PÁDUA FERNANDES [BUENO Antonio] - Orfeu reinventado = Murilo Mendes, cem anos de um poeta...

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  • 7/30/2019 PDUA FERNANDES [BUENO Antonio] - Orfeu reinventado = Murilo Mendes, cem anos de um poeta contemporneo

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    01/10/12 Ciberkiosk - Ensaio

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    Orfeu Reinventado: Murilo Mendes, Cem Anos de um PoetaContemporneo

    Antonio Bueno *

    Murilo Mendes o nico dos grandes poetas do modernismo brasileiro que permanececontemporneo. Apesar dos cem anos de nascimento e vinte e seis de morte que em 2001se completam, sua obra no se esgotou pela exegese (esparsa), pelo entendimento(escasso) ou pelo pblico, que somente o pde descobrir na dcada de noventa, com aprimeira edio da obra completa, organizada por Luciana Stegagno Picchio para a NovaAguilar.

    Penso que boa parte da contemporaneidade de sua obra decorre do solo mtico em que elase sustenta. O propsito deste trabalho ser justamente o de explorar tal solo.

    Para tanto, no se far distino entre poemas escritos em verso e em prosa, pois essasimples diferena artesanal no define gnero; Alberto Pimenta v bem na dimenso mticauma diferena possvel entre poesia e prosa:

    A poesia o discurso duma vida interior mtica (portanto perdida, falhada), aprosa o discurso da vida exterior guiada por uma razo crtica exercida demodo sistemtico (1).

    A poesia de Murilo expressa claramente a "vida interior mtica"; por meio do mito atemporal, opoeta quer encontrar a via para a eternidade: "Quem disse que a morte mata, / Quando secavalga o mito em pelo?" [ Lida de Gngora, Tempo Espanhol (1955-8), p. 595 ].Passaremos, pois, anlise de mitos que animam essa obra.

    Em todas as fases da obra de Murilo, mesmo nos livros que morte deixou inditos (2), oarqutipo do Eterno Feminino ocupa lugar privilegiado, seja na revisitao de antigos mitos,

    seja na mitificao de mulheres reais. Murilo, em diversas passagens, revela que o seuencontro com o Eterno Feminino e com a poesia deu-se na infncia, com a experincia daperda: "Mame vestida de rendas/ Tocava piano no caos./ (...)/ Cai no lbum de retratos. [Pr-Histria, O Visionrio (1930-3), p. 209 ].

    Antes de eu nascer tu velavas sobre mim

    E mandaste teu anjo substituir minha me morta.[ Novssimo Jacob, Tempo e Eternidade (1934), p. 251 ]

    Deve-se dizer queeste texto no intenta realizar algum biografismo ou psicologismo a partirda literatura. Importa ver como as fices de intimidade e de memria presentes na obraarticulam-se com os mitos presentes em sua potica. E a perda da Mulher, como em Danteou Goethe, anima Murilo a buscar, no tempo, a eternidade (3).

    Entre vrios exemplos, merecem destaque a curiosa figura da "namorada morta" de Bumba-meu-poeta (1930-1) - para Murilo, todo poeta deve ter uma namorada morta? todo poetatem que ser Orfeu? - e os seguintes:

    (...) o mito maior, mito de morteMais uma vez nascido de mulherBem cedo extinta, cerrada magnliaDe vus sombrios, tenra Beatriz

    [ Contemplao de Alphonsus, Contemplao de Ouro Preto (1949-50), p. 491 ]No te pude ver doente nem morta:Recebi a obscura notciaDepois que as roseiras comeavam a crescerSobre tua estreita sepultura.

    Hoje existes para mimDe uma vida mais forte, em plenitude,Daquela vida que ningum pode arrebatar[A Mulher Visvel, Mundo Enigma (1942), p. 383]

    (...) eu a perdera para sempre; eu a ganhara para sempre. Perdia a vista do seucorpo mortal: j renascia seu outro corpo alm. Esse corpo alienado a tornava

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    Iumna Maria Simon

    Do esbarro entre Poesia ePensamento:Uma Aproximao Potica de Manoel deBarrosAlberto Pucheu

    Ele Cala: A Poesia de NunoRamosPadua Fernandes

    SILNCIOS E ENIGMAS EMGUIMARES ROSA EDRUMMOND

    Drummond: um ClaroEnigma na Escurido doMundo e da AlmaMarlise Sapiecinski

    margem do possvel:Silncio e Narrao nasPersonagens de HermanMelville e Joo Guimares

    RosaClara Rowland

    FICES

    Le jeu de la memoire et lejeu de l'ecrituredans Infancia deGraciliano RamosJoo Carlos VitorinoPereira

    Quando a fico vive na eda ficoAnabela Sardo

    Fialho de Almeida:Grotesco, Crtica eRepresentaoFernando Matos Oliveira

    Da maldio do louva-a-deus maldio daescritaAna Paula Arnaut

    LER OS CLSSICOS

    Dangerous Acts:

    Intersections BetweenLove and Violence in theNovels of Camilo CasteloBrancoTimothy McGovern

    Mudar o RegistoDa fonografia consideradado ponto de vista poticoGustavo Rubim

    Mensagens & Massagens,LdaOsvaldo Manuel Silvestre

    ENSAIO GERAL

    Da Inexistncia de AlbertoPimentoPadua Fernandes

    Testamento Moderno e

    , .

    [Cludia,A Idade do Serrote (1965-6), p. 923]

    Morta, s resta a Murilo converter a mulher nessa outra vida, "mais forte, em plenitude",para chegar ao "amor indissolvel" do mito. Como a morte de Eurdice faz Orfeu conhecer averdade (4), a morte da mulher que permite a Murilo o acesso ao arqutipo.

    Se Orfeu no se voltasse, Eurdice passaria a inexistir.[ Setor Texto Dlfico, Poliedro (1965-6), p. 1037 ](...) soube que Teresa, perturbada pela ruptura do noivado com um operrio daCervejaria Americana, atirara-se de noite nos braos do Paraibuna (...)

    Tive cimes imediatos do Paraibuna que respirara e possura aquela dlia morena,incorporando-a com avidez s suas guas melanclicas. Que no pudesse eu, jagora um ser mitolgico, transformar-me em rio!

    [ Teresa,A Idade do Serrote, p. 962 ]

    Como no ver nessa passagem um eco das Metamorfoses de Ovdio, como o da histria deAretusa e Triptolemo? A anlise de Murilo, um poeta cristo, por meio da mitologia grega nopossui nada de arbitrrio; mesmo na mitificao de mulheres reais, os gregos so osinterlocutores privilegiados desse poeta:

    Maria Callas: A tnica vermelha de Clitemnestra apertada com tenazes.[ Setor Texto Dlfico, Poliedro, p. 1048 ]

    Nesse poema, o autor heleniza a grande cantora greco-americana com um personagem queela nunca interpretou no palco, mas que no deixa de sintetizar a vocao trgica de seucanto.

    Murilo, no entanto, como se ver, no se limita a glosar temas clssicos, operao a que sededicam mesmo poetas menores; o poeta vai alm na comunho com o mito (cavalga-o empelo), pois o mito, nesta obra, determina a prpria potica.

    Mas qual seria o conceito de Eterno Feminino em sua poesia?

    Alm das outras mulheres e da musa existe uma Mulher sem nome, sem cheiro,sem cor, sem peso e sem forma, que penetra todas as coisas e conhece tudo oque se faz e o que se diz. Essa mulher existe desde a origem dos tempos. Talvezela seja a projeo feminina do pensamento de Deus.

    [ A Musa das Musas, O Sinal de Deus (1935-6), p. 758 ]A musa o logaritmo das mulheres de todos os tempos.[ 53, O Discpulo de Emas (1945), p. 821 ]

    Na obra de Murilo Mendes, o papel do poeta corresponde a dar forma ao arqutipo; sendoesse arqutipo o Eterno Feminino, tal misso no corresponderia de Orfeu?

    Na ampla sala do "Concert Hall" uma mulher mulherssima toda vestida de branco,que nenhum ornato mnimo interrompe, canta a parte de Orfeu na partitura deGluck. Sei quem : o contralto Kathleen Ferrier que vive um canto pessoal deexperincia. O tom cupo desta voz ao mesmo tempo primitiva e refinada restitui-nos a musicalidade gluckeana em sua nobreza de mito arcaico reelaborado.

    [ Os Dias de Londres, Carta Geogrfica (1965-7), p. 1102 ]

    Mais ainda do que Ferrier, a grande contralto inglesa prematuramente falecida, que usou suavoz nica para cantar a pera de Gluck, Murilo Mendes, com a sua tambm singular voz,pde assumir-se Orfeu e tornar-se na prpria reelaborao do "mito arcaico".

    Mrio Faustino julgava que Inveno de Orfeu foi um nome "muito bem escolhido" por Murilopara a obra mais extensa de Jorge de Lima (5). Para Wilson Martins, todavia, o ttulo incorreto, pois Jorge de Lima teria escrito a "imaginao" de Orfeu, e no sua inveno (6).No interessa aqui o maior ou menor acerto do ttulo desse livro, mas apontar que Murilo, aoescolh-lo, na verdade revelava mais de si mesmo do que da obra do amigo.

    muito conhecido o mito de Orfeu. No se ir cont-lo. Deve-se lembrar, contudo, queOrfeu torna-se adorador de Apolo depois de voltar do Hades (7) e organiza o culto a esseDeus; posteriormente, morto pelas bacantes, seja por ter criado cultos que lhes eram

    interditos, seja por repudiar-lhes a corte amorosa, ou por ter introduzido o amor pelosadolescentes, segundo Ovdio (As Metamorfoses). A cabea de Orfeu despedaado desce orio cantando e, de acordo com as Gergicas de Virglio, ainda chamando por Eurdice.

    A busca do Feminino move-lhe a explorao das profundezas anmicas e, conseqentemente,permite-lhe atingir o seu canto mximo, que supera a prpria morte. Nesse sentido, Orfeu um "apaixonado do Eterno-Feminino" (8).

    http://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/bosco.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/p_fernandes.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/silvestre.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/rubim.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/mcgovern.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/arnaut_miranda.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/foliveira.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/sardo.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/pereira.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/rowland.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/drummond.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/nramos_fernandes.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/pucheu.htmlhttp://web.archive.org/web/20050309194424/http://www.ciberkiosk.pt/ensaios/simon.html
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    o casContemporneasFrancisco Bosco

    A poesia, a tradio lricae a questo central dosujeitoCarlos Jorge FigueiredoJorge

    Uma lio de Cosmologiaem O Cndidode Voltaire

    A. M. Afonso Rodrigues

    Entre o Homem e aPersonagem: umaQuesto de NervosAna Bela Almeida

    A "auto-mecnicafetichista dos conceitos" -Uma comparaofilosfico-esttica entreCarl Einstein e FernandoPessoaBurghard Baltrusch

    Daniel Faria ou apossibilidade de umaarqueologia da palavraMaria Joo Cantinho

    Ciberliteratura,Inteligncia Artificial eCriao de SentidoPedro Barbosa

    Cinco Minutos para oinacabadoAndr Monteiro

    Raios e TrovesAntinomia e Modernidade

    na Obra de Gilberto FreyreRicardo Benzaquen deArajo

    A voz entre a palavra e osomJlio Diniz

    Autor por Conta deOutremManuel Portela

    A Cidade no Bolso:amores e dios deestimao de MrioCludioAna Paula Arnaut

    Para a Educao dasCincias da EducaoPedro Miguel Gon

    Na obra de Murilo Mendes manifesta a "mitificao da mulher" (9). Manuel Bandeira ressaltaque a amada adquire um "desdobramento csmico" na poesia de Murilo, como o "extremolimite" do "conceito petrarquiano de amor" (10). Todavia, a profundidade da exploraomtica de sua obra proporciona a Murilo ver muitas outras faces do Feminino alm da me eda amada:

    A Grgone apresentou-me a tripleface. "Conheo-a de vista e de ouvido",respondi rangendo os dentes.[A Grgone, Poliedro, p. 1015]"8 Trs mulheres juram ao poeta amor eterno..............14 Trs mulheres apontam ao povo o corao do poeta."[ Alpha e mega, O Sinal de Deus, p. 766 ]

    Nesses excertos, entre outros, Murilo refere-se ao arqutipo da deusa trplice (11), presenteem diversas mitologias. Apenas entre os gregos, podem ser destacadas: as trs Ernias (ouFrias, vingadoras do derramamento de sangue), as trs Moiras (fiandeiras do destino) e astrs Grgonas.

    Outra comparao de fundo mtico presente na obra de Murilo corresponde identificao damulher com a lua:

    E tu s cclica,nica, onrica,Envolvernica,

    Musa lunar[ A Lua de Ouro Preto, Contemplao de Ouro Preto, p. 519 ]

    Tambm a Murilo fiel ao mito. A Lua, demonstra-o Jung, representa o princpio da psiquefeminina, tanto para alquimia, quanto para a astrologia e a mitologia. Para o homem,corresponde a uma das representaes de sua feminilidade inconsciente - a anima dapsicologia junguiana (12).

    Uma vez que a poesia de Murilo lida com esses contedos inconscientes, no constituimatria para o espanto, apesar de o poeta ter professado o catolicismo romano, a presenade mitos no apenas pagos, mas renegados pela Igreja de Roma:

    A dona da cidade malditaPenteia os cabelos no relmpago

    ........A dona da cidade maldita.Lilith, anda solta ao microfone.[Revelao,As Metamorfoses (1938-41), p. 324-5]

    Outro antigo mito: Lilith, a primeira mulher de Ado, que foi criada diretamente por Deus, noa partir do primeiro homem, e que, por no ter-se submetido a seu esposo, passou aconviver com o Demnio (13). Cuidadosamente apagada da Bblia crist, Lilith permanececomo smbolo da rebelio represso do feminino na psique e na sociedade. Murilo, por meiodos microfones do surrealismo, consegue dar voz ao mito no cotidiano.

    No se esgota a, porm, a presena da mitologia judaico-crist a expressar o lado negro doFeminino na poesia de Murilo Mendes. A prpria c ruz aparece como Mulher:

    Arrasto a minha cruz aos solavancos,Tal profunda mulher amada e odiada,Sabendo que ela condiciona a minha forma:E o tempo do demnio me respira.[Indicao, Parbola (1946-52), p. 545]

    Segundo Jung, trata-se de um motivo medieval, em que a cruz vista como a madrastamalvada de Jesus, que tomou e matou o fruto do ventre de Maria (14). Em outro plo, aVirgem Maria desempenha para Murilo a "encarnao" do Eterno Feminino, que preside o finaldos tempos, numa referncia clara ao Apocalipse:

    (...) sempre enxerguei a cobra com a cabea achatada debaixo dos ps deNossa Senhora (...)[ Raul Bopp, Retratos-Rlampago (1973-4), p. 1217 ]Rosa branca do universo, desejada dos povos, tua passagem os elementos confabulam.Atravs das geraes teu poder se ampliou,Maria anunciada muito antes de nasceres[ Regina Pacis,As Metamorfoses, p. 325 ]

    (...) se toda e qualquer mulher, desde a mais grosseira at a mais cristalmentefina, desde a mais obscura at a mais loriosa mesmo rainha, com ou sem voto

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    daquela que rainha do cu, dos limbos e da terra, que bota a serpente debaixodos ps (...)[ A Rainha do Sabo,A Idade do Serrote, p. 899 ]Apresentando-me o outro lado coberto de punhais,Nossa Senhora das Derrotas, coroada de goivos,Aponta seu corao e tambm pede auxlio.[ Poema Barroco, Mundo Enigma, p. 394 ]

    Com efeito, o Eterno Feminino pode representar a "aspirao humana transcendncia", deque a Virgem Maria seria a "mais perfeita encarnao" (15). Embora representante da mulheratemporal, Murilo confere atualidade Virgem Maria, que aparece, no mbito dos poemas

    surrealistas de guerra de Mundo Enigma (livro escrito durante o segundo conflito mundial),compartilhando o sofrimento humano (16). O mito no se converte num refgio contra aHistria pelo contrrio, nesta obra, como em outros grandes poetas modernos, a Histriarevisita-o.

    E a prpria guerra pode ser vista como fruto do Feminino, numa identificao da mulher como morte, outro motivo arquetpico; Jung demonstra que a afinidade entre a lua e a morte,como a viam os alquimistas, era mediada pelo feminino, pois com o pecado original, de que amulher (ou a lua) teria sido culpada, a morte entrou no mundo (17).

    - Vs a morte graciosa?- Sim, ela inda muita moa,Prepara o vestido novo

    Para receber a guerraQue cresce no bojo desta.[ Viso Lcida,As Metamorfoses, p. 370 ]Morte, grande fmea,Eu te justifico e te perdo.[ Tmulos Reais (Catedral de Palermo), Siciliana (1954-5), p. 572 ]

    Assim como Murilo expressa as duas faces do Feminino (a positiva e a negativa), o EternoFeminino, na figura de Berenice, amada ideal do poeta, apresenta-se em oposio Igreja-Fmea (e o poeta no pode amar duas mulheres simultaneamente) e a Deus:

    Aponta-me a me de seu Criador, Musa das musas,Acusando-me porque exaltei acima dela a mutvel Berenice.A igreja toda em curvasQuer me incendiar com o fogo dos candelabros.[ Igreja e Mulher,A Poesia em Pnico (1936-7), p. 303 ]Uma idia fortssima entre todas menos umaHabita meu crebro noite e dia,A idia de uma mulher, mais densa que uma forma......Uma idia que verruma todos os poros do meu corpoE s no se torna o grande custicoPorque um alvio diante da idia muito mais forte e violenta de Deus.[ Idia Fortssima,As Metamorfoses, p. 316 ]Vestidos suarentos, cabeas virando de repente,pernas rompendo a penumbra, sovacos mornos,seios decotados no me deixam ver a cruz.[ O Poeta na Igreja, Poemas (1925-9), p. 106 ]

    Esses exemplos revelam o antagonismo entre o sexo e a religio crist, pendant terreno dadualidade do Eterno Feminino.

    Muito se reprovou a Mrio de Andrade (18) por ter saudado A Poesia em Pnico com crticascontra o mau gosto e as "heterodoxias" no trato da religio da Igreja de Roma. perfeitamente criticvel o julgamento de Mrio de Andrade, mas no o seu diagnstico.Murilo, felizmente, como poeta, um herege: "Intimaremos Deus/ A no repetir a piada daCriao" [ O Poeta Nocaute, O Visionrio, p. 242 ].

    A presena do Eterno Feminino revela essa superao porque ele antecede a Igreja Crist e,na verdade, a contm, como mito:

    Algum te contemplaDesde antes do tempo comear.

    Mais tarde a Virgem MariaNavegava nas ondas do cuPara ver teu rosto.[ Menina em quatro idades, O Visionrio, p. 199 ]

    Murilo sabe que "A potncia da mulher cria e derruba os deuses." [ Setor Texto Dlfico,Poliedro, p. 1036 ] e expressa a precedncia do mito em relao ao dogma cristo tambm

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    no regs ro c mco, como nes a passagem em que n aga ao esp r o e orge e ma so reo paradeiro da clebre criao de Jorge, a Nega Ful:

    - Voc tem visto a Nega Ful, Jorge?- Roubou as chaves de So Pedro, ningum mais entra no cu. Acabarroubando o prprio So Pedro, ento vai dar um fuzu dos diabos.[ Texto sem Rumo (1964-6), Conversa Porttil, p. 1469 ]

    Erotismo e misticismo so marcas do Eterno Feminino na obra de Murilo, como o diz Arago(19), o que se deve recusa a renegar o erotismo em nome da espiritualidade. Como lembraAlberto Pimenta, a cultura ocidental oscila entre a sublimao da mulher ou a "misoginia

    simbolicamente radicada em Eva" (20). Murilo escapa a essa dicotomia milenar por intermdiode seu tratamento heterodoxo dos mitos judaico-cristos, assim como Mozart recorreu aosideais manicos, depurando-os porm da misoginia emA Flauta Mgica (21).

    Os lamentos de Mrio de Andrade, antes vistos, e a anlise de Wilson Martins (22), que bemviu a identificao hertica entre religio e sexo, devem, porm, ser muito relativizados coma lembrana de precedentes na histria da literatura. O maior deles foi Dante: transformadoem poeta catlico por fora da necessidade da Igreja de Roma (a inexistncia de qualquerpoeta que pudesse rivalizar com A Divina Comdia), o fato que Beatriz foi por eletransformada num "mito hertico", na expresso de Harold Bloom (23). Grande poesia eortodoxia religiosa raras vezes combinam no ocidente.

    Em processo assemelhado ao da obra de Dante, onde Beatriz a essncia da poesia, comoaponta Bloom (24), a Mulher, em Murilo, a prpria portadora do canto. O encontro mtico

    com a musa permite-lhe o acesso aos contedos do inconsciente; a inspirao compara-se auma febre que no se debela, num encontro infindo: "7 O poeta encontra a Musa Berenicee inaugura o estado de febre permanente." [ Alpha e mega, O Sinal de Deus, p. 766 ].

    No se pense, todavia, que o poeta passivo; ele torna-se em um iniciado nos mistrios elhe cabe alimentar a tradio - e o prprio arqutipo - com as suas imagens:

    Sou um campo onde se decide a sorte dos fantasmas.No me podes dispensar, crescimento do mito: preciso continuar a trama fluidaPela qual Lilith, Ariadna, Morgana recebero o alimento.[Corrente Contnua,As Metamorfoses, p. 319]Tu ests para mim como eu estou para Deus.[ Ruth, O Sinal de Deus, p. 746 ]

    O mergulho no arqutipo permite ao poeta o auto-conhecimento; Mulher cabe dizer o nomeverdadeiro dele mesmo:

    Sigo uma mulher com os dentesE pergunto qual o meu nome.[ A Janela Verde, Mundo Enigma, p. 384]- Vestida de gua e cuVoas acima do tempo.No espelho do futuroTe assisto refletida.Sers tu mesma? Ou sou eu.[ Poema Abrao,As Metamorfoses, p. 370 ]

    Nesse ltimo poema, o penltimo de As Metamorfoses, Murilo compartilha com os leitores arevelao de que o eterno feminino parte dele mesmo (era ele mesmo a princesa quedormia, como em Fernando Pessoa tambm aqui um trajeto inicitico).

    Afirmou-se antes que o mito no se restringiu a fornecer temas, e sim teve a funo dedeterminar uma potica. Murilo nitidamente empregou recursos do surrealismo, e issodistingue este poeta de autores menores: a assuno do papel rfico de renovador de mitos- "le pote, lui, peut donner une autre dimension aux grands mythes de lhumanit" [ Textede Montral (1967), Papiers, p.1594 ] - por intermdio de uma linguagem de vanguardacorresponde grande marca deste escritor. Todavia, Mrio Faustino pensava que MuriloMendes fracassou na tentativa de surrealismo no Brasil porque era catlico (25)! Aocontrrio do outro Mrio, Faustino no foi capaz de perceber o carter heterodoxo docristianismo de Murilo...

    Murilo Marcondes de Moura, com toda justeza, v na fuso de religiosidade e vanguarda

    artstica o fator diferenciador desta obra (26). Nessa fuso, a religio crist, a meu ver,serviu para dotar o poeta de poderosos smbolos de ampla difuso social - ao contrrio deWilliam Blake, que preferiu criar uma cosmogonia prpria, que torna a obra deste outrogrande poeta menos inteligvel - e de uma tica voltada questo social.

    Quanto ao surrealismo, cumpriu o papel de proporcionar a Murilo a tcnica potica deexpressar os contedos simblicos inconscientes - e nisso, ao contrrio do que pretendia

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    Faustino, no incompatvel com o cristianismo. De acordo com o prprio poeta: "Osurrealismo, tentando ultrapassar os limites da razo humana, aproxima-se s vezesconsideravelmente da mstica." [ 58, O Discpulo de Emas, p. 822 ]. O discurso potico deMurilo, onde imagens as mais diversas se justapem (27), revela-se extremamente adequadopara expressar o mito - e lhe veda um tratamento ortodoxo e estreito. De fato, poetas queadotam poticas mais lineares e lidam com os mesmo temas parecem epgonos.

    Todavia, observar o cotidiano com os culos do mito pode levar a uma viso idealizante dasociedade. Embora o desprezo pelas tiranias e o combate s injustias sociais estejam bempresentes na obra de Murilo, fundamentados numa tica crist, nela se expressamsentimentos conservadores no tocante ao papel da mulher na sociedade:

    Se a mulher no retornar ao seu princpio: mquina instalada dentro dela que deveremos vencer.Quando esta mulher se tornar de novo submissa e doce[ O Rato e a Comunidade, Poesia Liberdade (1943-5), p. 408 ]Bendita seja a hora em que conheci o pai de meu filho!.........Eu no existia antes de o conhecer.Ele sabia mais de mim do que meu pai.[Dulce, O Sinal de Deus, p. 745]

    Em processo anlogo, Murilo chega a ver no Eterno Feminino, como sede do mistrio, omotor da Histria:

    A mulher determina continuamente no mundo uma transformao maior do quetodas as revolues. [ 714, O Discpulo de Emas, p. 886 ]O poeta no meio da revoluoPra aponta uma mulher brancaE diz alguma coisa sobre o grande enigma[ Parbola, Os Quatro Elementos (1935), p. 270 ]

    Pois, para Murilo, a histria rege-se pelo tempo mtico. O real no passaria de um "obscuromito" [ Joan Mir, Tempo Espanhol, p. 618 ] e por isso a URSS chamada de "virgemimprudente" que se afastara da "comunidade dos filhos de Deus" [ URSS, Tempo eEternidade, p. 253-4 ]. Ele no se furta a ver a poltica sob a tica e a tica dos mitosjudaico-cristos: as guerras demostram que no superamos a luta de Abel e Caim.

    Armilavda, Armilavda, o tempo o mesmo:As espadas dos tiranos retalham as partituras das sinfonias austracas,

    Nos palcios da ndia com seus deusesLutam tropas de prias e soldados nus,Na China da surpresa e da metamorfoseMorrem crianas e velhos metralhados.Consultramos tantos mapas, lramos tantos livros:Mas no tnhamos lido a histria de Abel e Caim.[Armilavda,As Metamorfoses, p. 328]

    Religio e surrealismo serviram a Murilo na expresso dos mitos. E o de Orfeu talvez tenhasido o mais importante de todos em sua obra, porque lida com o Eterno Feminino como fonteda poesia. Nesse ponto, chega-se a Convergncia (1963-6), o melhor e mais incompreendidolivro de Murilo Mendes.

    H quem diga que Murilo adotou nesse livro procedimentos da poesia concreta para seguir

    um modismo (28). Para Wilson Martins, trata-se de um livro com o "esprito dos anos 30"escrito com a "linguagem dos anos 60" (29), ou seja, um anacronismo talvez involuntrio.Arigucci Jr. v tambm anacronismo nos poemas em que o construtivismo predomina, comoum desvio da verdadeira poesia do autor (30).

    Jos Paulo Paes, que soube identificar o papel primordial do feminino na poesia de MuriloMendes - ressaltando as "dimenses ciclpicas" da figura da mulher, no consegue apreciarConvergncia, livro a que dedica quatorze linhas num ensaio de dez pginas; reconhece-lhe

    inventividade, mas julga que se trata de metapoesia sobre a "palavra", no mais sobre a"Palavra" (31). Para Bruno Tolentino, Murilo teria sucumbido a ingenuidades e cacoetes emseus murilogramas de Convergncia (32). E, de acordo com Wilson Martins, j aps a dcadade trinta a obra de Murilo teria entrado "em irrecupervel processo de senescncia literria"(33) - portanto, uma das mais longas decadncias da histria da literatura.

    No me possvel concordar com tais anlises. De um lado, como bem ressaltou Haroldo deCampos (34), Murilo sempre foi um poeta de vanguarda. Por outro lado, Paes, apesar de terpressentido o mito que anima a poesia de Murilo, no percebeu que a "inventividade" desselivro, em vez de gratuitos exerccios de um virtuose de palavra, correspondia a umanecessidade do mito que governa a obra daquele autor.

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    para Joo Alexandre Barbosa (36), Jlio Castaon Guimares (37) e Las Corra de Arajo(38), o ltimo estilo de Murilo corresponde ao desenvolvimento da prpria obra, e no a umaadeso oportunista s modas literrias de ento. No entanto, tais autores no procuraramver no mito a relao de Convergncia com o restante da obra.

    J Fernando Fbio Fiorese Furtado (conhecido autor do livro de poesia Ossrio do Mito)constata uma "geografia mtica" em Murilo e refere-se "tarefa rfica" do poeta (39). Dentrodo mesmo esprito - do estudo de como o mito estrutura a obra de Murilo - este artigopretende apontar, pois, que a fragmentao do discurso potico na obra final de MuriloMendes corresponde dilacerao de Orfeu pelas bacantes. Se o mito corresponde a umsistema dinmico impulsionado pela "substantivao" de um arqutipo e que tende a tornar-se em narrativa (40), Murilo fez dessa narrativa a sua prpria biografia literria: deixou que adilacerao de Orfeu - ltimo estgio do mito - se entranhasse na sua prpria potica.

    Murilo teria tomado conscincia dessa etapa necessria de sua trajetria no poema GrafitoPara a Me , de Convergncia- e mais uma vez se ressalta a importncia do feminino e damorte da me para a sua potica; morte e nascimento so confundidos e geram o mito naHistria: "Morte polmica/ .../ Catapultou-me da esfera do teu ventre / ... / A primeiraruptura: tempo subtrado-te, /Histria em mito permutada" [ p. 630 ] .

    Nesse ltimo livro de versos em portugus, Murilo exercer a fragmentao do discurso comonunca antes, numa srie impressionante de "grafitos" e "murilogramas" e dos poemas daseo "sintaxe", e o faz como o Orfeu dilacerado pelas bacantes. Penso que essa abordagemda obra do poeta, embora nova, pelo que conheo, no deixa de ser quase bvia, porquantoo prprio poeta explicitamente declara tornar-se o ltimo Orfeu que, embora com o corpo

    despedaado, consegue manter a integridade da voz:

    Lacerado pelas palavras-bacantesVisveis tcteis audveisOrfeuImpede mesmo assim sua disporaMantendo-lhes o nervo & a sgoma.Orfeu Orftu OrfeleOrfns Orfvs Orfeles[ Exergo; Final e Comeo, Convergncia, p. 625 e 703 ]Aceleram os msculos de jovens mulheres vermelhasTravestidas em jovens mulheres azuisinclinadas ociso do homem.

    [ Murilograma a Claudio Monteverdi, p. 694 ]

    Note-se a orfinveno: Murilo cria novos pronomes para dizer que, no sujeito que canta, de Orfeu a voz. O poema a Monteverdi, claro, refere-se a Orfeu, mito que o grandecompositor abordou em sua primeira pera, mas sem incluir em sua partitura, da mesmaforma que Gluck e diferena de Haydn e Telemann, a cena que o murilograma invoca: oassassinato pelas bacantes. Seria esse poema, portanto, uma ironia e no uma homenagema Monteverdi? Penso que no. Conquanto fuja obra do msico, penso que Murilo decidiu-sea evocar a cena da morte porque ela corresponde ao motivo desencadeador do estgioltimo de sua prpria potica.

    Dilacerado pelo Feminino, Orfeu-Murilo, em contrapartida, fere-o com a fragmentao dodiscurso: "A infncia giravnus. A infncia viravnus. A atrao de Vnus. A atracao deVnus. A extrao de Vnus [...] A camisa-de-vnus. A camisa-de-fora ao fantico deVnus" [ Metamorfoses (3), p. 721 ]; "A dmona. A demona. A demon. / A dissonante" [Desdmona, p. 710 ]". Resultado do choque do mito (a eternidade) com o contemporneo (otempo), o poeta ousa mesmo comparar as duas infelizes e suicidas apaixonadas por Enas:

    Homem autorfeuDesarticula o autmato da musa.[ Grafito para Ettore Colla, p. 656 ]Desdmona demona: agora desmembrada.A engrenagem da flor: poeira desmanchada.[ Grafito na Ex-Casa Paterna, p. 631 ]A sibila K-F-199Escreve com dedos de ao:"G.C. desvenda o signo.Perdeu-se a sentena da sibila."[ Grafito para Giuseppe Capogrossi, p. 656 ]DidoFlorbelaEspancana vora

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    sem Enas[ Dido, p. 731 ]

    Revisitando o surrealismo, Murilo logra combinar a dilacerao do corpo com a do discurso empoemas que poderiam ser escritos amanh:

    As vsceras representam-me personagens de Jeronimo BoschDirigidas por Lus BuuelProvocando-meUrinando-me[ Grafito para Augusto dos Anjos, p. 638 ]

    E finalmente consegue despir-se do idealismo ao tratar do fato social. Joo AlexandreBarbosa observa nesse livro um processo de dessacralizao do real (41), porm essaafirmao deve ser relativizada, pois se os "termos metafsicos" so includos numa"semntica de concrees", na expresso de Haroldo de Campos ao tratar de TempoEspanhol(42), aqueles termos no so expulsos e a metafsica do poeta prossegue na suaconcepo do homem, sempre plasmada pela tica crist.

    Entendo essa dessacralizao como um choque de realidade ao qual o poema submetido eque gera uma potica e uma concepo do humano diversas das tradicionais; nesse ponto,Murilo rompe com a tradio ocidental (Dante, Petrarca, Leopardi) e mesmo com poetas dosculo vinte que demonstraram alguma resistncia em fazer poesia a partir dos "fatos":Valry e o Drummond de Claro Enigma.

    A massa annima (coisa)Que a indstria (fraude)Operacesareana-mente.[ Grafito em Ravena, p. 654 ]Dante/ Petrarca/ LeopardiOperaram quando aindaSubsistiaO homem-metfora.[ Murilograma a Nanni Balestrini, p. 700 ]E dobro-me ao fscino dos fatos

    Que investem a pgina branca:Perdoai-me

    ValryDrummond.[ Texto de Informao, p. 706 ]

    Penso que o processo de dessacralizao foi movido pelo ltimo estgio do mito de Orfeu,que Murilo passou a assumir; ainda mais do que na obra anterior, o mito deixou de sersimples tema (e nisso poderia levar idealizao do real) para tornar-se potica (a permitirassim a abordagem do homem e da sociedade por meio da fragmentao, que simultaneamente discurso e paradigma nesta obra). E uma potica de vanguarda. Murilo, emConvergncia, preocupa-se com a renovao da poesia, coloca em cheque a heranaportuguesa (No sei se haver lugar / Para o poeta elegaco, / E se podero coexistir/FINEGANS WAKE e o s. [ Murilograma a Antnio Nobre, p. 680 ] ) e aponta impasses dapotica de outros grandes poetas do modernismo brasileiro: Ceclia Meireles, que j haviamergulhado no passado com o grande Romanceiro da Inconfidncia, e Carlos Drummond de

    Andrade, que pela ltima vez havia conseguido renovar a sua linguagem com Lio deCoisas, livro do poema Isso aquilo.

    O sculo, cido demais para uma pastorade nuvens, aponta o revlver aos mansos[ Murilograma a Ceclia Meireles, p. 688 ]E agora, Joss?Alm de Cummings & PoundAlm de SousndradeAlm de "Noigrandes".....Alm do texto "Isso aquilo"Sereis teleguiados?[ Murilograma a C.D.A., p. 690 ]

    Nada, porm, mais afastado da poesia de Murilo, mesmo na sua ltima fase, do que omovimento concretista brasileiro; enquanto Murilo chega fragmentao do discurso pornecessidade mtica - "O poeta o prtico do espiritual." [ 729, O Discpulo de Emas, p. 888] - , os concretistas querem realizar um "plano-piloto", em que determinaes matemticaspretendem resumir a potica (43), com a renncia ao absoluto e a concepo do poemacomo mecanismo (44). Enquanto os concretistas querem a "despoesia" (ttulo de livro de

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    ugus o e ampos , ur o a rma:

    O desomem desova a desarte a despoesia a desmsica a despedida do homem.O desomem desova a fome a peste a guerra a morte.[ O Desomem, p. 717 ]

    O Orfeu em que Murilo finalmente se converte, contudo, jamais renuncia religio crist, quepermanece como o fundamento tico de sua obra. A referncia crise da poesia no podeser feita sem o pensamento na "crise da aventura do homem, na desintegrao do sagrado"[ Ezra Pound, Retratos-Relmpago, p. 1279 ].

    O mito como potica teria garantido a contemporaneidade de boa parte da obra destepoeta? Para tanto, no abusivo referir-se ao conceito de contemporneo de Stravinsky;esse grande compositor e pensador da msica indicava a contemporaneidade mais radicalcomo aquela que est alm do processo histrico (45). O seu grande exemplo a GrandeFuga de Beethoven, que era originalmente o final do opus 130 (o quarteto em si bemol maior)e, posteriormente, diante da incompreenso geral do pblico, dos editores e da crtica, foisubstituda por um movimento mais simples e recebeu um nmero independente de opus.Para Stravinsky, essa partitura no pode ser explicada por influncias histricas, pois notem antecedentes; partes dela poderiam ter sido incubadas num satlite espacial (46) e, porconseguinte, corresponderia a uma pea sempre contempornea, mesmo nos dias de hoje.

    A aluso no abusiva para um poeta que trata da msica com inaudita intensidade, eporquanto o prprio Murilo via nos quartetos de Beethoven "a filtragem da luta metafsica dohomem contemporneo" [ 669, O Discpulo de Emas, p. 882 ]. Essa mesma luta era o objeto

    privilegiado da obra do poeta, que do solo atemporal do mito retirou a fora para tratar dohumano com toda a atualidade da pertinncia.

    Fato que Murilo no tem antecessores nem sucessores na poesia brasileira - segundoBandeira, foi um "bicho-da-seda", que tirou tudo de si mesmo (47). Continua isolado, espera de ser compreendido. Entende-se, e no se justifica, que uma academia at hpouco dominada pelo marxismo tenha preferido ignorar um poeta que considerava ocomunismo "conservador diante do cristianismo" [ 143, O Discpulo de Emas, p. 829 ] econsagrar poetas como Carlos Drummond de Andrade e Joo Cabral de Melo Neto, tambmgrandes autores, que foram comunistas.

    A tica crist e o mito grego; a complexa e rica combinao dessas duas poderosastradies (48) define o gnio de Murilo e encerra a sua obra em verso:

    O juzo finalComea em mimNos lindes daMinha palavra.[ Texto de Consulta, p. 740 ]

    * Professor da Universidade Estcio de S (Rio de Janeiro). Endereo eletrnico:[email protected]

    NOTAS:

    1. A Magia que T ira os Pecados do Mundo. Lisboa: Cotovia, 1995, p. 131.

    2. Os livros que Murilo deixou inditos hora da morte so O Infinito ntimo, QuatroTextos Evanglicos, Carta Geogrfica, Espao Espanhol, A Inveno do Finito, JanelasVerdes, Conversa Porttil, Ipotesi, Papiers. As citaes deste artigo referem-se aovolume Poesia Completa e Prosa organizado por Luciana Stegagno Picchio e publicadopela editora Nova Aguilar (Rio de Janeiro) em 1994.

    3. Note-se que Mozart, esprito afim do poeta, tambm teve na perda do Feminino oencontro com a morte que marca toda a sua obra (HOCQUARD, Jean-Victor. Mozart.ditions du Seuil, 1961, p. 144).

    4. SCHUR, douard. Os Grandes Iniciados: Orfeu. So Paulo: Martin Clairet, 1987, p. 48.

    5. Poesia-Experincia. So Paulo: Perspectiva, 1977, p. 239.

    6. Pontos de Vista: c rtica literria. So Paulo: T. A. Queiroz, vol. III, 1992, p. 454).

    7. SOREL, Reynal. Orphe et Orphisme. Paris: Presses Universitaires de France, 1995,p.27.

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    8. o que afirma Schur (Idem, p. 35).

    9. BARBOSA Leila Maria Fonseca e RODRIGUES, Marisa T imponi Pereira.A Trama Poticade Murilo Mendes. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2000, p. 41.

    10. Apresentao da Poesia Brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Tecnoprint, s/d, p. 152.

    11. MCLEAN, Adam.A Deusa Trplice: Em busca do feminino arquetpico. So Paulo:Cultrix, 1992.

    12. JUNG, C. G. Mysterium Coniunctionis. Petrpolis: Vozes, 1. vol., 1985, p. 172.

    13. SICUTERI, Roberto. Lilith: A Lua Negra. So Paulo: Paz e Terra, 5. ed., 1990.14. Idem, p. 29.

    15. CHEVALIER, Jean, GHEERBRANT, Alain. Dicionrio de Smbolos. Rio de Janeiro: JosOlympio, 2. ed., 1989, p. 421.

    16. As mltiplas faces de Maria na poesia de Murilo, por sinal, no significam umacontradio do poeta; pelo c ontrrio, correspondem "pluralidade paradoxal" prpriada devoo mariana e estudada pela mariologia (DURAND, Gilbert. A F do Sapateiro.Braslia: Ed. UNB, 1995, p. 94-5).

    17. Idem, p. 23.

    18. A Poesia em Pnico. In: MENDES, Murilo. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro:

    Editora Nova Aguilar 1994, p. 33-4.19. ARAGO, M. L. Murilo Mendes. In: DIDIER, Batrice. Dictionnaire des Littratures.

    Paris: Presses Universitaires de France, vol. II, p. 2327, 1994.

    20. Idem, p. 169.

    21. KERMAN, Joseph.A pera como Drama. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.

    22. Idem, vol. IV, 1992, p. 33.

    23. Abaixo as Verdades Sagradas: poesia e c rena desde a Bblia at nosso dias. SoPaulo: Companhia das Letras, 1993, p. 61.

    24. Idem.

    25. Idem, p. 213.

    26. Murilo Mendes: A poesia como totalidade. So Paulo: Editora da Universidade de SoPaulo: Garamond, 1995:48.

    27. CARPEAUX, Otto Maria. Ensaios Reunidos. Rio de Janeiro: Editora da Univercidade :Topbooks, vol. I, 1999: 872-3.

    28. CONTI, Mauro Sergio. Obra convencional requentada. Folha de So Paulo: CadernoMais. So Paulo, 27 jan. 2001, p. E6.

    29. Pontos de Vista. 1995: IX, 91-2.

    30. O Cacto e as Runas. 2000:120.

    31. Os Perigos da Poesia. 1997: 178.

    32. Os Sapos de Ontem. Rio de Janeiro, Diadorim, 1995, p. 35.

    33. Idem, vol. X, 1995, p. 271.

    34. Metalinguagem & Outras Metas: Ensaios de teoria e crtica literrias. So Paulo:Perspectiva, 4. ed., 1992, p. 35.

    35. Crtica 1964-1989. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 145.

    36. A Metfora Crtica. So Paulo: Perspectiva, 1974, p. 123.

    37. Murilo Mendes. So Paulo: Brasiliense, 1986, p. 84-7.

    38. Murilo Mendes. Petrpolis: Vozes, 1972.

    39. Murilo nas cidades: os horizontes portteis da modernidade. In: LOBO, L. e FARIA, M.G. S.A Potica das Cidades. Rio de Janeiro: Relume Dumar, 1999, p. 11-28.

    40. Emprego o conceito de Gilbert Durand (Les Structures Antropologiques de lImaginaire. Paris: Bordas, 1973, p. 61-3).

  • 7/30/2019 PDUA FERNANDES [BUENO Antonio] - Orfeu reinventado = Murilo Mendes, cem anos de um poeta contemporneo

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    41. Idem, p. 130.

    42. Idem, p. 73.

    43. Com a evoluo da poesia concreta, a poesia teria sado da fenomenologia dacomposio para a "matemtica da composio", onde a palavra usada segundo umaestrutura matemtica previamente estabelecida (o que gerou o afastamento deFerreira Gullar do movimento), de forma a acabar com a diferena entre a poesia e asartes plsticas; Rogrio Cmara, no entanto, parece demonstrar que os concretistasacabaram no design ( Grafo-sintaxe concreta: o projeto noigrandes. Rio de Janeiro:Marca dgua, 2000, p. 121-30).

    44. CAMPOS, Augusto de, PIGNATARI, Dcio, CAMPOS, Haroldo de. Teoria da PoesiaConcreta. So Paulo: Edies Inveno, 1965, p. 155.

    45. LAM, Basil. Beethoven: Quartetos de Cordas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1983,p.145.

    46. STRAVINSKY, Igor. Themes and Conclusions. Berkeley: Los Angeles: University ofCalifornia Press, 1982, p. 260.

    47. Idem, p. 150.

    48. Davi Arrigucc i Jr. tambm constata a combinao de c ristianismo e paganismo, quandoanalisa o "sentimento trgico da vida" em Murilo (Idem, p. 112-3). Fernando FbioFiorese Furtado bem aponta que no se deve sobrevalorizar o elemento cristo em

    detrimento do dionisaco (Idem, p. 27). interessante lembrar que o prprio poetaidentificava a importncia do elemento helnico em Mozart, para ele "o mais grego dosmsicos" [ Herkleion, Carta Geogrfica, p. 1059 ] e "um homem da estatura dosantigos" [ 156, O Discpulo de Emas, p. 829 ].

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