PABLO D’ORS - Bertrand

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PABLO D’ORS A Biografia do Silêncio BREVE ENSAIO SOBRE MEDITAÇÃO 17 FEVEREIRO nas livrarias

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PABLO D’ORS A Biografia do Silêncio

BREVE ENSAIO SOBRE MEDITAÇÃO

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FEVEREIRO

nas livrarias

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Pablo d’Ors

Biografia do silêncio

Breve ensaio sobre meditação

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Coordenação da coleção: José Tolentino Mendonça

Título original Biografía del Silencio© 2012, Pablo d’Ors© 2012, 2013, Ediciones Siruela, S.A. – Madrid

Tradução © Paulinas EditoraTradutor António Maia da Rocha

Capa Departamento Gráfico PaulinasFoto da capa © Edouard Boubat, Remi listening to the sea

1995 (Gamma Rapho)Pré-impressão Paulinas Editora – Prior Velho

Impressão e acabamentos Artipol – Artes Tipográficas, Lda. – ÁguedaDepósito legal 371 065/14

ISBN 978-989-673-357-5(edição original: 978-84-9841-838-5)

© Fevereiro 2014, Inst. Miss. Filhas de São PauloRua Francisco Salgado Zenha, 112685-332 Prior VelhoTel. 219 405 640 – Fax 219 405 649e-mail: [email protected]

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Sentar-me a meditar, em silêncio e quietude, foi algoque comecei por minha conta e risco, sem que alguém metenha dado quaisquer noções básicas ou me tenha acompa-nhado nesse processo. A simplicidade do método – sentar--se, respirar, calar os pensamentos... – e, sobretudo, a sim-plicidade da sua pretensão – reconciliar o homem com oque é − seduziram-me desde o princípio. Como sou de tem-pe ramento forte e perseverante, mantive-me fiel durantevários anos a esta disciplina de, simplesmente, me sentar eme recolher; depois, compreendi que se tratava de aceitar debom grado o que viesse, fosse o que fosse.

Durante os primeiros meses, eu meditava mal, muitomal; não me era nada fácil manter as costas direitas nem osjoelhos dobrados; e, como se isto fosse pouco, respirava agi-tadamente. Dava-me perfeitamente conta de que sentar-mee não fazer mais nada era algo tão alheio à minha formaçãoe à minha experiência como, por mais contraditório que pa -re ça, conatural ao que eu era no fundo. No entanto, havia

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algo muito poderoso que extraía de mim: a intuição de queo caminho da meditação silenciosa me conduziria ao encon-tro de mim próprio, tanto ou mais que a literatura, de quesempre gostei muito.

Não penso que o homem seja feito para a quantidade,mas para a qualidade. Quando alguém vive para colecionarexperiências, acaba por ficar aturdido, porque elas ofere-cem-lhe horizontes utópicos, esmagam-no e confundem--no... Agora até diria que qualquer experiência, mesmo a deaparência mais inocente, costuma ser demasiado vertiginosapara a alma humana, que só se alimenta se o ritmo do quelhe é oferecido for pausado.

Normalmente vivemos dispersos, quer dizer, fora de nós.A meditação concentra-nos, devolve-nos a casa, ensina-nos aconviver com o nosso ser. Sem essa convivência connos comesmos, sem esse estarmos centrados no que realmen tesomos, parece-me ser muito difícil, para não dizer impossível,uma vida que se possa qualificar de humana e digna.

O amor – como a arte ou a meditação – é pura e sim-ples mente confiança. E prática, evidentemente, porquetam bém a confiança se exercita.

A meditação é uma prática da espera. Mas o que é querealmente se espera? Nada e tudo. Se se esperar alguma coisaconcreta, essa espera deixará de ter valor, pois seria alimentada

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pelo desejo de uma coisa de que se carece. Por ser não utilitá-ria – gratuita, portanto –, essa espera ou confiança trans-forma-se em uma coisa clara e genuinamente espiritual.

Na realidade, tanto mais crescemos como pessoas quan -to mais nos deixamos surpreender pelo que acontece; querdizer, quanto mais criança somos. A meditação – é dissoque eu gosto − ajuda a recuperar a infância perdida.

Tudo o que fazemos aos outros seres e à natureza faz e -mo-lo a nós. Pela meditação, foi-me sendo revelado o mis-tério da unidade.

Para meditar não importa sentir-se bem ou mal, con-tente ou triste, esperançado ou desiludido. Qualquer estadode alma que se tenha é o melhor estado de alma possívelnesse momento para fazer meditação, pois é precisamente oque se tem. Graças à meditação, aprende-se a não querer ira nenhum lugar diferente daquele em que se está; quer-seestar onde se está, mas plenamente. Para explorá-lo. Para vero que nos oferece de si.

A verdadeira felicidade é algo muito mais simples e queestá ao alcance de todos e de qualquer um. Só é precisoparar, calar-se, ouvir e olhar; embora parar, calar-se, ouvir eolhar – e isso é meditar – nos seja hoje muito difícil e tenha-mos precisado de inventar um método para uma coisa tãoelementar. Meditar não é difícil; o que é difícil é querermeditar.

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O que é bom na meditação é que, por força do exercí-cio continuado, comecei a tirar da minha vida tudo o que era quimérico, ficando somente com o concreto. Como arte que é, a meditação gosta do concreto e rejeita aabstração.

A meditação possibilita esses vislumbres da realidade,fugazes mas indubitáveis, com que ocasionalmente somospresenteados: momentos em que captamos quem somos narealidade e para que estamos neste mundo.

Estou convencido de que mais de oitenta por cento danossa atividade mental – e é provável que esteja a ser avarentonesta proporção – é totalmente irrelevante e prescindível, oumesmo, contraproducente. É muito mais saudável pen sarmenos e confiar mais na intuição, no primeiro impulso.

No Ocidente, vivemos num mundo demasiado intelec-tualizado. Para fazermos frente a este intelectualismo gene-ralizado e exacerbado, é preciso despertar o mestre interiorque cada um de nós tem dentro de si, e finalmente deixá-lofalar. (...) O mestre interior não diz nada que não saibamos;recorda-nos o que já sabemos, põe diante de nós a evidênciapara que sorriamos.

Os maus hábitos derrubam-se na meditação por meraobservação e através de um sorriso amável. Olhar e sorrir éa chave para a transformação.

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Não estou a dizer que sorrir perante a adversidade seja omais espontâneo; mas é, sem dúvida, o mais inteligente esensato. E direi porquê: reagir diante da dor com animosi-dade é a melhor maneira de transformá-la em sofrimento.Em contrapartida, sorrir diante dela é uma forma de neu-tralizar o seu veneno. Ninguém irá discutir que a dor é desa-gradável, mas aceitar o desagradável e entregar-se-lhe semresistência é o modo para que se torne menos desagradável.O que nos faz sofrer são as nossas resistências à realidade.

A dor é o nosso mestre principal. A lição da realidade –que é a única digna de ser ouvida – não a aprendemos semdor. Na minha perspetiva, a meditação nada tem a ver comum hipotético estado de placidez, como tantos o entendem.Trata-se sobretudo de deixar-se trabalhar pela dor, de lidar pacificamente com ela. Por isso, a meditação é a arteda rendição.

A nós, seres humanos, caracteriza-nos um desmedidoafã por possuir coisas, ideias, pessoas... Somos insaciáveis!Quanto menos somos, mais queremos ter. Ao contrário, ame ditação ensina que, quando nada se possui, mais oportu-nidades se dão ao ser.

Quanto mais nos observarmos a nós próprios, mais sedesmoronará o que acreditamos que somos e menos sabere-mos quem somos. Temos de manter-nos nessa ignorância,de suportá-la, de nos tornarmos amigos dela, de aceitarmos

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que estamos perdidos e de que temos andado a vaguear semrumo.

Fazer meditação é colocar-se justamente nesse precisoinstante: tens sido um vagabundo, mas podes converter-tenum peregrino. Queres?

Iniciar-se na meditação pressupõe que se tenha chegadoao ponto de já não nos permitirmos culpar as circunstânciasou os outros. Quando estivermos nesse ponto, deveremossentar-nos e meditar.

Quando se medita, trabalha-se com o material da nossaprópria vulnerabilidade. E sempre temos a impressão de queestamos a começar a partir do zero: a nossa casa parece quenunca mais acaba de se construir; pois até acreditamos quees tamos a reforçar os alicerces. Na meditação não há, pelomenos aparentemente, uma deslocação significativa de umlado para o outro; o que há é uma espécie de instalação numnão-lugar. Esse não-lugar é o agora, o instante é a instância.

Graças à meditação, descobri que nenhuma carga éminha enquanto não a puser aos ombros.

Quando nos sentamos em silêncio, obtemos um espe-lho da nossa vida e, ao mesmo tempo, um modo para me -lho rá-la. A observação, a contemplação, é efetiva. Observaruma coisa não a muda, mas muda-nos a nós. Portanto, amu dança é o melhor barómetro da vitalidade de uma vida.

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As emoções e os estados anímicos têm o seu funciona-mento próprio; mas nós somos infinitamente mais podero-sos que eles, se a tal nos propusermos. (...) A força da nossasoberania é avassaladora.

Em geral, entre tantas marionetas ilusórias, não conse-guimos distinguir o que é real. Por isso, a tarefa de quem sesenta a meditar é, fundamentalmente, de limpeza interior.O cenário vazio assusta-nos; dá-nos a impressão de que nosaborrecemos nessa desolação. Mas esse vazio é a nossa iden-tidade mais radical, pois não é senão uma pura capacidadede acolhimento.

A descoberta da desilusão é o nosso principal mestre.Tudo o que me desilude é meu amigo.

Ajudar alguém é fazer com que veja que os seus esforçosestão garantidamente desencaminhados. É dizer-lhe: «Sofresporque esbarras de frente contra um muro. Mas esbarrascontra um muro porque não é por aí que deves passar.» Nãodeveríamos chocar com a maioria dos muros em que emba-temos. Esses muros não deveriam estar onde estão e nemdeveríamos tê-los construído.

Todas as nossas ideias devem morrer para que, por fim,reine a vida. E todas quer dizer todas, até a ideia que pode-mos ter da meditação.

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A dor deixa de ser tão dolorosa quando nos acostuma-mos a ela. Não sei bem como cheguei a esta conclusão, nemsei como consegui ser tão perseverante na minha práticadiária de meditação, a que sou tão fiel desde há um poucomais de um quinquénio, como o sou à prática da escritadesde há, aproximadamente, duas décadas.

A promessa da meditação é a mais misteriosa de todasquantas conheço, pois não é uma promessa para algo emparticular: nem para a glória, nem para o poder, nem para oprazer... Talvez seja uma promessa para a unidade, ou parauma espécie de custosa serenidade, ou para a lucidez, ou...palavras!

Assim como o espetador que não gosta de um espetá-culo pode abandonar a sua poltrona e, simplesmente, ir-seembora, o verdadeiro homem de meditação permanece noseu lugar mesmo quando a película projetada no seu inte-rior não lhe agrada absolutamente nada. É sobretudo entãoque deve permanecer.

A meditação em silêncio e quietude é o caminho maisdireto e mais radical para o nosso interior (não recorre àimaginação ou à música, por exemplo, como acontece nou-tras vias).

Quase todos os frutos da meditação recebem-se fora dame ditação. Alguns destes frutos são, por exemplo, uma

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maior aceitação da vida tal qual é, uma assunção mais cabaldos seus limites e dos seus achaques ou dores que se arras-tam, uma maior benevolência para com os semelhantes,uma atenção mais cuidada às necessidades alheias, um supe-rior apreço pelos animais e pela natureza, uma visão domun do mais global e menos analítica, uma crescente aber-tura ao diferente, à humildade, à confiança em si mesmo, àserenidade... A lista poderia alargar-se.

Uma das principais ameaças a todo este processo depurificação interior radica na crença – que, na realidade, ésustentada por quem não meditou ou o fez muito pouco –de que toda esta preocupação com o eu não serve paraajudar os outros.

O nosso problema na vida é precisamente este: as hesita-ções, os medos, as dúvidas sistemáticas, o medo de viver. Émais inteligente lançar-se na aventura. A meditação desmas-cara os nossos mecanismos de proteção, projeta-os em tama-nho gigante no ecrã da nossa consciência, mostra-nos tudoo que perdemos por culpa dessas salvaguardas fomentadaspelas convenções sociais e pressões de todos os géneros.

Como qualquer outro método sério de análise interior,a meditação silenciosa e em quietude sublinha a falácia deatribuir ao outro o que só a nós corresponde. Na realidade,basta querer alguma coisa com suficiente intensidade para aconseguir. Parece utopia, mas não há nada tão indestrutível

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como um homem convencido. Nenhum obstáculo é in -transponível quando há verdadeira fé. A meditação fortalecetal fé e, com olhar ardente, derrete os obstáculos que se vãoencontrando pelo caminho como se fossem blocos de geloincapazes de resistir ao fogo de uma paixão.

No tribunal da nossa consciência temos de prestarcontas do que recebemos. Do que vamos deixar no mundo,antes de morrer e de o abandonar.

Porquê apresentar a vida como um ato de combate, emvez de um ato de amor? Basta um ano de meditação perse-verante, ou até meio ano, para nos apercebermos de que po -demos viver de outra forma. A meditação abre uma brechana estrutura da nossa personalidade, até que, de tanto medi-tar, a brecha se alarga e a velha personalidade rompe-se e, como uma flor, começa a nascer uma nova. Meditar éassistir a esse fascinante e tremendo processo de morte erenascimento.

O caminho da meditação é o do desapego, o da ruturados esquemas mentais ou preconceitos: é uma desnudaçãoprogressiva até acabar por comprovar que se está muitomelhor nu.

O principal fruto da meditação é tornar-nos magnâni-mos, quer dizer, dilatar-nos a alma, começando imediata-mente a caber nela mais cores, mais pessoas, mais formas e

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figuras... Na realidade, um ser humano é tanto mais nobrequanto maior for a sua capacidade de hospedagem ou deacolhimento. Quanto mais vazios de nós estivermos, maiscaberá dentro de nós. O vazio de si, o esquecimento de si, édiretamente proporcional ao amor aos outros.

Depois de ter sido tocado ou infetado, tentado ou arras-tado; depois de estar apaixonado ou aflito, sou eu quemdecide – como senhor – de que modo hei de viver essa carí-cia ou essa bofetada, esse grito ou esse gemido; como reagira essa corrente ou responder a essa chamada.

Nenhum homem se perderá irremediavelmente se fre-quentar a sua consciência e viajar pelo seu território interior.Dentro de nós há um reduto onde podemos sentir-nosseguros: uma ermida ou um esconderijo onde nos podemosesconder porque foram construídos com essa finalidade.Quanto mais se entra lá, mais se descobre que é espaçoso eque está bem equipado. Na verdade, lá não falta nada. É umsítio onde se pode morar.

A meditação fortalece a necessária desconfiança nomundo exterior e a incompreensível confiança no nosso ver-dadeiro mundo, que costumamos desconhecer. Quandomeditamos, as nossas feições suavizam-se e a nossa expres-são transfigura-se. Continuamos aqui, nesta terra, mas écomo se já nem lhe pertencêssemos. Moramos noutro país,pouco frequentado, e atravessamos os campos de batalha

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sem sermos feridos. Embora as flechas se cravem em nós eas balas penetrem nas nossas carnes, essas balas não nos der-rubam nem essas flechas fazem com que brote sangue...Saímos desses campos de batalha crivados, mas vivos; cami-nhando e sorrindo porque não sucumbimos e demonstrá-mos a nossa eternidade. Meditamos para sermos mais fortesdo que a morte.

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DO POSFÁCIO

João Paulo Costa

Meditar silenciosamente é revelar-se a alguém e ser rece-bido noutro silêncio, em sinal de profunda comunhão cor-pórea. É um lugar de interlocução, de atividade e passivi-dade, lugar para buscar e ser escutado. Este movimento quevai da dádiva ao acolhimento é escuta do profundo, de si edos outros. A passividade do silêncio é ação pura. Aprendera silenciar-se, a sentir-se como alteridade, é respeitar a ges-tualidade e a transcendência do nosso corpo.

A dificuldade é que dialogámos sem escutar e sem nosescutarmos! Antes de começarmos a falar, a ritualizar, a sim-bolizar, a agir ou a julgar, deveríamos silenciar tudo isso porum breve tempo e fazer a pergunta vital: «O que é ou quemé, verdadeiramente, o meu Deus, e quais são os meusídolos?»

Biografia do silêncio. Breve ensaio sobre meditação, doescritor e teólogo espanhol Pablo d’Ors, é um ato silentepermeado de escutas e «atenções» várias. É um ensaio musi-cal originalíssimo conduzido pela experiência da meditação.

Talvez a tarefa mais digna que um humano pode cum-prir é a de deixar silêncio sobre esta terra. Quem vive o

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silêncio sapiencial vive já interiormente a parusia. O silênciodo corpo de Cristo, a suspensão dos atos e palavras prece-den tes, é o prólogo germinal que ajuda a entrar no eventoda morte como o mais dramático silêncio pascal. Fazer essaexperiência com Pablo d’Ors é abrir os olhos para a possibi-lidade outra da existência, sem encontrar respostas consola-doras, que resolvam com um simples sim ou não a comple-xidade do devir.

Quem é incapaz de silenciar o ego e a vontade incons-ciente de poder, a ânsia absoluta de saber, será incapaz derespirar e de comungar o hálito vital e de colher a beleza detudo quanto vive e respira sobre a Terra.

Cavar a nossa interioridade, revelando-a, supõe umavida intensa: sermos a totalidade das vivências que expe-rienciámos ao longo do tempo que nos é dado a viver.

Há coisas que não esperávamos nunca encontrar nosilêncio meditativo! Porém, há preciosidades e joias que sóas encontraremos ali, aonde nos dispusermos a remover o«lodo» barulhento interior ou o mutismo das palavras con-taminadas que coarta a nossa disponibilidade para a dádiva.O silêncio meditado por Pablo d’Ors é esse corpo presentetransfigurado pela afetividade crente, nutrida de um excessode confiança. É o corpo dado em memória do Verbo que se faz carne, experiência vital da humanidade que nos écomum.

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Basta um ano de meditação perseverante ou apenas meio ano, mais ou menos constante,

para se chegar à conclusão de que se pode viver de outra forma.

A meditação concentra-nos, devolve-nos a casa, ensina-nos a conviver com o nosso ser, fende a estrutura da nossa personalidade até que, de tanto meditarmos,

esta fenda vai crescendo e a velha personalidade rompe-se e,

Meditar é assistir a este fascinante e tremendo processo de morte e renascimento.