pag12

1
12- Saúde e Beleza E Dia do Professor Tendências... Raquel de Melo - jornalista e artista plástica [email protected] m outubro comemoramos também o Dia do Professor. Acaso, ou não, uma das experiências mais importantes e emocionan- tes que já tive em minha vida. Este ano me tornei professora. Aulas de Sociologia para o ensino médio. E, quando preciso, substituo aulas em que professores faltam. O clima da sala de aula quando estamos a frente de 40, 50 crianças e adolescen- tes é fantástico. Fico ali, observando cada olhar, expressão, cada carinha esperando a atividade do dia. Muitas vezes, pergunto o que gostariam de falar antes de iniciarmos as tarefas. E me surpreendo sempre. São histórias. Cada um deles ali tem uma história. Histórias familiares assustadoras, histó- rias pessoais quase nunca tocadas, histórias de amigos. E me sinto parte do mundo das carteiras escolares. O que mais me toca nestas salas de aulas é que a escola em que leciono fica na periferia de Campinas, bem longe. Nada comparado ao que vivi no Sesi, tempo este de muita estrutura e aprendizado pra lá de suficiente. Sempre digo que o meu português e a facilidade com que escrevo aprendi lá no Sesi, com a querida professora Maria Amélia. Ela foi um ícone na minha vida e hoje tento ser mais ou menos o que ela foi pra mim. A Educação, quando em nossas mãos, vai mui- to além de passar conteúdos exigidos por esta ou aquela instituição governamental. O que vejo hoje é que, ensinar, é uma lógica de diálogos, percepção da realidade e introdução ao que pode ser absorvido por uma turma. Numa escola em que o Estado é o provedor, muitas, mas muitas coisas se perdem e não atingem a sala de aula. Vivemos na era da informática, mas não temos computadores suficientes em esco- las públicas. Vivemos o Bullying, mas ele é tratado como uma pequena lembrança. Vivemos as drogas, mas ela está muito perto da sala de aula. Posso dizer que para se ganhar um bom salário é preciso ‘ralar’ bastante. Mas, saber que saí de uma sala de aula e ensinei alguma coi- sa para aqueles meninos e meninas que têm o mundo a percorrer é imensurável. Dedico esta coluna aos professores, à Maria Amé- lia que fez de meu português meu ganha-pão e aos meus alunos que toparam esta nova jornada da minha vida e sempre me fazem crescer a cada dia. Com eles aprendo muito mais do que ensinar. Aprendo a ser humana, hu- milde e paciente. Porque muitos ali estão na escola por motivos mais sérios do que imaginamos. Se aprenderem, já é uma vantagem.

description

 

Transcript of pag12

Page 1: pag12

12- Saúde e Beleza

EDia do ProfessorTendências...

Raquel de Melo - jornalista e artista plástica

[email protected]

m outubro comemoramos também o Dia do Professor. Acaso, ou não, uma das experiências mais importantes e emocionan-tes que já tive em minha vida. Este ano me tornei professora. Aulas de Sociologia para o ensino médio. E, quando preciso, substituo aulas em que professores faltam. O clima da sala de aula quando estamos a frente de 40, 50 crianças e adolescen-tes é fantástico. Fico ali, observando cada olhar, expressão, cada carinha esperando a atividade do dia. Muitas vezes, pergunto o

que gostariam de falar antes de iniciarmos as tarefas. E me surpreendo sempre. São histórias. Cada um deles ali tem uma história. Histórias familiares assustadoras, histó-rias pessoais quase nunca tocadas, histórias de amigos. E me sinto parte do mundo das carteiras escolares. O que mais me toca nestas salas de aulas é que a escola em que leciono fica na periferia de Campinas, bem longe. Nada comparado ao que vivi no Sesi, tempo este de muita estrutura e aprendizado pra lá de suficiente. Sempre digo que o meu português e a facilidade com que escrevo aprendi lá no Sesi, com a querida professora Maria Amélia. Ela foi um ícone na minha vida e hoje tento ser mais ou menos o que ela foi pra mim. A Educação, quando em nossas mãos, vai mui-to além de passar conteúdos exigidos por esta ou aquela instituição governamental. O que vejo hoje é que, ensinar, é uma lógica de diálogos, percepção da realidade e introdução ao que pode ser absorvido por uma turma. Numa escola em que o Estado é o provedor, muitas, mas muitas coisas se perdem e não atingem a sala de aula. Vivemos na era da informática, mas não temos computadores suficientes em esco-las públicas. Vivemos o Bullying, mas ele é tratado como uma pequena lembrança. Vivemos as drogas, mas ela está muito perto da sala de aula. Posso dizer que para

se ganhar um bom salário é preciso ‘ralar’ bastante. Mas, saber que saí de uma sala de aula e ensinei alguma coi-sa para aqueles meninos e meninas que têm o mundo a percorrer é imensurável. Dedico esta coluna aos professores, à Maria Amé-lia que fez de meu português meu ganha-pão e aos meus alunos que toparam esta nova jornada da minha vida e sempre me fazem crescer a cada dia. Com eles aprendo muito mais do que ensinar. Aprendo a ser humana, hu-milde e paciente. Porque muitos ali estão na escola por motivos mais sérios do que imaginamos. Se aprenderem, já é uma vantagem.