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    PatrickCockburn

    Sria: tudo o que muda aps a ao da Rssia

    Extremistas do ISIS finalmente so confrontados; exrcito nacional recompe-se. Em outro front, guerrilha curda

    cresce e tenta formar Estado. Mas guerra ainda est longe do fim

    Por Patrick Cockburn, London Review of Books | Traduo Joo Victor Mor Ramos

    O balano das relaes de poder militar na Sria e no Iraque est mudando. Desde quando os russos iniciaram umofensiva de ataques areos no final de setembro, a moral do exercito srio foi reacendida, quando j demonstravasinais de fraqueza e melancolia. Com o apoio do poder areo russo, o exrcito srio fechou o cerco numa ofensivaem torno de Aleppo, a segunda maior cidade da Sria, na tentativa de recuperar o territrio perdido na provncia deIdlib. Comandantes da infantaria do exrcito srio passaram a transmitir coordenadas de 400 a 800 alvos dirios aforas russas, sendo que apenas uma pequena proporo destes est sob ataque imediato. As chances de ogoverno de Bashar al-Assad cair uma probabilidade mais remota do que muitos sugeriram esto desaparecendNo significa que ele v ganhar.

    Por outro lado, o drama da ao militar russa provocou uma onda retrica la Guerra Fria pelos lderes ocidentais

    os meios de comunicao, distanciando-se dos desdobramentos mais significativos da guerrana Sria e no Iraque.mesmo equvoco cometido ao longo da campanha area norte-americana no ltimo ano comeou no Iraque, emagosto de 2014, para ser estendido mais tarde Sria para enfraquecer o Estado Islmico (ISIS) e outros gruposda Al-Qaeda. At outubro a coalizo liderada pelos EUA tinha realizado 7.323 ataques areos, a grande maioriadeles pela fora area norte-americana, que fez 3.231 ataques no Iraque e 2.487 na Sria.

    Entretanto, a campanha mostrou-se incapaz de conter o ISIS, que capturou, em maio, Ramadi no Iraque e Palmyrana Sria. Nesse nterim, houve muito menos ataques contra o ramo srio da al-Qaeda, Jabhat al-Nusra, e o grupoislmico extremo Ahrar al-Sham, que dominam a insurgncia no norte da Sria. O fracasso dos EUA tanto polticoquanto militar: ele precisa de parceiros em terra para lutar contra o ISIS, mas a sua escolha restrita, pois os gruporealmente engajados no combate contra os jihadistas sunitas so majoritariamente xiitas o prprio Ir, o exrcito

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    srio, o Hezbollah, as milcias xiitas no Iraque. E os EUA no podem oferecer-lhes cooperao militar completa,porque isso iria alienar os estados sunitas base de poder norte-americano na regio. Assim, Washington s podeusar sua fora area para dar suporte aos curdos.

    Agora, os EUA enfrentam o mesmo dilema no Iraque e na Sria que enfrentaram em 11 de setembro, quando GeorBush declarou guerra contra o terror. Na poca, divulgou-se que 15 dos 19 sequestradores eram sauditas, e queOsama Bin Laden era um saudita que recebia dinheiro para as operaes por meio de doadores sauditas. Mas osEUA no queriam perseguir a Al-Qaeda custa de suas relaes com os estados sunitas. Por isso que silenciaram

    a critica Arbia Saudita e invadiram o Iraque; da mesma forma nunca lidaram com o apoio que o Paquisto davaao Talib, o que abriu margem para que o grupo se reagrupasse depois de perder o fora em 2001.

    Washington tentou amenizar o fracasso de sua campanha area, oficialmente chamada de Operation InherentResolve, fazendo afirmaes exageradas de sucesso. Ao divulgar os mapas imprensa demonstrando que o ISIStinha perdido entre 25% e 30% de seu territrio, deixava-se de lado as partes da Sria em que o ISIS foi avanandoTamanha foi a distoro e manipulao da inteligncia por parte do US Central Commandque em julho mais decinqenta analistas assinaram um manifesto contra a distoro oficial que estava ocorrendo no campo de batalha. A

    Rssia, por sua vez, tirou vantagem do fracasso americano na represso aos jihadistas.

    Todavia, a grande disputa de poder apenas um dos confrontos que ocorrem naSria, e a fixao na interveno russa obscureceu outrosacontecimentos importantes. O mundo no tem prestado muita ateno, mas aluta regional entre xiitas e sunitas intensificou-se nos ltimos meses. No hduvidas que os estados xiitas em todo o Oriente Mdio, nomeadamente o Ir, oIraque e o Lbano, esto em uma luta at o fim contra os estados sunitas,liderados pela Arbia Saudita e seus aliados locais na Sria e no Iraque. Lderesxiitas descartam a ideia, muito favorvel a Washington, de que uma oposiosunita considerada moderada, no-sectria, estaria disposta a partilhar o poderem Damasco e Bagd: eles acreditam que se trate de propaganda divulgadapela mdia na Arbia Saudita e Qatar. Quando se trata de manter Assad nocomando em Damasco, o crescente envolvimento dos poderes xiitas toimportante quanto a campanha area russa.

    Pela primeira vez unidades da Guarda Revolucionaria Iraniana forammobilizadas na Sria, principalmente em torno de Aleppo, e h relatos de quemilhares de combatentes do Ir e do Hezbollah esto esperando para atacarpelo norte. Vrios comandantes do alto escalo iraniano foram mortosrecentemente nos combates. A mobilizao do eixo xiita significativa, porque, embora os sunitas sejam mais

    numerosos que os xiitas no mundo muulmano, na faixa dos pases diretamente envolvidos no conflito Ir, IraqueSria e Lbano h mais de 100 milhes de xiitas, que acreditam que a sua prpria existncia est ameaada seAssad for derrubado comparados aos 30 milhes de sunitas, que so maioria apenas na Sria.

    ***

    Alm da rivalidade Rssia-EUA e a luta entre xiitas e sunitas, h uma terceira questo que se desenvolve a passosrpidos no conflito. Estamos falando da luta separatista dos 2,2 milhes de curdos, 10% da populao sria, quebuscam fundar um pequeno Estado no nordeste da Sria, que os curdos chamam de Curdisto srio. Desde a retirado exrcito srio de trs enclaves, no vero de 2012, os curdos tm sido extraordinariamente bem-sucedidosmilitarmente. Passaram a controlar uma rea que se estende por 400 quilmetros entre os rios Tigre e Eufrates, ao

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    longo da fronteira sul da Turquia. O lder mulumano curdo-srio Salih disse-me em setembro que as foras curdaspretendem avanar a oeste do Eufrates, reconquistando a ltima fronteira mantida pelo ISIS com a Turquia emJarabulus, para estabelecer a ligao com o territrio curdo srio em Afrin. Tal ofensiva vista com total temor porparte da Turquia, j que de repente ela pode encontrar-se cercada por foras curdas apoiadas pelo poder areo doEstados Unidos ao longo de sua fronteira ao sul.

    Os curdos srios afirmam que suas Unidades Populares de Proteo (YPG) renem cerca de 50 mil homens emulheres (embora no Oriente Mdio aconselhe-se dividir pela metade todas as revindicaes militares). Eles so a

    nica fora que tem afastado rapidamente o ISIS, inclusive na longa batalha de Kobane que terminou em janeiro. OYPG possui armamentos leves, mas so altamente eficazes quando coordenam seus ataques junto com aviesnorte-americanos. Os curdos podem estar exagerando na fora de sua posio: o Curdisto srio a parte maissegura da Sria, na costa do Mediterrneo, mas a insegurana latente no resto pas to crnica que morteiros solanados diariamente pela oposio nas regies centrais sob o poder do governo, em Damasco.

    As linhas de frente so muito longas e tm inmeras brechas, onde o ISIS infiltra-se e lana ataques repentinos.Quando em setembro viajei de Kobane para Qamishli, outra grande cidade curda, no que a principio parecia ser umestrada segura, fui parado em uma aldeia rabe onde as tropas do YPG disseram que estavam realizando umabusca de cinco ou seis soldados do ISIS, que tinham sido vistos pela rea. Alguns quilmetros mais adiante, nacidade de Tal Abyad, onde o YPG havia capturado agentes do ISIS em junho, uma mulher correu para fora de sua

    casa acenando para o carro da polcia e dizendo que ela tinha acabado de ver um soldado do ISIS com roupaspretas e barba correndo pelo seu quintal. A polcia disse que ainda h membros do ISIS escondidos em casas derabes abandonadas na cidade. Meia hora mais tarde, estvamos passando por Ras al-Ayn, territrio mantido hdois anos pelos curdos, quando ouvi um barulho e pensei que havia disparos a nossa frente. Mas acabou por ser uhomem-bomba em um carro: ele tinha explodido a si mesmo prximo a um posto de controle, matando cincopessoas. Ao mesmo tempo, um homem em uma motocicleta detonou uma bomba em um posto em que haviamospassado minutos antes, matando apenas a si mesmo. O YPG pode ter expulsado o ISIS destas reas, mas nopara muito longe.

    Inmeras vitrias e derrotas no campo de batalha na Sria e no Iraque foram anunciadas ao longo dos ltimos quatanos, mas a maioria delas no foi, em nenhum momento, decisiva. Entre 2011 e 2013 muito se disse no Ocidente,

    em grande parte do Oriente Mdio, que Assad seguia a mesma trajetria que resultou na queda de Gaddafi [ex-ditador da Lbia]. No final de 2013 e ao longo de 2014, ficou claro que Assad ainda controlava reas muito povoadaMas, em maio deste ano, com os avanos jihadistas no norte e no leste da Sria, restabeleceu-se a propaganda dodesmoronamento do regime. Na realidade, nem o governo, nem os seus opositores entraro em colapso: por todosos lados h adeptos que iro lutar at a morte. uma verdadeira guerra civil. H alguns anos atrs, em Bagd, umpoltico iraquiano disse-me que o problema no Iraque que todas as partes so ao mesmo tempo muito fortes emuito fracas: fortes demais para serem derrotadas, mas muito fracas para vencer. O mesmo se aplica hoje na SriMesmo se um lado sofre uma derrota temporria, seus aliados estrangeiros iro sustent-lo. O ISIS foi resgatadopela Arbia Saudita, Qatar e Turquia em 2014; este ano, Assad est sendo salvo pela Rssia, Ir e Hezbollah. Todotm muito a perder: a Rssia precisa de um sucesso na Sria, depois dos vinte anos de retiro. Ao mesmo tempo, osestados xiitas no vo permitir que haja um triunfo sunita.

    Vai ser difcil resolver o impasse militar. O campo de batalha muito grande, com linhas de frente que se estendemdesde o Ir at o Mediterrneo. A entrada da fora area russa resultar em um novo equilbrio de poder na regio?Ser essa fora mais eficaz do que os americanos e seus aliados? Para que o poder areo seja efetivo, mesmoutilizando misseis de preciso, ele precisa de um parceiro militar altamente organizado em terra para identificao alvos e afinao das coordenadas para os planos de voo. Esta aproximao funcionou para os EUA quandoapoiaram a Aliana do Norte contra os talibs no Afeganisto em 2001, bem como ospeshmergasiraquianos contro exrcito de Saddam no norte do Iraque em 2003. A Rssia espera agora ter o mesmo sucesso atravs de suacooperao com o exrcito srio. H sinais de que isso pode estar acontecendo.

    Mas o apoio areo russo no ser suficiente para derrotar o ISIS e outros grupos do tipo al-Qaeda, j que anos de

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    luta contra os EUA deram aos terroristas no Iraque e na Sria uma competncia militar formidvel. Suas tticasincluem mltiplos ataques coordenados por terroristas suicidas, s vezes dirigindo caminhes blindados quecarregam vrias toneladas de explosivos, bem como o uso de massa de IEDs [minas caseiras] e outras armadilhasO ISIS d nfase ao treinamento prolongado, bem como ao ensino religioso. Seus atiradores de elite so famosospor permanecer imvel por horas em busca de um alvo. Alm disso, o ISIS age como uma fora de guerrilha,contando com ataques-surpresas e diversificando ataques para manter seus inimigos perdidos.

    Nos ltimos trs anos, descobri que a melhor maneira de compreender o que est realmente acontecendo na guer

    visitar os hospitais militares. A maioria dos soldados feridos, testemunhas oculares da luta, demonstra tdio porsuas convalescncias e nsia para falar sobre as suas experincias. Em julho, eu estava no Hospital de Ensino deHussein, na cidade sagrada xiita de Karbala, onde uma das alas foi reservada para os combatentes feridos dabrigada xiita conhecida como Hashid Shaabi. Muitos tinham respondido a um chamado s armas feito pelo gro-aiatol Ali Sistani depois do ISIS ter capturado Mosul no ano passado.

    O coronel Salah Rajab, o vice-comandante do batalho Habib da brigada Ali Akbar, que estava deitado na camadepois de ter sua perna direita amputada, lutava em Baiji City, uma cidade no Tigre perto da maior refinaria depetrleo do Iraque, havia 16 dias quando um morteiro caiu perto dele, deixando dois dos seus homens mortos equatro feridos. Quando lhe perguntei quais eram as fraquezas da brigada Hashid, ele disse que estavamentusiasmados, mas mal treinados. Podia falar com alguma autoridade: era um soldado profissional que se demitiu

    do exrcito iraquiano em 1999. Queixou-se de que seus homens teriam no mximo uma formao de trs meses,quando precisavam de seis meses, j que cometeram erros cruciais, tais como falar demais em seus telefonescelulares e rdios, no campo de batalha. O Estado Islmico monitora todas essas comunicaes, e usouinformaes interceptadas para infligir pesadas perdas. O maior problema para a Hashid, que possui umagrupamento com cerca de cinquenta mil homens, a falta de comandantes experientes capazes de organizar umataque sem sofrer baixas importantes.

    ***

    Omar Abdullah, um jovem de 18 anos que serve a brigada voluntria, estava em outra cama na mesma ala. Ele havtreinado durante 25 dias antes de ir lutar em Baiji, onde seu brao e perna foram quebrados na exploso de uma

    bomba. Sua histria confirma, segundo o coronel Rajab, o entusiasmo de milicianos inexperientes que acarretampesadas perdas ao carem em armadilhas do ISIS. Ao chegar em Baiji, Abdullah disse: ns fomos alvejados poratiradores de elite e entramos em uma casa, em busca de abrigo. ramos treze, e no percebemos que a casaestava cheia de explosivos. Os explosivos foram detonados por um agente do ISIS que mantinha vigilncia sobre casa. A exploso matou nove dos milicianos e feriu os quatro restantes. Soldados experientes tambm tm sidovtimas de armadilhas como esta. Um especialista em desarmamento de bombas na enfermaria me disse quequando foi analisar uma ponte de madeira de aparncia suspeita sobre um canal, um de seus homens pisou em ummina e detonou uma bomba que matou quatro e feriu trs da equipe antibomba.

    Cada tipo de leso corporal refletem um tipo de combate predominante. A maior parte dos conflitos ocorre emcidades ou reas construdas, alm de envolver combate do tipo casa-a-casa, em que as baixas militares so

    elevadas. Soldados srios, curdos e iraquianos relataram terem sido atingidos por atiradores de elites em seuspostos de controle ou feridos por minas e armadilhas. Em maio, falei com Javad Judy, um jovem de 18 anosintegrante do YPG curdo no hospital Shahid Khavat, na cidade de Qamishli, no nordeste da Sria. Ele havia sidobaleado na coluna vertebral, quando seu agrupamento estava patrulhando uma aldeia crist perto Hasakah, locacontrolado pelas milcias do ISIS. Havamos nos divididos em trs grupos para atacar a aldeia, disse ele, quandofomos atingidos por fogo intenso de trs das rvores, vindo de ambos os lados. O jovem ainda estava traumatizadpor descobrir que a parte inferior de seu corpo estava permanentemente paralisada.

    Para alguns soldados, as leses no so a nica ameaa sobrevivncia. Em 2012, no hospital militar Mezze, emDamasco, conheci Mohammed Diab, um soldado do exrcito srio de 21 anos, que um ano antes, em Aleppo, foraatingido por uma bala que estraalhou sua perna esquerda. Depois de uma recuperao inicial, ele regressou para

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    sua aldeia natal de Rahiya, na provncia de Idlib. Foi uma estratgia perigosa, pois a rea estava sob o controle daoposio. Ao descobrir que havia um soldado do governo ferido na aldeia, o ISIS fez Diab refm por cinco meses;ainda vendeu sua tala de metal e deu-lhe um pedao de madeira para amarrar a perna. Finalmente, sua famliaconseguiu pagar o resgate equivalente a mil dlares, mas sua perna tinha infeccionada e ele teve que voltar aohospital.

    De certo modo, os soldados e combatentes comentaram ter muita sorte: pelo menos tnhamos um hospital paraonde ir. Milhares de lutadores contra o ISIS foram feridos em Kobane, onde 70% dos edifcios foram destrudos po

    700 ataques areos norte-americanos. Em Damasco, bairros inteiros mantidos pela oposio foram transformadosem runas pela artilharia do governo. Desde maro de 2011, de acordo com o Observatrio Srio dos DireitosHumanos, 250.124 srios foram mortos e estima-se que mais de 2 milhes foram feridos, numa populao de 22milhes. O pas est saturado pela violncia. Em setembro, fui para a cidade de Tal Tamir prxima a Hasakah City,perto de onde Javad Judy foi baleado. O ISIS havia recuado, mas as pessoas ainda estavam muito aterrorizadaspara voltar para suas casas aquelas que ainda permaneciam em p. Uma autoridade local disse que estavatentando persuadir os refugiados a voltar. A relutncia deles no surpreendente: na semana anterior, uma mulherrabe, aparentemente grvida, havia sido presa no mercado de Tal Tamir ao falhar em detonar os explosivos atadoem seu estmago, embaixo das vestes negras.

    A interveno russa na Sria, o envolvimento do Ir e as potncias xiitas, assim como a ascenso dos curdos srios

    ainda no conseguiu alterar o status quodaquele antigo conflito no Iraque e na Sria, embora tenha potencial parafaz-lo. A presena russa tornou menos provvel uma interveno militar turca contra os curdos e o governo deDamasco. Mas os russos, o exrcito srio e seus aliados, precisam conseguir uma vitria altamente simblica como, por exemplo, capturar metade do territrio controlado pelos rebeldes em Aleppo pois so estes que estotransformando o conflito em guerra civil. Assad no quer de jeito nenhum ter seus atiradores de elite como presa fnuma luta corpo-a-corpo, como as descritas pelos soldados feridos nos hospitais.

    Nesse sentido, a campanha area da Rssia tem uma vantagem sobre a dos norte-americanos: foi lanada comapoio de um exrcito regular eficaz. Os EUA nunca se atreveram a atacar o ISIS quando este estava lutando contrao exrcito srio, porque Washington no queria ser acusada de manter Assad no poder. A abordagem dos EUAdeixou-o sem aliados reais em terra: somente os curdos, cuja eficcia limitada fora das zonas de maioria curda. A

    fraqueza da estratgia dos EUA no Iraque e Sria fingir que exista ou que possa ser criada uma oposiosunita moderada. As denncias ferozes dos norte-americanos contra a interveno russa advm de reconheceremas vantagens da Rssia, naquilo que os EUA no tiveram capacidade de fazer. Enquanto isso, a Inglaterra cobiaaderir campanha area liderada por Washington, sem perceber que esta j falhou em seu objetivo principal.