Outra Historia e Possivel - Mudar o Mund

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II Curso de formação profissional e política do Centro Acadêmico de Serviço Social da Faculdade Cearense Uma outra História é possível 1 Raphael Cruz Queríamos que fizéssemos o seguinte exercício: tentássemos lembrar da história do Brasil que aprendemos na escola. Certamente vamos nos lembrar dos reis, rainhas, marechais, capitães, presidentes, entre outras figuras de autoridade. Podemos até nos lembrar das guerras, dos exércitos, das navegações, dos colonizadores e dos tenentes. Contudo, uma figura é quase sempre excluída dos nossos livros escolares. Essa figura é o povo. Quando falamos povo, falamos de trabalhadores, homens e mulheres, do campo e da cidade, indígenas e quilombolas, ribeirinhos e camponeses, operários e professores, camelôs e funcionários públicos, trabalhadores formais e informais. Quando os excluímos de nossos livros escolares, acabamos por exclui-los de nossa imaginação histórica. E o resultado que fica é a imagem do povo como espectador da história e não como construtor da história. Parece que os ricos sempre fizeram a história e por isso governam a história. A História dos de baixo: História que se faz nas lutas Assim, a história do Brasil e do mundo é contada como se fosse a história das elites, dos ricos e poderosos, dos latifundiários e industriais, dos banqueiros e governadores. O que nos propomos a fazer aqui é imaginar que uma outra história é possível. Imaginem como seria a história do Brasil contada a partir das lutas e esperanças dos povos indígenas, das insurreições escravas contra os senhores de engenho, dos confrontos e sonhos de camponeses contra os latifundiários, das alegrias e tristezas dos operários na luta contra os patrões por emprego digno e bem estar. Imaginem agora que tudo isso existiu de fato. E que a história que aprendemos na escola é apenas metade da história. O que as classes dominantes nos querem fazer acreditar é que somos povos sem história, logo sem sonhos de libertação e lutas de emancipação, sem objetivos próprios, sem cultura política própria, sem formas de organização própria. História é luta. É movimento, são as vitórias e as derrotas populares no confronto com as classes dominantes que explicam o mundo em que vivemos hoje. Entender esse processo é entender de onde viemos e para onde vamos. É entender quem somos e em que mundo vivemos. E acima de tudo como fazemos para transformá-lo. Organização, poder, transformação “É verdade que há no povo uma grande força elementar, uma força sem dúvida nenhuma superior à do governo e à das classes dirigentes tomadas em conjunto; mas sem organização uma força elementar não é uma força real. É nesta incontestável vantagem da força organizada sobre a força elementar do povo que se baseia a força do Estado. Por isso o problema não é saber se o povo pode se sublevar, mas se é capaz de construir uma 1 Texto elaborado exclusivamente para o II Curso de formação profissional e política do Centro Acadêmico de Serviço Social da Faculdade Cearense. Outubro de 2013.

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II Curso de formação profissional e política do Centro Acadêmico de Serviço Social

da Faculdade Cearense

Uma outra História é possível1

Raphael Cruz

Queríamos que fizéssemos o seguinte exercício: tentássemos lembrar da história do Brasil que aprendemos na escola. Certamente vamos nos lembrar dos reis, rainhas, marechais, capitães, presidentes, entre outras figuras de autoridade.

Podemos até nos lembrar das guerras, dos exércitos, das navegações, dos colonizadores e dos tenentes. Contudo, uma figura é quase sempre excluída dos nossos livros escolares. Essa figura é o povo. Quando falamos povo, falamos de trabalhadores, homens e mulheres, do campo e da cidade, indígenas e quilombolas, ribeirinhos e camponeses, operários e professores, camelôs e funcionários públicos, trabalhadores formais e informais.

Quando os excluímos de nossos livros escolares, acabamos por exclui-los de nossa imaginação histórica. E o resultado que fica é a imagem do povo como espectador da história e não como construtor da história. Parece que os ricos sempre fizeram a história e por isso governam a história.

A História dos de baixo: História que se faz nas lutas

Assim, a história do Brasil e do mundo é contada como se fosse a história das elites, dos ricos e poderosos, dos latifundiários e industriais, dos banqueiros e governadores. O que nos propomos a fazer aqui é imaginar que uma outra história é possível. Imaginem como seria a história do Brasil contada a partir das lutas e esperanças dos povos indígenas, das insurreições escravas contra os senhores de engenho, dos confrontos e sonhos de camponeses contra os latifundiários, das alegrias e tristezas dos operários na luta contra os patrões por emprego digno e bem estar. Imaginem agora que tudo isso existiu de fato. E que a história que aprendemos na escola é apenas metade da história.

O que as classes dominantes nos querem fazer acreditar é que somos povos sem história, logo sem sonhos de libertação e lutas de emancipação, sem objetivos próprios, sem cultura política própria, sem formas de organização própria.

História é luta. É movimento, são as vitórias e as derrotas populares no confronto com as classes dominantes que explicam o mundo em que vivemos hoje. Entender esse processo é entender de onde viemos e para onde vamos. É entender quem somos e em que mundo vivemos. E acima de tudo como fazemos para transformá-lo.

Organização, poder, transformação

“É verdade que há no povo uma grande força elementar, uma força sem dúvida nenhuma superior à do governo e à das classes dirigentes tomadas em conjunto; mas sem organização uma força elementar não é uma força real. É nesta incontestável vantagem da força organizada sobre a força elementar do povo que se baseia a força do Estado.

Por isso o problema não é saber se o povo pode se sublevar, mas se é capaz de construir uma

1 Texto elaborado exclusivamente para o II Curso de formação profissional e política do Centro Acadêmico de Serviço Social da Faculdade Cearense. Outubro de 2013.

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organização que lhe dê os meios de se chegar a um fim vitorioso – não por uma vitória fortuita, mas por um triunfo prolongado e derradeiro.” Mikhail Bakunin, A ciência e a questão vital da revolução.

A citação acima é de um importante revolucionário russo do século XIX, nela está contida a importância da organização do povo como geradora de força, de poder, o que chamamos atualmente de poder popular.

Podemos nos perguntar por que mesmo o povo sendo maior numericamente que os ricos, ainda são os ricos que detêm o poder econômico e político. Bakunin nos diz que a resposta para essa pergunta está no fato da força dos ricos e do Estado ser uma força organizada, logo uma força real. O povo e os trabalhadores sempre foram o maior número, mas por sua força não se encontrar organizada ela é apenas uma força elementar e não uma força real. Para ser uma força real o povo deve se organizar.

Organização de base: o que é e para que serve?

As organizações de base são formas de organização a partir do local de trabalho, estudo ou moradia. Quando estudantes se juntam em sua faculdade para conseguir melhores condições de estudo (bebedouros, baixar as mensalidades, etc.) e formam um coletivo ou um centro acadêmico, eles estão criando uma organização de base. Quando moradores do bairro se unem em uma associação ou comitê de bairro para conseguir melhores condições de moradia (saneamento, mais linhas de ônibus, iluminação pública) eles estão criando uma organização de base.

O que tem em comum nessas experiências é que a união faz a força. Sozinhos estamos vulneráveis, isolados não temos como enfrentar os problemas coletivos que nos afligem. Problemas coletivos demandam soluções coletivas. A organização de base serve para unir as pessoas em torno de objetivos públicos, por uma causa comum. Ai reside toda a sua importância.

Mudar o mundo através da organização popular

Assim, chegamos a algumas conclusões preliminares. Para conseguir transformar o mundo em que viemos (nossa faculdade, bairro, local de trabalho e até o país) é preciso que tenhamos força. E, como vimos, a força do povo é gerada quando ele se organiza.

Logo chegamos ao seguinte esquema:

Organização => poder => transformação

A história está cheia de exemplos de experiências coletivas que nasceram a partir da união e organização do povo explorado e oprimido: A Comuna de Paris, Revolução Russa, as Ligas camponesas no Nordeste, as greves gerais, etc.

Lembrar dessa história é lembrar que temos um passado e por isso somos capazes de construir nas lutas um futuro de liberdade, sem exploração e com autodeterminação popular. Assim, num presente de lutas, de derrotas e vitórias, continuamos acreditando que somente o poder do povo vai fazer um mundo novo.