Ouca a minha freguesia

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Ed. 203 de 10 Março 2010 carregosa ouca rio tinto tabuaço

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Especial freguesia de Ouca

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Ed. 203 de 10 Março 2010

carregosa

ouca

rio tinto

tabuaço

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O Ponto | 12/II

Depois de terminada a 1ª fase doParque da Fonte, o início destemandato é marcado com a obra dacasa mortuária, que está quaseconcluída…

Já está concluída neste momento. Apenasfalta mobilar (com um altar e algumascadeiras) e pendurar uma pintura queencomendámos à senhora que efectuoupinturas para o Centro Comunitário. Istoporque a casa mortuária, em si, é umespaço com uma finalidade fria e triste. Nósqueríamos que a casa servisse todas asreligiões existentes na freguesia: católica,evangélica e jeová. Perguntei arepresentantes de todas se achavam porbem que a casa tivesse uma pintura deJesus Ressuscitado e todos concordaramcom a ideia. Apesar das obras estaremconcluídas, a casa mortuária não pode serutilizada sem estarem efectuados osarranjos exteriores, que a Câmaraaprovou recentemente. Esta é uma infra-estrutura necessária, e muito ansiada pelaspessoas porque só na semana passadafaleceram duas pessoas e os familiarestiveram que recorrer-se da casa mortuáriaperto do lar, que é muito pequena.

Como estão as obras da beneficiaçãodo cemitério de Ouca?

A obra do cemitério de Ouca foi uma dasque já concluímos. Encontrava-se muitodegradado e, por isso, “enterrou-se” muitodinheiro ali porque não tinha esgotos –uma vez vi que funcionárias do Lar lavaramtapetes no adro e a água com espuma iaaté ao fim do cemitério -, não tinhaelectricidade, tinha os passeios muitodeteriorados e a parte nova precisava deser elevada para estar tudo ao mesmonível. E estava tão desalinhado que a únicahipótese de acabar com o desalinhamentofoi fazer fundações. Deste modo, aampliação do cemitério foi feito comfundações e numa das paredes foram feitosgavetões, porque o lar ocupa muitoslugares. Como não temos hipóteses dealargar mais, falei com o padre paralevantar os restos mortais daqueles que épossível por lei para colocar nos gavetões.E há já muitas pessoas interessadas emocupar com restos mortais de campas ecapelas já antigas.

Depois do cemitério, as atençõesvoltam-se para a entrada da Igreja,que fica no interior do Lar ...

Depois de ter gasto tanto dinheiro nocemitério nestas obras todas (incluindo some capela envidraçada para cerimónias),verificámos que também o adro da Igrejase encontra muito deteriorado. Comoprecisamos de ter apoio financeiro daCâmara, falei com o sr. Presidente, e elepediu-me que fosse solicitar autorizaçãoao padre António Martins, que se mostroutotalmente de acordo. Isto porque a igreja

está muito escondida e o lar tem muitosrecantos, o que acaba por reduzir oespaço, não dando a amplitude e visãomerecidas à Igreja. Até os própriosbombeiros têm dificuldade em lá ir. O pedidofoi efectuado e aprovado em reunião deCâmara recentemente. Do projecto dosarranjos exteriores deverá constar oavanço das portas do cemitério para queas capelas, que estão no adro, sejamintegradas no interior do cemitério.

Será em Ouca que vai ser instalado umdos cinco pólos educativos do concelhode Vagos. Que importância/impactopode ter para a freguesia, depois deter visto desactivadas três escolas?

Eu penso que é uma enorme tristezasempre que se fecha algo que é tradicional.Mas um pólo educativo para a freguesiaserá muito bom: veremos novamente maisjovens e crianças na nossa freguesia,trazendo juventude para a terra, porqueas nossas aldeias têm dificuldade em nãoter o que os jovens precisam, obrigando-os a ir atrás do que a vida futuraproporciona, nomeadamente o trabalho,

fora das nossas aldeias. Com eles levam osfilhos, e julgo que o pólo irá trazer maispessoas, mais jovens e meninos para asnossas aldeias, rejuvenescendo-as.Também com esta infra-estrutura virãoprofessores que, certamente, procurarãoresidência aqui próximo, trazendo consigoos filhos. Os alunos passarão a ter outrasoportunidades, o que fará com que seenraízem na sua terra.

Já estão adquiridos todos os terrenospara a sua construção?

Já estão todos, mas ainda há uns terrenosque a Junta está interessada em adquirirpara, próximo, construir um campodesportivo que sirva toda a freguesia. Nóstemos duas equipas (Carregosa e RioTinto) que têm campos com as medidasexigidas, mas ambos estão na freguesiade Soza, em terrenos doados porouquenses. Pensamos que também irão seradquiridos para o futuro ParqueEmpresarial de Soza. Por sua vez, osterrenos para o pólo educativo e campodesportivo estão em Ouca e Carregosamas irão servir toda a freguesia.

Que destino terão as escolasdesactivadas?

Estão todas ocupadas, servindo de sede aassociações locais: o Futebol Clube Rio Tintoestá na EB1 de Rio Tinto, a mais recenteassociação local – Motor Trilhos de Tabuaço– ocupa a EB1 Tabuaço e o AtletismoFutebol Clube de Carregosa encontra-sesedeado na EB1 de Carregosa. Os únicosestabelecimentos activos (EB e Jardim-de-infância de Ouca), depois de desactivados,terão igualmente como destino asassociações.

Tem-se registado, nos últimos anos,que a sociedade civil se temmovimentado, criando novasassociações ou reactivando outras.Qual a explicação para este retomardo associativismo?

Algumas já existiam e foram retomadas.Mas eu penso que a que deumovimentação foi a ARCO, há dez anos,da qual sou uma das sócias fundadoras.Tendo por base uma afirmação de EuricoPena - «Ouca tem de tudo e tudo estáfora de Ouca» -, tentámos recuperar tudoo que é de Ouca para Ouca. E julgo que aARCO movimentou as pessoas e deu umaespécie de incentivo ao associativismo.

E que benefícios colhe a freguesia comessa movimentação?

Muitos. É muito agradável ter a nossajuventude, e não só, em movimento.Estamos a passar por um longo Inverno,mas diariamente perguntam-me quandofazemos mais alguma festa. Este facto dáoutro movimento às nossas aldeias e todosgostam de participar e colaborar dentrodas suas possibilidades. É esseassociativismo que dá um maior carismaao nosso povo que sempre teve umbocadinho de tudo e estava a perder-seno tempo.

Ouca é uma freguesia muito rural.Como está a ser desenvolvida essaprática, ainda de forma tradicional oujá com investimentos tecnológicossignificativos? É uma actividade apenasrealizada pela população mais idosa?

Acredito que Ouca, neste momento, é umadas freguesias do concelho de Vagos quemais agricultura tem, especialmente a nívelleiteiro. Infelizmente, penso que já fecharamalgumas empresas que estavam em mãosde jovens, por não terem muito apoio epela desvalorização do preço do leite. Masapesar de alguns terem desistido, o que émuito lamentável, existem ainda muitojovens na agricultura e com grandesprojectos. Como costumo dizer, Ouca é umamancha verde de agricultura. Temos,também, uma grande área de estufas,sobretudo de flores em Ouca, enquantoque Carregosa tem estufas de flores e de

«Recuperar tudo o que é de Ouca para Ouca»Entrevista a Fernanda Oliveira, presidente da Junta de Freguesia

horticultura. E em mãos de jovens.Podemos dizer que existe equilíbrio entrea agricultura mais industrializada dosjovens e a agricultura tradicional dapopulação mais idosa.

E qual é o peso do tecido empresarial/industrial na freguesia?

É pouco; temos apenas algumas PME’s .Esperemos que aumente ou seja favorecidocom o Parque de Soza. Considero queOuca tem um pouco de tudo no comérciolocal, mas todos os serviços necessários.

Com a abertura da A17 e o novo PDM,esperava-se que mais jovens seinstalassem na freguesia. Acabou porse verificar tal perspectiva?

Com o novo PDM os jovens casais passarama poder construir nos terrenos que tinhamdisponíveis e que não estavam em áreaurbana. Era essa uma das razões que“obrigava” os nossos jovens a “fugir” dafreguesia. Diziam que o valor da comprade um outro terreno dava para adquirirum apartamento. Também a A17 veioencurtar distâncias e, mesmo trabalhandona cidade, as pessoas podem viver aqui,porque chega-se lá muito mais rápido.

Para alargamento da instalação darede de saneamento, começou já a serconstruída a ETAR. Em que passo seencontra esse processo, uma vez queesse sector será gerido pela empresaÁguas da Região de Aveiro?

A rede existente é diminuta. No entanto, ede acordo com o mapa que me foi entreguehá dias, está já projectada uma áreasignificativa e que, como consta, já está emexecução. É uma área que engloba quasea localidade toda de Ouca e algumas ruasprincipais das restantes aldeias. Acreditoque esteja para iniciar, uma vez que eraconsiderada prioritária pela autarquia e jáestá assinalada no mapa como “emexecução”. O arranque do funcionamentoda rede já existente está dependente daconclusão da bomba elevatória que estáparada por causa das águas da chuvaque ali se depositaram.

Que outras obras estão previstas paraa freguesia?

Com o apoio da autarquia, está previstopara breve o arranjo da Igreja daCarregosa (a Câmara adquiriu o terrenocom vivenda que era necessário para fazeressa obra), assim como o arranjo exteriorda casa mortuária e da frente da Igreja deOuca, obras que já tiveram lugar junto àsigrejas de Rio tinto e Tabuaço. Epretendemos ainda adquirir os terrenosnecessários para dar continuidade aoparque da fonte. Esperamos concluir estasobras e outras que entretanto surjam ouque temos em mente. GP

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Bodas de SonhoO Ponto | 13/III

Chama-se Maria de Almeida Simões, mas écarinhosamente mais conhecida por D. Micas.Para quem não conhece – e serão muitopoucos os ouquenses que não a conheçam –,D. Micas é proprietária daquele que foi oprimeiro café de Ouca: o Café Cruzeiro. «Tinha24 anos quando eu e o meu marido abrimosportas; era uma mercearia e café», relembraD. Micas, que já assinalou 85 primaveras.«Depois do meu marido ter falecido, há 42anos, continuei à frente do negócio e acabeipor criar os meus filhos e hoje já tenho duasnetas e uma bisneta», conta orgulhosamente.O negócio, nos dias de hoje, classifica-se empoucas palavras: «está muito fraco e parado».No entanto, a sua força de vontade nãoesmorece, dando continuidade à actividade.«Dá pouco, mas é aqui que passo os meusdias… com esta idade também já não davapara fazer muito mais», ri-se, adiantando que«assim sempre falo com quem passa e com ospoucos fregueses que cá vêm tomar o café»,como Aristides António Bio, mais conhecidopor sr. Marcelino. «Eu sou cliente desde que ocafé abriu e sempre foi aqui que abasteci adespensa lá de casa», diz, recordandoigualmente que «ainda sou do tempo em queum café custava oito tostões. Agora sãoprecisos 50 cêntimos para tomar um».Aquando da sua abertura, na parte damercearia vendia-se um pouco de tudo mas«em grande quantidade»: «adubos, sal,cereais, café, açúcar, ovos, …», enumera. Eraainda posto de leitaria. «Os lavradores quetinham vacas traziam o leite, que era depoisrecolhido por um camião, que o levava paraAveiro». Ao contrário dos dias de hoje, emque os produtos são comercializados emembalagens próprias, «antigamente nósdespejávamos o café, açúcar e o arroz emtulhas [recipiente] e colocávamos o produtocom a ajuda de um passador (mas nóschamávamos corredor) em cartuxos depapelão grosso de um quilo, meio quilo ou umquarto de quilo. Enchia-se na hora, conforme

o que pedia o cliente». Já na parte decafé, os clientes eram «às dezenas».«Estavam cá sempre novos e velhosaté às tantas, sobretudo a jogar cartase matraquilhos numa sala de jogos queaqui tínhamos», conta, lamentando afalta de clientes que preferem oshipermercados e centros comerciais.

Pinturas particulares

Apesar de ser frequentado diariamentepor poucas pessoas, o café é visitado,ao longo de todo o ano, por dezenasde pessoas que ficam fascinadas pelaspinturas existentes na parede.Efectuadas por um senhor que viviaem Mira, numa delas está retratado “S. Tomézinho, apóstolo de fé, voltaao Cruseiro tomar um café”. Nas outras pinturas, uma a cada lado deuma grande porta que dava acesso à sala de jogos, está pintada umamulher branca que diz “Portugal é aqui”; do lado oposto, uma imagemde uma mulher negra, com um filho nos braços, afirma “Aqui também éPortugal”. «É uma brincadeira que o senhor pintou por sua própriaautoria, numa altura em que Angola ainda era uma colónia portuguesa»,vinca D. Micas. GP

Micas à moda antigaGentes de Ouca

Sabia que o Convento de Jesus de Aveiro (actual Museude Aveiro) tem ligações ao concelho de Vagos? Pois foiD. Brites Leitoa, residente em Ouca e proprietária daQuinta de Ouca, uma das fundadoras do conventodepois de, em 1453, ter ficado viúva – o seu marido, D.Diogo de Ataíde, faleceu por causa da peste. O casaldecidiu-se instalar na Quinta de Ouca (apesar de teremoutra nos arredores de Leiria) depois da tragédia deAlfarrobeira. Perspectiva-se que a localidade de Oucadaqueles tempos devia ser uma povoação muitoimportante por ser assinalada como porto de Mar nascartas geográficas holandesas do século XVI.Foi também nesta quinta em Ouca que se produziu omaterial (telha de canudo e tijolo) utilizado naconstrução do convento. Para além do contributo comeste tipo de material, a Quinta também produziagrandes quantidades de ovos, cereais e vinho, queservia como ajuda ao sustento das religiosas. Isto porqueD. Brites Leitoa tinha uma forte inclinação para ahospitalidade franca.A ligação entre a freguesia de Ouca e o Convento foialvo de um projecto, desenvolvido entre Fevereiro de2005 e Dezembro de 2006, resultante de umacandidatura do consórcio constituído pelo Museu deAveiro (entidade gestora) e os Municípios de Aveiro,Vagos e Oliveira do Bairro ao Programa Aveiro Digital.O objectivo foi o de produzir uma aplicação digital queexplorasse conteúdos museológicos e patrimoniais deforma lúdica (na página da Internetwww.eraumavezemaveiro.pt), para uma faixa etáriados 8 aos 13 anos.De acordo com Lurdes Carvalhais, Técnica Superior daBiblioteca do Município de Vagos e uma dasinvestigadoras do projecto Museave, a participação doMunicípio de Oliveira do Bairro prende-se com o factodas quatro léguas da Quinta de Ouca abrangerem, naaltura, parte das actuais freguesias de Ouca, Soza, ePalhaça (Oliveira do Bairro). Deste modo, o consórciocriado promove uma visita virtual onde é retratado ocrescimento urbano nos séculos XV e XVI da Vila deAveiro, o Convento de Jesus e as propriedades que comele se relacionavam, nomeadamente, o casal deRequeixo e a Quinta de Ouca. «É uma visita virtual quese destina a todas as pessoas, mas a animação édestinada aos mais novos, porque sentimos que eraimportante dar a conhecer às crianças a história da sualocalidade e qual a relação entre Ouca e o convento»,menciona Lurdes Carvalhais, assegurando que «todasas investigações efectuadas foram avaliadas por MariaHelena da Cruz Coelho, medievalista e professora daFaculdade de Letras da Universidade de Coimbra». GP

Maria Vitorino era dona de umacapacidade superior nainterpretação e conhecimento daspessoas. Tinha o “espírito” dentrodela, dizia-se. Apelidada desdenova como “a Bruxa”, MariaVitorino chegou mesmo aponderar acabar com a própriavida. Não se sentia uma Bruxa,mas sim “Espírita”.Quem a visitava procurava omelhor encaminhamento paraenfrentar as dificuldades que selhes apresentavam. Era umaespécie de psicóloga à época. Osque havia estavam longe: Lisboa eo Porto pareciam estar a dias dedistância e a proximidade faziatoda a diferença. Há meio séculoatrás proliferavam os espíritas pelopaís e Maria Vitorino sentia a possedesse Dom. Evaristo casou com elae assim também ele foi absorvendoo «espírito», a capacidade deinterpretar os outros. Há quasetrinta anos, desde a morte de suamulher, que Evaristo ajuda a curare a «endireitar» as pessoas commassagens e produtos naturaisapoiados pelas suas rezas. Daalcunha não se livra, mas soubemelhor lidar com ela.Combalido e com mais de oitentaanos, Evaristo Ferreira transmitiuas suas “sabedorias” à filhaAmorosa para assim darcontinuidade a esta tradiçãofamiliar. Menos que antigamente, écerto, ainda hoje há quem venhade longe a Carregosa à procura deajuda para os seus males. EF

Evaristoo espírita eendireitada Carregosa

Foi uma ouquense que fundouo Convento de Jesus

Projecto Museaveexplica ligação entreOuca e Aveiro

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O Ponto | 14/IV

“Gaiola” para pagaraos professores

Antigamente, no final do Inverno, era muitocomum fazer-se a matança do porco, depoisde muitos meses de engorda do animal. Amatança do porco à moda antiga é uma dastradições que, ano após ano, é reavivada pelaAssociação Recreativa e Cultural de Ouca(ARCO) – este ano está marcada para opróximo dia 28 de Março, no recinto da Casado Povo da freguesia.«Logo pela manhã costumamos recriar aprópria matança, onde se pode assistir aochamuscar e desmanchar do animal», adiantaTony Richard, da direcção da associação.Segue-se depois a confecção das mais diversasiguarias gastronómicas típicas desta região:sarrabulho, arroz de leves, rojões feitos aolume, sainhas, fêveras, sopa dos ossos dacabeça, entre outras. Pratos que estarão aodispor, a partir das 12 horas, de todosquantos queiram participar na iniciativa.Depois do almoço convívio, durante a tardehá sempre lugar para a actuação do rancholocal e há sempre animação musical.«Para além de unirmos a freguesia em voltada tradição, pretendemos, com esta acção,reavivar memórias e a “festa” que era matar oporco: a família e vizinhos uniam-se eajudavam na matança e na preparação dacarne, que era salgada para consumir durantetodo o ano», explica. GP

Matança doporco à modaantiga

Não se sabe qual a origem e muito menoso ano em que aconteceu pela primeiravez, mas ao Entrudo estavam associadosa “gaiola” e o “testamento do galo”,promovidos pelos alunos da escolaprimária.A gaiola tinha lugar, tradicionalmente,no sábado que antecedia o domingo deCarnaval (o chamado domingo gordo).Os meninos, escolhidos pelos professores,construíam a gaiola que tinha cerca dedois metros de altura e meio metroquadrado. Segundo consta no livro“Memórias de Ouca”, do já falecidoouquense Eurico Pena, a gaiola era«cercada pelos quatro lados com rede dearame, dividida a meio para separaçãode galinhas e galos dos coelhos, com umaportinhola para cada divisão. Tinhaquatro rodas de madeira com eixo preso,obrigando as crianças, com desmesuradaalgazarra, a mudarem de direcção. Eratoda revestida de ramos de acácia e emtal profusão que até era difícil observar acriação». Com a gaiola, as criançaspercorriam todo o lugar, batendo de portaem porta. Em três largos de Ouca subiama uma espécie de muro, de ondesentenciavam o galo, encenando umtribunal, com juiz e testemunhas.«Finalmente, o que fosse mais esperto liao testamento do galo, contendo piadascarnavalescas para quase toda a gente,mas muito em particular para a classejovem. Tudo isto constituía muita alegriapara os miúdos e muito riso para o povoque, por vezes, deixava todos os seusafazeres para ir ouvir o testamento»,conta Eurico Pena no livro. Todas ascrianças também levavam o maior galo

«Vou fazer meu testamento,Pois eu não quero morrerSem ter feito juramentoDe ninguém ir ofender.

Sem a “graça” do testamento,Éramos um povo sisudo.Sem este divertimento,Já nem lembrava o Entrudo.

(…) Sou um “galão” sem “marmita”Sem poleiro nem casa.Se encontro franga bonita,Ficamos logo em brasa.

(…) Mário Rui no seu táxiVai levá-los sem demora.Se eles não pagarem na horaPõe-lhes a casa em penhora.

(…) Gostava que continuasseEsta velha tradição.Mesmo que lhe custe,Faça das tripas coração.

(…) O Manuel do Boco, no CruzeiroA jogar as cartas é “chaga”,Mas, quando está sem dinheiro,Vai ser a Alice que as paga.(…)»

ou galinha da capoeira dos seus pais, echegando à escola ofertavam os animaisrecolhidos ao professor, que anotava,encaminhando-os de seguida para ocortelho (curral) do docente. Era esta aforma de pagamento pelos seus serviços.No final, havia um convívio com figospassados, pão de trigo, garrafas de vinhotinto, que dava início a três dias de férias(as aulas recomeçavam na quarta-feirade cinzas). Nas ruas, os alunos gritavam“Viva o nosso professor!”.

Testamento do galo animava Entrudo

Já o testamento do galo retratavadesinteligências, casos vergonhosos,namoros clandestinos, traições oudifamações, sendo tudo posto a claro. Em1875 há registos de que o galo eraenterrado no chão até ao pescoço e, comolhos vendados e um pão na mão, osmeninos tentavam matá-lo. Depois demorto seria preparado e cozinhado parao professor e familiares – uma iniciativa«desumana» que foi decaindo, dandolugar apenas ao seu testamento.Temido e ao mesmo tempo divertido, osversos eram mantidos a meio segredo,mas tinham antecipadamente aaprovação do professor, «que fazia ascorrecções necessárias, a fim de não criaratritos ou responsabilidades». Sempre emestilo um tanto ousado e crítico, otestamento tinha 30 ou 40 quadras. Como tempo, passou a haver mais cuidadocom a linguagem devido à “censura” dosprofessores e em 1930 passou a simularum julgamento em tribunal.«Por falta de iniciativas, ou mesmo falta

de bairrismo, este divertimento dascrianças ficou parado por mais de trêsdezenas de anos (…) Alguém das escolasme alertou para ver se o restaurava» e,em 1993, Eurico Pena voltou a fazer otestamento em forma de julgamento de1930. Repetiu-se em 1997, 1998 e, pelaúltima vez, em 1999, quando escrevia olivro “Memórias de Ouca”. Este tinha 100quadras. Aqui ficam algumas:

CarregosaCarregosaCarregosaCarregosaCarregosarecriarecriarecriarecriarecriaVia SacraVia SacraVia SacraVia SacraVia SacraTodos os anos, perto demeia centena de jovens eadultos da localidade deCarregosa reconstituem aVia Sacra na noite da Sexta-feira Santa. Tudo começouem 2002, quando um grupode jovens foi desafiado paracriar discursos directos eencenar os passos de JesusCristo. «Apenas houve umano em que fomosobrigados, por causa domau tempo que se faziasentir, a adiar por umasemana, mas ainda foi atempo porque a visitapascal, na Carregosa, é nodomingo seguinte àPáscoa», explica TonyRichard. O membrofundador desta iniciativaainda não consegueadiantar se, este ano, a ViaSacra volta a ter lugar, maso que é certo é que centenasde pessoas esperam que serealize. «As pessoas –algumas até vêm de longe -acompanham-nos ao longodas 15 estações ao vivo, e háaté quem se emocione com o“pregar” de Jesus Cristo nacruz, junto à Igreja daCarregosa», acrescenta.Todas as personagens,vestidas a rigor,concentram-se no interior daigreja onde, com as pessoasque querem assistir, fazemuma oração. A encenaçãotem lugar um pouco portodo o lugar, terminando nolargo em frente à Igreja. GP

S. Martinho

Mata-se o porco,prova-se o vinhoÉ mais conhecido por ser o dia dos magustos edas castanhas assadas, mas na freguesia deOuca é dia de festa: é o dia do padroeiro S.Martinho. É nestes dias, também, que(habitualmente) a Comissão de Festaspromove uma tradição já antiga e que vai deencontro ao famoso provérbio: “Em dia de S.Martinho, mata o teu porco, chega-te aolume, assa castanhas e prova o teu vinho».Freguesia marcadamente agrícola e vinícola,Ouca cumpre à risca este costumecomo complemento às festas religiosas.Chega-se mesmo a verificar umaespécie de “romaria” para assistir àmatança do porco à moda antiga efazer a prova do vinho do lavradorlocal e da região.No final, juntam-se todos osouquenses à mesa para saborear ospetiscos típicos desta região. «Paraalém de homenagear o nossopadroeiro, é uma festa que éaproveitada para as pessoasconviverem e relembrarem memóriasantigas», adiantou Paulo Jordão,membro da Comissão de Festas, emNovembro passado, no dia em que atradição teve lugar mais uma vez. GP

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O Ponto | 15/V

«O vinho para este espumante é fruto darigorosa selecção das castas existentes naQuinta da Pedreira onde predominam aMaria Gomes, Bical e Chardonnay. Paraa vinificação deste espumante foramfundamentais uma viticultura muitocuidadosa ao longo do ano,nomeadamente no que se refere aostratamentos fito sanitários; o controlo dematuração e o corte das uvas nomomento ideal para a elaboração dovinho base». Nota final do avaliador LuísLopes, da Revista de Vinhos: 16 valores,numa escala de 0 a 20.A nota de prova do Grande ReservaBruto Natural, um dos vários vinhosespumantes produzidos por RicardoFurtado, não deixa muita margem paraespeculação. A qualidade e o rigor sãopalavras de ordem na Quinta da Pedreira,em Ouca.O espaço, que antes pertencera ao avômaterno e mais tarde ao pai, passou paraa gestão do jovem de 36 anos corria oano de 1993. Ao todo são sete hectaresde onde saem anualmente cerca de 40 milgarrafas, divididas entre espumantereserva bruto natural (colheita de 2006),espumante grande reserva bruto natural(2003), espumante bruto natural rosé(2006), espumante reserva bruto natural(2005) e aguardente vínica velha.Quando chega ao consumidor final, umagarrafa de aguardente Quinta daPedreira custa 30 euros e um espumantegrande reserva, por exemplo, podechegar aos 15 euros.A maior percentagem do produto évendida em Portugal continental, masuma fasquia já é comercializada noarquipélago da Madeira, Alemanha,

Quinta da Pedreira de Ricardo Furtado

Produz 40 milgarrafas deespumante por ano

Estados Unidos da América e Cabo Verde.Ricardo Furtado gosta de vinho, desde aprodução ao saborear na mesa. Ovitivinicultor engarrafador orgulha-se das«condições únicas» do seu terreno e fez-se rodear de especialistas, nomeadamentedo conceituado enólogo Rui Moura Alves.Para além disso, integra a direcção daViniBairrada e é associado da FENAVI –Federação Nacional de ViticultoresIndependentes.Mas, no dia-a-dia, tem de repartir asatenções com outras “ciências”,aproveitando a licenciatura em Economiae pós-graduação em análise financeirapara dar aulas de mercados financeiros.

Vindimas empregam 80 pessoas

A Quinta da Pedreira não empregafuncionários a tempo inteiro mas, poraltura da vindima, poda, ata ou enxertia,as necessidades aumentam e é necessárioprocurar trabalhadores. Em Setembro,durante as vindimas, chega a empregar80 pessoas. «É cada vez mais difícilarranjar pessoas para os trabalhosespecializados e mais específicos. E às vezespara a vindima também, porque isto éuma actividade sazonal», explica.Na última década «as colheitas têm sidoboas», mas a produção de vinho estámuito sujeita aos «efeitos do tempo» e é«preciso controlar muito bem os custospara sobreviver». Os preços «têm decaídodesde 2000, de uma forma geral. Há,por exemplo, muitas cooperativas queenfrentam dificuldades», assegura. No fimde contas, «a agricultura e a vitiviniculturafazem-se por gosto», remata.ZC

Odino Almeida não é mais um agricultorou produtor de leite. Di-lo com orgulho enão sucumbe ao «preconceito ouvergonha» de quem as consideraactividades menores.Natural de Tabuaço, o jovem concluiu o12º ano na Escola Profissional deAgricultura e Desenvolvimento Rural deVagos, aprofundando depoisconhecimentos com uma licenciatura emEngenharia Zootécnica e uma pósgraduação em Ciências da Produção naUniversidade de Trás-os-Montes e Alto

Douro.Há cinco anos tomou as rédeas àexploração de bovinos leiteiros da famíliae, um ano depois, adquiriu doisequipamentos de ordenha robotizadaholandeses. Na Quinta dos Alteiros –produção agro-alimentar, o jovem temcerca de 280 animais: 118 bovinos de leite e162 novilhos de engorda. «Este é ofuturo», diz, convicto de que a actividadeagrícola tem de se modernizar e ganhardimensão para sobreviver.«As ordenhas robotizadas têm duas

grandes vantagens: por um lado, há maisprodução pois aumenta o número deordenhas por animal. Por outro, há maisconforto para o produtor, que já nãotem de fazer ordenha de manhã e ànoite». Antes gastava 6 horas diárias sópara a ordenha. Hoje, 45 minutos bastampara fazer a monitorização nocomputador.A modernização permitiu, ainda, reduzira mão-de-obra. «Temos dois funcionáriosa tempo inteiro e um a meio-tempo. Setivéssemos ordenha normal, seriamnecessários mais dois efectivos», explicaOdino.A aquisição das máquinas abriu-lhe novasportas e começou, entretanto, arepresentar a marca e comercializarequipamentos de ordenha robotizada emPortugal. A empresa está sedeada em S.Félix da Marinha, pois «a região leiteira émais no norte do país», explica.

Resistir às dificuldades

As dificuldades no sector de bovinosleiteiros são muitas. A diminuição do preçode leite pago ao produtor «caiu de 0,40para 0,29 euros no espaço de ano e meio.No mesmo período, os custos de produçãosubiram cerca de 25%», diz.Mas há mais. Para alimentar as cabeçasde gado, o empresário cultiva 32 hectares,repartidos por 42 parcelas entre aslocalidades de Tabuaço (Vagos) e Bustos(Oliveira do Bairro). «Já pensei fazer aexploração noutro lado, devido àdificuldade de conseguir emparcelamentode terrenos. Se tivesse mais terrenoseguido, poderia cultivar toda a forragem,leguminosas e gramíneas que necessitopara alimentar os animais. Assim, tenhode comprar 1/3 do alimento. É complicadoe oneroso», desabafa.A terra e os animais são um gosto que oacompanha desde pequeno, mas não sãoamarras. «Se tiver que ser, também vendoa exploração», diz, pragmático. Para já,resiste. ZC

Odino Almeida

Ordenhas robotizadasaumentam produção econforto

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O Ponto | 16/VI

«Foi no dia da festa de S. Martinho: estavaeu a fazer a homilia e, ao narrar a históriado padroeiro da nossa paróquia e Lar,anunciei o meu sonho de construir um larpara idosos e necessitados, porque, nessaaltura, lembro-me que estava um poucotraumatizado com os idosos que foramrepatriados de Angola e não tinham ondemorar. Ainda fui ao Governo Civil solicitarcasas pré-fabricadas para colocar emterreno da paróquia, mas nada consegui».Foi assim que nasceu o Lar de S. Martinhode Ouca. O padre António Correia Martinsrelembra ainda que, logo no final daeucaristia, «veio uma senhora à sacristiater comigo para dar a primeira ajuda paraconstruir o Lar: duas notas de cemescudos. Fiquei sensibilizado, até porquea senhora vivia em Coimbra, mas tinhaorigens de Ouca». Foi a partir destemomento que o primeiro e único párocoda paróquia de Ouca começou atrabalhar e a estabelecer contactos coma Segurança Social. «Fizemos projecto e,com o apoio da Câmara (no tempo da D.Alda), conseguimos uma verba do Estadono valor de 12 mil contos. Foi, até hoje, oúnico subsídio estatal que tivemos»,lamentou, agradecendo, pelo contrário,à população local e emigrantes o apoiodado. «Naquele tempo, em que podiaandar de um lado para o outro, fui aoBrasil, América, Venezuela e Canadá e,junto da comunidade ouquense aliresidente, conseguimos as verbasnecessárias para a construção do primeiroLar misto do concelho – até então apenasexistia o Lar feminino de Santo António».Inaugurado a 8 de Dezembro de 1984 –dois anos depois do início da suaconstrução -, o Lar de S. Martinhocomeçou com as valências de Lar da 3ªIdade (30 idosos) e centro de dia. Depoissofreu obras de ampliação, aumentandopara 70 vagas. «Por ser tão elogiado –referiam-no como um hotel de 5 estrelas –o Lar sempre teve uma procura enorme;a lista de espera chegou mesmo aultrapassar a centena», mencionaorgulhoso o pároco. Razão que o levou aapresentar o caso à Segurança Social,onde foi aconselhado a apresentarprojecto. Aprovado o novo edifício (emJulho de 2000), «comecei outraperegrinação pelo estrangeiro paraconseguir mais fundos».

Obra controversa,mas quase ocupada

Foi desta forma que nasceu o CentroComunitário do Centro Social e Bem-Estarde Ouca, orçado em 2,4 milhões de euros.«Foi uma obra com algumas complicações:

parte do terreno estava em área de RedeEcológica Nacional, mas através de umdespacho de 1998, assinado por FerroRodrigues, João Cravinho e Elisa Ferreira,fomos autorizados a ocupar 5 mil metrosdessa área para construção de miniapartamentos em redor do edifício querecentemente inaugurámos (e que foiconstruído em área urbana)», explicitaAntónio Correia Martins. Entretanto, osmini apartamentos, que constam doprojecto inicial, estão pendentes «porqueaté hoje não recebemos qualquer apoio enão temos meios próprios para já».De acordo com o director de serviços daIPSS ouquense, o novo edifício temcapacidade para 70 idosos, no entantoapenas está ocupado nas valências decreche (20 crianças), apoio domiciliário (30idosos) e 13 crianças da CAF(prolongamento de horário). «Desde oano 2000 já promovemos, também, oitocursos de formação profissional nas mais

25 anos a servirpequenos e graúdos

variadas áreas», adianta Daniel Amaral,salientando ainda que «prestamos apoio,em parceria com a autarquia, na refeiçãoa 16 crianças do pré-escolar e 30 do 1ºciclo».Neste momento, o Centro é o maiorempregador da freguesia (50funcionários). «O Centro Social ajudou acrescer Ouca nas mais diversas vertentes»,vinca Daniel Amaral. «Dinâmica e comvontade de crescer», apesar dos seus 25anos, a instituição tem «outros sonhosque gostaria de realizar», acrescenta opároco. «Tentamos adaptar-nos àsexigências, com vista a uma melhorprestação de serviços, e depois daocupação do novo edifício, vamos ver seconseguimos avançar com a piscina dehidroginástica (para o qual já temosprojecto) e com a instalação de painéissolares para criação de energiafotovoltaica», conclui.GP

Centro Social e Bem-Estar de Ouca

Motor Trilhos de Tabuaço é a mais recenteassociação da freguesia de Ouca. Criadapor amantes de Todo-o-Terreno paramatar o “vício”, a associação resultou deconversas mantidas entre os elementos quea constituem nos seus momentos deconfraternização. «Sentíamos necessidadede estarmos mais ligados ao mundo quetanto gostamos: o TT. Foi assim que surgiuo Motor Trilhos de Tabuaço em Novembropassado», afirmam os membros dadirecção.Sedeados na desactivada EB1 de Tabuaço,os objectivos da associação passam, acurto/médio prazo, melhorar as instalaçõese espaços envolventes e realizaractividades que envolvam TT e desportoaventura. «Pretendemos criar novasamizades e envolver a população local»,afirmam. Para tal, prevêem também apromoção de actividades tão diversascomo jogos de cartas ou malha. «Queremosfazer da nossa “casa” a casa do próximoe, por tal, aproveitamos para agradecer àJunta e Câmara a disponibilização doespaço e a confiança depositada em nóspara o envolvimento da nossa freguesiaem algo diferente». Mais informações sobrea associação podem ser consultadas emhttp://motortrilhosdetabuaco.hi5.com.

Os elementos (fundadores) da direcção

Presidente: “Carramão” – Carlos Martins| 24 anos | Sta Catarina | «Desde pequenoque a paixão pelas motas e motores meferve o sangue… enfim, desde que melembro ser gente.»

Vice-presidente: “Pama” – PauloAlexander Andrade | 27 anos | Ponte deVagos | «Lembro-me de comprar uma DTR125 para me deslocar para o trabalho e emvez de ir por estrada ia por caminhos etrilhos. A moto já não tinha a potêncianecessária e então comprei uma RM250. Apartir dai foi só gastar dinheiro e entãotornei-me um “motodependente”.»

Tesoureiro: Luís Fonseca | 27 anos |Tabuaço | «O “vício surgiu desde criança,desde que eu me lembro de ir a uma corridade motocross na nossa zona, onde aindative a oportunidade de ver o nossocampeão Mário Kalssas.» GP

Tabuaçotrilhadopor motores

AlmaMísticarejuvenesceRio TintoReactivada e formalizada emNovembro do ano passado, aAlma Mística – AssociaçãoCultural, Desportiva e Recreativade Rio Tinto surgiu com oobjectivo de criar um espaçodestinado aos jovens, bem comopromover iniciativas para jovens etodos os residentes deste lugar dafreguesia de Ouca.Sedeada na Escola Básica do 1ºCiclo de Rio Tinto, entretantodesactivada, a “nova” associaçãoexiste há mais de dois anos.«Começou por ser apenas umconvívio de um grupo de amigos,maioritariamente deste lugar, eque decidiram constituir-se emassociação formal». Com novemembros fundadores, actualmentea Alma Mística já possui cerca detrês dezenas de associados quetêm em comum «o gosto pelapromoção e participação emactividades culturais edesportivas», afirmou opresidente da direcção EduardoRamalho à nossa redacçãoaquando da formalização daassociação.Para este ano, do plano deactividades constam, entre outrasactividades, a promoção de umpasseio de BTT/Cicloturismo nafreguesia, um torneio de futebol epaintball, bem como aorganização do Dia de Rio Tintoonde, durante todo o dia, apopulação local será convidada aparticipar em diversas acçõesrecreativas, culturais edesportivas. Também será a partirdo próximo mês que,mensalmente, será disponibilizadoum dia para a realização de testesde medição da tensão arterial ediabetes.Todas as pessoas interessadasestão convidadas parafrequentar, ao fim-de-semana, oespaço, que possui um pequenobar, televisão e alguns jogoslúdicos como setas, uma mesa desnooker e duas de ténis de mesa.Mais informações podem serobtidas emwww.tintofc.webnode.com. GP

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O Ponto | 17/VII

Teve início há dez anos, no seio do grupode jovens da freguesia de Ouca, mas foi apartir de 2005 que a AssociaçãoRecreativa e Cultural de Ouca (ARCO)iniciou o seu trabalho de promoção edivulgação da memória e cultura populare tradicional da freguesia de Ouca.«O ressurgimento da associação foicoincidente com uma altura muito má nanossa vida», relata Tony Richard Almeida,membro da direcção da ARCO e filho dafundadora e presidente da direcção,Fernanda Oliveira. «A associaçãofuncionou como que um tratamentopsicológico para a minha mãe»,acrescenta.A primeira valência a surgir foi o CoroMisto da ARCO, do qual é maestro. «Euestava à frente do grupo coral daparóquia e, depois de sair, fui desafiadopara criar um coro polifónico». Quase emsimultâneo é tornado realidade um sonhode Fernanda Oliveira: a criação doRancho Folclórico. Foi criado para«preservar as raízes culturais que seestavam a perder no tempo, uma vezque estava a decair a interligação oralentre gerações», explicita, afiançando que«o trabalho comunitário da minha mãedespontou a partir desse momento». E,«para espanto de todos», o rancho foimuito procurado por crianças que, pornão quererem apenas um papel passivo,passaram a ter o seu próprio grupo: oRancho Infantil da ARCO.

Uma ARCa de saberes e tradiçõesao dispor da freguesia

O Atletismo Futebol Clube da Carregosaé a única associação desportiva dalocalidade. Fundada em 1983, pelaequipa liderada por Albino Carrancho,durante cerca de dez anos dedicou-se àmodalidade de atletismo, numa alturaem que era “moda” ter ou pertencer aum clube de atletismo. «Era uma equipacomo o actual GRECAS: os nossos atletasestavam bem classificados e ganhavammuitos prémios a nível regional»,relembra Rogério Leirião, actualpresidente da direcção do clubecarregosense. «Com o passar do tempo,e porque as despesas são sempre muitas,as direcções que se seguiram decidiramcontinuar com a modalidade mas apenascom as camadas jovens», acrescenta.Sem interrupções na sua actividade, oAtletismo Futebol Clube da Carregosadecidiu, passada uma década, voltar-separa o futebol. Foi, aliás, a primeiraequipa do concelho de Vagos ainscrever-se na Inatel depois de «quatroou cinco anos» de trabalho com ascamadas mais jovens (iniciados e juvenis).«Aos poucos fomos conseguindo ajudasfinanceiras e o apoio da população e oclube passou a estar menosdescaracterizado», afiança, justificandoa entrada para a Associação de Futebolde Aveiro (divisão distrital) no iníciodesta temporada. «Sabemos que istonão é para dar lucros e só passámos ater mais despesas e trabalho, até porqueo campo teve que sofrer alteraçõesquando entrámos para o Inatel etambém agora para o futebolfederado», explicita Rogério Leirião,lamentando recompensar os jogadoressomente com o pagamento de seguro ea alimentação em dias de jogo. «Opagamento é mesmo a amizade quepermanece entre todos», defende,

elogiando a prestação da equipa que,«embora esteja ainda em fase deadaptação, “dá o litro” e só não fazmais porque não consegue».

Freguesia distanciada do clube

Ao fim de seis anos enquanto presidenteda direcção, Rogério Leirião mostra-secontente por ter consigo formalizar aassociação para poder receber subsídioda autarquia, bem como registar ocampo em nome do clube. «Entretanto,conseguimos adquirir uma carrinha, queacabou por ser roubada», mas nem issoos fez desistir. No que diz respeito àestreia da equipa do Carregosa nodistrital, o presidente confirma que osresultados estão dentro dasexpectativas. «Não ficar em último é oque nos interessa e, até ver, estamos aconseguir». Contudo, diz não percebero porquê da freguesia não apoiar muitoo clube. De acordo com o presidente, oCarregosa tenta participar em todas asiniciativas que são promovidas nafreguesia, «mas ninguém vem terconnosco; não sabemos qual a razão,deve ser algo do passado», advoga. Eisso verifica-se pela composição daequipa: a grande maioria é deCarregosa. «Já jogaram dois ou três deRio Tinto mas desistiram, pelo quetivemos que recorrer a jogadores dasfreguesias de Soza e Santa Catarina»,diz. Mas, mais uma vez, não baixabraços e cria, por exemplo, aulas deginástica de manutenção na sede – nadesactivada EB1 da Carregosa – parachamar a população ao clube. «Mesmoque não apareçam as pessoas emnúmero que gostaríamos, nãoesmorecemos e continuamos a vir nós»,conclui. GP e AC

Desporto em Carregosa

Do atletismo aofutebol distrital

Associação Recreativa e Cultural de Ouca

Depois dos Tambores da Venezuelae da Fanfarra, a banda ou orquestra

Uns anos mais tarde, e partindo de uma«brincadeira», surge o Grupo Tamboresda Venezuela. «Esta é uma expressão dobarlavento venezuelano, com raízesindígenas, reconhecida por todos osemigrantes ou pessoas que estiveram naVenezuela», afirma Tony Richard.Também ele nascido na Venezuela,garante que «é uma valência da ARCOque faz muito sucesso por onde actua»,levando uma «alegria contagiante» atodas as pessoas.A última valência a ser criada foi aFanfarra. «Era outro sonho da minhamãe» e a que «mais trabalho» deu. É quea associação não tinha qualquer verbapara a criação deste núcleo. Paraconseguirmos adquirir os instrumentos,andámos a fazer peditório porta a porta– e aqui deixo um grande obrigado atoda a população da freguesia, que foimuito colaboradora e prestativa -, aminha mãe fez a farda e também aautarquia nos apoiou imenso», lembra.Para além das agendas«preenchidíssimas», a associação tem apretensão de crescer ainda mais. Emcarteira tem alguns projectos, como acriação de um núcleo federado de xadrezou de ténis de mesa, e a constituição deuma banda ou orquestra. «Este é o maisrecente sonho da minha mãe, depois da

actuação conjunta do Coro Misto com aOrquestra Tuna de Santa Cecília, de S.Bernardo», uma iniciativa que pretenderepetir em Ouca, «talvez na Páscoa».«Quando olhamos para a freguesia,verificamos que há muitas pessoas comvocação para a música, mas está tudofora de Ouca - como costuma dizer aminha mãe – porque aqui não existem asestruturas necessárias; o que não significaque não estejam a fazer um bom trabalho,antes pelo contrário». A única razão queos vai impedindo de concretizar estesonho é a falta de meios, «não sófinanceiros, mas sobretudo humanos».«Somos sempre as mesmas pessoas atrabalhar e este novo núcleo iria obrigar-nos a ter outra estrutura, porqueteríamos que dar início à formaçãomusical», adianta. No entanto elogia oselementos que são comuns em diversasvalências e que, por isso, se «deslocamtrês ou quatro vezes por semana para osensaios».

A ARCO em númerosCoro Misto – 30 elementosRancho Folclórico – 30 elementos(com músicos)Rancho Infantil – 18 elementos(com mesmos músicos do Rancho)Tambores da Venezuela – 20elementosFanfarra – 52 elementos

Foto: Edgar Almeida

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O Ponto | 18/VIII

Outrora uma área coberta por silvas eescondida por cedros, o Parque da Fonte,em Ouca, veio dar uma vista mais “airosa”àquele espaço, constituindo-se num dosmais belos recantos locais, convidativo aalmoços e lanches entre amigos oufamiliares.«Quando eu fui eleita para a presidênciada Junta de Freguesia, uma das coisasque achei mais degradadas foi essa área,porque os cedros ali existentes estavammais altos que o muro do Jardim-de-Infância, parecia-me quase uma prisão.Além disso, o sítio estava tão escondidoque o pessoal ia com motorizadas fazerespécie de ralis para esse local», relembraFernanda Oliveira. Classificando-o de«assustador», a presidente de Juntaafirma que fora sua intenção, desde logo,“desfazer-se” das paredes e placas decimento que escondiam a água danascente. «Quando perguntei àseducadoras se estavam de acordo emarrancar os cedros, elas ficaram muitocontentes porque não entrava sol naescola e só entrava bicharada». Com estaresposta positiva, foi com a ajuda da

edilidade que se removeram os cedros ese deu início à construção do actualParque da Fonte.«Quando era miúda existia ali um rioonde, em mesas de madeira, lavávamosa roupa, que depois estendíamos a corarna relva existente nas encostasenvolventes; e com esta obra quisemostrazer um pouco desse passado para onovo visual», adianta. Deste modo, ostanques «degradados» foramsubstituídos por outros novos - «porqueainda há, pelo menos, duas pessoas quelavam nos tanques» -, retiraram-se asplacas de cimento para dar visibilidade«mas com segurança» e construiu-se achurrasqueira (coberta), o lago e osbalneários.No decorrer dos trabalhos, «descobrimosque a AENOR tinha adquirido algunsterrenos, uma vez que estava previstopara aquele espaço o traçado da A17».Foi a partir desse momento que se decidiu,numa parceria Junta/Câmara, darcontinuidade ao Parque da Fonte para olado oposto para além do parque demerendas, entretanto construído.

«Estamos a negociar alguns terrenos e jáadquirimos alguns, nomeadamente o quepossui a Azenha do Pedro – a Azenha doCedro já foi demolida há tempos –,enquanto que a autarquia está a negociarcom a AENOR os terrenos que haviaadquirido», explica Fernanda Oliveira. Noâmbito da 2ª fase do parque – vai atéaos terrenos do Lar de S. Martinho –,pretende-se requalificar a encosta comalguns socalcos, aproveitando as «águastão cristalinas e óptimas para o consumohumano» para ali localizar uma praiafluvial ou piscina. «Estamos ainda anegociar um terreno com o intuito dereconstruir os destroços existentes de ummoinho de jacto de água – até hoje só vium, no Norte, e que foi recuperado parafins turísticos» -, acrescenta, esperandoconseguir «avançar com esta obra atéfinal deste mandato».Este é um espaço muito procurado,sobretudo quando há bom tempo, paraconvívios diversos. Actualmente é a “casa”de um casal de patos bravos e, em breve,de mais patinhos que nascerão dos ovosjá colocados. GP

Parque da Fonteà espera da continuidade…

Ouca emnúmerosÁrea: 20 km2População: 1990 habitantes (de acordocom sensos de 2001)Recenseamento: 1.656 eleitoresLocalidades: Ouca, Carregosa, Rio Tintoe Tabuaço

Festividades religiosas:- Festas em honra de Santa MariaMadalena – Rio Tinto (meados de Julho)- Festas em honra do Senhor dos Aflitos(1º domingo de Agosto)- Festas em honra de Nossa Senhora daSaúde – Carregosa (1º domingo após 15de Agosto)- Festas em honra de Nossa senhora dasVirtudes e S. Sebastião – Ouca (segundodomingo de Agosto)- Festas em honra de S. Gregório –Carregosa (Setembro)- Festas em honra de S. Martinho – Ouca(Novembro)- Devoção a S. Tomé e Nossa Senhora deBelém e da Guia – Ouca- Procissão Mártir S. Sebastião (20 Janeiro)

Curiosidade:A freguesia foi a terra natal de dozepadres que se formaram entre 1710 e 1876

Locais de interesse público:- Igreja Matriz- Capelas de Nossa Senhora da Guia eNossa senhora de Belém (Ouca)- Lar de S. Martinho- Quinta do Barroco (Tabuaço)- Quinta da Fonte- Estufas de Flores (Quinta da Agra)

Associações culturais e desportivas:- Associação Cultural e Desportiva deOuca (desactivada)- ARCO – Ass. Recreativa e Cultural Ouca- Atletismo Futebol Clube da Carregosa- Alma Mística - Associação Cultural,Desportiva e Recreativa (Rio Tinto)- Motor Trilhos do Tabuaço

Ensino público:- EB1 de Ouca- Jardim-de-infância de Ouca

Actividade económica:- Agricultura- Algum comércio tradicional

Emigração:- 30% sobretudo em França e Venezuela,mas também na Suíça, Canadá e Angola

Breve apontamentosobre a História deOucaA origem do topónimo parece ser o étimolatino aqua que quer dizer água. Naevolução Aqua- Auca- Ouca, verifica-seuma metátese. A origem aquática condizcom a referência a Ouca em mapas do séc.XVI como importante porto de mar.As ligações de Ouca com o Mosteiro deJesus de Aveiro são bem conhecidas eestão bem documentadas. Ainda hoje sãovisíveis em Ouca muros de alvenaria bemantiga na zona que foi da quinta de DonaBrites Leitão. Com efeito o nobre Diogode Ataíde e sua mulher D. Brites Leitãopara aqui se deslocaram após a aquisiçãoda quinta de Ouca. Aconteceu isto emmeados do séc. XV, em consequência dabatalha de Alfarrobeira, em que perdeu avida o infante D. Pedro, em luta com seusobrinho D. Afonso V. D. Diogo pertenciaà casa do infante D.Pedro. A quinta deOuca foi o embrião donde partiu afundadora do mosteiro de Jesus de Aveiro,tendo depois funcionado como baserecuada de apoio económico efornecimento de géneros agrícolas. Foitambém D. Brites quem, cumprindovontade testamentária de seu marido,fundou um hospital ou albergue, que maistarde daria o nome ao lactual lugar deAlbergue.Os lavradores de Ouca e outras terrasonde o convento detinha propriedadespagavam foros das terras, vinhas,pomares e azenhas, recebendo ainda oconvento direiros de portagem sobreprodutos vindos de fora para venda,como sal, telha, sardinha ou mexilhão.O topónimo advem portanto daproximidade do rio Boco. Ainda no séc.XVIII era navegável o braço de mar desdeSosa até São Romão.Para se ter uma ideia comparada dapopulação de Ouca no passado, vamosreferir os dados do numeramento de 1527.Sabemos que Vagos tinha nessa altura100 vizinhos, Sosa 49, São Romão e Ouca19 cada, Covão do Lobo 18, Lavandeira,Boco e Fareja 5 cada, Mesas, Fontão eCarregosa 4 cada, Salgueiro 3 e Sorães 2.Curiosamente, os lugares actualmenteconstituintes da freguesia tiveramdiferentes ligações no passado: enquantoOuca se ligava a Sosa, Rio Tinto e Tabuaçoandaram durante muito tempo ligadosao antigo município de Sorães.Por outro lado há a informação de que aprodução de sal foi substituída pela dearroz, em época não precisa, mas que emmeados do séc. XIX era bem visível noscampos de Ouca. O descasque do arrozera feita nas inúmeras azenhas queficavam na encosta, bem próximas dasmarinhas. Calcula-se que entre 1750 e 1800se extinguiu a extracção de sal nasmargens do Boco, tendo servido asmarinhas depois disso para o referidocultivo de arroz. Pinho Leal refere o cultivointenso de arroz em Sosa.Paulo Frade