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OCampaniço Nº 74 SETEMBRO/OUTUBRO 2007 BOLETIM INFORMATIVO DA CÂMARA MUNICIPAL DE CASTRO VERDE DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Com vista ao reordenamento do espaço público, a Câmara Mu- nicipal vai reorganizar o tráfego e o estacionamento na Praça do Município, Rua de Mértola e Rua de Aljustrel. A requalificação des- tes espaços tem como objectivo a resolução de algumas situações de conflito ao nível da mobilida- de e a qualificação urbana. P. 5 URBANISMO Melhor qualidade urbana REPORTAGEM A Força da Fé Após sete anos em Castro Verde, de trabalho e proximidade com as gen- tes alentejanas, o Padre Rui regres- sou a Lisboa. A formação de futuros sacerdotes é a missão que se aproxi- ma. Voltar, é mais do que uma vonta- de. É um sentimento de pertença que desenvolveu ao integrar-se na comu- nidade local. P. 14 ENTREVISTA Compreender Pessoa Depois de ter frequentado os estabe- lecimentos de ensino do concelho, Ma- nuela Parreira da Silva prosseguiu os seus estudos na área da literatura. Em entrevista ao “Campaniço”, fala-nos de Fernando Pessoa, um dos mais bri- lhantes poetas portugueses do século XX e a base de toda a sua investigação. P. 8, 9 P. 10, 11 “Há falta de cereal no mundo!” A agricultura tem pela frente novos cenários. Os agricultores do Campo Branco falam das dificuldades que daí decorrem. Há uma nova geração de agricultores e um Plano Zonal que se reclama mais justo. Boas Festas Câmara Municipal de Castro Verde

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OCampaniço Nº 74 SETEMBRO/OUTUBRO 2007 Boletim informativo da Câmara muniCipal de Castro verde

DiSTRiBUiçãO gRaTUiTa

Com vista ao reordenamento do espaço público, a Câmara Mu-nicipal vai reorganizar o tráfego e o estacionamento na Praça do Município, Rua de Mértola e Rua de Aljustrel. A requalificação des-tes espaços tem como objectivo a resolução de algumas situações de conflito ao nível da mobilida-de e a qualificação urbana.

p. 5

urbanismo

Melhor qualidade urbanareportagem

A Força da FéApós sete anos em Castro Verde, de

trabalho e proximidade com as gen-tes alentejanas, o Padre Rui regres-sou a Lisboa. A formação de futuros sacerdotes é a missão que se aproxi-ma. Voltar, é mais do que uma vonta-de. É um sentimento de pertença que desenvolveu ao integrar-se na comu-nidade local.

p. 14

entrevista

CompreenderPessoa

Depois de ter frequentado os estabe-lecimentos de ensino do concelho, Ma-nuela Parreira da Silva prosseguiu os seus estudos na área da literatura. Em entrevista ao “Campaniço”, fala-nos de Fernando Pessoa, um dos mais bri-lhantes poetas portugueses do século XX e a base de toda a sua investigação.

p. 8, 9

p. 10, 11

“Há falta de cereal no mundo!”

A agricultura tem pela frente novos cenários. Os agricultores do Campo Branco falam das dificuldades que daí decorrem. Há uma nova geração de agricultores e um Plano Zonal que se reclama mais justo.

Boas Festas Câmara Municipal de Castro Verde

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007 AUTARQUIA �

A gestão da água é uma das pro-blemáticas actuais que mais tem dominado a actualidade regional. A não aprovação da candidatura da AMALGA (Associação de Mu-nícipios Alentejanos para a Gestão do Ambiente) ao Fundo de Coesão para financiamento do Sistema In-termunicipal de Abastecimento de Água e Saneamento, veio colocar na ordem do dia a necessidade de cada município envolvido decidir, a cur-to prazo, sobre o modelo que pre-tende para a gestão da água.

Foi neste contexto que, no passa-do dia 17 de Setembro, se sentaram à mesa Francisco Pinto, da Eurau-dit, Marques Ferreira, em represen-tação do Conselho de Administra-ção das Águas de Portugal, Manuel Francisco Camacho, Presidente do Conselho de Administração da AMALGA e Fernando Caeiros, pre-sidente da Câmara Municipal de Castro Verde, para debater que sis-tema de gestão para a distribuição de água e saneamento em alta.

Organizada pela Câmara Muni-cipal de Castro Verde, a iniciativa encheu o Fórum Municipal e reu-niu autarcas de todo o distrito de Beja, prolongando-se durante toda a tarde. Em discussão estiveram os dois sistemas possíveis para o Bai-xo Alentejo: intermunicipal e mul-timunicipal. Fernando Caeiros, pre-sidente da Câmara Municipal de Castro Verde, introduziu no debate

uma questão prioritária: “estamos a pensar no sistema de gestão e de como ele há-de funcionar, mas esta-mos a passar por cima de uma eta-pa anterior. São necessárias infra-estruturas básicas. Esta parece-me ser a última oportunidade de ser-mos beneficiados financeiramen-te para estes efeitos. Há um prazo bem definido, 2007-2013, do pró-ximo QREN.

Francisco Pinto, representan-te da Euraudit, empresa que está a efectuar um estudo sobre a matéria em análise para a autarquia de Cas-tro Verde, lembrou que “não se dis-põe de muito tempo, de modo a as-segurar a realização financeira no âmbito dos Fundos Comunitários”

e que “a região deve decidir em tor-no de projectos que possibilitem um desempenho global compatí-vel com as exigências que o posicio-namento comunitário exige e que as populações merecem”. O pro-jecto intermunicipal alentejano foi lançado em 2001 e após 11 revisões da candidatura foi chumbado por Bruxelas. Até agora, tanto o muni-cípio de Mértola como o de Ouri-que, que integravam a candidatura da AMALGA, decidiram optar por integrar o sistema multimunicipal, um projecto que vai ser desenvolvi-do no âmbito da empresa Águas de Portugal.

Marques Ferreira, por sua vez, re-presentante da empresa Águas de

Portugal (AdP), sublinhou que “205 municípios estão associados à AdP em sistemas multimunicipais e que a questão do grupo AdP tem de ser assumida como um instrumento do Estado”. A proposta passa assim pela empresa Águas de Portugal de-ter 51% das acções, enquanto as câ-maras municipais ficam com os res-tantes 49%. Uma proposta que, de acordo com Marques Ferreira, “não pretende criar nenhum encargo nem nenhum ónus financeiro para as autarquias”.

Porém, a questão não é assim tão clara para a maioria dos autarcas que defendem a água como um bem público de primeira necessidade e que se interrogam sobre uma futura

privatização das Águas dee Portu-gal o que, segundo as regras do mer-cado, alteraria todo o cenário.

Na perspectiva de Manuel Cama-cho, presidente da AMALGA “as câ-maras municipais deveriam fazer um esforço para que fossem elas a ter a possibilidade de pôr de pé um sistema integrado”. Para Manuel Camacho, “neste momento, o mais importante é infra-estruturar e não perder as oportunidades”. Ainda se-gundo o presidente da AMALGA, o estudo preparado para os sete con-celhos alentejanos, leva a concluir que “as tarifas vão ser mais baixas, uma vez que saíram dois municípios” e que “esta estrutura é rentável”.

Em jeito de conclusão, Fernan-do Caeiros considerou que é fun-damental contrariar a ideia defen-dida por alguns de que a água será o “ouro branco” do futuro “porque se está a falar de um bem essencial que não pode ser confundido com negociatas de qualquer natureza”. Referiu ainda “a necessidade de conjugação de esforços entre en-tidades públicas para cooperação dos finaciamentos comunitários, propondo que a gestão da opção fi-nal por sistema intermunicipal ou multimunicipal deve ser alargada para período posterior à conclusão dos investimentos, considerando que é fundamental que a gestão da água se mantenha no sector públi-co local.

PUBLICAÇÃO BIMESTRAL - Propriedade da Câmara Municipal de Castro Verde DIRECTOR Fernando Caeiros COORDENAÇÃO Paulo Nascimento REDACÇÃO Carlos Júlio, Liliana Valente, Sandra Policarpo GRAFISMO Pedro Pinheiro APOIO FOTOGRÁFICO Serviços Sócio-Culturais REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO Câmara Municipal de Castro Verde - Praça do Município, 7780 Castro Verde. Tel. 286 320700 TIRAGEM 4200 exemplares IMPRESSÃO Gráfica Comercial Loulé E-mail [email protected] / [email protected] Página Web: www.cm-castroverde.pt

Campaniço

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Mesa do debate

Gestão da Água, que Futuro?

A Câmara Municipal de Cas-tro Verde aprovou a celebração de um protocolo de colaboração com o Centro de Biotecnologia Agrícola e Agro-alimentar do Bai-xo Alentejo e Alentejo Litoral (CE-BAL), após parecer positivo da Assembleia Municipal. O proto-colo tem como objectivo o acom-panhamento da implementação do Pólo Tecnológico da Cavande-la de forma a assegurar, durante o processo, os interesses da região, do concelho e da autarquia.

O Empreendimento Turístico da Cavandela tem no seu projecto a criação de um parque tecnológi-co, onde se destaca a instalação de um centro de desenvolvimento de tecnologias e biotecnologias agro-

alimentares e ambientais, que merece por parte da autarquia uma atenção especial.

Atendendo ao facto de que o CEBAL está localizado nesta re-gião e que tem como objectivos, entre outros, a investigação e con-sultoria em Biotecnologia e a cola-boração com entidades públicas no âmbito das suas competências e tem as condições técnico-cientí-ficas e os recursos humanos neces-sários e adequados, a autarquia es-pera que esta colaboração potencie a análise e a informação necessária para que sejam tomadas as melho-res decisões na implementação do Pólo Tecnológico, contribuin-do assim para o surgimento deste projecto sustentável.

Derrama e IMI aprovados A Assembleia Municipal de Cas-

tro Verde aprovou, por unanimida-de, o lançamento da derrama sobre IRC em 2008, na sequência da de-liberação tomada em reunião pela Câmara Municipal de Castro Ver-de, no passado dia 5 de Setembro do corrente ano, para que em 2008 seja lançada uma derrama de 1,5% sobre o produto tributável e não isento de IRC.

Uma proposta que surge da ne-cessidade do município vir a re-forçar a sua capacidade financeira, tendo em conta o conjunto de inves-timentos em PPI, nomeadamente os co-financiados parcialmente pe-los fundos comunitários. De referir ainda que, perante a actual Lei das

Finanças Locais, os municípios vão perder entre 30% a 40% da sua re-ceita habitual, com possíveis conse-quências a nível orçamental.

Segundo a Lei n.º 2/2007 de 15 de Janeiro, art. 10.º, a derrama constitui uma das receitas muni-cipais e o produto da cobrança da mesma é lançada nos termos do art. 14.º, onde é fixada a percentagem a aplicar pelos municípios, a qual não pode exceder 1,5% sobre o lucro tri-butável sujeito e não isento de IRC. Segundo cálculos efectuados pe-los serviços municipais a aplicação da nova lei das finanças locais, em 2008, no que se refere à derrama lesará a autarquia em 7500 €/dia. Igualmente aprovado por unanimi-

dade, pela Assembleia Municipal, após deliberação da mesma Câmara Municipal, foi a fixação das taxas do Imposto Municipal sobre Imóveis em 2008, que estabelece fixar em 0,6% a taxa para os prédios urbanos e em 0,3% a taxa para os prédios ur-banos novos, tendo por referência as taxas de imposto municipal esta-belecidas pelo CIMI, no art. 112º, do n.º 1 (Prédios rústicos: 0,8%; Pré-dios urbanos: 0,4% a 0,8%; Pré-dios urbanos avaliados, nos termos do CIMI: 0,2% a 0,5%). O Impos-to Municipal sobre Imóveis (IMI) veio substituir a Contribuição Au-tárquica a partir de 1 de Dezembro de 2003 e incide sobre o valor patri-monial dos bens imóveis.

Celebração de protocolo com CEBAL

A gestão dos recursos hídricos exige uma atenção cada vez maior e mais urgente por parte das entidades competentes. “Que sistema de gestão para a distribuição de água em alta?” foi o tema do debate que encheu o auditório do Fórum Municipal e que reuniu autarcas de todo o distrito de Beja. Em discussão estiveram os dois sistemas possíveis para o Baixo Alentejo.

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007 AUTARQUIA �

As Câmaras Municipais de Castro Verde, Aljustrel, Ourique e Almodôvar candidataram-se à criação de um “Julgado de Paz” em cada sede de concelho, para instalação já em 2008.

Foi recentemente formaliza-da a proposta de geminação entre o Município de Castro Verde e os municípios espanhóis de Castro-verde de Campo (Zamora), Cas-troverde (Lugo) e Castroverde de Cerrato (Valladolid). A formali-zação ocorreu durante o encontro realizado em Agosto passado, na Galiza, onde estiveram reunidos os representantes dos diferentes municípios.

Este processo de geminação entre localidades que partilham em comum o topónimo “Castro Verde”, vai assim ao encontro do

“Ano Europeu do Diálogo Cultu-ral”, a realizar em 2008, e ao pro-grama “Europa para os Cidadãos”, promovido pela União Europeia, entre 2007 e 2013, e cujo objecti-vo é a promoção de uma “cidada-nia europeia mais activa”.

Neste contexto, a geminação en-quadra-se claramente nos objec-tivos celebrados aquando da sua formalização e que visam, essen-cialmente, o desenvolver de activi-dades que preconizem o aprofun-

dar de laços entre as comunidades e os cidadãos da União Europeia. O estabelecer de relações sociais e culturais como pontes de inter-câmbio e organização de inicia-

tivas conjuntas, indispensáveis para a construção da Europa, re-presenta outro dos objectivos da geminação.

Descobrir cenários geográficos

diferentes, modos de vida e línguas diferenciadas como elo de ligação e aproximação entre comunidades, é descobrir que a toponímia pode ser assim o princípio para Castro

Verde participar num processo de geminação com outras comunida-des, mesmo que as suas caracterís-ticas sociais, culturais e antropoló-gicas sejam distintas.

Reunião de geminação

Castroverde, província de Lugo, comunidade autónoma da Galiza, de área 174,84 km² com popula-ção de 3286 habitantes (2004) e densidade populacional de 18,79 hab/km².

Castroverde de Campos, provín-cia de Zamora, comunidade autó-noma de Castela e Leão, de área 64,00 km² com população de 436 habitantes (2004) e densidade po-pulacional de 6,34 hab/km².

Castroverde de Cerrato, provín-cia de Valladolid, comunidade au-tónoma de Castela e Leão, de área 32,73 km² com população de 279 habitantes (2004) e densidade po-pulacional de 8,13 hab/km².

Castro Verde candidatou-se à ins-talação de um Julgado de Paz, à se-melhança dos concelhos vizinhos de Aljustrel, Almodôvar e Ourique.Com instalação prevista para 2008, este tratar-se-á do primeiro agrupa-mento de julgados de paz em todo o Alentejo e Algarve.

Criados em 2001, os julgados de paz visam aliviar os tribunais de processos até cinco mil euros que envolvam questões muito diversas, como ofensas corporais simples, in-júrias, difamações ou determina-dos incumprimentos de contratos.

A sua instalação implica a abertu-ra de um gabinete e sala de audiên-cias em cada concelho, onde um juíz e os respectivos mediadores – fun-cionários do Ministério da Justiça – se deslocam para tentar conciliar as partes.

A criação destas estruturas pre-tende tornar a justiça mais acessí-vel aos cidadãos que procuram a so-lução para questões jurídicas mais simples. Ao Ministério da Justi-ça cabe assegurar o pagamento da actividade desempenhada pelos Juízes de Paz e mediadores, insta-

lação e funcionamento do sistema informático. À autarquia restam as responsabilidades para com as instalações, eventuais obras, mo-biliário, equipamentos e ainda os meios humanos para os serviços de atendimento e de apoio admi-nistrativo.

Apesar das dúvidas que estes ainda possam levantar, deverão as-sumir um papel significativo à es-cala local, ao permitirem uma res-posta mais eficaz às necessidades da sociedade actual de acordo com os seus direitos e interesses.

Castro verde

Candidatura a Julgado de Paz

O que são? Os Julgados de Paz são uma nova forma de administração da justiça, regendo-se pelos princípios de sim-plicidade, imparcialidade, oralidade e rapidez processual, privilegiando a proximidade e a participação activa das partes na condução do processo.

Que questões podemresolver?- Incumprimento de contratos eobrigações;

- Responsabilidade civil – contratu-al e extracontratual; - Direito sobre bens móveis ou imó-

veis – como por exemplo proprie-dade, condomínio, escoamento natural de águas, comunhão de valas, abertura de janelas, portas e varandas, plantação de árvores e arbustos, paredes e muros divi-sórias;

- Arrendamento urbano, exceptuan-do o despejo;

- Acidentes de viação.

Geminação com localidades espanholasCastroverde de Lugo, de Zamora e de Valladolid foram as localidades espanholas com as quais o município de Castro Verde acordou recentemente uma proposta de geminação cuja filosofia assenta no aprofundar de laços e no estabelecer de relações sociais e culturais entre as comunidades envolvidas.

A Câmara Municipal, Juntas de Freguesia e Assembleias de Fre-guesia do concelho de Castro Ver-de promoveram um conjunto de reuniões para discutir e preparar os Orçamentos e as Opções do Pla-no de Actividades dos órgãos au-tárquicos para o ano de 2008. As reuniões, nas quais se apelou à

participação das populações e dos agentes activos da comunidade, decorreram nas sedes de freguesia e procuraram ouvir opiniões que contribuíssem na definição de li-nhas de actuação autárquica para o futuro.

Após o término deste ciclo de assembleias, a Câmara Municipal

vai reunir com as Juntas de Fre-guesia para analisar toda a infor-mação participada e proceder à inscrição das acções consideradas prioritárias em plano de activida-des e orçamento, onde os protoco-los de delegaçãoção de competên-cias para as Juntas de Freguesia assumem especial importância.

orçamento e plano de aCtividades 2008

Reuniões preparatórias

Reunião em casével

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Continuamos a viagem pelas ruas e praças da nossa vila. Na origem do nome que têm hoje, estiveram não só acontecimentos políticos e históricos, mas também personalidades que marcaram o país. Mais do que uma homenagem, atribuir o seu nome a uma rua é também perpetuar o seu percurso de vida, valorizando os seus feitos.

É frequente reconhecer nas ruas,

praças ou largos de Castro Verde nomes de grandes personalidades, locais ou não, que de qualquer for-ma, deram o seu contributo para a história da vila e do país. Compre-ender o porquê destas designações é explorar e identificar as raízes que nos rodeiam diariamente. A actual Rua Dr. António Francisco Colaço, por exemplo, foi outrora Rua 25 de Julho. Conforme consta na acta re-ferente à sessão de 24 de Dezembro de 1934, deliberou a Câmara Muni-cipal que fosse dado “à Rua 25 de Julho, o nome de Rua Dr. Antó-nio Francisco Colaço, para que a sua memória se perpetue na lem-brança de todos”.

Na sessão de 3 de Junho de 1943 e por proposta do vereador João Ce-lorico Drago deu-se“à parte da Rua Fialho de Almeida, desta vila, com-preendida entre o Largo da Feira e o cruzamento com a Rua Joaquim Romão Júlio, o nome de Rua Ál-varo Romano Colaço. Como ar-gumentos para tal proposta foram invocadas as seguintes palavras:

“Encontra-se por pagar por parte desta Câmara uma divida de grati-dão para com um Filho Ilustre des-ta terra, Grande Benemérito que foi e que ao concelho e a esta mes-ma Câmara prestara os mais ele-vados e desinteressados serviços, Álvaro Romano Colaço.

Contudo, na sessão de 25 de No-vembro de 1946 decidiu-se que “em aditamento à deliberação tomada em reunião de 3 de Junho de 1943 e relativamente à Rua Álvaro Ro-mano Colaço, que a parte restante da mesma artéria compreendendo já o prolongamento até à estrada

de Lisbôa, fique com a mesma de-nominação. Porém, posteriormen-te, a esta Rua em toda a sua exten-são, foi reposto o anterior nome de

“Rua Fialho de Almeida.”Na sessão de 16 de Setembro de

1974 e, segundo a respectiva acta, aprovou-se a decisão de dar à Rua Campo Branco o nome do General Humberto Delgado: “Na reunião ordinária realizada no dia vinte e cinco de Maio último, dando satis-fação ao desejo manifestado pelo Povo, deliberou a Comissão Admi-nistrativa da Câmara Municipal, por unanimidade, que a Praça Sa-lazar, desta Vila, passasse a desig-nar-se Praça da Liberdade, e que, por proposta do vogal, senhor Vaz Ramos fosse dado o nome do Gene-ral Humberto Delgado a uma das principais ruas da vila a indicar oportunamente, prestando des-te modo, justíssima homenagem à memória dum homem que se bateu até à morte pela causa da liberda-de. Nestes termos, dando satisfa-ção à referida deliberação a Comis-são Administrativa deliberou, por unanimidade, dar o nome do Ge-neral Humberto Delgado à actual Rua Campo Branco e que a sessão de homenagem tenha lugar no dia cinco do próximo mês de Ou-tubro, pelas onze horas, dando-se a maior publicidade desta delibera-ção a fim da população conscien-te da dimensão desta homenagem, possa comparecer em massa.”

Outras ruas se seguiram nesta atribuição de nomes de persona-lidades que marcaram uma épo-ca, um movimento, ou que simples-mente tiveram um acto de coragem na luta contra as desigualdades ou contra o regime. Exemplo disso foi a proposta apresentada pelo Senhor Vereador Manuel Sequeira Afonso onde argumenta: “Porque há alguns dias faleceu Adriano Correia de Oli-veira, lutador antifascista, que, de uma forma ou de outra a todos to-cou de maneira especial pelo modo como nos transmitiu a Mensagem de Fé e de Esperança, proponho um voto de pesar, lavrado em acta. Que seja dado o nome de Adriano Cor-reia de Oliveira a uma rua ou praça da vila de Castro Verde.”

Depois de apreciada a proposta, a Câmara deliberou por unanimida-de dar-lhe a sua aprovação e dar o nome do cantor Adriano Correia de Oliveira à praça projectada na urbanização da Coophecave, em Castro Verde.

Na “Sessão de 2 de Março de 1983 foi presente uma proposta apresen-tada pelo Sr. Vereador Horácio Ma-nuel Figueira da Cruz, cujo teor é o seguinte: “Considerando que Ma-nuel Assunção Mestre foi um gran-de defensor e impulsionador dos ideais de 25 de Abril... Conside-rando que os seus ideais se guia-ram por conceitos de liberdade e antifascismo, como o prova, en-tre outras coisas, o seu empenho

e participação na campanha de Humberto Delgado... Consideran-do o implemento que deu ao coope-rativismo como principal fundador e impulsionador da cooperativa de consumo de Castro Verde em bene-fício das populações e ainda a Coo-perativa Agrícola dos pequenos e médios Agricultores que substitui o Grémio da Lavoura... O Verea-dor do Partido Socialista, Horácio Manuel Figueira da Cruz, propõe que em sua memória e em honra da Democracia seja dado o seu nome a uma Rua de Castro Verde, terra da sua naturalidade.” Apreciada a presente proposta, a Câmara deli-berou, por unanimidade, dar-lhe inteiro apoio, decidindo dar o nome de Manuel Assunção Mestre, à rua paralela com a rua de Olivença, sita no Bairro Municipal e que con-fronta a Nascente com a Rua da Li-berdade e a Poente com a Avenida 25 de Abril.

Por fim, e no que respeita à Rua Zeca Afonso deliberou a Câmara Municipal na sessão de 24 de Feve-reiro de 1987 “e sob proposta do seu Presidente, aprovar um voto de pe-sar pela morte do poeta e cantor José Afonso (Zeca Afonso). Mais deliberou a Câmara, também por unanimidade, dar o nome de Zeca Afonso – poeta, músico e cantor, à rua situada na Expansão Oeste de Castro Verde” pelo facto de que “ao longo da sua vida, esteve sempre identificado com os problemas so-

ciais que afligem a sociedade, es-tando sempre onde era preciso para fazer qualquer coisa para o bem estar e emancipação do povo português”.

A partir de trabalho de Ana Paula

Vilhena

Ruas com nome de genteToPonímiA LocAL

Avenida General Humberto Delgado

Aqui damos as boas vindas aos novos castrenses. É com agrado que noticiamos os nascimentos registados no concelho de Castro Verde.NAtALIDADE

Agosto11/08/2007 Manuel Camões Cravo filho de Manuel Francisco Mira Cravo e de Ada sofia Domingos Camões16/08/2007 David José Martins Silva Mestre filho de Carlos Alberto Domingos Mestre e de Maria de Fátima Martins da silva

seteMbro08/09/2007 Dinis Jerónimo Matos filho de Carlos Frederico Dória soares de Albergaria Matos e de Maria João Mamede Jerónimo

11/09/2007 Íris Afonso Rosa filho de Francisco de sousa rosa e de sónia Cristina Afonso Nascimento11/09/2007 Maria Beatriz Coelho Romano Colaço filha de António Francisco sobral romano Colaço e de elisete Maria guerreiro Coelho12/09/2007 José Pedro Paulino Palma filho de Manuel António Cristina da Palma e de Maria Felicidade Conceição Paulino22/09/2007 Sofia Margarida Tomé Cavaco filha de Vítor Manuel

Cordeiro Cavaco e de Mafalda Cristina santos tomé

outubro19/10/2007 Catarina Isabel da Costa Monteiro filha de Jorge Manuel Custódio Monteiro e de Maria da graça gil da Costa Monteiro29/10/2007 Raquel Pereira Raposo Ledo filha de David Manuel raposo Ledo e de Vera brito Pereira

FonTe: conserVATóriA do regisTo ciViL de cAsTro Verde

Quem foi...António Francisco Colaço Médico e matemático. Presidente da Câmara entre 1882 e 1884.

Álvaro Romano ColaçoAgricultor, Vogal da Câmara (1923), Secretário da Câmara (1925-1926), Vice-Secretário (1930), Vogal (1936), Vereador (1939-1941)

Fialho de AlmeidaEscritor português, natural de Vila de Frades, no Alentejo. Completou o curso de Medicina na Escola Mé-dico-Cirúrgica de Lisboa, em 1875. Passou a última fase da sua vida no Alentejo, dedicando-se à agri-cultura.

General Humberto DelgadoConhecido como o “General sem Medo”. Participou activamente no movimento militar de 28 de Maio de 1926, que conduziu mais tarde ao Estado Novo. Anos depois rom-peu relações com o regime de Sa-lazar, apresentando-se em 1958 como candidato à Presidência da República. Foi assassinado a tiro pela PIDE em 1965, perto de Ba-dajoz.

Adriano Correia de Oliveira Músico português e um dos mais importantes intérpretes do fado de Coimbra. Fez parte da geração de compositores e cantores de cariz político, que lutaram contra o Es-tado Novo.

Zeca AfonsoCantor e um dos maiores composi-tores de sempre da música portu-guesa. José Afonso ficou associado à música de intervenção, através da qual criticava o Estado Novo, regime de ditadura vigente em Por-tugal entre 1933 e 1974.

RÚBRICA

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Está terminada a intervenção no Jardim do Padrão (Praça do Mu-nicípio) cujo objectivo foi efectu-ar uma manutenção do espaço de modo a travar o estado de degrada-ção que vinha a apresentar. Peque-nas obras possibilitaram a criação de um passeio ao longo da rua supe-rior, o restauro de canteiros e mobi-liário, bem como uma melhoria na iluminação pública através da colo-cação de novos candeeiros. Desta-que merece a plantação de novas es-pécies de flores, arbustos e árvores, aumentando também a área de can-teiros relvados, que substituem o coberto vegetal que já não se encon-trava em condições.

No que ao futuro diz respeito, a Junta de Freguesia de Castro Ver-de tem no seu plano de acção, num prazo mais dilatado, uma interven-ção profunda neste espaço, que co-locará para discussão pública jun-to dos castrenses, e que carecerá de um acordo por parte dos cidadãos,

bem como do IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitec-tónico e Arqueológico, uma vez que o projecto se desenrolará na área de protecção da Basílica Real, edi-fício classificado. Essa intervenção, de carácter delicado e moroso, terá como principal objectivo retirar de-finitivamente a circulação automó-vel e o estacionamento da Praça do Município.

Exposição no Jardim

Desta actual revitalização do Jar-dim do Padrão faz parte a intenção de promover algumas “exposições” ou “campanhas” temáticas, ideia que será desenvolvida a título expe-rimental, e que consistirá na coloca-ção de um conjunto de pendões nos suportes criados para o efeito nos candeeiros de iluminação pública.

A primeira temática será “O Alen-tejo nas Mãos dos Poetas”, que apre-sentará uma selecção de 21 poesias

sobre o Alentejo, acompanhada de pequena nota biográfica do autor. Em plano estão outras apresenta-

ções em torno de valores do nosso património, como é o caso da avi-fauna e da flora.

Jardim do Padrão

Reordenamento do Espaço Urbano

Com vista ao reordenamento do espaço público e a uma melhoria da circulação, as Ruas de Mértola e Aljustrel, e a Praça do Município vão ser sujeitas a obras de requalificação, com início previsto para Novembro.

A Câmara Municipal de Castro Verde aprovou recentemente um projecto de reordenamento do es-paço público para a Rua de Aljus-trel, e vias envolventes, Praça do Município e Rua de Mértola. A re-qualificação destes espaços tem como objectivo a resolução de al-gumas situações de conflito ao ní-vel da mobilidade e estacionamen-to de viaturas, assim como, uma melhor qualidade urbana.

Rua de Aljustrel

Na Rua de Aljustrel vai pro-ceder-se à semaforização do en-troncamento com a Avenida Ge-neral Humberto Delgado e a Rua da Liberdade; ao levantamento e realinhamento de lancis existen-tes; levantamento e regulariza-ção de calçada à portuguesa em cubos de vidraça; consolidação do pavimento betuminoso existen-te; reordenamento de lugares de estacionamento; remarcação de sinalização horizontal e colocação de nova sinalização vertical. Uma intervenção que contempla ainda a mudança de via prioritária, no entroncamento da rua de Aljus-trel com a rua Alexandre Hercula-no. Também as artérias transver-sais com a Rua Fialho de Almeida

vão beneficiar da redifinição de bolsas de estacionamento e senti-do de circulação. Durante o perí-odo de execução da obra, cujo iní-cio está previsto para Novembro, a rua de Aljustrel terá tráfego ape-nas no sentido ascendente.

Praça do Município e Rua de Mértola

Com vista à melhoria da circula-ção, do acesso aos serviços e da va-lorização do Jardim do Padrão, o estacionamento da Praça do Mu-nicípio vai ser reorganizado. Nes-te, serão desenhadas bolsas de es-tacionamento para permitir uma maior disciplina, ao mesmo tem-po que sete lugares, junto ao edi-fício da Câmara Municipal, pas-sam a ser estacionamento pago. Por outro lado, a diminuição da pressão automóvel na Praça do Município irá implicar uma reor-ganização da Rua de Mértola, que passará a ter um só sentido, dispo-nibilizando assim uma maior área de estacionamento.

Esta intervenção contempla ain-da a acessibilidade para cidadãos com mobilidade reduzida, quer ao nível dos estacionamentos, quer ao nível do acesso aos serviços.

URbAnIsmo 5 setembro/outubro 2007 O CampaniçO

Rua de Aljustrel - Entrocamentos: Ruas de Casével e Alexandre Herculano

Praça do Município e Rua de Mértola

Jardim do Padrão Revitalizado

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

A doença da Língua Azul já chegou ao nosso Concelho

Esta doença não é desconhecida no nosso País, mas desde 1959 que não se registavam novos casos. Des-de essa altura, só em 2004 surgiu um novo surto (com o serótipo 4 do vírus), que se controlou através de vacinação e restrições da circulação animal. A doença da Língua Azul ou Febre Catarral Ovina (FCO) é uma doença que é causada por um vírus. Esta doença não é uma doença con-tagiosa, ou seja, não passa directa-mente de animal para animal, nem é transmissível aos humanos.

Existem 24 tipos diferentes do ví-rus da Doença da Língua Azul que são denominados serótipos de 1 a 24. O surto que surgiu em 2004 foi do serótipo 4 e o que surgiu em Se-tembro de 2007 foi do serótipo 1. As vacinas utilizadas contra um seróti-po não conferem protecção contra outro serótipo diferente.

Não se transmitindo directamen-te esta doença, é necessário que existam insectos picadores do gé-nero Culicoides que se alimentem num animal doente e em seguida o façam num animal saudável. Estes insectos, semelhantes a pequenas moscas (medem 1 a 2 milímetros e vivem 2 a 3 semanas), alimentam-se de sangue, reproduzem-se em zonas húmidas e podem ser trans-portados pelo vento a grandes dis-tâncias.

A doença é originária e man-

tém-se facilmente em zonas tropi-cais, subtropicais de África e Médio Oriente. A reintrodução do vírus em regiões com climas temperados da Europa foi, provavelmente, feita mediante o transporte de animais infectados ou mediante o transpor-te pelo vento de Culicoides porta-dores do vírus através do Mediter-râneo.

Nas regiões de clima temperado a maior incidência da doença ocor-

re no final do Verão e no princípio do Outono, no entanto pode surgir em qualquer altura do ano se a tem-peratura o permitir (condições que favorecem a multiplicação do vec-tor). Esta doença afecta os rumi-nantes (bovinos, ovinos, caprinos e ruminantes selvagens) se bem que a doença só se manifeste de forma severa no ovinos (especialmente em determinadas raças). O perío-do de incubação (ou seja o período

de tempo que vai da picada da mos-ca até à manifestação dos primei-ros sintomas) é de 5 a 20 dias nas ovelhas. Os sintomas manifestados pelos animais são febre que pode atingir 42º C; depressão; anore-xia; edema, hemorragias e feridas na boca, narinas e língua; descarga nasal e salivar; dispneia; pneumo-nia; aborto e anomalias fetais.

Por vezes, embora, o número de ovelhas afectadas num rebanho

possa atingir os 100%, a mortali-dade nos animais afectados geral-mente não ultrapassa os 10%. Por isso a morte dos animais surge em 8 a 10 dias, mas a grande maioria recupera em cerca de 2 semanas. Apesar destes sinais serem evi-dentes, o diagnóstico definitivo e identificação do serótipo do vírus tem que ser sempre feito com base amostras de sangue e tecidos en-viados para um laboratório.

Nuno RosaMédico Veterinário Municipal

Ovino com sintomas da doença da Língua Azul

A doença da Língua AzulInfelizmente não existe tratamento para esta doença. Para proteger os nossos rebanhos devem ser toma-das as seguintes medidas:

1 - Luta contra os vectores trans-missores da doença com desinsec-tizações periódicas dos animais, das instalações e meios de trans-porte dos animais.2 - Vacinação contra o serótipo 1 da doença (esperemos que a vaci-na chegue em breve).3 - Restringir a circulação dos ani-mais das zonas afectadas para zonas livres da doença.4 - Todas as explorações conside-radas infectadas são colocadas sob sequestro, ou seja são proibi-das a entrada e a saída de animais da exploração, devem ser feitas desinsectizações periódicas e não movimentar os animais ao ama-nhecer e entardecer.

1 - soMA DAs CoNCeNtrAções Dos 4 CoMPostos 2 - soMA DAs CoNCeNtrAções Dos 2 CoMPostos3 - soMA DAs CoNCeNtrAções Dos 4 CoMPostos

1 - FigueiriNhA - FoNtANário No LArgo DA PoViAção (05/09/2007)

2 - eNtrADAs - CeNtro De DiA (11/07/2007)

3 - eNtrADAs - restAurANte “A CAVALAriçA” (08/08/2007)

4 - eNtrADAs - hAb. ruA De sANtA bárbArA (05/09/2007)

5 - gALeguiNhA - hAb. LArgoDA PoVoAção (05/09/2007)

6 - sANtA bárbArA Dos PADrões - hAb. ruA De sANtA bárbArA (11/07/2007)

7 - sANtA bárbArA De PADrões - hAb. ruA DAs FLores (08/08/2007)

8 - LoMbADor - CAFé “o regresso” (05/09/2007)

9 - CAséVeL - bAr DA AssoCiAção CANte ALeNteJANo (19/09/2007)

10 - CAstro VerDe - hAb. ruA ZeCA AFoNso (11/07/2007)

11 - estAção De ourique - hAb. ruA De CAstro VerDe (08/08/2007)

12 - CAstro VerDe - reFeitório MuNiCiPAL (05/09/2007)

13 - PiçArrAs - hAb. No LArgo Do PeLouriNho (05/09/2007)

14 - MoNte serro - hAb. LArgo DA PoVoAção (05/09/2007)

- PubLiCAção PreVistA No terMo Do DeCreto-Lei Nº 243/2001 De 5 De seteMbro.

- As reCoLhAs De AMostrAs e ANáLises ForAM eFeCtuADAs PeLos téCNiCos Do

LAborAtório AgroLeiCo.

- De ACorDo CoM os resuLtADos obtiDos, os PArâMetros obeDeCeM às NorMAs De

quALiDADe à exCePção De situAções PoNtuAis eM que Foi uLtrAPAssADo o VALor

PArAMétriCo.

Pârametros 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 ValorParamétrico

Controlo de Rotina 1

E. Coli (N/100 ml) 0 0 0 0 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0Bactérias Coli formes (N/100 ml) 0 0 0 0 6 0 0 0 16 0 0 0 0 0 0Desin fectante residual (mg/l Cl) 0,09 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 0,6 0,56 0,46 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 -

Controlo de Rotina 2

Alumínio (µg/l Al) - - - - - - - - - 63 520 250 - - 200Amónio (mg/l NH4) < 0,05 < 0,05 - - < 0,05 < 0,05 - - < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 < 0,05 0,5Cheiro (Factor de diluição a 25ºC) < 3 < 3 - - < 3 < 3 - - < 3 < 3 < 3 < 3 < 3 < 3 3Clostridium perfringens (N/100 ml) - - - - - - - - - 0 0 0 - - 0Condutividade (µS/cm a 20ºC) 863 934 - - 822 1180 - - 383 374 393 385 1310 1010 2500Cor (mg/l) < 2 < 2 - - < 2 < 2 - - < 2 < 2 < 2 < 2 < 2 < 2 20Ferro (µg/l Fe) < 50 - - - - - - - - - - - - < 50 200Manganês (µg/l Mn) 120 27 - - 23 40 - - < 10 < 10 < 10 < 10 < 10 < 10 50Nitratos (mg/l NO3) 20 9 - - 19 < 2 - - < 2 < 2 < 2 2 19 61 50

Nº de colónias a 22ºC (N/ml 22ºC) > 300 > 300 - - > 300 0 - - 170 > 300 > 300 > 300 58 > 300s/alt.

anormal

Nº de colónias a 37ºC (N/ml 37ºC) > 300 > 300 - - > 300 6 - - > 300 120 > 300 > 300 190 > 300s/alt.

anormalOxidabilidade (mg/l O2) < 0,5 1,6 - - < 0,5 0,6 - - 2,4 1,3 1,7 2,8 0,7 < 0,5 5pH (Unidades de pH) 7,2 8,2 - - 7,3 7,9 - - 8,2 7,8 7,2 8,1 7,6 7,2 6,5 a 9,0Sabor (Factor de diluição a 25ºC) < 3 < 3 - - < 3 < 3 - - < 3 < 3 < 3 < 3 < 3 < 3 3Turvação (UNT) < 0,7 < 0,7 - - < 0,7 1,2 - - < 0,7 < 0,7 1,1 < 0,7 < 0,7 < 0,7 4

Controlo de Inspecção

Alumínio (µg/l Al) - - - - - - - - - - - - - - 200Antimónio (µg/l Sb) - - - - - - - - - - - < 3 - - 5Arsénio (µg/l As) - - - - - - - - - - - < 3 - - 10Benzeno (µg/l) - - - - - - - - - - - < 0,25 - - 1

Benzeno(a)pireno (µg/l) - - - - - - - - - - -<

0,0050- - 0,01

Boro (mg/l) - - - - - - - - - - - < 0,2 - - 1Bromatos (µg/l BrO3) - - - - - - - - - - - 5 - - 10Cádmio (µg/l Cd) - - - - - - - - - - - <0,40 - - 5Cloretos (µg/l Cl) - - - - - - - - - - - 80 - - 250Clostridium perfringens (N/100 ml) - - - - - - - - - - - - - - 0Cianetos (µg/l Cn) - - - - - - - - - - - < 10 - - 50Chumbo (µg/l Pb) - - - - - - - - - - - < 5,0 - - 25

Cobre (µg/l Cu) - - - - - - - - - - -<

0,010- - 2

Crómio (µg/l Cr) - - - - - - - - - - - < 10 - - 501,2-Dicloroetano (µg/l) - - - - - - - - - - - < 0,25 - - 3Enterococos (N/100 ml) - - - - - - - - - - - 0 - - 0Ferro (µg/l Fe) - - - - - - - - - - - < 50 - - 200Fluoretos (µg/l F) - - - - - - - - - - - < 0,40 - - 1,5

Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos1 (µg/l) - - - - - - - - - - -<

0,0050- - 0,1

Benzeno(k)fluroanteno (µg/l) - - - - - - - - - - -<

0,0050- - -

Benzeno(ghi)perileno (µg/l) - - - - - - - - - - -<

0,0050- - -

Benzeno(b)fluoranteno (µg/l) - - - - - - - - - - -<

0,0050- - -

Indeno(1,2,3-cd)pireno (µg/l) - - - - - - - - - - -<

0,0050- - -

Mercúrio (µg/l Hg) - - - - - - - - - - - < 1,0 - - 1Níquel (µg/l Ni) - - - - - - - - - - - < 5,0 - - 20Nitritos (mg/l NO2) - - - - - - - - - - - < 0,02 - - 0,5Selénio (µg/l Se) - - - - - - - - - - - < 3 - - 10Sódio (mg/l Na) - - - - - - - - - - - 50 - - 200Sulfatos (mg/l SO4) - - - - - - - - - - - 22 - - 250Tetracloroeteno 2 (µg/l) - - - - - - - - - - - < 0,50 - - 10Tricloroeteno 2 (µg/l) - - - - - - - - - - - < 0,50 - - 10Triahalometanos 3 (µg/l) - - - - - - - - - - - 14 - - 150Cloro fórmio (µg/l) - - - - - - - - - - - 6,4 - - -Dibromoclorometano (µg/l) - - - - - - - - - - - 2,9 - - -Bromodiclorometano (µg/l) - - - - - - - - - - - 4 - - -Bromofórmio (µg/l) - - - - - - - - - - - 0,74 - - -

EDITAL nº. 11/2007CâMArA MuNiCiPAL De CAstro VerDe

Qualidade da água 2007

António João Fernandes Colaço, Vereador da Câmara Municipal de Castro Verde, torna públicos os resultados das análises efectuadas à água no Concelho de Castro Verde, referentes ao 3º trimestre de 2007.

Para constar se publica o presente edital e outros de igual teor que vão ser afixados nos lugares públicos do costume.

Castro Verde, 19 de Outubro e 2007

O Vereador responsável António João Fernandes Colaço

veTeRInáRIA �

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Maria Rosa Contreiras de Sousa é a sócia número 1 da Casa do Alentejo em To-

ronto. Chegou ao Canadá em 1974, onde assentou arraiais e lhe nasceu uma filha... sempre com a sua terra natal perto do coração. Facto que a levou a integrar o grupo de pessoas que a 20 de Fevereiro de 1983 fun-dariam uma Casa do Alentejo em paragens distantes. Durante os pri-meiros 12 anos desempenhou di-versos cargos na direcção, entre os quais, o de Presidente, a que se se-guiu um período de interregno após o falecimento do seu marido, tam-bém ele sócio fundador. Actualmen-te, é Presidente da Direcção a jovem luso-canadiana Stephanie Fidalgo, descendente de família de Aljustrel.

Agora, Maria Rosa está de regres-so à actividade na Casa do Alente-jo desempenhando o papel de co-ordenadora cultural, onde assume responsabilidades ao nível da pro-gramação. Exemplo disso foi a or-

ganização da XXIII Semana Cul-tural Alentejana, que aconteceu de 19 a 28 de Outubro, e à qual se as-sociou a Câmara Municipal de Cas-tro Verde, fazendo-se representar e patrocinando a participação do Grupo Violas Campaniças, que se apresentou com uma formação di-ferente daquela a que estamos ha-bituados. Constituída pelos jovens Pedro Mestre, Márcio Isidro e Ana Valadas, a actuação do Grupo pau-tou por um bom desempenho nas três actuações que efectuou.

Durante uma semana, tendo pre-sente o lema da casa “Alentejo, uma região, um povo, uma tradição”, os convívios intensificaram-se e a nos-sa maneira de estar foi rainha. À mesa teve assento a gastronomia (não faltaram as migas, o ensopa-do de borrego, etc), o cante alente-jano, os bailes, o fado… e claro, tam-bém se mostraram os trabalhos desenvolvidos pelos projectos que a associação dinamiza junto da co-munidade: o grupo coral, as danças folclóricas, a ginástica, etc. Na opi-nião de Maria Rosa “a Casa do Alen-tejo tem sido uma das que tem dado maior nome à comunidade portu-guesa. Foi a partir dela que se inicia-ram as semanas culturais, exemplo seguido por outras casas, continu-ando a nossa a ser a maior de to-das elas, porque trazemos artistas e convidados de Portugal. A maioria fica-se pela prata da casa”.

Toronto é uma cidade do mundo Diferentes comunidades continu-am a fixar-se nesta metrópole de 4 milhões de habitantes, onde se es-tima que portugueses sejam per-to de 300 mil, “uma comunidade

bem vista pelos governantes pro-vinciais e federais”. A maioria che-gou há muito tempo, constituiu ne-gócio, agarrou uma carreira laboral e viu a família crescer e ganhar raí-zes.Talvez por isso, poucos pensem em voltar. Há jornais, rádios e tele-visões portuguesas. Há uma rua dos portugueses onde os reclames fa-lam duas línguas. Uma outra com um painel de azulejos e uma estátua de homenagem ao poeta Camões. Há uma Casa do Benfica e um Nú-cleo do Sporting. No entanto, é no número 1130 da Dupont Street que há uma porta aberta para os alen-tejanos repartirem a saudade e en-contrarem um pouco da sua terra. É aí que fica a sede da Casa do Alen-tejo, um espaço amplo e acolhedor, com serviço de bar e restaurante, sala de espectáculos, a galeria Al-berto de Castro e outras instalações, que continuam a receber o entusias-mo dos que aí procuram o convívio,

“Há entusiasmo, não o mesmo dos primeiros tempos, mas também te-mos que compreender que as pesso-as se modificam. Passados 25 anos muita coisa mudou, as pessoas en-velhecem, temos que enfrentar a re-alidade. Para os nossos filhos a Casa do Alentejo não lhes diz aquilo que nos diz a nós.” Mesmo com cenário diferente nos dias de hoje, os mem-bros mais velhos comungam que é sua responsabilidade continuar a ensinar à juventude o valor das suas tradições e da cultura, assim como o sentimento de comunidade que forma a Casa do Alentejo. Muitos jovens luso-canadianos aí cresce-ram, tiveram na Casa do Alentejo, em determinada fase da sua vida, a

sua segunda casa, por isso, a apos-ta em não perder o sentimento de pertença é um desafio para o futu-ro. O facto de nos cargos dos orgãos de gestão se encontrarem jovens de segunda geração, como é o caso da Presidente da Direcção, evidencia essa preocupação.

Mas o Alentejo não é excepção, muitas outras regiões (Beiras, Mi-nho, Açores, etc.) têm na cidade as suas casas, o que fez com que sur-gisse um organismo denominado de Aliança dos Clubes e Associações Portuguesas do Ontário, onde Ma-ria Rosa é vice-presidente do Con-selho de Presidentes. “Trata-se da cúpula de todos os clubes existentes, que procura estabelecer o diálogo e a unidade associativa entre os mem-bros e que assume especial impor-tância nas Comemorações do Dia de Portugal (10 de Junho)”, uma enorme festa marcada por uma pa-rada que percorre algumas artérias da cidade.

Terminada que está a Semana Cultural, Maria Rosa e a equipa que integra têm pela frente a programa-ção do XXV Aniversário da Casa do Alentejo, que irá acontecer em Feve-reiro de 2008: “Nós queremos fazer uma retrospectiva do que fizemos durante estes 25 anos. Gostaríamos de ter um pouco de tudo do nosso Alentejo, para divulgar a nossa ri-queza e demonstrar à comunidade que continuamos a ter capacidade

para trabalhar.” Ao longo do tem-po a actividade dinamizada contou com o apoio de diferentes entidades, com destaque para as Câmaras Mu-nicipais: “continua a existir um tra-balho de parceria e hoje muitas das autarquias são sócias colectivas da Casa do Alentejo.”

Toronto, capital da província do Ontário, é a maior cidade do Ca-nadá. Situa-se na margem norte do Lago Ontário e é considerada uma das cidades mais dinâmicas da América do Norte, atraindo milhares de de imigrantes anual-mente, desde a década de 1850. É actualmente o “motor da econo-mia do Canadá”, assumindo-se como uma cidade global que exer-ce significativa influência a ní-vel nacional e internacional pelo facto de ser um centro financeiro, bem como um dos principais cen-tros culturais e científicos. Possui um dos melhores padrões de vida da América do Norte, sendo para muitos uma das melhores metró-poles do mundo para se viver.

Toronto é uma cidade multicul-tural e que faz desta coabitação uma mais valia, reservando es-paço para as vivências especificas das comunidades. É nesse contex-to que os alentejanos dinamizam a sua cultura e ultrapassam a barrei-ra da distância. No calor do conví-vio, no nº 1130 da Dupont Street, o Alentejo fica ali tão perto.

Casa do alentejo em toronto

O Alentejo ali tão pertoA Câmara Municipal de Castro Verde associou--se à XXIII Semana Cultural da Casa do Alentejo em Toronto, edição que assinalou o regresso da castrense Maria Rosa Contreiras à actividade da associação.

Maria Rosa Contreiras

Actuação Violas Campaniças

noTícIA �

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Como descreveria os seus tempos de liceu em Castro Verde? Já mantinha, nesta fase dos seus estudos, um encantamento pela poesia? Sente que estes tempos foram também um incentivo para aquele é hoje o centro dos seus estudos?

Sempre gostei muito de frequen-tar a escola e de aprender tudo o que pudesse aprender. Os anos passa-dos no Colégio, em Castro Verde, foram de uma permanente desco-berta, quase poderia dizer deslum-bramento. Era o mundo que se abria! Numa época tão cinzenta e numa vila tão fechada e sufocante como era Castro Verde nessa altu-ra, o único caminho para a liberda-de de espírito era mesmo estudar e ler tudo o que apanhasse à mão. Às vezes, em casa, perguntavam-me de que disciplina gostava mais e eu hesitava, porque me parecia difícil escolher entre História, Português, Geografia, Inglês, Francês, Ciên-cias, apesar de ter tido sempre uma maior inclinação para as Letras. Por isso, posso dizer que tudo o que fui aprendendo, mesmo até com os professores menos preparados, foi um incentivo para continuar a estu-dar. O meu primeiro contacto a sé-rio com livros de poesia surgiu, no entanto, com a biblioteca itinerante da Gulbenkian. Lembro-me de re-quisitar alguns e copiar os poemas ou versos que mais me tocavam para uma agenda que eu tinha com o mapa de Portugal. Quando pen-so no que teria podido ler, se existis-se uma bela biblioteca como a que existe hoje na nossa terra…

Como surgiu este interesse pela investigação da obra literária de Fernando Pessoa?

Tudo começou quando estava a fazer um mestrado em Literatura na Faculdade de Ciências Sociais e Hu-manas, por volta de 1988, data do 1º centenário do nascimento de Fer-nando Pessoa. Teresa Rita Lopes, grande especialista da obra pessoa-na, era minha professora e sugeriu que nos dedicássemos à pesquisa do espólio do poeta. Era essa, na sua opinião, a melhor forma de come-morar o seu nascimento: conhecer e dar a conhecer aos outros o mui-to que permanecia ignorado da sua obra. É certo que eu já tinha contac-to com a poesia de Pessoa, e estuda-va-a, porque estava a dar, há alguns anos, aulas do 12º ano de Literatura

Portuguesa, mas o que fui (fomos) descobrindo no espólio ultrapassa-va tudo o que eu podia supor.

Como é que Fernando Pessoa é, na sua perspectiva, encarado pela sociedade? É lhe dado o devido valor nas escolas, a nível curricular, ou sente que a sua obra passa um pouco despercebida no contexto actual?

A mim, parece-me que Fernando Pessoa continua a ser muito pouco conhecido, embora muita gente lhe saiba o nome e até identifique bem a sua figura. Alguns sabem quem foi, que escreveu em nome de mais três personalidades, leram poemas da «Mensagem», sabem talvez de cor alguns versos que se tornaram qua-se provérbios, como aquele «Tudo vale a pena, se a alma não é peque-na». Uns vêem-no como um lou-co, bêbado e miserável, porque ou-viram dizer; outros acham que era um bocadinho fascista; outros, que

escrevia de uma forma muito com-plicada e incompreensível. Tudo isso, evidentemente, tem muito de fantasioso.

Conhecer melhor a sua biografia e, sobretudo, ler o que escreveu, evi-taria estas apressadas conclusões. Infelizmente, em Portugal, lê-se muito pouco, as pessoas contentam-se com o que ouvem dizer, não têm grande gosto pela cultura em geral e muito menos ainda pela poesia. De qualquer modo, o facto de fazer par-te do currículo escolar tem levado as novas gerações a estudar e a inte-ressar-se pelo poeta. Tenho encon-trado muita gente jovem que fica encantada com os heterónimos. Te-nho também muitos alunos estran-geiros que vêm para Portugal para estudar Pessoa e que são incentiva-dos a estudar português para o po-derem estudar no original. Neste momento, não sei se Fernando Pes-soa não será mais apreciado no es-trangeiro do que em Portugal.

Fernando Pessoa foi uma das personagens que mais profundamente marcou a literatura e a cultura portuguesa do século XX. A Manuela tem centrado a sua investigação na obra pessoana. No que consiste concretamente a sua pesquisa e como descreveria todo o trabalho que tem desenvolvido em torno do poeta?

O meu trabalho (e da equipa em que me integro) consiste, fun-damentalmente, em decifrar, en-tender e organizar os papéis que Fernando Pessoa deixou e que constituem o seu espólio (compra-do à família depois da sua morte e depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa). São cerca de 27 mil do-cumentos: rascunhos de poemas e outros textos em prosa (contos, pe-ças de teatro, ensaios sobre os mais variados temas, traduções), esbo-ços, projectos de obras a escrever e a publicar, planos de vida, aponta-mentos, notas, recortes de jornais,

contas de alfaiate, horóscopos, car-tas recebidas e cópias de cartas en-viadas, mas também poemas e tex-tos em prosa acabados e passados e passados a limpo, originais manus-critos e dactilografados de parte da sua obra publicada em vida, etc., etc. É preciso identificar os fragmentos, tentar perceber a que obra se desti-nariam, o que nem sempre é claro e, evidentemente, ler o que lá está es-crito… Outra das vertentes do meu trabalho, consiste em republicar textos já conhecidos, depois de con-frontados com os originais do autor, tentando portanto corrigir ou pro-por leituras que parecem ser mais correctas.

Editar Fernando Pessoa passa certamente por um trabalho minucioso de análise. Como lidou com o carácter fragmentário da escrita pessoana e a multiplicidade de suportes, como as folhinhas tiradas de mini blocos de papel, os grandes recortes de imprensa, os cartões de visita e os diversos envelopes?

É, de facto, um trabalho de minú-cia e de grande paciência. A grande dificuldade está precisamente em decifrar a letra de Pessoa. Por vezes, as palavras são escritas nas mar-gens, com palavras alternativas nas entrelinhas. Regra geral, o texto vai diminuindo de legibilidade à medi-da que avança na folha. Ficam mui-tas vezes frases incompreensíveis, a que é preciso voltar várias vezes,

uma e outra vez, às vezes durante meses, nem sempre com total sa-tisfação. É também uma questão de treino e, sobretudo, nunca desistir… Depois, nem sempre a articulação dos textos é linear. É fundamental ir percebendo os hábitos de escri-ta do autor. Conhecer cada vez me-

Depois da ciência, a literatura é o tema em destaque neste ciclo de entrevistas dedicado a castrenses envolvidos em projectos de investigação científica. Manuela Parreira da Silva é natural de Castro Verde e a segunda entrevistada deste ciclo. Fernando Pessoa é o seu objecto de estudo e de constante pesquisa. Há já alguns anos que escreve poesia, tendo publicado parte da sua obra em revistas e na editora Assírio & Alvim.

Actualmente, dedica-se ao estudo do espólio pessoano, nomeadamente à fixação e edição de textos do poeta, bem como à investigação da sua correspondência, a qual resultou na obra “Correspondência 1905-1935”, editada em dois volumes. Em entrevista ao “Campaniço” fala-nos de um dos mais brilhantes poetas

portugueses do século XX - Fernando Pessoa.

CICLO DE ENTREVISTAS

SANDRA POLICARPO

Compreender Fernando Pessoa

“(...) nada se consegue sem esforço. Neste campo de investigação, como noutro qualquer, a persistência, a paciência e o amor ao conhecimento são imprescindíveis.”

Manuela Parreira da Silva

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

lhor a sua obra ajuda a pesquisa, e a pesquisa ajuda a conhecer cada vez melhor a sua obra. Mas só assim se pode pretender editar a sua obra de uma forma credível. Lembro que as primeiras edições póstumas, feitas talvez com alguma pressa, contêm muitos erros e discrepâncias que eram, se calhar, inevitáveis, pois só um continuado contacto com o es-pólio pode dar resultados aceitáveis.

Para além dos fragmentos da sua escrita e da sua incompletude, que outras dificuldades encontrou aquando da organização do espólio de Fernando Pessoa?

Uma grande dificuldade é, por ve-zes, reconhecer «quem» escreveu este ou aquele texto. Como se sabe, Pessoa desdobrou-se em três hete-rónimos e em muitas personalida-des literárias. Por vezes, indicava a obra a que se destinava o fragmen-to ou o nome (completo ou em ini-ciais) do seu «autor»: Livro do De-sassossego, Regresso dos Deuses, ou Ricardo Reis, Álvaro de Cam-pos, Alexander Search, António Mora, por exemplo. Mas, a maioria das vezes, isto não acontece. É o in-vestigador que acaba por ter de atri-buir essa autoria, o que, se em mui-tos casos se pode fazer com elevado grau de confiança (atendendo ao es-tilo da escrita), noutros casos é ex-tremamente difícil. Uma outra difi-culdade tem que ver com a decisão sobre que textos devem ou não ser publicados. Será legítimo publicar textos incompletos, com muitas la-cunas? Interessará ao leitor conhe-cer as obras menos conseguidas? São perguntas que constantemente se nos deparam.

O corpus pessoano atrai cada vez mais investigadores, dada a dimensão inacabada e múltipla da sua obra literária. É de prever que o seu trabalho continuado torne gradualmente conhecida quase toda a produção de Pessoa?

Convém esclarecer que muitas pessoas foram trabalhando o es-pólio de Pessoa, ao longo dos anos. Este trabalho não poderia nun-ca ser realizado por uma só pes-soa. A equipa a que pertenço (diri-gida pela Prof. Teresa Rita Lopes) integra uma meia dúzia de «ope-rários», nem tanto, mas há outras pessoas, algumas estrangeiras, que trabalham nessa tentativa de dar a conhecer «quase toda» a produção pessoana. Mas, a mim parece-me que seriam precisas muitas mais. Sobretudo, seria importante que houvesse gente não só do campo da literatura, mas de outros domínios, preparada para poder compreen-der o alcance e aferir o valor de tudo quanto Fernando Pessoa escreveu, em português e inglês, no plano da filosofia, sociologia, maçonaria, esoterismos vários, astrologia, etc.

Como se liga a poesia de Pessoa à sua correspondência? As cartas são também espaço de criação?

Pude estudar com bastante pro-fundidade a correspondência de Fernando Pessoa, com vista à mi-nha tese de doutoramento que inci-diu sobre esse tema. Uma das con-

clusões a que cheguei foi essa: há uma continuidade entre a escrita li-terária e a escrita de uma carta. Não é assim tão diferente como se pode-ria pensar. Escrever é um acto cria-tivo, solitário, mesmo que exista no horizonte um destinatário real ou fictício. Pessoa escreveu também muitas cartas de ficção, e, nas cartas realmente dirigidas aos amigos, ir-rompe muitas vezes um sujeito po-ético.

A correspondência denota também essa poética do fingimento tão característica da sua poesia?

Como dizia, as cartas são propí-cias á ficção, ao «fingimento», até porque o destinatário não está pre-sente. Encontrei, por exemplo, con-tradições, entre cartas enviadas e os rascunhos delas. A própria exis-tência de tantos rascunhos de cartas mostra que escrever cartas é uma actividade muito pouco espontânea (pelo menos para Fernando Pes-soa). O interessante é que ele afirma, com frequência, aos seus interlocu-tores, que está a escrever ao correr da pena ou da máquina, sem pen-sar muito… O que não é verdade. Há uma grande preocupação em esco-lher as palavras, em escrever de uma forma que deixe o destinatário bem impressionado. É humano… Escre-ver é «outrar-se», como ele diria, é ser outro, é ver-se de fora, conhecer-se e dar a conhecer uma faceta de si aos outros. Em verso ou em carta.

Tendo em consideração o contacto que tem tido com a sua escrita, como o descreveria na sua personalidade de homem/poeta?

Parece-me que no caso de Pessoa é difícil separar o homem do poeta. Ele vivia certamente para a sua obra. Até a sua relação amorosa com Ofé-lia Queirós foi interrompida por ele com esse argumento. O seu destino não podia ser a vida banal, «quoti-diana e tributável» das pessoas co-muns. Estava destinado a outra for-ma de existência e, por isso, não podia distrair-se com o amor. Era também com certeza um homem de grandes projectos, que teria depois alguma dificuldade em concreti-zar. Isto não será para admirar, pois, para realizar todos os projectos que nos deixou esboçados no seu espó-lio, precisaria de mil vidas, e ele só teve uma, bem curta.

Na carta a Adolfo Casais Monteiro, Fernando Pessoa escreveu: «A origem dos meus heterónimos é o fundo traço de histeria que existe em mim». Pessoa foi o maior e o mais conhecido exemplo da produção de heterónimos, despersonalizando-se, dividindo-se em autores vários e de cuja obra era ele o executor. Como podemos compreender essa capacidade de multiplicidade em Fernando Pessoa?

Pessoa auto-diagnosticou-se muitas vezes. Talvez esta sua capa-cidade extraordinária de se desdo-

brar em tantos autores o tenho sal-vado da loucura. Vivendo e dando expressão a cada uma das suas par-tes, esta foi também uma forma de alcançar a unidade do seu ser dis-perso. E assim, ele construiu «toda uma literatura». A verdade é que Pessoa é muitas pessoas (se calhar como todos nós, só que nos empe-nhamos em parecer uma só, coe-rente, normalzinha…) e estudar a sua obra é estudar, pelo menos, seis ou sete grandes obras. É isso, de res-to, que faz dele um caso único na li-teratura e que atrai a atenção de es-tudiosos e leitores de todo o mundo.

A Manuela editou, juntamente com Ana Maria Freitas e Madalena Dine, a obra ortónima de Fernando Pessoa, numa publicação que se divide em três volumes. O que exprime objectivamente a poesia ortónima do poeta?

A poesia ortónima (assinada com o seu próprio nome) é também ela multifacetada. Há muitas linhas de leitura possíveis: há poemas rima-dos, segundo uma estrutura per-feitamente tradicional; há poemas longos, dentro de uma lógica mo-dernista; há poesia filosófica ou filo-sofante e poesia satírica; há quadras populares e versos de circunstân-cia feitos para as crianças da famí-lia e grandes poemas líricos, de uma densidade enorme. Por grande par-te dos seus versos ortónimos (mas não só) perpassa um sentimento profundo de solidão essencial, de insatisfação, de saudades da infân-cia e do futuro, uma permanente interrogação do real e da transcen-dência.

Esta edição dá conta da evolução do autor…

Até certo ponto, sim, pois apre-senta, de forma cronológica, a maior parte da sua produção, des-de 1902 até 1935, ano da sua morte. Podemos ter acesso aos inúmeros poemas da juventude e ir acompa-nhando a biografia da sua obra. Por outro lado, embora, como é natural, encontremos poemas algo incipien-tes, próprios de um jovem que es-tava a aprender a escrever em por-tuguês (já que passou a infância e adolescência na África do Sul, e es-tudou em escolas inglesas), encon-tramos também poemas de grande qualidade e de grande profundida-de, que anunciam e definem o gran-de poeta em que se tornaria. Mas é bom não esquecer que o próprio Fernando Pessoa disse, muito mais tarde: «Não evoluo. Viajo». Nesta edição, creio que podemos acompa-nhar a sua «viagem».

Fernando Pessoa possuía ligações com o ocultismo e o misticismo, salientando-se a Maçonaria e a Rosa Cruz (embora não se conheça qualquer filiação concreta em Loja ou Fraternidade destas escolas de pensamento). Estas ligações são visíveis na sua escrita? De que forma se manifestam?

Esta é uma vertente da obra de F. Pessoa que não está ainda sufi-cientemente estudada. Há milha-res de páginas escritas sobre esses assuntos, no seu espólio. Infeliz-

mente, muitas das pessoas que a têm abordado, têm dificuldade em estudar os contributos de Pessoa com algum distanciamento intelec-tual. Querem à força encontrar nas suas palavras uma filiação que vá ao encontro da sua própria (dos in-vestigadores), o que distorce muitas vezes a realidade. Também neste campo, é preciso conhecimentos de ocultismo que permitam reconhe-cer a importância e o sentido daqui-lo que é dito. Mas, sem dúvida, que não podemos estudar a obra de Pes-soa ignorando esta vertente. Para além das páginas dedicadas aos re-feridos temas, há muitos reflexos deles na obra literária pessoana: re-ferências a personalidades do cam-po esotérico, reflexões sobre a alma oculta do ser e do universo, uso de símbolos, para além de poemas as-sumidamente esotéricos. Creio até que uma explicação para a obra pes-soana no seu todo pode passar por uma leitura desta natureza, como já tem sido feita e que resulta muito estimulante.

Sendo natural de Castro Verde e, considerando este trabalho um estímulo e um exemplo para os jovens do concelho e do país, que queiram enveredar por esta área, que conselho lhes daria?

Uma coisa muito importante, a ter sempre presente, é que nada se consegue sem esforço. Neste campo de investigação, como noutro qual-quer, a persistência, a paciência e o amor ao conhecimento são impres-cindíveis. Se se estiver a pensar em ganhar muito dinheiro, e ainda por cima «com uma perna às costas», que parece ser, nos tempos actuais, o único objectivo a alcançar, não vale a pena enveredar por esta área. É igualmente importante que o in-vestigador saiba assumir os seus er-ros e esteja sempre disponível para aceitar as críticas como bem-vindas. Não parecerá talvez muito importu-no dizer que o esforço, a vontade de aprender e a alegria intensa da des-coberta são um grande espaço de fe-licidade. E isto todos queremos, no-vos e menos novos…

Poema após poema, íntimo, escreviaAquela grande obra do seu serQue nunca em tempo algum alguém leriaE que ele via o universo a ler.

Era mais que poeta: era profeta,E em seus versos errados e divinosToca o rebate o que nele era poeta,Mas numa torre que não tinha sinos.

Viveu assim, feliz do que escreveu,Morreu, deixando a obra como sobraDa alma que fora… Mas, meu Deus, e eu?Eu que nem tenho a fé nem tenho a obra?

Fernando Pessoa13 Agosto1934

Manuela Parreira da Silva nasceu em Castro Verde, em 28 de Outu-bro de 1950 e doutorou-se em Li-teratura Portuguesa na Faculdade de Ciências Sociais e humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 1999.

é Professora auxiliar do Departa-mento de Línguas e Literaturas Ro-mânicas da Faculdade de Ciências Sociais e humanas, onde lecciona Teoria da Tradução e Teoria e Prá-tica da Tradução Literária. Perten-ce ao Instituto de Estudos sobre o Modernismo, orientado pela Pro-fessora Doutora Teresa Rita Lopes, dedicando-se, nomeadamente, à investigação do espólio de Fernan-do Pessoa e outros modernistas. Tem trabalhado na fixação do tex-to, selecção, introdução e notas de diversos textos de que se destaca a Correspondência Inédita de Fer-nando Pessoa .

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Os cereais voltam a estar na ordem do dia. Não há cere-

ais no mundo e tudo devido à polí-tica energética do Estados Unidos, que também pode mudar, basta o novo presidente americano, que aí vem, mudar a política para tudo se alterar. “A subida dos cereais vai in-flacionar toda uma cadeia. No Cam-po Branco somos perdedores por-que a nossa campanha de cereais do ano passado foi péssima e esta-mos a comprar cereais e rações a preços muito caros. Neste saldo es-tamos a perder”, considera José da Luz, presidente da Associação de Agricultores do Campo Branco.

José da Luz está há 35 anos na ac-tividade agrícola e não se lembra de uma situação como a que hoje se vive: “O mundo está a passar por uma falta abismal de cereais, devi-do à sua utilização para biocombus-tíveis, o que nos leva a concluir que terrenos que não eram propícios à sementeira de cereais, o sejam mui-to brevemente dada a escassez dos mesmos, até porque os melhores terrenos de cereais do Alentejo têm sido, nos últimos tempos, planta-dos de olivais”.

“Neste momento há já dificulda-de em arranjar cereal para o consu-mo humano. Isso começa a ser bas-tante preocupante. Por isso, este ano, o “setaside”, ou seja, os terre-nos que ficavam sem ser cultiva-dos, mas cuja área era paga, acabou. Nesta campanha essa terra já pode ser semeada, ou pastoreada, devido precisamente à grande falta de ce-reais. Outra situação grave que está a acontecer é o aumento substan-cial do preço das rações que começa a ser incomportável para os produ-tores pecuários” acrescenta José da Luz, dizendo que esta situação tor-na a vida dos agricultores do Campo Branco ainda mais complicada.

E explica porquê: “(...) no ano passado mal conseguimos semear. Houve pouco cereal e os agriculto-res desta zona, para fazerem as suas sementeiras, têm que comprar ce-reais a preços muito altos. Por ou-tro lado, os combustíveis aumenta-ram de preço e os adubos também subiram muito, assim como as ra-ções para o gado. E a nossa situa-ção aqui no meio é muito difícil”.

À pergunta - neste contexto dos biocombustíveis, as regiões tra-dicionais na produção de cereais, como Castro Verde, poderiam sair

“Há uma falta extraordinária É conhecida a afirmação de que o bater de asas de uma borboleta na Ásia pode provocar uma tempestade na América. É uma imagem do mundo global em que vivemos. Também a decisão dos Estados Unidos de aumentar substancialmente a quota de biocombustíveis fez com que as reservas de cereais em todo o mundo estejam quase esgotadas e que o seu preço esteja a subir em flecha. Consequências que também já chegaram ao Campo Branco, mas onde, feitas as contas do deve e haver, o aumento do preço dos cereais não compensa o aumento dos factores de produção.

CARLOS JúLIO

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

a ganhar? - José da Luz considera que não é bem assim. As produções na região são fracas, e os aumen-tos decorrentes da falta de cere-ais vão atingir fortemente os agri-cultores. “ Esse problema já se põe hoje. Os preços estão exorbitan-tes. O pão já subiu, subiu o arroz, o leite. A carne é que não. E compre-endemos: se a carne subir não tem comprador.Tudo sobe: o preço dos combustíveis, os adubos, que tive-ram agora uma subida nunca antes vista, devido ao facto dos Estados Unidos semearem “todas as pon-tas” para a produção de biocombus-tíveis, inclusive áreas que já tinham abandonado. Estão também a com-prar todas as matérias-primas para a produção de adubos, daí que estes tenham subido avassaladoramen-te e isso já se faz sentir aqui. Os adu-bos actualmente estão mais caros 40% do que há um ano atrás”.

“Por vezes nãocompensa semear”

Mais jovens, José Fernando, Vas-co Canas e Carlos Colaço, também agricultores em Castro Verde, con-cordam com José da Luz e dizem que a situação é grave e que as sa-ídas são poucas, numa região so-bretudo de pecuária em extensi-vo, onde os cereais muitas vezes se destinam apenas a forragem e a pa-lhas. Para José Fernando “na nossa região, no distrito de Beja, os bons terrenos estão cultivados de olivei-ras e de vinha. Depois sobram os outros, que são os terrenos mais es-queléticos, mais ruins. Tem que ser um ano excepcional para se faze-rem aqui dois mil, dois mil e poucos quilos por hectare. De facto, com os biocombustíveis esses terrenos marginais podem ser aproveitados, mas há a questão dos custos para os cultivarmos. Está tudo alto, os com-bustíveis, os adubos e as produções são sempre fracas.” Carlos Cola-ço afina pelo mesmo diapasão. “Na maior parte dos casos nem sequer se justifica estarmos a semear um terreno marginal. Não compensa, por muito bom que seja o ano”.

Vasco Canas, no mesmo tom, rea-

firma, “este ano é verdade que o tri-go subiu. Houve trigo vendido a 20, a 40 e a 60 escudos, mas em con-trapartida os adubos num mês já aumentaram duas ou três vezes. O preço do que compramos sobe sem-pre mais que o preço daquilo que vendemos. A meu ver, a situação nunca esteve tão má como agora. Os preços dos factores de produção são muito elevados e o produtor é o que menos recebe: é ele que prepa-ra a terra, que semeia e tem que in-vestir, mas no final não tem garan-tia nenhuma de que o que recebe lhe dá para pagar as despesas”.

Para Carlos Colaço ainda há mui-tas incógnitas. “E se o preço do trigo agora está alto ninguém nos garan-te que no fim da campanha não haja um excesso de produção aqui ou ali ou uma mudança na política e que os preços não desçam de tal forma que mal dê para as despesas”. Essa é também a opinião de José Fernan-do. “É o que eu acho que vai aconte-cer. Não acredito muito nessa polí-tica energética. Já há muito tempo que ouvimos falar que as reservas de petróleo se estão a esgotar, será por isso que se estão a preparar com os biocombustíveis, mas na minha opinião ainda não se sabe muito bem o que vai acontecer”.

“Alterações forammais técnicas”

Apesar deste “renascimento” da produção de cereais, a região do Campo Branco tem tido na produ-ção cerealífera, desde sempre, uma das suas componentes principais. As alternativas têm sido poucas ou nenhumas. José da Luz refere que houve alterações, mas sobretudo nas técnicas e na maquinaria utili-zada. “As alterações que se verifica-ram foram mais técnicas, porque o que fazíamos antes é exactamente o mesmo que fazemos agora: cere-ais e pecuária em extensivo. Com a criação da Zona de Protecção Espe-cial estão-nos muito limitadas ou-tras alternativas, Não temos aces-so ao regadio, do mesmo modo que não nos é permitida a florestação. Daí que não tenhamos nem a alter-

nativa da floresta, nem a alterna-tiva de pomares ou de olivais. Isso limita-nos muito, sobretudo as ca-madas de agricultores mais jovens. Quanto a mim, embora não fosse em grandes áreas, podia-se dar a possibilidade a um jovem agricul-tor de fazer algum regadio que per-mitisse, por exemplo, o olival ou ou-tros pomares ou mesmo a produção de forragens”.

Aliás, o mal-estar com a ZPE e com as medidas compensatórias introduzidas pelo Plano Zonal pa-rece estar a crescer. “O Plano Zonal quando foi criado tinha bons objec-tivos só que, ao longo dos tempos, caiu muito na politiquice e sempre que há alterações no Quadro Co-munitário de Apoio o Plano Zonal é revisto. Dá ideia que o Plano Zo-nal flutua à maré da onda política. O que acontece é que um agricul-tor que adira ao Plano Zonal ao fim de 5 anos não sabe se vai continuar, já que desconhece as regras do jogo. Um agricultor duma área vizinha que faça floresta tem o problema garantido por 20 anos, com ajudas muito mais compensatórias. Em contrapartida, o agricultor do Pla-no Zonal que protegeu a paisagem e o ambiente, que contribuiu para a protecção da natureza, tem ajudas muito mais reduzidas e muito dis-tantes daqueles que fazem floresta. Foi uma luta que sempre travámos para que essas ajudas fossem simi-lares, mas que nunca conseguimos ganhar. E as informações que tenho sobre as ajudas para este novo ci-clo do Plano Zonal é que elas estão, mais uma vez, desajustadas”.

“O Plano Zonal épara esquecer”

Relativamente ao cenário actual, José Fernando é ainda mais pessi-mista. “Vou cumprir o último con-trato das agro-ambientais, que foi feito em 2004 e para o ano não sei se vou aderir às medidas que saí-ram agora. Pelo que li, aquilo vai ser muito complicado. Aqui na zona não se pode fazer nada. Eu sou agricultor em Castro Verde, se fos-se agricultor em Beja, se calhar, ti-

nha alternativas. Aqui não! Bastava ser em Ourique ou em Almodôvar. Com o Plano Zonal acabámos por ficar a perder. Primeiro, não pode-mos florestar. Agora praticamen-te nem temos Plano Zonal. Mesmo que queiramos vender aos espa-nhóis, que estão comprando tudo, eles não as querem porque não po-dem fazer regadio e, por isso, as ter-ras valem muito menos aqui do que fora do Plano Zonal”.

Para José da Luz “falou-se muito em substituição do cereal por ou-tro tipo de culturas, mas isso nun-ca aconteceu, nunca foi viável. Cul-turas alternativas ao trigo, à cevada e à aveia ou ao triticale precisam de água. Sem água não há quais-quer alternativas. A complementa-ridade aos cereais sempre foi a pe-cuária. Aqui predomina a pecuária extensiva e depois há o aproveita-mento de terras agrícolas para se produzirem complementos. O ce-real que produzimos, grande parte das vezes, é utilizado para o fabrico de rações para a própria explora-ção e para fenos e palhas. Em rela-ção à pecuária houve, a dado, mo-mento um aumento de bovinos, mas neste momento está estacio-nário. Os ovinos, no entanto, pre-valecem na região. Há 140 mil ovi-nos adultos, enquanto temos 22 ou 23 mil bovinas adultas. É um factor importante da economia das ex-plorações agrícolas”.

Mais jovens emais cultos

José da Luz diz que a região não tem vindo a perder agricultores. Pelo contrário. “Eu até acho que aqui o Campo Branco é das zonas onde aparecem mais jovens a virem para a agricultura, muitos deles já com cursos e mesmo licenciados, que vêm dar continuidade às explo-rações dos pais. Pena é que não pos-sam ter mais alternativas”.

E acrescenta: “Vivemos rodea-dos de papéis. É um absurdo. Os agricultores estão completamen-te exaustos de papéis. A carga bu-rocrática é imensa e não tem di-minuído. O que tem evoluído é a capacidade do agricultor e das suas organizações conseguirem mexer-se com toda essa papelada. Hoje já muitos agricultores, e não só a ca-mada mais jovem, recorrem à infor-mática e à Internet”.

Mas nem tudo está tão mau as-sim, refere José da Luz com uma ponta de esperança. “Considerando a nossa região como uma zona, não de terras marginais, mas de terras pobres, com as dificuldades e com a crise que tem estado latente, ori-ginada pelas condições climatéricas adversas, os agricultores têm evolu-ído bastante e têm procurado criar condições para poderem sobreviver e dar alguma dignidade ao futuro das suas famílias e da região”.

Reclamando por um Plano Zonal mais justo

de cereais em todo o mundo”

Desde o início do Plano Zonal de Castro Ver-de, em 1995, que a Liga para Protecção da Na-tureza (LPN) e a Associação de Agricultores do Campo Branco (AACB) têm desenvolvido um trabalho de parceria para a implementa-ção desta Medida Agro-Ambiental. O Plano Zonal tem desempenhado um papel crucial na manutenção de uma agricultura que promove a conservação de aves que estão ameaçadas mundialmente, funcionando como um instru-mento de gestão activa da biodiversidade e da conservação da natureza.

No Quadro de Programação Financeira

2000-2006, verificaram-se algumas altera-ções no Plano Zonal ao nível dos compromis-sos agrícolas e dos montantes de apoio pela perda de rendimentos e custos adicionais. Estas alterações financeiras tiveram um impacte muito negativo, pois o Plano Zonal deixou de compensar os agricultores pelo serviço ambiental prestado. Sendo a agricul-tura uma actividade económica e produtiva, rapidamente se verificou que outras opções, como a florestação de terras agrícolas ou o aumento dos efectivos pecuários, poderiam trazer mais rendimento que manter as práti-

cas agrícolas tradicionais previstas no Plano Zonal.

Conscientes da importância do Plano Zo-nal, a LPN e a AACB têm desenvolvido, desde Julho de 2006, um esforço para sensibilizar os decisores políticos da importância do Plano Zonal, solicitando um enquadramento mais justo no novo Quadro de Programação para 2007-2013, através do novo Plano de Desenvolvimento Rural Estas diligências culminaram com reuniões em Bruxelas com o Comissário do Ambiente e com a Comissá-ria da Agricultura, durante o passado mês de

Setembro, para sensibilizar a Comissão Euro-peia relativamente a todo o trabalho desen-volvido ao longo de mais de uma década pelos agricultores do Campo Branco na defesa da biodiversidade ameaçada.

A AACB e a LPN continuam, assim, zelosa-mente empenhadas na defesa de um Plano Zonal que reconheça o contributo inigualável que os agricultores do Campo Branco já efec-tuaram e que se deseja que continue.

Rita Alcazar(LPN)

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Foi no terceiro dia das tradicio-nais festas da aldeia que foi apre-sentado ao público o livro “Santa Bárbara de Padrões: Fragmentos da Memória”, a primeira publicação editada pela Junta de Freguesia. Na apresentação estiveram presentes Manuel dos Santos, Presidente da Junta de Freguesia de St.ª Bárbara de Padrões, Gonzala Santos, Presi-dente da Junta de Freguesia de St.ª

Bárbara de Casa (Andaluzia), Le-onardo Abreu, Presidente da Jun-ta de Freguesia de St.ª Bárbara de Nexe (Algarve), Paulo Nascimen-to, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Castro Verde e Miguel Rego, coordenador da publicação e autor de parte dos seus textos.

Segundo Manuel dos Santos “este livro dará aos leitores a possi-bilidade de conhecerem melhor a

freguesia, não só no ponto de vista histórico, mas também ao nível da geologia, das questões ambientais e do território”.

A publicação nasceu no âmbito de um projecto regional transfronteiri-ço que dura há já três anos e que tem permitido o aprofundar de conheci-mentos e o contacto com a realida-de destas freguesias que partilham em comum o mesmo topónimo. De

acordo com Leonardo Abreu, “o objectivo deste projecto era tornar mais conhecida a história das nos-sas freguesias, enquanto factor de-terminante para a identidade de cada um de nós”.

A primeira fase desta colaboração entre as três Santas Bárbaras aca-bou por ser o aprofundar do patri-mónio histórico e cultural de cada uma das freguesias, resultando em

cada uma delas na concretização de um livro. Para breve aguarda-se a realização de outras actividades, nomeadamente de carácter recrea-tivo e cultural.

Três dias de pura festa que, a par da apresentação da edição, ficaram marcados pelo convívio e pela pre-sença dos emigrantes da terra que reviveram uma vez mais a animação característica da sua freguesia.

CD pela preservação da caipira e campaniça

Conheceram-se há apenas um ano mas a cumplicidade que os une parece existir desde sempre. Em comum, partilham uma sonorida-de rústica, profunda, característica da região onde nasceram. Foi nes-ta perspectiva de afinidades que a campaniça de Pedro Mestre se cru-zou com a caipira de Chico Lobo, tocadores de viola mas também percursores de um processo de va-lorização e divulgação destes ins-trumentos.

Depois do encontro que encheu a antiga Fábrica, em Castro Ver-de, Chico Lobo e Pedro Mestre edi-taram recentemente o CD “Encon-tro de Violas”, numa homenagem à música que os une. Um álbum que é não só o registo inédito do (re) en-contro entre a cultura portuguesa e brasileira, mas também a soma da viola caipira de Chico Lobo com a viola campaniça de Pedro Mestre como símbolo da união entre os po-vos.

“Encontro de Violas” foi idealiza-do na Sete e é uma co-produção en-tre a Associação de Cante Alenteja-no os Cardadores (ACA) e a Viola Brasil Produções. Nas palavras de Chico Lobo o resultado da gravação deste CD é como um reencontro en-tre mãe e filha. “A viola caipira é fi-lha da viola campaniça. Têm uma li-gação umbilical. A caipira deixa de

ser órfã e a campaniça ganha novo sentido’’

Em Agosto, Pedro Mestre regres-sou ao Brasil para apresentação do CD, juntamente com Chico Lobo, numa tournée que se prolongou até ao mês de Setembro e que per-correu várias regiões do Brasil, des-de Minas Gerais, S. Paulo e Para-ná. Contudo, o lançamento do disco não se limitará ao Brasil. Em 2008, será a vez de Chico Lobo regres-sar a Portugal para outros “encon-tros” na companhia de Pedro Mes-tre. Tudo em prol da divulgação de duas culturas que se interligam e complementam. O CD é prova des-se trabalho conjunto pela preserva-ção e valorização das duas violas en-quanto tradições em ascensão.

O início de uma grande amizade

Foi em Serpa, no III Encontro de Culturas, em 2006, que os dois violeiros se cruzaram pela primei-ra vez. Chico Lobo, natural de São João Del Rei, compositor e canta-dor mineiro, curioso pela história da campaniça, partiu em busca de Pedro Mestre. Hoje encara esse en-contro como “um grande aconteci-mento que ocorreu na vida de am-bos”. Ainda em Serpa, durante a sua actuação no III Encontro de Cul-turas, Chico Lobo convidou Pedro Mestre a subir ao palco, para uma participação especial, de improviso:

“Encontramo-nos em Évora onde o Pedro me falou de todo o trabalho que se realiza aqui em Castro Ver-de ao nível do ensino e da constru-ção da viola campaniça. Durante o meu concerto em Serpa convidei-o a tocarmos algo juntos. Quando eu bati na viola, e o Pedro bateu na vio-la, percebemos que havia qualquer coisa em comum. E tudo de impro-viso… O público ficou emocionado. Trouxe algo da memória. Recordou a campaniça que faz parte da iden-tidade do Alentejo. Voltei ao Brasil convicto que precisava de trazer o Pedro ao Brasil”.

E assim foi… Três meses depois actuavam juntos pelo estado de Mi-nas Gerais. Foram notícia de pri-meira página. Tempos mais tarde, Serpa decidiu convidar os dois mú-sicos para um espectáculo a dois, naquele que seria o IV Encontro de Culturas. Desde então, decidi-ram iniciar juntos um trabalho de resgate cultural das violas caipira e campaniça. Conscientes do papel

que juntos poderiam desempenhar pela preservação, divulgação, va-lorização destas culturas que se in-terligam, Chico Lobo e Pedro Mes-tre decidiram percorrer Portugal e o Brasil.

Chico Lobo tinha apenas 7 anos quando contactou pela primeira vez com a cultura da viola. Hoje é pioneiro da caipira no Brasil e uma referência da música de tradição.

“Quando o meu pai recebia em nos-sa casa as Folias de Reis, que são acompanhadas de variados ins-trumentos, sendo o principal a cai-pira, eu ficava deslumbrado com o seu toque. Cresci ouvindo isso e foi assim que aos 14 anos tive a mi-nha primeira viola e passei a tocar e a aprender sozinho.” Uma paixão que foi crescendo e que se mate-rializou verdadeiramente quando Chico Lobo se mudou para a capi-tal de Minas Gerais. Aí começou a pesquisar a viola e a aprender com os mestres, os violeiros dos grotões, que lhe ensinaram o universo da

viola e as raízes profundas que ex-plicam a sua origem.

Artisticamente lançou o seu pri-meiro trabalho em 1996. Em 1997 aventurou-se pela Itália, onde rea-lizou dez espectáculos, despertan-do aos poucos o interesse da críti-ca sobre aquele novo violeiro que chegava com a caipira às costas. Hoje, a viola é tocada no Brasil in-teiro, atravessando um período de grande ascensão na música popu-lar brasileira, agregando em seu redor uma cultura popular tradi-cional, de riqueza e de valor inesti-mável para a humanidade.

Pedro Mestre e Chico Lobo, mú-sicos que através das cordas das suas violas tocam prosas mineiras e alentejanas conduzindo o públi-co numa viagem através das cara-velas da história. Uma fusão que Chico Lobo encara como impres-cindível por considerar que juntos podem “desenvolver um maior tra-balho de valorização destes instru-mentos.”

Um encontro de violas que resultou na incursão pela cultura de dois países. Um encontro que juntou Pedro Mestre e Chico Lobo e que agora resultou na edição de um CD.

cUlTURA 1�

viola Campaniça e viola Caipira

Encontro de Culturas

santa bárbara de padrões

“Fragmentos da Memória”Quem passou por Sta. Bárbara de Padrões no último fim-de-semana de Agosto não ficou indiferente à festa: o cartaz diversificado, aliado ao espírito popular, esteve à medida de todos. A apresentação da primeira edição da freguesia “Santa Bárbara de Padrões: Fragmentos da Memória” foi este ano um dos grandes momentos das festas.

Pedro Mestre e Chico Lobo

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edição de dvd

Baldão na Feira de Castro

Castro Verde vestiu-se de gala, uma vez mais, para receber os milhares de pessoas que

anualmente acorrem a uma das mais antigas e tradicionais feiras do Sul do país.

Domingo, foi como sempre o grande dia, mas o espectáculo evo-cativo deste momento históri-co aconteceu logo na sexta à noite. “Encontro na Feira” encheu o Cine-Teatro Municipal e levou a palco os “Ganhões”, “Maio Moço” e o fadista António Zambujo. Momentos mu-sicais distintos, mas largamente aplaudidos pelo público.

Estava dado o “pontapé de saída”

para uma das maiores feiras do país. Das principais ruas da vila até ao Largo, o espaço de mostra, compra e venda de produtos, trouxe milhares de forasteiros que encheram as ruas formando um mar de gente. O Sol inundou este ano a Feira de Castro, dificultando o negócio aos vende-dores de guarda-chuvas e agasalhos para o Inverno. Mas será sempre as-sim: faça chuva, ou faça sol, haverá sempre quem não goste!

No sábado, dia 20, a Banda da Sociedade Recreativa e Filarmó-nica 1º de Janeiro saiu à rua pelas principais artérias da vila e à tar-de cumpriu-se a tradição em mais

uma “Planície a Cantar” com des-file de grupos corais alentejanos. À noite, no Restaurante Solposto foi a vez do “XVII Encontro de Toca-dores de Viola Campaniça e Can-tadores de Despique e Baldão” ho-menagear esta forma de cantar de improviso.

No Domingo a feira revelou-se, em toda a sua exuberância, com as amêndoas e os figos secos do Algar-ve, os pêros e as maçãs, as gulosei-mas, mas também as ultimas ten-dências em roupa e sapatos.

Para o ano há mais, com a certe-za que esta é uma tradição que está para durar. z

Feira de Castro 2007

mais um ano!

O tradicional cante alentejano, o fado, e os ritmos tradicionais “encontraram-se” este ano num espectáculo que marcou o arranque de mais uma Feira de Castro. Pelas ruas apinhadas de gente, houve desfile de grupos corais que, a passo lento, entoaram a genuinidade do seu cante. Houve folclore algarvio e cante ao baldão. Tudo ao sabor de mais uma tradicional Feira de Castro.

cUlTURA 1� setembro/outubro 2007 O CampaniçO

“Baldão na Feira de Castro”. Assim se intitula o documentário editado em DVD pela Câmara Municipal de Castro Verde, durante a Planí-cie Mediterrânica 2007. A apre-sentação aconteceu no Fórum Mu-nicipal, no dia 13 de Setembro e foi transmitida em directo pela Rádio Castrense, no programa “Patri-mónio”. O documentário, produ-zido por José Luis Jones, reúne

imagens recolhidas no encontro de baldão que aconteceu na Feira de Castro 2006, e é fruto de uma parceria entre a Cortiçol, a Câma-ra Municipal e José Luís Jones. Com apenas 18 minutos de grava-ção, este breve documentário re-úne à mesa cantadores de baldão e tocadores de viola campaniça e estabelece a relação desta mani-festação com a última grande fei-

ra do sul, outora palco de grandes desafios de despique e baldão que animavam as muitas noites que durava a feira. Fruto de uma or-ganização diferente que já se tor-nou tradição na feira de hoje, o conjunto de imagens assume-se como um documento importante para a memória cultural da região e como uma introdução importan-te para um primeiro contacto com

o cante ao Baldão, procurando di-vulgar de modo pedagógico esta tradição.

Depois da apresentação do DVD, seguiu-se um encontro de cante ao baldão, onde se reviveu a proeza deste “canto de impro-viso”, onde os muitos cantadores presentes responderam com rapi-dez e imaginação aos motes obri-gatórios.

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Agora que o Outono chegou, é tempo de fazer o balanço das actividades que marcaram este Verão. Paralelamente aos ATL’s infantis, a Câmara Municipal de Castro Verde promoveu nestes meses o projecto“RIR em Movimento” para animar as horas vagas de pessoas com mais de 55 anos. Projectos para todas as idades que levaram a animação fora de portas.

***1. Este é o primeiro ano em que participas

nos Atl’s?2. Porque é que decidiste participar?3. O que é que mais gostaste nestes Atl’s?4. Foste tu quem quis inscrever-se nos

Atl’s ou foram os teus pais?5. O que aprendeste de novo nos Atl’s

deste ano?6. E agora que os Atl’s encerraram, vais

sentir saudades? 7. Para além das actividades na piscina,

do cinema e das visitas, em que outras actividades gostavas de ter participado?

Marta Marques 1 2 anos

1. Não, já não é a primeira vez. Tinha 10 anos quando me inscrevi.

2. Não gosto de estar desocupada, por isso decidi participar. Assim pude vir à piscina e divertir-me com os meus amigos. Gostei muito deste ano, só tenho pena de para o ano já não me poder inscrever.

3. Gostei muito do acampamento no Vale Gonçalinho e do Peddy Paper. A piscina e a visita aos Bombeiros foram outras das iniciativas que mais gostei.

4. Uma amiga incentivou-me a inscrever. Depois pedi aos meus pais e eles deixaram-me vir.

5. A visita que fizemos ao Fluviário de Mora foi muito interessante e nesse dia vimos exposições, aquários... Nunca lá tinha ido e nesse dia fiquei a conhecer melhor os diferentes tipos de peixes.

6. Sim, vou ter muitas saudades, até porque depois deste ano já não me posso inscrever mais.

7. Gostava de ter ido à praia fluvial, em Mora, mas não levei fato de banho.

Ana Raimundo 11 anos

1. Não me lembro, mas já alguns anos que participo.

2. Decidi participar por causa dos amigos, da piscina e das brincadeiras. Pedi à minha mãe para me inscrever e ela concordou.

3. O que mais gostei este ano foi mesmo o acampamento e o Peddy Paper, mas também gostei muito da visita ao Fluviário e de ter feito mais amigos.

4. Os meus pais quiseram que eu me inscrevesse mas eu também fiquei contente por vir, pois sabia que vinha para a brincadeira.

5. Este ano, aprendemos alguns jogos diferentes, como o Peddy Paper. Foi muito engraçado.

6. Sim, agora vou sentir algumas saudades, mas a escola está quase a começar. Para o ano há mais! Ainda posso inscrever-me mais um ano.

7. As que realizámos foram interessantes mas o que eu gostava mesmo era que pudéssemos ter vindo todos os dias á piscina.

Mariana Dores 8 anos

1. Não. Há já dois anos que participo.2. Inscrevi-me principalmente para poder

vir à piscina, sair e poder conhecer outras pessoas e outros lugares. Tem sido uma boa experiência. Nestes dois anos tenho sentido algumas diferenças. Este ano, por exemplo, gostei muito da ideia do acampamento.

3. Aquilo que mais gostei nestes Atl’s foi, sem dúvida, o acampamento no Vale Gonçalinho e a realização de um Peddy Paper, que foi muito interessante. Nunca tinha acampado e adorei a experiência.

4. Fui eu quem me quis inscrever e, entretanto, perguntei à minha mãe que me disse logo que sim. Acho que os Atl’s são bons para nós porque nos ajudam a viver e a conviver com outras pessoas que até então nem conhecíamos.

5. Fomos à Sociedade e experimentámos alguns instrumentos, como a trompa, o clarinete e o trompete. Aprendemos também uma moda alentejana cantada pelos Ganhões que se chama “É tão grande o Alentejo”.

6. Vou sentir saudades. Gostava que os Atl’s continuassem até à abertura da escola. Do que vou sentir mais saudades é da piscina e dos passeios.

7. Eu gostei de tudo, mas se fosse possível gostava de ter feito uma visita à Alemanha.

***1. O que o levou a participar no “RIR –

Recrear, Inovar e Reabilitar”?2. Como descreve esta experiência?3. Quais as actividades que mais gostou

neste projecto? 4. Acha que é importante desenvolver

este tipo de actividades para pessoas com mais de 55 anos?

5. E agora que encerraram, vai sentir saudades? Gostava que estes Atl’s voltassem no próximo Verão?

Luís Jorge Casével

1. Eu já ando na Ginástica há algum tempo em Casével, e o João, que é o nosso professor alertou-nos para esta iniciativa onde iriam acontecer muitas actividades diferentes e decidi participar.

2. Bem, eu só participei no RIR durante o mês de Agosto e foi muito bom ter vindo. Gostei muito das nossas vindas à piscina, duas vezes por semana. Foi a primeira vez que entrei numa piscina e agora até já sei dar

umas braçadas. Também gostei muito dos professores. Foi tudo muito bem organizado.

3. Gostei muito de ir a Sintra, foi pena foi estar a chover nesse dia. Mas foi muito bonito. O convívio foi o melhor.

4. Estas actividades deviam ser sempre desenvolvidas para pessoas da minha idade. São muito boas para a cabeça e para o corpo e ajudam uma pessoa a desenvolver.

5. Sim, vou ter saudades. Deus queira que para o ano haja outra vez. Eu gosto destas coisas. No meu tempo não havia nada disto. Diverti-me e convivi muito.

Maria Cruz Castro Verde

1. Gosto muito de conviver e aborrece-me estar sozinha em casa. Aqui pude conhecer outras pessoas e distrair-me um pouco.

2. Foram dois meses muito divertidos. Depois de ter participado no mês de Julho, decidi continuar e inscrevi-me nas actividades para Agosto. Gostei muito da experiência.

3. Neste tempo todo, realizámos muitas actividades, desde jogos tradicionais, actividades aquáticas e caminhadas; passeios e roteiros turísticos. Gostei muito de ter ido a Belém e de conhecer os arredores da nossa vila.

4. Sou uma pessoa activa e gosto muito de conviver. Na minha opinião é bom que existam este tipo de iniciativas para as pessoas da nossa idade.

5. Vou, claro. Agora resta-me fazer a limpeza da casa. Este projecto foi muito interessante e para mim foi uma experiência nova muito positiva.

Noémia Valente S. Marcos

1. A Maria João avisou-me que ia abrir um novo projecto durante os meses de Julho e Agosto. Como preciso de fazer piscina, por questões de saúde, inscrevi-me.

2. Esta foi a primeira vez que participei numa iniciativa deste género e como tal achei tudo muito interessante. Foi bom fazer novas amizades.

3. Gostei bastante dos passeios, especialmente os que fizemos a Nossa Sra. de Aracelis e a Belém. Também gostei de visitar as igrejas do concelho. Senti que aprendi coisas novas.

4. Sim, sem dúvida. Para além do convívio que se cria, é sempre positivo participar nestas actividades.

5. Sim, vou sentir algumas. Para o ano gostava de me voltar a inscrever. Adorei a piscina. Fizemos exercícios específicos, bons para a minha saúde.

Todos os anos, o entusiasmo de ocupar de forma diver-tida os tempos livres de Ve-

rão, traz dezenas de crianças para esta iniciativa promovida pela Câ-mara Municipal de Castro Verde, que já dura há 10 anos.

Este ano, apesar de privilegia-rem o contacto com o ar livre e com as actividades desportivas, os ATL’s não se limitaram a isso. O projecto foi essencialmente for-mado por ateliers de diferentes áreas, nomeadamente, ateliers de expressão plástica, de educação ambiental, de expressão motora e visitas culturais

Com início a 9 de Julho, o pro-jecto prolongou-se até ao fim de Agosto e dividiu-se em dois pólos: em Castro Verde, agrupando tam-bém as crianças das freguesias de Casével e Entradas, e em Santa Bárbara, estendendo-se às crian-ças da freguesia de São Marcos da Atabueira.

Tudo em prol de uma uma ocu-pação saudável e enriquecedora destes meses de férias e de um es-pírito de entreajuda mais fortale-cido.

Paralelamente aos ATL’s, a Câ-mara Municipal de Castro Verde decidiu este ano alargar a oferta e promover o projecto “RIR em Mo-vimento” com o objectivo de dina-mizar os tempos livres de indiví-duos com mais de 55 anos.

“Recrear, Inovar e Reabilitar” foi o lema deste projecto que teve como cenário a actividade físi-ca, a criatividade e o convívio. A par de tudo isto, o projecto pro-curou essencialmente desenvol-ver um conjunto de actividades inovadoras, determinantes para o bem-estar dos participantes. Pis-cina, passeios, caminhadas e ro-teiros patrimoniais pelo concelho, foram apenas algumas das activi-dades desenvolvidas nestes dois meses.

A experiência, dizem os partici-pantes, é para repetir. Para o ano, a animação regressará aos espa-ços de sempre, com a promessa de mais e melhores actividades.

Nesta edição, damos a conhecer a opinião de miúdos e graúdos so-bre os projectos de tempos livres em que participaram, não fossem eles os actores principais destas iniciativas.

O Campaniço esteve na festa de encerramento dos Atl’s e do pro-jecto RIR em Movimento”. Entre crianças e adultos ficámos a saber aquilo que mais gostaram nestes dois meses de actividade.

Projectos para todas as idades

AcTIvIdAdes 14

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Por coincidências que o leva-ram a acreditar que elas não exis-tem. Que têm um propósito e que não acontecem por acaso, o Padre Rui, seguiu os caminhos da Igreja Católica. A data de nascimento foi o primeiro prenúncio. Nasceu a 24 de Dezembro de 1964, no dia da ce-lebração do nascimento de Jesus Cristo. Era um facto demasiado forte para se desprender dele. Foi, por assim dizer, a primeira “coin-cidência”. As sendas da vida cru-zaram-se sempre no mesmo pon-to, parecendo indicar sempre na mesma direcção. Tudo demasiado forte. Tudo a produzir nele aquilo a que se chama “vocação”. Acredi-tou nela desde sempre. Dizer que as coincidências o levaram a acre-ditar na vocação não passa de pura semântica, porque nunca tal foi posto em causa nem foi uma coisa a que fosse obrigado.

Nasceu em Ourém, distrito de Santarém, num Ribatejo a pisar a Beira Litoral. Terra da qual tem saudades e onde teve uma infân-cia que diz “normal”. Família, ami-gos, brincadeiras e a fé. Sempre a fé. Aos seis anos foi para a esco-la primária e aos sete, a segunda coincidência. Desta vez, um triste incidente, que o empurrou para o Hospital Universitário de Coimbra. Uma queda que lhe quebrou uma perna, fê-lo passar tempo “infini-to” longe da família e perto de mui-tas desgraças, de muitas doenças e enfermos irreversíveis. Perto e lon-ge de mais para uma criança. Forte de mais mesmo para quem é forte. Foi para ele uma experiência mar-cante, presenciou, durante quase 5 longos meses, as desgraças vindas da Guerra do Ultramar. Aí tomou

“contacto com a realidade humana na sua dimensão mais dramática, mais brutal.” Era a precoce prova de que a sua vida seria a de “man-dar a semente à terra”. Afirma que

olha para esse período de uma ma-neira muito peculiar: “hoje vejo que essas coisas não aconteceram por acaso. Posso quase que dizer que os alicerces da minha vocação sacerdotal estariam a ser coloca-dos, por ventura, ali.” Segue-se o resto da escola primária, o Semi-nário e a consequente Ordenação. Primeira obediência: vir para Cas-tro Verde. Decorria o ano de 1993 e acompanhavam-no o Padre Car-los e o Padre Abel. Dois anos pas-sados e voltou para Lisboa. Só em 2001 volta a Castro Verde, des-ta vez sozinho, para a sua missão de seis anos. Parte agora com pro-messas de, “se for possível”, voltar. Agora regressa para o mesmo sítio em Lisboa, trabalhando na forma-ção de futuros sacerdotes.

A Obra

Não fala nela. Não a quer assumir com a humildade cúmplice de quem não quer os louros para si. Mas ela é reconhecida, através dos vários projectos em que se envolveu com a comunidade. Os tesouros desven-dados e publicitados estão agora à mostra de todos como sinal da sua passagem. O Tesouro mais rico de todos, o da Basílica foi um projec-to que abraçou e concretizou dando a conhecer ao público peças únicas, numa iniciativa também ela única.

Antes de partir quis deixar ainda outra marca. Espera que em pou-co tempo, o histórico relógio da Ba-sílica dê as horas certas. Tirou-o da arrecadação e procurou quem o restaurasse. Encontrou o filho de

quem o tinha construído. Fé de fa-mília que com carinho abraçou esta obra hercúlea.

Mas há mais. Há quem denote a sua constante ligação com a comu-nidade. Não gosta de elogios, pre-fere reconhecer que fez amigos por aqui e que leva consigo uma certeza:

“em Castro Verde fui feliz”.

A Fé do homeme dos homens

A crença na vida religiosa, a Fé, é como um membro da família, ou um membro de si próprio: “no meu sub-consciente, podíamos quase dizer que nunca me compreendi, nunca olhei para mim, nem tomei consciência do meu nascimento, da minha existência separada da

existência de Jesus.” Mas as coin-cidências estão sempre presentes e

“nunca são por acaso”. Foi por isso que foi para o Seminário Monfor-tino. Findo o Seminário pensou ir para a Faculdade de Direito, mas preferiu descansar um ano e fazer o noviciado. Diz que a ideia clara de se tornar padre surgiu por volta de 1984. A ordenação data de 23 de Março de 1991. Depois de sair de Castro Verde, em 1995, segue para Leuven, na Bélgica, onde faz uma pós-graduação, na Universida-de Católica. Volta para Lisboa em 1996 onde fica cinco anos antes de nova ingressão em Castro Verde.

De 2001 a 2007. Sete anos de trabalho numa comunidade que diz, tal como todo o povo alente-jano, ter uma relação muito pró-pria com a fé. Aprendeu a ver a fé através dos olhos desses homens e respeitou-a, integrou-se nela e acreditou-a como uma forma dife-rente de viver a vida religiosa, não menos bela, não menos verda-deira. A relação que se estabelece com Deus é sempre uma relação muito pessoal, relação que se tem como quem se relaciona com a ex-tensa planície. Essa coisa infindá-vel sempre presente. Deve ser essa a especificidade da fé dos alenteja-nos, essa coisa desprendida mas forte. Não se explica. Sente-se. Foi assim que olhou para este desafio, como uma outra vivência enrique-cedora.

Fundiu-se com a comunidade. O cante “uma paixão”. As vozes em uníssono das modas são como

“orações” cantadas, diz. Juntou a sua às “Vozes de Casével” e viveu em pleno essa prece das vozes gra-ves, pedindo um Alentejo diferen-te e mais próspero. Deixa Casével mas ficou-lhe o gosto. Em Lisboa já procura um coral alentejano para continuar a viver essa experiência cultural tão própria do Alentejo.

A Força da FéAs coincidências da vida encaminharam o jovem para os caminhos da Igreja. A primeira missão foi vir para Castro Verde. Terra pela qual se apaixonou e que agora deixou com a promessa de voltar, se possível, e com a certeza de que aqui se sentiu feliz.

Padre Rui Valério

LILIANA VALENTE

Tesouro da Basílica comemorou IV AniversárioNo passado dia 3 de Novembro, o Tesouro da Basílica Real assinalou o seu IV

Aniversário promovendo um concerto comemorativo pela Banda da Socieda-de Recreativa e Filarmónica 1.º de Janeiro, que foi fortemente aplaudida, com destaque para o solista André Dourado.

A iniciativa que se realizou no grandioso espaço da Basílica Real, evocou as-sim o surgimento do Núcleo de Arte Sacra, que integra a rede de museus da Diocese de Beja. O projecto foi possível graças ao estabelecimento de uma parceria, que levou à criação da associação Tesouro da Basílica Real, e que permite actualmente abertura do templo e do museu ao público.

A Basílica Real é a principal peça do património edificado do concelho, pelo que assume um papel muito importante na dinamização de roteiros culturais, atraindo muitos visitantes.

Neste momento está a decorrer um processo de diálogo entre diferentes par-ceiros que tem como objectivo a criação de um segundo núcleo de arte sacra em Castro Verde, mais concretamente na Igreja da Misericórdia, juntando-se assim ao da Basílica Real e ao Museu da Lucerna. Para além da exposição de material, esta política tem subjacente a recuperação e valorização de espa-ços do nosso património edificado, bem como a salvaguarda e promoção do mesmo.

Novos PárocosCom a ida do Padre Rui Valério para Lisboa, assumiram funções nas paró-

quias do concelho os Padres Eduardo Osório e Ricardo Meira, pertencentes à Ordem dos Missionários do Espírito Santo.

RepoRTAgem 15

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

agriCultura e jardinagemNOVEMBRO

Pomares, estercá-los no crescente, podá-los no Minguante, protegê-los das ge-adas. Plantar cerejeiras, pessegueiros, pereiras e macieiras, no Crescente. Plantar batata, alho, couve temporã, tremoço. Semear cereais, fava, ervilha, e em camas quentes alface, beterraba, cebola, nabiça, nabo, rabanete e tomate. Colher azeito-na, beterraba. Na horta semear agrião, alface, cenoura, couves, com excepção da couve-flor e brócolos. No jardim estercar covas para a plantação na Primavera de árvores ou arbustos, e estercar as plantas contra o vento. Plantar bolbos de flores e roseiras. Podar as roseiras.

RECoRREnDo à TEMáTICA LoCAL CoMPLETE AS PALAvRAS CRuzADAS.

1. Lombador 2. Feriado 3. urze 4. branco 5. rédea 6. Neves 7. oca 8. Dom 9. Pagode 10. sete 11. Dia 12. rádio 13. Açorda 14. Favo 15. Moda 16. eira 17. Almocreve 18. Já 19. trovoada 20. Maria 21. suão 22. galo 23. João24. Liberdade 25. terges 26. Moagem 27. Mastros 28. Conceição 29. real 30. Vaia 31. rua 32. esperança 33. Alto 34. Ferragudo 35. Amor 36. Pão 37. roda 38. Cobre 39. Aro 40. tear 41. Maio 42. olival 43. Condessa

soluções

Canja de perdiz Para 6 pessoas

2 perdizes1 fatia de toucinho1 osso de presuntoUma linguiça pequena1 molho de salsaSal e pimenta1 ramo de hortelã

Põe-se tudo a cozer em água fria. Retiram-se a salsa atada, a cebola, o toucinho e o osso. Des-fia-se a carne das perdizes. No cal-do passado coze-se o arroz. Á hora de ir para a mesa, põe-se a carne desfiada e os raminhos de hortelã no fundo da terrina e rega-se com o caldo a ferver. A linguiça e o tou-cinho que só deram gosto a sopa, comem-se ao pequeno-almoço do dia seguinte, sobre torradas de pão alentejano, muito quentes.

perna de javaliassada no FornoPara 6 pessoas

1 perna de javali2 colheres de banha2 colheres de azeite1 colher de colorau6 dentes de alho1 raminho de tomilho ou alecrimSal e pimenta

Faz-se uma papa com todos os temperos, sendo os alhos pisados. Esfrega-se a perna de javali e dei-xa-se temperada uma hora. Sal-pica-se com tomilho e vai ao for-no do pão. Vai-se regando com o próprio molho. Assim que estiver dourada, cobre-se com alumínio e deixa-se ficar no forno até estar completamente cozida.

enCharCadaPara 8 pessoas

0,5kg de açúcar20 gemas e 4 ovos inteiros2 dl de água Canela em pó

Põe-se o açúcar ao lume num tacho de fundo grosso, juntamen-te com a água até fazer ponto de pérola. Entretanto separam-se as gemas das claras, juntam-se os ovos inteiros, batem-se ligeira-mente com um garfo e passam-se pelo passador. Juntam-se os ovos à calda e mexem-se com uma co-lher de pau até cozerem. Deitam-se num prato que possa ir ao ca-lor e deixam-se 15 minutos sob o grelhador para dourar. Serve-se o doce frio, polvilhado com canela.

Receitas retiradas do livro

“Cozinha Tradicional do Alentejo”

de Maria Antónia Goes

receitasFASES DA LUA

Quarto Minguante – 1 NovembroLua Nova – 9 Novembro Quarto Crescente – 17 NovembroLua Cheia – 24 Novembro Quarto Minguante – 1 DezembroLua Nova – 9 DezembroQuarto Crescente – 17 DezembroLua Cheia – 24 DezembroQuarto Minguante – 31 Dezembro

Informações do Borda d’Água

Foto

dest

aque

Palavras cruzadas

1-O mais matreiro dos mamíferos2-O primeiro trigo é para ele3-Tempera e pode ser da ribeira4-Dizia-se que quem comia a sua carne morria velho5-Há uma águia que a tem redonda6-Porco selvagem7-Batráquio8-Pica mas ajuda a coalhar9-A mais vermelha das flores campestres10-Ave de padrão azul nas asas11-Réptil muito comum12-Rapina nocturna13-Flor roxa do campo14-Tem o perfume das estevas15-Ave abundante nos pinheiros16-Pode ser branca ou preta17-O outro nome do pássaro18-Rapina dos Açores que também se vê por cá19-O mais doce dos insectos20-Há um insecto que o faz a Deus21-A sua flor entra em casa sagrada22-Mamífero que vive em ambiente aquático23-Aves de crista e bico curvo24-Podem ser sardões25-São guardados por pássaros26-Pode ser de água27-Peixe muito comum nas nossas barragens28-Cante de algumas rapinas29-A mais sábia das rapinas30-Pequeno peixe da ribeira31-Pica que se farta mas faz sopa32-O rato é um...33-Ave estepária34-Planta trepadeira35-Tartaruga das nossas ribeiras36-Pode ser branca, mas também há real37-Nome popular da flor responsável pelo branco dos campos38-Pequeno pássaro conhecido pelo seu cantar39-Muitos fazem um montado

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O tocador de harmónica ou se quiserem de “flaita de beiços”, fez-se ao palco da tenda árabe na Planície Mediterrânica. Já se mandavam as valsas da Serra de Grândola e as Papoilas tinham ensinado danças dos nossos bailes de outros tempos. Danças que agora se aposta em revitalizar e salvaguardar. Neste foto destaque aqui fica a homenagem ao homem e ao instrumento que, outrora, sem grandes aparelhagens, eram suficientes para levantar o pó do chão, animando até às tantas.

Manuel FlorêncioPlanície Mediterrânica 2007

1. Conhecido pelas suas mantas2. é em Castro Verde no dia 29 de Junho3. erva que também é nome de rua4. A cor do nosso campo5. Diz o povo que às vezes alguém a tem curta ou solta6. Localidade do concelho7. era utilizada para pintar as casas8. Precede a Afonso henriques9. Diz o povo que é “andar na boa vida” ou “fazer troça de”10. Monte com nome de algarismo11. todos os santos têm um12. é onde acontece o Património13. Comida que pode ser de mão cheia14. estrutura de cera das colmeias15. Canção alentejana16. Local onde se tratava o cereal17. homem que trabalhava no campo18. Agora19. é quando nos lembramos de sta. bárbara20. Dona da casa mais exótica de Castro Verde21. Vento quente do Verão22. o povo não gosta do ouvir cantar fora de horas23. homem que mais cabeças assa24. Nome de rua e praça25. ribeira afluente do guadiana26. A dos Prazeres era a mais conhecida27. Acontecem nos santos populares28. Padroeira de Castro Verde29. título da basílica30. Chamar alguém é “dar de...” (popular)31. seara Nova é nome de32. A procissão de entradas é em sua honra33. é quem levanta a moda34. Antiga mina do concelho35. tema do nosso cancioneiro36. Alimento base da nossa gastronomia tradicional37. Forma de baile38. Minério extraído em Neves – Corvo39. o Abegão era perito em fixá-lo40. onde se fazem as mantas41. Mês de feira42. bom sítio para se ir aos tordos43. Poço com réplica no largo da feira

Palavras Cruzadas

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Os incentivos à utilização de energias renováveis e o grande in-teresse que este assunto levan-tou nestes últimos anos deve-se à consciencialização da possível es-cassez dos recursos fósseis e à ne-cessidade de redução das emissões de gases nocivos para a atmosfera - os gases de efeito de estufa.

Matérias-primas como o petró-leo e o carvão têm vindo a consu-mir-se rapidamente e são demasia-do preciosas para serem utilizadas em processos de combustão para produzir energia eléctrica. Para além disso, ao serem queimados, estes combustíveis, produzem grandes quantidades de substân-cias poluidoras para o planeta. As energias renováveis, por sua vez, são fontes inesgotáveis de energia obtidas a partir da Natureza que nos rodeia, como o Sol, o Vento, a Chuva, as Ondas do Mar, o Calor da Terra ou as Plantas e poderão, num futuro próximo, e para bem de to-dos, vir a ser as mais importantes fontes na produção de electricida-de. A energia solar, por exemplo, é cada vez mais utilizada no aqueci-mento de água em habitações. No futuro, espera-se que a sua utiliza-ção pelo homem aumente signifi-cativamente.

Até lá, dê o seu contributo na poupança de energia! Existem pe-quenos gestos que pode exercer no dia-a-dia, no sentido de contribuir para uma utilização racional de energia. Tendo em conta uma sé-rie de recomendações e conselhos úteis, é possível reduzir os consu-mos energéticos mantendo o con-forto e a produtividade das activi-dades dependentes de energia.

Para tal é necessário implemen-tar medidas e acções, que apesar de simples, podem traduzir-se em significativas poupanças energé-ticas e económicas. Aqui ficam pe-quenos truques para reduzir o con-sumo energético em sua casa:

Iluminação

m Utilize as lâmpadas económi-cas: fluorescentes tubulares e as fluorescentes compactas. Embo-ra mais caras, emitem a mesma luz, podem durar 8 a 10 vezes mais e economizam até 80% do consumo de energia. m Prefira a luz natural (adapte a disposição da sala, quar-to, etc.). m Desligue a iluminação sempre que não precise. m Utilize lâmpadas com a potência adequa-da às necessidades do local e tipo de utilização.

Ferro de Engomar

m Procure utilizá-lo o menor nú-mero de vezes possível. m O fer-ro de engomar deve ser ligado, de preferência, quando houver uma grande quantidade de roupa para passar. m Utilize a temperatura correcta para cada tipo de tecido. m As roupas mais delicadas devem ser passadas primeiro.

Frigorífico

m Deve evitar abrir desnecessaria-mente a porta, pense no que vai buscar an-tes de abrir o fri-gorífico, uma vez que a aber-tura das por-tas pode re-presentar até 20% do con-sumo global do electro-doméstico. m Não encha demasiado o fri-gorífico, para des-te modo o ar circu-lar livremente entre os alimentos. m Coloque a comida em recipientes de modo

a reduzir as trocas de água entre os alimentos e o ar interior do frigorí-fico.m Nunca guarde alimentos quen-tes no frigorífico, porque o choque de temperaturas provoca a sua de-terioração e um aumento do con-sumo de energia, para manutenção da temperatura. m A regulação do termóstato é muito importante (as temperaturas recomendadas são entre 3 a 5ºC para o frigorífico e -15ºC para o congelador). m Quan-do se ausentar de casa por períodos prolongados, se possível, esvazie

o frigorífico desligue-o da tomada.

leones lima

Igualdade de oportunidades

cIdAdAnIA 1�

energias renováveis

Pela saúde do planeta!

Protecção Civil alerta

As precipitações intensas são fe-nómenos meteorológicos carac-terísticos do período do outono à Primavera, embora possam ocor-rer em qualquer altura do ano. ori-ginam longos períodos de preci-pitação, por vezes com a duração de vários dias, conduzindo à satu-ração dos solos, e proporcionado a formação de cheias, com todas as consequências associadas.

estas precipitações podem durar apenas alguns minutos ou horas. As regiões planas, como o Alente-jo e Algarve, são mais propícias à sua formação. são fenómenos de difícil previsão, que provocam ra-pidamente inundações urbanas (habitações e estabelecimentos, ruas e estradas), pela dificulda-de de os colectores drenarem as águas pluviais que se concentram muito rapidamente, e podem ain-da causar deslizamentos de solos e sérios prejuízos na agricultura e danos no ambiente.

A título de exemplo, as fortes chu-vadas que ocorreram um pouco por todo o concelho, em Novem-bro do ano passado, destruíram estradas e caminhos municipais. Após uma apreciação dos estra-gos, concluiu-se que esses locais coincidiam principalmente com zonas de pontes e pontões.

Na maior parte dos locais verifi-cou-se que alguns agricultores, provavelmente com a intenção de evitar que os animais se deslocas-sem para a estrada, colocaram protecções nos pontões. Porém, essas protecções, em contacto com os pastos acumulados, cria-ram um efeito tampa contribuin-do para que a água passasse por cima das estradas com facilidade, rasgando a trincheira de queda. situações que, para além dos inú-meros estragos, podem pôr em risco a segurança das pessoas.

Assim, no sentido de evitar situa-ções idênticas durante os próxi-mos meses, o serviço Municipal de Protecção Civil apela a todos aqueles que tenham proprieda-des por onde passem linhas de água com pontões, o favor de co-laborarem de forma a evitar que os mesmos fiquem obstruídos e cau-sem transtornos desta natureza.

o Serviço Municipal de Protecção Civil de Castro verde está ao seu dispor através do telefone 286 320 700

[email protected]

Centro de saúde: 286 320 140

José Leones Lima, 52 anos, para-plégico com 80% de incapacidade, atravessou Portugal de lés a lés, de Viana do Castelo a Faro, numa ca-deira de rodas, com um objectivo bem definido – protestar contra a desigualdade de oportunidades de cidadãos portadores de deficiência.

A viagem teve início dia 1 de Agosto e dezoito dias depois, Cas-tro Verde foi uma das paragens. Uma estadia curta tendo em con-sideração a finalidade que levou este homem a percorrer o país em cadeira de rodas. Em Castro Ver-de foi recebido pelo Gabinete de Educação e Acção Social da Câma-ra Municipal, seguindo-se depois um almoço no Restaurante Sol-Posto e dormida no Aparthotel do Castro.

Numa cadeira adaptada com “pedais manuais”, Leones Lima percorreu cerca de 731 quilómetros (uma média de 35 a 40km por dia), desde Viana do Castelo, até Faro, a última etapa deste percurso.

Com esta viagem, Leones Lima

deu o seu “grito de protesto”, cha-mando a atenção sobre a lamentá-vel situação em que vivem a maio-ria dos deficientes no nosso país. Formado em electrónica, José Le-ones Lima foi Chefe de Departa-mento, Sub-Director e Director Técnico em empresas de Electró-nica Industrial. Está inscrito do Centro de Emprego mas desem-pregado há três anos. Diz que se inscreveu “numa ampla gama de tarefas possíveis de executar com qualidade” mas que as portas “se fecham com um estrondo enver-gonhado quando vêem a cadeira de rodas”. Para ganhar a vida co-meçou a escrever. Neste momento escreve o seu terceiro livro, um ro-mance com 280 páginas.

Com o apoio de várias edilida-des, José Leones Lima conseguiu levar a efeito esta jornada que as-sinala o ‘Ano Europeu de Igualda-de de Oportunidades” e que teve como objectivo “protestar contra a discriminação das pessoas por-tadoras de deficiência”. Leones Lima em Castro Verde

Atravessou Portugal em cadeira de rodas. Mais de 700 km em protesto contra a desigualdade de oportunidades. Castro Verde foi a penúltima etapa deste percurso que começou em Viana do Castelo.

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© Foto reVistA CuLtos

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

No monte da Minhota, há um sobreiral e logo na ponta do sobreiral há umas sobreiras altas e uma delas é a sobreira dos bonecos, essa sobreira tem uns bonecos desenhados na casca cortiça, mesmo depois de lhe ser tirada a cortiça, trabalho que é feito de nove em nove anos, passado uns tempos lá estão os bonecos desenhados, não me perguntem porquê mas o que é certo é que os bonecos estão lá. Também junto à extrema com a her-dade da Broca existe um cabeço que é o cerro do moinho da Broca onde, no princípio do século XX, ainda existia um moinho de vento. O que vi do resto do moinho foi um peque-no planalto no cimo do cabeço. Na encosta do dito cabeço existe um chaparro com um grande seixo branco por baixo. Chamam-lhe o “chaparro do seixo” e diziam que à tardi-nha aparecia um homem sentado no seixo e que era a alma do moleiro. Isso eu nunca vi, mas o meu irmão Artur que era mais velho que eu dizia que o via com um colete cinzento e a fumar um cachimbo, e outros moços que foram ajudas do meu pai também o viram.

Entre Aljustrel e Castro Verde existe uma estrada muito antiga que começa em Valdo-ca e atravessa as herdades do mau ladrão, broca, minhota, amendoeira, sobreira, corta rabos, etc. e do monte da minhota parte uma estrada que vai até Messejana. Essa estra-da cruza-se com a estrada de Castro e nessa cruz em noites de lua cheia iam lá fazer bru-xarias com garrafas de bebidas, galinhas pretas, ervas, flores, etc. Eu sei porque quando andava com os porcos via essas coisas mas não lhe tocava por medo, mas os porcos esses não queriam saber das bruxas e comiam aquilo tudo.

No ano em que andei na escola na estação de Castro Verde, depois das aulas ficava na brincadeira até às tantas da noite, um dia a minha mãe sem eu saber disse à minha pri-ma Deolinda, que tinha mais dois anos que eu para me meterem medo, para que eu não ficasse até tão tarde. É claro que arranjou a maneira de contarem histórias de medos, lu-zes, almas do outro mundo, almas de bico, etc. Bem, o que é certo é que eu depois de andar uns quinhentos metros junto à linha de caminho de ferro que vai para Aljustrel, comecei a ver luzes amarelas, verdes, azuis, já via uma égua branca sem cabeça tudo a acompanhar-me do outro lado da ribeira. Eu só o que fazia era chorar. Fui até ao mon-te do Carregueiro, e pedi ao pastor das ovelhas que morava nesse monte, para que para que o filho dele o Filipe fosse comigo até à minha casa. É claro, durante dois ou três dias, não abalava tarde, mas depois comecei a pensar que essas luzes e medos só estavam na minha imaginação, voltei ao mesmo e nunca mais tive medo dissessem o que dissessem. Tudo isto são memórias doutros tempos.

Se o Campaniço achar que deve publicar estas memórias para que as pessoas se lem-brem que sempre existiram estas lendas e mistérios, publique.

Sebastião Augusto Manuel - Pinhal novo

Caro Sebastião,Porque não haveria o Campaniço de publicar estas estórias retiradas do nevoeiro da me-mória? Muitos são os dizeres que dão origem a estas situações que alimentam o imagi-nário e por vezes semeiam o medo. Já se dizem muito menos mas continuam a existir. Mande sempre!

Histórias, Lendas e Mistérios

NECROLOGIA

“Zé Saramago”

Alquevei na CavandelaGuardei cabras nos JaneirosCeifei trigo na Portela Fui hortelão nos Pereiros.

Fiz atalho no Mourão Mondei também nas Bicadas,Semeei no Torrejão,Fui seareiro nas Entradas.

Ordenhador nos Burunhaxos,No Reguengo fui carteiroAmansei mulas e machos,Nos Gregórios fui caseiro.

Juntei cortiça amadia No monte da CaldeireiraFiz melão e melancia Na terra da Ameixeira.

Lá na terra do Marguilho Colhi grão de madrugada,Fiz calcadoiros com trilho, Limpei ao vento a cevada.

Nas Cabeças, fui moiral, De ovelhas, de alavãoFui ao mato ao Garrochal Tive um forno no Rolão

“Zé Saramago rural”Incógnito trabalhador …Estátua com pedestal Na procura de um escultor

J.J. Alves da Costa

ALBERTINA MARIA MESTREFaleceu a 09/09/07

Castro Verde

A família participa o fa-lecimento do seu ente querido, agradecen-do a todos os que o acompanharam até à sua última morada ou que, de qualquer ou-tro modo, lhe manifes-taram o seu pesar.

JACINTO JOSÉ PEREIRA

Faleceu a 14 /09/07Castro Verde

A família participa o fa-lecimento do seu ente querido, agradecen-do a todos os que o acompanharam até à sua última morada ou que, de qualquer ou-tro modo, lhe manifes-taram o seu pesar.

MARIANAINÁCIO CAVACOFaleceu a 19/08/07

Castro Verde

A família participa o fa-lecimento do seu ente querido, agradecen-do a todos os que o acompanharam até à sua última morada ou que, de qualquer ou-tro modo, lhe manifes-taram o seu pesar.

Insatisfação e Pesar É impossível estarmos satisfeitos com o

que se passa connosco: nas nossas vidas, famílias, sociedade em geral. Connosco, por ver que as pessoas que nos rodeiam, só pensam em nos prejudicar, enganar, roubar de toda a maneira e feitio. Quem não tinha costume de duvidar das pes-soas, tem que pensar que a maior par-te delas só vive de enganos e vigarices, e por isso o melhor é começar a duvidar de toda a gente. Nas famílias também é mui-to triste. O que se verifica, em primeiro lugar, é o interesse e não o amor que de-veria existir entre pais e filhos. Haver so-lidariedade para com os mais velhos, pen-sar que um dia também vão ser velhos e necessitar dos mais novos. Mas não é isso que se verifica: põem-nos nos lares, ven-de-lhes o que lhes pertence e o desgosto acaba com eles em pouco tempo. Esse é o objectivo principal. Depois vão a Fátima fazer penitência e fica tudo resolvido e a consciência em paz… Como fazia aquele assassino em série que matou três meni-nas de 16, 17 e 18 anos de idade. Acabava de matar e depois ia a Fátima a pé. Aquilo é que era “fé”. É nesta sociedade em que nós vivemos!

E não há uma Justiça com mão pesada para estes crimes que nos revoltam tan-to? Começam por lhes fazer exames mé-dicos, acabam por lhes “arranjar” doença mentais que os consideram irresponsá-veis dos seus actos. Vão sendo protegi-dos de todos os crimes que praticaram… Tantas vidas ceifadas, tantas esperanças perdidas, adiadas para sempre. As crian-ças também são muito mal tratadas, até pelos pais, sendo ofendidas, violadas e torturadas pelos que tinham o dever de as respeitar e proteger de todo o mal. Os nossos olhos choram com desgosto, o nosso coração sangra de dor ao sabermos que um tresloucado entra numa escola mata dezasseis crianças, uma professo-ra, uma funcionária, fere física e moral-mente todas as alunas da mesma escola. Porquê tudo isto…? Haverá alguém que possa obter uma resposta plausível para estas loucuras? Sim, porque só um lou-co varrido com instintos assassinos pro-cederia assim. A loucura poderia vir de repente, quanto à sua malvadez, essa já estava dentro dele, sabe-se lá porquê… Para nós, são pessoas ou crianças total-mente desconhecidas, mas esse facto não obsta de maneira alguma a que mes-mo de muito longe se sofra com tantas si-tuações de injustiça e loucura criminosa. A vida poderia ser tão e agradável se as pessoas quisessem, mas infelizmente não querem, preferem transformar o mundo num arsenal de armamento para matar e destruir cidades inteiras, destruir obras de arte, coisa que esses assassinos nunca saberiam fazer. Será que vale a pena viver para se tomar conhecimento de tanta tra-gédia? Mas se isto nos servisse de confor-to: saber que apenas podemos protestar e revoltar porque não há forças com direito de calar os nossos sentimentos enquanto tivermos coragem para isso e não for proi-bido expressar a nossa modesta opinião.

Rita Isidro

Álvaro Manuel Custódio 83 anos – Entradas| Ana Bárbara Romano Palma – Beja| Ana Maria da Costa 91 anos – Mte da Figueirinha| António João Agostinho 77 anos – Entradas| Assunção das Neves Aires Pinto 89 anos – Casével| Beatriz da Conceição 69 anos – Rolão| Cândida Maria Contreiras 38 anos – Castro Verde| Cândido Cavaco Fatias Pereira 64 anos – Beja| Carlos Figueira Revés 84 anos – Castro Verde| Eduardo Maria de Matos 90 anos – Ourique-Gare| Eduardo Soares Ferreira 82 anos – Mte de Geraldos| Emília Sousa Costa 77 anos – Casével| Idalina dos Santos Matos 87 anos – Entradas| Ilda Maria Catarina Santiago 90 anos – Mte de Almeirim| Joana Fortes de Brito 73 anos – Entradas João Correia Branco 63 anos – Sta. Bárbara de Padrões| João Francisco 81 anos – Castro Verde| Júlia das Neves Guerreiro 87 anos – Castro Verde| Luísa Lança Damos 69 anos – Sete| Manuel Santos Lúcio 85 anos – Entradas| Maria dos Prazeres Pereira 94 anos – Castro Verde| Maria Joana Santiago 87 anos – Entradas| Raul Maria Bento 85 anos – Entradas| Sara Isabel Cordeiro 16 anos – Lisboa

JACINTO SALES NETO

Faleceu a 25/10/07 santiago do Caçém

A família participa o fa-lecimento do seu ente querido, agradecen-do a todos os que o acompanharam até à sua última morada ou que, de qualquer ou-tro modo, lhe manifes-taram o seu pesar.

Cara Amiga,Obrigado pelos versos a apelar

à consciência ambiental de todos

nós. Nunca é de mais sensibilizar para o equilíbrio

entre a actividade humana e a

Natureza. Os nossos pequenos

gestos todos somados são muito

importantes. Aqui fica o seu alerta. Mande sempre!

Não polua a naturezaO planeta está moribundoDe tanta evolução E as pessoas continuamA deitar lixo no chão

Elas dizem que não querem No Ecoponto deitarE pela sua ignorânciaO clima está a mudar

Com esta evolução Estragam o planetaE qualquer dia isto vaiMesmo tudo p’ro maneta

Já não há Verão nem InvernoVêem mas não querem crerHá muita poluição no marE o peixe está a morrer

Todos poluem a TerraDisso eu tenho a certezaDeitam-se gases no arE polui-se a Natureza

Esta coisa da poluição Tem muito que se lhe digaMas alguns ainda dizemQue isto é tudo cantiga

Mas eu também já ouvi Que isto tudo é uma tretaE assim vão continuandoA poluir o planeta

Para bem de todos nósVamos lá reciclarNão polua a NaturezaE o mundo vai mudar

Maria José Sebastião Vale de santiago

Cara Rita,Recuperámos uma reflexão que nos havia enviado e não foi possível publicar na edição anterior. Aqui abrimos espaço à sua legitima inquietação. Mande sempre!

Caro Leitor,Belo mote este do “Zé Saramago rural” / Incógnito trabalhador

... retrato de uma vivência rural que marcou tanta gente. Uma homenagem. Aguardamos a próxima criação poética!

leIToRes 18

ANTóNIOEDUARDO REVÉS Faleceu a 22/10/07

Castro Verde

A família participa o fa-lecimento do seu ente querido, agradecen-do a todos os que o acompanharam até à sua última morada ou que, de qualquer ou-tro modo, lhe manifes-taram o seu pesar.

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O CampaniçOsetembro/outubro 2007

Breve Desabafo sobre António Emídio Ventura Como não concordo com as homenagens póstumas, nem com os nomes de ruas quando as pesso-

as já não estão entre nós e sou adepta de dizermos às pessoas que gostamos delas sem medos de re-presálias, eis-me aqui a escrever algumas palavras sobre António Emídio Ventura.

Neste tempo de viragem e numa altura em que na aldeia dos Aivados outros tempos se avizinham, piores ou melhores só o futuro dirá, apraz-me escrever hoje algumas palavras (não é de modo ne-nhum uma homenagem), sobre um HOMEM que durante 30 anos ajudou (muito) uma aldeia comu-nitária do nosso país.

Sendo muito mais novo que António Carlos - nome porque é conhecido na aldeia( herança de seu pai), desde sempre me lembro dele com carinho e quero aqui prestar-lhe algum tributo com as mi-nhas humildes palavras e peço desde já desculpa se poucos defeitos lhe conseguir encontrar. Perfei-to não é, pois defeitos todos temos.

De tenra idade lembro-me da sua moto potente e única que irrompia pela aldeia e anunciava a sua chegada e algumas vezes lá íamos dar uma voltinha, com a sua filha pela rua sem saída. Lembro-me perfeitamente das suas ausências na guerra colonial e como seus pais, esposa e filha viviam pen-dentes da chegada dos seus aerogramas. Da minha meninice pobre mas feliz nunca esquecerei as suas chegadas do Ultramar: dos brinquedos que trazia para a filha e que todos compartilhávamos, das frutas em calda que nunca tínhamos experimentado, da delicia que era entrarmos nos slides que fazíamos com a filha. Nunca esquecerei o 1º. Romance (Jonh Chauffer Russo) que aos 11 anos li, cedido por minha mãe que lhe tinha sido emprestado por António Carlos (o pai), homem bondoso li-gado à pastorícia, mas à altura bastante culto e que só já recordo sentado num cadeirão de pau (ca-deirão em lugar de destaque na sala de estar de sua única neta), sempre a ler e que muito nos incen-tivava, mostrando-nos sempre livros o que talvez feito nascer em mim o gosto pela leitura.

Dirão alguns que são palavras de saudosismo e não a falar dos 30 anos que esteve à frente da go-vernação do povo de Aivados, mas sobre isso não me irei alargar muito pois, sou Aivadense (nasci-do e criado), de alma e coração, mas nunca me empenhei muito na parte politica. Sou interessado, mas não participante activo.

Com o 25 Abril/1974 - versus fim da guerra colonial, Sargento Ventura fica no quartel de Beja e começa o seu interesse(activamente) pela causa da herdade dos Aivados a que quase todos aderem na que foi a grande “batalha”, entre o povo e os latifundiários que detinham parte da herdade como sua,” batalha” que até hoje judicialmente ainda não está completamente vencida. Quando se che-ga ao fim do mandato da lista em vigência após o 25 Abril e há de novo eleições, pois sempre assim foi nos Aivados, lá está António Ventura na frente e sempre durante 30 anos. Tanto tempo sempre com a mesma pessoa a governar??!! Sim, somos uma freguesia/concelho de Dinossáurios!

Quando lhe foi confiado o destino de: terras, dinheiro (na altura doze contos e quinhentos) e todos os pertences da aldeia para gerir com os seus companheiros democraticamente eleitos, co-meçou um duro trabalho, de aprendizagem também para António Ventura que não teria na altura grandes conhecimentos em áreas por onde teve de se aventurar, mas que volvidos 30 anos e contra ventos e marés direi que estes anos enalteceram a minha aldeia. Dirão muitos: pode fazer-se me-lhor! Deixem-me duvidar… (e também não será difícil, dado o vasto património físico e financeiro que foi entregue aos novos “governantes”). Duvido, mas estou de fora a ver e esperando que a lis-ta agora eleita me mostre que estava enganada e gostaria de volvidos alguns anos voltar a fazer ho-menagem aos que estão agora à frente do destino da minha aldeia.

Lista essa que logo à partida não começou bem, uma vez que num universo de oitenta e tal votan-tes, só trinta e cinco votaram sim, todos os outros votos foram em branco, ou seja ficou demonstra-do que a lista eleita é à partida perdedora e não vitoriosa, como se espera nestas coisas de votos. Deixo o benefício da dúvida. O futuro dirá! Concordo que com a conta bancária recheada que fica e a continuação de parcerias entre Câmara Municipal e Junta Freguesia e outras Instituições Locais se pode fazer um bom trabalho.

Será matéria para outras crónicas, pois o que me traz aqui hoje é um simples tributo a um homem que em matéria de ídolos masculinos, desde menino e depois de meus pais e avô (nesta altura não tínhamos os Morangos com Açúcar/Floribella, para adorarmos), vem logo a seguir e que hoje mere-ce aqui o meu muito obrigado, que se alarga certamente a toda a minha família, que mesmo sem ter conhecimento do que estou a fazer me apoiará incondicionalmente. Pessoalmente agradeço poder fazer parte do seu núcleo de amigos e atrevo-me a dar-lhe alguns conselhos: descanse, dedique-se à sua família e a si próprio, coisa que nos últimos 30 anos descurou um pouco. Bem-haja!

Quem tão bom e tanto trabalho fez (ele e seus companheiros, claro), merece o descanso do guer-reiro. Jamais se arrependa de ter sido: Justo, generoso, benemérito, teimoso, amigo de seu se-melhante, coerente…e tal como diz o quadro herança de sua austera mãe:”Morre o homem, fica a fama”, no seu caso a boa fama e para alguns incrédulos que possam pensar que estou a exagerar, fica o seguinte ditado popular:”atrás de mim virá, quem bom de mim fará”.

A.P. Aivados

O número de correspondência recebida por parte dos nossos leitores não nos per-mite publicar todos os textos. Foi feita uma selecção do conjunto que nos chegou às mãos. Na próxima edição continuaremos a sua publicação. Os trabalhos podem ser enviados por correio ou por email: Campaniço. Câmara Municipal de Castro Verde. Praça do Município, 7780-217 Castro Verde. [email protected].

Nota da Redacção

José manuel Vargas é professor do Ensino Secundário e investigador de Histó-ria Local e Regional. nesta edição do Campaniço, publicamos um artigo da sua autoria intitulado “O Foral de Castro Verde”. Um contributo documental sobre a Carta de Foral, mais concretamente sobre a sua entrega e publicação em 1515.

O Foral de Castro Verde (1510)A sua entrega e publicação em 1515

A recente edição do Foral de Castro Verde, com repro-dução fac-similada do ori-ginal que se conserva na posse da Câmara, veio co-locar à disposição dos es-tudiosos novos contribu-tos para o conhecimento do processo de elaboração, registo e entrega dos forais manuelinos.

Um dos aspectos menos conhecidos desse proces-so é precisamente a entre-ga e a publicação dos forais, pois a maioria dos origi-nais que chegaram até nós não apresenta o registo do auto de publicação e entre-ga, como sucede com o fo-ral de Castro Verde.

Outorgado por D. Manuel, em 20 de Setembro de 1510, o foral de Castro Verde só foi registado na chancelaria ré-gia depois de 1512, pois foi necessário aguardar que to-dos os forais das vilas de Campo de Ourique estivessem concluídos, já que foram registados em conjunto a seguir ao foral de Santiago de Cacém que serviu de modelo, mas cuja con-cessão ocorreu em 20 de Setembro de 1512.

Curiosamente, o foral de Castro Verde, dado e assinado pelo Rei em 1510, apresenta nas esferas do frontispício a data de 1512, o que demonstra ter sido a iluminura conclu-ída numa fase posterior à execução caligráfica.

Feito o registo na chancelaria, foi colocado no foral o selo real de chumbo e foi rubri-cado pelo chanceler-mor Rui Boto na última folha, depois da assinatura do Rei. No fo-ral de Castro Verde (fl. 12) podem ver-se quer a rubrica do chanceler (Rodericus) junto à anotação “foral pera crasto verde”, quer o orifício por onde pendia o trancelim com o selo régio, entretanto desaparecido.

Concluída esta primeira fase do processo, faltava então entregar o foral aos repre-sentantes do concelho e fazer a sua leitura pública, para entrar de facto e de direito em vigor.

Foi o que aconteceu no dia 26 de Março de 1515, na presença dos oficiais concelhios e do representante do senhorio da terra, que era comenda da Ordem de Santiago. Termi-nado esse acto, o escrivão da Câmara registou a seguinte acta:

Pruujcado foi o forall hatras estprito per pero fagrosso moço da camara d’el Rey nosso senhor em ha camara da ujlla de crasto Verde xxbj dias de março Jbcxb perante Diego Alva-rez escudeiro Jujz ordenayro em a dita ujlla E Ruy Diaz E Joham da Rossa uereadores E Do-mingos Fernandes procurador do Concelho, estando hy de presente Tristam Martins, Ren-deiro das Rendas da comenda da mesma, sendo hy junta a maior parte do pouo que pera Jsso em ispeçiall foi chamado como pollo Regimento de ssua alteza vinha ordenado. E porque todo hassi passa na verdade asynaram haqui per cruzes e tambem hasinaram Gon-çallo Vasquez e Luis Filisso E Gonçallo Ramirão E JorJe Diaz E eu Joham de contreyras, es-priuam da camara que ho espriuj.

Na transcrição modernizada, pode ler-se: Publicado foi o foral atrás escrito, por Pe-dro Fragoso, moço da câmara de El Rei, nosso senhor, na câmara da Vila de Castro Verde, 26 dias de Março 1515, perante Diogo Álvares, escudeiro, juiz ordinário na dita vila, e Rui Dias e João da Rosa, vereadores, e Domingos Fernandes, procurador do concelho, estan-do aí, de presente, Tristão Martins, rendeiro das rendas da comenda da mesma, sendo aí junta a maior parte do povo que para isso em especial foi chamado, como pelo regimen-to de sua alteza vinha ordenado. E porque tudo assim passa na verdade, assinaram aqui por cruzes. E também assinaram Gonçalo Vasques e Luís Felício e Gonçalo Ramirão e Jorge Dias, e eu João de Contreiras, escrivão da câmara que o escrevi.

José Manuel Vargas

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Page 20: p. 8, 9 Boas Festascms.cm-castroverde.pt/upload_files/client_id_1/website_id_1/Public... · O CampaniçO setembro/outubro 2007 AUTARQUIA As Câmaras Municipais de Castro Verde, Aljustrel,

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Atabuas: V Aniversário

No âmbito do seu V Aniver-sário, o Grupo Coral “As Atabu-as” de São Marcos da Atabuei-ra organizou um encontro de grupos corais como forma de comemorar os seus cinco anos de existência. A iniciativa acon-teceu dia 27 de Outubro, em S. Marcos da Atabueira.

Castrense vence Torneio da Rádio

O F.C. Castrense foi o grande vencedor do 7.º Torneio de Fu-tebol da Rádio Castrense, que se realizou em Setembro pas-sado. Esta foi a terceira vez que a equipa castrense arrecadou o primeiro lugar na competição que juntou centenas de adep-tos no Estádio Municipal 25 de Abril, em Castro Verde. As res-tantes posições foram ocupada pelos seguintes clubes: 2º Al-modovarense, 3º S. Marcos e 4º Entradense.

Exposição “Projecto Fábrica”

“Ser, Estar e Haver” é o tí-tulo da exposição concebida no âmbito do projecto Fábri-ca, patente ao público até 17 de Novembro, no Fórum Muni-cipal. Uma exposição que mos-trou os trabalhos realizados pe-los frequentadores do atelier e a grande diversidade de sensi-bilidades que emergiram nes-te atelier de pintura. Ao todo 26 artistas, muitas probabilidades e diferentes olhares para a rea-lidade. Porque a pintura é isso mesmo – “ser, estar e haver…”

Revista Cultos tem novo rosto

Desde Outubro que a Revista Cultos, editada no concelho de Castro Verde, se apresenta nas bancas com um novo design gráfico e novos conteúdos in-formativos. Uma mudança que se produziu também no site da revista em www.revistacultos.Onde é agora possível consul-tar as notícias mais recentes da região e ter acesso a entrevistas e crónicas de opinião já edita-das. Tudo em prol de um pro-duto jornalístico cada vez me-lhor e mais interessante a nível informativo.

bReves

Edifício Escolar dos Geraldos

ICNB vai criar

ZPE das Piçarras

O Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversi-dade apresentou as propostas para a criação de novas zonas de protecção especial, que sur-gem no contexto do processo de colmatação da insuficiente designação de áreas para aves estepárias, decorrente do pro-cesso de contencioso comuni-tário. Destas novas zonas faz parte a criação da ZPE das Pi-çarras, abrangendo território dos concelhos de Castro Ver-de, Ourique e Almodôvar, num total de 2827 hectares. O ICNB argumenta que se trata de um habitat em risco de fragmenta-ção devido ao aumento de flo-restações recentes de pinheiro manso na área circundante.

Após a conclusão da proposta técnica, o processo entra agora na fase de inquérito público.

Munícipios

Redução do Endividamento Bancário

O endividamento líquido bancário acumulado da Admi-nistração Local apresentou, no final de Agosto de 2007, um saldo positivo de 280 milhões de euros.Regista-se assim uma redução do endividamento lí-quido bancário relativamen-te ao período homólogo do ano anterior, de que resulta um au-mento do superávit de cerca de 272 milhões de euros. O Mon-tante de capital em dívida junto da banca decresceu 60% face ao período homólogo do ano ante-rior. Este resultado positivo re-gistado é o mais alto desde 1998, representando, por um lado, o inequívoco decréscimo do re-curso ao crédito bancário, mas também o aumento da liquidez da Administração Local.

Aprendizagem Conjunta

A Junta de Freguesia de Cas-tro Verde proporciona, para os meses que se aproximam, cur-sos direccionados a pessoas com mais de 30 anos. A escolha é variada e para todos os gostos. Iniciação à informática, inicia-ção ao inglês, expressão plásti-ca, português para estrangeiros e bordados, são algumas das aprendizagens disponíveis.

ediFíCios esColares

transferência de titularidade

Após aprovação da Assembleia Municipal, a Câmara Municipal de Castro Verde vai transferir a titula-ridade, a título gratuito, dos edifícios escolares do 1.º ciclo do Ensino Bási-co de Aivados, Almeirim, Geraldos, Namorados e Piçarras, para a Junta de Freguesia de Castro Verde.

Uma decisão que teve por base o encerramento dos respectivos edi-fícios e a sua capacidade de utiliza-ção para outras funções de interesse comunitário, uma vez que, por ra-zões de natureza demográfica, legal e também de organização da rede municipal de equipamentos educa-

tivos, consignada na Carta Educati-va, não se perspectiva que os edifí-cios em causa possam vir a retomar as funções escolares para que foram criados.

A Carta Educativa recomen-da assim que as escolas desactiva-das devido à reestruturação da rede deverão ser afectas a funções comu-nitárias de interesse público, nome-adamente à animação de projectos Sócio-Culturais nas comunidades onde se inserem. Nalguns destes edifícios escolares já vêm decor-rendo actividades sócio-culturais e recreativas através de projectos di-

namizados pela Junta de Fregue-sia e Câmara Municipal de Castro Verde. De realçar que a Escola dos Namorados já foi alvo de uma in-tervenção e já funciona como cen-tro comunitário.

Assim, e reconhecendo o inte-resse destes projectos, a Câmara Municipal acordou com a Junta de Freguesia, a realização de obras de adaptação e melhoria nalguns destes edifícios com financiamen-to municipal, ao abrigo do proto-colo de colaboração e delegação de competências para o efeito cele-brado.

Escolas do Ensino Básico de Aivados, Almeirim, Geraldos, Namorados e Piçarras vão ser sujeitas a obras de adaptação para reaproveitamento do espaço. A utilização para actividades recreativas e comunitárias é um dos objectivos da sua revalorização.

O Conselho Geral da Associação Nacional de Municípios Portugue-ses (ANMP) rejeitou por unanimi-dade, a proposta de Orçamento de Estado (OE) para 2008, alegando que esta não contempla transferên-cias devidas de centenas de milhões de euros. Em causa está a “viola-ção do estabelecido na lei de finan-ças locais”, uma vez que o governo se comprometeu a um crescimen-to das transferências para os muni-cípios equivalente ao crescimento das receitas fiscais. Para este órgão da ANMP, o crescimento das trans-ferências para as autarquias deveria ser da ordem dos 8%, equivalente ao aumento das receitas fiscais (IVA, IRS, IRC), e não de 4,5%, o que aca-

ba por lesar as autarquias em “cerca de 200 milhões de euros”.

Para a associação, a proposta de Lei do Orçamento do Estado para 2008 contém “diversos erros e omissões, não cumprindo a Lei das Finanças Locais imposta pelo pró-prio Governo em 2006, para além de contradizer as afirmações pro-feridas pelo primeiro-ministro em matéria de financiamento do po-der local”.

“A proposta de OE para 2008 está errada porque utiliza valores de co-brança do IRS diferentes dos que constam da Conta Geral do Estado” e utiliza “critérios irreais de distri-buição do Fundo Social Municipal que a própria Assembleia da Repú-

blica já rejeitou na Lei do Orçamen-to do Estado para 2007”, lê-se na re-solução aprovada na reunião.

Quanto às omissões, a ANMP alega que a proposta de OE “es-queceu as transferências de com-petências nas áreas do ambiente e ordenamento do território”, acor-dadas com o primeiro-ministro em Janeiro de 2007, e inscreve uma verba insuficiente para satisfazer os contratos-programa já assinados.

orçamento de estado 2008

ANMP rejeita Proposta