Painel 66

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Revista laboratório dos alunos de Jornalismo da Unimep - Outubro de 2010

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carta do editor

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ExpEdiEntE

Órgão Laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep

Reitor:Clóvis pinto de Castro

Diretor da Faculdade de ComunicaçãoBelarmino Cesar Guimarães da Costa

Editores:paulo Roberto Botão eRosemary Bars Mendez

Editores Assistentes:Mayara BanowVanessa Haas

Editor de imagem e Fotografia:Zamir de Bellis Júnior

Redatores:Aline JoaquimÂngela Silva

Camila GusmãoCarla Bovolini

daniane GambarotoGislanie Bettin

Kaleo AlvesMariana AlonsoMariana BlancoMayara Veiga

Mônica Camolesinatali Carvalho

patrícia EliasRafaela Barboza

Raphaela Spolidorothiane Mendieta

diagramação e Arte Final:Sérgio Silveira Campos

Correspondência:Faculdade de Comunicação

Campus taquaral, Rod. do Açúcar, km156 - caixa postal 68 – CEp 13.400.911

telefone: (19) 3124-1677

Neste início de século XXI e deste novo milênio o mundo passa por transformações profundas em muitos campos, sobretudo no que se refere aos processos de comunicação. As novas

tecnologias da informação promovem verdadeira revolução, alteram as noções de tempo e espaço e principalmente permitem a aproximação entre diferentes povos e culturas.

Mas, será que todas estas mudanças têm implicado também em aumento dos níveis de cooperação e solidariedade entre as pessoas? O avanço tecnológico ocorre em todas as áreas, permite o desenvol-vimento de técnicas e medicamentos de largo alcance e capazes de enfrentar com muita eficácia doenças antes consideradas sem cura ou sem tratamento. Mas, estes benefícios atingem igualmente as pessoas de diferentes continentes e classes sociais?

Ao que tudo indica, infelizmente, o século da comunicação e dos avanços tecnológicos não beneficia a todos da mesma forma e os avanços não se estendem igualmente entre os países e suas popula-ções. Esta situação provoca, sem dúvidas, muita ansiedade e coloca em situação de alerta um contingente enorme de pessoas, sobretudo a juventude dos países pobres e com baixos níveis de desenvolvimento, que teme pelo futuro em um mundo marcado por tantas transforma-ções e incertezas.

Soma-se a este cenário de incertezas provocadas pelas mudanças tecnológicas, sociais e políticas, a preocupação crescente com os impactos da ação do homem sobre a natureza. Fenômenos naturais continuam a assolar diferentes regiões do planeta, com terremotos, tsunamis, transbordamento de vulcões, enchentes, vendavais e toda a sorte de atividades da natureza que resultam tragédias e atingem em muitos casos milhares ou centenas de milhares de pessoas.

As respostas a este cenário, felizmente, não são sempre as mes-mas e em muitos casos permitem especular que os avanços poderão também ocorrer nos campos ética e do respeito à vida, dos relaciona-mentos humanos e da capacidade de indignação frente à desigualdade e injustiça. Não são poucas as iniciativas profundamente marcadas pelo sentimento de solidariedade, pela capacidade do ser humano de se mobilizar em defesa do outro e da necessidade de se buscar um mundo melhor para todos.

É destes temas que trata esta edição da Painel, do medo que assola setores amplos da humanidade, mas também da capacidade infinita de solidarizar-se que caracteriza e enobrece este mesmo ser humano.

Boa leitura a todos.

A solidariedade como resposta

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Mayara Banow

[email protected]

Vanessa haas

[email protected]

Bacharel em teologia e mestre em Ciências da Religião, o reverendo nilson da Silva Júnior, paranaense e pai de dois filhos, fala sobre os

dilemas da sociedade contemporânea, sobretudo os medos que afligem as pessoas e a solidariedade que muitas vezes brota de onde menos se espera. pastor metodista há 10 anos, atualmente agente pastoral da Universidade Metodista de piracicaba, o reverendo nilson recebeu a equipe da Painel no dia 21 de junho, às 15 horas na pastoral da Unimep, um ambiente tranqüilo e silencioso. Aos que pretenderem, após a leitura deste texto, saber mais e acompanhar a sua produção, fica a dica para a leitura de seu blog pes-soal, no qual aborda temas ligados à ética e religião: www.revnilsonjr.wordpress.com.

O ser humano nasceu para ser solidário

Responsável pela pastoral universitária da Unimep, o

reverendo Nilson da Silva Júnior fala sobre os dilemas da sociedade

contemporânea

entrevista Nilson da Silva Jr

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As pessoas precisam de atenção, precisam se sentir incluídas,

precisam fazer parte de um grupo”

Zamir de Bellis

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“A instabilidade e o medo te impedem de ser solidário”

Zamir de Bellis

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O senhor acredita que atualmente exista

solidariedade entre os homens?Eu acho que existe. Ela existe sempre, ela faz

parte da vocação humana, o ser humano por si só já é solidário. Várias vezes a gente se depara com essas manifestações, não só na mídia, as pequenas ações demonstram isso. Eu acredito que a solidariedade é um sentimento, é uma continuidade dentro da manifestação humana, ela age com bastante frequência.

Como o senhor enxerga a prática da soli-dariedade?

nós temos que entender um pouco o que significa solidariedade, que é basicamente você desejar ao outro o que você também deseja para si. É como a misericórdia, que é você sentir a dor do outro, se colocar no lugar no outro. A solida-riedade é tentar equiparar os níveis de igualdade, de dignidade do mundo de uma forma que seja suportável. O mundo sempre está se manifestando através da solidariedade, só que às vezes buscamos isso de forma maciça. Acho que essa manifestação social, institucional ela é mais complicada, às vezes não vemos isso. nós esperamos muito da igreja, do governo, das pessoas, mas na verdade o que faz de fato a solidariedade acontecer é a nossa relação como pessoa, como ser humano. isso acontece de uma forma bem expressiva.

O medo é outro sentimento muito presente na atualidade. Como o senhor percebe esta rea-lidade, como isso influencia a vida das pessoas?

O medo é resultado de qualquer responsa-bilidade na vida humana. Você tem medo por vários motivos, em vários momentos, mas ele acontece quando a pessoa não está tranquila, é uma intranquilidade, algo que remete à pessoa, à instabilidade e de uma forma geral a sociedade é e vem se tornando cada vez mais instável. Alguns acreditam que a instabilidade é um grande canal para a evolução. Alguns teólogos, como Edgard Morin, acreditam que essa instabilidade ajuda na construção dos valores de uma sociedade. Com essa instabilidade tudo o que a sociedade acreditava - governo, leis, as religiões, os princípios - passa a não acreditar mais. Então na verdade, o medo faz parte desse contexto, ou seja, a gente tem medo por que vivemos numa sociedade de incertezas, e por estarmos intranquilos, ficamos amedrontados diante de todos os perigos que possam acontecer conosco, nós vivemos em uma condição de medo.

E como a sociedade pode reagir a isso?Quando começarmos a pensar no medo

a partir da solidariedade ou a solidariedade a

partir do medo, então podemos imaginar que o medo é um grande incomodo para que aconteça a solidariedade. por exemplo, se alguém bate na sua porta às 11 da noite você vai sentir medo sem saber se aquela pessoa precisa de uma ajuda. A ins-tabilidade e o medo te impedem de ser solidário. trazendo para o campo religioso, a Bíblia diz que muitos receberam anjos, e ai pensamos que hoje em dia é difícil receber até anjos, por que se você não coloca uma pessoa que está na sarjeta dentro da sua casa, ajudá-la ou dar um banho por medo, como vamos receber anjos. É essa instabilidade que causa isso, criando o medo e atrapalhando a solidariedade, e deixando as pessoas cada vez mais isoladas. Os laços se tornam cada vez mais frágeis e nos tornamos pessoas inseguras.

Diante dos acontecimentos, das grandes tragédias mundiais o senhor acha que o homem se tornou mais solidário de uns tempos pra cá?

no meu ponto de vista, o homem é tão solidário quanto ele sempre foi. Quando você vê manifestações de grandes proporções, como a dos terremotos que ocorreram no Chile, no Haiti, você imagina quantos milhões estão sen-do investidos, artistas se mobilizando por uma causa, então acredito que existam muitas coisas por trás disso, não é só um ato de solidariedade por si só, existem laços políticos nessas ações. Os milionários também se sentem incomodados com as necessidades dos outros, existe uma res-ponsabilidade social. dentre desses contextos existem motivações que não são somente puras, a solidariedade acontece, mas nessas grandes ma-nifestações existem outras causas por trás delas.

Em sua experiência pessoal é comum as pessoas buscarem a igreja e a religião para acalmarem ou controlarem o próprio medo?

É muito comum. nós vemos hoje pessoas desestabilizadas por conta dessa sociedade que remete ao medo e pessoas que não tem uma refe-rência de princípios por si só e então elas recorrem não somente às igrejas, mas aos mais diversos meios de apoio. As pessoas precisam de atenção, precisam se sentir incluídas, precisam fazer parte de um grupo. E como elas não conseguem isso seja dentro de casa ou dentro da empresa, elas vão em busca das igrejas e estas acabam sendo um centro de ajuda, o que disvirtua o papel da igreja. Ela acaba sendo aquela que tem sempre uma resposta acolhedora, boa, bonita e barata (risos), e por outro lado disvirtua o papel da própria pessoa, que não quer estruturar a sua vida, a sua família e acaba correndo para essas instituições. O modelo de religião que existe hoje é diferente do que existia há tempos. Hoje você vê uma propagação

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muito grande da igreja da mídia, que você assiste em casa, não precisa se relacionar com pessoas e nem fazer parte daquilo. A instabilidade da sociedade faz com que as pessoas busquem essas instituições, mas não que as soluções que são en-contradas sejam coerentes com aquilo que seria a proposta de uma religião, que teria o papel de uma orientação, de uma provocação, um papel de questionamento que hoje em dia não vemos. Mui-tas vezes vemos uma religião do mercado, onde quem sorri mais acaba tendo maior de audiência. Historicamente, a primeira igreja, a de Cristo, ela tem um papel de questionamento. Hoje a igreja se importa se você contribui e não como está sua vida, não se interessa em mudar sua vida. isso é uma forma de solidariedade, é ajudar a pessoa a ter uma dignidade.

E pensando pelo lado oposto, na sua experiên-cia o senhor acha que esses medos, fobias ou an-gústias podem afastar a pessoa da religião, da fé?

Acho que pode, é um caminho equivocado, porque a fé, a espiritualidade serve para consertar a estrutura da gente, e como vivemos em uma so-ciedade em que a fé sofre preocupações, as pessoas se decepcionam e ficam com medo da fé. Já ouvi pessoas dizerem que têm medo de quem frequenta igreja, têm medo por que conhecem como algo moralista, falso, explorativo e comercial e ai vem o medo de ficar aprisionado em pré-conceitos. É equivocado, estamos aceitando religião que não é religião, família que não é família, deus que não é deus e ai os grandes pontos de apoio da sociedade acabam se estreitando, nós os estreita-mos. temos que ser claros, prestar atenção nos princípios, nos reencontrar com eles.Os valores da relação entre homem e mulher, a amizade, relacionamentos profissionais, ver o que é traição, mentira, dignidade, respeito. devemos aprender tudo isso como sociedade.

O senhor acredita que diante de tantas tra-gédias as pessoas podem perder a fé?

Acredito que, diante de tragédias, algumas pessoas perdem a fé e outras fortalecem a fé. Existem vários depoimentos de pessoas que se lançaram na incerteza da fé para acreditarem em algo que lhes fortalecesse diante do caos. não podemos dizer que não existe quem fique prostrado e desanimado diante do fracasso, mas há um número substancial de pessoas que encon-tram na fé força para superar seus problemas. Se considerarmos fé como engajamento em uma comunidade eclesial, podemos, sim, aceitar a possibilidade dessa ‘perda de fé’ como decep-ção ou desilusão, contudo, mesmo nesses casos, creio que as pessoas se firmam ainda mais em

“Acredito que, diante de tragédias, algumas pessoas perdem a fé e

outras fortalecem a fé”

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suas convicções e crenças, numa reorganização de suas próprias certezas.

neste caso, a ‘perda da fé’ pode significar um encontro com as verdadeiras convicções e não perda de sentido ou firmeza.

Na sua concepção, o que define o ato de solidariedade?

O ato de solidariedade é você olhar se alguém está precisando de você. na Bíblia diz que certa vez chegaram para Jesus e perguntaram: “O que eu faço para ganhar a vida eterna?”. E Ele res-pondeu: “Amará a deus sobre todas as coisas e o teu próximo como a ti mesmo”. Esse amor ao próximo é para com qualquer pessoa que você conheça, seu vizinho, teu colega de trabalho, quem trabalha para você. isso é a síntese da so-lidariedade, é você olhar para o próximo e ver que ele precisa de uma ajuda, um conselho, você quer resgatar o que a pessoa tem de melhor, você se preocupar realmente com ela. É acontecer uma mobilização.

E como o senhor define o medo?para mim, medo é a crise de certeza diante

do improvável, do incerto. É um desconforto, uma dúvida, uma desesperança de que as coisas estão bem, estão certas e garantem tranquilidade.

E por que este medo crescente na atuali-dade?

primeiramente, acredito que o medo é um estado permanente das sociedades.

não há quem não tenha medo, há quem saiba lidar com ele, ou o ignore. também acredito que o medo não seja necessariamente ruim, uma vez que ele nos ajuda a entendermos limites e, assim, preservar nossa vida e sentimentos. As pessoas têm medo da dor, da ausência, da fome, da perda. São esses medos que nos ajudam, por exemplo, a cuidarmos da nossa saúde, a mantermos es-táveis nossos relacionamentos, a trabalharmos para termos como suprir nossas necessidades, a cuidarmos de quem amamos. não acredito em ‘medo crescente’, mas em medo presente. O medo, para mim, é um sentimento natural, ne-cessário e um sentimento com o qual precisamos aprender a conviver.

A gente precisa se apegar realmente a uma procura do que seja a essência da nossa vida, os nossos valores. A religião é um deles, ela vai agir diretamente sobre tudo isso, ela vai dizer que devemos ter uma vida de solidariedade e vai trazer uma esperança de viver uma vida sem medo, vai trazer uma confiança. não nos deixar levar pelas aventuras, as vezes elas nos custam caro. devemos ter um equilibrio.

Zamir de Bellis

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sumário

Sob Alerta 12Moradias colocam vidas em risco 16Tragédias previstas e ignoradas 19Chile: o país dos tremores 22Paixão pelo radical 24Luz, câmera... tensão 27Era uma vez, o bicho-papão 30Lucro responsável 32Mudança de hábito 34Harmonia e bem estar 38‘Eu quero comer ingá’ 404º Simpósio de Jornalismo 42Artigo – O caminho da verdade 44Crônica – Eu tenho medo, e você? 46

Nossa Capa:A ilustração da capa desta edição da Painel foi produzida pelos estudantes Eduardo Mosca, Thiago Cezarino, Rafaela Stenico e Vinicius Giacomini do 1º semestre do Curso de Design Gráfico da Unimep, na disciplina Tipografia, sob orientação do professor Renato Elston Gomes

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Aline Joaquim

Divulgação Arquivo Bombeiros de Valparaiso

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oPiNiÃo

Mayara Banow

[email protected]

Em 2010, o mundo tem enfrentado tragédias ter-ríveis, boa parte delas provocadas por fenômenos incontroláveis da natureza. As mais recentes no

Brasil foram as enchentes em Alagoas e pernambuco que destruíram a vida de milhares de brasileiros.

Mortes e desaparecimentos de dezenas de cidadãos e os incontáveis desabrigados, chamaram a atenção de políticos do país e de outras nações, entre eles Hugo Chávez, o famoso ditador venezuelano.

no caso de Alagoas e pernambuco, os estados rece-beram doações de todos os cantos do país e do mundo. As ações de solidariedade incluíram o oferecimento dos mais diversos tipos de ajuda. As pessoas oferecem de alimentos a material de limpeza, na esperança e boa in-tenção de ajudar os próximos a superar essa calamidade.

Estas atitudes nos levam a refletir sobre o compor-tamento das pessoas. E muitos devem se questionar:

será que somente situações horrorosas como estas é que levam o ser humano a se torna solidário? Será que não somos solidários em nosso coração e alma? Será que não temos compaixão pelo próximo?

pensar desta maneira seria muito triste, seria praticamente o começo do fim do mundo. É melhor acreditar que a solidariedade e a compaixão indivi-dual apenas ficam mais nítidas e aparecem aos olhos da sociedade em determinadas situações, mas estão também presentes no dia-a-dia de todos. Seria como se uma calamidade pública tivesse a função de uma lupa, onde tudo aumenta e se nota. dessa maneira, a solidariedade e compaixão entre os homens existem, a diferença é que sem as tragédias elas se tornam invisíveis, imperceptíveis diante do mundo corrido em que vivemos.

por fim, vale registrar que catástrofes, estados de calamidade, tragédias naturais e humanas sempre vão existir, quer o homem queira ou não. por quê? A res-posta a deus pertence.

O começo do fim do mundo

Vanessa haas

[email protected]

Este ano o Brasil presenciou o desfecho do que pode ser considerado como um dos julgamentos mais esperados da história. Exatamente dois anos após o

assassinato da menina isabela nardoni ,5, na Zona norte de São paulo, a população acompanhou os cinco dias que iriam condenar ou não os até então suspeitos pelo crime, o pai Alexandre nardoni e a madrasta Ana Carolina Jatobá.

desde o ocorrido, milhares de pessoas se pergunta-ram se era possível um pai cometer um ato tão violento contra a integridade de um filho. Claro que é difícil acreditar, mas este não é o primeiro nem o único caso que existe. Muitos deles, infelizmente, não chegam a ter cobertura da mídia e não são sequer mencionados nas páginas policias dos jornais.

Apontar diversas vezes para o fato e julgar é simples, mas por acaso você sabe se o seu vizinho já fez algo contra uma criança? Sabe se aquele seu verdureiro de confiança já levantou a mão para a filha? Aos nossos olhos tudo parece história de um livro de suspense ou de uma série policial da televisão.

por todos os estados brasileiros já aconteceu ou está acontecendo nesse minuto um crime contra uma crian-ça. Até mesmo aqueles que rezam e pedem clemência pela alma dos pecadores, que julgam as atitudes “mons-truosas” desses pais, estão abusando dos pequeninos. padres e pastores pregam contra o pecado, o crime e a violência, mas muitos hoje se vêem sob acusação e en-volvidos em casos de violência e desrespeito a crianças.

O alarde feito quando a pequena isabela foi jogada do sexto andar de um prédio é um caso entre milhões. Outras tantas crianças foram jogadas ou pior, e não receberam nem uma linha no obituário, nem uma nota nos jornais, nem uma pequena chamada no rádio. ninguém mais se espanta com isso, é a pura realidade.

Claro que em alguns casos a justiça é feita, com es-forço mais é. diante das fortes evidências e das provas incontestáveis o casal (pai e madrasta) foi condenado a 31 e 26 anos de detenção; mas e quanto aos outros que até agora permanecem soltos? E quanto aos represen-tantes das instituições religiosas, que teimam em querer ensinarem e se desviam do próprio caminho?

Bem caros amigos, já que o maremoto nardoni acabou vamos deixar de lado o resto, pois são pequenas marolinhas.

Julgando para não ser julgado

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SOB ALERTASOB ALERTA

Predisposição, traumas de infância e estresse em níveis críticos estão entre as causas da maioria das fobias

aNsiedade

merações e podem até evitar a saída de casa. Siqueira esclarece que o objeto do medo não é a multidão em si, mas uma angústia antecipada de passar mal e não conseguir escapar a tem-po. “Existe a formação de um ciclo vicioso, a fobia de ter fobia, e isto forma um processo de retroalimentação”, diz.

O relato da universitária Roberta Consoe-magno pescim – que sente desconforto, falta de

Ângela silVa

[email protected] JoaquiM

[email protected]

Falta de ar, palpitações, desconforto no pei-to, tontura, formigamento, ondas de calor ou de frio, sudorese, sensação de desmaio,

tremores, sensação de sufocamento e de falta de realidade, medo de morrer, de enlouquecer ou de perder o controle. Esses sinais fazem parte das manifestações sintomáticas de um transtorno de ansiedade ligado ao medo irracional e exagerado, a fobia. de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 14% da população mundial já experimentou alguma reação fóbica.

provavelmente você já sentiu alguns dos sintomas descritos acima, mas não se desespere, pois eles são sentimentos comuns a todo ser humano, ligados aos instintos de sobrevivência. O que diferencia o medo normal do medo mór-bido é o objeto ou situação que desencadeia as reações. “O fóbico sente um temor doentio em relação a objetos ou situações que, normalmen-te, não são objetivamente perigosos. Ele passa a evitá-los, alterando a sua rotina de vida”, explica a psicóloga clínica e professora de psicologia da Unimep Maria dolores Alvarez.

A palavra fobia se origina do termo em latim “phobos”, relacionado à personagem da mitolo-gia grega com o mesmo nome, que simbolizava o temor. A lenda diz que o deus phobos injetava a covardia nos corações dos inimigos, fazendo-os fugir. A reação dos fóbicos, segundo o psiquiatra Jussieu Roberto Siqueira, não é muito diferente, pois eles recorrem à fuga ao se depararem com o objeto temido. “O indivíduo decide não en-frentar as situações que considera ameaçadoras, o medo patológico paralisa”, afirma.

A OMS divide as fobias em três tipos: ago-rafobia, fobia social e fobias específicas. Os agorafóbicos têm medo de não conseguirem escapar para um local seguro diante de aglo-

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Trauma ou carga genética?

Várias linhas da psi-cologia defendem causas diferentes para o desen-cadeamento das fobias. O pai da psicanálise, Sigmund Freud, abordou o assunto já em 1909, no texto “O pequeno Hans”, sobre um menino de cinco anos que sofria de fobia de cavalos, hoje chamada equinofo-bia. Freud descobriu que o problema de Hans se relacionava ao complexo de Édipo: o menino tinha um receio inconsciente de ser castigado pelo pai por causa do amor que sentia pela mãe. “Freud concluiu que toda fobia é conse-qüência de uma angústia mais profunda, que nem sempre tem relação direta com o objeto do medo”, afirma o psiquiatra Jussieu Roberto Siqueira.

Ele assinala a existência de uma predisposição gené-tica às fobias, percebida em alguns de seus pacientes. Além disso, muitos passa-ram por situações marcan-tes no passado. “É o que chamo de fobia instalada, quando em algum momento da vida a pessoa passou por um processo de extremo perigo e passa a ter reações fóbicas em situações ou con-textos semelhantes”.

Siqueira destaca ainda a influência da alta com-petitividade do mundo

atual. “O estresse em níveis críticos pode estabelecer um desequilíbrio dos neu-rotransmissores, desenca-deando reações fóbicas”, explica. nessa mesma linha de pensamento, o profes-sor de filosofia Edivaldo Bortoleto acredita que a própria rotina da sociedade contemporânea capitalista contribui para o desenvol-vimento de algumas dessas fobias. isso porque o tempo atual é marcado pelo ime-diatismo, pela cobrança e pela convivência com situações de violência em relação ao outro. “Muitas pessoas não conseguem processar todos esses ele-mentos e apresentam for-mas de medos patológicos, incapacidade de lidar com a dor, com a perda e com a derrota”, ressalta.

Os especialistas, feliz-mente, garantem: os trans-tornos fóbico-ansiosos têm cura. “O primeiro passo é reconhecer o problema e buscar tratamento”, en-fatiza a psicóloga clínica Maria dolores

Maria Dolores destaca ser importante admitir o problema

Fotos: Aline Joaquim

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ar e queda de pressão quando está em meio a uma aglomeração de pessoas – ilustra o estágio inicial da agorafobia. “pagar conta em banco lotado parece a coisa mais normal do mundo, mas eu já precisei sair do local só pelo fato de ter muita gente”, lembra.

A maioria das pessoas que sofrem de ago-rafobia apresentam também o transtorno de pânico. Embora não se trate especificamente de uma fobia, a síndrome do pânico também é um transtorno de ansiedade, no qual o objeto de temor não fica claro. “Ocorre que os pacientes que desenvolvem a reação de pânico passam a ter medo da situação que a instalou”, explica o psiquiatra Siqueira.

Suspensão de atividades como inglês e bal-let, ausências na faculdade, distanciamento dos amigos. Essas foram as consequências do

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Cardápio di versificadoAcrofobia, tecnofobia, arac-

nofobia... escoto, gamo, miso, acaro, climaco... fobia. todos esses termos peculiares refe-rem-se ao terror incapacitante cujo objeto ou situação são conhecidos. São as chamadas fobias específicas, que incluem desde o medo de animais ino-fensivos até o pânico de inje-ções ou lugares fechados.

Mas quem não se sente incomodado ao ver uma cobra venenosa no zoológico? Ape-sar da sensação, neste caso, não constituir especificamente uma fobia, já que se trata de um animal potencialmente pe-rigoso, o medo que a estudan-te Caroline Solano Moreira, 19, sentia em relação ao réptil era de fato limitante. “Come-cei a ter pânico de ver cobras até mesmo em imagens”. Ela conta que passou a desenvol-ver sintomas físicos, como aceleração cardíaca, tremores e choro, além de verificar constantemente os lugares ocultos, tais como o vão do guarda roupa e embaixo da cama. depois de passar por uma depressão não relaciona-da a essa fobia, Caroline teve acompanhamento psicológico e superou o problema.

palpitação e ansiedade ao menor sinal de trovoadas. Esse é o sentimento relatado por Jesulina Oliveira de Souza, que por trabalhar como arte-sã ao ar livre tem verdadeira aversão a chuvas. Jesulina se enquadra no grupo de pessoas que apresentam a chamada ombrofobia, ou seja, o medo de chuvas ou tempestades. O problema começou depois de

ter enfrentado um temporal, que destruiu grande parte das mercadorias de sua barraca de artesanato, montada na praça José Bonifácio, em piracicaba.

para o terapeuta Marcos Brenelli, as fobias específicas são consequências de situa-ções vividas na infância. É o caso de Francine tavares Guimarães, 33, que viveu uma situação de afogamento quando tinha 13 anos e hoje sofre de hidrofobia. “Quando isso ocorre é hora de procurar ajuda”, afirma o terapeuta. Mas essa hora nem sempre é reconhecida por essas pessoas, como destaca a psicóloga Ma-ria dolores: “A maioria não se sente afetada em sua rotina porque o objeto fóbico não faz parte dela. Uma pessoa pode ter medo de avião, mas nunca precisar voar, ela se adapta”, explica.

Há histórias que refletem o constrangimento vivido pelos portadores de fobias específicas em situações co-tidianas. Maria das Graças Brás, 55, sempre se sentiu incomodada com escadas ro-lantes. “durante uma viagem, entrei em pânico ao perceber que a escada rolante era a única opção de subida dentro de um shopping. O local não tinha escada comum. deixei os seguranças nervosos, eles tiveram que desligar a escada para que eu pudesse subir”, conta a dona de casa.

ter que usar a escada co-mum em shopping centers também é uma situação en-frentada pela auxiliar ad-ministrativa Eliane Roberta

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transtorno de pânico na vida da estudante de veterinária Luísa dos Santos Almeida, 22. “Eu perdia o raciocínio lógico e queria fugir da situação de qualquer maneira. Minha vida social praticamente acabou”, conta. Ela já convivia com a esquizofrenia desde os 17 anos, com quadro de alucinações e depressão. Aos 18, quando ingressou na faculdade, o transtorno se manifestou, mas só três anos depois admitiu que precisava de tratamento. “Os surtos de esquizofrenia passaram, mas ainda sinto um medo absurdo e sem sentido de ir à faculdade”.

Hoje, Luísa toma cinco diferentes me-dicamentos de uso controlado e passa por acompanhamento terapêutico. “tento abstrair pensamentos relacionados ao medo e procuro me ocupar com atividades que me dão prazer”. A estudante mantém um blog na web [abasede-rivotril.blogspot.com], onde fala sobre os dois transtornos e discute situações que viveu, como o preconceito. “tive muito apoio dos meus fa-miliares, mas também ouvi de muita gente que era frescura”, desabafa.

Geralmente, costuma-se associar o transtor-no de pânico a pessoas solitárias e anti-sociais. A história de Fabrizio pellicciotta prova que esse pensamento é equivocado. Jovem, cer-cado de amigos, carismático, ele desenvolveu o transtorno após a morte da mãe, em 2007, quando passou a sentir dores estranhas no corpo, medo indiscriminado e ansiedade. “Eu pensava que estava morrendo, tinha medo de sofrer um infarto repentino, de me acidentar dirigindo”, lembra. pellicciotta chegou ao ponto de despertar em pânico no meio da noite, ligar o carro e acordar o irmão pedindo que o salvasse da morte. “Fiz tudo isso enga-tinhando, literalmente. Seria cômico se não fosse trágico”.

Apesar das tentativas, o caso de pellicciotta não foi curado com medicamentos ou acompa-nhamento psiquiátrico. “Eu não queria usar re-médios de tarja preta. Achava isso um ultraje!”, conta. Ele procurou um tratamento alternativo, a terapia quântica, que lança mão de progra-mação neurolinguística e regressão consciente, se recuperou em pouco tempo e hoje trabalha informalmente com o procedimento. Segundo o terapeuta Marcos Brenelli, diretor do Centro de tecnologia Quântica em Campinas, no caso das fobias o processo consiste em identificar a origem e reprogramar a forma como a pessoa interpreta o evento fóbico.

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Cardápio di versificadoVidal, 17. “ninguém conse-gue entender o porquê desse medo, mas é real. tenho a sensação de que vou ficar enroscada, que ela vai falhar”, conta. Só recentemente Eliane superou outro problema, a claustrofobia – medo mórbido de espaços fechados ou aper-tados – que sentia dentro de elevadores. “Eu não entrava. passava muito mal, suava, sentia calafrios”.

Timidez descontroladaJ.A.M., 16, só precisava

responder a uma questão simples feita pelo professor na aula de História. “Eu sabia a resposta, mas travei. Só senti meu rosto pegando fogo e o frio na barriga. Sempre evito o olhar do professor pra não ter que passar por isso, ser o centro das atenções”. O caso relatado pela estudante do 1º ano do ensino médio se enquadra no segundo tipo dos transtornos fóbico-ansiosos, a fobia social, caracterizada pelo medo exagerado de ter sua capacidade julgada pelo outro, em situações como falar ou comer em público, assinar documentos na pre-sença de outros, estacionar o carro, ser fotografado ou ir a um encontro amoroso. nem é preciso dizer por que a es-

Objetos ou situações sociais provocam diferentes tipos de medos

tudante não quis ter o nome divulgado e muito menos ser fotografada.

A psicóloga Maria dolores aponta a diferença entre o transtorno e a timidez nor-mal: “todos apresentamos nervosismo em determinadas situações, o que vai diferenciar é a intensidade e a reação da pessoa. Você pode ter aquela tensão normal de apresentar um trabalho na universidade, mas se o desconforto é tão grande a ponto de você não ir mais à aula, se caracteriza uma fobia”. Ela afirma ainda que a fobia social geralmente está associada a outras patologias, como depressão e alcoolismo. “O simples fato de iniciar ou manter algum tipo de conver-sação já é um grande desafio ao fóbico social, que muitas vezes abusa do álcool como uma espécie de automedica-ção equivoca-da”, diz.

Mayara Banow

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caMila gusMão

[email protected]ícia elias

[email protected]

São paulo é a maior cidade da Amé-rica Latina. Com uma população que ultrapassa 11 milhões de

habitantes possui, segundo a Fundação Getúlio Vargas, déficit habitacional de 1,5 milhão de moradias. A população que vive em situação de risco na capital equivale ao número dos moradores do estado de tocantins.

A família de Cícero Jorge da Silva, 39, casado com Maria José da Silva, 30,

O constante medo que moradores de São Paulo enfrentam de perderem o seu lar

reside, com seus nove filhos, na favela da Rocinha no parque de taipas. integra o contingente de pessoas que vivem em moradias de risco na capital paulista.

Sua casa foi invadida pela água em 2008. Maria José não se esquece do in-cidente, pois Lucas um dos seus filhos, na época com três anos, foi arrastado pela correnteza e sofreu um corte no queixo. “Meu sonho é ter uma casa onde meus filhos possam brincar sem perigo de se machucar”, afirma.

As 11 pessoas moram em um barra-co de madeirite (madeira compensada) com dois cômodos, sustentado por pedras e prestes a deslizar na beira de

um barranco. Há quatro anos o casal migrou de pernambuco para tentar uma vida melhor, mas sem conseguir um emprego fixo, sobrevive dos bicos realizados eventualmente por Silva na própria comunidade.

no bairro Brasilândia, na Zona norte de São paulo, a assistente social Rosângela Seyffert trabalha atualmente com a remoção de famílias em uma área de risco. “por sorte neste caso há um projeto de urbanização de favelas, e as famílias cujas moradias serão removidas irão para unidades habitacionais constru-ídas pela prefeitura”, relata Rosângela que trabalha há 13 anos nesta atividade.

Moradias colocam vidas em riscoFo

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no primeiro contato ela procura conhecer quem são as pessoas, de onde vieram e sua história. Após esse período os moradores são alertados sobre o perigo de permanecerem no local e se o risco de enchentes ou desabamentos for iminente é solicitada a saída ime-diata. Mas, mesmo correndo risco de acidentes há famílias que não deixam suas casas, ou por terem se acostuma-do com a situação, ou por não terem onde morar. Esse é o caso de ingrid Fernandes da Silva, 23, que há 15 anos enfrenta o drama de ter atrás de sua casa um barranco, que serve como viela para os moradores, prestes a desabar.

Moradias colocam vidas em risco“Já acostumei com a situação, nem

ligo mais, já faz muito tempo que es-tamos assim. desde que estou aqui o muro nunca caiu, não vou sair, pois não tenho para onde ir”, destaca ingrid.

A estrutura do barraco em que vive está completamente comprometida. A cada chuva uma parte do barranco, que hoje possui menos de um metro de largura, desaba e segundo a moradora, a prefeitura nunca compareceu ao local para uma vistoria. A única solução para o problema é a construção de um muro de arrima (muro feito com base de concreto) que a mesma não tem condições de erguer.

Segundo a arquiteta Carolina Bloise, da Superintendência de Habitação popu-lar, que atua em urbanização de favelas, o processo para avaliar o tipo de risco existente se dá em áreas de uma ocupa-ção de encosta (áreas de deslizamentos); áreas de solapamento de margem (ocu-pação em beira de córregos e rios) ou por conseqüência de impactos de obras.

“inevitavelmente há situações que sensibilizam, seja pela condição de habitabilidade que na maioria des-tas áreas de favelas são insalubres e precárias, ou pelas histórias e perfis de pessoas que traçam uma realidade problemática”, explica a arquiteta.

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A equipe social é acionada normalmente quando acontece invasão de espaços públicos e privados ou para remoção de famílias que vivem em áreas de risco. para o primeiro caso é levantada a situação sócio-econômica da família visando à reintegração de posse. no caso de remoções, as famílias passam por entrevistas e lhes são apre-sentadas alternativas de acordo com o projeto.

“Quando atendemos às ne-cessidades da família, sentimos a sensação de missão cumpri-da, do contrário ficamos com a impressão de impotentes. A questão habitacional é complexa como todas as de primeiras ne-cessidades”, afirma Rosângela.

A técnica em elétrica Angela Maria de Melo já teve uma casa, trabalhava numa empresa multinacional e hoje, por não ter onde morar, foi acolhida na casa da dona Luzia, moradora do parque de taipas. Lá mora com suas duas filhas Gabriela e Sara num quarto “emprestado”. A depressão e a doença na família fizeram com que Angela perdesse o sentido de viver e conse-quentemente suas posses. “Estou na rua por que não consigo emprego para pagar R$100,00 num barraco de tábua com papelão aqui na favela”, relata.

A pequena casa da dona Luzia também sofre riscos principalmente com a umidade em conseqüências das enxurradas. “Eu não cobro nada delas, apenas quero ajudá-las para que não fiquem na rua”, explica Luzia.

Segundo levantamento realizado pela prefeitura em 2009, atualmente 13 mil pessoas vivem nas ruas de São paulo. Esse número cresceu aproxima-damente 50% em comparação com o último levantamento realizado no ano de 2000. Uma das alternativas para a grande quantidade da população de rua é o Centro de Convivência Jardim da Vida. Chamado de tenda o espaço é destinado à população de rua na região central de São paulo e atende diaria-mente 220 pessoas que, posteriormen-te, são encaminhados para albergues.

Solidariedade Ações solidárias como o projeto

“Habitat para a Humanidade do Brasil” visam construir moradias de emergência para pessoas em situação

de risco. Só no ano de 2007 o programa solu-cionou 40 habitações de famílias brasileiras. Com o objetivo de ajudar as pessoas a terem um lugar digno para viver o proje-to é realizado durante o período da quaresma (40 dias) e mobiliza voluntá-rios e parceiros de todo o Brasil.

Colinas da Oeste é um projeto que está em desenvolvimento desde o final do ano de 2008.

Organizado em 17 comissões tem como parceiro desde 2009 o progra-ma Habitat para a Humanidade. para junho de 2010 a organização prevê concluir 200 apartamentos, divididos em 10 blocos.

Em janeiro deste ano, o Habitat para a Humanidade e aproximadamente 200 famílias do projeto Colinas da Oeste, em São paulo, receberam mais de 100 voluntários universitários coreanos, que foram mobilizados pela montadora coreana Hyundai Motor Company.

Outra iniciativa nesta área, o projeto “teto para meu país”, é uma organi-zação latino-americana que surgiu no Chile em 1997 e desde o ano 2006 atua no Brasil na cidade de São paulo. tem como missão a construção de casas de emergência para famílias que se encon-tram em situações de risco. A etapa para construção de uma casa de emergência de madeira pré-montada de 18 metros quadrados, que dura em média cinco anos, leva no mínimo dois dias e conta com a participação de voluntários e dos próprios moradores do local.

Segundo a organização, o projeto está presente em 15 países da América Latina e durante esse período permitiu que 42 mil famílias fossem beneficiadas com casas e mobilizou mais de 200 mil voluntários. para o ano de 2010 o “teto” tem como objetivo construir 50.000 casas de emergência em toda a América Latina.

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Dona Luiza: exemplo de

solidariedade

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Mayara Veiga

[email protected] BarBoza

[email protected]

Enchente em São paulo se tornou fato corriqueiro. Basta chover forte e lá estão os paulistanos em meio a muita água e a cidade transformada em caos. Em janeiro deste

ano, o índice de chuvas foi o maior em quinze anos.E esse não é um caso isolado. Em meio às comemorações

de final de ano, em 2009, uma tragédia deixou Angra dos Reis (RJ) debaixo d’água. por conta das enchentes e desabamentos 2.284 pessoas ficaram desalojadas. Ao todo, 52 morreram, 31 tiveram ferimentos leves e nove ferimentos graves. A defesa Civil avaliou o desastre como índice quatro, o número mais alto na escala para esse tipo de ocorrência.

Defesa Civil conta com a conscientização da população para

minimizar danos das enchentes

Tragédiasprevistas e ignoradas

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Em abril, o estado do Rio de Janeiro foi nova-mente castigado por fortes chuvas, que provocaram enchentes e desabamentos. A “cidade maravilhosa” viveu o caos, com o registro de 256 mortes con-firmadas, muitas pessoas desaparecidas e centenas de desabrigados. niterói foi um dos locais mais atingidos pela forte chuva que não acontecia há 44 anos com a mesma intensidade.

Os motivos das enchentes podem ser vários: rompimento de uma adutora, abertura ou fecha-mento de barragens, entupimento, ou o mais co-mum, fortes temporais. E a situação afeta também cidades de pequeno e médio porte.

Defesa CivilEm meio a tanta chuva, e por conseqüência

muitas tragédias, quem tem trabalhado, e muito, é a defesa Civil. O objetivo do grupo é buscar ações para evitar, prevenir ou minimizar os danos à população.

O diretor da defesa Civil de Americana, Fred Alves, explica que a topografia da cidade também é um fator importante nas questões de enchente. “Americana tem uma geografia privilegiada, temos um ribeirão que corta a cidade ao meio, mas seu leito está bem abaixo do nível dos bairros”, diz.

Mesmo sendo raras, as enchentes em America-na acontecem em diversos pontos. Os locais mais afetados são as avenidas Bandeirantes e Brasil. Segundo Alves, sua equipe monitora essas áreas de risco e quando ocorre chuva acima do normal a Secretaria de trânsito é acionada para que o tráfico de veículos seja alterado.

A defesa Civil também trabalha com a ação preventiva e com a conscientização da população. Alves explica que finalizou o projeto “Ação Verão” em março, e no momento o órgão está produzindo o material que será usado para as duas campanhas

futuras: defesa Civil nos bairros e defesa Civil nas escolas. “Esses trabalhos são importantes, porque além de informar criamos nas crianças e nos adultos a percepção de risco nas situações de emergência”, afirma.

Marinho Gallo, coordenador da defesa Civil de Santa Bárbara d’ Oeste, enfatiza a importância dos trabalhos de prevenção. “nós vamos aos bairros, de casa em casa se precisar e explicamos que não pode jogar o lixo nas calçadas, que isso prejudica a eles”, afirma. Segundo Gallo, esse trabalho trouxe resultados bastante positivos. “O bairro São Fernan-do alagava toda vez que chovia, hoje já não é mais assim”. Outra atividade desenvolvida é a palestra para as crianças, nas escolas municipais e estaduais. “As crianças se interessam pelas orientações, che-gam em casa empolgadas e orientam os pais o que pode ou não fazer”.

Apesar da eficiência dessas ações, isso não impediu que Santa Bárbara enfrentasse em 2010 a maior enchente em vinte anos. Entre os dias 18 e 19 de janeiro choveu 90 mm, o que deixou muitos bairros embaixo d’água. diante da situação foi montada uma base no centro comunitário para auxiliar as famílias e fazer o encaminhamento a abrigos – aproximadamente mil pessoas ficaram desalojadas. Segundo Gallo, a maioria das vitímas ficaram nas casas de parentes. Foi decretado estado

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de calamidade pública na cidade e os gastos estima-dos para recuperação – caíram cinco pontes – são de 48 milhões. Entre as ações mais importantes está a limpeza dos locais atingidos, para se evitar a proliferação de doenças.

A equipe da defesa Civil de Santa Bárbara conta com oito pessoas e todas fazem os cursos prepara-tórios, nas áreas de primeiros socorros e ação de-fensiva. “São imprescindíveis os cursos, uma pessoa sem o conhecimento não pode fazer os resgates”, explica Gallo. Em Americana, o índice de chuvas em janeiro teve aumento de 33,6% em relação a 2009, em Santa Bárbara d’ Oeste a variação foi ainda maior, com aumento de 62,7%.

Rio Clarona cidade de Rio Claro a defesa Civil tam-

bém tem um papel importante muitas vezes não reconhecido pela população e nem pelo governo. Atua visando à prevenção de desastres, catástrofes e enchentes fazendo o mapeamento das áreas de risco do município, o mapeamento de recursos humanos como guincho, embarcações, e também está disponível e capacitada para que em caso de desastres o atendimento seja rápido e eficaz.

A colaboração da comunidade é indispensável, principalmente quando acontecem desastres como a chuva ocorrida em 25 de fevereiro desse ano. na

data choveu duas horas e meia, o esperado para um mês todo, o que exigiu ação rápida da defesa Civil.

Luiz Afonso polezi é engenheiro civil e trabalha na área de prevenção da defesa na cidade. “na chuva de fevereiro a água subiu dois metros e meio, com um volume de 116mm em questão de duas horas. isso nunca aconteceu antes em Rio Claro”, conta. polezi explica também que há cinco anos a cidade não tinha o contingente de habitantes que tem hoje. Em locais onde havia terra atualmente há cimento. Com isso a água não tem para onde escorrer e as galerias de escoamentos são pequenas para o fluxo que ocorreu.

“O setor de obras e engenharia dos municípios é responsável pela fiscalização de onde e como moradores constroem suas residências, justamente para se evitar a construção de um imóvel em lugar de risco ou de fácil inundação”, explica polezi, que lamenta a falta de estrutura.

O coordenador da defesa Civil de Rio Claro, danilo de Almeida, ainda explica que: “Apesar de não ser nossa responsabilidade efetuar salvamen-tos, temos treinamento e disposição para isso. na chuva deste ano salvamos uma família que ficou presa dentro de casa por causa da inundação e para mim foi mais que gratificante. Bens materiais nós repomos trabalhando, vidas não”.

Almeida, entretanto, desabafa: “Mas tem que acontecer desastres para que a população e o go-verno reconheçam e valorizem a nossa ação, mesmo com tudo isso eu me sinto gratificado por poder ajudar quando necessário no salvamento de vitimas como as da enchente”.

Fotos: Rafaela Barboza

Alagamento provocadanos aos imóveis, riscosà saúde e prejuízos àsfamílias atingidas

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thiane Mendieta

[email protected]

Chile, sábado, 27 de fevereiro de 2010. durante a madrugada, o terremoto de 8,8 magnitude

atingiu a parte central do território chileno. A capital Santiago tremeu durante um minuto e meio. Esse não foi o primeiro da história do país.

no ano de 1960, Sismo de Valdivia, também conhecido como Grande Sis-mo do Chile, registrou tremores de 9,5 pontos na escala de magnitude, o mais forte já comprovado cientificamente. O terremoto atingiu a parte centro-sul do país, em especial as cidades de Valdivia e Concepción.

O último tremor no Chile, antes do ocorrido este ano, foi em 8 de maio de 2009, e atingiu as cidades de Valpara-íso, Santiago e Coquimbo, com 126 quilômetros de profundidade. não houve vítimas.

Apesar do histórico de terremotos e de ser o país da América do Sul que mais sofre com esse fenômeno natural, muitos brasileiros se mudam para o território encravado entre a cordilheira dos Andes e o oceano pacífico. Sites de relacionamento unem esses estrangei-

O terremoto que assustou o mundo em fevereiro foi o segundo mais forte registrado cientificamente

ros através de comundades, como o Orkut. na denominada “ Brasileiros que moram no Chile”, participam 3.186 membros. Já no Facebook, são três grupos com o mesmo nome – um com 604 pessoas, no segundo 200 e no último 111 integrantes.

A paulista Maritza Moreas, de 42 anos, é advogada e mora há nove anos

em Santiago, com o marido, o chileno Alejandro. “As outras vezes que houve terremoto aqui, meu marido sempre se preocupava com a minha reação, e quando eu estava sozinha sentia algo como um balanço, demorava para saber o que era. no final do ano passado comentávamos com alguns amigos que já era momento de um novo terremoto, pois fazia um tempo que não acontecia”, comenta Maritza,

ChiLEo país dos tremores

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pelo programa de conversação MSn. A paulista sempre viaja ao país, por isso não sente tanta falta. “Eu sempre estou ai, por isso não chego a sentir muito. Mas se não tivesse como estar, não ficaria aqui”, garante.

Outra brasileira que vive no Chile é a manauense Fabiola Monteconrado, 37, que está desde dezembro de 2009 em Valparaiso. Esse foi o primeiro tremor que Fabiola sentiu. Atualmente a brasi-leira mora com seu namorado, chileno, e seu filho de dois anos. “Eu não poderia descrever exatamente o que senti, mas posso dizer que o pior é a sensação de impotência de não saber o que vai acontecer nos próximos segundos”, diz.

“nesta madrugada, eu tinha aca-bado de acordar para olhar meu filho. Quando voltava do quarto dele

comecei a sentir o tremor. Esperei o primeiro por uns 15 segundos e não parou. Meu namorado acordou e pediu para eu ficar embaixo da porta. Eles aprendem isso na escola, na aula de primeiros socorros, objetos caiam no chão, e me assustava com o barulho. pareceu uma eternidade e foram só cerca de dois minutos”, conta Fabiola.

A Brasileira afirma que sente falta do país tropical, principalmente de-pois do tremor. “Senti falta do Brasil. nessa hora dá um medo enorme. O pior é que não acaba aí a coisa. depois disso, tivemos tremor de terra todos os dias. O meu coração acelerava a cada tremor”, relata.

Há o inverso também. Famílias chi-lenas que moram no Brasil e ficaram desesperadas a espera de informações, como é o caso de Roberto Espinoza, que está fora de seu país há mais de 30 anos. “tentei contatar meus fami-liares através de telefone e internet. Foi desesperador ficar quase 24 horas sem notícias deles, pois estavam sem

energia elétri-ca e telefone para entrarem em contato co-migo”, diz o mecânico de 54 anos.

A jovem Monica Mendieta é filha de chilenos, atualmente mora no Chile, mas morou por cinco anos no Brasil, e afirma que tem saudade daqui ao sentir os terremotos. “todos os dias está tremendo. É terrível. Sinto falta do Brasil”, fala Monica.

para a reconstrução, vários países enviaram ajuda ao Chile, mas também o trabalho dos próprios chilenos foi fundamental. O apoio do Corpo de Bombeiros merece destaque, já que ao contrário do Brasil, na terra dos Andes, é uma atividade não remunerada, são voluntários. A responsável por distri-buir os carros para incêndios, nancy Orellana, conta como foi o trabalho durante o tremor. “Foi um pânico. A população ligava para obter infor-mações, principalmente para saber se havia muitos feridos”, diz.

Cientistas da Agência Espacial Americana (nasa), após estudos, afirmam que o terremoto ocorrido esse ano no Chile pode ter reduzido a duração dos dias na terra. Segundo informações da nasa, o terremoto pode ter encurtado a duração de um dia no planeta por cerca de 1,26 mi-crossegundos (um microssegundo é a milionésima parte de um segundo). O dado mais impressionante levantado nos estudos é sobre o quanto o eixo da terra foi deslocado pelo terremoto. Calcula-se que o abalo sísmico deve ter movido o eixo do planeta (aquele imaginário sobre o qual a massa da terra se mantém equilibrada) por cerca de oito centímetros.

Fotos: Arquivo Corporação de Bombeiros de Valparaiso

Rastros de destruição deixados pelo tremor (direita) e doações recebidas pela população (acima)

Voluntários e bombeirosda corporação deValparaiso que atuaramno socorro às vítimas

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Paixão pelo

radicalMuita adrenalina na terra, na água e no ar

daniane gaMBaroto [email protected]

thiane Mendieta

[email protected]

Há quem não se meta a praticar esportes radicais. Há aqueles que dizem que nunca irão se arriscar e cedem, e também os corajosos. Mas, nesta área não basta coragem, a segurança

é primordial na escolha da atividade a ser praticada. Quando se trata de esportes radicais, a cidade de Brotas locali-

zada a 235 km da capital de São paulo, é referência. Rafting, rapell, boiacross, trilhas e tirolesas gigantescas são algumas das alternativas encontradas por lá.

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Parapente (à esquerda) em São Pedro e boiacross (acima),

em Brotas, são alternativaspara esportistas radicais

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A estudante Erika Mesquita Cor-reia, 26, moradora de Santos, esteve na cidade a passeio, em abril deste ano, e apesar do pouco tempo de estadia, apenas o final de semana, demons-trou empolgação por praticar rafting pela primeira vez. “É muito bom, recomendo pra qualquer pessoa, até minha sogra de 51 anos desceu o rio com a gente”, diz. Ela conta que antes do treinamento estava receosa, depois mudou de opinião, pois “a equipe é profissional e passa segurança”.

na cidade vizinha, São pedro, além das cachoeiras a região montanhosa propicia a prática do parapente. Ram-pas naturais são utilizadas e atraem muitos adeptos do vôo livre, caso do programador de máquinas, danilo Moraes, 27, que conheceu o esporte através da indicação de um amigo. “na verdade ele me convidou para prati-car vôos de asa delta, mas acabei me apaixonando pelo parapente”, observa

no esporte há quase três anos, Mo-raes se sente seguro, pois nunca sofreu nenhum acidente. “A gente houve falar que acontece, principalmente com os iniciantes, mas o equipamento é to-

talmente seguro e possui pára-quedas reserva”, diz. O medo nestes casos nem sempre está ligado ao esporte. O parapentista confessa ter medo de altu-ra. no entanto, quando voa se esquece de tudo. diz que sente paz interior e tranqüilidade.

O vôo pode ser duplo ou simples, mas sempre necessita de um aparato técnico para se fazer o resgate dos parapentistas. na maioria das vezes, quem desenvolve este papel são as próprias esposas que ficam de pron-tidão. “Eles podem cair em qualquer lugar, no mato, no rio, até mesmo em outras cidades e a gente sempre sai na captura”, conta Rosana Alencar, sobre as várias aventuras que já teve que passar no resgate ao ‘marido voador’.

O curso para quem pretende iniciar no para-pente dura em média três

meses, e após a conclusão o aluno ainda recebe o acompanhamento do instrutor durante seis meses. Além do curso, que custa em torno de mil e duzentos reais, ainda é preciso o equipamento, que pode custar até oito mil reais.

Já a prática do rafting tem custos mais modestos. O aventureiro tem que desembolsar cerca de 80 reais para uma atividade que dura de três a quatro horas. para o instrutor Fabio Ramos Lourenção, conhe-cido como Fabinho, Brotas é uma cidade elitizada e atrai públicos de poder aquisitivo maior. “Vem muita família, casal e também empresas”, explica.

não há restrição, qualquer pes-soa pode praticar. O único fator que pode ser impeditivo é o nível do rio. “Se a água sobe demais existe uma lei que proíbe a descida do bote”. O esporte também aceita crianças aci-ma de dez anos ou maiores de 1,20 de altura, o que não impede que uma avaliação do instrutor permita exceções. “neste caso optamos pelo mini-rafting” completa Fabinho.

Quebrar a rotina A correria do dia-a-dia, preo-

cupação com os deveres a cumprir, além da competição interna com seu próprio companheiro de traba-lho. tudo isso gera desconforto em empresas.

Como suportar toda essa pressão da melhor forma possível? Uma

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Arquivo: Agência Alaya

Rappel exigepadrões elevados desegurança e atenção

dos participantes

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ferramenta moderna e inovadora, de desenvolvimento humano e organi-zacional está disponível no mercado.

O Outdoor Training é um treina-mento vivencial ao ar livre, focado no desenvolvimento e fortalecimen-to das equipes de trabalho. O intuito é relacionar vivências com atividades de aventura e natureza adaptadas ao cotidiano das empresas.

Esportes radicais, praticados na terra, na água ou no ar, como rafting, rapel, tirolesa, asa-delta e parapente são alguns exemplos de atividades aplicadas pelo Outdoor Training. todos esses desafios realizados ao ar livre se transformam em semelhantes situações dentro da empresa, tais como: integração, liderança, quebra de paradigmas, planejamento e supe-ração de limites. na cidade de Brotas várias agências atuam nesse segmento e oferecem o produto a empresas de diversos portes.

instrutor de rafting há mais de 13 anos, dez voltados ao empresarial, Fabinho Lourenção, bi-campeão mundial do esporte com a equipe Bozo d’Água, já presenciou casos de superação do medo com a prática. “passamos o treinamento antes de realizar a atividade. Alguns chegam com receio, mas depois que notam a responsabilidade com que o trabalho é feito pelos instrutores, se entregam ao esporte”. Ele considera uma der-rota quando algum dos participantes desiste. “O trabalho é fazer com que as pessoas superem seus medos, seus limites, principalmente durante o Outdoor training. Sinto-me derrota-do quando alguém desiste de fazer o esporte”, comenta Lourenção.

para tânia Menezes, encar-regada de recursos humanos, o treinamento foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Além de contratar o serviço para a empresa em que trabalha, ela também partici-pou. “nesta área de RH as empresas se conversam, quando me foi solici-tado um treinamento de liderança pela diretoria, entrei em contato com um amigo que me indicou o Outdoor em Brotas”. O trabalho

desenvolvido foi com todos os chefes de área, líderes e encarregados, no entanto, existem pa-cotes disponíveis para todos os setores de uma empresa.

As práticas propos-tas em Brotas procuram mobilizar questões como liderança, trabalho em equipe, colaboração, sincronismo e interesse. “durante as atividades ficou nítido o espírito de competição, de egoísmo. Existiam pessoas que queriam ganhar a qualquer custo e se esqueciam do objetivo do grupo”, comenta tânia. de outro lado também se conhece um perfil diferente das pessoas com quem se trabalha, elas revelam totalmente des-contraídas fora da rotina. “Queríamos um nome forte para colocar na nossa equipe de rafting e sugeri ‘superação’. Um dos meus chefes logo descontraiu e disse: nossa equipe se chamará ‘chupa que é de uva”, conta tânia com risos.

para o crescimento da empresa, ela acredita que se deve cada vez mais in-vestir em atividades neste sentido, bus-car a superação e o trabalho em equipe, voltados a um único objetivo, pois no dia-a-dia o que se percebe é que muito do que se aprende no treinamento fica esquecido, se torna coisa de momento. “Quanto mais treinamentos e palestras,

melhor. As pessoas têm culturas e ins-truções diferentes”, diz tânia.

Em termos pes-soais ela também se considera realizada. Superou o medo de água, pois ela não sabe nadar, e prin-cipalmente o medo

do esporte em si. Uma das tarefas proposta é feita de olhos vendados, o que põe em xeque a “confiança” nas outras pessoas somadas à força interior de cada um para completar o exercício. “Me sinto uma pessoa mais forte, mais corajosa e com muito mais capacidade depois do treinamento”, explica. na empresa também houve avanços. “Eu já era uma pessoa prestativa, companhei-ra, sempre disposta a ajudar as pessoas, mas o outdoor me ajudou muito, agora eu sei distinguir quan-do devo ser amiga e quando devo ser uma líder”, finaliza.

O técnico de segurança do tra-balho, Sidnei Coletti, companheiro de tânia na empresa, também participou e diz que não teve tantas dificuldades quanto a colega. “E já sabia nadar e para mim não teve muita novidade, já que participei de outros treinamentos, mas foi um dia divertido onde a gente sempre aprende alguma coisa”, avalia.

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Executivos apostam no‘radical’ como estratégiade treinamento

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Luz, câmera...

Fascínio e medo se misturam nas produções cinematográficas de terror

carla BoVolini

[email protected] alonso

[email protected]

Está tudo calmo. Silêncio absoluto. Um casal dentro do carro em um local inóspito. Quando o mocinho vai beijar a mocinha, ouve-se uma batida no vidro do motorista. Uma

música de suspense começa gradativamente. Está aí a fórmula clássica dos filmes de terror dos anos 80. E até hoje atrai grande público, que gosta de mistério e de sentir frio na barriga.

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30 Hollywood e o estúdio Universal passaram a investir em filmes como drácula e Frankenstein, das clássicas obras de Bram Stoker e Mary Shelley que tornaram imortais seus respectivos atores Bela Lugosi e Boris Karloff. Ainda assim, todos os filmes eram baseados em lendas européias sobre vampiros, cientistas loucos e aristocra-tas insanos. nesta mesma década Boris Karloff teve o papel-título do filme “A Múmia”, adaptação do livro homô-nimo de Oscar Wilde, “O Retrato de dorian Gray (1945).

Com a chegada da 2° Guerra Mun-dial os filmes de terror pararam de fazer sucesso, pois a população mundial

Mas, por que os filmes de terror têm um público fiel e as pessoas gostam de sentir medo ao assisti-los? A psicoterapeuta iara da Silva Ma-chado explica no artigo “porque eles adoram filme de terror?”, publicado pelo Conselho Regional de psico-logia, que os jovens vêem no filme de terror um elemento de auxílio à expressão da ansiedade, uma válvula de escape das tensões, pressões, alívio dos componentes estressantes da juventude, pois não vem mais com o peso da ameaça, mas como uma possibilidade de descarregar insatisfações nas manifestações histéricas como o grito, expansão e contração muscular e outras reações emocionais e orgânicas.

porém, é possível que o gênero de terror remeta as pessoas a um dos seus principais sentimentos ou me-mórias primárias, que é o medo. por se tratar de uma energia primitiva e instinto de conservação, em termos fisiológicos, buscar esses campos de atração fortalece a percepção do quanto de superação é possível agregar à personalidade. poderia refletir uma forma de atualização da capacidade de sobrevivência à ame-aça, simbolizada no filme de terror.

A hipótese é ratificada por Ro-drigo Batista, 27, que trabalha como desenvolvedor web em Curitiba, que assistiu seu primeiro filme de terror aos nove anos, e garante que a sensação que esses filmes lhe

causavam eram positivas. Ele acredita que os filmes de terror antigos pare-ciam mais aterrorizantes e hoje em dia não causam a mesma sensação. O que o atrai nestes filmes são as situações que acontecem de repente, a sensação de stress devido à tensão. Os preferidos de Rodrigo são os clássicos produzidos na década de 80, Fred Krueger, Sexta Feira 13, O Exorcista, Anti Cristo, entre outros.

Os primeiros sustos na telinha, ou telona, como pre-ferir, começaram em 1896, um ano após a criação do cinema. O percussor nesta área foi cineasta francês e ilusionista Georges Mélies, com dois curtas: “O Castelo do demônio”, primeiro filme de vampiros e “O Castelo mal-assombrado”, primeiro filme de fantasmas.

O grande sucesso europeu viria com o filme “nosferatu”, de 1922, do diretor alemão Friedrich Wilhelm Murnau, que conferiu ao cinema de horror a aura de arte. Em sua técnica de filmagem ficou claro o Expres-sionismo Alemão, estilo em que o jogo de luzes e sombras era usado para representar o mais escuro da mente e alma humana. Além do re-

conhecimento, Murnau recebeu uma ação da vi-úva do escritor Bram Stoker de “drácula” por plágio, o que fez com que a maio-ria das cópias fossem destruí-

das, como revela o músico e cinéfilo

André Balaio.no início os americanos

relutaram em produzir obras fan-tasmagóricas, mas a partir dos anos

Carla

Bov

olin

i

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já sofria demais com as atroci-dades reais.

Os asiáticos conquistaram o mundo recentemente com o jeito japonês de se fazer um bom filme de terror ganhan-do até remakes americanos de clássicos assustadores como “O Chamado” e “O Grito”. Em 2005 numa entrevista para a Reuters takashige ichise, produtor de várias dessas histórias assustado-ras deu uma explicação para a invasão e curiosi-dade ocidental a respeito deste cinema: “Os filmes japoneses mostram os fan-tasmas saindo do dia-a-dia

de tal forma que várias dessas ima-gens foram objetos de estudo de conceituados pesquisadores do com-portamento humano, que buscaram desde explicações através dos mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores até números, como Carl Gustav Jung, Jean Chevalier, Alain Gheerbrant e outros.

Os vampiros, por exemplo, muito difundidos na Rússia, po-lônia, Europa Central, Grécia e Arábia representam o tormento da perda da vitalidade do indivíduo diante de seus conflitos de várias ordens que pode minar sua auto-nomia tornando-o um parasita (su-gador) social. O lado positivo do mito é que ele representa o apetite de viver, o negativo é que ele vai buscar a força no outro e não em si mesmo. Assim ele representa em análise mais profunda uma inver-são das forças psíquicas contra o próprio ser

Ainda de acordo com a pesqui-sadora iara da Silva Machado, o imaginário pode conter campos de desejo da pessoa real, portanto, tam-bém os medos presentes na história antropológica do ser humano, desde o medo da dor até o medo da morte. Utilizar filmes, para trazer à tona imaginários, para ter a sensação de “coragem” ao assisti-los seria uma válvula de escape. “poderíamos dizer que psiquicamente o terror pode re-presentar o caminho de seu inferno interno que o humano precisa fazer para chegar à origem de sua própria luz”, reflete.

E ainda que haja a questão de superação do medo, os filmes de terror, assim como qualquer produ-to de entretenimento da cultura de massa, são amplamente distribuídos e aceitos pelo público de cinema. E seria errado classificar ao ponto de reduzir as escolhas a apenas um des-ses eixos de estrutura comportamen-tal. Então, sente-se, tente relaxar e se divertir, pois neste gênero abre-se a exceção: quebre o silêncio e grite à vontade.

das pessoas. Quando a platéia estiver em casa, no elevador, no banho, onde quer que esteja ainda continuará com medo. E esse sentimento perdura”.

PreferênciasAo longo do tempo, as produções

nunca deixaram de ser feitas a apre-ciadas pelo público geral. O atendente Fabio Roberto domingues, que traba-lha há dois anos em uma locadora na cidade de Americana, diz que a pro-cura por títulos de terror começa com crianças a partir de dez anos, mas que o gênero faz mais sucesso entre adoles-centes. O mais procurado atualmente é Atividade Paranormal (2009), e outros filmes com espíritos e serial killers. Vampiros, zumbis e monstros estão em uma época de baixa. domingues brinca que devido ao filme Crepúscu-lo os vampiros agora são “do bem” e que a procura pelos títulos com esses personagens diminuiu. Confessa que é um apaixonado pelo gênero também, e que faz parte de um público que é

cativo desses filmes. Ainda que sempre

haja maior procura por novidades, há os que prefiram os clássicos. domingues ressalta que os filmes antigos são procurados por pessoas mais velhas. A preferên-cia na hora da escolha muitas vezes acontece de acordo com a época de adolescência das pessoas, que gostam de levar thril-lers de terror que marcam suas gerações. Os mais pro-curados entre os clássicos são O Exorcista (1973), O Iluminado (1973) e Sexta-feira 13 (1980).

As pessoas que têm o hábito de acompanhar lan-çamentos ou clássicos, po-dem perceber que há uma repetição de personagens, e de fato as imagens utilizadas no cinema nasceram de fatos reais ou do lendário popular,

Filmes clássicos sãoos que mais atraempúblico no segmentodo terror

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o bicho-papão

Muitas vezes o medo relacio-nado a esses mitos começa dentro de casa, onde muitos pais usam destas personagens na tentativa de impor regras. A empresária An-dressa Lima, por exemplo, admite falar do bicho papão e de outros monstros para filha thaina quando a menina não quer dormir à noite ou quando está fazendo alguma bagunça. O mesmo artifício é usado por Salete Rodrigues, que menciona o bicho-papão quando o filho Matheus não a obedece.

para a psicóloga daniela Rocha ifa esta atitude não é a recomendada e pode gerar problemas futuros para a criança. “As crianças precisam apren-der a ter limites e a respeitar as regras sem serem ameaçadas”, alerta.

A pedagoga Juliana Machuca Gil nunes esclarece que, na criança, o medo surge nos seus primeiros anos e está ligado a algumas etapas da vida. “O medo deve ser encarado como uma emoção saudável, com uma função adaptativa: de alertar para os perigos que a rodeiam”, argumenta Juliana.

no decorrer do desenvolvimen-to infantil, do amadurecimento da criança, educadores e pais acabam encontrando estratégias para lidar com o medo sem enfrentá-lo, com a expec-tativa de que futuramente o sentimento desapareça. neste aspecto, a pedagoga Juliana observa que “a imaginação é um dos fatores que contribui com o medo das crianças nos três primeiros

Era uma vez,

Personagens míticos povoam

imaginário infantil

eVeliM coVre [email protected]

fernanda zanetti

[email protected]

Mula-sem-cabeça, saci-pererê, bicho-papão e homem-do-saco são algumas das per-

sonagens que povoam o imaginário infantil e aterrorizam muitas crianças. Mas, afinal quem é o bicho-papão? para dieyce da Silva, de apenas 5 anos, ele é um lobo que come crianças e de quem ela não pode nem ouvir falar. Já thaina Lima, de 7 anos, tem muito medo da mula-sem-cabeça e do homem-do-saco. E tem ainda o lobi-somem, que Matheus Rodrigues, de 7 anos, jura que come gente.

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anos de vida, quando surge o medo de escuro, de fantasmas, de mons-tros, entre outros”.

porém, é preciso dis-tinguir o medo natural daquele que interfere

no dia a dia e que pode levar a problemas mais

sérios. A psicóloga daniela ifa esclarece que o medo sentido

pela criança ultrapassa os limites da normalidade quando se torna doen-tio. Quando isso ocorre, a criança deixa de ir à escola e de fazer suas

atividades. Este é o medo chamado de

paralisador e torna o caso preocupante. “O papel dos pais é essencial para enfrentar a situ-ação, pois é na família que a criança, na maioria das vezes, tem seu maior apoio. É fundamental que a família dê suporte para a criança e a ajude a controlar suas ansiedades e a enfrentar o desconhecido”, recomenda daniela.

Júlia Mendes, seis anos, afirma que tem muito medo da “loira do banheiro” e que algumas pessoas que ela conhece já viram a tal loira. A personagem a que Julia se refere é uma das mais populares nas escolas, pois “aparece” nos banheiros após o cumprimento de alguns rituais, como apertar a descarga três vezes.

O filósofo paulo Morgado explica que o mito é a primeira forma humana de dar sentido a algo desconhecido. A adesão ao mito se dá somente pela crença, ela não exige provas, demons-tração, não exige comprovação cien-tífica. neste sentido, para a ciência o mito é sempre mentira, mas para aquele que crê é verdade.

daí a explicação para a crença de Júlia na loira do banheiro. Ela se baseia no fato de que outras pessoas viram a personagem. Essa informação torna uma personagem mítica em algo real e amedrontador para uma criança. Algo que não passa de lenda, ou fruto da imaginação, é transmitido de criança para criança até que ganha status de realidade.

Muitos medos podem surgir na escola devido ao fato de uma crian-ça repassar o temor para outra. “Se

“Bebê-diabo nasce em SBC”. Esta foi a manchete que estampou a capa do extinto jornal Notícias Populares no dia 11 de maio de 1975. Foi a primeira notícia publicada sobre o nascimento de um bebê diabo, que posteriormente se tornou uma das lendas urbanas mais difundidas do país.

Segundo o jornalista José Luis proença, professor da Universidade de São paulo, que trabalhava no np quando a manchete foi publicada, correu um boato na cidade sobre o nascimento de um bebê com chifres, rabo e pêlos, em um hospital de São Bernardo. O jornal Folha de S. Paulo inclusive já havia publicado uma crô-nica sarrista sobre esse assunto, que serviu de estímulo para um editor do Notícias Populares escrever uma reportagem sobre o assunto.

Conforme relato do autor do texto, Edward de Souza, para o site Brasil Wiki, no dia 27 de junho de 2008, a matéria foi feita sem intuito nenhum de virar manchete, sem sensacionalismo. porém, ver a notícia estampada na capa do jornal Edward diz que sentiu medo. “Fiquei apavora-do, temendo processo e a demissão do jornal por justa causa”.

A publicação ao invés de trazer

prejuízos, trouxe muitos benefícios ao jornal, pois toda a sua tiragem foi esgotada. Em poucos dias o número de exemplares vendidos aumentou de 80.000 para quase 180.000 ape-nas nas bancas, já que o jornal não possuía assinantes.

O assunto ficou mais ou menos 30 dias nas manchetes do jornal, pois a história foi alimentada com parti-cipação do público, que apresentava informações sobre o bebê. proença conta que as pessoas mandavam cartas para o jornal, telefonavam, e iam à redação para contar suas his-tórias. Muitas garantiam que haviam encontrado o bebê, como um rapaz que, segundo o jornalista, dizia ter achado oito galinhas mortas e visto dois olhos brilhantes, que ele dizia serem do bebê diabo.

proença, defensor do compro-misso da imprensa com a verdade, tem uma avaliação crítica do caso. “Eu não acho que as pessoas tenham acreditado, eu acho que o que se descobriu foi uma grande piada, criando uma coisa meio cifrada entre jornais e leitores, por essa história ser tão absurda”. A saga do bebê diabo terminou quando sua família o levou para o interior e ninguém mais soube do seu paradeiro.

Notícias Populares cria lenda urbana

a insegurança ou medo assume um papel marcante no espaço escolar, a criança passa a transmitir a sensação de impotência perante as resoluções dos simples conflitos, considerados pelos adultos como rotineiros”, esclarece a pedagoga Juliana.

Ela diz ainda que pais e educadores têm um papel importante, que é saber escutar a criança, desmistificar esses sentimentos e consequentemente aju-dá-la, a encontrar estratégias eficazes para enfrentar os seus medos.

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Kaleo alVes

[email protected]ônica caMolesi

[email protected]

A partir da década de 1990, desenvolver a cultura da Res-ponsabilidade Social tornou-se

quase um imperativo de gestão para as empresas que pretendem se manter competitivas em seus respectivos mer-cados. porém, muitas ainda desconhe-cem esse terreno e não encontram o caminho para um legítimo programa socialmente responsável.

de acordo com o “Livro Verde da Comissão Européia”, publicado em 2001, responsabilidade social é a “in-tegração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte das em-presas nas suas operações e na sua inte-ração com outras partes interessadas”. Ainda segundo a publicação, metade do desempenho considerado “acima da média” de empresas socialmente responsáveis se deve justamente à sua responsabilidade social.

Valéria Spers, professora de eco-nomia, explica que o maior ganho da responsabilidade social é a capacidade de se olhar de maneira mais abran-gente, buscando participar da vida da comunidade em que está inserida. “isto reflete nas ações de seus funcionários, pois pode gerar um orgulho maior por parte dele em trabalhar em uma organização que respeita seu público de interesse”, explica.

O especialista de meio ambiente da ArcelorMittal piracicaba, José Alencas-tro de Araújo, afirma que para se atingir efetivamente a atividade socialmente responsável, é preciso pensar um ciclo.

“Uma empresa é socialmente responsá-vel quando busca exercer, de maneira responsável e sustentável, o controle total do processo de produção, abordan-do o fornecedor, a empresa e o cliente.”

Os programas desenvolvidos nas empresas têm dois objetivos principais: o primeiro é agir de forma cooperativa para um desenvolvimento sustentável da comunidade e do meio ambiente;

Responsabilidade social se torna parte da administração e da publicidade das empresas

Outra maneira de agir de forma socialmente responsável é através do trabalho voluntário. de acordo com levantamento das nações Unidas re-alizado em 2002, o Brasil é o quinto colocado em número de voluntários, com 42 milhões de pessoas.

O governo também estimula a participação voluntária como for-ma de auxílio à comunidade, como o “programa Escola da Família”, realizado pela Secretaria de Educa-ção de São paulo que desde 2003 oferece bolsas de estudo a jovens universitários que trabalham nas escolas, voluntariamente, durante os fins de semana, oferecendo cur-sos e projetos esportivos, culturais e profissionalizantes à comunidade.

A educadora Laila Abdallah, que trabalha com o projeto há oito anos, afirma que sua principal função é tirar os jovens do ócio das ruas e, conse-quentemente, do crime e das drogas. “O programa é ótimo, pois a criança que poderia estar na rua, aprenden-do coisas negativas que estão muito

presentes na sociedade contemporânea, está na escola, em cursos e oficinas que formarão um cidadão consciente no futuro, que auxilie sua comunidade no desenvolvimento dos jovens.”

Alguns jovens participam do progra-ma principalmente pela bolsa de estu-dos, mas reconhecem a importância do voluntariado na sociedade atual, como a estudante do curso de logística Rosane Oliveira, que dá aulas de artesanato. Ela afirma que o programa é extremamente interessante: “Só a nossa ajuda já tira as crianças da rua. Além disso, ensinamos coisas positivas para elas, dando-lhes maior atenção, o que acaba fazendo com que elas gostem de vir aqui”.

diogo Munhoz é bolsista há um ano e meio, e afirma que “o programa ressalta a importância do papel de aju-dar a sociedade, e, no caso específico do ‘Escola da Família’, ajuda a suprir a carência das crianças, que gostam tanto da gente que nos pegam no colo e nos jogam pro alto, é muito gratificante”.

Outros voluntários, porém, não participam do programa visando bolsas

Lucro responsável

Sem segundas intenções

o segundo está no “marketing social” que se adquire com tais programas e sua divulgação, aumentando substan-cialmente o desempenho das empresas

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Programas valorizam investimento em educação e voltado a crianças

de estudos ou outro benefício, mas sim pela vontade de passar adiante, aos jovens estudantes, o conhecimento que eles necessitam. É o caso de paulo Eduardo da Silva, 17, que há dois anos realiza atividades esportivas volunta-riamente. “O programa nos torna algo melhor porque nos tornamos exem-plos para os jovens, compartilhando o conhecimento que possivelmente ficaria guardado comigo, quase que sem utilidade”, comenta.

paulo também afirma que “todo dia é diferente, pois as crianças sabem que estamos fazendo o nosso melhor por elas, e elas demonstram isso com muito carinho e amizade”.

Assim como paulo, o estudante Gabriel Vasconcellos, 17, já trabalha voluntariamente desde o início de 2009, e afirma: “O trabalho volun-tário me ajudou a olhar a situação do terceiro setor com outros olhos e a me preocupar mais com as questões de cidadania. Aprendo continua-mente a trabalhar em equipe e a respeitar as opiniões contrárias”.

O instrutor de inglês Rodrigo Carvalho é voluntário desde 2008 e defende que “não há preço que pague a satisfação de realizar um tra-balho em prol daqueles que pouco ou nada tem”.

A coordenadora de atividades aquáticas Michele pacce, voluntária desde 2004, afirma que “é muito gratificante fazer algo por alguém sem esperar nada em troca”. Ela garante que o trabalho voluntário mudou radicalmente o seu modo de ver o mundo “no sentido de olhar para os meus problemas e para os problemas do planeta com outro tipo de sensibilidade”.

e melhorando a sua imagem frente à comunidade em que está inserida. Valé-ria explica que “os riscos relacionados à ausência de responsabilidade dizem

respeito à perda de credibilidade da organização diante da sociedade”.

Além disso, as empresas também são avaliadas pelo mercado a partir de seu desempenho ético e seu relaciona-mento com a sociedade em geral. Valé-ria afirma que “como potencialidade,

a cidadania empresarial pode ser utili-zada como uma vantagem competitiva das várias relações que estabelece com funcionários, comunidade, governos, fornecedores, consumidores”.

Os programas são voltados prin-cipalmente para os temas que mais causam preocupação no cotidiano, como meio ambiente, educação, saúde, qualidade de vida e desenvolvimento profissional. Segundo Araújo, as ques-tões ambientais devem ser socializadas. “Estamos dentro da empresa, mas nos-sas famílias fazem parte da sociedade, e precisamos pensar nosso papel nesse contexto, buscando o desenvolvimento socialmente responsável”, diz.

A aplicação adequada da susten-tabilidade se efetiva, segundo Araújo, por meio de três dimensões: econômi-ca, social e ambiental, para que se possa aplicar o desenvolvimento sustentável em todas as ações praticadas pela em-presa. Os projetos desenvolvidos via de regra afetam direta e indiretamente a comunidade local, pois ensinam a população a educar, em seu cotidiano, suas ações, atuando de forma social-mente e ambientalmente responsável.

Além dos ganhos em curto prazo, como o lucro e a melhora da imagem frente à sociedade, outro grande trunfo dos programas socialmente responsá-veis reside no fato de que as pessoas que participam deles tornam-se, no futuro, divulgadores do conhecimento adquirido nesses projetos, comparti-lhando o conhecimento com os demais membros da sociedade e auxiliando na formação cidadã dos indivíduos.

Casa Modelo, em Americana, usa blocos feitos a partir de agregado siderúrgico da ArcelorMittal PiracicabaPlantio de Árvores a partir de

iniciativa da ArcellorMittal Piracicaba, no Parque da Cidade, em Santa Terezinha

Fotos: Arquivo ArcelorMittal

Mônica Camolesi

PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Outubro/2010 33

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raPhaela sPolidoro

[email protected]

As tão populares sacolinhas plás-ticas levam até 400 anos para se decompor e após seu descarte

continuam impactando o meio ambien-te em aterros sanitários e lixões, além de causar enchentes. Cada brasileiro consome em média 66 sacolas plásticas por mês. por ano esse número chega a 12 bilhões. no mundo todo são 500 bilhões de sacolas.

A graduanda em Gestão Ambiental Caroline Garcia Geroto entende que a proibição do uso de sacola plástica é uma medida drástica, porém necessá-ria. “É claro que se você fizer as pes-soas terem a percepção de que o uso de sacola tem impacto ambiental, fica mais fácil obter mudança de hábito. Se as pessoas tiverem essa consciência, vão fazer com mais confiança e não vão se sentir ‘agredidas’ como através de uma lei”, diz.

A estudante reconhece que ainda utiliza sacolas plásticas, mas busca re-duzir, já que fazendo um curso na área ambiental, tem percepção do que não é necessário e nem adequado.

O engenheiro agrônomo Luiz Cesar Bonfim Gottardo pensa que a substitui-ção das sacolas plásticas é algo cultural. A partir do momento que for proibido, as pessoas terão que se adaptar de al-guma forma. “Se existissem políticas que conseguissem conscientizar as pessoas em utilizar menos sacolas em supermercados, isso poderia resolver”, comenta. no entanto, o engenheiro pensa ser difícil conscientizar as pes-soas, pois apesar da grande pressão da mídia, elas continuam a utilizar sacolas plásticas, uma vez que ainda estão nos supermercados. “Eu mesmo tenho sacola retornável em casa, mas dificilmente lembro de levar, porque o supermercado tem a outra”.

Ambientalistas alertam para riscos da sacola plástica e propõem alternativas

Mudança de

hábito34 PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Outubro/2010

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para a dona de casa Marcia Maciel de Assis, a eliminação das sacolas plás-ticas é uma medida acertada porque prejudica o meio ambiente e todos os supermercados deveriam ter a inicia-tiva de acabar com as elas, pois só um não faz muita diferença. “A população no geral precisa se conscientizar e real-mente aderir à eliminação das sacolas.” Marcia ainda utiliza as sacolas, mas acha a retornável uma ótima opção e já está se adaptando.

A manicure Célia Rivaben reconhe-ce que as sacolas fazem muito mal para o meio ambiente, mas que a eliminação delas fará muita falta em casa. “Muitas pessoas utilizam as sacolas para colocar lixo, mas a melhor forma para acabar com elas é realmente proibir, pois a população não se conscientiza por vontade própria”, opina.

Com a iniciativa da OnG Ambiente em Foco, uma grande rede de super-

mercado, que tem filial em piracicaba, é a primeira do país a acabar com as sacolas plásticas. Segundo o coorde-nador executivo da OnG, Rafael Jô Girão, a ação iniciou com um diálogo entre o instituto Ambiente em Foco e

José Carlos Masson, um ambientalista da cidade que há alguns anos tem se dedicado a sugerir e colocar suas idéias em prática.

Uma dessas idéias é o projeto Sacola Verde, que ganhou o prêmio destaque Ambiental do Conselho Municipal de Meio Ambiente de piracicaba (Com-dema) em 2004. “neste diálogo ficou muito claro que ambas as partes po-deriam se beneficiar com um trabalho conjunto. decidimos ampliar as ações e propor um projeto que teria cinco etapas principais”, explica Girão.

As etapas incluíram o incenti-vo à substituição de 100% das sacolas plásticas convencionais por oxi-biode-gradáveis (que hoje não optam mais o uso abertamente), sacolas retornáveis; promover a capacitação dos funcioná-rios dos supermercados; implantar um ponto de entrega voluntário de óleo de cozinha e de materiais recicláveis nos

Rafael Jó Girão, coordenador executivo da ONG, explica as cinco etapas do projeto Sacola Verde

Fotos: Raphaela Spolidoro

PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Outubro/2010 35

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“O fato de uma sacola ser biodegra-dável ou oxibiodegradável não faz com que as pessoas repensem a sua forma de consumo, não faz com que elas gerem menos, pelo contrário, pode até causar um alívio de consciência. Elas acham que vai degradar, que vai sumir na natureza e que, portanto, elas podem utilizar à vontade.”

Segundo Ramon Weinz Morato estudante de Engenharia Agronômica e coordenador do Centro de Estudos e pesquisa em Aproveitamento de Resíduos Agroindustriais (Cepara), outro modo de eliminação das sacolas plásticas é praticar a compostagem, uma transformação com a ajuda de

microorganismos que pode ser con-trolada. “O desafio da sacola plástica é reduzir a quantidade de lixo que você está jogando para o lixeiro”, diz.

“A compostagem é um processo microbiano aeróbico, isto é, para que se realize é necessária presença de oxigênio, que transforma resíduo animal e de plan-tas em adubo orgânico. O adubo obtido deixa hortas mais produtivas e saudáveis, vasos com plantas mais bonitas e flores mais vistosas. Além disso, não se tem mais gastos com fertilizantes químicos. tudo isso porque o composto produzi-do possui nutrientes que melhoram as condições químicas, físicas e biológicas do solo”, explica o estudante.

supermercados; promover a sensibili-zação dos clientes dos supermercados; e coordenar a implantação de um caixa ecológico.

“Com esta proposta, conseguimos apoio oficial da Sedema, Acipi e USp Recicla. para apresentá-la oficialmente, realizamos uma apresentação na Acipi no dia 11 de dezembro de 2008. Vale mencionar que informávamos que a melhor alternativa seria a implantação de todas as cinco etapas, mas que não era obrigatório”, conta.

A engenheira florestal e educadora ambiental Ana Maria de Meira afirma que o problema no uso das sacolas plás-ticas é a geração excessiva de lixo e a não conscientização das pessoas em dar um destino adequado para essas embalagens. Ana Maria conta que as pessoas costu-mam utilizar as sacolas para colocar lixo, mas não pensam para onde esse lixo vai depois. A educadora diz que nos aterros as sacolas plásticas levam muito tempo para se degradar e se forem para um local inadequado (bueiros, rios, lagos) causam entupimento e animais acabam por ingerir esses plásticos.

“num processo educativo, de corresponsabilização, o efeito mais interessante seria utilizar as sacolas permanentes. As pessoas levariam essas sacolas deixando de usar as descartá-veis”, propõem a educadora.

As sacolas biodegradáveis e oxi-biodegradáveis não são as melhores soluções para dar conta do problema dos sacos plásticos, de acordo com Ana Maria. isso porque essas embalagens ainda têm um impacto desconhecido no meio ambiente. As oxibiodegradáveis, por exemplo, necessitam de calor e tem-peratura para se decomporem, o que dificilmente é favorecido nos aterros.

A educadora Ana Maria de Meira

junto com os estagiários do

USP Recicla

Galpão do Cepara onde é realizada a compostagem

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Mariana Blanco

[email protected]

A técnica da acupuntura baseia-se na estimulação de pontos alcançados por agulhas finas

com constantes manipulações. As agulhas podem ser introduzidas na parte superior da mão, baixo abdomem, região lombar, perna, pé e orelhas e, já na primeira sessão observa-se a redução da dor.

A sessão de acupuntura tem duração de vinte a trinta minutos, uma ou duas vezes por semana, em ambiente tranqüilo. O paciente tem a opção de ficar deitado ou sentado conforme a técnica utilizada. As agulhas podem ser inseridas em de-terminados pontos no corpo todo, método chamado de acupuntura sistêmica. Já a técnica escalpeana utiliza alguns pontos no couro cabe-ludo, e a auricular utiliza pontos na orelha, e pode ser feita com agulhas, bolinhas de metal ou semente de mostarda.

A acupuntura coreana utiliza os pontos das mãos. dentro da técnica também se usa a chamada ventosa, aplicação de calor nos pontos de forma de cones ou bastões. O tratamento pode ser indicado para doenças crônicas, como artrite reumatóide, osteartrose, cefaléias, lesão por esforço repetitivo, hérnia de disco, traumatismo ósseos ou musculares.

Segundo o ortopedista e acupun-turista Edno tsuguito, a freqüência das sessões de acupuntura é deter-minada pela patologia e experiência do médico. A grande maioria das doenças pode ser tratada de forma curativa ou paliativa, individual-mente ou em associação com medi-

cina convencional, o que é ideal. A acupuntura quando feita por

um profissional competente propicia efeitos rápidos e beneficia rapidamente o paciente, que sem dor recupera sua capacidade produtiva, se relaciona melhor com a família. O tratamento sistêmico é importante, já que não adianta tratar somente o local afetado. Há necessidade de se estimular, por exemplo, a função cerebral responsável pela produção de endorfinas.

Segundo Laura Zucco, que tratou três hérnias de disco, o resultado surgiu

nas primeiras sessões. “naquela época, tomava muitos analgésicos, antiinflama-tórios e miorrelaxantes e mesmo assim a dor não passava totalmente. Com um mês de tratamento na acupuntura, já não tomava mais remédios. inicialmen-te foram duas vezes por semana, depois uma vez por semana, durante dois me-ses. Hoje faço porque surgiu uma nova hérnia e porque estou com artrose. Uso a acupuntura como coadjuvante para o tratamento convencional para a artrose e como principal para o problema da coluna,” relata a paciente.

Harmonia ebem estarAcupuntura ganha espaço entre as terapias alternativas

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A acupuntura sur-giu na China como método terapêutico há mais de 4 mil anos. Os mestres antigos acreditavam que ela curava as doenças provocadas por dese-quilíbrio energético, como chamados fa-tores externos: frio, calor, vento, umidade, secura e outros fatores internos emocionais como, raiva, medo, preocupação, tristeza,

alegria excessiva e também nutricional, traumas físicos e envelhecimento.

para os chineses o objetivo da acupuntura é reequilibrar a harmonia perdida, ou seja, manter a energia posi-tiva que o corpo deve ter. O tratamento estimula os pontos definidos do corpo, chamados de ‘pontos de acupuntura’ ou ‘acupontos’, para um relaxamento corporal. isso ajuda a eliminar o uso de medicamentos, podendo até curar o paciente com determinados tipos de dor.

na década de 50, iniciou-se um movimento de abandono seletivo dos conceitos filósofos e esotéricos, da medicina tradicional chinesa, sem base científica e a integração com a medicina ocidental, o que estimulou a realização de inúmeros trabalhos, com métodos modernos de pesquisa para comprovação da eficácia da acu-puntura. Assim, em 1995 o Conselho Federal de Medicina a reconheceu

como especialidade médica.

Hoje , o meca-nismo de ação dessa terapia milenar está relacionado à neu-rofisiologia, ou seja, estímulos aplicados nos

pontos específicos através da rede nervosa periférica que alcançam o sistema nervoso central, que emite uma resposta e libera neurotransmis-sores responsáveis pela homeostase (equilíbrio de organismo). A interfe-rência beneficia os distúrbios físicos e emocionais.

“Quando uma pessoa chega querendo fazer o tratamento, ela responde um questionário. A partir das respostas, montamos o pentagra-ma do paciente, só depois partimos para o tratamento. A acupuntura auricular atinge no bem estar das pessoas”, afirma a educadora física e acupunturista Eliane Barbieri.

Segundo ela, as vantagens de fazer esse tipo de tratamento são diversas, pois a pessoa não preci-sa ficar tomando remédios. É um tratamento que coloca em sintonia todos os órgãos do corpo. “não tem desvantagens, todos podem fazer, não importa a idade. Só que é um tratamento mais lento, que faz sentir um conforto nos primeiros instan-tes, mas a melhora vem depois de algumas semanas”, frisa.

O especialista tsuguito ressalta que a acupuntura tem suas limitações, como qualquer outra especialidade. “É preciso fazer um exame físico e anamnese de forma minuciosa para a realização do diagnostico da doença pelo método ocidental antes de se optar pelo tratamento da acupuntu-ra. não pode tratar uma apendicite aguda apenas pela acupuntura ou um tumor maligno, por exemplo, isso retardaria o tratamento e prejudicaria o resultado final”, ressalta.

Além dos casos de dor, várias doenças podem ser tratadas por determinados pontos do corpo

Materiais usados para o tratamento

Fotos: Mariana Blanco

PAINEL CIÊNCIA & CULTURA • Outubro/2010 39

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natali carValho

[email protected]

Grávida de oito meses, Angéli-ca Surayan sentiu um desejo incontrolável de comer ingá.

Ela experimentou a fruta em um das suas viagens para o Mato Grosso. Conhecida como delícia do cerrado, dificilmente é encontrada em outros lugares, e por isso a gestante não con-seguiu satisfazer seu desejo.

Lourdes Ribeiro teve vontade de comer sardinha quando estava grávida de sua filha Célia Rita Ribeiro. O dese-jo não foi atendido no ato e Célia tem uma marca de nascença com o desenho de uma sardinha estampado na cintura.

A estudante de pedagogia thais Luiara tem uma mancha nas costas. A mãe, Cristiane Magro, ficou com

Gravidez estimula mitos populares,

principalmente sobre alimentação

vontade de comer mortadela quando estava grávida e esse desejo também não foi consumado.

Quem nunca ouviu histórias como essas citadas acima? Até mesmo em novelas essas situações são retratadas. isso acontece porque a gravidez sem-pre foi rodeada por medos, desejos e, principalmente, mitos. Quando há uma mulher grávida por perto, as lendas pas-sadas de geração a geração, geralmente, têm peso nas decisões da futura mamãe.

Segundo conceitos da sociologia, isso acontece porque existe uma infi-nidade de crendices armazenadas na mente do ser humano e, por se tratar de um assunto que envolve a continui-dade da vida expressam maior credi-bilidade. portanto, cada experiência forma uma nova crença ou se agrega a outras já existentes.

O sociólogo Fábio Rogério dos San-tos explica que a gravidez é simultane-amente uma transformação biológica, social e pessoal, que coloca a pessoa em contato com os biótipos universais do ser feminino. “Mediante os inúmeros problemas sociais, ligados à falta de um sistema de saúde universal para toda a população nos tempos passados, mui-tas crenças populares se tornaram um campo fértil para a criação e dissipação de mitos que povoavam o imaginário dos populares a respeito das formas de curar, abortar ou administrar cuidados com as grávidas”, diz.

nesse campo muitas dessas crendi-ces são, até hoje, disseminadas entre mães, avós, tias, primas, amigas e vizinhas. Os exemplos são: barriga redonda indica menina e pontuda in-dica menino; ficar sem comer aumenta

ingá’

‘Eu querocomer

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o enjôo; grávidas sentem mais calor; a prática sexual pode prejudicar o bebê; a gestante não deve praticar exer-cícios físicos; se mudou a lua o bebê vai nascer; e comer chocolate durante a gestação provoca cólicas no feto.

desta lista, as únicas afirmações que não são crenças, que têm funda-mento científico, são as de que ficar sem comer aumenta o enjôo e que as grávidas sentem mais calor. As demais são apenas crenças populares, que não possuem comprovação médica.

O fato é que acreditando ou não nessas crenças, a maioria das pessoas diz que não custa nada prevenir, e segue a tradição. Com isso, muitas mu-lheres evitam certos comportamentos, como usar roupa de linho durante a gravidez, cheirar flores e até mesmo ficar sem comer tudo aquilo que sen-tirem vontade.

Outro mito forte e ainda presente na sociedade é a certeza de que a ges-tante precisa comer por dois. Será que precisa? Especialistas esclarecem que há necessidade de consumir nutrientes alimentares e não alimentos por dois. Segundo a nutricionista Bianca Cala-monaci é preciso avaliar com cuidado este assunto, pois o estado nutricional da mãe reflete na saúde do bebê. no caso de mães desnutridas, por exem-plo, 75% dos bebês são prematuros.

Os excessos na alimentação, por outro lado, fazem com que a mãe

ganhe peso acima do permitido e, corra riscos no desenvol-vimento de um bebê grande e que mais tar-de poderá ser obeso. “Esse ganho de peso está relacionado com uma série de proble-mas, como o nasci-mento de bebês muito grandes, diabetes gestacional, aumento da pressão arterial durante a gestação/parto e em alguns casos necessidade de parto cirúrgico”, explica.

Estudo realizado com três mil casais britânicos, divulgado pelo site dietali-ght.com.br, no início de 2010, mostra que a alimentação da mãe durante a gestação influencia diretamente no hábito alimentar da criança. Ou seja, quanto maior o consumo de macro-nutrientes pela mãe, maior a ingestão pela criança e, portanto, maior o seu crescimento.

A nutricionista explica que as as-sociações de alimentação mãe-filho são mais fortes no período pré-natal, e é possível que reflita efeitos intra-uterinos sobre o apetite da criança, já

que a glicose, as proteínas e as gorduras são transportadas através da placenta.

A comerciante Solange Maria Ma-gro observou essa associação dos ali-mentos que comia durante o pré-natal com os alimentos que a filha de cinco anos ingere hoje. Solange comenta que essa associação foi positiva a alimen-tos fontes de carboidrato. “Quando estava grávida sentia muito desejo de comer azeitona e a Luíza desde que começou a mastigar é fissurada nesse alimento”, diz.

Já a cabeleireira daniela Ferreira Souza Santos conta que durante a gravidez de sua primeira filha sentia muita vontade de comer pimenta e, hoje, com sete anos, a filha também sente essa mesma vontade.

Giovana, sete anos, é fissurada em comer pimenta;

Luíza, (ao lado) filha de Solange Magro, adora

azeitonas

Thais Luiara tem uma mancha similar a uma mortadela

Fotos: Natali Carvalho

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4º Simpósio de Jornalismo

Patrocinaram esse evento:

UNIMED - TOCA DA CORUJA - RÁDIO JOVEM PAN - CAPTAIN JACK - RÁDIO EDUCADORA - JORNAL DE LIMEIRA - JORNAL DE PIRACICABA - RÁDIO VOCÊ - JORNAL O LIBERAL - CENTRO ACADÊMICO DE COMUNICAÇÃO - TV UNIMEP - DCE UNIMEP

O Curso de Jornalismo da Unimep celebra 30 anos em 2010, e as comemorações

ocorreram no contexto do 4º Simpósio de Jornalismo, no período de 04 a 08 de outubro. A abertura das atividades foi marcada por conferência do jornalista Sérgio Gadini, professor da UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa) e presidente do FNPJ (Fórum Nacional de Professores de Jornalismo), que abordou o tema “A formação do jornalista no contexto atual”. Duas mesas redondas, sobre os temas “Desafios da profissão: impactos das novas tecnologias” e “Desafios da profissão: tendências do mercado de trabalho” e a entrega de certificados do I Trainee Unimep – Jornal de Limeira reuniram ex-alunos da Unimep, jornalistas que hoje atuam no mercado em empresas como: Agência Estado, EPVT Campinas, TV Globo SP, Jornal de Piracicaba, Alfapress Comunicação, O Liberal, TV Claret e Jornal de Limeira. Uma homenagem ao professor Elias Boaventura, reitor da Unimep no período da criação do curso, a exibição de vídeo e abertura de exposição fotográfica comemorativos completaram a programação. Confira ao lado imagens do Simpósio.

Sérgio Gadini (acima),

e ex-alunos de jornalismoda Unimep

(centro eabaixo) falam

sobre osdesafios da

profissão

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Fotos: Tito Lívio

Thiago Polacow

Tito Lívio

Karla Camargo

Alunos recebem certificadosdo “i Trainee Unimep-Jornal

de Limeira”; Sessão homenageiaElias Boaventura (destaque),

Rosa Pizzirani e BelarminoGuimarães da Costa

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Em nome da Pastoral Universitária do IEP, cum-primentamos aos professores e alunos/as aqui presentes, acolhendo com satisfação e alegria este

evento que assinala mais um tempo comemorativo do Curso de Jornalismo da Unimep. Sentimo-nos honrados por fazer parte deste momento histórico e celebrativo.

Empregando uma expressão de Marina Silva, ex-candidata à presidência da República, pretendo “fazer uso sustentável da voz.” Melhor, vou economizar pala-vras. Tudo isso para dizer que serei breve.

Mobilizei um texto bíblico do Novo Testamento que considero pertinente para este momento, em que se celebra os 30 Anos do Curso de Jornalismo da Unimep. Ele encontra ressonância no Evangelho de S. João, capí-tulo 14, verso 5-6: “Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como saber o caminho? Respondeu-lhes Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.”

Em Alice, no País das Maravilhas há um diálogo instigante. Alice está perdida na floresta. Desorientada, sem saber para onde ir, faz uma consulta ao gato mágico que a observa do alto de uma árvore. “Para onde vai essa estrada? estou perdida”, indaga Alice. O gato responde sua pergunta com outra pergunta: “para onde desejas ir?” Ela diz: “não sei para onde ir.” E o gato arremata: “se não sabes para onde ir, qualquer caminho te serve.”

Penso que o jornalismo, em seus diversos formatos, possui dois compromissos essenciais ligados ao exer-cício dessa profissão. Um desses compromissos – ou caminhos – expressos nas duas narrativas acima, pode conduzir à verdade. O jornalista, o redator, o comunica-dor veicula não apenas noticia, não somente descreve relatos, não só tece comentário sobre fatos. Sua meta inicial e final intenta abarcar a veracidade dos fatos.

Esse primeiro compromisso, o da verdade, está in-timamente conectado ao princípio da eticidade, ou da moralidade. Falar a verdade, nada mais do que a verdade, é um procedimento ético que exige bastante coragem, no árduo caminho percorrido pelo jornalismo.

Talvez o caso mais emblemático desse jornalismo im-pregnado pela verdade e pela ética foi aquele adotado por Vladimir Herzog. Em seu tempo histórico, navegou contra a correnteza dos poderes constituídos. Em meio à repres-

Palavra proferida nos 30 Anos do Curso de

Jornalismo da UNIMEP

O caminho da verdade4º Simpósio de Jornalismo

Rev. Jesus Tavernard Júnior, Agente da Pastoral Universitária do iEP

Tito

Lív

io

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Falar a verdade, nada mais do que

a verdade, é um procedimento ético que exige bastante coragem, no árduo caminho percorrido

pelo jornalismo

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são da ditadura militar, foi capaz de fazer vir à superfície o que transcorria nas câmaras de tortura do DOI-CODI.

Razão por que em pouco tempo teve o mesmo suplí-cio daqueles que firmaram o compromisso com o anún-cio da verdade: a prisão, a tortura e a morte. O caso de Herzog nos arremete, de pronto, à figura legendária do filósofo grego Sócrates, máscara de Platão nos Diálogos.

Sob a acusação de incitar os jovens contra a aristo-cracia, bebeu do veneno que silenciou de vez sua fala causticante. Não foi a maiêutica socrática, nem a cicuta, nem a ironia que matou Sócrates. Foi a estrutura de poder ateniense que não tolerava o questionamento e as vozes dissonantes.

O outro compromisso, tão importante quanto o da Verdade, é o compromisso em tornar notória, essa verda-de, à sociedade. O primeiro compromisso implica em falar sempre a verdade. Não acrescentar nem diminuir aquilo sobre o que está sendo dito, narrado. O outro é socializar esta informação aos sujeitos históricos que necessitam de luzes nos tempos de trevas, de um dado específico para a tomada de posicionamento no domínio do político.

Mas, como intuiu Nietsche, “como não existem fatos e sim interpretação de fatos”, não há isenção, neutralida-de, no ofício do redator, do articulista, do jornalista, do comunicador. Eles não são meros repetidores de eventos e acontecimentos. Antes de tudo, são intérpretes, her-meneutas, que dependendo de sua crença ideológica, do seu humor, e de sua visão de mundo, serão capazes ou de forjar simulacros – fragmentos distorcidos da realidade – ou, ao contrário, serão faróis a iluminar o caminho por onde trilha a humanidade.

No dizer de Olavo de Carvalho, por sinal um jornalista bastante controvertido, ou “serão faróis ou serão faíscas”. Ou produzirão libertação ou acomodação e servidão; a exemplo da religião, que pode se tornar opressora ou curadora, ou sugere o aprisionamento da consciência ou proporcionará saídas libertadoras.

E para não deixar Jesus de fora de tudo isso, nem o texto reivindicado no início, a propaganda evangélica que Cristo difunde também expressa o compromisso radical de defender a verdade, custe o que custar. Falar a verdade, em outros termos, representa desvelar o manto da indeterminação. Desvelar é remover o véu, retirar más-

caras. Esta é a função de Jesus no Novo Testamento, em que pese a tradição rabínica dos judeus, ainda que pague com a própria vida aquilo mesmo que proclama e anuncia.

Em outra passagem neotestamentária, sentencia: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8,32). Em vez do ilusório, da dúvida, a verdade nua e crua, é preferível uma verdade triste a uma mentira alegre. Por isso iniciei com a verdade e concluo com ela também. Justamente porque a verdade é a base sobre a qual se assenta qualquer profissão ou vocação. A verdade desfaz o laço do passarinheiro, confunde opositores, estabelece a justiça no mundo.

“Eu sou o caminho, a verdade, a vida”, eis a propagan-da evangelística de Jesus. Isso porque há muito atalhos, caminhos distintos. E necessitamos de sabedoria para eleger aquele que nos conduz ao bem, à verdade e à vida.

É fácil subjugar e manter o domínio sobre pessoas. Os políticos romanos já o sabiam: basta dar ao povo pão e diversão, comida e entretenimento. Ou seja, apresentar a verdade como uma falsidade, uma quimera, uma ilusão. Tudo isso causa a sensação de que a realidade é dócil, que tudo está calmo e sereno; quando na verdade, em verdade, tudo não passa de uma grande inverdade, de um engodo, de uma grande ilusão.

Esse é o fermento do bolo que faz crescer a massa da Indústria Cultural do nosso tempo, contra qual se posicio-nou a veia crítica de Adorno e os frankfurtianos, na qual a intenção da indústria cultural foi desbaratada. Não sendo capaz de produzir esclarecimento, emancipação, libertação, o mass media tem proporcionado apenas entretenimento, massificação e deformação na vida das pessoas.

Creio que o curso de Jornalismo mantém anda aberta essa sua veia crítica. Não percam de vista a principal tarefa de sua vocação: falar a verdade em respeito à comunidade; na construção de um mundo mais justo, mais solidário, e mais fraterno.

Deus abençoe profundamente a missão jornalística de cada um de vocês, professores e professoras, alunos e alunas de Jornalismo da Unimep. Parabéns a todos.

Rev. Jesus Tavernard JúniorAgente da Pastoral Universitária do IEPOutubro/2010

O caminho da verdade

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crôNica

gustaVo antoniassi

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Alardear a própria coragem é uma vir-tude de muita gente, que gosta sempre de dizer que não tem medo de nada.

Eu duvido muito. todo mundo tem medo de alguma coisa, por mais que diga que não. Uns têm medo de morrer, outros têm medo de viver, outros têm medo de palhaço, outros têm medo do dentista e do papai noel... tem gente até — imagine você — que tem medo de borboleta. Sem dúvida alguma, bem próximo ao medo, caminha lentamente a solidariedade. São as-pectos culturais e psicológicos do perfil de cada ser humano, que refletem no contexto geral de uma sociedade a prática destas nobres atitudes.

Quando eu era pequeno tinha diversos medos: medo dos monstros de Grump, O Fei-ticeiro Trapalhão, medo dos filmes de terror, medo de ouvir o galo cantar de madrugada, mas o meu maior medo mesmo era do escuro. Medo comum, que quase todas as crianças têm, mas só que o meu não era exatamente medo. Era pavor. Eu tinha pavor do escuro. depois de grande (bem grandinho, para ser mais preciso) o medo foi embora. E não foi por descobrir que o bicho-papão não existia, ou por saber que os fantasmas não iriam se aproveitar para aparecer na minha frente quan-do a luz estivesse apagada; sim-plesmente o medo foi embora, sem nenhuma explicação. tem crianças que adoram palhaços, outras têm medo mortal. Aliás, o medo de palhaço tem até nome clínico: coulrofobia.

Os medos não se resumem apenas ao que imagina uma pe-

Eu tenho medo, e você?quena criança. Atualmente, o medo está por todos os lados. Certamente, o causado pela insegurança deve ser o principal. Sair sozinho à rua de madrugada, por exemplo, causa medo em muita gente. E isso não é utopia. Esse medo ainda existe. Mas, não para por aí. não é mito: adultos têm medo ou ficam ansiosos quando vão ao dentista. E muitos dos que se sentem assim relatam já ter vivenciado uma situação traumatizante relacionada ao tratamento odontológico. O medo de ir ao dentista ainda é bastante comum.

Continuo tendo meus medos. Medo de aranha caranguejeira (a de verdade, esclareço, antes de qualquer insinuação maldosa), medo de errar, medo de decepcionar as pessoas de que gosto, medo de não ser um bom pai no futuro, medo da violência, medo de ver nossa cultura ainda mais desprezada e desvalorizada, medo de ver a mediocridade tomar conta do nosso país, medo do Brasil não ter mais jeito.

E você? tem medo? de quê?

Ilust

raçã

o: M

auríc

io C

arlo

s

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