Painel 64

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Revista Laboratório dos alunos de Jornalismo da Unimep -

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CIÊNCIA & CULTURA

FACULDADE DE COMUNICAÇÃORodovia do Açúcar, km 156 - Cx Postal 68 - 13400-901

Fone: 0 (XX19) 3124-1676

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www.unimep.br

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70 estrelas pelo Guia do Estudante da Editora Abril

Graduação: Bacharelado, Licenciatura e TecnólogoPós-graduação: Especialização, MBA, Mestrado e Doutorado

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carta do editorExpEdiEntE

Órgão Laboratorial do Curso de Jornalismo da Unimep

Reitor: Clóvis pinto de Castro

Diretor da Faculdade de Comunicação: Belarmino César Guimarães da Costa

Coordenador do Curso de Jornalismo: paulo Roberto Botão

Editora: Rosemary Bars (MtB: 16.694)

Editores Assistentes: Evelim Covre

Fernanda ZanettiKaleo Alves

Mônica Camolesi

Editores de Imagem e Fotografia: Camila tavaresRafaela Barboza

Redatores:Alinne SchmidtAmanda dantasCamila tavares

Clareana Marrafondanielle Moura

Kaleo AlvesLarissa Zazirskas

Luiza MendoMayara Veiga

Mônica CamolesiRafaela BarbozaRenan BortolettoSamanta MarçalSoraya defavari

Stéphanie tomazin

Diagramação e Arte Final:Sérgio Silveira Campos

(Laboratório de planejamento Gráfico)

Foto de Capa:Renan Bortoletto

Correspondência:Faculdade de Comunicação

Campus taquaral, Rod. do Açúcar, km 156, caixa postal 68 – CEp: 13.400.911

– telefone: (19) 3124-1677

tiragem:1000 exemplares

Fontes

Escrever para revista é uma das práticas especializadas no jornalismo, com a fina-lidade de aprofundar uma informação atual que possa ser abordada por outros ângulos e enfoques diversificados, com depoimentos não apenas das fontes

envolvidas diretamente com o acontecimento, mas com a abertura para análises com a participação de especialistas no assunto. Mas nem sempre é fácil encontrar uma fonte interessada em atender o jornalista no tempo que este profissional tem para a produção de sua reportagem. E jornalismo se faz com fontes, pessoas que conhecem o assunto retratado e que tenham ‘algo para falar’ para um público diverso.

O pressuposto é que um profissional especializado sempre tem uma opinião, uma avaliação, um conceito para explicar um fato social, um comportamento individual, uma tendência política e/ou econômica e que esteja disposto a conversar com o público para explicar o desenrolar de acontecimentos que envolvam a sociedade e seu cotidiano. E encontrar uma fonte com essas características no tempo de produção jornalística, às vezes, pode representar uma tarefa árdua, principalmente para alunos que ainda estão por conquistar a confiança em seu trabalho.

Muitos especialistas, ao serem abordados por um aluno de jornalismo, se esquivam deles com as mais diversas explicações e, geralmente, a que mais se destaca é a falta de tempo para conceder a entrevista. Estes especialistas se colocam em posições superiores a dos estudantes e mostram-se inacessíveis, até mesmo para referendar o status que possuem nas áreas em que atuam. E, quando isso acontece, o jornalista passa a buscar outras fontes, por ter como dever coletar a informação que interessa a seu público leitor, um procedimento ético que o leva a derrubar inúmeras barreiras a fim de atender ao interesse coletivo.

Um princípio que nem sempre é obedecido por um especialista mais preocupado em falar com o seu público fim do que o geral, mais voltado a atender às necessidades de sua área do que a da coletividade, mais fechado em seu mundo hermeticamente referen-dado em conceitos e teses do que aberto às possibilidades para ampliar as informações direcionadas ao público geral, em difundir seu conhecimento e garantir a formação de novas ideias, de ampliar o debate sobre o cotidiano.

Encontrar uma fonte que entenda a importância de seu papel na prática jornalística está além do dever do jornalista em atender ao direito que o público tem à informação, pois isto depende da postura da fonte e da sua disponibilidade em responder os ques-tionamentos do profissional da imprensa. A fonte é primordial na prática diária e quanto mais especializada for essa prática mais específica deverá ser a fonte e, portanto, mais dificuldade de ser encontrada e de estar disponível para a entrevista. É sempre um terreno a ser avançado pelo profissional da imprensa e sempre um aprendizado para os alunos de jornalismo, que se desdobram para buscar a fonte ideal – que entenda o assunto em pauta e esteja disponível para conversar, dois ingredientes que tornam a prática prazerosa, pois ao conseguir identificar a fonte ideal o jornalista (e principalmente o estudante) percebe estar no caminho certo e que a jornada até a conclusão da reportagem teve como meta apenas a de excluir o descartável, quem provavelmente não tenha, ou não saiba, o que falar com o público em geral.

Situação que os alunos de jornalismo da Unimep vivenciam em suas práticas e que ajuda no processo de aprendizado a ter critérios mais claros para selecionar a fonte ideal. Os estudantes que produziram essa Painel vivenciaram na pele a dificuldade de ser atendidos por determinadas fontes, mas nem por isso desistiram da atividade acadêmica e portaram-se como profissionais competentes ao encontrar fontes que dominam os assuntos pautados nesta edição.

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O comediante oscar Filho fala sobre os desafios de se trabalhar

fazendo graça

A a rte de fazer rir

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EvElim CovrE

[email protected] ZanEtti

[email protected]

Sentado no palco onde exibe sua arte e totalmente à vontade. É assim, de maneira descontraída, que Oscar Filho, comediante stand up e repórter do programa CQC, recebe a revista painel para falar

sobre o seu trabalho na tV e no palco.O artista, que em cena arranca gargalhadas da plateia, mostra que

nos bastidores sabe falar sério. Em entrevista, Oscar revela que, apesar de trabalhar com o riso, há muita seriedade envolvendo seu trabalho.

Painel - Você tem formação como ator. O que o levou à comedia especificamente?

Oscar Filho - A natureza das coisas. Eu comecei a fazer teatro e há um tempo queria ter um grupo de comedia. Então, eu e alguns amigos criamos uma cena e despretensiosamente começamos a apresentá-la, mas na primeira apresentação foram 120 pessoas, lotou o lugar. na segunda sessão foram as mesmas 120 pes-soas e mais algumas. Com o final da peça eu comecei a sentir necessidade de escrever para mim, sem estar fantasiado de nada, nem de mulher, nem de bêbado, nem de nada. Eu comecei a fazer stund up e as coisas começaram a rolar.

Painel - Como você se descobriu comediante?Oscar Filho - Foi uma coisa natural. Aconteceu lá

em Atibaia, quando eu fiz essa peça de humor com meus amigos. Eu me lembro que uma semana antes a Fernanda Montenegro tinha se apresentado no teatro e teve público de “meia casa”. na semana seguinte foi a nossa apresentação e lotamos a sessão. A gente falou: “Caramba! As pessoas estão completamente loucas

ou a gente tem algum talento ou a mistura das duas coisas”. Começamos a fazer e percebemos que poderia ser possível financeiramente.

Painel - É verdade que é mais difícil fazer rir do que chorar?

Oscar Filho - putz, eu não sei! Acho que há a mesma dificuldade. talvez fazer rir seja um pouco mais fácil num espaço de um minuto. Se eu contar uma piada talvez você ria. Já fazer um show de uma hora e vinte pode ser muito complexo. Você não vai fazer ninguém chorar em um minuto, só se você der uma porrada na cara da pessoa. São comparações diferentes e, apesar de serem emoções, são emoções diferentes.

Painel - Você já viveu a experiência de fazer cho-rar? Gostou mais do quê?

Oscar Filho - Já. Em uma peça chamada “As bru-xas de Salém”. A temática envolvia o conflito de um homem conhecido na cidade por seu caráter e hombri-dade, mas que, apesar de casado, se deixa seduzir por uma garota. isso é muito legal no contexto porque a peça falava da época das bruxas, da inquisição, quando a traição gerava todo um conflito. no stund up é um

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A a rte de fazer rir

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outro contexto, é um contexto mais livre. A ideia é “vamos fazer rir mesmo”. São duas coisas diferentes. Agora eu estou curtindo muito fazer stand up e na época eu curti muito fazer essa peça.

Painel - Como surgiu a idéia do stand up no Clube da Comédia?

Oscar Filho - O Marcelo Mansfield já fazia uma peça com o Rafinha (Bastos) e com a Marcela (Leal), mas era metade teatro e metade stund up. daí surgiu a ideia de fazer só stund up, que era uma coisa que até então não tinha. Então foi criado um grupo de comediantes de stund up que se intitulou Clube da Comédia da qual eu fui convidado a participar. tudo aconteceu na mesma época em que eu comecei a sentir necessidade de escrever para mim. O convite aconteceu quando o Rafinha me ligou e disse sobre o projeto, mas eu não sabia fazer stund up. Foi um jeito de aprender a fazer fazendo.

Painel - De onde você tira as ideias para os seus textos?

Oscar Filho - do cotidiano. tem muita coisa louca por aí. por exemplo: há pouco uma menina chegou até mim e disse: “você é o César Filho?” Ela não sabia quem eu era, alguém disse alguma coisa para ela que a fez chegar até mim. O que interessava era o autógrafo de uma pessoa conhecida.

Painel - Qual a diferença entre fazer rir caracterizado de algum personagem e se apresentar de ‘cara limpa’?

Oscar Filho - Se você está no teatro e vê um homem entrando de mulher você já vai rir disso. Entra um cara com uma meia calça e a perna peluda você já vai rir dessa coisa. Ele conta a piada e você continua rindo, de repente a presença dele já te faz rir. Um efeito parecido acontece quando eu entro no palco, ou qualquer um dos meninos do CQC, pois as pessoas vão esperar da gente algo engraçado, elas já vão estar prontas para rir. Agora, a diferença entre um comediante stund up que não é conhecido e um outro comediante, que também não é conhecido, mas que usa caracterização, é que o segundo vai ter a vantagem de entrar em cena com alguma coisa que faz as pessoas rirem. O que está de `cara limpa` não. Ele vai ter que provar que é engra-çado. A grande diferença é essa, se o comediante tem figurino provavelmente tem uma iluminação diferente, cenário, ou seja, artefatos para as pessoas continuarem prestando atenção nele. no stund up é só o artista no palco. Eu, por exemplo, já fiz stund up no escuro. Foi no teatro Folha, eu tinha 15 minutos para fazer o show. Eu entrei no palco, passou um minuto e acabou a energia do lugar, não tinha luz nem microfone e eu fiz a galera rir. E foi inacreditável para mim. Eu pensei: “Caramba! Isso é um poder interessante”.

Painel - Pode-se dizer que o stund up é a novidade teatral dos últimos anos?

Oscar Filho - teatral não, porque não é necessaria-mente de teatro. Apresenta-se em teatro porque cabe mais gente. talvez seja um dos últimos acontecimentos interessantes, junto com o “improvável”, que utiliza o improviso, e o “Zé lá no Rio e Janeiro”, que é no mesmo estilo, é muito interessante. O stund up é uma novidade muito boa que demorou para chegar aqui.

Painel - Onde o Oscar Filho é mais engraçado no CQC ou no teatro?

Oscar Filho - no palco, porque no CQC tem a edição. Eles editam coisas que eu acho engraçadas e

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Humor político não é todo mundo

que sabe fazer”

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Oscar Filho - Chico Anísio é muito bom, Jô Soares é muito bom, mas eles são muito distintos. Complicado falar quem é o mais. na verdade eu não gosto muito de fazer este top-top. talvez Marlon Brando seja o melhor ator para mim...

Painel - O público faz comparações entre o Pâ-nico e o CQC em função dos quadros cômicos e das reportagens engraçadas. Você concorda com essa comparação?

Oscar Filho - Eles já não comparam mais porque entenderam que o CQC é uma outra história. O pânico é mais popular, tem mais público porque está há muito mais tempo no ar e as pessoas sabem exatamente o que ele é. Quanto ao CQC as pessoas ainda estão aprenden-

que eles não acham. É um monte de argentino. Os argentinos às vezes não entendem as piadas brasilei-ras. Ali, no CQC, há o poder da edição, já no palco eu me apresento por uma hora e vinte com as pessoas observando o que eu sou capaz de fazer. Então, eu posso fazer o que eu quiser. Se eu errar a galera vai me ver errando, ao vivo, não vai ter corte, não vai ter nenhuma mídia para me separar do público.

Painel - E se você errar você vai fazer o quê?Oscar Filho - Vou zoar com isso.

Painel - Você assiste aos programas humorísticos que atualmente são exibidos na TV?

Oscar Filho - Muito difícil...

Painel - Quando assiste, quais são? Oscar Filho - Eu tenho assistido alguns programas

de tV que são Mythbusters, O Aprendiz americano e quando eu posso Ídolos. Zorra total é no sábado à noite e geralmente eu tenho show, pânico a mesma coisa. São horários ruins. Casseta e planeta também faz muito tempo que não assisto.

Painel - E qual a sua opinião sobre eles? Oscar Filho - não posso falar. Se eu falar vai ser

alguma coisa muito superficial e preconceituosa, porque eu vou me basear em alguma coisa que eu tenha lido. Eu leio e sei que criticam “pra caramba”. O Zorra total e A praça é nossa, por exemplo, são muito criticados, mas ao mesmo tempo são programas de grande audiência. O Zorra total é campeão de ibope e eu penso que se tanta gente assiste é porque muita gente que gosta.

Painel - Quais as características que um bom comediante precisa ter?

Oscar Filho - Fazer rir.

Painel - O que fazer para fazer rir?Oscar Filho - ter disciplina, porque piada

é muito matemática e na matemática é preci-so ter muita disciplina. O stund up é muito matemático. O humor já é matemático; imagine o stund up que é mais milimé-trico ainda! O stund up não tem todos os aparatos de caracterizações, então é preciso fazer as pessoas rirem de tempo em tempo, caso contrário cria-se bar-riga no show e a galera cansa.

Painel - Quem você considera o melhor humorista do Brasil atu-almente?

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Eu prefiro o palco até por uma

questão de ego”

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tem momentos em que eu sou um personagem. Mas certamente eu não sou aquele cara baladeiro que meus colegas me pintam no programa, por exemplo. não vou a balada, não sei o que é balada, não sei quem é Lady Gaga direito. não sou esse cara xavecador, não sou mulherengo, não sou nada disso. Mas eu não falo quem eu sou, eles falam por mim. É um personagem pelo que eles dizem e não pelo que eu faço.

Painel - Seu apelido no programa é Pequeno Pônei. Por quê?

Oscar Filho - porque um cartunista chamado Caco Galhardo tem um personagem chamado pequeno pônei que fuma, que bebe e que é meio nervosinho. daí o tas (Marcelo) fez essa associação entre mim e esse personagem. para aumentar a sacanagem tem a questão da altura. Eu e o tas somos os menores dentre os sete integrantes do CQC, mas não porque a gente é baixinho, é porque os caras são gigantes. Eu tenho 1,68, e estou na normalidade. Mas como o tas é o apresentador do programa sobrou para mim. ninguém vai reparar na altura do tas que está atrás da bancada, vão reparar na minha altura.

Painel - O CQC diverte, informa ou diverte e informa?

Oscar Filho - diverte e informa. A gente ganhou o prêmio Jovem de melhor programa e eu falei no discurso justamente isso. Houve uma apresentação em Brasília em que uma menina de 17 anos veio falar comi-go e ela falou uma coisa que eu achei muito importante. Ela disse: “quando vocês fazem uma piada com política ou com político e eu não entendo eu vou no google pesquisar o que é”. isso é muito legal porque talvez se ela visse isso na escola, não teria muito interesse. O que é apresentado na escola há muito tempo é muito chato. Então, o CQC é uma maneira de fazê-la se envolver de alguma forma. É claro que eu estou nivelando por baixo, mas para um país que não tem nada de políti-ca, de conhecimento político, já é um grande feito. É

do o que é. Fazer humor político não é todo mundo que sabe fazer. O Casseta e planeta fazia, mas deu um tempo, depois voltou a fazer. Eu acho que o CQC é diferente do pânico, que é diferente do Casseta e pla-neta, que é diferente da Grande Família, que também é humor. Mas quando você fala humor fica bastante complicado, porque você classifica: drama, humor, ter-ror, encaixotam tudo e não é assim. dentro do humor há especificações, então são coisas diferentes.

Painel - O que é melhor: fazer o CQC ou estar no palco?

Oscar Filho - Eu me sinto mais a vontade no palco, porque no CQC eu não sei qual vai ser o produto final. Eu prefiro o palco até por uma questão de ego. Aqui eu tenho mais controle do que é feito, aqui eu falo o que eu quero. Lá tem aquela coisa de você estar falando para o Brasil inteiro. talvez tenham algumas piadas de religião que você não possa dizer porque tem o anunciante. A gente é muito careta nesse sentido, tem um monte de coisa que a gente não pode falar.

Painel - Onde você tem mais liberdade para tra-balhar?

Oscar Filho - no palco, porque aqui as pessoas entendem o que eu estou falando e quem está aqui é porque gosta do que eu faço. Lá sou eu e mais seis, então é o grupo. Aqui, as pessoas sabem quem eu sou, vêm me assistir. tudo bem que talvez meio levadas pelo CQC, por assistirem ao CQC, mas só o fato de terem pago é porque elas querem me ouvir falar.

Painel - O Oscar Filho no programa é um repórter

ou um personagem?Oscar Filho - A

mistura dos dois. tem momentos em que eu sou eu e

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Não sou aquele cara baladeiro que meus colegas me pintam”

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interessante porque o programa a divertiu e, com o humor, ela foi procurar uma informação para poder entender a piada.

Painel - Como é o processo de criação do humor do CQC?

Oscar Filho - A pauteira faz as pautas e, junto com o produtor, distribui entre os repórteres. A gente nunca escolhe qual matéria vai fazer. dependendo do horário que nós recebemos a pauta pronta nós podemos criar em cima dela. Além dis-so, na reportagem acontece a réplica do entrevistado, ou seja, eu faço a pergunta e não sei o que vão me responder, mas em cima dessa resposta eu preciso dizer algo que seja engra-çado. tem que ter improvisação, eu não posso fazer a pergunta, ouvir uma resposta que eu desconheço e ficar calado. Então, a gente é autor e co-autor ao mesmo tempo, todo mundo.

Painel - Vocês se preparam para a matéria?Oscar Filho - A gente se prepara lendo, estudando o

assunto. Eu fui fazer uma matéria essa semana do Aécio neves com o José Serra, eles são do mesmo partido e o Aécio queria as prévias dentro do partido para ver quem iria sair candidato a presidente da República no ano que vem. Eu preciso saber disso; tenho que estudar isso e o passado político do Aécio, o passado político do Serra, para poder criar coisas. Você tem que saber, se fizer uma pergunta errada para o `cara` ele já não te dá crédito. O preparo é no sentido de estudar as coisas.

Painel - Você diria que o formato do programa argentino deu certo no Brasil?

Oscar Filho - deu, eu acho que deu. Eu não botava muita fé, não, sinceramente. Quando eu fiquei sabendo do estilo do programa, o humor com política, pensei: “isso aí o Casseta e planeta já fez e já foi o tempo, não sei se agora”. devo dizer que eu estava enganado quan-do pensei isso porque está dando certo. O programa já tem um ano e meio e estamos renovando o contrato para mais um ano. Então está indo bem.

Painel -Você se considera um ator famoso?Oscar Filho - não. Eu acho esquisito, eu acho en-

graçado. Eu me considero ator. talvez seja a diferença

entre fama e sucesso. Eu me considero um cara com sucesso, como qualquer outro trabalhador. Se o cara trabalha e dá certo naquilo,

é feliz, ele tem sucesso. Ja, fama tem a ver com outra

coisa. Eu não saio no Fuxico, então eu não sou famoso. no dia

em que me convidarem para posar na G Magazine serei...

Painel - O que mudou na sua vida depois da TV?

Oscar Filho - As pessoas agora reconhecem meu trabalho, mas eu não me acho “ah, uma estrela”.

Painel - Esta é a sétima apresentação aqui no Teatro Dom Pedro e todas com a casa lotada. Algum dia você imaginou que isso aconteceria?

Oscar Filho - Se eu falar que não é mentira, porque quando eu saí de Atibaia eu falei “eu vou para São paulo para dar certo, eu não vou errar”. isso pode parecer meio pretensioso, mas eu queria dar certo naquilo que eu iria fazer e tenho dado certo. Mas eu acho que tem sido melhor do que eu tinha imaginado.

Painel - Você tem algum projeto de trabalho que esteja na gaveta além do CQC e do stand up?

Oscar Filho - Eu estou tentando ver se eu faço um curta-metragem de um roteiro, um texto que eu gosto muito. Vamos ver se rola ainda esse ano. Eu não me lembro o nome do texto, mas fala de dois engenheiros que vão construir um prédio e eles ficam falando como vai ser esse prédio, o que tem que ter mais espaço, sala de reunião.

Painel - Qual conselho você daria para quem quer ingressar na carreira de comediante?

Oscar Filho - talvez uma coisa que sirva para qual-quer área: gostar muito do que faz.

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Eu queria dar certo naquilo que

eu iria fazer”

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sumário

12 TCCs que viram referência Universitários se envolvem em projetos de

conclusão de curso que viram livros, bolsa para pós-graduação e prêmios diversos

14 Fora do Brasil Agências organizam intercâmbio cultural

que garantem trabalho para estudantes no exterior

16 A verdadeira paixão Profissionais se envolvem em carreiras

diferentes da formação acadêmica

18 No Caminho do Sol Jornada de 11 dias permite busca interior

em rota preparatória para o Caminho de Santiago

22 O fim do mundo Culturas pré-colombianas definem o ano

2012 como o final do último ciclo da Terra

26 A história da República A vida de Prudente de Morais marca os

120 anos do Brasil republicano

29 Toca Raul ! Grito de guerra referencia Raul Seixas, que

sobrevive nas interpretações dos covers

31 Sempre no cinema Cinéfilos sabem ‘decor e salteado’ vida de

artistas e produtores

32 Amizade na rede Internautas investem em diálogos virtuais,

reflexo das tecnologias que permitem novas amizades

34 Artesanato em alta Artesões investem em práticas manuais que

possibilitam renda alternativa

36 Comer no trabalho As marmitas preparadas com comida

caseira sustentam o trabalhador que busca economizar com alimentação e com transporte

38 Nas águas do Piracicaba Prática de canoagem na lagoa do Parque

da Rua do Porto revela atletas e traz muita diversão

41 Passeio de barco Trajeto na represa de Salto

Grande, em Americana, leva estudantes a terem mais informações sobre meio ambiente

44 Parto humanizado Hospitais aderem ao

projeto do Ministério da Saúde para redução dos partos por cesariana

46 Artigo

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oPiNiÃo

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toca Raul!! Quem nunca ouviu esse grito durante um show ou uma apresentação? Vinte anos se passaram desde a morte de

Raul Seixas e, no entanto o repertório dele perma-nece. Raul se foi, mas deixou sua herança musical. O ‘maluco beleza’ se tornou inesquecível devido às suas composições e seu estilo, e mais que nunca ele é sinônimo de música de qualidade.

Atualmente é comum ligar a tV e se deparar com apresentações musicais que realçam bem mais o corpo da bailarina do que a musicalidade do artista. O popular virou baixaria e as letras musi-cais estão cada vez mais apelativas e escrachadas. É como se julgassem que para ser popular e fazer sucesso obrigatoriamente precisa ser ruim. Então coloca-se uma garota atraente dançando ao som de uma letra qualquer na voz de uma pessoa qualquer.

ninguém vai perceber se a música é boa ou não, já que o que vai chamar a atenção do público é o rebolado da moça. Agora, se a intenção for fazer uma combinação perfeita para se atingir o sucesso imediato, o ideal é apostar em letras que insinuem sexualidade, seja explicitamente ou baseada em frases com duplo sentido. para piorar ainda mais a situação, as crianças aprendem esse show que é transmitido pela tV e com toda a ingenuidade repetem as coreografias e cantam as músicas para “surpresa” dos pais.

E onde ficam as músicas de qualidade nessa história toda? Cadê o rock nacional, o sertanejo de raiz? Certamente não estão na tV, meio em que não há espaço para eles.

diante deste cenário é ainda mais marcante a saudade das músicas de Raul Seixas.

Música de qualidadeEvElim CovrE

[email protected]

Encontrar alguém de destaque na sua área de atuação para entrevistar pode parecer fácil para jornalistas que trabalham em veículos renoma-

dos de informação. no entanto, quando a entrevista é feita por um estudante de jornalismo não é bem assim. O desafio começa em encontrar os contatos para se solicitar uma entrevista e ter paciência na espera, muitas vezes eterna, de uma resposta positiva.

Um jornalista como Caco Barcellos, por exemplo, possui dois endereços de e-mails disponíveis na inter-net. no entanto, muitos e-mails não são respondidos, afinal, ele deve receber várias mensagens solicitando entrevistas e, com a sua agenda de trabalho, não consegue atender a todos os pedidos.

E os estudantes de jornalismo estão acostuma-dos a não receber respostas para seus pedidos de entrevistas. Mas o importante é não desistir. para o jornalista a persistência é fundamental. para as

entrevistas desta edição foi necessário muita paci-ência até conseguir o “sim”. nesse percurso foram vários e-mails para pessoas como Gilberto Barros e Marcelo Camelo, sem que fossem respondidos. O assessor do cantor nando Reis chegou a pedir as questões por e-mail para analisar o que seria perguntado. A assessora da jornalista Ana paula padrão, muito atenciosa, passou até o telefone para contato, porém já avisou que a agenda da jornalista “está cheia”.

O que fazer? tantos contatos e pouco retorno. A procura em jornais, revistas e sites culturais pode ajudar a encontrar os personagens para as entrevistas da painel e, como todo bom jornalista, deve-se ir à luta, manter contato com o assessor. Ufa! O resultado está publicado nesta edição: uma entrevista com o ator e comediante Oscar Filho. E não é que deu certo?!

Procura-se uma fonte para entrevistar

FErnanda ZanEtti [email protected]

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môniCa CamolEsi

[email protected]

para conquistar o diploma e exercer a profissão escolhida, os universitários têm que elaborar e apresentar o tCC (trabalho de Conclusão de

Curso) para uma banca examinadora. Um trabalho que exige pesquisa, estudo e domínio sobre o tema escolhido. Mas para quem pensa que o tCC repre-senta somente o término do curso e que depois vai esquecê-lo na gaveta, está enganado. Há estudantes que encaram com consciência e levam a sério o trabalho de conclusão de curso e o enxergam como uma oportunidade para a vida profissional.

O bacharel em direito formado na Unimep Manoel Fernandes Furlan, revelou que seu objeti-vo inicial era “se livrar” do tCC. O tema, ele só definiu próximo ao prazo da entrega do trabalho. “peguei de bravo”, frisou ele, que escreveu sobre “Eutanásia Aspectos Jurídicos Bioéticos” e decidiu fazer um trabalho que lhe desse orgulho pelos cinco anos de faculdade e que o material se tornasse fonte de pesquisa.

Com o tCC concluído, Furlan inscreveu o trabalho no i prêmio Monografia do Centro Acadê-mico de direito “xV de Agosto”, em parceria com a Unimep, que aconteceu em 2008. O que ele não esperava é que ganharia o primeiro lugar: 80% de bolsa no curso de especialização da pós-graduação da Unimep. “Muito mais importante que a bolsa, o prêmio foi um estímulo para dar continuidade aos meus estudos”, explicou.

Além do primeiro lugar, Furlan foi convidado a transformar sua monografia em livro, um projeto que já está com a primeira versão pronta e a expec-tativa é lançar no próximo ano. “Estou feliz, pois minha monografia será publicada na integra, não será necessário mudar uma frase”, disse.

O segundo lugar no prêmio de Monografia ficou com Eneas xavier de Oliveira Junior, que ganhou 60% de desconto na pós-graduação de direito Am-biental, tema desenvolvido no seu tCC. para ele, os alunos que estão elaborando a monografia deveriam rever os valores. “Monografia é uma verdadeira porta para futuras atividades”, defendeu. Sobre a premiação, Oliveira Júnior acredita que os demais

TCCs que vão além

Entre os livros, Evandro Molina desenvolve sua monografia

Alunos apostam na qualidade dos trabalhos de conclusão de curso para ajudar na vida profissional

Fotos: Mônica Camolesi

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do diploma

Furlan exibe seu TCC, agora nas páginas de um livro

centros acadêmicos deveriam partir pelo mesmo caminho para incentivar os alunos.

Outra referência de monografia bem sucedida é o da nutricionista Roselene Valota Alves que, logo após a graduação, ingressou no mestrado e hoje é supervisora de estágio no curso técnico de nutrição da Unimep. “O tCC reforçou a importância do ‘aprender fazendo’, de utilizar referenciais teóricos confiáveis e fazer uma leitura cuidadosa e criteriosa sobre o assunto a ser abordado”. Roselene alerta todos os estudantes que estão desenvolvendo o tCC a se dedicarem. “Além de ser um momento de aprendizado intenso e importante, é uma opor-tunidade de publicação, o que enriquece a forma-ção profissional. Os alunos devem buscar algo que se identifiquem, pois será preciso ler bastante sobre o assunto”, ensina.

O estudante de gestão ambiental Lucas Milani Rodrigues, além de pretender colocar seu projeto em prática, também espera ser contratado. O traba-lho final de Rodrigues é a elaboração de um plano de marketing para uma empresa de consultoria. “tenho me dedicado bastante com o desenvolvi-mento do trabalho e ganhei mais espaço dentro da empresa”, comenta. Ele acredita que os estudantes devem levar a sério o desenvolvimento do trabalho

de conclusão de curso, para não deixarem essa oportunidade passar. “Empenho! Se estiverem numa empresa essa é a hora de mostrar serviço.não vejo o tCC ou estágio como mais uma maté-ria, mas sim como uma possibilidade de ascensão profissional”, aconselha.

Existem também os alunos que ainda estão na fase da criação do tCC, mas que já têm consciência de que um trabalho bem elaborado pode trazer resultados positivos para a carreira profissional. O estudante de administração da Unimep Fernando teixeira Mendes desenvolve sua monografia sobre “criação de novas tecnologias”. Sua proposta é discutir a viabilidade de abrir uma lanchonete no ramo de fast food com um diferencial: o cardápio eletrônico em 3d. “pretendo tirar esse projeto do papel em até dois anos”, calcula Mendes, que já pla-neja ingressar na pós-graduação em marketing.

A escolha do tema também foi criteriosa para o estudante do 8º semestre de jornalismo da Unimep Evandro Molina, que levou em conta a relevância de estudar a televisão. “Ela está presente na maioria dos lares brasileiros e influencia diretamente na construção da opinião da população”, avaliou.

para Molina, um bom tCC ajuda na vida profis-sional. “tenho planos de seguir a vida acadêmica e

a monografia permite pes-quisar, e isto é importante para quem quer seguir carreira na academia”. O curso de jornalis-mo da Unimep conta com o prêmio Losso neto de Jornalis-mo, concedido todos os anos pelo Jornal de piracicaba ao melhor tCC, escolhido por uma banca de

especialistas da área. O tCC de jornalismo é composto por uma mo-nografia, um programa de rádio, um programa de televisão e uma re-portagem para jornal impresso.

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amanda dantas silva

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Com o aumento de estudantes brasileiros que procuram trabalho no exterior há uma

variedade de programas em agências de intercâmbio que disponibilizam vagas com baixo custo, acessível a todos. diversas empresas oferecem vagas para quem quer viver a expe-riência de trabalhar em outro país. Entre os benefícios da viagem estão a oportunidade de valorizar o currí-culo e a prática diária de um idioma. isso sem contar a bagagem pessoal de superar desafios, viver em outro país com pessoas desconhecidas e vivenciar uma nova cultura.

Segundo a consultora da Ci (Cen-tral de intercâmbio) de Americana, tatiana Correira, a agência oferece dez programas de trabalho ou estágio para estudantes, mas para participar é preciso cumprir exigências que variam de acordo com o país, o empregador e o programa que a pessoa deseja. Em geral, o can-didato deve ter mais de 18 anos, nível intermediário de inglês, ser estudante e ter disponibilidade. “Quanto melhor o inglês mais fácil a adaptação”, frisa.

de acordo com Íris Suguimoto padial, que participou do internatio-nal College program da StB (Student travel Bureau) quando tinha 18 anos, atendendo à demanda foram orga-nizadas seis palestras para explicar o procedimento e as exigências do

programa. neste caso, os estudantes são selecionados para trabalhar nos parques da disney, na Califórnia e na Flórida, nos Estados Unidos.

Este programa exige que o inte-ressado tenha no mínimo 18 anos de idade, fale inglês fluentemente, seja estudante universitário regularmente matriculado em um curso com duração mínima de quatro anos e reconhecido pelo MEC, esteja cursando entre o se-gundo e o penúltimo período acadêmi-co, tenha disponibilidade para iniciar e completar o programa e condições financeiras para custear as passagens aéreas de ida e volta, além do seguro médico internacional e custos de visto. O candidato deve ainda comparecer na palestra informativa, nas entrevistas com representantes da StB e disney,

Trabalhar no

Agências oferecem programas de intercâmbio com vagas remuneradas para estudantes

exterior

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Objetivo é dominar

língua estrangeira

estar disposto a morar com diferentes pessoas que participam do programa, ser extrovertido, alegre e flexível em todos os sentidos.

O primeiro passo para candidatar-se a uma vaga de emprego é assistir às pa-lestras que explicam o funcionamento do intercâmbio; depois há a análise do currículo em inglês e uma entrevista individual com os profissionais da StB e da disney. A seleção sempre acontece em São paulo, quando são avaliados os perfis dos candidatos. Íris padial lembra que nem sempre a vaga pretendida é a indicada. “depende muito do inglês na entrevista. Eu trabalhei em lojas, mas tenho amigos que trabalharam em ou-tras áreas”. Os trabalhos podem ser em estacionamento, como personagens da disney, ou até mesmo com limpeza.

na primeira semana nos Estados Unidos os estudantes passam por um treinamento, em que aprendem normas de comportamento. “A reco-mendação é sempre mostrar-se feliz, simpático e educado”. Os alojamentos para estudantes podem abrigar de duas a oito pessoas. “Morei com mais cinco meninas em um apartamento fechado

dentro do parque da disney”. O trabalho de Íris era na loja chama-

da “Garben Gate”, no parque do Wall disney World, na Flórida, que vendia souvenirs, sapatos, cartões postais e ou-tros produtos do parque. Ela trabalhava oito horas por dia e recebia 98 dólares por semana. “O salário não era muito, mas dava para me manter bem”, diz. Com essa remuneração, ela pagava a moradia e o transporte. “O trabalho era puxado, em dias de festas eu chegava a trabalhar de 11 a 12 horas por dia”.

Marcela Bagarollo, formada em Jornalismo pela Unimep em 2008, realizou uma experiência um pouco di-ferente: fez um trainee de dez semanas pela Ci de Americana para a Escócia, na área de Relações públicas e política, entre julho e setembro deste ano. Ela estagiava na Caterpillar e seu contrato terminou em junho de 2009. “Como a crise havia afetado a com-panhia eu sabia que não teria chances de continuar na empresa”, lembra. por isso, resolveu procurar um programa de intercâmbio que envolvesse a área de comunicação. “Valeria muito mais no currículo”, justifica a estudante.

O programa que Marcela escolheu foi o iaeste, com o qual se identificou de imediato. Só teve que esperar por uma vaga relacionada à sua área. A inscrição foi feita um ano antes pelos outros participantes, por isso ela teve que fazer a opção de acordo com as vagas remanescentes, pagou a taxa exigida e aguardou. Ela ainda contou com uma garantia diferenciada, pois o valor caução que ela deixou na agência como garantia de que completaria cor-retamente o programa foi devolvido a ela graças ao sucesso do treinamento. “para cada país existe uma equipe representando o programa. no meu caso, que foi no Reino Unido, o trainee é organizado pelo Conselho Britânico que tem um escritório na Escócia e outro na inglaterra.” O visto é britâ-

nico porque a Escócia fica na Grã-Bretanha – Reino Unido. Em São paulo quem cuida do programa é a equipe Abipe (Associação Brasi-leira de intercâmbio profissional e Estudantil), empresa do grupo Ci (Central de intercâmbio).

Marcela morou na casa do empregador, onde funcionava o escritório de comunicação. para a vaga em que trabalhou foi a única selecionada. “Fiquei ansiosa ao pen-sar que passaria mais de 24 horas viajando e ainda encontraria o meu chefe depois dessa longa jornada. Mas encarei e foi fácil demais”.

Marcela trabalhava cinco dias por semana, cinco horas por dia. Acredita ter feito uma boa imagem diante da imprensa no Reino Unido. “Se fosse nos EUA eu seria uma mera imigrante latina. Gostei da maneira como fui tratada, como

uma profissional”, destaca a estudante.

para esse tipo de intercâmbio é preciso uma carta de aceita-ção que o empregador emite junto ao gover-no, encaminha para o estudante no Brasil,

que deve apresentá-la ao consulado do país para onde ele deseja viajar. Esse é o comprovante de que ele está indo a trabalho. Esse documen-to varia de acordo com a legislação de cada país.

A Ci conta com alguns parceiros que fazem o intermédio entre a em-presa e o estudante e dão suporte no exterior. Os principais são intrax, CCi e a Aspect. independente do programa que a empresa ofereça, as garantias gerais são a moradia e o convênio médico/seguro saúde. Os custos dos programas variam de 600 a três mil dólares para os estu-dantes, mais 200 dólares mensais para os demais gastos.

na taxa de inscrição está incluído um valor de 100 a 150 dólares, que as organizações repassam para a Ci. Os lucros da empresa representam 5% do valor do intercâmbio.

Marcela Bagarollo, (primeira à esq.) em um evento de trabalho em Glasglow.

Marcela Bagarollo

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alinnE sChmidt

[email protected]

indecisão, medo e surpresas. Esses podem ser alguns aspectos que acompanham a vida de quem preten-

de escolher um curso de nível superior. A decisão sobre a carreira profissional não é uma tarefa simples e torna-se mais complicada quando se percebe que a escolha feita não foi a correta.

Formada em economia doméstica pela Esalq (Escola Superior de Agricul-tura Luiz de Queiroz), Célia Orsolini Sanglade atualmente é empresária e atua na área de confecção de roupas infantis femininas há 14 anos. O curso de graduação a ensinou sobre extensão rural de uma propriedade agrícola e métodos para melhorar as condições de vida familiar por meio de uma admi-nistração mais racional das atividades domésticas. A empresária sempre teve fascínio pelo campus da Esalq e pensou em seguir uma carreira na qual pudesse permanecer em contato com a univer-sidade. porém, precisou estar no curso para descobrir sua verdadeira vocação. “Meus familiares moram em tietê, onde existe um pólo de confecção, e a maioria das minhas tias trabalha nessa área. Aprendi a costurar aos 14 anos. tanto que o time de Rugby da Esalq me procurava para que eu produzisse os uniformes dos jogadores”, explica.

num festival de teatro do qual a Esalq participou, Célia foi chamada para elaborar e confeccionar as roupas dos atores. O resultado foi o primeiro lugar conquistado pela universidade no quesito figurino.

A empresária persistiu em concluir economia doméstica e seus planos eram fazer pós-graduação e viajar para o ex-terior para pesquisar e especializar-se na área. Entretanto, engravidou no último ano do curso e seus desejos profissionais foram interrompidos. “Com uma famí-lia fica complicado morar fora do Brasil. Aproveitei a deixa e investi na área de confecção”, conta. Célia teve a oportu-nidade de montar seu próprio negócio quando conheceu um empresário de São paulo que a ajudou a caminhar no mundo da moda. Ela morou durante três anos na capital paulista, comprou máquinas de costura usadas e, quando percebeu que estava preparada para gerir sua própria empresa, voltou para piracicaba e abriu sua confecção.

Carlos de Arruda dias Júnior, for-mado em ciências contábeis e adminis-tração, nunca trabalhou na área. Há 10 anos exerce a profissão de provedor de soluções em telecomunicação. Sua fun-ção é analisar os meios de comunicação de empresas e elaborar uma estratégia de economia de gastos.

Quando ingressou na faculdade, sua intenção era continuar a adminis-trar os negócios do pai, que na época possuía um escritório, de advocacia. Ao trabalhar no escritório, percebeu que não tinha vocação para gerenciar, e sim para vender. Com muita facilidade, dias conseguia conquistar clientes, o que aguçou o seu lado comunicativo. “Ao nascer, todos já nascem comerciali-zando. perceba quando um bebê chora, isso significa que ele quer te convencer que está precisando de alguma coisa. todos nós somos vendedores, tenta-mos convencer alguém sobre alguma coisa. descobri algo que me fascina e amo a profissão que exerço”, frisa.

A gerente comercial Elisabete Lajes Ribeiro é formada em processamento de dados e exerce a sua função há 13 anos. Mas nunca gostou do curso que fez. Elisabete queria algo que envolves-se comunicação. Chegou a se interessar por jornalismo e também pela área de assistência social, mas na época não tinha condições financeiras para con-cretizar seus planos. Ganhou uma bolsa integral no curso de processamento de dados e preferiu aproveitar a oportu-nidade. “Eu tenho horror de ficar na frente da tela de um computador. Os

A

Profissionais descobrem depois de formados a verdadeira paixão, deixam o diploma na gaveta e se envolvem em carreiras que lhes deixam felizes

vocaçãopesa mais

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quatro anos de faculdade foram uma tortura”, confessa.

A escriturária daniela de Oliveira Garcia dorta, que trabalha na prefei-tura de piracicaba há nove anos, revela não ser feliz profissional-mente. Formada em hotelaria, sempre achou fascinante a área por ter a possibilidade de co-nhecer lugares novos e desfrutar de culturas diferentes. Mas, na opinião

da escriturária, é uma área que cobra um preço muito alto do profissional, e descobriu isso muito tarde. “Além de não possuir um horário fixo de trabalho, eu não poderia aproveitar os feriados e fins de semana. Quando todos estão descansando você está trabalhando, ou vice-versa. Logo me casei, tive filhos e precisava de uma vida mais regrada. nesse emprego tenho um bom horário e não trabalho aos fins de semana”, afirma.

Apesar disso, ela considera exaus-tivo fazer as mesmas tarefas todos os dias. por isso, gostaria de trabalhar em algo mais dinâmico e inteligente. Hoje, daniela pensa em seguir a carreira na qual se formou, caso consiga montar o seu próprio negócio, adequar os horários e não deixar sua família em segundo plano. Seu marido e filhos são prioridades para ela.

Testes – Os testes vocacionais podem ajudar quem busca a certeza sobre qual carreira seguir. Eles abran-gem uma avaliação dos interesses, do perfil de personalidade e de raciocínio em áreas específicas, como raciocínio verbal, visual-espacial, numérico e

mecânico. Os testes vocacio-

nais complementam um processo de orien-

tação que prioriza entrevistas para

levantamento e análise de in-formações so-bre a história de cada inte-ressado. O perfil de compe-

tência nas diversas áreas que compõem a inteligência e a personalidade de cada indivíduo permite uma indicação das profissões mais adequadas.

para a psicóloga Maria Regina Vieira, que possui 40 anos de carrei-ra, o fundamental é a maneira como o profissional aborda o problema do estudante. O aluno é o foco, não os testes. “Mesmo numa situação padro-nizada de avaliação, o profissional em psicologia atua de maneira clínica, atento a como a pessoa reage de forma particular. Sua história irá acrescentar significado aos resultados e contribui para uma interpretação final”, frisa. Segundo ela, a interação clínica pres-supõe o preparo do examinador para a aplicação dos testes e para o relato dos resultados, além do acompanhamento do efeito que possa exercer sobre o estudante e seus familiares. “É preciso considerar que a ansiedade faz parte de todo o processo de escolha vocacional e poderá exigir a recomendação de um acompanhamento psicoterápico mais profundo”, diz.

O estudante Matheus Cacelliero poletti pretende recorrer aos testes vocacionais. “Estou em dúvida sobre qual área seguir quando acabar o en-sino médio. Espero não concluir um curso de nível superior para seguir uma carreira profissional diferente. pelo contrário, quero garantir o meu futuro e acredito que os testes vocacionais podem me auxiliar”, afirma.

Os testes psicológicos são regula-mentados pelo Conselho Federal de psicologia, que mantém um sistema de avaliação e controle para disponibilizar aos profissionais. Cabe ao psicólogo selecionar entre a relação dos testes aprovados aqueles mais adequados para cada um de seus pacientes. A orientação vocacional é baseada não só na busca de autoconhecimento, como na melhoria de informação sobre as profissões e os cursos de formação.

para que não haja surpresas na esco-lha por um curso de nível superior ou técnico, a psicóloga Maria Regina re-comenda a análise cuidadosa da grade curricular dos cursos que interessam ao estudante. A orientação leva em conta a demanda do mercado de trabalho e a projeção de futuro.

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Formada em economia doméstica, Célia Orsolini

atualmente exerce o cargo de empresária no ramo de

confecções

Formado em ciências contábeis e administração, Carlos exerce atualmente a função de provedor de soluções em telecomunicação

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rEnan BortolEtto

[email protected]

Encontrar a paz interior e os equilíbrios emocional e mental está diretamente ligado aos anseios dos peregrinos que fazem o Caminho do Sol. Esta jor-

nadaz, como toda, não é só feita de bons momentos, já que alguns optam por ir até o limite do seu próprio corpo para alcançar um desejo, um pedido, ou simplesmente vencer obstáculos pessoais.

A jornada doperegrino

Num trajeto de 240 quilômetros, percorridos durante 11 dias, busca-se a paz interior no Caminho do Sol

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É com estes e outros objetivos que nove pere-grinos partiram de Santana do parnaíba e passaram por 13 cidades do interior paulista até chegar a Águas de São pedro, percorrendo um trajeto de 240 quilômetros durante 11 dias. O idealizador do Caminho do Sol, José palma, afirma que Águas de São pedro tem muitas semelhanças com a história de Santiago de Compostela, por isso foi escolhida como paradeiro final. “A topografia da estância é muito parecida com a de Galícia, cidade da Espanha onde termina o Caminho de Santiago. A qualidade de vida por aqui é invejável, o que tem tudo a ver com o propósito do Caminho do Sol. Sem contar que Águas de São pedro faz aniversário no dia 25 de julho, feriado nacional na Es-panha em comemoração do dia de Santiago”, compara.

palma lembra quando o Cami-nho do Sol era apenas um projeto embrionário, uma rota preparató-ria para o Caminho de Santiago. “Minha ideia era fazer um caminho que servisse como preparo para o de Santiago, onde o trajeto

é bem mais longo – são 850 quilômetros de caminhada percorridos em 30 dias”. desde

2005, quando foi iniciado o Caminho do Sol, mais de dez mil peregrinos já

fizeram o trajeto.Mesmo tratando de um programa

turístico – o peregrino tem que pagar uma taxa de 93 reais, ficar respon-sável pela compra dos acessórios de viagem e doar sete quilos de alimentos que são distribuídos às famílias carentes e entidades durante o trajeto - o idealizador

esclarece que o peregrino não está sujeito a mordo-mias e conforto. “Costumo dizer que o turista exige, já o peregrino agradece”, sintetiza palma.

dificuldades à parte, os peregrinos se doam durante a jornada e reforçam o aprendizado de coletividade. Como no caso de Glênia Albuquer-que Cordeiro Cavalcante, que viajou de Maceió até Santana do parnaíba para integrar o grupo de peregrinos. E, apesar das duas torções sofridas no joelho, ela conta como relutou à dor e não desistiu. “Logo no segundo dia de caminhada torci o joelho e as dores me fizeram parar. Fiquei dois dias sem poder caminhar, mas me recuperei e integrei o grupo novamente. Um dia após a minha recuperação ele

voltou a doer, mas com as palavras de incentivo dos meus colegas e muita fé prossegui”, recorda.

para o empresário Ângelo Ri-cardo nunes de Almeida, de Bau-ru, o Caminho do Sol o ajudou a refletir sobre suas próprias atitudes

e a convivência familiar. “Fui impulsionado pela minha filha e pelo meu filho, pois eles já fizeram o caminho. posso dizer que refleti muito e aprendi a respeitar o limite do próximo. tenho certeza de que daqui em diante meu relacionamento social será bem melhor”, diz.

nascido em portugal, Virgílio da Silva Ribeiro naturalizou-se brasileiro com apenas um ano e meio, e conta com orgulho passagens dos 70 anos de vida dedicados às caminhadas. “Comecei a caminhar aos 17 anos. de lá para cá não parei. Escalei o Monte Huaynapicchu, fiz a trilha da Civilização Maia, a tri-lha dos incas, o Caminho de Santiago de Compostela e nove vezes o Caminho do Sol. não há serra e morro

Percurso é preparatório para

o de Santiago

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Ren

an B

orto

letto

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em São paulo que eu não tenha escalado”, garante.Virgílio revela que as caminhadas mais longas e

importantes que fez foram realizadas depois dos 80 anos. “A maioria dos meus grandes feitos aconteceu depois dos 80. Ano passado fiz pela segunda vez o Caminho de Santiago de Compostela, sendo o ho-mem mais velho de toda a história a completá-lo”, gabou-se. A popularidade e a disposição de Virgílio chamaram a atenção de organizadores de outros caminhos pelo Brasil e pelo mundo. “Já estive na França, no peru, e em todos os principais caminhos do país. todas as minhas despesas são pagas pelos organizadores, não gasto um centavo”, afirma.

O Caminho do Sol na rota de Águas de São pedro não é feito só de cenários rurais em meio às plantações de cana-de-açúcar e beira de estradas. Os peregrinos passam por pontos religiosos e, todas as noites, ficam hospedados em pousadas. Levam consigo mochilas que pesam em média entre quatro e sete quilos, nas quais carregam trocas de roupa, protetor solar, cremes para a pele e sabonete.

A caminhada começa cedo, por volta das 5h30, e segue até entre meio-dia e 1h da tarde. Horas a pé são recompensadas quando os peregrinos encontram os chamados “anjos do caminho”, pessoas voluntárias que preparam um banquete inesperado para os peregrinos. Suco, bolo, pães e frutas são oferecidos depois de muito sol e vários quilômetros de caminhada.

Com as energias repostas, os peregrinos seguem em frente para não atrasar a cerimônia de chegada. nas pousadas nos e comércios por onde passam, rece-bem carimbos que comprovam a realização do trajeto, que é sempre demarcado por setas amarelas.

Após 11 dias de caminhada debaixo de sol e chuva, os peregrinos chegam à Capela do Após-

tolo tiago, no mini-horto de Águas de São pedro. Recepcionados pelo idealizador do caminho, eles badalam o sino três vezes, anunciando a chegada. A prova de que os peregrinos realizaram o trajeto é a entrega de um documento assinado pela xunta de Galícia: o Arasolis, palavra celta que significa altar do sol.

Ano Xacobeu - O ano de 2010 tem um motivo especial para os peregrinos religiosos. Será come-morado o Ano xacobeu e, segundo a crença, quem completar o Caminho de Santiago no próximo ano estará livre de todos os pecados. Um milhão de peregrinos são esperados. Em razão disso, os orga-nizadores planejam uma das maiores campanhas de divulgação na internet sobre o Caminho de Santiago, com investimento de 600 milhões de euros.

A tradição e a influência que o Caminho de Santiago têm na vida dos peregrinos levaram o ide-alizador do Caminho do Sol no Brasil, José palma, a propor uma irmandade à xunta de Galícia. “Es-tou mantendo contato com os administradores do Caminho de Santiago para que Águas de São pedro seja reconhecida como cidade-irmã de Galícia, além de elevarmos o nome da estância”, projeta.

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Fotos: Renan Bortoletto

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Profeciaspreveem fim do ciclo em 2012

Apesar das lendas serem diferentes, maias e astecas apontam mudanças no mundo em calendário milenar

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preveem fim do ciclo em 2012

ClarEana marraFon [email protected]

A profecia asteca que diz respeito aos cinco sóis, muitas vezes é confundida com a profecia maia que prevê o fim do mundo no dia 21 de dezembro

de 2012 no solstício de verão. tanto os maias quanto os astecas são descendentes dos olmecas, nativos considera-dos avançados em questões de agricultura, astronomia,

e foram uma das primeiras civilizações da América de que se têm vestígios, e os primeiros do hemisfério

ocidental a desenvolver a escrita, diz a professo-ra de história Estela Lamontagna Mouro.

Os olmecas surgiram na região Meso-américa por volta de 1500 a 400 a.C.

O nome, ao contrário do que pode indicar não é um sinônimo de Amé-

rica Central. “É uma expressão antropológica e arqueológica

que se refere à região da América onde se desenvolveu uma cultura de nível tão alto que se equiparou ao das grandes civilizações da antiguidade do Velho Mundo”, explica Estela.

Calendário Maia; abaixo, Pirâmide de Kulkukán em Chichen Itza

Fotos: Clareana Marrafon

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Apesar das duas civilizações terem tomado rumos

diferentes, suas crenças levam ao mesmo lugar, o fim de um ciclo. A astrônoma mexicana paola Juarez Farfán explica ser “uma finalização de todo um tempo. para eles, maias e astecas, haverá um alinha-mento de planetas entre Saturno, Marte e Júpiter e se verá uma estrela muito brilhante”, conta.

Segundo ela, a lenda dos cinco sóis está ligada à cultura asteca, em que cada um deles termina com uma destruição da terra, sendo que o planeta já vivenciou a presença dos quatro primeiros sóis e hoje vive o último deles. O primeiro sol foi o Matlactili, quando a civilização morava em caver-nas, cultivava a terra e foi devorada por jaguares. O segundo sol ficou conhecido como Ehecaltl, destruído por Ehecatl (deus dos ventos), sendo que o homem foi transformado em macaco para poder subir nas árvores e sobreviver.

O terceiro sol foi Tleyquiyahuillo. Os homems dessa época eram descendentes do casal sobrevi-vente do segundo sol, mas o mundo foi destruído pelo fogo. O quarto sol que afetou a terra foi Tatloc (deus do trovão e dos raios), o sol da água, quando os deuses tranformaram os seres em peixes do mar e se parecia com um dilúvio.

Hoje, pela história desses povos, a humanidade vivencia o quinto sol, conhecido como Tonatiuh, previsto pelos astecas para se encerrar no dia 21 de dezembro de 2012. Seu símbolo possui uma língua afiada em que os astecas acreditavam servir para se alimentar de corações e sangue humano, o que justi-ficaria os sacrifícios realizados por eles. “Um deles, o mais famoso, era realizado após uma partida de bola, e quem ganhava era levado até o altar onde tiravam seu coração e ofereciam ainda pulsando ao deus Quetzalcoal” afirma a astrônoma paola Juarez.

Ela explica que na cultura maia a serpente em-plumada conhecida como Quetzalcoatl tinha outro nome, Kukulcán, um deus sábio de pele clara que passava todos os ensinamentos sobre agricultura, astronomia etc. “Kukulcán previnha do céu, baixava na terra e se conectava com a astronomia”, afirma. A pirâmide utilizada pelos maias para essa conexão e sacrifícios é a Chichén Itza, localizada na península de Yucatán, hoje considerada uma das novas sete maravilhas modernas. “Vista de cima, Chichén tem o formato de um calendário maia”, ressalta paola.

Além disso, paola Juarez diz que a pirâmide, templo de Kukulcán, tem 91 degraus cada lado, e um último onde eram feitos os sacrifícios, totalizando 365, número de dias do calendário solar (ajustado para os equinócios de primavera e outono). “Os

maias possuíam três formas de contar o tempo: calendário sagrado tzolkin, calendário solar Haab, e a Contagem Larga, todos relacionados entre si formando ciclos”, explica a astrônoma mexicana.

O calendário sagrado Tzolkin ou Bucxok “é divi-dido em 20 dias representados por glifos que simbo-lizam 20 forças da natureza. Já os 13 números sim-bolizam 13 forças cósmicas, por assim dizer, uma vez que para os nativos existem 13 planos superiores ao terreno. Cada dia é uma combinação entre essas duas forças, os dois ciclos correm paralelamente até que a mesma combinação se repita - o que só ocorre a cada 260 dias” esclarece o escritor e fundador do projeto CMAiA (Calendário MesoAmericano independente e Aberto), thiago Cavalcanti. Ele ainda ressalta que este calendário está relacionado à gestação humana, e que a data de 21 de dezembro de 2012, profecia maia, é lida 4 Ahau 3 Kankin”.

Cavalcanti salienta ainda que o calendário maia civil Haab de 365 dias é dividido em 18 meses de 20 dias (base da matemática mesoamerica-na), mais um curto período de cinco dias; (18x20) + 5 = 365. A professora de história Estela Lamontagna Mouro completa ao explicar que os cinco dias que sobram são denominados Uayeb e são considerados dias azarados por estarem isolados no calendário.

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Chac Mool: estátua encontrata em Chichen Itza

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Esses dois calendários, o Tzolkin e Haab, se engrenam e formam o calendário de Contagem Larga, ou também conhecida por Roda Calendárica. “tanto a Roda Calendárica quanto o calendário Haab eram usados para prever chuvas, períodos de caça e pesca, além de prever o destino”, explica a mexicana paola.

A junção deles resulta em 18.980 dias, em que um dos 260 dias do calendário tzolkin coincide com o calendário Haab a cada 52 anos. A professora de his-tória Estela conta que nesse dia eram feitas cerimônias e vigílias, pois pensavam que o mundo acabaria.

Apesar da curiosidade gerada nesses assuntos a astrônoma paola frisa que “é um fim de ciclo para eles, mas para nós nada irá acontecer, concluirá o ciclo cósmico atual para aquela civilização pré-colombiana, mas só isso, não haverá fim do mundo”. thiago Cavalcanti concorda. “Muita gente colocou nas costas dos maias essa previsão, acredito que seja para ganhar dinheiro por meio de pessoas que não têm conhecimento”.

para a estudante de teologia e agrônoma Fáti-ma Marrafon, não será o fim do mundo em 2012. “Acredito que será o recomeço de um novo ciclo, pois as pessoas estão se conscientizando dos problemas ambientais do nosso planeta”. Ela cita o Cinturão de Fóton, uma galáxia em que a partir de alguns anos será vista da terra, e, segundo sites e livros, tem uma energia que fará com que as pessoas fiquem mais sensíveis às previsões de sonhos e ao ambiente.

O coordenador e professor do curso de história da Unimep e professor de história da América e de História Contemporânea donato Ribeiro res-salta que “o conhecimento que temos das culturas pré-colombianas foi mediado pelos colonizadores do século xVi.” Muito do que se diz hoje passou pela tradução e visão de mundo desses coloniza-dores, ainda que claramente possibilitam pistas e elementos dessas culturas”. O professor alerta que há uma tendência de ao nos depararmos com outra cultura de um outro tempo histórico de “não nos colocarmos dentro do contexto daquela historici-dade e temporalidade, o que muitas vezes levam as pessoas a buscarem uma compreensão daquele passado pelas referências do presente. nossa cultura contemporânea lida com o tempo de forma linear e essas culturas remetem a uma compreensão cíclica do tempo, por exemplo”.

Os mitos da criação e do fim do mundo estão presentes em várias culturas desde os primórdios da civilização. As referências encontradas estão em artefatos arqueológicos, em manuscritos, na Bíblia, na previsão dos cientistas e como tema de investigação para antropólogos e historiadores, por exemplo. O professor donato chama a atenção que o fim do mundo remete para algumas culturas o início de uma nova era, um novo tempo, e não necessariamente o fim da humanidade. Lembra ainda, que profecias nada mais são que profecias. “têm que entendê-las dentro do contexto histórico em que foram produzi-das, portanto não temos como atestá-las”, frisa.

Ruínas de Palenque localizadas em Chiapas,

estado de México

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daniEllE moura

[email protected]

“prudente no nome, prudente por prin-cípios e prudente por hábito”. Assim se auto definia o primeiro presidente

civil do país, prudente de Moraes. Sua vida é relembrada em prosa e verso no museu que leva seu nome e funciona na casa onde morou com a família em piracicaba. Cada detalhe é relem-brado pela historiadora Renata Gava, coordena-dora geral do Museu prudente de Moraes, que garante ter sido ele um homem regrado na vida pública e privada, que tinha controle sobre as pessoas à sua volta, mesmo que distantes. “Ele se preocupava em ser correto e justo, que pudesse servir de exemplo aos outros. Era meticuloso e bem articulado”, garante.

nascido em itu, foi o primeiro a ser eleito pelo voto popular no ano de 1894. Em nove de novembro de 1869, antes de envolver-se com a vida política, decidiu morar com a família na casa da Rua Santo Antônio, esquina com a Rua treze de Maio, em piracicaba. nesse endereço, promoveu diversas reuniões que resultaram em diretrizes políticas que fizeram parte da história do país. Ali, ele também administrava um escritório de advocacia e se envolveu no partido Republicano, que lhe rendeu a eleição para deputado em seguidas candidaturas, antes de atingir a presidência da República. “prudente soube conduzir estrategicamente sua carreira política. Ele foi uma liderança na propaganda partidária, sendo um dos primeiros a utilizar a imprensa para construir a sua imagem perante a nação”, comenta Renata.

em seus 120 anosMuseu “Prudente de Moraes” relembra a vida do primeiro presidente civil brasileiro

Arepública

Casa onde morou Prudente de Moraes, que hoje é museu, na rua Santo Antonio, esquina com a rua Treze de Maio, em Piracicaba

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A história política de prudente de Moraes está ligada à própria história da República Bra-sileira, que completa 120 anos. A historiadora da Universidade Federal de São João del Rei Vânia Maria Lopes lembra que a República no Brasil surgiu como um sonho de modernidade em 1889. “Achava-se que a forma de governo iria transformar o país. Mesmo levando em consideração que sua proclamação tenha sido feita pela elite, permitia-se sonhar com mudan-ças, inclusive entre as camadas populares mais simples”, conta.

Os primeiros meses republicanos não tive-ram o sucesso esperado. A presidência foi ocu-pada pelo militar marechal Manoel deodoro da Fonseca, no chamado governo provisório, até 23 de novembro de 1891, quando renunciou em função da oposição no Congresso nacional e pela resistência existente no Exército. Ele foi o primeiro presidente eleito de maneira indireta com 129 votos, 32 a mais que prudente de Moraes, que ficou em segundo lugar.

O vice-presidente Floriano peixoto, que havia sido eleito com 153 votos e liderava o Exército nacional, assumiu a presidência da República após a renúncia do marechal. “Sua presidência foi marcada pelo autoritarismo, mas também não fez os milagres esperados pelos brasileiros”, frisa a historiadora Vânia.

na disputa pela sucessão, venceu prudente José de Moraes Barros na eleição direta com 276.583 votos. para a historiadora Renata Gava, prudente de Moraes foi o principal articulador das ideias republicanas e sua vigência no Brasil deve-se a ele. porém, em seu governo, enfrentou uma das principais crises políticas: a Guerra de Canudos, confronto entre o Exército da Repú-blica e um movimento popular de fundo so-ciorreligioso liderado por Antônio Conselheiro. “no contexto nacional, o grupo era apontado como rebelde, pois vencia não só o presidente, mas a república”, explica Renata.

Segundo ela, prudente estava afastado por conta de uma cirurgia em função de problemas renais. Seu vice, Manuel Vitorino, teria enviado três expedições para Canudos, que foram derro-tadas. Quando retornou à presidência, prudente de Moraes recebeu cartas pedindo que tomasse providências contra os rebeldes. “Era como, ou faz alguma coisa ou, não acreditamos mais em você. Então, prudente enviou a quarta expedição, que colocou fim ao movimento”, conta.

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prudente de Moraes compareceu ao Arsenal de Guerra para recepcionar as forças militares vitoriosas regressas de Canudos quando sofreu um atentado. O jovem Marcelino Bispo de Melo apontou um revólver em sua direção, mas a arma não disparou. O marechal Carlos Machado Bittencourt e o coronel Luis Mendes de Morais interviram em defesa do presidente. Marcelino feriu o coronel com uma faca e apu-nhalou várias vezes o marechal, que não resistiu aos ferimentos. “O atentado fracassou, porém, deu condições para que o presi-dente decretasse o estado de sí-tio. Foram suspensos os direitos constitucionais e ele governou com amplos poderes”, relembra Vânia Maria Lopes.

Com essa atitude, prudente de Moraes neutralizou a oposição política e assegurou o predomínio dos interesses da oligarquia ca-feicultora no plano da política nacional. Ele governou até 15 de novembro de 1898. Com o fim do mandato, retornou para piracicaba, onde exerceu sua antiga profissão, a advocacia, por alguns anos e faleceu devido a uma tuberculose em 13 de dezembro de 1902.

Até o ano 1945 presidiram o país, com votos diretos: Campos Salles, Rodrigues Alves, Affonso penna, nilo peçanha, Hermes da Fon-seca, Wenceslau Braz, delfim Moreira, Epitácio pessoa e Arthur Bernardes. Já Washington Luís, mesmo sendo eleito por votação direta, foi deposto após a revolução de 1930.

Júlio prestes, Menna Barreto, isaías de

noronha e Augusto Fragoso fizeram parte da junta governativa provisória pós-revolução. Getúlio Vargas também participou do governo provisório, mas, posteriormente, foi eleito pela Assembléia Constituinte e pelo voto direto.

Em abril de 1964, teve início um dos perí-odos mais conturbados da história do Brasil: a ditadura. “O golpe dado pelas Forças Armadas derrubou o governo. A liberdade deixou de exis-tir, perseguições e mortes realizadas pelos mili-tares foram constantes, sendo este caracterizado como um período de terror,” frisa Vânia.

na opinião da historiadora, após 21 anos de ditadura as esperanças voltaram com a nova República. tancredo neves, na figura de presidente civil, representava uma luz para os brasileiros. “Mas, o sonho não pôde se realizar como o imaginado. tancredo se foi antes mesmo de começar”, acrescenta Vânia, ao lembrar-se da morte do presidente eleito de maneira indireta pelo Colégio Eleitoral instalado pelo Congresso nacional, em 15 de janeiro de 1985. na véspera de tomar a posse, em 14 de março de 1985, o político foi internado em estado grave no hos-pital e o vice-presidente José Sarney assumiu o cargo. tancredo morreu no dia 21 de abril de

1985, em São paulo.Os sucessores tiveram um

desafio: instaurar a democracia e reorganizar a economia. Apesar de planos econômicos terem sido criados e uma nova Constituição ter sido elaborada e promulgada em 1988, as crises continuaram. “Os escândalos políticos com

esquemas de corrupção fizeram e fazem parte dos nossos noticiários”, lamenta Vânia. para ela, a República Brasileira, apesar das mudanças sofridas ao longo de seus 120 anos, continua a ter uma política que se estrutura em acordos políticos, nem sempre honestos. “isso existe desde o início de sua história. trocam-se os políticos, mas as essências da desonestidade e da impunidade continuam as mesmas no Brasil”, finaliza a historiadora.

serviços: O Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Mo-raes fica à Rua Santo Antônio, 641, Centro. Está aberto ao público de terça-feira a domingo, das 9h às 17h e a entrada é gratuita. Informações: 19-3422-306

O túmulo de Prudente de Moraes fica no Cemitério da Saudade, à Avenida Piracicamirim, Vila Monteiro, e pode ser visitado de segunda a domingo, das 8h às 18h. Mais informações: 3426-6272.

Prudente foi importante articulador republicano

Espaço dedicado à Guerra de Canudos

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O “maluco beleza” do rock and roll brasileiro nasceu “há dez mil anos atrás” para ser a

“mosca a zumbizar” contra o conformismo e a mesmice. Morto há 20 anos, Raul Seixas ainda é a “luz das estrelas” no coração de muitos fãs da boa música. Com letras consideradas subversivas, suas músicas eram uma verdadeira “metamorfose ambulante”, que até hoje encantam pelo tom que instiga a reflexão. O grito de guerra ‘toca Raul’ ecoa em inúmeras apresentações por todo o país, afinal Raul não era apenas um músico: foi o pioneiro do rock no Brasil e sua acidez e incorfomidade o transformaram em mito.

nascido em Salvador, no dia 28 de junho de 1945, Raul teve uma infância e adolescência tímidas. Ele se trancava na biblioteca do pai para estudar e compor; seu gosto por este estilo formou-se quando viu o rei do rock mundial, Elvis presley, nas telas do cinema. Junta-se a isso os clássicos dos anos 50 e 60, e obtém-se a receita para um grande sucesso. “Raul era o autêntico ‘maluco beleza’, que é aquele cara gente boa, amigo de todo mundo, que tem seu estilo e não tem preconceito com o estilo dos outros”, afirma Gil Soldan, músico da banda Villa Blues, que tem músicas de Raul em seu repertório.

20 anos

Músicas de Raul Seixas encantam as novas gerações e covers perpetuam a memória do ‘maluco beleza’

sem Raul

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A produtora musical Luciane Lima, fã de Raul e presente em um de seus últimos shows, frisa: “Raul era um ídolo não só pra mim, mas para todo o Brasil, pela sua qualidade musical”. O ator e professor universitário thildo Gama, que se apresenta como amigo de infância de Raul, fundou um fã clube online, em 1994, cinco anos após a morte do cantor. “O fã-clube é um portal de continuidade da obra do maior ídolo brasileiro. nele, é preservado todo um acervo de fotos, músicas e até objetos de uso pessoal”, explica.

Roberto Seixas é cover de Raul há 22 anos e confessa que há algo a mais nessa relação. “Existem coisas nas vidas das pessoas que elas não entendem, como a alma gêmea, e Raul para mim é isso. Eu tinha pretensões de ser cover da dupla deny e dino, em 1975, mas daí Raul entrou em minha vida, como família mesmo.”

Raul Seixas foi “a mosca que pousou na sopa” da ditadura militar, com suas músicas que incomodavam o governo. depois de divulgar o álbum “Sociedade Alternativa”, composto em parceria com paulo Coelho, foi preso, torturado e exilado nos Estados Unidos em 1974. Re-tornou ao Brasil após o sucesso do álbum “Gita” com a música que leva o mesmo nome, que lhe rendeu o disco de ouro pela venda de 600 mil cópias. depois de 20 anos de sua mor-te, foram descobertas nos arquivos secretos do governo canções de Raul Seixas que foram censuradas.

Gil Soldan salienta que o compositor não se vendeu ao sistema e “falava sem medo o que a juventude queria dizer na época da ditadura militar”. Roberto Seixas diz que “Raul apenas cantou e foi de encontro com um sistema falido que queria manter o povo inculto. E isso pode estar acontecendo hoje, mas de uma maneira di-ferente”, compara. O amigo de infância thildo Gama concorda que as letras eram subversivas, pois “mostravam em metáfo-ras, códigos e até parábolas tudo o que Raul queria dizer, e a censura não detectava.” O gestor ambiental Fábio Levatti concorda que as composições tinham conotações políticas, já que o cantor não fazia parte do grupo de pessoas conformadas com a realidade brasileira.

Referência na música bra-sileira, Raul influenciou vários grupos e cantores a continuar o seu legado. Hoje, sua músi-ca faz sucesso principalmente entre o público jovem, como o universitário Carlos Eduardo Miranda. “não aguento mais

a realidade da sociedade em si, principalmente os jovens que são influenciados por músicas pífias e sem sentido. Raul é muito mais que isso, é uma manifesta-ção espiritual, um ideal muito forte na minha vida”. O economista Gleydson Miranda afirma que “Raul, se estivesse vivo, seria visto como uma lenda viva da música brasileira.”

A professora e intérprete Cris Lazzari explica não ser fã de Raul, mas da mensagem que ele passou, “de uma forma bem mágica, simplificada, alegre e des-contraída, de como ser feliz”. Segundo ela, o próprio Raul falava para cada um ser fã de si mesmo, e que “isso iria tornar o mundo um lugar melhor”. Roberto Seixas acredita que “Raul contribuiu de todas as formas possíveis porque é fantástico, e só quem bebeu dessa

água sabe o que significa”. thildo Gama reverencia o ídolo “pela contribuição na arte, na filosofia de vida, na psicologia, no comportamento, na política e até na antropologia”. para ele, a geração atual está decifrando as mensagens codificadas de Raul Seixas.

A hipótese de Raul fazer sucesso se estivesse vivo é confirmada por Luciane Lima. “As músicas de hoje têm péssima qualidade. Eu penso que todos iriam

ouvi-lo”. thildo Gama também acredita nisso. “É ló-gico que ele faria sucesso”. Quem discorda é Roberto Seixas: “Raul não faria sucesso porque a música dele não tem valor para a mídia, já que tudo é circo hoje em dia. Quem mantém a memória de Raul viva são os fãs que ele tem”. A estudante Cristiane picinini afirma que “Raul causaria muita polêmica e discussão, como fazia, mas agradaria, e muito”.

Estilo do cantor do

rock and roll é lembrado

por fãs

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A paixão pelo cinema é comum, mas a paixão dos cinéfilos por filmes é bem mais complexa.

Eles deixaram de considerar o gosto por filmes um hobby há muito tempo, pois ser cinéfilo significa ter disposi-ção para estudar e empenhar-se para se tornar um especialista no assunto. “Assistir ao filme não basta”, frisa Francisco de Assis Junior, cinéfilo há quase dez anos. “O cinéfilo é o cara que sabe tudo sobre a sétima arte, cada diretor, roteirista, atores. no mí-nimo conhece uma bibliografia básica entre obras e produções”, diz.

Muitas pessoas podem interpretar essa paixão por cinema como uma obsessão, mas Maria Rita Alves fala que “obsessão é uma palavra muito forte” para explicar sua admiração. Ela se considera uma apaixonada por filmes, desde a sua produção até sua chegada às salas dos cinemas. “Acho um insulto aos cinéfilos que determinados filmes não passem no interior do estado sob a alegação de que há a possibilidade da bilheteria ser mínima”, frisa.

Ser um cinéfilo requer tempo, investimento e vontade para conti-nuar nesse caminho. nem sempre os cinéfilos são bem vistos em função da fixação deles por um único assunto. O estudante André Luiz Ferreira sustenta que “o cinema é a forma que o homem encontrou para expressar seus sentimentos”.

Existem muitos gêneros de filmes

cinema

10 mANdAmeNTOSOs cinéfilos adaptaram os mandamentos religiosos como forma de representar o com-portamento do grupo. É o chamado Top 10:

Amarás ver filmes sobre todas as coisas.1. Não apertarás o pause em vão.2. Guardarás seus sábados e domingos para 3. sessões extras.Honrarás a sétima arte.4. Jamais contarás o final dos filmes.5. Não perderás nenhum lançamento.6. Não furtarás pipocas alheias.7. Não pularás os trailers.8. Não desejarás os DVDs do próximo.9. Não comprarás, nem alugarás DVDs piratas.10.

que atendem aos mais diversos gostos. Em cartaz estão desenhos para crian-ças, que também agradam os adultos, além de filmes de ficção, romance, terror e comédia, sem contar os do-cumentários.

para um cinéfilo não importa o fil-me, seja ele em cores ou em preto e bran-co. O importante é sua produção, como salienta Maria Rita Alves. “O gênero ou a cor é o menos importante. A história tem que ser boa, a produção bem feita e a

atuação impecável. Assim o filme pode ser assistido mais de uma vez”.

para a troca de opiniões sobre os filmes e atualização das informações, os cinéfilos se comunicam nas redes sociais (orkut, facebook etc) e por e-mails particulares. Os sites sempre têm dados sobre os últimos lança-mentos e sobre as produções em an-damento, como www.adorocinema.com.br e www.cinema.com.br

O estudante Alexandre Gabriel Rufato tem opinião contrária à fixa-ção pelos filmes, e só vai ao cinema se for convidado ou tiver carona. Crí-tico, diz que o cinema é uma forma de expressão tão importante quanto a música, a dança ou um quadro. “É somente entretenimento”, observa ao definir-se como “uma pessoa rea-lista”. “Quando assisto a um filme, se a sensação transmitida é a de que as cenas são irreais, ele não me agrada”. Em sua opinião, para a maioria das pessoas o cinema representa apenas “uma fuga da realidade”.

eles sabem tudo sobre oCinéfilos se envolvem para descobrir todas as informações sobre as produções e a vida de artistas e diretores

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Até pouco tempo atrás, amigo era aquela pessoa que estava junto de você para sair, con-

versar ou brincar. Quando o tempo obrigava os amigos a se distancia-rem, raramente se encontravam de novo ou sabiam o que se passava na vida do outro. Mas os tempos mudaram. O uso da tecnologia faz com que esses laços de amizade não sejam interrompidos. “Eu acho que aproxima aquele amigo que não se vê há muito tempo ou até mesmo aquele mais próximo da sua casa”, opina Leandro Rodrigo Soares. Ele também usa a internet para fazer amizades e ter contatos profissionais e complementa que “o mais legal do MSn é que se pode falar tudo que não se tem coragem para falar olhando nos olhos”, confessa.

A internet é um veículo que facilita e aumenta o contato com

diversas pessoas, ou seja, você não fica limitado em um circulo de amizade. Sendo assim, o usuário pode adicionar uma pessoa sem saber necessariamente onde ela mora.

Adolescentes internautas se relacio-nam normalmente e até confundem o real com o virtual. Alguns têm mais facilidade para se expressar tendo o computador como veículo. “Consi-dero que tenho muitos amigos só pela internet, sempre tem alguém pronto para me escutar sem a desculpa do ‘vou ali e já volto’”, argumenta Cris-tina Campos.

Os relacionamentos virtuais são cada vez mais comuns em salas de bate-papos, orkuts, twitters, o que influenciam radicalmente o interesse pelas amizades de web. São meios usados para construir entrosamentos que se podem tornar reais e facilitam abordar alguém para uma conversa. “Às vezes temos contato com nossos vizinhos, mas nem por isso os conhe-cemos e fica difícil chamar isso de amizade”, diz nelson.

Essa forma de relacionamento leva a reflexão do conceito da ami-zade. Segundo o professor Edvaldo José Bortoleto, a amizade no âmbi-to da filosofia, da mística e no pen-samento teológico é muito importan-te. na antiguidade clássica, Aristóteles dá um tratamento todo especial à amizade. Ele é o primei-ro filósofo a formular discurso ético dedicando dois livros sobre o valor da amizade, com três âmbitos. Um, por-que a amizade não está desconectada do tema da virtude e da felicidade. O segundo, é pela amizade entre Sócra-tes e platão. O terceiro é que entre os gregos a amizade é um tema muito peculiar e muito caro (valioso), dife-rentemente sobre como se entende na idade moderna.

na idade média, com o cristianismo e com o judaísmo, o tema da amizade envolve numa perspectiva religiosa,

Novas tecnologias permitem inovações no comportamento social e favorecem as relações entre os homens

Amizade virtual

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pode ser realvirtual

como narram os textos sagrados. Já na tradição mística, com teóricos como Eraldo de Rievaulx vão enfrentar o tema amizade diferenciando o amor da amizade “ao assinalar que o amor está dentro de todos nós e que devemos amar até nossos inimigos, e a amizade é algo que se dá para poucos, pois a amizade implica afinidade, cumplicida-de e em gesto de querer o bem de um e do outro”, explica o professor.

Em sua opinião, pode-se indagar o sentido da amizade virtual, que é diferente do sentido dos medievais e do sentido dos gregos. “para Aristó-

teles, o sentido de amizade tem três dimensões: daquilo que é útil, aquilo que é aprazível e daquilo que é um bem ou um bom, ou seja, eu me rela-ciono com o outro se ele me der algo em troca. Mas aquilo que é aprazível acaba e o que permanece é a essência daquilo que foi bom. Hoje talvez não tenhamos esse contexto de amizade. É preciso pensar quais são os quesitos, as perspectivas que se tem nesse tipo de relacionamento, pensar se é possível construir algo que o bem esteja acima de tudo. Será que ainda se mantém o que é útil e aprazível?”, pergunta.

A resposta, pondera Edvaldo José Bortoleto, pode estar na época em que se vive hoje, que é a do descarte. “Só sou amigo quando o outro me convêm, quando já não me convêm eu o desprezo”, compara e afirma que essa situação inaugura outra concepção de amizade. “não quero dizer que não se pode construir uma amizade verdadeira no âmbito da ló-gica informacional. A questão é: será que com a virtualidade podemos ter uma amizade numa perspectiva em olhar o outro no sentido do bem?”, indaga o professor.

Mundo virtual – O professor Roberto telles, professor da rede privada de ensino fundamental de piracicaba, diz que a virtualização é um processo característico do movi-mento de autocriação que fez surgir a espécie humana, que a acompanha ao longo de sua história e que cons-titui a essência da transição cultural acelerada vivenciada hoje. “na lin-guagem comum, o virtual é utilizado para designar ilusão, ausência de existência, algo inapreensível, opos-to ao real, que explica o tangível, o material”, explica.

Segundo ele, o conceito clássico de virtual está em pierre Levy, que esta-belece como vetores de virtualização a imaginação, a memória, o conhe-cimento, a religião. nesse sentindo, o conceito está dividido em quatro categorias: virtual, atual, possível e real, com dois pólos de relações. “A relação possível/real está no pólo das substâncias, enquanto a relação atual/virtual nos acontecimentos, oposto ao das substâncias”, sintetiza.

desta forma, salienta, é possível relacionar essas categorias sem o estabelecimento de pólos de rela-ções, colocando-se o real como o movimento entre o virtual, o atual e o possível. “tanto o virtual, quanto o atual e o real, carregam em si a abertura, a possibilidade”, aponta telles. Com essa explicação, o professor sustenta ser possível uma amizade virtual torna-se real.

Sites de relacionamento é uma opção para quem quer conhecer outras pessoas sem sair de casa

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tricô, crochê, ponto russo, ponto cruz e tear. Esses nomes lembram a vovó com o tricô às

mãos, sentada no sofá da sala com o gato correndo atrás do novelo de lã, imagem aquém da realidade de quem se dedica ao artesanato. Hoje, nas salas onde se ensinam trabalhos manuais não há preconceito com a idade. É muito comum encontrar jovens aprendendo a manusear agulhas de tricô ou crochê, a lidar com as linhas de meada, com os fios de lãs emaranhados, assim como uma senhora a segurar um alicate para fazer brincos e pulseiras coloridas.

A jovem Manuela Rosa se interes-sou por trabalhos manuais com uma amiga que a levou a uma loja de artigos para artesanato. “Comecei a fazer por curiosidade, fiz brincos e colares, e esse inverno me interessei pelo tricô”. Ma-nuela fazia as bijuterias apenas para ela usar ou para presentear as amigas, mas com o tempo se deu conta de que po-deria ganhar dinheiro com seu hobby. “As pessoas elogiavam os meus brincos e os cachecóis de lã e passei a aceitar encomendas. na faculdade quase todo dia tenho um novo pedido”, revela.

Com a crise que afeta o mercado de trabalho com carteira assinada, o artesanato representa uma forma de sustento para a família. Esse é o caso de tatiana Martins, que foi demitida da empresa onde trabalhou por dez anos. Com sua idade, 45 anos, teve dificuldades para ser recolocada em um novo emprego e as contas domés-

Trabalho manual cativa pessoas de todas as idades

e ajuda nos tratamentos contra depressão

Visitantes admiram os trabalhos das alunas de pathwork

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ticas ficaram acumuladas. A solução encontrada por tatiana foi aprender a fazer artesanato. “Fiz vários cursos de biscuit, pintura em madeira, em tecido e flores de seda”, lembra. Com o tem-po e a prática, tatiana se aprofundou nas técnicas e passou a fazer lembran-ças para casamentos, aniversários e nascimentos. “Faço o que o cliente pede, como cinco toalhas bordadas em ponto reto. Eu não sabia fazer, mas fui aprender e entreguei o pedido”.

O artesanato é mais do que um sim-ples trabalho manual, pois simboliza os costumes e o folclore de um povo. Sua origem está na na pré-história com os homens das cavernas polin-do as pedras e fazendo peças de cerâmica que se transformavam em utensílios para o dia a dia. Esses trabalhos evoluíram e ganharam características próprias de acordo com as culturas de uma comu-nidade, o que explica a diversidade e variedade de peças artesanais.

Algumas pessoas têm no artesa-nato o salário mensal. Márcia Lopes leciona em uma loja de produtos para artesanato há 15 anos e adora o que faz. “não me imagino fazendo outra coisa. Eu tenho orgulho de ensinar as pessoas e ver a evolução delas a cada aula, é muito gratificante”, frisa.

O trabalho manual também auxilia na saúde de quem sofre de depressão. terezinha Sanches é aposentada, seus filhos são casados e seu marido já fale-ceu. de repente ela se viu sozinha e a tristeza a levou a uma profunda depres-são. Com o auxílio da filha procurou tratamento e a psicóloga receitou, além de remédios, aulas de artesanato. “Co-

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mecei as aulas a contragosto, porque não achei que fossem surtir efeito”, confessa. terezinha se surpreendeu com os resultados obtidos, pois em um mês percebeu melhora na sua saúde. “Além de aprender coisas novas, fiz muitas amizades e estou indo até ao baile da terceira idade com minhas amigas”, diz sorrindo.

A psicóloga Sônia Alves recebe em seu consultório pacientes com sintomas de depressão e, na maioria dos casos, indica os trabalhos manuais como parte

do tratamento. “Em alguns casos, não receito remédios, apenas as aulas são suficientes”, frisa. Segundo Sônia, a melhora é comprovada em curto prazo. “A maioria das pessoas que me procura com sintomas da depressão são mulheres, algumas são aposenta-das, outras perderam algum familiar e precisam de uma distração”, explica.

Custos - A variedade de cursos de artesanato atende a todas as classes sociais. Se

para aprender ponto-cruz é necessário

apenas linha e agulha, no patchwork o material é mais caro, desde o valor da mensalidade até os materiais neces-sários. Luisa da Silva faz aula na igreja Batista, em Americana, onde os cursos são gratuitos. As pessoas precisam levar apenas o material que será usado na aula. “na igreja faço tricô, bordado, pintura em madeira e pacthwork ape-nas levando o material.”

Os tipos de artesanato estão sem-pre mudando, com novas técnicas e, para acompanhar essas mudanças, é preciso estar sempre atualizado sobre o assunto. Giovana Magri, gerente de uma loja de materiais para artesanato em Americana, conta que a cada perí-odo as pessoas preferem determinados tipos de cursos. “no momento, o que as pessoas mais procuram são os ma-teriais para decoupagem, patchwork e scrapbook.”

As mudanças climáticas também interferem no gosto das artesãs: no inverno a procura é por lãs para fazer os cachecóis, já no verão preferem os chinelos bordados. “nesse inverno nosso curso de tricô ficou esgotado, até com lista de espera”, fala Giovana.

Se o olhar para o artesanato for apenas para vê-lo como algo antigo, o observador estará enganado. Karina Ferraz faz trabalhos com feltro: lem-brancinhas, pesos de porta e até sacolas de lixo para carro. Ela faz artesanato desde os 14 anos, mas passou a vender faz dez meses. Karina renovou suas técnicas de vendas e expõe seus tra-balhos em seu blog: vestidadenuvem.blogspot.com. Ela diz que a internet é uma vitrine para seus trabalhos, somada à propaganda boca a boca, com seus clientes indicando os seus trabalhos para amigos e familiares. “normalmente as encomendas que re-cebo por meio do blog são para mais de 30 peças. Já vendi para muitas cidades do interior de São paulo e no momento estou em processo de criação para uma festa carioca”, relata.

Karina trabalha com carteira assina-da em um escritório, mas não deixa de fazer o que gosta. “Eu nunca fiz curso. Comecei os trabalhos por curiosidade e tenho verdadeira paixão pelo processo de criação, pelo efeito que as peças causam em quem as vê”, frisa.

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todos os dias às 10h30 os fun-cionários de uma indústria de Sumaré começam a esquentar

o almoço em banho-maria. Antonio poli é um dos trabalhadores que levam marmita por ser econômico, tanto no bolso quanto no transporte que gastaria para se deslocar até sua casa. Ele leva sempre frango, peixe e ovo, porque está proibido pelo médico de comer carne vermelha.

poli diz que sua mulher se preocupa com sua alimentação e que ele gosta do tempero caseiro. “Só a quentinha me dá essa delícia da comida caseira”, frisa.

Conhecido como Careca pelos colegas de trabalho, Joabe Mendonça Maciel sempre trabalhou em empresa que tinha restaurante. Quando mudou de emprego, preferiu optar pela marmi-ta. “A carne é frita de manhã. Apenas o arroz e o feijão são do jantar”, conta.

O método tradicional usado pelos trabalhadores é levar a comida na vasilha de alumínio, que permite ser esquentada em banho-maria. pórem, Luis paulo Ciarelli opta por acomodar sua refeição em embalagens de plásti-co. Sua esposa, Maria Marta Ribeiro Miranda, enrola a vasilha de plástico em um pano, acomodada no carro até a hora do almoço. “Adoro fazer comi-da para ele, mesmo ele não gostando de nenhum tipo de legume ou salada. Com a minha ajuda ele tem a opção de economizar e comer uma comida caseira, do jeito que gosta”, diz.

por ter mais tempo para descansar e não perder tempo na viagem de ida e volta, Edson Felipe Castro decidiu levar marmita no trabalho. “Levo legumes e salada, além da dupla arroz e feijão e a companheira carne”, brinca.

A nutricionista Cíntia Covolan, de Rio das pedras, alerta que as marmitas não mantêm o alimento quente por

muito tempo, o que pode resultar em comida azeda por causa da mul-tiplicação dos microorganismos. Se a marmita ficar fora da geladeira, o ideal é consumi-la até quatro horas após o seu preparo e mantê-la em local fresco, sem contato com o sol.

Há muitas opções para a acomo-dação da marmita. Cíntia sugere aos trabalhadores que têm um gasto ener-gético alto e não têm geladeira para armazenar a comida, que levem arroz, feijão, carne branca ou vermelha, ovo, farofa e frutas com casca, como banana, laranja ou maça. Estes tipos de alimentos apresentam maior dura-bilidade. “Legumes cozidos e saladas cruas são difíceis para armazenar fora da geladeira. O ideal é que o trabalha-dor opte pelo consumo destes vegetais no jantar”, esclarece.

A pesquisa realizada por Rafael Moreira Claro, Heron Carlos Esvael do Carmo, Flávia Mori Sarti Machado e Carlos Augusto Monteiro aponta a necessidade de se reduzir o preço das frutas, dos legu-mes e das verduras. A preocupação dos pesquisadores é com a qualidade da alimen-tação dos trabalhado-res, que reclamam de não incluir verduras e legumes na marmita por questão de preço e acabam por optar apenas pela carne. O trabalho, publicado em forma de artigo (Renda, preço dos alimentos e participação de frutas e hortaliças na dieta), conclui ser necessário políticas públicas para garantir a redução dos preços destes alimentos e permitir a inclusão na dieta do trabalhador.

Já para os trabalhadores que têm pouco gasto energético, Cíntia orienta

Seja para economizar, seja pela praticidade, a marmita está presente na vida de trabalhadores tanto de indústrias como de escritórios

Quentinha garante pra zer da comida caseira

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que optem por arroz, feijão, farofa, legumes refogados e saladas em potes plásticos individuais, além de frutas.

Adenildo Ítalo prepara sua comida bem cedo, desde quando começou a trabalhar, há 23 anos. “Já aconteceu de minha marmita azedar. não tive outra solução a não ser ir para o res-taurante”, lembra.

para economizar, a estudante de ar-quitetura Rebeca Cristina defavari leva marmita para a faculdade, que é período integral. A prática também é adotada pelos seus amigos, evitando chacotas. “Gosto de comidas com molho, pois pa-rece que foi feita na hora e não fica com gosto de requentada, além de macarrão, carne, dobradinha, feijão branco e estro-gonofe”, lista suas preferências.

Cardápio deve ser variado e conter carnes e legumes

Quentinha garante pra zer da comida caseira

Cuidados - A atenção ao preparar a refeição, acomodar a comida no reci-piente e acondicionar na embalagem de modo que fique seguro para transporte, podem ser os ingredientes diferenciais para quem tem a marmita como opção diária para alimentar-se. O preparo exige dedicação para que a opção seja, além de econômica, saborosa, com a qualidade do tempero caseiro.

A marmita, nos dias de hoje, também reflete a preocupação com a saúde, uma maneira confiável de se evitar as frituras, os empanados e alimentos cheios de gordura servidos em restaurantes.

Maria José da Silva Ferreira demons-tra atenção pelo neto Vagner da Silva Ferreira ao preparar logo de manhã a marmita. “Além de ele preferir carne vermelha e frango, também preparo uma garrafinha de suco, que ele gosta de beber com a comida”, fala.

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Lavar a marmita após o uso em solução de-• tergente e enxaguar em água corrente clorada (deixar por 15 minutos), ou álcool 70%, e deixar secar naturalmente;

Ao preparar os alimentos: lavar bem as mãos, • cortar cada alimento com uma faca diferente, a fim de evitar a alimentação cruzada (por exemplo, cortar a carne com uma e o legume com outra);

Não varrer a cozinha enquanto estiver manipu-• lando alimentos, e só lava-la após terminar de executar todas as tarefas, pois pode cair sujeira no alimento;

Nunca começar a comer a marmita, parar, • e depois comê-la novamente, ou seja, não

deixar um pouco para mais tarde, pois a saliva tem microorganismos que podem

azedar o resto da comida.

ORieNTAçãO PARA mANuSeAR A mARmiTA

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Camila tavarEs

[email protected]

É com o remo e o caiaque que moradores de pira-cicaba aproveitam a oportunidade oferecida ao município para passar momentos de adrenalina e

lazer, treinar e se aperfeiçoar no esporte que já ganhou credibilidade na cidade: a canoagem.

O esporte teve início em piracicaba em 1991, quando a Secretaria de Esportes implantou a canoagem popular e passou a oferecer a prática da modalidade gratuita ao município. A cidade foi uma das primeiras a democratizar o esporte. desde então os moradores de piracicaba têm se destacado em competições nacionais e internacionais.

Prática de canoagem garante diversão para adeptos do esporte praticado na lagoa do Parque da Rua do Porto, além de revelar atletas que já disputam campeonatos

Adrenalina

do Piracicabanas águas

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Em 1998 foi formada a Ascapi (Associação de Caiaques de piracicaba), criando uma parceria com o poder público municipal, mais especificadamente com a Selam (Secretaria de Esporte e Lazer e Atividades Motoras). todo ano é firmado um convênio, no qual a prefeitura repassa subvenção para o desenvolvimento da modalidade. A Selam possui uma parceria direta com a Unimep, na qual são cedidas bolsas de estudos para quem atuar no projeto como estagiário.

Gustavo Gozzo, professor de educação física e cam-peão paulista de canoagem, fala sobre o procedimento para participar das aulas. “Somos como uma escola. É necessário fazer inscrição, tem que saber nadar e há limite de vagas. O aluno que não tiver frequência nas aulas, perde a vaga”, explica. normalmente, Gozzo deixa o aluno fazer a primeira aula para ver se gosta e, se decidir continuar, faz a inscrição. A idade mínima para praticar essa modalidade esportiva é 8 anos. “Hoje temos em torno de 80 alunos praticando o esporte”, orgulha-se.

A canoagem é composta pelos seguintes obstá-culos: são colocadas no rio balizas nas cores verde e branca e vermelha e branca, pelas quais os canoeiros têm que passar. pelas verdes e brancas se rema a favor da correnteza do rio, já pelas vermelhas e brancas é preciso fazer o contorno e remar contra a correnteza. Se encostar na baliza são acrescentados dois segundos no tempo do participante, se não passar pela baliza são acrescentados 50 segundos e vence o participante que realizar o trajeto em menos tempo.

piracicaba tem se destacado nos últimos anos nos campeonatos, sendo considerada pelos adversários um dos principais concorrentes. “Somos pioneiros no esporte, temos uma boa estrutura, tanto pela qualifi-cação dos professores como pela associação, é o que nos fortalece”, conta Gustavo.

A qualidade do treinamento e o esforço dos alunos levaram representantes piracicabanos a campeonatos internacionais. É o caso de Willian Ferraz, estudante de fisioterapia de 18 anos, que começou a praticar cano-agem há seis anos. “Moro perto da área de lazer e um dia, passando por lá, vi um campeonato de canoagem no lago e me interessei. Comecei a treinar e participar de campeonatos”, conta. Ferraz conseguiu classificar-se no campeonato de Cerquilho, e, em agosto desse ano, foi para o pan-americano no Canadá.

A paulistana Maíra Cotrim, estudante de ciências biológicas da Esalq/USp, começou a treinar há oito anos, assim que se mudou para piracicaba. Ela ficou em primei-ro lugar no campeonato Sul-americano na Argentina em 2003, em terceiro lugar no pan-americano nos Estados Unidos em 2005 e, em 2009, ficou em segundo lugar no campeonato brasileiro e participou do pan-americano no Canadá, entre outros campeonatos menores.

Willian Ferraz e Maira Cotrim

treinando no lago da área de lazer

Camila Tavares

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Maíra é uma das únicas mulheres a praticar o esporte, mas já ganhou credibilidade e respeito dos rapazes. “no começo ninguém estava acostumado a ter uma menina remando, hoje já sou uma veterana, então sou super-respeitada”. Mesmo com as dificulda-des encontradas a canoeira não trocaria de esporte. “A emoção de colocar um caiaque no meio do rio e remar na corredeira não se compara. O fato de ter pouca mulher participando faz com que eu ganhe destaque, as pessoas se admiram e me acham corajosa”.

O esporte conta com uma turma de estudantes da Apae de piracicaba, orientada pelo professor de educação física Alan Schimidt. São oferecidas a esses alunos algumas modalidades esportivas e a turma que escolher as aulas de canoagem treina uma vez por semana na lagoa da Rua do porto. Schimidt iniciou as aulas de canoagem, mas não sabia exatamente como trabalhar com esse público. “Comecei a pesquisar e descobri pessoas na itália, nos Estados Unidos e na

Alemanha que trabalhavam o esporte com crianças que têm deficiência. Acompanhei o procedimento, criei o nosso método e iniciei o treinamento com eles”, explica. Cada turma, composta por 15 alunos, tem o limite de dois anos para treinar e, depois, Schimidt reinicia o trabalho com novos alunos.

Hoje, o professor treina a quarta turma e garante que os resultados são de sucesso. A canoagem, salienta,

melhorou a capacidade motora e, assim, desenvolveram outras áreas do corpo. Alguns dos praticantes chegaram a in-gressar no mercado de trabalho. “A cano-agem é um dos esportes que estimulam o aluno a pensar, não é ensinado à base de repetição. Eles têm que saber o que

fazer para o caiaque sair do lugar, mas é um processo natural que não se pode forçar”, frisa.

O caiaque teve seu surgimento na Groenlândia, onde servia de veículo de pesca e trabalho aos esquimós. O nome caiaque significa ‘Barco de Caçador’. no Brasil era utilizado pelos índios na caça e pesca e, em piraci-caba, não foi diferente com os primeiros habitantes, os indígenas, atraídos pelo rio e pela riqueza da pescaria.

denis terezani, professor de educação física e coor-denador da Ascapi, afirma que a canoagem é importante para o município. “A canoagem é presente em piracicaba desde sua fundação. Sempre existiram canoas e barcos como meios de transporte, diversão e, agora, no espor-te”, lembra. porém, frisa, o fato mais marcante é que piracicaba foi uma das primeiras cidades a acreditar que a canoagem poderia ser um esporte popular. “Rompe-mos com o estigma de esporte elitista”, opina.

A Ascapi mantém as aulas com o apoio da prefeitura e por meio de patrocinadores. Só este ano aproximada-mente 300 alunos vivenciaram a prática desta modali-dade. As aulas de canoagem são gratuitas e acontecem de segunda, quarta e sexta, das 9h às 11h e das 16h às 18h na área de lazer, próxima à Rua do porto.

Aulas são gratuitas: basta fazer a inscrição

Alunos nas aulas de caiaque oferecidas pela prefeitura

O professor Alan Schimidt dando instruções a aluno da APAE

Fotos: Camila Tavares

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samanta marçal

[email protected]

Localizada na cidade de Americana, a Associação Barco Escola da natureza trabalha para envol-ver a população com a problemática do meio

ambiente da região e com a situação socio-ambiental do mundo. Fundada em 2000, tem como meta a recu-peração do reservatório de Salto Grande. O excesso de lixo, o desmatamento, a ocupação ilegal, a queima de cana-de-açúcar e os aguapés, plantas aquáticas invaso-ras, são os desafios enfrentados para a recuperação do reservatório, que já foi um dos pontos turísticos mais frequentados da cidade nas décadas de 70 e 80.

Passeio de barco ajuda a entender meio ambiente

Em Americana, estudantes conhecem os problemas existentes no reservatório de Salto Grande

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participam do projeto Jovem cidadão da natureza. Alunos com idade entre 14 e 17 anos desenvolvem pesquisas na área do reservatório e também na-vegam pelos rios da região. no final de cada semestre os alunos recebem certificado de conclusão de curso.

João Carlos fala que esse projeto é uma experiência interessante para os jovens que ainda não decidiram que profissão seguir. São formados aproximada-mente 70 alunos por ano.

A associação é reco-nhecida como uma Oscip (Organização da Socie-dade Civil de interesse público) e, para justificar o

título, busca junto às outras organiza-ções de defesa do meio ambiente exigir ações dos órgãos municipais e das empresas responsáveis pelo tratamento de esgoto. Quanto às providências para a recuperação da qualidade das águas, João Carlos comenta que “não só os dAE’s (departamento de Água e

A sede da associação fica na praia dos namorados, onde funcionava um restaurante de propriedade de João Carlos pinto, fundador e diretor presidente do Barco Escola. O estabe-lecimento era frequentado por turistas que aproveitavam a “prainha” de água doce, mas a poluição e o desmatamento incomodavam os clientes. “Até os anos 80 o comércio da região era forte, mas a degradação afastou meus clientes e atraiu pesquisadores de universidades, com quem criei um vínculo forte de amizade. Foram os estudantes que me ajudaram no início da criação do Barco Escola. Eles ministravam aulas sobre o meio ambiente para os primeiros visitantes”, conta João Carlos.

Além de priorizar a recuperação do reservatório, os representantes da associação executam programas que visam a orientar a sociedade quanto à preservação ambiental. Atualmente, são desenvolvidos três projetos: na-vegando nas águas do conhecimento, Voluntário ambiental e Jovem cidadão da natureza. João Carlos destaca que os programas têm a finalidade de envolver cidadãos de todas as idades e classes sociais. “Acredito que a edu-cação ambiental é de ‘mamando’ a ‘caducando’”, brinca.

A sala de aula é um barco com capa-cidade para 40 passageiros que navega com estudantes pelo reservatório de Salto Grande durante uma hora e meia. O barco Helena x faz parte do projeto navegando nas águas do conhecimen-to. A embarcação é comandada por monitores especializados que promo-vem a conscientização ambiental por meio do contato direto com a natureza e os problemas ambientais existentes na região. Cerca de 86 mil pessoas já participaram do projeto.

O passeio é agendado por escolas e instituições de toda a região. Logo pela manhã os alunos assistem a uma apresentação num telão, pelo qual é exposta toda a problemática ambiental do reservatório e do mundo. depois, o grupo conhece o minilaboratório para conferir algumas amostras da degra-dação ambiental. durante o passeio pelas águas, os estudantes vivenciam os desafios enfrentados na recuperação do reservatório. O material pedagógico

apresentado e distribuí-do é direcionado e aten-de os públicos de todas as faixas etárias.

O aluno nicolas Gambero, estudante da Escola Senai de Ame-ricana, participou do passeio e disse ser “incrí-vel como a situação do reservatório está ‘feia’. E aqui vemos só um pouco de tudo o que está acon-tecendo no mundo”, compara.

durante a navegação a bordo do Helena x é possível avistar uma va-riedade interessante de espécies como aves sil-vestres, gansos, patos e mamíferos, como preás e capivaras. Há também aproximadamente 17 variedades de peixes e até mesmo um jacaré já foi encontrado na região do reservatório.

Outro projeto que apresenta re-sultados significativos é o Voluntário Ambiental. Com o apoio da polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros e da Marinha, os representantes da associa-ção promovem um curso de capacitação para os voluntários interessados em atuar como fiscais do meio ambiente e desen-volver palestras e oficinas de conscientização em empresas de variados seg-mentos. por meio do cur-so, os voluntários também ficam aptos a navegar pelo reservatório e pelos rios. Mais de oito mil participam anualmen-te do projeto. “As pessoas repassam o que aprendem, é o que chamamos de agentes multiplicadores”, explica João Carlos.

Em todos os semestres são for-madas turmas de no máximo 40 es-tudantes de diversas instituições que

86 milpessoas já

participaram do projeto

O Barco Escola Helena X já transportou mais de

86 mil passageiros pelas águas do reservatório

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Esgoto), mas também o sistema Sabesp funciona a ‘passos de tartaruga’diante da situação ambiental”.

Aguapés - As plantas aguapés das espécies orelha de rato e alface d’água

foram implantadas no reservatório de Americana para ajudar na retirada de esgoto das águas, como forma alter-nativa para tratamento. As aguapés devem ser retiradas todos os dias para que não devolvam às águas as impu-rezas que filtraram. diariamente, num período de oito horas, são carregados cerca de 25 caminhões de aguapés, trabalho realizado pela CpFL (Com-panhia paulista de Força e Luz), que utiliza o reservatório como concessio-nária de energia.

devido ao desmatamento da mata ciliar, surgiu na região uma planta in-vasora, o capim brachiaria. Esta espécie se alimenta de nitrogênio e fóssil, que existe em abundância no Salto Grande. As fibras fortes da brachiaria enroscam nas hélices do barco e dificultam o trabalho da CpFL. O marinheiro do Helena x, Márcio Claudino, enfrenta diariamente o desafio de não permitir que as fibras comprometam o fun-cionamento das hélices. “Certa vez levei cerca de uma hora e meia para desenroscar manualmente as fibras”, conta Claudino.

Ao redor do reservatório existem casas que ocupam áreas ilegais, pois foram construídas muito próximas às margens do rio e, mesmo ocupando espaço indevido, alguns proprietários preferem pagar a multa, que não é bai-xa. A área também apresenta erosão,

assoreamento e plantações de cana-de-açúcar, que contribuem para a poluição em época de queimada.

Somente a prática da pesca espor-tiva é permitida no local e não é reco-mendado nadar no reservatório, já que os problemas ambientais acarretaram a proliferação de algas azuis que causam irritação na pele e febre alta.

Equipe - A associação possui pro-fissionais formados na área ambiental como engenheiros, biólogos e estagi-ários. Eles ministram cursos, partici-pam de palestras, câmaras técnicas e acompanham os estudantes durante os projetos. Além dos funcionários, há também voluntários que trabalham diariamente na instituição. João Carlos destaca que todos os profissionais são muito unidos. “Aqui, temos problemas com temperatura, enfrentamos vento forte e chuva. Somos uma verdadeira família, para trabalhar aqui tem que ter coração”, frisa.

O voluntário Lucas Felipe de Oli-veira é monitor do projeto navegando nas águas do conhecimento. Ele chega a dedicar oito horas do seu dia à insti-tuição. Recém-formado em engenharia ambiental, diz que é muito significati-vo sentir que os alunos passam a ter uma nova visão quanto às questões ambientais após vivenciar o passeio pelo reservatório. Um exemplo disso é o estudante Bruno Alves tavares, aluno da escola Senai de Americana. “A conscientização de todos sobre o meio ambiente é muito importante. As pessoas não dão o valor que a água merece, desse jeito daqui a um tempo pessoas com 20 anos, devido à falta de água, vão ter aparência de 40 anos. Quero dividir minhas experiências com todos,” diz.

para conhecer os projetos e eventos da Associação Barco Escola da nature-za, acesse o site www.barcoescola.org.br. Mais informações sobre como ser um voluntário ou receber um grupo de voluntários em sua empresa podem ser conseguidas nos telefones (19) 3465-2761 e 3465-3404. O passeio de barco, que faz parte do projeto navegando nas águas do conhecimento, pode ser agendado por representantes de esco-las, entidades e grupos de pessoas, para fins acadêmicos.

Minilaboratório expõe amostras de degradação ambiental

Fotos: Samanta Marçal

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larissa ZaZirsKas

[email protected]

incentivar o parto normal entre as mulheres e reduzir o número de cesáreas realizadas no país são os objetivos do Ministério da

Saúde na campanha nacional pelo parto hu-manizado. Apontado não apenas como mais uma técnica para ajudar a mulher a dar à luz, este tipo de parto é um conceito que garante o direito da gestante de escolher como será o nascimento do bebê e se diferencia do parto normal apenas pela forma como a mulher será abordada no hospital.

Segundo a Organização Mundial de Saú-de (OMS), “humanizar o parto é adotar um

conjunto de condutas e procedimentos que promovam o parto e o nascimento saudáveis,

pois respeita o processo natural e evita condutas desnecessárias ou de risco para a mãe e o feto”.

A ciência médica vem comprovando que o parto humanizado é o melhor para a saúde da gestante e da criança e que o excesso de intervenções tecnológicas durante o parto pode não ser tão seguro pelo risco de infecções.

A enfermeira obstetra do Hospital Santa Casa de piracicaba Camila Fernanda explica que “no parto normal a recuperação da paciente é excelente e mesmo sob efeito da anestesia ela não tem nenhuma limitação física. Já na cesareana há a incisão cirúrgica (corte) de sete camadas na região abdominal, o que limita muito a realização de movimentos pós-parto e dificulta o processo de cuidar do recém-nascido. Fora isso, as complicações pós-operatórias e as taxas de sangramen-to durante e após o parto são maiores na cesárea”.

O modelo de parto humanizado foi adotado pela Santa Casa, que o batizou de projeto de Estruturação

Por recomendação da OMS e do Ministério da Saúde, hospitais adotam procedimentos para a redução de cesáreas

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para o parto Humanizado na Maternidade, e foi aprovado pelo Ministério da Saúde. A coordenadora e enfermeira obstetra Adriana Brandão de Andrade salienta que o objetivo é estabelecer padrões para o funcionamento dos serviços obstétricos, a fim de reduzir a taxa de cesáreas, conforme preconização do ministério.

A OMS recomenda que do total de partos realiza-dos o índice de cesáreas seja de até 15%, o que faz do Brasil um recordista em partos cirúrgicos. Em piraci-caba, no ano passado, os partos normais realizados somaram 1.677 contra 1.132 cesáreas. Este ano, até o momento, foram registrados 1.518 partos normais e 1.152 cesáreas.

na Santa Casa de piracicaba foi realizado em agosto um total de 53 partos normais, 46 cesáreas e um óbito, sendo aproximadamente 53% partos normais e 47% cesáreas. Em setembro, o total foi de 61 partos nor-mais, 57 cesáreas e um óbito, ou seja, 51,50% partos normais e 48,50% cesáreas. Adriana Brandão salienta que a Santa Casa é uma maternidade que atende partos de alto risco, por isso pretende reduzir a porcentagem de cesáreas para aproximadamente 35%, a serem re-alizadas apenas se houver complicações que afetem o parto normal.

Adriana Cristina irmer adotou o parto humanizado para o nascimento de Julia. Ela relata que foi uma ex-periência ótima em sua vida. “Sempre tive muito medo de ter um parto normal. Com seis semanas de gravidez, avisei minha médica que havia decidido pela cesárea. para minha sorte, ela é a favor do parto normal e, aos poucos, me convenceu de que seria a melhor opção”, lembra. O marido Eduardo Balan apoiou a ideia. “É claro que houve um momento de dor intensa, mas durou pouco, pois logo fui anestesiada”, explica.

A dor é um fenômeno difícil de ser quantificado, comenta o médico Geraldo Mota de Carvalho, pro-fessor e coordenador do curso de especialização de enfermagem obstétrica do Centro Universitário São Camilo, que fica em São paulo. “Ela se apresenta de forma diversificada e pode ser excruciante para uma mulher durante o trabalho de parto, enquanto para outra pode ser facilmente tolerável ou até mesmo inexistir”, salienta.

Focado no bem-estar da mulher e da criança, o parto humanizado deve ser uma prática conscien-te a ser adotada pelos profissionais da área. de acordo com o médico

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obstetra Claudio Basbaum, a experiência e as obser-vações científicas demonstraram que os resultados de um parto humanizado são positivos para a mãe e para as crianças, “que se tornam mais seguras e equilibradas emocionalmente”, sustenta.

O parto humanizado requer regras que devem ser seguidas pelos profissionais da assistência obsté-trica, assim como os direitos da mulher devem ser respeitados, como:

Respeitar a vontade da mulher de ter um acompa-• nhante de sua escolha durante o trabalho de parto;

Monitorar o bem-estar físico e emocional, durante • todo o processo de atendimento;

Responder as informações e explicações solicitadas;•

Permitir à mulher que ela caminhe durante o período • de dilatação e adote a posição que desejar no mo-mento da expulsão;

Orientar e oferecer métodos de alívio da dor durante o • trabalho de parto, como massagens, banho morno e outras técnicas de relaxamento;

Permitir o contato pele a pele entre a mãe e criança e • o início do aleitamento materno nos primeiros trinta minutos de vida;

Oferecer alojamento conjunto (mãe e bebê juntos no • quarto) e estimular o aleitamento materno exclusivo;

Ela deve conhecer a identidade do profis-• sional e ser informada sobre os procedi-mentos que serão realizados com ela e com seu filho.

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artigo

Christian marra (*)

no jornalismo online, o talento humano nunca será substituído pela tecnologia. por mais que

esta evolua numa velocidade superior à nossa capacidade de acompanhá-la, ela jamais superará a arte de captar, valori-zar e julgar a realidade que só um bom jornalista pode ter.

por outro lado, não se pode virar as costas à evolução tecnológica, que é real e influi em nossas vidas. É inevitável que ela exerça um impacto cada vez maior no trabalho jornalístico, como temos notado nos últimos anos. Ela não substituirá ta-lentos, mas influirá no modo como um jornalista trabalha, sobretudo na internet, a mídia que mais diretamente vive essas transformações.

Um dos efeitos dessa evolução será sentido na organização da informação na web. Fala-se muito na consolidação da “Web 3.0”, também conhecida como “Web Semântica”, que será uma inter-net “mais inteligente” do que a internet que vimos nascer. Há hoje uma enorme quantidade de informação nas redes, e as questões fundamentais têm sido como organizá-la melhor e como tirar melhor proveito desse enorme banco de dados.

O mais irônico é o fato dessa “internet mais inteligente” depender da intervenção humana para funcionar bem. A informa-ção que trafega pela web não é compre-endida pelos computadores. As máquinas não entendem o significado das palavras e é por isso que, muitas vezes, nossas buscas atingem resultados descabidos.

Surgiu a ideia de “ensinar aos com-putadores” o significado da informação. Esse é o fundamento da web semântica: usar uma linguagem que representa a

Jornalismo e Tecnologia

informação, que dá significado aos seus conteúdos. Computadores não sabem di-ferenciar entre sujeito, verbo e predicado numa frase – o que qualquer aluno do ensino fundamental sabe perfeitamen-te. É preciso ensinar às máquinas esses significados para que a informação nela contida seja melhor comunicada.

para esse fim, foi desenvolvida a linguagem RdF (Resource Description Framework), uma linguagem que “repre-senta a informação”. por meio dela, cada termo ganha um significado associado, previamente atribuído pelo usuário, que classifica os elementos de um documento conforme sua ontologia.

E essa preocupação com a semântica traz consequências diretas ao trabalho jornalístico na web. por meio dela, é pos-sível atribuir maior ou menor relevância a palavras-chave num texto, o que influi em sua visibilidade nos motores de busca. Além disso, o cuidado com a semântica possibilita atribuir o contexto adequado às palavras de um texto, permitindo que ela seja reutilizada em outras plataformas di-gitais, como por exemplo, nos celulares.

O uso de RdF ainda é restrito nas empresas jornalísticas. Experiências pioneiras surgiram nas mídias digitais do New York Times e do The Guardian, que já oferecem conteúdos com seu código aberto a desenvolvedores. Assim, esses conteúdos podem ser publicados em numerosos aplicativos desenvolvidos por terceiros, tal como um software de códi-go aberto. Mas esse é apenas um pequeno passo dentre as múltiplas possibilidades que a web semântica oferece.

* Doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra (Espanha) e consultor de empresas informativas.

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