal indicativo a ocorrência de dois anos de atraso no desenvolvi-mento escolar, ou seja, na aprendiza-gem e, principalmente, na alfabetiza-ção. “As crianças, a partir dos seis ou sete anos, já são trabalhadas e saem com um diagnóstico de crianças de ris-co para um quadro de dislexia. Então, elas não vão encontrar tantas difi culda-des como quem não foi diagnosticado e tratado.”

Desmistifi cação do temaA doutora em Neurociências pela

Universidade Federal de São Paulo, Suely Laitano Nassif, ressalta que o

impacto da dislexia na vida de uma pessoa depende muito da capacidade de enfrentamento da frustração. “A maioria das crianças com problemas de aprendizagem desiste de seguir os estudos e acaba dedicando-se a outras atividades”, justifi ca.

Atenta à problemática gerada pelo distúrbio, Suely Nassif mantém o blog “As histórias de Mariana”. O espaço mostra o universo de uma garota dis-léxica, que levava uma vida normal e cheia de habilidades, até começar a estudar. “Quando chega à escola, ela se depara com a difi culdade ‘intrans-ponível’ de não conseguir se alfabeti-zar, que não é só dela, mas dos irmãos também.”

Assim como esse blog, existem

outros meios de informação sobre a dislexia. Fundada em 1983, a ABD tem sido um canal de relacionamento direto com o público e traz orienta-ções sobre a questão, além de atendi-mento tanto a pais e portadores como a profi ssionais da área clínica e da educação.

Ao descobrir que o fi lho era dislé-xico, na ABD Heloísa encontrou o su-porte necessário para enfrentar o pro-blema. O envolvimento com a causa fez com que ela passasse a frequentar a instituição e lá conhecesse outras pessoas que vivem a mesma realidade dela. “Você vê que não está sozinha nesse barco. A gente troca ideias, vê como é que faz; temos mesmo é que nos unir.”

Conheça o distúrbio, os impactos sobre o portador e as formas de tratamento

O que é?A dislexia é um distúrbio neuro-

biológico caracterizado pela difi cul-dade de leitura. O problema é detec-tado a partir da alfabetização, quan-do o paciente sente difi culdades na leitura, afetando também a escrita.

O distúrbio é hereditário e pode apresentar alguns impactos sobre a criança.

• Atrasos:– na locomoção;– na aquisição da linguagem;– na habilidade para segurar a co-

lher e comer sozinha;– em fazer o laço no cadarço do sa-

pato;– em pegar e chutar a bola.

• Difi culdades:– na aprendizagem das letras;– percepção;– memória;– análise visual.

Tratamento e diagnósticoA criança disléxica possui inteligên-

cia normal ou, muitas vezes, acima da média. Apesar disso, enfrenta difi culda-des por não conseguir identifi car símbo-los gráfi cos como letras e/ou números, tendo como consequência principal a difi culdade na leitura e na escrita.

Estudos mostram que disléxicos possuem pelo menos um familiar pró-ximo com difi culdade na aprendizagem da leitura e escrita.

O tratamento para a dislexia não é medicamentoso, mas ocorre normal-mente a partir da ação de um profi ssio-nal credenciado de psicopedagogia ou de fonoaudiologia.

O diagnóstico exige uma série de procedimentos:

1. Relatório Escolar.2. História clínica:– crianças com difi culdades persis-

tentes de aquisição da leitura, princi-palmente após os nove anos;

– antecedentes de atraso de aquisi-ção ou transtornos da linguagem;

– história familiar de distúrbios da linguagem ou dislexia.

3. Exame neurológico evolutivo: atenção; percepção; memória; coorde-

nação; praxia; avaliação da escrita e leitura; fl uência e compreensão.

4. Avaliação da acuidade audi-tiva e visual.

5. Testes psicométricos para avaliar potencial cognitivo.

6. Avaliação linguística.7. Avaliação do processamento

auditivo.8. Questionários de comporta-

mento.

Na Internet, acesse:Site da ABD: http://www.dislexia.org.brBlog: As história de Mariana: http://ashistoriasdemariana.blogspot.com

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Heloísa e Bernardo: uma história de persistência e superação A

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4 A 10 DE JUNHO DE 2011 PÁG. 8 SANTUÁRIOD E A P A R E C I D A

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Dislexia é um problema de educação ou de saúde?

Conselhos de Psicologia se mostram contra Projeto de Lei em tramitação no Senado

Eduardo [email protected]

Originada da Proposição do Projeto de Lei do Senado (PLS) 402/2008, o PL (Projeto de Lei) 7081/2010 dispõe sobre o diagnóstico e o tratamento da dislexia e do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) na educação básica.

O Projeto de Lei que está tramitando no Senado atualmente tem como relato-ra a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) e propõe amparar os alunos de escolas infantis com diagnóstico e tratamen-to, porém o Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo e o Conselho Federal de Psicologia se mostram contra o PL.

A presidente do Conselho Regional de Psicológia do Estado de São Paulo, a psicóloga Carla Biancha Angelucci, explica que há grande polêmica no meio científico a respeito do diagnóstico da dislexia, das possíveis causas e das propostas de atendimento à população que supostamente apresenta esse trans-torno.

Ela entende que é essencial abrir espaço para que os diferentes profis-sionais, de diversas áreas da ciência que lidam com os processos de aprendiza-gem e de escolarização, possam trazer suas contribuições.

Segundo a psicóloga, esses processos devem ser entendidos contextualmente, ou seja, para se pensar o motivo pelo qual uma criança ou adolescente não está apresentando desempenho adequa-do, é necessário considerar o sistema educacional, as relações entre profes-sores e alunos, as condições de trabalho do educador, a relação entre escola e comunidade e o sentido das atividades educacionais para os alunos.

Outro ponto refere-se ao fato de que o diagnóstico e o tratamento de proces-sos saúde-doença não deve ocorrer na escola, posto que é de competência do SUS, Sistema Único de Saúde. “Mesmo havendo críticas em relação à garantia de atendimento em saúde, não é deslocando para o sistema educacional os atendimentos em saúde que teremos uma melhora nas condições de atenção à população.”

Como Presidente do Conselho Regional de São Paulo, Biancha posi-ciona-se contrariamente a esse projeto de lei e a inúmeros outros que mantêm a perspectiva reducionista dos proble-mas de escolarização, que propõem diagnóstico e tratamento nas escolas e que desconhecem as especificidades da atuação do psicólogo nos contextos educacionais.

“Temos realizado inúmeros debates com profissionais da saúde e da educa-ção, audiências públicas, bem como apresentação de propostas substitutivas a esse modelo.”

Sistema educacional em questão“O projeto em si traz um equívoco

de compreensão muito importante, na medida em que culpabiliza a crian-ça pelo mau desempenho escolar. O projeto não enfrenta, de fato, as condições de ensino na escola brasi-leira.”

A psicóloga desabafa que a educa-ção no Brasil mantém historicamente números muito altos referentes a mau desempenho, evasão e desinteresse pelos processos escolares: “Os proble-mas escolares devem ser enfrentados a partir de mudanças profundas no processo de escolarização e não podem ser atribuídos a doenças ou transtornos individuais”.

Partilhando da mesma ideia, a psicó-loga Marilene Proença, membro do Conselho Federal de Psicologia, revela que há uma preocupação, pois se atribui a profissionais de saúde lidar com ques-tões pedagógicas.

Para ela, há uma distorção no que vem acontecendo no campo da psicologia escolar e educacional, que defende principalmente uma posição de que questões de alfabetização e escolares precisam ser melhoradas do ponto de vista do funcionamento da escola.

“Nosso foco é que precisa ser melho-rada a qualidade da escola, ter professo-res cada vez mais qualificados, número menor de crianças por sala, para que elas possam ser alfabetizadas. Nós preci-samos é de uma escola que responda com qualidade ao processo de alfabe-tização.”

Marilene contesta pesquisas que revelam que há entre 5% e 17% da população com o distúrbio: “Isso seria uma epidemia de leitura e escrita, ou seja, está nomeando-se um núme-ro de crianças que estão com algum tipo de dificuldade no seu processo de alfabetização como portadores da deficiência”.

Para ela isso deve ser analisado por que tantas crianças estão chegan-do no 3º e 4º ano dessa forma, e qual o suporte educacional que está sendo dado a essas crianças: “Não se trata de você alfabetizar de forma dife-rente as crianças, e sim oferecer a melhor educação possível para todas as crianças que estão entrando na escola”.

O aumento do consumo de medicamentosDe acordo com Marilene Proença,

pesquisas revelam que no Brasil, do ano 2000 para cá, o consumo de medi-camentos para tratamento de dislexia e transtornos de atenção subiu de 70 mil caixas para 2 milhões. Um aumento de 1.600%.

Para ela o que ocorre é o uso da medicação como instrumento para prender o foco de atenção na sala de aula.

“Considera-se que a criança não está alfabetizada, faz-se um diagnóstico de que ela tenha algum tipo de transtorno de déficit de atenção e medica-se essa criança, acreditando que esse remédio vai ajudá-la a ter mais atenção na sala de aula.”

A psicóloga ainda alerta que o Brasil é o segundo maior consumi-dor desses medicamentos, perdendo apenas para os Estados Unidos. E se mostra preocupada, pois a composição desses remédios traz efeitos colaterais, como vômitos, dor de cabeça, taqui-cardia e insônia.

No SenadoA assessoria de imprensa da relato-

ra do projeto, deputada Mara Gabrilli, diz não ter retomado ainda os traba-lhos sobre esse PL, que no ano passa-do estava na mão de senadores que terminaram o mandato.

Apenas no dia 19 de maio, a Comissão de Educação e Cultura (CEC), no Senado, publicou oficial-mente quem seria a nova relatora do projeto.

Mesmo sofrendo críticas por parte dos conselhos, a assessoria de imprensa informa que a deputada Mara é a favor do PL e pretende dar continuidade ao processo.

Biancha Angelucci é a atual presidente do Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo

Marilene Proença opina que quando se atribui a dislexia a crianças que não estão suficientemente alfabetizadas, na verdade a escola está negando o papel que ela tem de avaliar e melhorar a qualidade da alfabetização

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