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Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da F Um jornal da Famecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – P amecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, junho de 2006 – orto Alegre, junho de 2006 – orto Alegre, junho de 2006 – orto Alegre, junho de 2006 – orto Alegre, junho de 2006 – ANO 8 – Nº 48 ANO 8 – Nº 48 ANO 8 – Nº 48 ANO 8 – Nº 48 ANO 8 – Nº 48 MEU DEUS! Agora é mata ou morre Agora é mata ou morre Agora é mata ou morre Agora é mata ou morre Agora é mata ou morre A r A r A r A r A rua como ua como ua como ua como ua como casa e escola casa e escola casa e escola casa e escola casa e escola Tango: sensual ango: sensual ango: sensual ango: sensual ango: sensual e dramático e dramático e dramático e dramático e dramático PÁGINAS 6 e 7 PÁGINA 9 PÁGINA 9 PÁGINA 9 PÁGINA 9 PÁGINA 9 JOCHEN LUEBKE/ AFP 50 anos de 50 anos de 50 anos de 50 anos de 50 anos de Japão no Brasil Japão no Brasil Japão no Brasil Japão no Brasil Japão no Brasil MANUELA KANAN Colônias mantêm cultura MANUELA KANAN PÁGINA 11 O endereço é a calçada TATIANA FELDENS PÁGINA 12 Ritmo dá tom em Buenos Aires DANÇA INFÂNCIA CAMPANHA Inclusão social Inclusão social Inclusão social Inclusão social Inclusão social do deficiente do deficiente do deficiente do deficiente do deficiente PÁGINA 5 IMIGRAÇÃO

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Um jornal da FUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da FUm jornal da Famecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Pamecos/PUCRS – Ensino de Jornalismo desde 1952 – Porto Alegre, junho de 2006 – orto Alegre, junho de 2006 – orto Alegre, junho de 2006 – orto Alegre, junho de 2006 – orto Alegre, junho de 2006 – ANO 8 – Nº 48ANO 8 – Nº 48ANO 8 – Nº 48ANO 8 – Nº 48ANO 8 – Nº 48

MEUDEUS!Agora é mata ou morreAgora é mata ou morreAgora é mata ou morreAgora é mata ou morreAgora é mata ou morre

A rA rA rA rA rua comoua comoua comoua comoua comocasa e escolacasa e escolacasa e escolacasa e escolacasa e escola

TTTTTango: sensualango: sensualango: sensualango: sensualango: sensuale dramáticoe dramáticoe dramáticoe dramáticoe dramático

PÁGINAS 6 e 7

PÁGINA 9PÁGINA 9PÁGINA 9PÁGINA 9PÁGINA 9

JOCHEN LUEBKE/ AFP

50 anos de50 anos de50 anos de50 anos de50 anos deJapão no BrasilJapão no BrasilJapão no BrasilJapão no BrasilJapão no Brasil

MANUELA KANAN

Colônias mantêm cultura

MANUELA KANAN

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O endereço é a calçada

TATIANA FELDENS

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Ritmo dá tom em Buenos Aires

DANÇA

INFÂNCIA

CAMPANHA

Inclusão socialInclusão socialInclusão socialInclusão socialInclusão socialdo deficientedo deficientedo deficientedo deficientedo deficiente

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PPPPPorto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 200622222 O P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã OO P I N I Ã O HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Jornal mensal da Faculdade de Comuni-cação Social (Famecos) da Pontifícia Universi-dade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico,Porto Alegre, RS, Brasil.

E-mail: [email protected]: http://www.pucrs.br/famecos/

hipertexto/045/index.phpReitor: Ir. Joaquim ClotetVice-reitor: Ir. Evilázio TeixeiraDiretora da Famecos: Mágda Cunha

Coordenadora/Jornalismo: CristianeFinger

Produção dos Laboratórios de Jornalis-mo Gráfico e de Fotografia.

Professores responsáveis:Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (re-

dação e edição), Celso Schröder (arte e editoraçãoeletrônica) e Elson Sempé Pedroso(fotojornalismo).

ESTAGIÁRIOSGerente de Produção: Thaís Almeida

Editores: Ana Carola Biasuz, Fábio Rausche Natália Gonçalves.

Editoras de fotografia: Daiana BeinEndruweit e e Fernanda Fell

Editora de arte: Manuela KananRepórteres: Alessandra Brites, Carmel

Mostardeiro, Francisco D. Prato, GuilhermeZauith, Jesus Alberto Bardini, Júlia PedrozoPitthan, Laion Machado Espíndula, LuccaRossi, Luisa Kalil, Mariana Gomide, MauroBelo Schneider, Natália Gonçalves, Rafael Ter-

ra, Raíssa de Deus Genro, Renan V. Garavello,Raphael Leite Ferreira, Tatiana Feldens, TatianaLemos, Vinícius Roratto Carvalho, WagnerMachado da Silva.

Repórteres fotográficos: Daiana BeinEndruweit, Eduardo Mendez, Elisa Viali,Fabrícia Albuquerque, Fernanda Fell, JulianaFreitas, Lucas Uebel, Manuela Kanan, MarinaVolpatto, Nicolas Gambin, Rodrigo Tolio.

Diagramadores: Bruno Bertuzzi, JuliaPitthan e Manuela Kanan.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, Caxias do Sul. Tiragem: 5.000

Toda vez que tenho em mãosuma nova edição do Hipertexto con-sigo experimentar o sentimento deum arquiteto olhando para o prédioque projetou. Fico com a sensaçãode dever cumprido por ter participa-do do planejamento e construção deuma pequena obra, mas que a cadadia é aprimorado e se consolidacomo laboratório para a formação depromissores jornalistas.

Quando me convidaram paranarrar sobre como o Hipertexto con-tribuiu na minha formação, a primei-ra imagem que me veio em mentefoi de uma certa manhã, em junhode 1999. Naquela dia, o professorCelso Schroder me convidou paraparticipar da elaboração do projetográfico de “um futuro periódico uni-versitário”. A manhã em que se fun-diram o nascimento do Hipertexto edo Gustavo efetivamente como jor-nalista.

Foram dias e noites de conver-sas, discussões e idéias com profissi-onais consagrados – entre eles o LuizAdolfo e a Ana Maria Benedetti. Paraver se teria viabilidade, colocamos oprojeto em prática, mas de modoexperimental, durante a realização da

Hipertexto, o prego e o martelo51ª Reunião Anual da Sociedade Bra-sileira para o Progresso da Ciência(SBPC), que ocorreu na PUCRS emjulho daquele ano. E deu certo!

Assim, em outubro de 1999, nacompanhia da “editora-aluna”Lisiane Oliveira e de mais 17 “repór-teres-alunos”, vi um sonho sendoconcretizado. Éramos um jornal. Ecom algumas peculiaridades.

Primeiro, “Hypertexto” era escri-to com “y”. Parece estranho, não é?Mas não poderia ter saído de outramente que não fosse a do professorTibério. Esse dinossauro do jorna-lismo que, ao lado do mestreLeonam, sempre exige de seus alu-nos, além da matéria, o molho finalpara deixá-la mais gostosa ao leitor.Apesar de ele ser um ilustre cidadãodo Alegrete, tenho certeza que essafrescura foi dele.

Segundo detalhe, e o mais intri-gante: a capa tinha como manchete“Um jornal à vista”. Mas não era oHipertexto, não! Nossos repórteres– dois guris do segundo semestre –haviam desvendado que o prédio emconstrução na Rede Pampa seria sedede um novo jornal diário no Esta-do. O que dois anos mais tarde veioa ser O Sul, onde tive meu primeiroemprego como repórter.

Hoje, acredito que as experiênci-as editorial, gráfica e de reportagempelas quais passei no Hipertexto es-tão sendo fundamentais na minhatrajetória. Apesar de estar no sangueo ofício de repórter, atualmente atuocomo editor de plantão de ZeroHora. Sou responsável pelo jornal namadrugada. Cargo que me exigemuita atenção, agilidade e responsa-bilidade no momento de avaliar sedevo ou não parar a rotativa e fazeratualizações na edição que está rodan-do. Posto que exige muito feeling paradecidir se a notícia merece destaquena capa ou contracapa.

Obviamente, nas suas devidasproporções, a realidade doHipertexto está muito próxima a domercado. São reuniões de pauta, decapa, reportagens, edição,diagramação, checagem de informa-ção, preocupação com o conteúdo,casamento de foto com título e le-genda. Ou seja, é o que acontece aquifora da faculdade. Foi isso o que euaprendi aí dentro. Isso é o que eufaço hoje: quebro a cabeça todos osdias para não cair no comum, paranão ser apenas mais um jornalistaque não cumpre sua missão social: ade informar com qualidade, ética epaixão.

ESPECIAL ZERO HORA

EDITORIAL

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Enfim, não estou tentando di-zer que todos que passarem peloHipertexto estarão inteiramenteprontos para cair no mercado e serão

os melhores focas já vistos nas reda-ções. Todavia, acredito em um velhobrocardo: Foi dado o prego e o mar-telo, agora vocês só têm de pregar.

Gustavo Souza com o primeiro número do Hiper na redação de ZH

O deputado estadual Ruy Pau-letti (PSDB), ex-reitor da Uni-versidade de Caxias do Sul, enca-minhou ofícios ao reitor da PUC,ir. Joaquim Clotet, e à diretora daFamecos, jornalista Mágda Cu-nha, parabenizando pela “qualida-de do jornal Hipertexto, em espe-cial suas matérias, que proporcio-nam informações atualizadas e re-levantes”.

O jorO jorO jorO jorO jornalnalnalnalnal

CARTAS

O presidente da AcademiaRio-Grandense de Letras e asses-sor especial da Reitoria daPUCRS, ir. Elvo Clemente, en-viou e-mail destacando a página daedição de maio que assinalou os dezanos da morte do ex-diretor daFamecos, jornalista AntônioGonzález. “Comoveu-me a belareportagem sobre a vida e o traba-lho do sempre caro amigoAntoninho”, disse.

GonzálezGonzálezGonzálezGonzálezGonzález

O falecimento do jornalista DanielHerz, em 30 de maio, representa a perdanão só de um profissional notável noexercício de suas atividades, mas, sobre-tudo, de um militante. Formado pelaUnisinos, entendia que um país democrá-tico passa, antes, pela democratização dosistema de comunicação utilizado. Alémdisso, sempre teve o cuidado de realizaração política através da análise teórica. Noentanto, seu recato ao não assinar produ-ções intelectuais tornou difícil a identifi-cação completa do que fez.

Herz morreu no Hospital Moinhos deVento, em Porto Alegre, após seis anos desofrimento devido a um câncer de medu-la, classificado como “mieloma múltiplo”.Aos 51 anos, ainda conseguiu acompanharo desenvolvimento de sua última bandei-ra, a introdução da TV Digital no Brasil.

Em 1974, universitário, criou a Associa-ção de Promoção da Cultura (APC), ondelançou as primeiras bases conceituais datelevisão a cabo. Destacou-se, também,pelo livro ‘A história secreta da Rede Glo-bo’, em que relata os bastidores do maiorgrupo de mídia do país.

Outras atividades do jornalista ficampor conta de ter sido coordenador daFrente Nacional de Luta por Políticas De-mocráticas de Comunicação, do Fórumpela Democratização da área no país, dacampanha da Federação Nacional dos Jor-nalistas na Constituinte de 1988. Tam-bém articulou a criação do Conselho Naci-onal de Comunicação, vinculado ao Con-gresso. A comunicação no Brasil perdeuum de seus principais teóricos na esferapública.

Adeus a Daniel Herz

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PPPPPorto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006 33333N AN AN AN AN A C I O N A LC I O N A LC I O N A LC I O N A LC I O N A L IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH

Um ano depois de o ex-deputa-do cassado do PTB Roberto Jeffer-son declarar, no Conselho de Éticada Câmara dos Deputados, que par-lamentares do Partido Progressista edo PL recebiam mesada, de R$ 30mil, para votar projetos do governona Casa, o Partido dos Trabalhado-res, enfraquecido, eticamente, contras-ta com a imagem do presidente LuizInácio Lula da Silva. Carismático eentusiasmado pelos resultados domandato que encerra, ele concorre àreeleição. Para isso, conta com umíndice de aceitação pessoal próximoa 40%. Nem os 26 pedidos para seuimpeachment, quatro a mais do quefoi movido contra o ex-presidenteFernando Henrique Cardoso, emdois mandatos sucessivos, abalarama imagem de Lula. O PSDB, medi-ante representação no Tribunal Su-perior Eleitoral, tenta instaurarinvestigação judicial contra o petista,“por abuso de poder político e deautoridade, ao utilizar recursos e in-fra-estrutura públicos para antecipara campanha”.

O ex-comentarista da Rede Glo-bo Franklin Martins, durante o 32ºCongresso Estadual de Jornalismo,realizado nos dias 2 e 3 de junho, emPorto Alegre, ressaltou que os arti-culadores da última campanha deLula não mais estão com ele. São oscasos do ex-ministro-chefe da CasaCivil, ex-deputado José Dirceu, que,depois de ser sair do governo, foi cas-

As associações Nacional dos Pro-gramas de Pós-Graduação em Co-municação e a Latino-Americana dePesquisadores da Comunicação apro-varam, cada uma, quatro trabalhosdesenvolvidos na Famecos/PUCRS.No 15º Encontro da Compós, ocor-rido entre 6 e 9 de junho, na Univer-sidade Estadual de São Paulo, emBauru, que teve 297 participantes, ocoordenador do Pós na Famecos,Juremir Machado da Silva, a douto-randa Juliana Tonin e a mestrandaBárbara Mickel apresentaram textosno Grupo de Trabalho de Comuni-cação e Tecnologia. A professoraCristiane Freitas esteve no GT de Co-municação e Cultura, enquanto oprofessor Antonio Hohlfeldt e o alu-no de iniciação científica FábioRausch, no de Jornalismo.

Segundo a coordenadora do Pósna Unesp, Ana Silvia Lopes DaviMédola, o evento da Compósgarantiu “um efetivo debate sobredisciplinas da comunicação e suas re-

Base aliada está um ano sem mensalãosado no plenário da Câmara; do ex-ministro da Fazenda Antônio Paloc-ci; e do ex-marqueteiro do PT DudaMendonça. Todos foram afastadospor acusação de envolvimento empráticas consideradas irregulares ecorruptas. Além disso, Martins en-tende que falta sustentação políticano governo. “O PT saiu muito arra-nhado da crise, já que a capacidade deLula em atrair apoio político dimi-nuiu no processo e o abalo da ques-tão ética proporciona desconforto aopresidente”.

O sociólogo da Fundação deEconomia e Estatística Carlos Wink-ler estima que, para o próximo man-dato parlamentar, o PT tenha suabancada reduzida a 30% no Congres-so Nacional. Em contrapartida, eleatribui o sucesso pessoal do presi-dente Lula às ações de governo de-sempenhadas, como os progressivosamentos do salário mínimo (emabril, o ganho real foi de 13%, pas-sando a R$ 350) e os pacotes de apoioà agricultura familiar, além da imple-mentação de políticas sociais (ao fi-nal do atual mandato, 10 milhões defamílias devem receber média men-sal de R$ 40 através do Bolsa Famí-lia). “Esse conjunto de fatores fazcom que Lula tenha um acentuadograu de legitimidade”, diz.

Embora considere importante otrabalho da Polícia Federal e do Mi-nistério Público, cujo procurador ge-ral, Antônio Fernando de Souza,comprovou a existência do mensa-lão em relatório recente, Winkler ob-

serva um comportamento “viciado”no decorrer das comissões parlamen-tares de inquérito. Uma investigou opagamento de mesada a parlamen-tares, outra, a supervalorização emlicitações dos Correios. “Basta denun-ciar qualquer um, reverberar isso namídia, para tornar qualquer fato ver-dadeiro”, assevera.

Martins frisa que a crise recentemostrou a insuficiência do modelopolítico vigente, cuja conseqüência é“a fragmentação partidária, falta decontrole dos partidos sobre seus par-lamentares e do eleitor em relação elei-to”. O analista sugere uma revisãosistêmica para o início do próximogoverno. A cláusula de barreira, der-

Compós e Alaic selecionamCompós e Alaic selecionamCompós e Alaic selecionamCompós e Alaic selecionamCompós e Alaic selecionamtrabalhos da Ftrabalhos da Ftrabalhos da Ftrabalhos da Ftrabalhos da Famecosamecosamecosamecosamecos

lações com outras áreas do conheci-mento”. Ela acredita que o intercâm-bio entre universidades do país con-tribui para “a criação de um ambien-te de cooperação no desenvolvimen-to do diálogo acadêmico”.

Para o Congresso da Alaic, a serrealizado entre 19 e 21 de julho, nocampus da Unisinos, foram selecio-nados os trabalhos da diretora daFamecos, Mágda Cunha, e do pro-fessor Luciano Klöckner no GT Jor-nalismo, Linguagem e Conhecimen-to; de Antonio Hohlfeldt e FábioRausch no de Jornalismo e Poder; eo da professora Doris Haussen node Formatos Jornalísticos.

A pauta de discussão do eventoserá “O papel da comunidade cientí-fica latino-americana e da mídia emum contexto de desconfiança nas ins-tituições democráticas”. Os temas es-tão voltados às relações entre comu-nicação e cultura, desenvolvimento,história e política. Inscrições até 20de julho, via internet (www.unisinos.br/eventos/alaic) ou direto naUnisinos.

rubada no Congresso Nacional paraoutros pleitos, mas garantida nestaeleição por determinação do Supre-mo Tribunal Federal, obriga os par-tidos a obterem 5% dos votos paradeputados, nacionalmente, e, pelomenos, em nove estados, 3%. Casocontrário, a sigla fica impedida de terum funcionamento parlamentar ple-no e de acessar aos recursos do fun-do partidário. O analista político pre-vê migrações ou fusões partidáriasentre as legendas que não atenderemà determinação eleitoral. “Dois anosdepois das eleições, de 19 partidosrestarão oito ou sete em funciona-mento”.

O sociólogo da FEE lamenta que

o sistema político brasileiro configu-re um “semi-presidencialismo, capazde tornar o presidente da Repúblicarefém do Congresso”. Há um anosem mensalão, as atividades parla-mentares ficaram imobilizadas. Paravigorar no início de abril, o saláriomínimo contou com a edição demedida provisória pelo governo fe-deral, já que o Orçamento da Uniãopara este ano ainda não havia passa-do por votação. Algumas das medi-das para a solução, diz Winkler, são areforma política e o financiamentopúblico de campanhas.

No momento, três dos 19 indi-cados para a cassação no plenário daCâmara perderam o mandato. Omotivo é acusação de participação noesquema do mensalão. Além de Ro-berto Jefferson e José Dirceu, o ex-presidente do PP Pedro Corrêa foicassado. Neste mês, 12 integrantesdo Conselho de Ética recomendaramo mesmo destino ao ex-líder do PPJosé Janene, cujo julgamento deveacontecer em julho.

Sobre as eleições marcadas paraoutubro deste ano, Martins conside-ra que Lula larga em vantagem, pelofato de concorrer no cargo. Nos Es-tados Unidos, ao longo do século20, apenas dois presidentes candida-tos à reeleição foram derrotados,Bush pai e Jimmy Carter. “Um pre-sidente, nessa condição, tem a possi-bilidade de fazer agenda política,como neste ano, em que o governoaumentou o salário mínimo e con-cedeu um pacote para a agricultura”.

Jornalismo perde um dosseus principais militantes

Seu nome não integrava a listadas celebridades, mas ele tinha mui-tos amigos e era reconhecido pelaseriedade e o zelo com que abraçavaas causas. A morte de Daniel Herzdeixa uma la-cuna na histó-ria da comu-nicação brasi-leira. Forma-do pela Uni-versidade doVale do Riodos Sinos(Unisinos), ojornalista fale-ceu em 30 de maio, no Hospital Mo-inhos de Vento, em Porto Alegre. Háseis anos vinha lutando contra umcâncer de medula, classificado como“mieloma múltiplo”.

Herz era um militante de causasligadas às políticas e democratizaçãoda comunicação. Desde cedo de-monstrava o seu engajamento poressas questões. Foi em 1974, duran-

te a faculdade, que criou a Associaçãode Promoção da Cultura (APC), emque lançou as primeiras basesconceituais da televisão a cabo. Quan-do cursou mestrado, teve como fon-te de inspiração o professor de enge-nharia elétrica da Ufrgs HomeroSimon. A partir daí nasceu o livro Ahistória secreta da Rede Globo, que rela-tou os bastidores do maior grupode mídia do país.

A vida de Herz era repleta de res-ponsabilidades. Foi professor e che-fe de Jornalismo da UniversidadeFederal de Santa Catarina (UFSC), co-ordenador da Frente Nacional deLuta por Políticas Democráticas deComunicação, coordenador da cam-panha da Federação Nacional dosJornalistas (Fenaj) no CongressoConstituinte, secretário de Comuni-cação do primeiro governo do PT naprefeitura de Porto Alegre e primei-ro coordenador do Fórum Nacionalpela Democratização da Comunica-ção, surgido na década de 90. Aos 51anos, sua última bandeira de luta foia introdução da TV digital no Brasil.

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O carismático presidente Lula, imune a denúncias políticas, continua liderando as pesquisas

EVARISTO SÁ/AFP

Roberto Jefferson abriu o bico e foi cassado

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Uma visita de 20 dias à Espanhae Portugal é o prêmio que a jornalis-ta Mariane De Lucca Teixeira, recém-formada em Jornalismo pelaFamecos, vai usufruir em julho.Indicada pela faculdade, ela foi sele-cionada para participar do ProgramaBecas Líder, promovido pela Fun-dação Carolina, da Espanha, ao apre-sentar cinco textos sobre as princi-pais problemáticas do mundo. O prê-mio foi entregue em cerimônia coma presença do reitor Joaquim Clotete do gerente do Programa Universi-dades do Santander, Carlos Guilher-me Matte.

Mariane de LuccaMariane de LuccaMariane de LuccaMariane de LuccaMariane de Luccana Espanhana Espanhana Espanhana Espanhana Espanha

Matte, Mariane e Clotet

MARCOS COLOMBO/ASCOM

DIVULGAÇÃO

Daniel Herz

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PPPPPorto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 200644444 SOL IDSOL IDSOL IDSOL IDSOL IDAR I EDAR I EDAR I EDAR I EDAR I EDADEADEADEADEADE HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

Um raciocínio simples: por queficar parado esperando a morte che-gar se eu ainda posso fazer tantascoisas na vida? É com esse pensa-mento que um grupo de idosos sereúne todas as semanas para conver-sar, trocar experiências e realizar di-versas outras atividades.

O Projeto Enrique’Ser na MelhorIdade (o nome faz referência a SantoEnrique) foi criado no dia 3 de agos-to de 2004 por iniciativa da Compa-nhia Santa Teresa de Jesus, fundadapor Santo Enrique. Na época, foramdistribuídos aproximadamente de3.000 convites nos prédios e igrejasdos bairros Centro e Cidade Baixa,anunciando o início do projeto quese desenvolve na casa das irmãs naAvenida João Pessoa.

Cerca de 70 pessoas estiverampresentes na primeira reunião dogrupo e assinaram um livro de regis-tros, o que concedeu um caráter ofi-cial ao evento. Os participantes fo-ram convidados a fazer parte de umprograma cuja a finalidade seria aju-dar a eles mesmos. Ao invés de ficarem casa “criando teias de aranha” esentindo-se inúteis, eles poderiam seunir para trocar experiências, apren-der coisas novas uns com os outros,ajudar pessoas carentes e, principal-mente, manterem-se sempre ativos.

Hoje, quase dois anos depois,eles continuam se reunindo todas asterças e quintas-feiras na casa das Ir-mãs Teresianas, na avenida João Pes-

Além do benefício proporciona-do pela participação no projetoEnrique’Ser na Melhor Idade, os ido-sos também ajudam outra pessoas.São organizadas campanhas para ar-recadar doações para famílias caren-tes. Na época de Natal, por exemplo,reuniram brinquedos, calçados e rou-pas que depois foram doados paracrianças da Ilha das Flores.

A próxima ação beneficente de-verá atingir as famílias carentes da VilaGrande Cruzeiro. Serão formadospequenos grupos de cinco participan-te. Cada grupo “adotará” uma famí-lia necessitada da região e vai ajudá-lada maneira que for possível, arreca-dando alimentos e roupas.

O professor de música ÂngeloConstantino Pires, de 34 anos, tra-balha com idosos há 10 anos e já es-teve em projetos cujo enfoque eraatender pessoas de baixa renda. Suapreocupação com carentes desperta aadmiração e confiança nos membrosdo grupo, gerando um sentimentode responsabilidade social e solidari-edade.

Receita para envelhecer lúcido e ativosoa. Embora, muitos dos participan-tes iniciais não estejam mais com ogrupo, vários novos membros seuniram a ele, mantendo assim a mé-dia de 70 pessoas, entre 50 e 70 anosde idade, desde o começo. Uma mu-dança perceptível na formação atual:diversos homens estão participandodo projeto, diferente do que era vis-to antes, quando era composto qua-se exclusivamente de mulheres.

As irmãs teresiana Maria Guar-nieri, 64 anos, e Adelaide Giacobo,coordenam o grupo. Segundo Ma-ria, o objetivo principal do trabalhoé dar um novo ânimo para a vidadesses idosos. “Fazer com que te-nham uma velhice feliz, sejam ama-dos, criem novas amizades”, afirma.

Para isso, são propostas diversasatividades como artesanato, coral, fi-sioterapia, curso de memorização eo grupo de convivência. Este últimoé considerado, por ela, a mais impor-tante de todas realizações do proje-to. Nos encontros todas as terças-fei-ras, os integrantes discutem os as-suntos nos quais têm interesses emcomum, contam seus problemas unspara os outros, dividem suas dife-rentes experiências de vida, aprendemconhecimentos com os outros e apói-am-se mutuamente.

Outra atividade muito impor-tante é o coral organizado pelo pro-fessor de música Ângelo Constanti-no Pires. Objeto de dedicação dosidosos, que ensaiam uma vez porsemana, as sessões de canto já leva-ram o grupo a realizar várias apre-

sentações públicas das quais sentemorgulho.

Técnicas vocaisDe acordo com Ângelo, são de-

sempenhadas, em média, uma apre-sentação por mês. Por serem guia-dos por um professor formado, osmembros adquiriram afinação, fôle-go e técnicas vocais que não seria dese esperar de pessoas da terceira ida-de. Assim, mesmo aqueles que nãopossuem grande talento para o can-to, conseguem participar sem enfren-tar muitas dificuldades. Nos últimostempos, há participação também deinstrumentos musicais, como o vio-lão e a gaita ou sanfona.

O artesanato, ensinado pela vo-luntária Arminda Rodrigues Pereira,é uma maneira de mostrar aos ido-

sos que eles ainda podem criar mui-tas coisas na vida. Além de servircomo passatempo, os produtos fei-tos são vendidas, complementandoa renda dos participantes, quase sem-pre dependentes de pequenas apo-sentadorias e da ajuda dos filhos parasobreviver.

O tipo de trabalho realizado pe-los membros do grupo muda a cadabimestre, diversificando os itens pro-duzidos. Já foram ensinadas a con-fecção de bolsas, tricô e crochê, feitasna maioria das vezes com materiaisrecicláveis. No mês de maio, a tarefarealizada foi a pintura de objetos demadeira e, em breve, será a vez daprodução de trabalhos manuais.

Como muitos dos integrantes jáestão em idade avançada, alguns so-frem com os efeitos do tempo. Para

manter a saúde, tanto física quantomental, são oferecidas, uma vez porsemana, sessões de fisioterapia e au-las de memorização.

A terapeuta voluntária GiseleGabinosky cuida da mobilidade físi-ca dos idosos, ensinando a eles exer-cícios necessários “para não enferru-jar”, como diz uma das integrantes.Isso garante a muitos deles um ser-viço ao qual jamais teriam acesso de-vido ao custo financeiro que este tipode terapia costuma demandar. Paramanter suas mentes em forma, oprofessor Ângelo promove exercíci-os de memória e raciocínio, ativandoas faculdades mentais desgastadaspelo passar dos anos.

Em alguns casos, a saúde da pes-soa chega a ser surpreendente. Comoé o caso de Dona Egídia, 87 anos,que canta e dança o tempo todo, su-perando inclusive a própria filha quetambém faz parte do grupo. Outroexemplo é de Dona Isolete que, aos78 anos, mantém-se ativa durante odia inteiro participando de várias ati-vidades e eventos.

“Sermos novos Enriques nomundo moderno”, esse é o objeti-vo da Companhia Santa Teresa deJesus que criou o grupo há dois anos.Para isso receberam o incentivo darecém criada Pastoral da Terceira Ida-de que segue os padrões de espiritu-alidade da Conferência Nacional dosBispos do Brasil (CNBB). Irmã Ma-ria explica que o objetivo das IrmãsTeresianas é também “fortalecer a es-piritualidade na terceira idade”.

Idosos aindaIdosos aindaIdosos aindaIdosos aindaIdosos aindafazem doaçõesfazem doaçõesfazem doaçõesfazem doaçõesfazem doaçõesa carentesa carentesa carentesa carentesa carentes

EDUARDO MENDEZ

NICOLAS GAMBIN

Eles se mantêm produtivos através de trabalhos manuais, exercícios físicos, canto e jogos de memória

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Projeto Enrique’Ser na Melhor Idade vai completar dois anos

Idosos se reúnem todas as terças e quintas-feiras na casa das Irmãs Teresianas, na avenida João Pessoa, em Porto Alegre

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O lema da Campanha da Frater-nidade 2006 da Igreja Católica – umtrecho da Bíblia em que Jesus dirigea palavra a um homem que não podecaminhar –, diz tudo: “Levanta-te evem para o meio.” Traduzindo: nãote deixes excluir, ou ainda, luta peloteu direito à cidadania. Cidadaniapressupõe uma série de fatores, e umdos mais importantes é um dilemapara os portadores de deficiência donosso tempo: a inserção no merca-do de trabalho. Eles não são maisaqueles filhos criados fechados emcasa, que os pais, por proteção ouvergonha – decorrentes talvez de umsentimento de culpa pela deficiência,muitas vezes gerada por tabus religi-osos -, escondiam da visão pública.Hoje eles se encontram em um nú-mero muitas vezes maior, no Brasilsão aproximadamente 27 milhões, eprecisam ganhar o seu sustento, quan-do não da família que montaram.

Na Roma antiga, os pais eramautorizados a matar seus filhos de-feituosos. Outros povos execravampublicamente os indivíduos defici-entes. De lá pra cá, a evolução dasrelações humanas trouxe a estas pes-soas consideradas “diferentes” a es-perança de conquista da cidadaniaplena. Durante muito tempo, pelomenos até o final dos anos 40, osdeficientes resumiam-se aos nascidoscom malformações congênitas ou osacometidos por doenças da velhice.Os inválidos por acidentes ainda re-presentavam uma porcentagem mí-nima, a maioria não sobrevivia. Apartir do final da Segunda GuerraMundial, este número aumentou e adeficiência passou a ser consideradaum fenômeno causado pela realida-de social. Com a retomada da indus-trialização, nos anos 50, duas verten-tes iniciaram um confronto: uns acre-ditando na reabilitação dos deficien-tes para o trabalho e outros se opon-do à reserva de vagas nas grandesindústrias.

Os anos 60 e 70 trouxeram osmovimentos reivindicatórios, e comeles, o surgimento dos primeirosdocumentos que iriam dar cunhopolítico, econômico e social às ques-tões de trabalho para os deficientes.A ONU lançou, em 1971, a Declara-ção dos Direitos do Deficiente Men-tal e em 1975, a Declaração dos Direi-tos das Pessoas Deficientes. Seguin-do seus preceitos, a OIT aprovou,em 1983, a Convenção 159 SobreReabilitação Profissional e Empregode Pessoas Deficientes.

LegislaçãoNo Brasil, ainda não havia ne-

nhuma ação concreta do poder pú-blico ou da iniciativa privada antesda Constituição Brasileira de 1988,quando se consolidaram os direitossociais e individuais dos portadoresde deficiência, inclusive os de acesso

Igreja prega inclusão social do deficienteA Campanha da Fraternidade de 2006 alerta para o destino de 27 milhões de brasileiros

CARLA KUNZECARLA KUNZECARLA KUNZECARLA KUNZECARLA KUNZE ao trabalho no País. Em dezembrode 1999, o Governo Federal editou oDecreto 3.298, que regulamenta a Lei7.853 (1989), garantindo às pessoasportadoras de deficiência as reais pos-sibilidades de inclusão em todas asesferas da vida, reconhecendo que,como todos os cidadãos, estas pes-soas têm direito à participação socialplena, princípio embutido na Con-venção 159. O Decreto retoma, noseu Art. 36, o que já estava presenteno Art. 93 da Lei 8.213 (Plano deBenefícios da Previdência Social,1991): a obrigatoriedade legal daempresa com cem ou mais empre-gados de preencher de 2 a 5% de seuscargos  com beneficiários da Previ-dência Social reabilitados ou comportador de deficiência habilitada.

Entre 1991 e 2000, a  fiscalizaçãosempre foi rarefeita. Mas, através deuma portaria, a partir do início de2000, o Ministério do Trabalho eEmprego ficou incumbido de fisca-lizar o cumprimento do Decreto. OMinistério Público do Trabalho temconvocado as empresas privadas asubmeterem-se à Lei. Deste momen-to em diante, o debate em torno dotema emprego para as PPDs tem sidosobre como, na atual conjuntura eco-nômica do país, as empresas priva-das conseguirão contratara porcentagem de deficientes estipu-lada pelo Decreto e se há portadoresde deficiência profissionalmente qua-lificados para assumir os postos detrabalho abertos pela imposição dascotas. Muitos não estão qualificadospara exercer tarefas profissionais es-pecíficas, até porque não tiveram es-colaridade ou não passaram por ne-nhum programa de educação profis-sional, mas o fato é queprecisam trabalhar para ter indepen-dência econômica e qualidade de vida.

Mesmo com todas as possibili-dades de sucesso nestes empreendi-mentos educacionais e profissionali-zantes, uma parte da população de-ficiente fica de fora. São os portado-res de deficiência mental. Mesmoquando fazem cursos e têm a opor-tunidade de estagiar, principalmenteem órgãos públicos, o destino delesé o retorno ao lar. Eles terminam oestágio e não conseguem efetivação,ninguém dá emprego a eles e acabamretornando à casa dos pais. Paramuitos, esta é uma situação de hu-milhação. Depois de terem se mos-trado capazes de pegar o ônibus so-zinhos para ir e voltar do trabalho,assumir e cumprir as tarefas que lhessão dadas, de acordo com sua capaci-dade, quando estão a poucos passosde se efetivarem no cargo de cidadão,como todo e qualquer jovem estagi-ário almeja, alguém os informa quetudo acaba ali, o esforço foi em vão.Aí entram, então, o carinho e a dedi-cação de pais que se unem a educa-dores e formadores na tarefa de dar aeste jovem a estrutura capaz de im-pedir a sua total exclusão social e atéa marginalização.

Ao completarem 21 anos, os jo-vens portadores de necessidades es-peciais têm de deixar as escolas espe-ciais onde estudam, e a continuidadeda sua formação depende, muitasvezes, de iniciativas que partem dospróprios pais ou de entidadesassistenciais. Em 1997, um grupo demães com filhos em várias escolasespeciais, preocupadas com o desti-no que teriam ao completarem mai-oridade, decidiram formar uma coo-perativa e buscar ajuda em vários se-tores do poder público e da iniciativaprivada. Nascia ali a CooperativaCrêSer, que alguns anos depois, em2000, conseguiu a construção da sedeque mantém no número 1001 da ruaCapitão Pedro Werlang, no bairro

Intercap, zona leste da capital.Em parceria com a Secretaria

Municipal da Educação (Smed), quedisponibiliza os professores, a insti-tuição proporciona a continuidade daeducação destes jovens no períododa manhã, quando funciona ali umaescola EJA – Educação de JovensAdultos. É única unidade do EJAno estado a atender exclusivamenteportadores de deficiência mental. Àtarde, a CrêSer oferece oficinas de for-mação profissional. São adultos comSíndrome de Down, Paralisia Cere-bral e Esquizofrenia que aprendemofícios e trabalham nas oficinas depapel reciclado, panificadora e confei-taria, e na horta, produzindo mudase cultivando verduras em uma horta

mantida sem agrotóxicos no terrenoda entidade. Marcos, filho de umadas ex-presidentes, Marizete Mar-ques da Cruz, é um exemplo disso.Ele trabalha com as mudas, e já estácultivando e comercializando em casa.“E o que ele quer, decidiu isso detrês meses pra cá, disse que é isso queele quer fazer da vida dele. Fico feliz,meu filho encontrou seu caminho ea CrêSer tem parte nesta vitória”, diz.

Os pais dos jovens são respon-sáveis pelas oficinas e pela adminis-tração da cooperativa. Todos doamalgumas horas na semana, o tempoque podem, ao trabalho com os jo-vens. Gustavo, 28 anos, morador daRestinga, é filho de uma mulher quecarrega no nome o significado queultrapassa a responsabilidade e oamor de uma mãe: Santa. SantaCatarina Serpa Bassetti, uma das fun-dadoras da CrêSer, conta que Gustavotem uma lesão cerebral que limita aspossibilidades de se inserir formal-mente no mercado de trabalho, quejá é competitivo para que não temnecessidades especiais. Participandohá quatro anos das oficinas, mãe efilho encontraram naquele espaçomais do que uma alternativa à exclu-são social a que estavam destinados,ali eles unem-se a outras famílias comquem compartilham dramas pesso-ais, dificuldades, conquistas e alegri-as. Gustavo trabalha na reciclagem depapel: “Ele adora trabalhar, sabe quesobra um dinheirinho, às vezes prascomprar as coisas de que ele gosta”.

Cooperativa de mães para garantiro trabalho após a maioridade

CARLA KUNZE

CARLA KUNZE

Projeto tem panificadora e confeitaria para formação profissional

Cooperativa CrêSer foi fundada por um grupo de mães para suprir limitações das escolas especiais

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A dois anos do centenário da imi-gração japonesa no Brasil, a ser cele-brada em 21 de junho de 2008, o RioGrande do Sul enxerga sua própriacomemoração. Apesar de vários nipô-nicos terem chegado ao estado parafugir dos efeitos da guerra, a maioriaveio das próprias colônias de São Pau-lo. Mesmo assim, a migração não dei-xa de ser mais recente. Augusto Isa-mu Aso, dono da loja Midori – Arte eDecoração, explica que, como chega-ram antes, os “japoneses paulistas”são mais abrasileirados, os gaúchosainda puros.

Talvez pelo histórico isolacionis-mo, os japoneses têm uma caracterís-tica de manterem sua cultura, ou pelomenos parte dela, mesmo longe deseu país. Esse fato pode ser conside-rado como motivo principal dos agru-pamentos em comunidades e colôni-as. Geralmente adaptam algumas desuas peculiaridade ao estilo de vidaocidental. Um exemplo é a maioria dosnascidos no Brasil ter dois nomes: umbrasileiro, outro japonês.

Reconhecer um japonês não é di-fícil, não só pelas características físicas,como olhos puxados ou cabelos es-curos e lisos. Eles têm uma maneirade agir que denuncia sua origem semfazer esforço. O jeito sério e intros-pectivo. Uma risada tímida, mas sin-cera. Um jeito de falar objetivo e enro-lado ao mesmo tempo. Uma vontadede sempre ajudar os outros. Um im-pulso por fazer as coisas direito. Esse

No Rio Grande do Sul, imigran-tes e descendentes de japoneses se or-ganizam em comunidades ou associ-ações. Todas são interligadas com oconsulado e existem em diversas cida-des do interior como Pelotas, SantaMaria, Itapuã e Viamão, assim comona capital. As mais representativas sãode Gravataí, chamada de Enkyo, Ivoti,e a de Porto Alegre, conhecida comoNikkei, denominação dada aos des-cendentes nascidos fora do Japão ouque vivem regularmente no exterior.

A maioria dos nipo-brasileiros dePorto Alegre é membro do Nikkei.Sua antiga sede, situada em Guaíba,foi vendida para a construção da fábri-ca da Ford no Rio Grande do Sul. Coma desistência da companhia, a associa-ção pretende recuperar o terreno. En-tre os eventos que organiza, um dosmais importantes e com maior reper-cussão é o Undokai (literalmente undo:esportivo, kai: encontro). Uma espé-cie de gincana familiar em que equipes

Isao Ishibashi veio pela primeiravez ao Brasil em 1988 como profes-sor delegado do Ministério da Edu-cação do Japão para fiscalizar cincoescolas japonesas que existem noBrasil. Ficou até 1991. Durante essaépoca, ele alternava três meses noBrasil e o mesmo período no Japão.“Não aprendi nada de português”,diz ele. De 1994 ao início de 2000,veio outra vez como professor daFundação Japão. Do segundo semes-tre de 2000 para cá, dá aulas de japo-nês na PUCRS.

Assim como ele, outros 1,5 miljaponeses vivem no Rio Grande doSul. Há também três mil descenden-tes. A maioria deles vive em PortoAlegre: cerca de 600 pessoas. Depoisda II Guerra Mundial, o Japão esta-

Costumes da terra do sol nascentechegaram ao Pampa há 50 anosA tradição japonesa se integra, mas conserva sua origem em casa e no coração

comportamento próprio conquista osbrasileiros, fazendo crescer o interessepor um país e uma cultura tão distan-te e ao mesmo tempo tão próxima.Eles podem até não conversar muitono início, mas depois de conhecê-los econquistar sua confiança, a históriamuda completamente.

Uma das surpresas na convivênciaé a alimentação. Entrando na casa deum japonês, não será difícil encontraros famosos hashi, também conheci-dos como palitinhos, junto aos gar-fos e facas. Instrumento utilizado des-de a antigüidade para a alimentação, semantém em uso até hoje. A dificul-dade ocidental de manuseá-los é co-mum, o que faz alguns restaurantesoferecer em uma versão simplificada,com uma “borrachinha” na ponta,formando uma pinça.

Arroz no caféO prato dominante é o arroz bran-

co, chamado de hakumai ou gohan,quando cozido. Eles utilizam em casauma panela elétrica específica para ocozimento do arroz, que não só facili-ta a preparação como mantém a comi-da quente por bastante tempo. É ine-vitável que algo seja perdido na adap-tação cultural. É o que acontece com ohábito de comer arroz no café da ma-nhã. “Hoje, não só os mais jovens,como os próprios issei comem pão naprimeira refeição do dia, do mesmojeito que os ocidentais”, diz Aso.

A tradição de tirar os sapatos an-tes de entrar em casa, bem retratadapor Tom Cruise no filme O Último

Samurai, já é bastante conhecida. De-pendendo da família, o costume ain-da é mantido, mas nem sempre comtanta fidelidade. Em alguns lugares,um par de chinelos, chamado suripa, édeixado perto da porta de entrada. Osjovens, entretanto, preferem ficar depés descalços. Boa parte dos orientais

assiste ao canal NHK, uma das princi-pais emissoras do Japão. Os progra-mas exibidos são bastante variados,desde telejornais e novelas até progra-mas de auditório e música. É claro,tudo em japonês.

Entretanto, a cultura vai se fun-dindo cada vez mais à brasileira. Aos

poucos, o que antes era mantido emhomenagem à tradição começa a per-der a importância ou a prioridade. Asoexplica que por ter se casado com umaocidental, acabou deixando um pou-co de lado esses costumes, aderindomais aos locais. O mesmo ocorreucom seus irmãos.

Colônia promove cultura, assistência e esportescompetem para ganhar pontos e prê-mios. Também promovem almoços,churrascos, encontros esportivos,como jogos de futebol e vôlei, e atéfestas juninas.

A Enkyo oferece assistência a to-das as comunidades japonesas gaú-chas. Concede bolsas de estudo e, atra-vés de convênio com o Hospital SãoLucas da PUCRS, oferece auxílio mé-dico aos nipo-brasileiros. Atualmen-te, é uma das maiores e mais forte as-sociação do estado. A colônia de Ivotinão fica muito atrás, porém teve umdesfalque significativo nos últimosanos. Por esse motivo, em 2005, al-guns jovens criaram o Seinenkai, quesignifica literalmente encontro de jo-vens, para “resgatar a cultura japone-sa” da região.

Estudar japonêsApesar de não ser mais tão co-

mum hoje, os pais costumavam in-centivar os filhos a estudar japonês

desde cedo. A escola Moderuko erafreqüentada por crianças em alfabeti-zação para aprenderem a língua, e poradolescentes e adultos.Para incentivá-los a manter os estudos, os professo-res passavam filmes infantis, equiva-lentes aos “clássicos da Disney”, comoa Cinderela para as crianças. Uma dasmais difundidas foi a obra Tonari noTotoro (Meu vizinho Totoro), de HayaoMiyazaki, o criador de A viagem deChihiro, laçado em 2001. O filme con-ta a história de duas meninas que semudam para o campo, para ficar maisperto da mãe que está doente. Lá elasencontram um novo amigo, um sermágico que divide uma grande aven-tura com as duas (Totoro).

As colônias do interior, mais tra-dicionais, têm suas próprias escolas.Em casa, os pais só conversam comos filhos em japonês. Porém, a maio-ria desiste quando entra no colégio,por desinteresse ou falta de tempo.Hoje, o ensino infantil da língua é re-

alizado dentro de casa, pois as escolasestão direcionando seus cursos paraos mais velhos.

EsportesUm dos esportes mais desenvol-

vidos no Japão é o baseball. Coubeaos imigrantes nipônicos a tarefa dedifundir os jogos no Brasil. Assim,foi criada a Confederação Brasileira deBaseball e Softball, com sede em SãoPaulo. Desde então, técnicos, torcedo-res, jogadores e até dirigentes de clu-bes têm sido predominantemente deorigem oriental. De acordo com o jor-nalista Yuji Azuma, em texto publi-cado no site da CBBS, “o japonês exer-ce hoje no beisebol o papel que o eu-ropeu teve no futebol brasileiro doinício do século passado”. No Sul, ostimes existentes pertencem às comu-nidades e colônias, com destaque paraa equipe de Ivoti, o All Star Team. Asjaponesas não ficam para trás, jogamsoftball, uma versão mais moderada

do baseball, com diferenciação de re-gras para diminuir a dificuldade.

Para o pessoal de mais idade, exis-te o getoboru, um jogo semelhante aocríquete, trazido ao Brasil pelos imi-grantes. É jogado tanto pelos ho-mens, quanto pelas mulheres. Nasgincanas são realizadas competições,com times de cerca de cinco pessoas.Também é importante ressaltar a dan-ça tradicional, chamada de bon-odori,apresentada pelas mulheres em diver-sos eventos.

va arrasado pelos combates. “É comoa situação atual do Iraque”, enfatiza ocônsul do Japão em Porto Alegre,Hajime Kimura. E a recuperação foilenta. Por isso, os japoneses queriamtentar outra vida em outros países. Umdeles foi o Brasil. A imigração japone-sa para cá começou em São Paulo. Tem-se como data de início o dia 18 de ju-nho de 1908, quando desembarcaramno Porto de Santos 781 japoneses.Eram, em sua maioria, agricultores defamílias sem muitas posses que dese-javam voltar ao seu país de origem.

No Rio Grande do Sul, a imigra-ção aconteceu, além dos fatores soci-ais e econômicos do Japão, tambémporque o governo do estado precisa-va de técnicos agrícolas. Firmaram,então, Japão e governo estadual, umaparceria. O primeiro grupo de japone-ses a desembarcar no estado, em 1956,era formado por 23 homens. Desses,

22 eram os melhores estudantes for-mados por uma escola agrícola. O 23ºera graduado em jornalismo por umadas melhores universidades do seupaís. Eles vieram para se fixar aqui ecom o objetivo de formar uma coo-perativa com os gaúchos, mas o pla-no não vingou, por razões políticasprincipalmente. Antes disso, algunsjaponeses já viviam no estado, mas aimigração planejada aconteceu somen-te a partir de 1956.

Para comemorar os 50 anos, háuma longa programação que está ocor-rendo desde o início deste ano. “Oponto alto será em agosto”, destacaKimura. No dia 18 de agosto, será inau-gurado o Monumento à ImigraçãoJaponesa na cidade de Rio Grande,com a presença de autoridades. Nosdias 19 e 20, serão apresentadas, noCentro Cultural do Gasômetro, nacapital, canções e danças japonesas, ce-

COMUNIDADE É MAIOR EM PORTO ALEGRE

Jogo infantil realizado em Gravataí na sede do Enkyo, durante o Undokai, a gincana familiar japonesa

MANUELA KANAN

MANUELA KANAN

Jogo treino de Softball do time feminino da comunidade Enkyo

rimônia de preparação de um bolo demassa de arroz, taikô e exposição debonecos e brinquedos japoneses.Acontecerão também oficinas deorigami, kirigami, bonsai, manga eanime, entre outras atividades.

Comparando culturas, Ishibashidiz que o povo brasileiro é aberto aosestrangeiros, mas reclama que aqui sepagam muitos impostos e não se vêo retorno. Além da língua, outro fa-tor que dificulta a vida dos japonesesrecém chegados ao Brasil é a significa-ção dos gestos, que são muito dife-rentes nas duas culturas.

Flores e verdurasQuando chegaram ao Brasil, a idéia

inicial era de trabalhar na agricultura.No RS, se destacaram na produção deflores e verduras. As colônias do inte-rior ainda atuam nessa função. Mas odomínio nipônico vem diminuindo

nos últimos tempos. “Os filhos dejaponeses estão estudando e são maisinstruídos, não querem ficar no cam-po”, explica Ivo Hideki Korogi, estu-dante de Engenharia Mecatrônica naPUC e membro do Nikkei.

Para muitos, a alternativa é ir tra-balhar no Japão, arrecadar dinheiro edepois voltar. São os chamadosdekasseguis, brasileiros de ascendênciajaponesa. São a maior parte dos 270mil brasileiros que residem na terra dosol nascente. Isso ocorre graças à Leide Controle de Imigração, editada em1990, que permite aos japoneses e seuscônjuges ou descendentes até a quartageração o exercício de qualquer ativi-dade legalmente por um período rela-tivamente longo. Nessa época, o go-verno precisa atrair mão de obra devi-do à rapida expansão econômica dopaís, obrigando-os a facilitar a entradade trabalhadores.

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Fidelidade às raízes: comunidade pratica jogos típicos do Japão

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As denominações issei, nisei esansei significam primeira (issei), se-gunda (nisei) e terceira gerações(sansei) de japoneses. Ou seja,quem nasceu no Japão e migroupara o Brasil é a primeira geração;os filhos, nascidos brasileiros, sãoa segunda, e assim por diante. Lite-ralmente, sei significa geração e i (naverdade é uma contração de ichi), nie san representam os números um,dois e três.

ENTENDA

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Campeão mundial enfrentadesafio fora do tatame

O primeiro campeão mundial dejudô brasileiro, João Derly, passarátrês meses sem competir devido àartroscopia realizada no ombro es-querdo, no dia 5 de junho último.Os médicos da seleção brasileira dejudô e da Sogipa, clube de João, deci-diram operar o atleta para que ele es-teja recuperado antes do Campeona-to Mundial por equipes, em setem-bro. A cirurgia foi realizada por causadas dores no ombro que o atleta sen-tia desde o ano passado.

João, 25 anos, começou a praticarjudô quando criança para ajudar a tra-tar problemas respiratórios. É con-siderado um atleta que mistura osestilos europeus e japoneses de judô,características de alguns atletas do suldo Brasil. “Talvez isso explique meubom desempenho nas competiçõesinternacionais”. Ele se considera umjudoca técnico (estilo japonês), porconhecer e aplicar todas os tipos degolpes, mas também bastante forte(característica européia), que derrubao adversário utilizando a força e o pre-paro físico.

Muita coisa mudou na vida deJoão Derly após a vitória no mundialdo Cairo, no Egito, em 2005. Antesdo campeonato, o atleta cogitava apossibilidade de largar os treinamen-

Recuperação de cirurgia no ombro eCampeonato Mundial são as próximasbatalhas do judoca gaúcho João Derly

tos por falta de recursos. “A mídiaajudou muito na divulgação dos mé-ritos que alcancei e isso fez com quealguns patrocinadores procurassema mim e à Sogipa. Depois do Mun-dial, tenho condições de me dedicaraos treinos sem outras preocupa-ções,” conta o judoca.

Em maio, João Derly teve gran-de destaque no desafio Brasil e Ja-pão de Judô, na cidade de Maringá,no Paraná. “Foi um embate entreduas das maiores forças do judô nomundo e foi relevante para conhecera luta adversária”, acrescenta Joãoque, apesar das dores no ombro,derrotou pela segunda vez o japo-nês Hiroyuki Akimoto, em sua ter-ceira vitória seguida contra lutadoresnipônicos em menos de um ano.

A recuperaçãoA cirurgia não deve prejudicar os

treinamentos de Derly. “Não chegaa ser um problema grave”, acredita,“fico afastado dos treinos específi-cos de judô por menos de três me-ses, mas fisicamente continuo trei-nando. Parado mesmo acho que vouficar umas duas semanas.” O atletatambém projeta que estará prontoem setembro para o CampeonatoMundial por Equipes.

Os desafios do segundo semes-tre não são exclusivamente interna-

cionais. Em dezembro, está marcadaa seletiva final para os jogos olímpi-cos de Pequim, para a qual João já seclassificou e vem estudando os ad-versários. “Leandro Cunha, do Clu-be Pinheiros, conhece bem meu esti-lo de luta e dificulta muito nossoscombates, não raras vezes nossas lu-tas terminam empatadas.” Hoje, Le-andro é o substituto de João na Se-leção Brasileira.

O judô brasileiro está passandopor uma fase de conquistas. Alémdo Campeonato Mundial passado ea vitória sobre o Japão, uma das equi-pes mais fortes e tradicionais, pode-se esperar boas campanhas nos jo-gos pan-americanos e nas Olimpía-das. “O judô é um esporte que aindaestá em desenvolvimento no País,apesar de ter crescido nos últimosanos através de intercâmbios comatletas de fora”, conclui Derly.

Porto Alegre conta com um dosmaiores clubes esportivos da Améri-ca Latina. No Brasil, está entre os trêsmaiores. Fundado em 1906, o Grê-mio Náutico União oferece três com-plexos com diversidade esportiva,além de eventos sociais, como o Bai-le de Debutantes e a festa de AnoNovo. Em abril, o clube comemo-rou 100 anos de história, revelandotalentos esportivos como da ginastaDaiane dos Santos, ex-atleta da casa.

O clube começou em um barracode tábuas, conhecido como sede doRuder Verein-Freundschaft (em portu-guês: Sociedade das Regatas da Amiza-de). Os fundadores eram descenden-tes de famílias alemãs – Carlos Arnt,Hugo e Arno Depperman, Arnaldoe Emílio Berscht. Os amigos, queconvocaram as irmãs para elaborar aprimeira bandeira do clube, o mes-mo símbolo usado até hoje, torna-ram conhecido o local chamado de“clube dos guris”. No espaço eram

A história de uma União que comemora 100 anospromovidas quermesses, passeiospelo Guaíba e reuniões dançantes.

Em 1917, o governador Borgesde Medeiros tomou providênciaspara assegurar o patrimônio e direi-to dos cidadãos gaúchos. Porto Ale-gre, em tempo de administraçõesrepublicanas (1889 a 1940), tinhaseus primeiros hospitais e faculda-des. Telefonia, indústria e rádio ain-da eram novidades. O clube precisa-va ter identidade nacional para semanter na sociedade porto-alegren-se. Assim surge o nome GrêmioNáutico União, substituindo Socie-dade das Regatas da Amizade.

Hoje o clube divide suas ativida-des em três áreas, cada uma com seudestaque. A primeira que deu ori-gem ao GNU, localiza-se na Ilha doPavão, próximo ao rio Guaíba. Foiatingida por um incêndio em 1978,quando se perderam documentospreciosos sobre as regatas do passa-do. No bairro Moinhos de Vento,localiza-se a única unidade de um clu-be no Brasil com funcionamento 24

horas. Lá se encontra o “Palácio dosEsportes”, com quadras poliespor-tivas, arquitetadas com materiais es-peciais. Quem freqüenta a sede Moi-nhos não raro se depara com a figurado empresário Anton Carl Bieder-man, atual patrono do clube. Aos 70anos, Biederman costuma nadar di-

ariamente nas piscinas da chamada“sede 24 horas”. Além destas unida-des, ainda há o múseu no bairro AltoPetrópolis, inaugurado em 2004.

O União tem 450 funcionários e60 mil associados. Rui de Almeida,56 anos, é sócio desde 1970. Seus fi-lhos também fazem parte do clube.

“Freqüento-o há muitos anos. Gos-to de vir aqui nos finais de semana,para jogar tênis ou simplesmente en-contrar os amigos”, declarou.

Berço de estrelasO incentivo a modalidades es-

portivas faz o União ser associado aatletas consagrados, como Daianedos Santos que deu seus primeirospassos nas quadras do GNU. O clu-be tem se destacado tradicionalmen-te em esportes como esgrima, vôlei eginástica olímpica.

O clube oferece a modalidadeGinástica Olímpica desde 1957, anode inauguração da sede Moinhos deVento. Daiane era apenas uma crian-ça que gostava de pular e virar cam-balhotas quando começou a treinarno clube. Em 2003, a pequena gaú-cha de apenas 1,45 cm conquistou,aos 19 anos, o primeiro lugar no solono Campeonato Mundial de Ginás-tica Artística, em Anaheim, nos Es-tados Unidos. Outras medalhas vie-ram após a vitória no Mundial.

MANUELA KANAN

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DAIANA ENDRUWEIT

O judô é uma arte marcial cria-da no Japão em 1882 por JigoroKano, que tinha apenas 23 anos.Os lutadores encaram-se concen-trados por breves instantes. Elesencontram-se em uma áreaquadricular de 16 metros quadra-dos, separados por dois metros dedistância e por um árbitro de ternoazul marinho, camisa branca e gra-vata. Enquanto um deles veste umquimono branco e faixa preta, ooutro está todo de azul, menos afaixa, também preta. Os corpos ar-queados para frente no ângulo demais ou menos 45 graus sinalizamum cumprimento, uma saudaçãoque permite ao árbitro gritar“Hagimê”, palavra japonesa que dáinício ao combate.

O judô conta hoje com mais dedois milhões de praticantes no Bra-sil. É a luta de origem cultural japo-nesa mais popular no País e já ren-deu aos brasileiros 12 medalhas emjogos olímpicos.

Uma cena que parece retirada dealgum filme ou desenho de samuraisjaponeses acontece diariamente emclubes e centros esportivos de todoo país. Os lutadores não trocam so-cos, nem mesmo chutes, o objetivode cada um é projetar o adversário decostas no chão, ou imobilizá-lo quan-do derrubado. Ao fim da luta, osjudocas, cumprimentam-se maisuma vez. Mesmo que não queiram,são obrigados a fazê-lo, a saudação eo respeito ao adversário fazem parteda disciplina do esporte.

Judô, uma luta leal

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Tradição: o mesmo símbolo desde a fundação do clube por alemães

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PPPPPorto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006 99999MUNDOMUNDOMUNDOMUNDOMUNDO IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH

Depois de duas magras vitóriasnas primeiras partidas e uma golea-da na terceira, com dois gols deRonaldo Fenômeno, a Seleção bra-sileira garantiu sua vaga nas oitavasde final da Copa da Alemanha. Deagora em diante, é mata ou morre.A primeira eliminatória é contraGana, dia 27, ao meio-dia.

O início da corrida pelo hexanão empolgou. No apático jogocontra a Croácia, o Brasil mal se me-xeu. A promessa do quadrado má-gico formado por Ronaldinho Ga-úcho, Ronaldo Nazário, Kaká eAdriano, pouco fez em campo. Oúnico gol que garantiu a vitória bra-sileira veio aos 43 minutos do se-gundo tempo pelos pés de Kaká,que chutou fora da grande área,marcando um belo gol sem chancesde defesa para o goleiro croata. OFenômeno simplesmente não com-pareceu em campo e foi substituí-do por Robinho, que deu mais agili-dade ao grupo, mas sem resultados.

Depois das críticas no primeirojogo, o técnico da Seleção, CarlosAlberto Parreira, garantiu o quadra-do mágico e a presença de Ronaldo,alegando que o jogador precisavaentrar no pique da competição.

Ao enfrentar a Austrália, mos-trou pouca evolução. No primeirotempo, a equipe sofreu com a fortemarcação dos australianos. Ronaldorecebeu um chute na canela que pas-sou em branco pela arbritagem.Mesmo assim, chutou diversas ve-zes a gol, todos para fora. Os brasi-leiros revelaram falta de entro-samento e todas tentativas de golvieram de jogadas individuais.Nazário continuou sem brilho e len-to, embora com atuação melhor queno jogo anterior. Ronaldinho, emposição equivocada, fez sua parte:toques precisos e boa articulação no

Copa entra na fase do faroeste

Um grupo de executivos procu-rou o Instituo Goethe de Porto Ale-gre para ter aulas de alemão, comobjetivo específico de ir para a Copadeste ano. As aulas foram realiza-das duas vezes por semana, com umtotal de uma hora e meia cada. Ocurso terminou em 13 de junho,data do primeiro jogo do Brasil. Elestiveram noções de apresentação,como preencher um formulário, nú-meros, como pedir um telefone, as-suntos adequados para quem estáchegando na Alemanha.

O Instituo Goethe é o InstitutoCultural da República Federal daAlemanha e possui unidades nomundo todo. Ele proprociona o co-

nhecimento da língua alemã, alémde fomentar a colaboração culturalem nível nacional. Busca transmitiruma visão geral do país através deinformações políticas, sociais e cul-turais.

Além do curso dirigido realiza-do para os executivos, os módulosintensivos que começaram em mar-ço e abril também trataram do tema.Durante a Copa, como já tradiçãono Instituto, serão transmitidos to-dos os jogos do Brasil e da Alema-nha. O detalhe é o acompanhamen-to: caipirinha nos jogos verde eamarelos e chope, nos do país sede.Uma boa pedida para quem vai tor-cer e gritar muito neste mundial.

Classificado como líder de seu grupo, Brasil começa a enfrentar os duelos mortais. Só um sobrevive

meio-campo, mas seu talento des-perdiçado, já que sua posição deve-ria ser atacante.

A zaga brasileira também falhou.Os australianos chutaram ao gol deDida três vezes, exatamente iguais.Por esta falha na defesa, Dida seesforçou e acabou fazendo defesasimportantíssimas, mas que poderi-am ser evitadas. O primeiro gol veiono começo do segundo tempo.Ronaldo passou a bola para Adrianoque chutou com força no gol ad-versário. Os australianos pressiona-ram dando sustos na Seleção. O ata-cante Bresciano, da Austrália, con-tribuiu bastante para isso. A torci-da, conformada com a vitória de umgol apenas, assistiu a entrada do ata-cante Fred aos 42 minutos do se-gundo tempo. Na ofensiva, Kaká ca-beceou no travessão e, Fred, aosdois minutos em campo, aproveitoua sobra e assinou o segundo gol se-lando a classificação à próxima fase.

Na quinta-feira, dia 22, às 16 h,a Seleção enfrentou o Japão, emDortmund, e venceu de 4 a 1, devirada. Além de Ronaldo duas ve-zes, marcaram Juninho Paulista eGilberto. No grupo do Brasil, aAustrália empatou com a Croáciaem 2 a 2 e também se classificou.

Aprendendo a gritar gol no GoetheAprendendo a gritar gol no GoetheAprendendo a gritar gol no GoetheAprendendo a gritar gol no GoetheAprendendo a gritar gol no Goethe

MARINA VOLPATTO

Nos jogos do Brasil na Copa nãofaltaram torcedores apinhados emmesas de bares numa das principaisruas da boemia porto-alegrense. ALima e Silva foi tomada pelo verde-amarelo. Os bares capricharam na de-coração. Bandeiras do Brasil, faixas eserpentinas enfeitam também os es-tabelecimentos menos movimenta-dos. Porém, o que mais tem servidode atração aos clientes são os televi-sor de plasma. Os estabelecimentosque ofereceram a tecnologia foram

os mais procurados.Os donos dos locais garantiram

a validade do investimento. Segun-do eles, a expectativa é de que oconsumo de bebidas e refeições do-bre na hora dos jogos, mesmo quedurem apenas 90 minutos. Os tele-visores custam em média R$ 6 mil.O investimento é pesado, mas osproprietários esperam recuperar odinheiro não apenas na Copa. Con-tam também com o faturamento noretorno do Brasileirão em julho.

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Torcida para o Brasil e a Alemanha; com caipirinha ou chope

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Zé Roberto e Juan na defesa do Brasil, no jogo contra a Austrália, a segunda partida da Copa

TORSTEN BLACKWOOD/AFP

Os 19 alunos chineses que porum ano estudaram nas faculdadesde Comunicação Social (Famecos)e Letras (Fale) da PUCRS estão sedespedindo de Porto Alegre, parainiciar viagem de regresso à terranatal. Eles receberam dia 21 dejunho diplomas de conclusão dointercâmbio de 11 meses no país.Na solenidade, esteve presente aassessora para Assuntos Interna-cionais e Interinstitucionais daUniversidade, Silvana SouzaSilveira, que parabenizou os alu-nos pela coragem e determinaçãoem encarar uma realidade diferen-te e os costumes ocidentais.

A diretora da Famecos, MágdaCunha, lembrou as dificuldadesiniciais e o desafio de fazer jorna-

lismo em outra língua. Ressaltou quemais do que ensinar, se aprendeumuito com o projeto, constatandoser possível conviver com a diversi-dade. Leonel, o orador da turmaoriunda da Universidade de Comu-nicação da China, agradeceu a aco-lhida da Universidade e dos profes-

sores e disse ter vivido “uma expe-riência muito legal no Brasil, umcrescimento pessoal. Gostaríamosde voltar mais vezes”. No final doevento, os intercambistas interpre-taram, por meio de peças teatrais,situações vividas no Brasil, como aida a uma cartomante.

SaudadesSaudadesSaudadesSaudadesSaudadesdos chinesesdos chinesesdos chinesesdos chinesesdos chineses

LUCIANO LANES

Instituto Cultural Brasileiro-AlemãoRua 24 de Outubro, 112

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PPPPPorto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 20061 01 01 01 01 0 M E M Ó R I AM E M Ó R I AM E M Ó R I AM E M Ó R I AM E M Ó R I A HIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTHIPERTEXTOOOOO

A cidade do prefeito Loureiro da Silva“Eu faço versos na pedra, construindoo poema de uma cidade nova”.

Avenida Farrapos. Retificação e ca-nalização do Arroio Dilúvio. AvenidaSalgado Filho. Criação do DMAE. Ave-nida Três de Novembro, atual Andréda Rocha. Saneamento dos bairrosNavegantes e São João. Estas são al-gumas marcantes obras dos períodosadministrativos de José Loureiro daSilva em Porto Alegre.

De descendência direta deJerônimo de Ornelas Menezes e Vas-concelos, primeiro povoador das ter-ras onde se acha assentada a cidadede Porto Alegre, Loureiro da Silvaorgulhava-se de suas origens lusita-nas e de suas profundas ligações coma cidade que tanto amou e por duasoportunidades governou.

“Bravo, galhardo, honrado, gene-roso, assomado e incontido” eramsuas características, de acordo comJoão Pereira Coelho de Souza, seucolega e amigo. Mais do que isso. Ocharrua, assim era chamado por terfortes traços de índio, era um homemde obras, um “engenheiro”, cujosolhos brilhavam ao ver mais umaavenida ser inaugurada.

Porto Alegre. Rua General Neto,número sete. 19 de março de 1902.Nasce Loureiro. Filho de MarianoBarbosa da Silva e Cecília Loureiroda Silva. Ingressa no Ginásio Júliode Castilhos, em 1910, onde cursa oensino elementar, médio e secundá-rio. Em 1918, ingressa à faculdade deLivre Direito, mais tarde integrada àUniversidade Federal do Rio Grandedo Sul.

10 de novembro de 1937. Getú-lio Vargas implanta o Estado Novo.Um pouco antes, no dia 21 de outu-bro, Flores da Cunha, governador doRio Grande do Sul e opositor deVargas, renuncia ao cargo, para sur-presa dos que esperavam por umconfronto armado entre os partidá-rios de Flores e as forças federais.Daltro Filho é nomeado interventordo estado por Vargas. Este, sem per-da de tempo, constrói, com homensque tinham se posicionado contraFlores, a nova estrutura de poder doRio Grande. Entre estes homens estáo deputado Loureiro da Silva, quedeixa a Assembléia Legislativa para

tornar-se prefeito de Porto Alegre.Em sua primeira gestão (1937-

1943), Loureiro assume uma cidadeque se encontra num momento crí-tico. Além dos problemas origina-dos pelo crescimento, havia dívidas,algumas do século anterior. Tratava-se de “arrumar” a casa. Comprimirdespesas. Para isso, um dos seus atosfoi dispensar 180 funcionários querecebiam salários sem trabalhar, co-nhecidos como “deputados” da lim-peza pública. “Era destemido. Sem-pre imbuído de sinceridade de pro-pósitos. Lutava com todas as forçasa fim de que triunfasse a sua vonta-de, mesmo que a vitória lhe causasseo desgaste político”, lembra o verea-dor João Antônio Dib (PP), que foiSecretário dos Transportes na segun-da administração de Loureiro.

Precisava ser destemido. Precisa-va de sua impetuosidade para en-frentar vários problemas: o sistemaviário não comportava mais o tráfe-go crescente de veículos. As vias docentro urbano, pela falta de espaçopara estacionamento, estavam con-gestionadas; enchentes periódicas,extensão limitada das redes de esgo-tos. Eram problemas que requeriamsoluções imediatas; os órgãos admi-nistrativos, concebidos 30 anos atrás,necessitavam de reformas. Era preci-so aperfeiçoar o quadro de funcioná-rios, mecanizar os serviços e raciona-lizar a forma de taxação dos imóveis.

Para realizar o tão sonhado Pla-no Diretor (um estudo aprofundadocom a finalidade de projetar e “dese-nhar” uma cidade ideal) era precisoter tempo. O que Loureiro não ti-nha. Havia problemas que deveriamser solucionados urgentemente. En-quanto os primeiros passos prepa-ratórios ao surgimento do plano deurbanização eram dados, o novo pre-feito determinou a realização de le-vantamento topográfico e avaliaçõespara dar início a algumas obras, comoa abertura da Avenida Farrapos. Deacordo com Dib, “o Plano Diretorde desenvolvimento da cidade atéhoje serve de modelo para os admi-nistradores de Porto Alegre”. Co-menta também que em menos deum ano, Loureiro procedeu a refor-ma tributária e saneou as finanças.

Leonel Brizola é candidato a go-vernador pelo PTB em 58. Loureiro,apesar de não ter sido escolhido can-didato novamente, faz campanhapara Brizola. Porém, um aconteci-mento irá determinar sua saída dopartido. O comício de encerramentoda campanha para o estado será trans-mitido ao vivo pela RádioFarroupilha. O jornalista JaimeKeunecke, o Jotaká, anuncia o dis-curso de Loureiro como se a rádioestivesse no ar. Algum tempo de-pois, o Charrua descobre a artima-nha de Brizola. Este ordenou quetransmitissem apenas o discurso doJango e o seu.

Um ano mais tarde, a ala moçado Partido Democrata Cristão con-vida Loureiro a concorrer à Prefeiturade Porto Alegre. No início, Charruaresistiu. Mas, a mobilização de po-pulares e o apelo dos moços osensibilizaram. A cidade que tantoamava precisava dele. “As finanças (dePorto Alegre) estavam em péssimascondições. Um quadro caótico. Trêsmeses de salário do funcionalismoem atraso. Os fornecedores se nega-vam a fornecer e empreiteiros não

Administra Porto Alegrepela segunda vez

aceitavam executar obras”, conta Dib.Loureiro sai às ruas a fazer cam-

panha. Não é tarefa fácil derrotar amáquina do Partido Trabalhista, im-plantada na Prefeitura Municipal e noPalácio Piratini. Sem recursos finan-ceiros, sem apoio das estruturas dopoder, a campanha é tímida, consis-te no contato pessoal, no aperto demãos dos eleitores, na visita a em-presas e fábricas. Resultado final: oCharrua é eleito com 53% dos votosválidos para nova gestão de 1960-1964).

De acordo com Dib, então secre-tário dos Transportes, em um anode administração as finanças do mu-nicípio já estavam mais ou me-nos em ordem e a prefeitura deixavade ser a “caloteira oficial”. No segun-do mandato os principais atos deLoureiro foram: organização do Con-selho Municipal de Transportes co-letivos, da Guarda Municipal, doDMAE e do Conselho Deliberativoda Casa Popular. Construção de 85prédios escolares, calçamento de 150ruas e pavimentação da Estrada An-tonio de Carvalho, ligando a BentoGonçalves à Protásio Alves.

Fim do Estado Novo. GetúlioVargas começa a se articular politica-mente. Monta o Partido TrabalhistaBrasileiro (PTB). Loureiro é convi-dado a participar da organização des-te partido. O Charrua via noincipiente PTB uma oportunidadepara chegar ao Palácio Piratini.

A partir daí, Loureiro dedicou-seinteiramente à construção deste. Fun-dando diretórios ou deixando co-

“Ao deixar a prefeitura (em1964), Loureiro disse que queria ir aTapes comer carne gorda e tomar cer-veja gelada embaixo das árvores”,revela Dib. O Charrua pretende de-dicar-se a si e a sua família, na suafazenda de Tapes.

O governador do estado do RioGrande do Sul, Ildo Meneghetti,enfrenta renovados problemas inter-nos, fruto de confronto de idéias,posições e expectativas dos políticosmais íntimos do poder instalado. Ogovernador planeja uma ampla re-forma no secretariado e pretenderealimentar-se com a presença denomes destacados da política esta-dual. Um deles é Loureiro da Silva, aquem é oferecida a Secretaria da Fa-zenda.

Em uma conversa reservada como governador argumenta a recusa doconvite. Meneghetti lembra que a Se-cretaria da Fazenda o faria candidatonatural à sua sucessão. O Charrua se“rende”.

Dia 3 de junho. Encontraria, às16 horas, os seus ex-acessores EdgarIrio Simm e Manoel Braga Gastal nasede da Exprinter. Depois, iria aoPalácio Piratini e por último, seria re-cebido por Alberto Hoffmann, naSecretaria da Fazenda. Aplausos.Abraços. A manifestação popularsurge espontânea. Loureiro leva quaseuma hora para ir da Rua Uruguai àPraça da Alfândega. Uma pequenamultidão o conduz até a sede daExprinter. Está emocionado, feliz.Conversa, “brinca”. De repente, Lou-reiro cai. Um enfarto o separa de suaesposa Lisette e dos filhos Achiles eIrene. A emoção o leva. “Pra mim, acausa de sua morte foi a emoção.Loureiro foi aplaudido enquantoandava pela Rua da Praia e a emoçãoo derrubou”, lamenta Dib.

O sonho de ser goverO sonho de ser goverO sonho de ser goverO sonho de ser goverO sonho de ser governador nunca se realizanador nunca se realizanador nunca se realizanador nunca se realizanador nunca se realiza

A emoção queA emoção queA emoção queA emoção queA emoção queo dero dero dero dero derrrrrrubouubouubouubouubou

missões provisórias no interior doestado. Loureiro teve papel essencialnas negociações para o ingresso deAlberto Pasqualini no PTB. Um pas-so fundamental para o partido. Tor-nou-se, mais tarde, no maiorideólogo do trabalhismo.

Eleições para o governo do esta-do. Loureiro e Pasqualini são os no-mes que disputam a vaga de candi-dato pelo PTB. O Charrua fica à es-

pera de uma nova oportunidade en-quanto Pasqualini perde o PalácioPiratini para Walter Jobim. Em 1954tudo indicava ser a sua vez. O nomedo Charrua era anunciado como con-ciliação das várias correntes partidári-as. Porém, Pasqualini novamente éescolhido pelos trabalhistas e sofrenova derroda, agora para Meneghetti.

Eleições para presidente. 1960.Um acordo entre Fernando Ferrari e

Loureiro da Silva parece ser o cami-nho que o conduzirá até o governodo Estado. O pacto: Loureiro deveapoiar Ferrari para vice-presidente eFerrari o retribuirá nas eleições de 62para governador. O Charrua cumpriusua parte. Porém, Ferrari não vence edecide concorrer a governador do RioGrande do Sul em 62, rompendocom o acordo firmado. Também éderrotado.

FERNANDA FELL

LLLLLAIONAIONAIONAIONAION M M M M MACHADOACHADOACHADOACHADOACHADO E E E E ESPÍNDULASPÍNDULASPÍNDULASPÍNDULASPÍNDULA

Monumento e avenida Loureiro da Silva são homenagens da cidade ao ex-prefeito

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PPPPPorto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006orto Alegre, junho de 2006 1111111111S O C I E DS O C I E DS O C I E DS O C I E DS O C I E DA D EA D EA D EA D EA D E IPERIPERIPERIPERIPERTEXTTEXTTEXTTEXTTEXTOOOOOHHHHH

“S.O.S. Porto Alegre, a cidade estámorrendo. Nós, moradores,estamos perdendo a sensibilidade,banalizando o que vemos no cotidi-ano, embrutecendo o olhar”, alerta aprofessora e historiadora SandraJatahy Pesavento, em carta publicadapelo jornal Zero Hora em março úl-timo. Ela se declarava triste e apreen-siva sobre a situação da cidade, emespecial, do bairro Cidade Baixa eimediações. Cidadã Emérita, Sandrafaz um apelo para que as pessoas eautoridades reflitam sobre a paisa-gem do cotidiano.

Para ela, a população está perden-do a capacidade da emoção ou de en-xergar aquilo que se oferece à vistatodos os dias, talvez, de tanto ver amesma cena se repetir dia após dia.Sandra mora na avenida VenâncioAires, Cidade Baixa, bairro boêmio,que também acumula muitos mora-dores de rua. “Uma cena é freqüente:meninos de rua a dormir ao sol alto,na calçada, atravessados no passeio,entupidos de loló ou sei lá o quê.Não encolhidos em um cantinho,mas estirados no meio da calçada,boca aberta, braços em cruz, no meiodo dia, perdidos na vida. A cena já setornou banal. As pessoas passam eprecisam se desviar”, desabafa.

O começo do fimUma hora da tarde. O sol está

forte. Numa das mais famosas ruasda Capital, José Bonifácio, onde,todo o domingo, acontece o Brique

Cerca de 20 pessoas formam ogrupo de excluídos sociais que cos-tuma ficar na rua Venâncio Aires eimediações. À noite, eles se juntame dormem em frente à loja de umagrande rede de celulares ou diantedo prédio de uma farmácia. “Oproblema é que a farmácia funcio-na 24 horas e eles querem dormiraqui na frente. As pessoas que che-gam para comprar algum produtoficam com medo, apesar de não se-rem agressivos, de não serem la-drões, são apenas pessoas pobres.Mas as pessoas têm medo e aca-bam não entrando na loja”, quei-xa-se Cláudio Silveira, gerente doestabelecimento.

O comerciante da Cidade Baixa

MANUELA KANAN

Ninguém querver as mazelasda cidade

da Redenção, duas pessoas estão lar-gadas no chão, acomodadas sob asombra de uma árvore. Ao redordeles, dois carrinhos de compras,cheios de bugigangas e recicláveis. Aoaproximar-se deles, é possível sentiro forte odor que exala dos seus cor-pos. Desconfiados, eles ficam inqui-etos. A mais agitada, Margarete, é aprimeira a falar. Não deixa os outrosfalarem, quer só ela responder as per-guntas, inclusive, sobre a vida dosoutros integrantes do grupo.

Margarete Alexandre da Rosatem 22 anos, mora na rua desde osoito anos de idade. Ela conta quequando se separou do marido, a mãenão a aceitou em sua casa pelo fatodela usar drogas e, por isso, foi mo-rar na rua. Deixou para trás uma fi-lha, família, amigos, em busca de sa-ciar um desejo maior causado peladependência. Além de cheirar loló,Margarete é viciada também em crack,droga que começou a usar aos 13.Sem cabelo, com aparênciadesgastada pelas substâncias que in-gere, chama atenção devido às mar-cas no corpo. Nos braços, várias cica-trizes apontam para um triste passa-do. São sinais dos vários cortes queela mesma fez em uma tentativa desuicídio, provavelmente, ocorridanum momento de depressão, con-seqüência do uso de drogas. No pé,Margarete mostra onde a bala en-trou, de um tiro que levou do ex-marido. Ela se diz casada com outrotranseunte, Luis Fernando Gomesda Silva, 29 anos, o mais velho daturma. Questionada sobre o lado

ruim de viver na rua, Margarete citaas brigas com Luis Fernando, comquem está há dois anos e de quemapanha muito. Segundo ela, o prin-cipal motivo é ciúmes.

Como sustentam o vícioPara sobreviver, pedem dinheiro

nas sinaleiras, cuidam veículos esta-cionados, ou ganham moedas depessoas que passam por eles.Margarete descrever como faz o pe-dido: “Oi senhora, boa tarde, comlicença. A senhora não tem umtrocadinho, cinco ou dez centavos jáajudam, a gente compra um pão. Tácerto que a gente usa pra comprardroga, mas primeiro a gente compraalguma coisa pra comer”. A frase ébem conhecida das pessoas. Quemjá não foi abordado na janela do seuveículo, ou mesmo andando pela rua?Desnecessário lembrar o desconfor-to do momento em que a diferençasocial e o desequilíbrio causado poressa provocam conflitos, mascara-mentos e exclusões. O sem-teto é a

expressão máxima deste processo,um número cada vez mais expressi-vo diante dos olhos da sociedade. Oque mais choca no diálogo com es-sas pessoas é a questão das drogas,tornando-se o principal impedimen-to para sua re-inclusão. Momentosapós Margarete ter encenado o pedi-do de auxílio, ela olha para o colegaao lado e numa risada diz que, àsvezes, eles compram droga primei-ro, para depois adquirir comida. Ad-mite que as pessoas são muito boase que sempre ganham dinheiro sufi-ciente para viver, seja das esmolasrecebidas, seja das pessoas que se co-movem ao vê-los na rua. Isso quer di-zer que muitas pessoas, mesmo sem aintenção, os ajudam a sustentar o vício.

Um dos companheiros da jovemtem 17 anos. Ele saiu de casa há pou-co mais de um ano. Motivo, drogas.Um dia pegou dinheiro de um co-nhecido para comprar crack e nãovoltou nem com o dinheiro, nemcom a droga. Foi jurado de morte e,por isso, nunca mais colocou os pés

no bairro Bom Jesus. Encontrou nasruas, a segurança que não teve ao per-manecer em sua casa.

Enquanto a falante Margaretenarrava suas aventuras, uma meninafranzida, com corpo de criança e ca-belos despenteados se aproxima.Chega calada, segurando duas garra-fas de 600 ml com um líquido nofundo de cada uma. Entrega umapara Margarete e outra para o jovem.Começa uma discussão sobre qualgarrafa contém mais substância. En-quanto não é feita a comparação,Margarete não sossega. É loló. Am-bos não se incomodam com a pre-sença de outras pessoas, muito me-nos com a luz do dia. Continuam acheirar a droga sem parar. Uma delastem 16 anos e está grávida de doismeses. Encontra-se na rua há trêssemanas. Ela não confirma, mas se-gundo o rapaz de 17, a razão paraestar na rua, é ele. Como não podevoltar para casa, ela foi viver com elena via pública. É melhor morar narua do que em casa”, alega a jovem.

PPPPPOROROROROR T T T T THAÍSHAÍSHAÍSHAÍSHAÍS A A A A ALMEIDALMEIDALMEIDALMEIDALMEIDA

Exclusão social e drogas levamadolescentes a morar nas ruas

também reclama da sujeira deixadaapós a passagem das organizaçõesque levam comida. “O pessoal quetraz comida, apesar de querer ajudar,atrapalha porque eles não querem co-mida. Simplesmente depois que elesvão embora, atiram tudo o que ga-nham pela calçada. Dispensam tudo,porque sabem que outra ONG vaipassar no dia seguinte e dar mais”,revela. Um funcionário que trabalhana farmácia ofereceu, certa vez, mo-radia a um sem-teto. Deu um quartodentro de, deu comida e emprego.Nem dois meses depois e sem-tetovoltou para a rua, segundo ele, paracheirar loló.

Durante o dia, o grupo se sepa-ra. Procuram trocar de lugar por cau-

sa da Brigada Militar, que os obriga atirar as bugigangas de frente dos es-tabelecimentos e do Pronto Socorro.“A polícia bate na gente, querem tirara gente a força. Alguns pedem licen-ça, outros chegam batendo. Todo odia eles correm a gente. Eles não têmpena”, afirma uma das adolescentes.

Carregam com eles dois carrinhosde compras e três cachorros: Negão,Doninha e Mimosa. Nos carrinhos es-tão panelas, cobertores e latinhas quejuntam dos lixos e do chão para ven-der. Eles contam que duas ONGs,Pandeco e Deus e Amor, se revezamna distribuição de sopão, roupas ecobertores. O dinheiro que entra vemde esmolas e da venda de latinhas.Segundo um dos meninos, é possí-

vel ganhar em um único dia R$ 20,00pedindo nas sinaleiras. Dosrecicláveis recebem muito pouco, ape-nas R$3,00 por quilo.

Um restaurante próximo oferecetodos os dias um pote grande comcomida que sobrou do bufê de al-moço. “Eles não incomodam. Só al-gumas vezes passa um deles bêbadoe começa a pedir esmola aqui na fren-te, mas pedimos para sair e somossempre atendidos”, diz José Adairde Abreu, recepcionista do Prato Ver-de, o restaurante que doa comida paraos sem-teto.

Eudes Pioner, taxista há 15 anos,explica que há várias turmas e o mai-or problema é a sujeira, porque carre-gam muito lixo de um lado para

outro. “Por onde passam, deixamum rastro, parece um lixão”, reclamao taxista.

Em estudo realizado na décadade 90 pela Fundação de EducaçãoSocial e Comunitária (FESC), da Pre-feitura, em parceria com a Faculdadede Serviço Social da PUCRS, foi cons-tatada a existência de um número de222 moradores de rua, maiores de14 anos, em Porto Alegre. O estudoaponta as principais causas: proble-mas de relacionamento familiar(28,8%) e a dependência de álcool edrogas (22,5%). “A vida deles é umavida de sobrevivência, enquanto hou-ver droga, um prazer mínimo, conti-nuam na rua”, observa o psicanalis-ta Walton Pontes Carpes.

A difícil convivência com os vizinhos da calçada

Margarete e seus pupilos: loló à luz do dia. Não estão nem aí para quem anda pelas ruas

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Um bandoneon soluçante, o toque nostál-gico nas cordas apuradas dos violinos evioloncelos. Ao ritmo da melancolia portenha,os passos entusiasmados do jovem par anun-ciam aos presentes um acontecimento: baila-rão um tango! O dançarino tira o chapéu incli-nado à cabeça e enlaça a parceira na pista dedança. O show das luzes e da fumaça ajuda acriar a atmosfera moderna e glamourosa doespetáculo, direcionando para o palco os olha-res atentos dos visitantes. A dançarina, de ca-belos presos, rodopia numa saia justa, onde seabre uma generosa fenda. Ao ritmo que con-duz o casal – guiando passos e entusiasman-do os demais – soma-se um piano e ocontrabaixo.

Esta cena pode ser presenciada todos osdias na casa de show para turistas mais famosade Buenos Aires, o Señor Tango, com capacida-de para 1.800 pessoas. Nas mesas, é possívelver visitantes dos EUA, da África do Sul, Ale-manha e, é claro, do Brasil. Os funcionários dolocal aproveitam essa diversidade, a começarpelo próprio proprietário, Fernando Solera, umdos mais conhecidos intérpretes de tangoportenho. Acompanhado por músicos e dan-çarinos, ele cumprimenta os visitantes em to-das as línguas, com direito até a piadinhas, prin-cipalmente com brasileiros. O gênero popula-rizado por Carlos Gardel no início do século20 rendeu clássicos como Mi Buenos Aires Que-rido, El Dia que me Quieras, Caminito e AdeusPampa Mio, todas incluídas no repertório deSolera durante o show.

Além desta casa, onde o show é maisacrobático, glorioso e encenado à modahollywoodiana, outras “tanguerías”, como sãoconhecidos os estabelecimentos desta dança,podem ser apreciadas em muitos pontos deBuenos Aires: como na La Ventana, El ViajoAlmacén e Esquina de Gardel, entre outros. Es-ses lugares também são destinados aos turis-

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Tango: melancoliae sensualidadeda alma portenha

tas. Porém, são mais tradicionais, com apre-sentações modestas.

Fenômeno CulturalO tango, a mais importante forma de ex-

pressão cultural da Argentina, é um fenômenocompleto, com baile, música, canção e poesia,além de outros ingredientes, como sensuali-dade, profissionalismo e tradição. É quase im-possível passar por Buenos Aires sem ter con-tato com essa dança. Andando pelo bairro por-tuário de La Boca, por exemplo, o turista podeesbarrar com apresentações em via pública. Narua Caminito – uma das mais famosas do bair-ro e que conserva suas construçõesmulticoloridas, feitas de chapas de zinco ourestos de madeiras, que lembram os prédiosdo Pelourinho, na Bahia – é possível ver casaisdançando esse ritmo, surgido no século XIX.

Para Ricardo García Blaya, argentino queestuda a história da dança, “o tango é, em pri-meiro lugar, um gênero musical essencialmen-te bailável, com um ritmo e uma estrutura queo distingue de todos os outros gêneros musi-cais”. Como toda canção nova, recebeu as in-fluências do contexto sócio-cultural do finaldo século XIX, que acompanhou parte da evo-lução da dança. O marco social, onde nasceu otango, é Buenos Aires de 1880, uma cidadecom enorme crescimento demográfico susten-tado pela imigração, fato importante para com-preender o surgimento desta dança.

“A cidade tinha em 1880 uma populaçãode 210 mil habitantes e uma importante imi-gração européia. Em 1910, cresce a 1,2 milhãode habitantes”, com presença maciça de euro-peus, vindos principalmente da Alemanha,Espanha, Itália e França. A música e a dançaforam, assim, “contaminadas” por outros gê-neros musicais trazidos por esses estrangeiros,tais como a habanera, ritmo de origem afro-cubana, e a milonga, um canto e dança deAndaluzia (Espanha), que no fim do séculoXIX fez sucesso na capital argentina.

Além de ter sido o inventor do tango-canção, Charles Romuald Gardès, mais co-nhecido como Carlos Gardel, foi o grandedivulgador do ritmo no exterior na décadade 20. O sucesso da dança no Velho Mundorefletiu dentro do país, principalmente naclasse alta, que antes refutava o ritmo, masque agora passava a incorporar a dança. Fale-cido em 1935, aos 45 anos, vítima de umacidente aéreo em Medellín, na Colômbia,Gardel foi intérprete, compositor e ator deinúmeras canções e musicais. Com ele, o rit-

O tango esteve associado no princípio aosbordéis e cabarés do subúrbio de Buenos Aires– âmbito de contenção da população imigran-te masculina. Segundo Julian Beszkin, estu-dante de artes na Universidad de Buenos Aires,o tango não era bem visto em casas de famíliae se destinava apenas às mulheres prostitutas eaos homens. Com o passar do tempo, a dançadeixou as zonas baixas e se estendeu aos bair-ros proletários, passando a ser aceita pelas fa-mílias. A melodia provinha da flauta, violinoe violão. As letras abordavam temas da vida eeram obscenas e melancólicas. “Falam sobrecocaína e a vida de traições”, conta Beszkin.

Para Voltaire Schilling, historiador gaúcho,“é a lírica de vidas destroçadas por traições efalsidades, desilusões e crimes. Mulheres pérfi-das e amigos tramposos são o sal dadramaturgia tanguista: ‘Mi china fue malvada,mi amigo era un sotreta’. É a estética de ummundo canalha e ressentido”, avalia.

Ele nasceu nos bordéis do submundoTATIANA FELDENS

UM FRANCÊS COM CARA DE ARGENTINO

mo portenho ganhou uma faceta mais ro-mântica e deu a volta ao mundo.

Nascido na França, em 1890, chegou aBuenos Aires com sua mãe quando tinhaapenas dois anos. Começou a cantar por voltados 17 anos e aos 25 já era popular em todaa América espanhola. 1927 foi o ano de suaconsagração na Europa, alcançando grandesucesso em Paris. Logo vieram os EUA e osucesso no cinema. Lá, nos estúdios daParamount, em Nova York, atuou em vári-os filmes que fizeram grande sucesso.

TATIANA FELDENS

Señor Tango: a casa de shows mais famosa de Buenos Aires

Corpo e alma: bailado em via pública