Outscape Photography #4 Dez 2015

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Edição 4 | Dez 2015 Natureza Interior Outscape Photography Buenos Aires - Yosemite - Caminho dos Diamantes - Monte Roraima - Galerias Vazias

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Cristiano Xavier, Buenos Aires, Yosemite, Caminho dos Diamantes, Monte Roraima e Leonardo Salomão

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Edição 4 | Dez 2015

Natureza Interior

Outscape Photography

Buenos Aires - Yosemite - Caminho dos Diamantes - Monte Roraima - Galerias Vazias

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Nós também voltamos! Assim como a Fotografia et al, a Outscape Photography ficou um tempo parada e as razões são as mesmas, portanto vamos logo ao que interessa, os artigos desta edição!

Começamos com uma foto sensacional do Cristiano Xavier logo na capa e seguimos nessa mesma balada em seu artigo “Natureza Interior” onde ele conta como entrou no mundo da fotografia e sua trajetória até o momento. Para ilustrar sua história ele nos brinda com uma série de imagens sobre árvores, tema pelo qual ele é apaixonado e busca incessantemente.

Na sequência vamos explorar um pouco a cidade de Buenos Aires. Cidade linda, que me lembrou um pouco o Rio de Janeiro pela arquitetura, quando lá estive. Recomendo a visita, rende muitas fotos! Nosso guia nessa viagem será Judith Rodrigues, uma talentosa fotógrafa de rua, nascida, criada e apaixonada por Buenos Aires.

Do sul das américas vamos direto para o norte. Yosemite, o icônico parque nacional americano eternizado pelas lentes de Ansel Adams. Marcio Lambais mais uma vez traz imagens lindas da terra do tio Sam. E dessa vez com um bônus. Aqui na revista todas as imagens em cores, no website da OP, outras imagens na versão PB. Vale a pena conferir as duas versões, são maravilhosas.

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Voltando ao Brasil e ao passado, Ivan Banzato nos guia pela Estrada Real. Uma expedição de bike registrada em imagens, por essa que é uma das primeiras estradas do país.

Voltando ao presente, vamos com Adilson Moralez subir ao topo do Brasil, em um cenário atemporal, o Monte Roraima. Uma expedição que consta na lista de to-do’s de 10 entre 10 fotógrafos de natureza e paisagens brasileiros, mas que poucos chegam a realizar, tamanha a dificuldade. Adilson irá nos mostrar o caminho das pedras. Literalmente.

Para encerrar Leonardo Salomão, atualmente explorando a África, nos conta um pouco do que tem visto em suas andanças no continente selvagem. Infelizmente nem tudo é beleza por lá.

Muito obrigado ao Cristiano, a Judith, ao Marcio, Ivan e Adilson pela colaboração e paciência. Obrigado também ao Leonardo que se juntou ao time nessa reta final. A Outscape Photography #4 ficou sensacional e a razão disso é o trabalho de vocês que ilustra nossas páginas.

Como é dezembro, não posso deixar de anunciar, 2016 virá com muitas novidades! Vamos pular janeiro para tomar fôlego, mas em fevereiro voltaremos a ativa com uma grande surpresa. Aguardem!

Feliz natal e um ano novo cheio de realizações!

Carlos Alexandre Pereira

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A Outscape Photography está sempre em busca de novos colaboradores. Se você possui alguma sugestão de artigo ou deseja colaborar com a revista,entre em contato através do email [email protected]

Para participar de nossa Galeria de Imagens envie um email para [email protected].

Revista Outscape Photography

Edição & Projeto GráficoCarlos Alexandre Pereira

[email protected]

Cristiano Xavier

Mineiro e fotógrafo profissional. Atualmente

tem seu trabalho dividido entre expedições fotográficas

e a fotografia autoral. Desenvolve a 15 anos um trabalho de pesquisa em

fotografia noturna, usando como meio de captura

diversas câmeras digitais e películas de grande formato

4x5. Estas obras Fine Art se destinam a galerias. Ministra Workshops de

fotografia de natureza pelo mundo através de sua empresa Onelapse

Expedições Fotográficas.

www.cristianoxavier.com

www.onelapse.com.br

Judith Rodrigues

Eu nasci em Buenos Aires, Argentina, onde passei a

maior parte da minha vida. Me interesso por fotografia

de rua. Tento fazer a câmera se tornar meus olhos, com meu jeito de ver e capturar

a singularidade das pessoas comuns, que nunca

são assim tão comuns. Reflexões, expressões

únicas, justaposições de sombras, luzes e pessoas

como um caleidoscópio. Uma tênue ligação entre

duas pessoas que se cruzam na rua e talvez nunca se

encontrem novamente.

Artigos &

Autores

Natureza InteriorEu Nasci em Buenos Aires

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Marcio Lambais

Engenheiro Agrônomo com doutorado em ciências pela

University of Texas, atua como Professor Titular na USP. Iniciou na fotografia

em 1978 e já participou de diversas exposições.

Ganhou Menção Honrosa no concurso de fotografias

Olhares e Saberes da UNIMEP em 2011, e

segundo lugar no II Prêmio de Fotografia “Ciência &

Arte”, promovido pelo CNPq em 2012.

Ivan Banzatto

Ivan Bianchessi Banzatto, viajante e autor de artigos para revistas de viagem é apaixonado por esportes

radicais e praticante assíduo do mountain bike. Participa

de viagens pelo Brasil e América do Sul com objetivo

de registrar e divulgar culturas ainda preservadas.

Adilson Moralez

Formado em Administração de empresas, entrou no mundo da fotografia em

1994 quando pegou a câmera Zenit 122 de sua irmã. Foi daí que surgiu

sua paixão por fotografia de natureza e viagens.

Possui um acervo de mais de 6.000 cromos e 30.000

imagens digitais de suas viagens pelo mundo afora.

Além de documentar jornalisticamente suas

viagens tem como objetivo retratar as dificuldades

enfrentadas nas mesmas.

www.ecofotos.com.br

YosemiteCaminho dos

DiamantesMonte Roraima

Leonardo Salomão

Comunicador e fotógrafo documental, criador do

Projeto Evoé. Atualmente viaja o mundo em busca de retratar a cultura alimentar

de diferentes povos.

www.projetoevoe.com

Galerias Vazias

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“Milky Way”Haissam Massouh

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“Lac de Sainte Croix, Gorges du Verdon”Fábio Fagu Costa

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“O Arduo Corte da Cana ”Mateus Silva

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“Vulcão Osorno, Patagônia Chilena”Erich Matos

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“ ”Tom Leal

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Natureza Interiorpor Cristiano Xavier

Tudo começou muito cedo. Minhas referências visuais desde criança eram muito ligadas a natureza, o cerrado, as veredas e o céu do sertão de Minas Gerais. Ano a ano esses tijolinhos foram se empilhando (e continuam até hoje) para dar forma concreta à minha maneira de enxergar o mundo. Hoje já mais maduro, consigo identificar como cada um destes tijolos influenciou na maneira como tomo as decisões e como abordo minha fotografia.

O contato inicial foi com a câmera de meus pais, uma Olympus Trip. Acho que qualquer um na minha faixa etária de 40 anos teve contato com este modelo de câmera quando criança, era um clássico da época. Este primeiro insight me colocou em um novo universo a partir do momento em que ao aproximar o olho esquerdo do visor, eu simplesmente bloquearia tudo ao redor e aquele enquadramento passaria a ser dirigido e determinado pela minha vontade, pelas minhas emoções.

Durante anos minha vida foi dedicada a outras áreas distantes da fotografia, mas me lembro bem que a captura de um momento instantâneo e a conservação disso como memória sempre foi uma possibilidade muito estimulante para mim até que surgiu a necessidade do uso da imagem dentro da minha antiga profissão, a odontologia. Adquiri então minha primeira câmera com a finalidade de documentação científica de procedimentos clínicos. Era uma Canon EOS 5000, lente 35-80mm, um flash circular Vivitar e fotografava com filme negativo Pro Value, tudo bem simples. Como eram registros muito técnicos e que necessitavam padronização de resultados, isso me obrigou a estudar intensamente sobre o processo fotográfico como um todo. Ainda bem.

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O tempo passou, o conhecimento foi aumentando, o equipamento e principalmente o olhar evoluíram. A reviravolta ocorreu quando entendi as possibilidades da fotografia noturna e já em 1997 queimava meus PROVIA 100F em longas exposições sob o maravilhoso céu do norte de Minas. O silêncio da noite e a conexão com a natureza haveriam de mudar o curso de uma vida.

Hoje já com 14 anos de dedicação exclusiva a fotografia, continuo direcionado pela emoção, pelo que vem de dentro. Projetos surgem e ressurgem, alguns que não tinham forma vão se encaixando com os anos e aparecem prontos na medida em que o meu modo de abordar os temas não muda com os modismos mas muda com a evolução da minha pessoa. The Low Light Trees é um destes projetos que pode ser visto em parte neste artigo. É uma coletânea que nunca terá fim pois deriva da minha imensa admiração pelas árvores, suas formas e sua energia. Durante as várias expedições fotográficas que faço por ano, seja sozinho ou seja guiando grupos em diferentes locais pelo mundo, meu olhar sempre é magnetizado na captura de um novo exemplar pra compor a série.

Considero o equipamento fotográfico como uma extensão do meu olhar. É importante na medida em que é através dele que se materializa a mistura dos sentimentos, experiências e emoções. Procuro ter o melhor necessário para registrar a minha intenção naquele momento. Atualmente na parte digital uso uma Canon 5DsR, Canon 5DMK3 e outra Canon 5DMK2 infrared e poucas lentes versáteis, mas com boa qualidade óptica. Na parte analógica uso uma Sinar 4x5 com lentes Schneider 65mm e 150mm e para o trabalho atual um filme Efke PB ISO 25. Enfim, equipamento não faz foto, mas necessitamos dele para colocar em prática nossas ideias. Então que seja o melhor possível.

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Não me considero um fotógrafo de natureza ao pé da letra. Tenho vários amigos que são e admiro muito o trabalho que fazem na área de preservação e documentação de animais e ecossistemas ameaçados. Os elementos da natureza sim, são a matéria prima das minhas imagens, mas não necessariamente precisa ser algo exótico ou em extinção. Também não tenho a pretensão do fotojornalismo, onde se contam histórias através de ensaios ou conjunto de imagens. Tenho alguns poucos temas neste estilo, mas isso não faz parte da minha formação. Aliás, sou autodidata e o autodidatismo já é forte determinante do caminho narrativo de cada imagem que produzo. O fato de minha experiência na fotografia não ter passado pelo viés acadêmico, faz com que meu processo de criação seja mais intuitivo e livre dando como resultado imagens que me representam fielmente.

A luz é minha busca incessante, é o fator chave que doma minhas decisões. Pode ser uma folha seca, uma gota d’água ou uma textura na areia desde que a luz esteja bela e a composição forte, existe uma conexão e esta é a minha imagem. Quando a natureza se exibe com manifestações de uma luz incrível emanando energia vital, são momentos em que a pura contemplação te absorve e considero muito importante respeitar esse passo. Muitas vezes ficamos absorvidos pela interação com o equipamento, testando o melhor ajuste, a melhor composição, na ânsia de capturar aquilo que está a nossa frente e nos esquecemos de parar por alguns segundos e apenas sentir. A fotografia pode captar e eternizar aquela imagem, mas não a temperatura, o vento, o cheiro e os sons. Quando se trata de natureza, acho necessária esta interação, para que tudo flua mais leve e fique guardado na lembrança também.

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O produto final do trabalho é sem dúvida a obra na parede. A maioria das imagens são únicas no sentido em que funcionam sozinhas e cada uma tem sua força própria. Através destas obras procuro trazer a emoção de volta visualmente. Tudo é direcionado para isso, desde a abordagem do tema, a qualidade na captura, a escolha das lentes, da técnica e a pós-produção que visa gerar o arquivo mais perfeito possível. Na parte da impressão, a escolha do papel ideal, a cuidadosa calibração do perfil são fatores que fazem parte do refinamento. Eu não imprimo minhas obras mas acompanho pessoalmente todo o processo. Prefiro contar com uma pessoa expert no assunto. Um printer de confiança pode orientar e sugerir pequenos detalhes ou diferentes materiais que valorizam cada vez mais o resultado final, me deixando tranquilo para somente produzir minhas imagens. Cada profissional tem conhecimento na sua área e agregar isso em função da qualidade futura é uma fórmula que acredito e pratico normalmente. Aliás, qualidade em primeiro lugar, se vier acompanhada de quantidade (o que é difícil) melhor ainda. É comum para mim numa viagem ou expedição fotográfica de 8 a 10 dias finalizar a edição e o tratamento refinado de apenas 3 a 5 imagens que considero a nata da produção daquele período e não necessariamente estas imagens estão ligadas entre si ou falam a mesma linguagem, mas com certeza são janelas da minha alma.

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SEU OLHAR, SUA HISTÓRIA PELO MUNDO

A OneLapse oferece expedições fotográficas em diversos destinos pelo mundo, levando você a lugares onde a

natureza possui uma exibição incrível. Uma excelente oportunidade para iniciantes e profissionais aprimorarem

suas técnicas, na companhia de fotógrafos especialistas e tendo como sala de aula cenários deslumbrantes.

Viva esta experiência. T. 11 2528.9181 \ onelapse.com.br

The Narrows,

Deserto de Utah [EUA]

Coordenadas geográficas

37.298364, -113.026277

Luz de 11:30 AM rebatida

nos paredões de arenito

Por Cristiano Xavier

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Eu Nasci em Buenos Airespor Judith Rodrigues

Eu nasci em Buenos Aires, uma cidade cujo nome quer dizer bons ventos ou bons ares . Estes ventos trouxeram navios ao Rio de La Plata com os primeiros imigrantes vindos da Espanha no século XV. E então a cidade começou a crescer com pessoas e culturas diversas vindas de todas as partes do mundo; espanhóis, italianos, bolivianos, peruanos, chineses, coreanos e muitos outros dão a Buenos Aires uma fisionomia única no mundo.

Buenos Aires é uma cidade de contrastes, onde o velho e o novo são misturados de forma harmônica e, diria eu, poética. É uma cidade muito fotogênica, onde você pode achar cenas surpreendentes logo ali na esquina da sua casa. É por isso que, não importa a onde eu vá, supermercado, cinema ou trabalhar, sempre levo minha câmera comigo.

Se você está planejando fazer Fotografia de rua em Buenos Aires, um bom ponto de partida pode ser San Telmo, especialmente aos domingos. É uma das partes mais antigas da cidade. Lá você irá achar lindas construções históricas, mercados movimentados e ruas cheias de vida vibrante. Cafés, casa de tango e lojas de antiguidades se alinham ao longo das ruas de calçamento de pedra. Músicos, artistas e artesãos dividem as ruas com dançarinos que quase sempre envolvem os visitantes em suas apresentações.

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Se você andar pelas ruas de San Telmo aos finais de semana, você poderá de repente ouvir música de tambores se aproximando! Murgas com suas roupas coloridas frequentemente dançam e tocam sua música intensa e agitada por toda San Telmo. Sempre que os encontro não consigo evitar e me juntar a eles. Sua música é tão contagiante! E enquanto danço, claro que tiro muitas fotos!

Eu recomendo ir a estes lugares aos domingos para que você possa visitar a feira de antiguidades na praça principal, Plaza Dorrego. Lá, especialmente na primavera ou no verão, você pode tomar uma cerveja enquanto aprecia os dançarinos de tango ou até mesmo, dançar o tango com eles se gostar!

Outro grande lugar para fotografar que você nunca irá esquecer se visitar é La Boca. La Boca é mais conhecida por seus grandes dançarinos de tango, casas coloridas e ruas de pedra cheias de lojas de souvenirs e artistas locais vendendo seus trabalhos. Você pode começar sua visita com uma caminha de 10 minutos ao longo do rio na Rocha Bend em Riachuelo e então chegar a Caminito, uma pequena rua cercada por ateliers de pintura coloridos, que aparece na letra de um famoso tango que leva seu nome.

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Entre os fãs de esporte, Boca é melhor conhecida por ser a casa do mundialmente conhecido clube de futebol Boca Juniors. O clube joga suas partidas no estádio Alberto J. Armando, popularmente conhecido como La Bombonera (caixa de chocolate em espanhol). Mas...você deve ser cuidadoso quando visitar esse local. Eu recomendo fortemente ir lá apenas aos finais de semana e apenas na parte turística, quero dizer Caminito e a região do rio, porque lá se tornou um pouco perigoso para levar sua câmera fotográfica.

Buenos Aires é bem servida de transporte público para você escolher; táxi, ônibus e metrô, que são também bons lugares para fotografar. Se for a hora do rush, o metrô não é uma boa escolha para se viajar com conforto e relaxar, mas eles são ótimos para fotografar situações únicas e extraordinárias.

Muitas pessoas dizem que Buenos Aires vira suas costas para o rio porque grande parte da vida corre longe dele, mas Puerto Madero tem se tornado em anos recentes um dos lugares mais exclusivos em Buenos Aires representando as últimas tendências em arquitetura na cidade. Além disso, pelo rio para o norte você pode fazer uma ótima caminhada ao longo da Costanera e ver muitos pescadores e suas famílias que vão passar o dia desde o nascer do sol até tarde, tentando pescar Bogas e Dorados.

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Buenos Aires também é famosa por seus cafés. Tortoni, onde há ótimos shows de tango, e 36 Billares, que foi reconstruído e onde você pode achar grupos de velhos amigos que se encontram para jogar cartas e bilhar. Eles são bem amigáveis e alguns deles parecem pertencer ao século passado pelas roupas que usam e pelo jeito que falam. Há também muitos bares escondidos que não são muito conhecidos, mas se você procurar bem, pode acha-los espalhados por toda a cidade.

Domingos em Buenos Aires devem incluir uma visita a feira de Mataderos que mostra as tradições gaúchas, cozinha típica e artesanato – os artigos em couro são muito bons. Você pode ver os gaúchos domarem seus cavalos e jogos tradicionais como a Carrera de Sortijas, ou danças tradicionais como a chacareira e a zamba. Também há pessoas vendendo deliciosas comidas típicas como empanadas, locro (uma sopa de batata clássica com milho, feijão e carne) e choripan, que é um sanduíche típico de chorizo.

Buenos Aires é um lugar excelente para amantes de viagens e fotografia. Visitantes do mundo todo são benvindos aqui. Você tem apenas que se aventurar pelas ruas e manter seus olhos bem abertos para se surpreender!

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Yosemitepor Marcio Lambais

Em 30 de Junho de 1864, há 150 anos, o presidente dos EUA Abraham Lincoln assinou um decreto concedendo ao estado da Califórnia uma área de 16 mil hectares no Vale do Yosemite e Mariposa Big Tree Grove, a qual deveria ser preservada permanentemente em seu estado mais natural. Esse ato instituiu os primórdios do sistema americano de parques nacionais, e aquela área de preservação permanente resultou, em 1890, por influência do naturalista e conservacionista John Muir, na criação do Parque Nacional do Yosemite. Dois anos depois, Muir liderou a fundação do Sierra Club para ajudar a preservar o parque recém criado, e protegê-lo contra as pressões da agricultura e do desenvolvimento urbano da região. O resultado desse esforço é evidente quando passamos pelas áreas agrícolas no entorno das entradas principais do parque, as quais se encontram em estado avançado de degradação, em decorrência da seca prolongada que tem assolado a Califórnia nos últimos anos.

O Parque Nacional do Yosemite tem, ao longo de mais de um século, encantado naturalistas e artistas de toda sorte, incluindo fotógrafos. Certamente o fotógrafo mais famoso a retratar o Yosemite foi Ansel Adams, o qual se filiou ao Sierra Club em 1919, com 17 anos de idade. O Sierra Club foi vital para o sucesso de Adams como fotógrafo, e publicou suas primeiras fotos do Yosemite em 1922. Desde então a fotografia feita por Adams e outros grandes fotógrafos que passaram pelo Yosemite tem indiscutivelmente contribuído para sensibilizar a opinião pública sobre a importância da preservação ambiental.

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O Yosemite deveria ser visitado por todos aqueles que tem apreço pela preservação ambiental e fotografia. O cenário do parque é deslumbrante em qualquer época do ano. Mas, planejar a viagem com antecedência é sempre recomendado. Os alojamentos e acampamentos estão sempre lotados, principalmente no verão. É interessante também se familiarizar com o parque, estudando as principais locações e definindo uma boa estratégia para obter as fotos que deseja sem ficar rodando aleatoriamente pelo parque. No entanto, melhor do que esperar pela luz ideal para uma composição específica, caminhar e procurar a melhor composição para a luz disponível no local onde nos encontramos talvez seja a melhor estratégia para aproveitar as inúmeras possibilidades do parque.

A chegada ao parque é sempre um evento único. Não importa quantas vezes você já tenha ido ao Yosemite. Para entrar no “clima” do parque, a estrada acompanhando o rio Merced, para quem vai de Mariposa em direção à entrada principal do Yosemite, chamada El Portal Road, garante bons momentos e boas fotos, inclusive a tradicional foto sob o portal de entrada do Yosemite. Passando o portal, a ansiedade para se chegar ao vale do Yosemite só aumenta, até que imensos monolitos de granito emergem em meio aos sempre verdes pinheiros que dominam a região, tomando conta da paisagem e lhe dando as boas-vindas. A partir daí, a cada nova visão que se tem do parque, é impossível não lembrar de alguma fotografia de Ansel Adams. Uma locação mais sensacional do que a outra: Bridalveil Fall, El Capitan, Cathedral Rocks, Yosemite Falls, Mirror Lake e a icônica Half Dome. Isto tudo somente no chamado vale do Yosemite, onde pode-se visitar também a Galeria Ansel Adams, com várias obras originais do artista. Pelo menos na primeira vez que se visita o parque, é pouco provável seguir um roteiro pré-definido. O ambiente é tão deslumbrante que se embrenhar por umas das inúmeras trilhas e esquecer do mundo é o mais comum.

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Dentre as maravilhas do Yosemite estão os bosques de sequoias gigantes. Essas árvores, muitas vezes com milhares de anos e dezenas de metros de altura, só podem ser encontradas nas encostas orientais da Sierra Nevada, onde as condições de solo e clima são favoráveis à sua reprodução. As sequoias gigantes foram alvo de intensa exploração pela indústria madeireira. Mas, hoje cortar uma sequoia é proibido por lei, e elas são preservadas em bosques no interior de parques nacionais. Na entrada sul do parque fica o Mariposa Grove, o maior bosque de sequoias gigantes da região. Ali é possível caminhar por entre as árvores e admirar o esplendor de alguns espécimes com mais de mil anos de idade. Cada sequoia gigante costumava ter um nome (Grizzly Giant, com mais de dois mil anos, é a mais famosa), mas para preservá-las e protegê-las do excesso de visitação, elas não são mais nomeadas.

Saindo de Mariposa Grove em direção ao vale do Yosemite, um pequeno desvio pela Glacier Point Road e a partir de Washburn Point nos deparamos com uma das visões mais espetaculares do Vale do Yosemite. Um pouco mais à frente, no final da estrada, outro ponto muito visitado e particularmente interessante para se fotografar é o Glacier Point, de onde, à aproximadamente 2.200m de altitude, pode-se avistar uma boa parte do Vale do Yosemite, incluindo a emblemática Half Dome, e as caudalosas cachoeiras Yosemite, Vernal e Nevada.

As paisagens no Yosemite mudam radicalmente com as diferentes estações do ano. Por isso, uma única visita ao parque nunca será suficiente, e sempre deixará aquela vontade de voltar em uma outra estação para fotografar as nuances da paisagem. O vale nevado, retratado magnificamente por Ansel Adams e Michael Frye, dentre outros grandes fotógrafos, é de uma beleza inigualável, mas ficará para uma próxima oportunidade. Visitei o parque no início do verão de 2014. Há três anos que o nível de chuvas é abaixo da média na região e o ambiente estava muito seco. Duas semanas após minha visita, um incêndio de grandes proporções destruiu uma parte do parque. Mas, como o fogo é natural nesse tipo de ambiente, as paisagens se reciclam e se renovam, tal como os fotógrafos amantes da natureza que nunca retornam os mesmos de cada visita ao Yosemite.

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Caminho dos Diamantespor Ivan Vanzatto

Você gosta de cultura, história, natureza e boa culinária? Então a Estrada Real é o lugar ideal para você desfrutar e fotografar tudo isso com uma pitada de cultura barroca mineira. Os caminhos da Estrada Real estão entre os mais desejados pelos praticantes de esportes ao ar livre, e também contam com ótima infraestrutura para o viajante. A estrada pode ser percorrida de bike, a pé, a cavalo, moto ou em veículos 4x4. Tendo isso na cabeça, decidi conciliar meu esporte favorito - mountain bike - com a vontade de aprender sobre culturas locais e me juntei a mais 8 amigos para pedalar um trecho da estrada, o Caminho dos Diamantes.

Até o final do século 17, a região era habitada apenas por índios - Guaianás e Tamoios - os únicos que conheciam os caminhos desde o norte de Minas Gerais, norte de São Paulo até o Rio de Janeiro. Próximo do ano de 1725, a Coroa Portuguesa decidiu criar o primeiro trecho, o Caminho Velho, ligando Ouro Preto (antiga Vila Rica) até Paraty. Esse caminho serviu para facilitar a extração do ouro de terras brasileiras e o comércio de escravos africanos para as fazendas de café mineiras. Esse primeiro caminho também era chamado de Caminho do Ouro.

Posteriormente a realeza portuguesa inaugurou mais dois caminhos: Caminho Novo (Ouro Preto à Rio de Janeiro), e Caminho dos Diamantes (Diamantina à Ouro Preto), com o objetivo de escoar a produção de diamantes e controlar a exploração de ouro.

A Viagem

Para pedalar os mais de 400km do Caminho dos Diamantes, foram necessários mais de dois meses de planejamento e pesquisas sobre pousadas, atrativos e informações turísticas, entre outas coisas, até a nossa partida em 12 de julho de 2014 para essa aventura. Sabendo da importância histórica que a religião sempre teve entre as pequenas vilas e cidades do interior, planejamos todas as chegadas diárias nas igrejas matriz de cada cidade. Esse ponto de referência mostrou que a religiosidade seria um traço constante no caminho.

Nosso 1º dia de viagem foi uma maratona rodoviária. Depois de carregarmos o micro-ônibus (que nos serviu de carro de apoio) com as malas e as bikes, saímos de nossa cidade natal, Itapira-SP, com destino à Diamantina. Depois de mais de 12 horas na estrada, chegamos à Diamantina.

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O plano era pedalar de Diamantina à Ouro Preto e visitar alguns pontos turísticos ao longo do caminho, como os caminhos dos escravos em Diamantina, os Parques Nacionais da Serra do Espinhaço e Serra do Cipó, a cachoeira do Tabuleiro, o santuário do Caraça, as minas de ouro e diamante, as lindas igrejas construídas nos estilos rococó e barroco mineiro, o sítio arqueológico da Pedra Pintada e, claro, a cidade de Ouro Preto com sua maravilhosa arquitetura repleta de história e cultura mineira.

No 2º dia saímos de Diamantina por volta de 8:00 da manhã para o nosso primeiro dia de pedal. Nosso destino era a cidade de Serro. Foram 62km, passando por São Gonçalo do Rio das Pedras, a mística Milho Verde onde encontramos uma comunidade circense praticando slackline, música e malabares. A cidade de Serro é conhecida pela culinária local que tem o queijo e pão de queijo como seu maior patrimônio cultural. Os primeiros dias de pedaladas foram os mais pesados e exigiram do grupo um bom preparo físico para vencer as longas subidas.

Partimos de Serro para enfrentar o que seria o maior desafio da viagem. O 3º dia, um trecho de 87Km, foi marcado por subidas íngremes e intermináveis. Nesse dia pedalamos a mais longa subida da viagem entre os vilarejos de Itapanhoacanga e Santo Antônio do Norte, antigo povoado de Tapera. Foram 10Km de esforço onde as pernas doeram muito. Se você estiver planejando esta viagem, é bom se preparar muito bem fisicamente.

O dia terminou na cidade de Conceição do Mato Dentro, onde existe uma intensa atividade de exploração de minério de ferro. O ponto negativo dessa exploração é que o turista não é valorizado, as pousadas são caras e não fomos bem recebidos. Decidimos então continuar viagem e ir direto para o distrito de Tabuleiro, 19km adiante, onde poderíamos chegar mais rápido à cachoeira que dá nome ao distrito. Nesse trecho colocamos as bikes no micro-ônibus pois as pernas já estavam esgotadas.

Para o 4º dia de viagem planejamos apenas atividades de turismo, sem bike, o que serviria para dar um descanso as pernas, já bem doloridas. Escolhemos visitar a cachoeira do Tabuleiro, terceira maior do Brasil com 273 metros de queda d’água. Infelizmente fizemos nossa viagem no inverno, temporada de seca, e a cachoeira tinha pouca água.

Retomando a viagem no 5º dia, pedalamos mais 68km até a cidadezinha de Itambé do Mato Dentro, onde encontramos um povo muito hospitaleiro. Região de muitas cachoeiras onde mais uma pausa foi obrigatória para visitação. Eram tantas cachoeiras que decidimos ficar o 6º dia novamente sem bicicleta para conhecer mais sobre essas lindas obras de arte da natureza. Entre tantas que conhecemos, vale a pena citar as cachoeiras da Maçã e do Funil.

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Em nosso 7º dia de viagem, montamos novamente nas bikes para mais 76km de pedal até o município de Cocais. A partir desse ponto, sabíamos que o físico não seria tão exigido quanto nos primeiros dias, pois as subidas não eram tantas e passaríamos por vários trechos de asfalto. Então, comparando com os primeiros dias de sofrimento nas subidas intermináveis, foi um verdadeiro passeio de bicicleta. Chegando em Cocais, pudemos ver um vilarejo muito pequeno e bem aconchegante. Parte do grupo aproveitou para visitar o sítio arqueológico da Pedra Pintada, que possui pinturas rupestres com mais de seis mil anos de idade.

O 8º dia de viagem foi mais um passeio de bike. Avançamos 48km até chegar à charmosa cidade de Catas Altas, minha preferida em toda a viagem. No caminho passamos pelo Bicame de Pedra que é um aqueduto construído pelos escravos em 1792, com 4 metros de altura e estruturado apenas com encaixe de pedras, sem qualquer tipo de concreto.

Em Catas Altas, encontramos um forte contraste entre o interior de Minas Gerais e cidades construídas pela civilização do ouro. Nesse ponto, deixamos para trás as casinhas com janelas quadradas e coloridas, carroças de boi, vilarejos e ruas de terra, para literalmente entrar na arquitetura barroca, graciosa e cheia de pompa como as cidades de Ouro Preto e Mariana. Cidades maiores, mas não com menos história ou cultura dos vilarejos que deixamos para trás.

Saindo de Catas Altas no 9º dia de viagem, seguimos pedalando em direção à cidade que guarda os maiores tesouros da exploração do ouro no Brasil, Ouro Preto. Mas para chegar lá, teríamos que vencer os últimos 64km que nos restavam. O trajeto nesse dia foi tranquilo, com muitos trechos de asfalto. Quando chegamos em Mariana, percebi que a religiosidade é muito forte por lá, há igrejas por toda parte e como atração principal existe as igrejas de São Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo que ficam na mesma praça, uma ao lado da outra, com obras de Aleijadinho e Mestre Ataíde.

Saindo de Mariana, passamos pela Mina da Passagem, uma antiga mina de extração de ouro desativada, e considerada a maior mina de ouro para visitação no mundo. O viajante é levado por um carrinho de mineiro, movido por um motor à ar comprimido original da época. A mina tem 360m de profundidade, dos quais descemos apenas 120m, pois boa parte da mina está inundada. Inclusive, é possível entrar na água para se refrescar ou até mesmo praticar mergulho com cilindro.

Finalmente no último dia de bike, pedalamos pelo asfalto até chegar na cidade de Ouro Preto perto das 6hrs da tarde, mais precisamente na Praça Tiradentes. Mais uma vez fui o último a chegar na cidade, porque assim como nos dias anteriores, fiz questão de ver o pôr-do-sol na estrada, assistindo de camarote o sol caindo por trás das belas montanhas de Minas Gerais. Era minha recompensa por mais um dia de sacrifício.

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Depois de tanto esforço, chegamos ao nosso objetivo final, na cidade de Ouro Preto, e foi um dos momentos mais felizes da minha vida que ficará gravado em minha memória para sempre. Guardo como se fosse uma fotografia, todo o grupo sentado na praça, tomando aquela merecida cerveja, cansados, mas felizes! Imagem de uma galera reunida celebrando mais uma belíssima viagem com amigos que nesse momento viraram irmãos.

Todos os quilômetros percorridos valeram a pena, pois vive-se intensamente a cultura da extração do ouro e diamante que ainda perdura na região, mesmo não existindo mais. Cultura do café com pão de queijo, da simplicidade, da vida sofrida para encontrar na terra o sustento da família. Ah Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais! Valeu a pena pelo companheirismo do grupo, todos sempre alegres e brincalhões. É uma viagem que recomendo a todos, planeje e vá. Podem me escrever se necessário, terei enorme prazer em ajudá-lo. Abraços!

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Monte Roraimapor Adilson Moralez

O Monte Roraima sempre me atraiu, mas foi justamente após ele servir de cenário para a animação de cinema da Pixar “Up, altas aventuras”, é que me chamou ainda mais atenção. Para quem não notou, o Monte Roraima era o tão sonhado paraíso das cachoeiras onde a Ellie sempre sonhou conhecer, mas infelizmente, não teve oportunidade. Somente após sua morte é que o velho Carl resolve realizar a grande aventura. Prepara sua casa com balões infláveis e voa ao tão sonhado paraíso juntamente com o desastrado escoteiro Russel. Mais curioso ainda foi saber que a equipe de desenhistas da Pixar foi até o Monte Roraima justamente para poder melhor retratá-lo na animação.

Com 2.734m de altura, o Monte Roraima está localizado na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana Inglesa. Sendo que 80% de seu território pertence à Venezuela, 15% à Guiana e apenas 5% ao Brasil, no estado de Roraima. Sua área e arredores estão protegidos pelos parques nacionais Canaima na Venezuela e Roraima no Brasil.

O Monte Roraima é uma formação singular onde predominam rochas de arenito formadas por sedimentação e esculpidas pela erosão e pelo processo de lixiviação, onde a rocha é quimicamente “dissolvida” numa solução alcalina, gerando assim, formas rochosas maravilhosas. Apesar de suas rochas parecerem negras, na verdade são rosa claro. O que dá o tom escuro são as algas que se proliferam em sua superfície. É um dos mais famosos tepuis, nome dado à formação em mesa dessas montanhas que são numerosas na Gran Sabana venezuelana. Devido as suas formações e altitude, os tepuis têm um microclima específico, caracterizado pelo alto índice pluviométrico e baixa temperatura em seus topos.

O único acesso ao Monte Roraima é através da Venezuela. A porta de entrada é pelo município de Santa Elena de Uairén que faz fronteira com o Brasil. De lá são cerca de 2 horas em um veículo 4x4 até a comunidade indígena de Paraitepuy e mais dois dias de caminhada até o topo. A caminhada é feita com guias venezuelanos e os carregadores/cozinheiros são indígenas da comunidade.

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Outro tepui muito fotografado e que fica ao lado do Monte Roraima é o Kukenán. Com 2.650m, o Kukenán não é tão visitado devido à dificuldade em acessar seu topo, que só pode ser feita com escalada técnica. Há também uma lenda entre os indígenas que os maus espíritos habitam o Kukenán o que desestimula sua exploração turística.

Para nós brasileiros, a melhor forma de conhecer o Monte Roraima é através de um voo até Boa Vista em Roraima e lá contratar agências que fazem expedições para o Monte. Existem também várias agências na Venezuela, Santa Elena de Uairén, com preços bem menores que do Brasil, porém eu recomendo fortemente uma agência brasileira com a maior tradição em expedições que é a Roraima Adventures de Boa Vista.

Além de ser brasileira, o que facilita a comunicação e a confiabilidade, a empresa contrata praticamente todo o staff e alimentação na Venezuela. Contribuindo dessa forma com a comunidade local que vive do turismo. O roteiro que contratei e recomendo por ter um bom tempo no topo é o seguinte:

Dia 1 – Boa Vista – Altitude: 86m

Cheguei a Boa Vista um dia antes para poder conhecer a cidade e evitar problemas com atraso de voo ou pior ainda o extravio de bagagem. Boa Vista é uma cidade bem tranquila, bem cuidada, com largas avenidas e incrivelmente plana. Como é uma cidade planejada tem o formato de um leque onde as principais avenidas partem da praça do Centro Cívico. Fato que me chamou atenção é que o único acesso por terra para Boa Vista é através da Venezuela, Guiana ou Manaus.

Aproveitei o dia para fotografar as principais atrações da cidade, como a Orla Taumanan, Monumento do Garimpeiro, Praça do Centro Cívico, Monumento aos Pioneiros, Monumento do Milenium, Parque das Águas e Parque Canaiman.

Para garantir que o grupo receba informações sobre o que vai acontecer na expedição, a Roraima Adventures apresenta um breefing na manhã do primeiro dia no hotel Aipana Plaza, que fica justamente na praça do centro cívico. Eu preferi ficar no Aipana e recomendo pela qualidade dos serviços, excelente café da manhã e pela facilidade em participar no briefing.

Dia 2 – Boa Vista – Santa Elena de Uairén – Altitude: de 86m à 900m

O dia começou às 9:00 com o Magno, da Roraima Adventures, apresentando o briefing aos membros da expedição que era formada por quatro pessoas apenas. Eu, o único paulista, Adayanne, Hugo e Ivanio, todos de Boa Vista.

Às 13:30 partimos em uma van para Santa Elena de Uairén. A distância é de 220km e no caminho fazemos o câmbio para Bolívares além da imigração na Venezuela. A chegada é no final da tarde no hotel Anaconda Inn, onde o Carlos Lagonell, nosso guia venezuelano, já nos esperava. Apesar de Santa Elena ser pequena, tem um comércio bem movimentado e devido ao câmbio atrativo, no dia estava R$1,00 para B$28,00 (Bolívares), vale a pena para comprar itens faltantes.

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Aqui já notei uma grande vantagem em fazer a expedição com a Roraima Adventures, pois pelo veículo 4x4 e staff já serem conhecidos, passamos sem problemas pela fronteira e nas diversas blitz da guarda bolivariana.

Nosso jantar foi numa pizzaria onde nos despedimos do conforto urbano para a aventura e improvisação que a expedição nos prometia no dia seguinte. Vale lembrar que em Santa Elena temos um fuso horário de 1 hora e 30 minutos em relação à Brasília.

Dia 3 – Santa Elena – Acampamento Kukenán – Altitude: de 900m à 1.300m

Às 7:00 o Carlos já nos aguardava juntamente com o Cheo, que seria meu carregador e o motorista que nos levaria num Toyota Land Cruiser até a comunidade de Paraitepuy. As mochilas cargueiras já haviam sido colocadas no teto e fomos confortavelmente acomodados nesse valente 4x4. Aqui, já começa o clima de expedição, pois passamos no centro para comprar os alimentos perecíveis que seriam usados nos primeiros dias. Para se ter uma ideia de como o Carlos conhece a montanha, esta expedição era a 405ª no seu currículo.

O caminho é muito bonito, e em pouco tempo já entramos na Gran Sabana, uma paisagem cinematográfica. Tanto que Steven Spielberg filmou lá parte do filme Parque dos Dinossauros. Da estrada é possível avistar alguns Tepuis e inclusive o Montes Roraima e Kukenán.

A chegada na comunidade de Paraitepuy se dá cerca de 1,5 hora depois. Nela é feita a contratação dos demais carregadores e cozinheiros que irão nos acompanhar nos próximos dez dias.

Como disse no início, resolvi contratar um carregador por recomendação de amigos que já fizeram o trekking, isso faz toda a diferença. Apesar de me considerar uma pessoa forte e bem preparada, caminhar entre 4 e 6 horas por dia durante 10 dias carregando uma mochila com mais de 15kg não é nada agradável. E pior, pode pôr em risco o prazer de curtir a expedição.

Após toda a carga ser pesada e distribuída entre os carregadores (Juan Carlos, Edgard e Francisco) partimos às 12:30. Essa parte do caminho é bem tranquila e inicialmente descemos um pouco para depois começar a subir. A trilha é bem aberta e com vegetação baixa. O dia estava bem claro, com um sol ardido e a cada passo nosso o Kukenán e o Monte Roraima aumentavam de tamanho. Passamos pelo acampamento do Rio Tek, cruzamos o rio homônimo e paramos para pernoite no acampamento Kukenán às 16:30. Este acampamento fica às margens do rio Kukenán, que nasce das cachoeiras que despencam das paredes de 600m de altura do Kukenán.

Aqui, vale seguir os conselhos do Magno que é aproveitar a chegada com o corpo quente, tomar banho no rio e colocar logo calças e camiseta de manga para evitar os terríveis insetos que judiam dos turistas no início e final do dia. Para o primeiro jantar tivemos arroz, salada e peixe frito. Como seria a rotina dos próximos dias fomos dormir por volta das 20:00.

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Dia 4 – Acampamento Kukenán – Base do Monte Roraima – Altitude: de 1.100m à 1.850m

Dormi tanto que quase perdi a hora. Quando acordei às 6:30, após mais de 10 horas de sono, todos já estavam prontos com as barracas desmontadas. O café foi no estilo venezuelano, com arepas, café, leite e frios. Partimos às 7:20 de um dia nublado. Quanto mais nos aproximávamos da montanha, mais o tempo variava e a chuva já passaria a ser nossa companheira. Chegamos no acampamento da base às 12:30 sob chuva e assim foi o resto do dia. Entre uma abertura e outra das nuvens conseguia fazer algumas fotos do Monte Roraima. Mas em nenhuma delas consegui registrar seu topo.

No banho já deu para sentir como seria nossa rotina lá em cima. Caminhar uns quinhentos metros sob chuva e relativo frio, banhar-se no rio e terminar de se enxugar somente na barraca. Também fomos apresentados aos que seriam nossos companheiros inseparáveis daqui para frente: os tico-ticos. Pássaros que já se acostumaram com a fartura de migalhas geradas pelos turistas e frequentam os acampamentos o dia todo.

Dia 5 – Acampamento Base – Acampamento Principal – Altitude: de 1.850m à 2.734m

Após uma noite inteira de chuva acordei no horário planejado para todos os dias, às 5:30. O dia estava nublado, porém sem chuva. Hoje seria um dos dias mais difíceis da expedição, pois é feita a subida íngreme até o topo. Partimos às 8:00 com todo o equipamento protegido por sacos estanques. Para não perder o registro da aventura portava uma câmera fotográfica compacta à prova d’água e a GoPro para registrar a passagem pelas lágrimas.

A subida é feita através de uma mata, que lembra muito a nossa mata Atlântica pela exuberância e diversidade de espécies. Passamos por vários igarapés e pequenas cachoeiras. Todas oriundas das águas que despencam dos paredões do Monte Roraima.

O ponto alto do dia é a passagem sob uma das diversas quedas, que recebe o nome de Lágrimas. Devido à sua altura a água é bem forte e dá para sentir na pele sua força. Após passar pela pedra que representa Macunaíma, e pedir sua permissão para adentrar em sua morada, chegamos ao topo às 12:00. A sensação é de estar em outro mundo, pois nunca havia visto algo similar. As formações rochosas têm uma característica única e cabe a imaginação de cada um fazer a associação com o que elas se assemelham.

A caminhada até o acampamento Principal levou 40 minutos e a cada curva, eu fazia muitas fotos para tentar retratar a emoção que sentia vendo aquelas formações. Infelizmente o dia estava muito fechado e devido à forte neblina as fotos não puderam registrar toda a beleza do lugar.

Para minha surpresa o acampamento é feito numa reentrância nas rochas o que propicia uma certa proteção do vento e da chuva. Também como nos acampamentos anteriores, a equipe montava o banheiro no local, onde todos os dejetos são desidratados com cal e levados de volta. O banho continuava sendo o desafio do dia pois, aqui em cima tinha menos lama no caminho, mas o frio era mais intenso.

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Dia 6 – Acampamento Principal – Acampamento Coati

Depois de mais uma longa noite de sono e chuva acordei às 5:00 e fiquei criando coragem para sair e calçar a bota molhada. O café foi às 6:30 e às 8:00 partimos para o acampamento Coati, que fica em território brasileiro, numa caminhada de 15km sob uma chuva fina.

No caminho passamos por lugares incríveis, sendo alguns deles muito bem retratados na animação Up. Outro ponto incrível é o “El Foso”, uma formação de rocha circular com água no fundo se assemelhando a um enorme poço. Infelizmente o dia não propiciava uma parada para banho. A próxima atração foi o ponto tríplice que delimita os três países. Trata-se de um marco geográfico instalado pelo Marechal Rondon em 1931.

Às 13:40 chegamos ao acampamento Coati que seria nossa base para os próximos dois dias. Fiquei surpreso com o conforto que ele oferece em relação ao Principal. As barracas ficam num túnel de pedra e devido a um trabalho feito pelo exército brasileiro, que nivelou o solo com areia, pode-se transitar livremente entre as barracas e a “cozinha” sem se molhar e num piso plano. A cozinha é um show à parte, pois devido as rochas do Monte Roraima serem sedimentares elas são planas na superfície servindo muito bem como apoio para as refeições.

Aproveitei a tarde para fotografar a chuva que insistia em cair. A grande vantagem da chuva é que neste dia trocamos o banho de lago pelo banho de chuveiro numa das diversas bicas que caiam das rochas. De noite a chuva parou, mas estava muito fria e a sopa quentinha caiu muito bem antes de cair no sono às 20:00.

Dia 7 – Acampamento Coati – Lago Gladys

Após uma madrugada incrivelmente estrelada, o dia amanheceu totalmente limpo com céu de brigadeiro. Eu custava a acreditar como o tempo podia ter mudado tão radicalmente. Sai da barraca às 6:00, coloquei rapidamente uma roupa e sai para fotografar. Fizemos uma pequena caminhada até a borda, mas a parte baixa ainda estava encoberta pelas nuvens. Só ali entendi que hoje, ao contrário dos dias anteriores, estávamos acima das nuvens.

Retornamos para o café e às 9:20 e em seguida começamos a caminhada para o Lago Gladys. No caminho encontramos outras raras belezas como um rio de águas avermelhadas que me lembrou os rios da Chapada Diamantina.

O Lago Gladys realmente surpreende pelo seu tamanho e pelas bordas de pedras em desmoronamento. Ficamos pouco mais de 1 hora ali e é incrível como o tempo muda tão rápido. Aproveitei e fiz uma série de fotos com o recurso de “time lapse” da GoPro. Vale a pena ver o efeito no audiovisual.

Na volta o tempo já mudou e a nossa fiel companheira, a chuva, voltou. Fomos dormir ainda mais cedo, porque se o tempo permitisse, iríamos acordar ainda de madruga para ver o sol nascer na borda.

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Dia 8 – Acampamento Coati – Acampamento Principal

Demos sorte e o tempo ajudou! Acordamos às 4:00 e fomos até a borda de onde é possível avistar o Roraiminha, outro tepui no lado brasileiro. Fiquei cerca de 1 hora capturando imagens via “time lapse” e fotografando as incríveis formações de nuvens que dançam ao sabor do vento. Mas apesar de toda os esforços o sol nasceu entre as nuvens e não consegui capturar a tão sonhada bola alaranjada.

Após o café iniciamos a longa caminhada de 5 horas de volta para o acampamento Principal. No caminho passamos pelo incrível vale dos cristais. Dava até dó de pisar de tantos cristais pelo caminho.

Chegamos ao acampamento às 12:40, e após o almoço e um merecido descanso, subimos a pedra Maverick, formação rochosa em frente ao acampamento que se assemelha ao carro quando vista lá de baixo. Nela, está o ponto culminante do Monte Roraima que é de 2.875m de altitude.

Fomos presenteados com um belo final de tarde e consegui belas fotos com o sol no topo e muitas nuvens nas bordas. O tempo se manteve firme até o final do dia e pela primeira e única vez, conseguimos tomar banho com sol e temperatura agradável.

Dia 9 – La Cueva, gruta dos Guácharos e piscinas Jacuzzi

Contrastando com o dia anterior, o dia amanheceu com chuva, e assim ficou até a noite. Como o primeiro programa seria as piscinas Jacuzzi, sugeri irmos primeiro para La Cueva, pois sendo uma caverna, não dependia de tempo bom. Foi uma caminhada razoavelmente longa e com chuva o tempo todo. Lá pudemos conhecer a gruta que abriga um rio e pequenas cachoeiras. Como sempre, a temperatura nas cavernas é agradável. Também esticamos a caminhada e fomos ver a gruta dos Guácharos, ave pequena de cor marrom claro e de hábitos noturnos. Devido ao mau tempo e por ficarem longe da borda não consegui registrá-las.

Após o almoço, como a chuva não parava, fomos com o Carlos (apenas eu e o Hugo) conhecer as piscinas naturais, Jacuzzi. Pelo menos na hora da foto a chuva deu uma trégua, mas certamente ela ficaria muito mais bonita num belo dia de sol. Ainda demos uma esticada até a La Ventana, de onde seria possível ver o Kukenán e suas enormes quedas d’água. Porém, a neblina nos obrigou a imaginar as belezas que só poderão ser vistas por fotos ou numa próxima viagem.

Como a volta para o acampamento foi no final do dia, este banho foi o mais gelado de todos.

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Dia 10 – Acampamento Principal – Acampamento Rio Tek

Chegou o momento de iniciar o retorno. Ainda tinha esperança de um amanhecer com sol para uma rápida visita à Jacuzzi e La Ventana antes do café. Mas, o dia amanheceu fechado e com chuva fina. Partimos às 8:10 com destino ao acampamento do Rio Tek e, como já previsto, a descida foi bem cansativa, pois se utiliza muito os músculos para frear o peso do corpo.

Passamos pelo acampamento base às 11:00 e aproveitamos para almoçar. A caminhada até o rio Kukenán foi curta e ali tivemos a confirmação de um problema já previsto. Devido ao volume de chuvas o rio estava instransponível e tivemos que passar um de cada vez numa canoa indígena. Confesso que estava mais preocupado em atravessar meu equipamento do que a mim mesmo, pois a canoa era muito instável.

Mas todos cruzamos sem problemas e às 15:40 já estávamos no acampamento do rio Tek. Lá, tomamos a tradicional cerveja quente para comemorar a aventura. A noite estava agradável e fiz várias fotos do grupo e das barracas iluminadas contra os paredões de nuvens do Kukenán ao fundo.

Dia 11 – Acampamento Rio Tek – Boa Vista

Eu que achava que as chuvas tinham ficado no topo do Monte Roraima, me enganei. Tivemos algumas pancadas durante a noite e o amanhecer foi nublado, mas com temperatura agradável. Acordei às 5:30 e arrumei a mochila pela última vez. O café foi bem reforçado com dublin (pão venezuelano), ovos e salsichão. Partimos às 7:30 para uma caminhada de cerca de 4 horas de duração.

A chegada em Paraitepuy dá uma enorme sensação de dever cumprido. Tomamos um bom banho e fomos de 4x4 até a comunidade de São Francisco para almoçar e comprar souvenir feitos pelos índios. De volta para Santa Elena tomamos novamente a van brasileira que nos levaria de volta para Boa Vista.

Como costumo dizer, essa foi mais uma excelente viagem, onde o bom planejamento e boas escolhas dos fornecedores de serviços, garantiram o sucesso da expedição. Também sempre agradeço à Deus por ter tido o privilégio de conhecer um dos lugares mais incríveis do mundo.

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Dicas

Mesmo indo no verão onde as chuvas podem ser menos frequentes, sempre haverá chuva e muita umidade. Esteja muito bem preparado com roupas adequadas e sacos estanques para proteger equipamento eletrônico.

Para se proteger da chuva o ideal são as capas tipo poncho, que também protegem a mochila.

Lembre-se que ficará vários dias sem energia elétrica. Não economize nas pilhas e baterias. Eu levei 3 câmeras fotográficas mais a Gopro, e só nela gastei 5 baterias.

Mesmo sendo um mochileiro acostumado, eu recomendo fortemente contratar um carregador, pois estando mais leve poderá curtir muito mais a expedição.

Apesar das refeições serem boas, vale muito a pena levar snacks para comer nas trilhas e na barraca. Eu recomendo mix de castanhas, chocolates e biscoitos. Mas não esqueça de levar junto um saco de lixo. Não vá jogar nada fora pelo caminho!

Lanternas de cabeças - head-lamp - são as mais indicadas pois deixam as mãos livres para manusear as coisas na barraca.

Em maio a temperatura estava na faixa dos 14ºC a noite. Porém, devido a umidade, a sensação térmica era bem mais baixa. Leve roupas técnicas e apropriadas para o frio. Boas lojas de montanhismo saberão indicar as mais apropriadas. O saco de dormir também deve ser apropriado para temperaturas negativas.

Os bastões de caminhada ajudam muito. Pois ajudam nas subidas e poupam os joelhos nas descidas.

Vale a pena investir num isolante térmico inflável. Procure pelo therma-rest ou equivalentes, nas boas lojas de montanhismo.

E finalmente, mantenha o bom humor e fique atento para não perder nada pelo caminho, nem seus pertences, nem imagens incríveis!

Boa viagem!

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Galerias Vaziaspor Leonardo Salomão

Acho que todo fotógrafo documental já ouviu falar ou tem o sonho de fotografar o Omo Valley, na Etiópia. Na grande maioria dos concursos internacionais de fotografia, vemos retratos produzidos na região ano após ano, o que atrai cada vez mais fotógrafos para lá. Já que estou chegando no Kenya, tinha planejado inserir a Etiópia no Projeto Evoé, em busca de registrar os diferentes significados da alimentação dessas tribos milenares e documentar aspectos, relações e práticas da cultura alimentar nessa região. Na teoria parecia tranquilo chegar até lá da forma como estou viajando, usando os meios mais baratos de transporte, dormindo em quintais e vilas. Mas aí conheci alguns fotógrafos pelo caminho e a coisa começou a mudar.

Com essa grande procura de fotógrafos pela região surgiram empresas que oferecem o tal “Safári Humano”, é isso mesmo, safári humano. Funciona mais ou menos assim: a pessoa procura a empresa, negocia o número de dias, que geralmente é algo em torno de 5 dias, escolhe o tipo de acomodação (pousadas e hotéis de luxo) e pagam uma média de 2 mil dólares pelo serviço. Para alguns pode parecer pouco, mas para a maioria na Etiópia é o mesmo que 4 anos de trabalho.

Quando o safari começa, os clientes são avisados que devem pagar para a pessoa que querem fotografar, geralmente 1 dólar por foto, afirmando que esse é um costume da região. Até aí não tem muita novidade, são empresas turísticas explorando a inocência dessas etnias, lucrando muito sem se importar em auxiliar essas pessoas. Não precisamos ir muito longe para encontrar casos semelhantes, né? Mas no Omo Valley está acontecendo algo ainda mais bizarro.

Conheci um fotógrafo da Polônia, que assim como eu, viaja da forma mais econômica possível. Ele busca contar histórias e preza pelo contato e vivência com os povos que fotografa. Esse cara guardou dinheiro por dois anos e foi da Polônia até a Etiópia, buscando essa experiência, sem tempo determinado, para registrar uma das etnias da região. Como já sabia dessas empresas de safari e não tinha interesse nesse tipo de serviço, conseguiu chegar até a região do Omo Valley utilizando vans, que transportam os moradores da região, e uma carona. Chegando lá, após muita conversa, conseguiu a autorização direta com uma das tribos para ficar, mas com uma condição: comprar uma cabra para uma das famílias e ajudar a comunidade com um valor diário. Pô, beleza né?! Mas é aí que começa a treta.

Todos os dias, no horário em que as empresas de safari passavam pela tribo, esse cara tinha que se esconder. No início ele achou que era porque as empresas não iriam gostar de ver um estrangeiro inserido no cotidiano das pessoas da região, mas depois ele descobriu que as empresas não querem que ninguém faça isso por conta própria... Lembram dos 2 mil dólares né? Depois de uma semana, um dos guias descobriu que ele estava dormindo na tribo e foi até lá para ter uma conversa amigável com ele.

- Ou você vai embora, ou você sabe o que vai acontecer. Amanhã não queremos mais você aqui.

Imagina só, uma ameaça de morte! Então é assim, você paga 2 mil dólares para um empresa, ela te leva para explorar as pessoas da região, a pessoa dá uma esmola de 1 dólar

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para cada pessoa que quer fotografar, volta para o seu ar condicionado e depois leva suas fotos para grandes galerias. Quando eu me deparava com ensaios feitos na Etiópia, sempre pensava sobre o processo de convivência e aproximação dos fotógrafos, a troca que leva à confiança, mas hoje o que está acontecendo é bem diferente. Vejo que essas empresas despertaram uma mentalidade nas tribos, onde a presença de estrangeiros serve única e exclusivamente para ganhar dinheiro, fechando assim muitas portas para conhecer a sua verdadeira cultura. Os poucos que conseguem chegar até as vilas para realmente valorizar a cultura local, ou com boas intenções que não sejam o safári, são ameaçados e perseguidos pelos guias dessas empresas até deixarem a região.

Contei toda essa história para te perguntar, vale a pena alimentar toda uma máfia turística para ter uma imagem dessas? O que essa imagem carrega? Dependendo do estilo de fotografia que a pessoa faz, até compreendo o fato de não haver uma convivência com esses povos antes de fotografá-los. Mas ter consciência de que participou disso tudo para ter uma imagem, não a torna um tanto quanto vazia?

Não conheço todas as empresas de safári da região, não tenho como dizer que são todas assim, mas a história do fotografo polonês não é única que escutei sobre esse assunto. Acredito que alguns projetos produzidos na região possam ter sido feitos de forma diferente, mas atualmente esse é o cenário por trás das “belíssimas” imagens produzidas no Omo Valley.

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