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Oyama de Alencar Ramalho & Miguel Pacheco e Chaves ___________________________ FRANCISCO DE LIMA CERQUEIRA, NA VILA DE SÃO JOÃO DEL-REI, MINAS, COMARCA DO RIO DAS MORTES 1774 - 1808 Características 297 x 210 mm 512 páginas

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Oyama de Alencar Ramalho &

Miguel Pacheco e Chaves ___________________________

FRANCISCO DE LIMA CERQUEIRA,

NA VILA DE SÃO JOÃO DEL-REI, MINAS, COMARCA DO RIO DAS MORTES

1774 - 1808

Características 297 x 210 mm 512 páginas

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Copyright 2003 © Oyama de Alencar Ramalho & Miguel Francisco Pacheco e Chaves

Capa João Ramalho Neto

(Telhado da igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo São João del-Rei – MG)

Revisão Técnica

José Antônio de Ávila Sacramento Aluízio José Viegas

Revisão Ortográfica

Márcio de Alencar Ramalho

Design e Editoração Eletrônica João Ramalho Neto

Fotografias

João Ramalho Neto Miguel Francisco Pacheco e Chaves

Tratamento de Imagens

João Ramalho Neto &

RCS Arte Digital

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UMA INTRODUÇÃO A POSTERIORI ______________________________________

Um especialista em projetos editoriais leu o rascunho deste livro e argumentou que deveria haver uma exposição introdutória que apresentasse imediatamente quem foi Francisco de Lima Cerqueira e quais as razões de se fazer tanto esforço para compor uma obra como esta. Replicamos que os dados referentes ao mestre português, devidamente comprovados, estavam contidos ao longo do livro e foi opção nossa não envolver outras especulações que dizem respeito ao acervo arquitetônico de São João del-Rei, uma vez que, sendo essas especulações carentes de suporte documental, podem fazer parte de outros estudos que não o da História. Não nos custa, no entanto, escrever alguns tópicos da nossa convicção interpretativa sobre aspectos da arte arquitetônica, produzida nas Minas do século XVIII, cujos elementos nos remetem à figura de Francisco de Lima Cerqueira. Em primeiro lugar, compreendemos a motivação e as razões dos teóricos republicanos, dos modernistas de 22 e dos mentores do Estado Novo ao tentar fabricar a identidade nacional; identidade que necessitava de heróis e mitos. Nessa empreitada, houve distorções, romancearam-se os fatos, promoveram-se algumas personalidades e esqueceram-se de outras, e a identidade desejada não se formou.

Numa modesta tentativa de revisão historiográfica, trazemos à tona um dos esquecidos, Francisco de Lima Cerqueira, assim como recentemente se fez com Francisco Vieira Cervas1.

*** Quem foi afinal Lima Cerqueira, o que fez de tão importante para merecer algum especial reconhecimento da posteridade? Em poucas palavras, poder-se-ia responder que o mestre lusitano foi responsável pela construção da igreja de São Francisco (até 1805); do frontispício e das torres da igreja do Carmo; pela supervisão da construção das pontes da Cadeia, do Rosário e fiador da feitura da ponte da Misericórdia (hoje, soterrada).

Como são monumentos destacados da arquitetura são-joanense, avaliamos que a importância dessas edificações deveria estar atrelada ao nome de quem foi responsável pelas suas existências, entretanto isso não aconteceu.2 Aqueles que

1 Vide o cuidadoso e exuberante trabalho: Francisco Vieira Servas e o ofício da escultura na Capitania das Minas do Ouro, coordenado por Ângela Gutierrez, texto de Adriano Ramos. Belo Horizonte: Instituto Cultural Flávio Gutierrez, 2002. 2 É bom que se diga que essa importância é uma valoração da contemporaneidade, ou a partir da segunda metade do século XIX, quando o elemento artístico das edificações passou a ser apreciado. A importância que se vivenciava no século XVIII era de outra natureza, ou seja, as igrejas deveriam ser construídas pelo imperativo do forte espírito religioso da época e as pontes não iam além da sua serventia. Em São João del-Rei há várias pontes construídas no século XX, além das mencionadas, cujas essências dizem respeito exclusivamente à serventia de atravessar de um lado para outro. Do ponto de vista estético, não há razões para se colocar em evidência quem mandou construí-las nem quem se responsabilizou por suas construções, com exceção da

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escreveram sobre parte da arquitetura de São João del-Rei preferiram destacar a hipotética participação do misterioso Aleijadinho, seguindo os cânones da história oficial. Então, a igreja de São Francisco tem que ser importante, não porque foi construída por Lima Cerqueira, mas porque o risco foi feito pelo Aleijadinho, embora não haja comprovação documental desse fato. A igreja do Carmo é importante, não porque Lima Cerqueira construiu seu frontispício e suas torres, mas porque o Aleijadinho fez sua portada, embora não haja comprovação documental desse fato3. Esse ofuscamento de pessoas em benefício de outras ocorreu em outros lugares e é de se perguntar: que importância tem isso? De fato, de um ponto de vista imediato, não há importância alguma. Dizer que quem fez tal coisa foi fulano e não beltrano muda pouca coisa na vida das pessoas. São detalhes de somenos. Por outro lado, se aceitarmos plácida e candidamente que a História seja escrita sem critérios de rigor, em apressadas e limitadas crônicas de jornal, em revistas de ampla divulgação ou em guias turísticos inconseqüentes, mais de acordo com a conveniência de obscuros interesses momentâneos, mercadológicos e pessoais, quando o tema for objetivamente mais relevante, passaremos a ter uma narrativa enviesada, suspeita e sem garantias da sua plausibilidade. Então, tudo estará comprometido, o detalhe e o geral, o muito relevante e o pouco relevante. Portanto, entendemos que se deva tratar o detalhe com muito rigor, ainda que tido sem importância, pois é o detalhe preciso a base que garante a confiabilidade das interpretações dos assuntos mais gerais.

*** Ainda não se dispõe de documentação que informe de onde veio o mestre Lima Cerqueira. Só sabemos onde e quando nasceu (Aldeia Grande, 03 de outubro de 1728)4, mas não sabemos onde aprendeu seu ofício, se trabalhou em algum empreendimento de vulto antes de vir para o Brasil nem sabemos quando veio. Encontramo-lo em Vila Rica, citado em documentos, ora como arrematante, ora como

Ponte do Teatro que contém algum substrato de arte. Entretanto, a vaidade do momento impede a percepção de que as costumeiras e atuais placas de inauguração, num futuro distante, poderão evidenciar o que era melhor ter permanecido no anonimato. 3 Para ilustrar o que afirmamos no texto, dando o desconto de que não se trata de uma obra de História, reproduzimos a mais recente informação sobre as igrejas de São Francisco e do Carmo, extraídas do Guia da Estrada Real, de 2005: Igreja de São Francisco Considerada a mais importante da cidade em termos de arquitetura colonial, a igreja (1774) tem o projeto original de Antônio Francisco Lisboa, modificado durante as obras de construção terminadas em 1804. A portada também é de autoria de Aleijadinho, assim como lhe é atribuído o altar junto ao púlpito. (...) Igreja de Nossa Senhora do Carmo A construção e as sucessivas reformas da igreja (1733) se estenderam por cerca de 150 anos, indo até 1879. Ela tem uma torre octogonal, portada atribuída em parte a Aleijadinho e talhas pintadas de branco. (...) 4 Nós mesmos cometemos o equívoco, em outra obra publicada, ao afirmar que a data de nascimento de Lima Cerqueira era 2 de outubro de 1728. A transcrição completa do batistério esclarece que é dia 3 e não dia 2.

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louvado, ora como mestre de obras. Deduz-se, pois, que por força do Regimento de Ofícios Mecânicos devesse ter uma carta de usança para exercer suas atividades e conjecturamos que devia ser uma pessoa que conhecia bem o seu ofício. Em 1769, com 41 anos, esteve em Matosinhos (Congonhas do Campo) onde executou algumas obras, segundo consta no Livro de Receitas e Despesas, iniciado em 17575.

P’ (Pelo) que dey a Fran.co (Francisco) de Lima e a seu camarada a conta da rematação da Cap.la (Capela) Mor............................................................... 840 3/8 ” P’ (Pelo) Ouro a Fran.co (Francisco) de Lima M.e (Mestre) Pedr.º (Pedreiro) do {acrescimo} das torres.. .............................................................................. 39 ½ 4

A menção factual que nos informa que o mestre residia em Ouro Preto, por volta de 1774, está no seu testamento (de 1807) quando disse:

(...) Os Mezarios da veneravel Ordem Terceira de S. Francisco desta v.ª (vila) quando quizerão, edificar a mesma Capela da dita Ordem foram pessoal.e (pessoalmente) buscar me a V.ª (Vila) Rica donde me achava (...)

Já é oportuno interpretar que, na intenção de construir igrejas, as ordens religiosas que se responsabilizavam pelos custos davam pouca importância artística aos que transformariam o projeto em realidade. Os mestres das obras e os empreiteiros costumam aparecer nos termos através de uma feição administrativa contratual, evidentemente, levando-se em conta a competência de fazer o que os veneráveis governos desejavam. Os chamados oficiais, mestres entalhadores, pedreiros, carapinas, pintores, etc., raramente são citados em termos. Aparecem nos livros de receitas e despesas sem nenhum destaque, sem uma separação entre aquilo que seria arte e as coisas do trivial cotidiano. No Livro de Receitas e Despesas da Igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos (Congonhas do Campo), a contabilidade centralizada, simples e essencial não distinguia méritos. Nas mesmas páginas em que se registravam, por exemplo:

P’ (Pelo) custo do Risco p.ª (para) a obra da Igr.ª.............................................. . 3 P’ (Pelo) que dey ao ferrador de {ferragem} das bestas.................................... 6” 6 Por sinco alqueires de farinha............................................................................. 1 ¼ ” Por 3 ferraduras e um cavallo............................................................................. ¾ Por 2 panos de tousinho...................................................................................... . 2 ½ ” Por um barril de azeite de mamona.................................................................... 2 ” P. (Pelo) q’ (que) dei a João Glz (Gonçalves) Roza de compor o Altar da Caza dos milagres................................................................................. .............. . 3 ” P. (Pelo) q’ (que) dei ao pintor Joaqm (Joaquim) Je (José) da Nativide (Natividade) por encarnar a Imagem de S. (São) Franco

(Francisco).......................................................................................................... 8 ” P (Pelo) que dei a Manoel Per.ª (Pereira) dos S.tos (Santos) mestre carapina

5 O Livro de Receitas e Despesas da Igreja do Senhor Bom Jesus de Matozinhos encontra-se no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana.

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de compor esta capella do Snr (Senhor) Bom Jezus de Matoz.os (Matozinhos) da grade pª (para) baixo e mais alguma obras desta Capella Cento e quatro-mil, quatro centos e noventa e oito reis como consta do recibo no seu Livro a fls 5 ...............................................................................................................................104$498 P (Pelo) q’ (que) dei a Anto (Antonio) Franco (Francisco) pela factura dos Profetas................................................................................................................ 75 3/4 5 P. (Pelo) q’ (que) paguei a Anto (Antonio) Franco (Francisco) Lxa (Lisboa) pela factura da Caixa do orgão.............................................................. 80 ” 4

Seria como se nas contas da construção de Brasília aparecesse num mesmo livro: “Por que dei a Oscar Niemeyer pelo risco do Congresso Nacional, tantos cruzeiros” e logo abaixo, “Por que dei ao fornecedor Fulano de Tal uma caixa de parafusos, tantos cruzeiros”. É claro que, do ponto de vista contábil, por mais que se tenham sofisticado os procedimentos, no fim e ao cabo, tudo se resume em receita e despesa e, no momento em que a simplicidade das contas era o costume, os registros servem para comprovar a tese de que não se fazia discriminação de méritos. Mais ainda, não é somente o fato de todas as despesas estarem arroladas num mesmo livro, provavelmente numa ordem cronológica de gastos, o que nos enseja conjeturar sobre a pouca importância da atividade artística. A comparação quantitativa entre os elementos de despesa é outro indicador da relevância desses mesmos elementos. Os exemplos seriam inumeráveis, mas apenas valendo-se do que já foi citado, chama a atenção o que custou o risco da igreja (três oitavas), sem menção a quem o fez, e dois panos de toucinho (duas oitavas e meia). É nessa conjuntura econômica, que Francisco de Lima Cerqueira executava suas atividades de mestre pedreiro, mestre canteiro e mestre de obras. O que ganhou na arrematação da capela mor de Congonhas (840 mil reis e 3 oitavas) corresponde aproximadamente a três anos e meio de trabalho do que ganharia da Venerável Ordem Terceira da Penitência de São Francisco, de São João del-Rei, (260 mil réis, a seco, por ano).

*** Fato é que Lima Cerqueira veio, em 1774, e na vila de São João del-Rei permaneceu até a sua morte, em 1808, tudo indicando que sua opção não se ateve a questões de valores do mercado de trabalho. Parece-nos que não era um homem rico, mas um trabalhador endinheirado, e dizemos isso porque, se foi contratado pelos irmãos franciscanos por 260 mil réis por ano, ao longo de 31 anos (de 1774 a 1805), teria acumulado 8.060 réis (31 x 260). Entretanto, no ajuste de contas, afirmou que a ordem lhe devia 6.000 e tantos cruzados6 e que se contentava com a metade, desde que fosse paga de uma só vez. Ora, não sabemos se a ordem não lhe pagou, mensalmente, o combinado; e, se não lhe pagou, deduz-se que viveu todo esse tempo com outros dinheiros de que era possuidor. Se a ordem pagou e ainda lhe devia, significa que ele empregou recursos pessoais na construção da igreja e, no ajuste,

6 Se um cruzado era uma moeda de 400 réis, 6.000 e tantos cruzados correspondiam a 2.400.000 réis.

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queria de volta o que lhe pertencia. Infelizmente não está disponível a documentação pertinente aos detalhes desses fatos. O rotineiro livro de receitas e despesas da venerável ordem dos franciscanos nunca foi mencionado por nenhum pesquisador de que temos notícia. Se existiu e ainda estiver perdido em algum armário, uma vez encontrado, muitas dúvidas de hoje seriam historicamente resolvidas. Aliás, é um ponto bastante vago a questão financeira da construção da igreja de São Francisco, em particular, e da ordem, em geral. Tanto que há um termo, de 16 de fevereiro de 1810, no qual se menciona que o secretário, o síndico e o procurador geral foram citados por ordem do Provedor da Comarca, exigindo que a venerável ordem lhe prestasse contas no prazo de 30 dias sobre as receitas e despesas ocorridas nos últimos 30 anos, sob pena de seqüestrar os bens daqueles senhores, caso a ordem não fosse cumprida. De início, chama a atenção o fato de o ministro não ter sido também citado, já que lhe cabia a representação da ordem. Em seguida é estranho que, em vez de se cumprir a ordem, invocou-se a alternativa de não cumpri-la, constituindo um advogado hábil para rejeitar a determinação do Provedor da Comarca, baseada em privilégios que a ordem possuía. Não há outro termo que aborde o assunto, de modo que não se sabe se a ordem foi cumprida ou não. Se foi, é mais uma esperança de que se encontrem dados mais específicos sobre pessoas que participaram da construção da igreja, nos arquivos cartoriais da Comarca, caso existam. Se a ordem não foi cumprida, permanece apenas a estranheza de a ordem se valer de privilégios para não cumpri-la. Afinal, a ordem franciscana não deveria ter o que esconder dos mandatários da Comarca. Ou teria? Chegamos a conjecturar que a iniciativa do Provedor da Comarca tivesse alguma ligação com Francisco de Lima Cerqueira, pois seu testamenteiro, herdeiro e curador o Alferes José Antonio da Costa poderia estar interessado em receber a dívida que a ordem tinha para com o testador e poderia ter instigado o provedor a investigar as contas da ordem franciscana. Em 21 de maio de 1821, a mesa administrativa da ordem franciscana admitiu haver nos livros uma dívida com Lima Cerqueira no valor de aproximadamente 846.000 réis, mas, no lugar de pagá-la ao herdeiro, deliberou-se que se recorresse até o último tribunal para não efetuar o pagamento, valendo-se das regalias de que a ordem possuía. Mas isso não é tudo. A questão não se refere apenas a uma dívida que foi cobrada e provavelmente não paga. É que, logo após o ajuste de contas, a ordem seqüestrou os bens de Lima Cerqueira, deixando-o na total indigência. Infelizmente a documentação relativa a esse seqüestro não está disponível e por isso suscita muitas indagações. Teria a ordem poderes para seqüestrar bens? Por que motivo chegou-se a essa deliberação?

O respeitado e minucioso pesquisador são-joanense Luís de Melo Alvarenga (falecido) afirma que o seqüestro dos bens ocorreu em 1º de setembro de 1805, o que nos faz supor que ele estivesse lendo algum pertinente documento, entretanto, como

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não citou a fonte, permanecemos apenas com essa informação. Salvou o mestre Cerqueira de piores dias a ordem dos carmelitas, por iniciativa do

Procurador Geral Manoel José Ribeiro Bastos, que propôs uma módica ajuda financeira mensal (3 oitavas de ouro), casa e comida para ele e seu escravo, enquanto vivesse e permanecesse desafortunado. A proposta foi feita e aprovada pela mesa administrativa em 16 de dezembro de 1805, justificando o proponente que o irmão Francisco de Lima Cerqueira era merecedor de atenções, pois, em outros tempos, tinha contribuído para a ordem com avultada quantia.

Supomos que Lima Cerqueira continuou cobrando seus haveres aos franciscanos, e, provavelmente doente, em 25 de maio de 1807, ditou seu testamento, na forma da lei. Em seguida, tudo indica que tenha apresentado um quadro de senilidade, diagnóstico que não existia na época7, o que resultou na determinação judicial de que fosse dado como incapaz e, portanto, expediu-se uma curatela, em 29 de julho de 1808, para que seu herdeiro providenciasse o inventário dos bens. Em 27 de setembro daquele mesmo ano, faleceu o mestre português. A nosso ver, até que se comprovem outros fatos que possam indicar o contrário, cometeu-se uma terrível e imperdoável injustiça com um homem que deveria ter o maior reconhecimento possível. Injustiçado no seu tempo e injustiçado no nosso tempo, pois sempre que oportuno, não se lhe dá o mérito pelo que fez, historicamente registrado. As poucas iniciativas de reparação foram muito modestas e ocorreram no âmbito restrito da ordem franciscana. O seqüestro continua, o seqüestro da sua memória.

7 Nas Ordenações Filipinas toda a psicopatologia se resumia em demente, mentecato, louco e dezasizado.

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ADVERTÊNCIA

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Antes de iniciar este trabalho, tínhamos um vago projeto delineado. Colocamos em prática o princípio que recomenda: somente quando se põe em execução a obra se percebe inteiramente o melhor8. Não garantimos se percebemos e fizemos inteiramente o melhor. Tentamos. Uma coisa é certa: saiu algo muito diferente do que inicialmente imaginávamos, comprovando, pelo menos, que o princípio tem alguma procedência.

Chegamos a uma conclusão: o livro não precisava ter um autor tal como se o conhece. Bastaria que alguém ordenasse os documentos e os colocasse à disposição do público leitor e, então, cada um comporia sua narrativa, com base no que estivesse vendo. Esta alternativa é, no fundo, uma nova proposta de produzir a narrativa histórica factual sem a preocupação análoga à do jornalista, que se esforça na busca do furo de reportagem, tido como façanha de grande mérito, ou do acadêmico, que se apossa de um acervo, mantendo-o às escondidas, e só o libera depois de exauri-lo em suas teses. Com todo o respeito à cultura e aos costumes jornalísticos, bem como à cultura e aos costumes da academia, que conferem prestígio à exclusividade e novidade do que é produzido naqueles meios, entendemos que quanto mais pesquisadores tiverem acesso simultâneo às fontes primárias, maiores serão as possibilidades de que as produções decorrentes dessas fontes sejam mais ricas, esclarecedoras e intercomplementares.

8 O enunciado do princípio é de Francisco de Lima Cerqueira. Vide Documento 24, linha 6.

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Do assunto abordado, não foi assim no passado historiográfico de que temos notícia. Pelo contrário, alguns poucos privilegiados, que tiveram acesso aos documentos originais, produziram uma narrativa histórica fronteiriça, isto é, uma narrativa que não chega a ser ficção porque os sinais que lhe são próprios vêm contrabalançados com outros que pertencem à natureza do texto não-ficcional. Neste, o autor deveria livrar-se do fantasioso para poder conduzir o leitor através de uma estratégia textual, cujo horizonte de expectativa se reduzisse ao ponto comum do compartilhamento da “verdade”, ou seja, o que o autor “vê” deveria ser a mesma coisa que o leitor também poderia “ver”, caso este estivesse no lugar daquele ou, em outras palavras, seria esforçar-se para que o leitor se sentisse submetido às mesmas contingências do autor.

As narrativas fronteiriças nasceram sob várias justificativas, que não comportam aqui explanações maiores, mas, apenas para simplificar, diríamos que vão da eufemística ingenuidade da boa intenção ao deliberado propósito de fabricar inverdades. O resultado prático é o mesmo e bem conhecido, pois as narrativas históricas romanceadas, com esta ou aquela origem de intenções, têm, através da sua repetição, que é única, constante e monótona, a função de manter e fortalecer o sistema e a sua estrutura de poder. A voz destoante, quando tem a chance de surgir, aparece tímida, como curiosidade irrelevante que deverá ser esquecida porque traz prejuízos, afronta a tradição9, contraria opacos e escusos interesses, e,

9 A palavra tradição é muito usada nas chamadas cidades históricas de Minas Gerais. O que ainda não tivemos oportunidade de investigar exaustivamente é se todos que a usam estão conscientes de suas conhecidas acepções; se o uso tem que ver com o tradicionalismo, ou com as diversas abordagens da História. Quando o uso nada mais é do que expressão repetitiva do senso comum, iguala-se a falatório e, neste caso, teoricamente, não se trata de coisa

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imediatamente, mobiliza os vigilantes do establishment para surrar o texto que ousou e se atreveu a desdizer especialistas de renome nacional e internacional. A questão não chega a ganhar o status de polêmica, que possa ser civilizadamernte debatida, pois entendem os pedantes donos do saber oficial e hegemônico que um assunto para ser contraditório pressupõe e exige as mesmas qualificações honoríficas dos proponentes das teses que se defrontam.

Por esses motivos o leitor não encontrará neste livro a costumeira revisão bibliográfica, uma vez que o cerne da obra é a coleção das fontes primárias integrais que se colocam disponíveis. Além disso, levamos em conta que outros autores que fizeram referências a essas mesmas fontes, delas citaram em suas obras apenas pequenos trechos, de acordo com as suas conveniências, citações que não sabemos se eram provenientes da leitura direta dos originais ou se eram cópias de cópias de transcrições e, diga-se de passagem, algumas forjicadas. Perderíamos muito tempo se tivéssemos que contestar autores imaginativos, que foram muito além ou permaneceram aquém do que está registrado.

Na faina organizativa de colocar à disposição do leitor um conjunto de fontes primárias, reproduzidas com alta qualidade, nossas transcrições, longe de pretender que sejam as melhores, podem até ser desconsideradas porque entendemos que, ao ler um texto manuscrito do século XVIII ou do início do XIX, estamos sujeitos a cometer enganos, e, portanto, se o leitor não concordar com a nossa leitura, faça ele mesmo a sua, sem a necessidade de transformar um detalhe em ponto de discórdia. O

alguma importante. Entretanto, a expressão faz parte do repertório dos zeladores mais limitados do sistema e é usada providencialmente quando lhes falta uma argumentação mais sólida. E funciona.

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trabalho de tê-las feito é apenas uma pressuposta ajuda ao leitor menos versado em paleografia, porém estamos receptivos a qualquer contribuição corretiva, que se vier a nós, acreditamos, só teremos a ganhar.

O texto que produzimos, correspondente a cada conjunto de fontes primárias, é apenas uma forma de ligar os fatos e construir uma visão menos fragmentada do contexto em que transitou Francisco de Lima Cerqueira, na sua tarefa ajustada de construir parte substancial do acervo arquitetônico de São João del-Rei, no período de 1774 a 1808. Alguns poucos autores locais já contemplaram a importância do mestre português, embora de maneira modesta, concisa, e talvez, pela precariedade tecnológica da época, não puderam fazer o que hoje temos a oportunidade de apresentar.

As partes interpretativas, que são poucas e específicas, estão sujeitas a conviver com outras interpretações, e, de forma alguma pretendemos insinuar que a nossa seja boa e a dos outros não possa ser melhor ou diferente. Pedimos ao leitor que apenas considere a nossa interpretação uma oportunidade de meditação e temos a convicção de que a importância deste trabalho é a disponibilidade das fontes originais, as quais certamente se constituem na oportunidade de meditação por excelência. Então, o leitor poderá abandonar o “conto o que me contaram” — relata refero — e poderá assumir a sua própria responsabilidade, deixando de ser um recontador daquilo que contaram, passando a ser um contador por si e para si.

Com essa concepção não estamos ingenuamente assegurando que, se doravante todos os livros forem organizados da maneira proposta, poderíamos dispensar o historiador e o seu ofício. Absolutamente, não. As interpretações, as análises, as sínteses e as avaliações continuarão a demandar a competência de quem se especializa naquele ramo de estudo, e reconhecemos que se trata

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de uma tarefa das mais complexas, que só o passar de muito tempo, diuturnamente aproveitado e direcionado para esse fim, é capaz de formar o cabedal necessário para que uma pessoa possa produzir uma narrativa que lhe dará o reconhecimento de ser um historiador. Contudo, as narrativas históricas, por mais elaboradas e sábias que sejam, dependem do primeiro passo que é a narrativa factual. Se esta não for confiável, o que se segue será apenas a sofisticação do equívoco. Portanto, quando propusemos, anteriormente, que cada um poderá compor sua própria narrativa, entenda-se que cada leitor estará de posse dos elementos fundamentais, necessários para avaliar se outras narrativas mais elaboradas estão de acordo com o suporte adequado no qual deveriam estar baseadas.

As fotografias, que são partes integrantes desta obra, não são meras ilustrações ou meros enfeites, mas o registro competente da obra da responsabilidade de Francisco de Lima Cerqueira, que se soma aos fac-símiles reproduzidos.

São João del-Rei, 03 de outubro de 2003

(275º aniversário de nascimento do Mestre Francisco de Lima Cerqueira)

Os Autores

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Em 1885, José Antônio Rodrigues, um autor são-joanense, ao escrever uma de suas obras10, coloca, após o título, o paratexto: “narrativa histórica”. No proêmio, tenta justificar que não escrevera um romance: “porque em mim fallecem habilitações para manejar a penna em época de tanto progresso nas lettras, é apenas o tosco historico do facto, revestido de algumas pallidas côres, para não produzir tedio ao leitor.”

Também nos dias atuais, alguns produtores de narrativas hitóricas estão muito preocupados com o tédio dos leitores e propõem uma modalidade de texto que, supõem, atinja um vasto público, geralmente desinteressado de leituras que exijam um pouco de esforço intelectual ou, eventualmente, o uso dos dicionários. As estatísticas comprovadoras do sucesso editorial reforçam a tese e indicam o caminho a ser seguido. O método tem, no entanto, aspectos discutíveis e não será aqui que iremos abordá-los em todos os seus ângulos, mas é importante assinalar que a nossa pretensão, ao escrever esta obra, não se orientou pelas mesmas estratégias mercadológicas.

A novidade que estamos propondo consiste na substituição das narrativas recontadas pela oportunidade de o leitor produzir sua própria narrativa com base na disponibilidade efetiva das fontes primárias relativas ao assunto com o mínimo de

10 O Casamento do Padre Pontes; Narrativa Histórica. São João del-Rei: Typ. da Gazeta Mineira, 1885.

• José Antônio Rodrigues é também o autor de Apontamentos da População, Topographia e Noticias Chronologicas do Municipio da Cidade de S. João Del-Rei. Provincia de Minas — Geraes Offerecidos ao Illustrissimo Senr. Commendador Antonio Simoes de Souza. São João del-Rei: Typ. de J. A. Rodrigues, 1859.

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interferência direcionada pelos autores.

O caso em tela é a construção de parte do acervo arquitetônico de São João del-Rei, uma cidade de Minas Gerais, como algumas outras, nascida nos começos do século XVIII. Naquele contexto transitou o mestre canteiro português Francisco de Lima Cerqueira, que se transferindo de Vila Rica aqui viveu cerca de 34 anos, deixando a marca da sua competência. Na história oficial, seu nome é lembrado como uma figura de segunda categoria, um intruso modificador de projetos formidáveis, quando não é totalmente esquecido.

Preferimos, então, apresentar as fontes primárias disponíveis relativas à presença do mestre Lima Cerqueira em São João del-Rei a entrar nos específicos assuntos polêmicos que envolvem a construção do referido acervo arquitetônico da cidade. Assim, o leitor poderá tirar suas próprias conclusões.

No momento atual, em que tanto se discutem autorias de obras de arte, ou, em que se atribuem autorias sem discussão, não tivemos a pretensão de dizer que o mestre Francisco de Lima Cerqueira fez sozinho a igreja de São Francisco e parte da igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo, subtraindo e ofuscando a importância daqueles que contribuíram para a edificação das obras, entre 1772 e 1808. Ressaltamos que não somos contra nenhuma outra pessoa não mencionada que tenha participado da construção daquelas igrejas no referido período. Sentiríamos felizes se pudéssemos conhecê-las, a todas, com o grau de certeza que a história pode proporcionar-nos e, diante da incerteza, preferimos conviver com a dúvida a arriscar-nos na fantasia. Nossa preferência pela dúvida é porque a consideramos transitória, aberta a transformar-se em certeza, conforme apareçam evidências convincentes. Até agora, registrados nos documentos, além do mestre, só encontramos os nomes de: Antonio Ferreira Lima, Ignacio Joze do Rego, seu cunhado

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Themoteo e dois negros, Luiz Pinheiro de Souza, Joze Maria da Silva, Agostinho Gonçalves Pinheiro, Joze Antonio Fontes e Aniceto de Souza Lopes, este último, somente citado em 1809 num termo de reajuste, logo após o falecimento de Lima Cerqueira. Não poderíamos deixar de acrescentar neste rol Antonio Martins (Mrz), autor historicamente documentado do risco inicial da igreja de São Francisco, apesar de ter sido apagado da história com um outro tipo de risco. Também é oportuno assinalar a importância institucional das Ordens Terceiras como intencionalmente responsáveis pelo que está hoje construído. Não fossem elas nossa paisagem arquitetônica seria outra. Mais adiante — quem sabe? — outros documentos poderão aparecer e, certamente, a lista aumentará, se é que ainda existe algum documento a aparecer.

Entendemos a alegada deficiência de documentação nas ordens terceiras de São João del-Rei como duas modalidades de constatação. Uma delas é o limite objetivo da história. A outra é a oportunidade que beneficia o exercício de atividades de outros campos de manifestação que independem da existência de documentação. É ainda importante considerar que a falta de documentação também é um evento, que tem a sua história, mas esta, não temos a menor condição de narrá-la. Que outros o façam, sobretudo aqueles que até têm a obrigação de fazê-lo, com todas as letras, e de preferência com todos os documentos disponíveis e, antes de qualquer coisa, que chamem um escrivão que lhes defira o juramento e coloquem a mão direita sobre os Santos Evangelhos, em um livro deles, e jurem em suas almas bem contá-la, verdadeiramente, sem dolo ou calúnia e sem omitir nenhum detalhe.

Finalmente, que nos seja permitida uma conclusão de ordem pessoal, que não interferirá na narrativa histórica, pois que evitamos, ao longo deste trabalho, qualquer comentário que

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descambasse para o lado emocional. Impressionou-nos, porém, uma pequena passagem no testamento do mestre Lima Cerqueira, quando disse: (...) passando aqueles Irmãos (franciscanos) a ingratidão de me fazerem o seqüestro de todos os meus bens (...). Hoje, distantes dos fatos vivenciados e de posse apenas dos precários registros, notamos que a força do sistema prevalece e não se acanha de ser perversa. Se Francisco de Lima Cerqueira não teve morte gloriosa, se morreu órfão, pobre, mentecato, louco e dezasizado, se não era figura adequada a transformar-se em herói da nação, deveria ser esquecido. Durante dezenas de anos somente foi lembrado pelas vozes destoantes, também condenadas a ser uma segunda categoria de expressão. Essa estratégia continua presente e não foi o mestre português o primeiro nem o último a ter o seu esquecimento imposto pelas forças que manejam a sociedade. Por isso, incluímos nas pretensões deste nosso trabalho, assim composto, o desejo de contribuir para devolver ao mestre Lima Cerqueira, tardiamente, a parcela do seu justo merecimento, já que, um dia, soubemos ser ingratos, retirando-lhe os meios de sobrevivência, condenando-o à indigência e à marginalidade estigmatizada pela loucura, e no bojo daqueles procedimentos, herdamos o seu esquecimento. As muitas horas de trabalho que levamos para produzir e organizar este livro não representam quase nada do muito que temos de reparar — se é que seja possível — a dívida que temos para com o Mestre Francisco de Lima Cerqueira pelo que nos legou do seu engenho e da sua arte11. É o que pudemos fazer; e como não temos a delegação de

11 • Em 1993, Alfredo Pereira de Carvalho e Sebastião de Oliveira Cintra registram, em artigos da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, Volume V, 1987, p.77 e 123, que, em 4 de agosto de 1981, a Venerável Ordem Terceira de São Francisco reconheceu a importância de

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poderes para falar em nome da nossa comunidade, não temos certeza se este é também o seu desejo. Se não for, lamentamos que se queira cultivar a ingratidão, ocasião em que algumas outras feições da nossa índole vão-se esclarecendo e aflorando ao lado e ao contrário de outras que têm servido para nos engrandecer.

Francisco de Lima Cerqueira, laureando-o com o título de “Irmão Benemérito”. • Por iniciativa de Giuseppe Caputo (depoimento seu), síndico da Venerável Ordem Terceira de São Francisco, com a aprovação informal dos mesários Alfredo de Carvalho, José Gaede e João Rodrigues, foram construídos dois pedestais que receberam suas respectivas placas: Alameda Francisco de Lima Cerqueira e Alameda Aniceto de Souza Lopes. Em cada uma das placas escreveram-se as cuidadosas e medidas palavras: “Homenagem da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis a um de se seus construtores”. Não houve solenidade que marcasse o feito, nem registro em termo, nem manifestação formal do venerável governo.