ou oficializado? Como pensar em umdevem ser dispostos muito perto um dos outros, de modo que o...
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Conversas com Objetos fez parte
do Episódios do Sul, um projeto
organizado pelo Goethe-Institut
São Paulo no âmbito da região
América do Sul. Episódios do Sul
teve como principal objetivo trazer
outros pontos de vista sobre a
arte, a ciência e a cultura além da
perspectiva europeia.
Neste contexto, a ideia de
questionar um ponto de vista
hegemônico e enciclopédico sobre
a história da arte mostrou-se
imprescindível: como fazer
submergir novas narrativas?
Como trazer o confronto material
entre indivíduo e objeto para outras
esferas além do discurso dominante
ou oficializado? Como pensar em um
formato que o público tomasse parte
nesta narrativa coletiva?
Assim, sob a organização da
professora Claudia Valadão de
Mattos Avolese (Unicamp) e da
equipe do Goethe-Institut São
Paulo, foi elaborado o conceito
do Conversas com Objetos, que
privilegia o confronto direto, sem
intermediação, de objetos que se
encontram na linha de tensão entre
o que conhecemos como “história da
arte” e etnologia e arqueologia.
Entre 2015 e 2017 foram
realizadas oito edições do evento,
protagonizadas pelos seguintes
objetos:
Escultura Lobi, Burkina-Faso
ou Costa do Marfim
(coleção de peças africanas do acervo
de Rogério Cerqueira Leite)
Goethe-Institut São Paulo
São Paulo, junho 2015
Fole Punu, Gabão
(coleção de peças africanas do acervo
de Rogério Cerqueira Leite)
Parque Lage
Rio de Janeiro, agosto 2015
Grande urna marajoara
(coleção Betty Meggers, acervo
do Museu Paraense Emilio Goeldi)
Museu Emilio Goeldi
Belém, junho 2016
Maternidade, de Agnaldo Manoel
dos Santos
(coleção Emanoel Araujo)
Museu AfroBrasil
São Paulo, outubro 2016
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Após a realização desses eventos,
houve uma demanda pela produção
de outras edições independentes,
por parte de museus, centros
culturais e outras organizações.
Daí a ideia de elaborarmos este
manual de orientação para a
montagem de Conversas com
Objetos. Este manual é elaborado
em Creative-Commons CC-BY SA,
o que significa que as informações
contidas aqui podem ser adaptadas,
remixadas, utilizadas livremente,
desde que o autor seja sempre
citado (bem como as alterações
feitas) e que os novos materiais
derivados desta publicação sejam
licenciados sob o mesmo Creative
Commons.
Desejamos boas conversas,
com humanos e objetos.
Figuras Valdivia, Equador
(coleção do Museo de Arte Precolombino
Casa del Alabado)
Teatro Prometeo
Quito, maio 2017)
Fetiche, Congo
(coleção de Kunstsammlung Dresden)
Museu Kunstsammlung Dresden
Dresden, setembro 2017
Roheisen, Alemanha
(Ruhr Museum)
Zodiak Becken, Alemanha
(Museum Folkwang)
Island Paddle Mirrors,
de Raphael Ferrer
(Lehmbruck-Museum)
Pact Zollverein
Essen, setembro 2017
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“Maternidade”
Ayrson Heráclito
conversa com peça do
artista baiano Agnaldo
no Museu Afro Brasil,
outubro de 2016.
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A narrativa global na história da
arte continua sendo constituída pelo
discurso hegemônico do ocidente e
excluindo uma parte considerável
da produção artística em várias
partes do mundo – principalmente
a realizada no hemisfério sul. Isto
acontece sob dois aspectos distintos.
Por um lado, por meio da definição
do que é e o que não é arte, e por
outro, quando critérios de avaliação
e análise considerados universais
são empregados onde eles não
se encaixem. Esta perspectiva
unilateral ou percepção limitada
conduz a uma ignorância frente
a outras formas de observação.
O projeto Conversas com Objetos
procura justamente tornar sensível
o fato de que descrever, avaliar,
categorizar ou criticar objetos de
arte necessita de pontos de vista
plurais e de instrumentos e critérios.
Trata-se de ampliar e multiplicar
formas de observação. Trata-se
de questionar os métodos da
história e da crítica da arte em suas
pretensões universais, responsáveis
muitas vezes por empurrar os do
“sul” ao campo da dúvida.
contexto
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A ideia do projeto está implícita no
próprio título. No centro do evento
está, portanto, um objeto escolhido,
mas que de partida é desconhecido
pelo público e “especialistas”.
Ninguém sabe de que objeto se trata
até a abertura do evento.
A partir do encontro de objeto e
público desenrola-se uma conversa
— que, pela falta de parâmetros
pré-definidos, dados museológicos
e informações biográficas sobre
eventuais “artistas”criadores —
questiona o entendimento clássico
da história da arte e cria também
novas narrativas e aproximações.
“subjetivas” ao objeto.
Neste sentido, os objetos escolhidos
para protagonizarem as sete
edições realizadas de Conversas
com Objetos dentro do Episódios
do Sul eram de origem indígena/
arqueológica ou, em sua maioria,
da chamada “cultura popular”. Para
abrir as conversas, são convidadas
pessoas de diferentes áreas do
saber que se interessam por arte e
cultura, e não (apenas) especialistas
em história da arte.
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Elas devem entrar em diálogo com
o objeto, deixá-lo falar a e por si e
por meio deste processo torná-lo
elemento da discussão.
Um evento como este auxilia a
entrosar teoria e prática com mais
veemência, trazendo a conversa
com o objeto para uma situação
performática. Em boa parte,
trata-se também de uma intenção
de descontrução da história da arte
como a versão definitiva da relação
entre humanos e objetos que fazem
parte de sua história estética.
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A capacidade discursiva e de
atuação social de objetos tomam
cada vez com mais força o cerne
das humanidades. Os antropólogos
Alfred Gell e Bruno Latour, cada
um a seu modo, ressaltaram o
papel ativo que as coisas exercem
na sua interação com pessoas e
outras formas de vida, tornando-as
parte integrante da rede de relações
sociais.
O confronto com a materialidade
do objeto cria uma situação inicial
propícia para o questionamento
de práticas discursivas correntes,
sobretudo na área da história da
arte, e para o exame minucioso das
relações que estabelecemos com as
coisas. Neste contexto, a polaridade
sujeito-objeto deve ser repensada.
Ao longo do evento, especialistas
de áreas distintas e interessados
em cultura material são convidados
a “conversar” com um objeto que
se encontra entre os participantes.
Sobretudo deve-se neste processo
ceder espaço a um outro olhar —
que não apenas o europeu — sobre a
história da arte.
Como é possível pensar em estruturas que
possibilitem não somente a produção, mas
também o intercâmbio de saber? Como se
permite que um intercâmbio real se efetue,
levando necessariamente em consideração
tradições e percepções culturais diversas?
Tais perguntas atravessam todo o processo
de produção da conferência e elas devem ser
consideradas em cada uma de suas etapas.
pressupostosteóricos
como a forma permite se moldar coerentemente ao conteúdo?
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A escolha dos objetos ocorre, por via de regra, pelo curador ou
pela curadora. Ela é determinada através do questionamento,
sobre como, por meio do objeto escolhido, pode-se iniciar
um discurso que rompa com a percepção hegemônica e que
possa evocar outras formas de observação – tanto enquanto
experiências estéticas, como também enquanto debate
cognitivo do respectivo contexto dos especialistas. Neste
ponto, é significativo saber, quais especialidades possuem
os participantes. Nas 7 edições já realizadas das Conversas
com Objetos foram escolhidos objetos que ou tiveram uma
relação com a cultura local ou que, em um primeiro olhar,
não pertencem à história da arte hegemônica. A escolha dos
objetos é central para a dinâmica da conversa. Para assegurar
que tanto o público quanto os “especialistas” tenham acesso
ao mesmo nível de informação, o objeto é apresentado
modus operandi do evento: sobre a escolha dos objetos
somente na abertura do evento.
Com isto é assegurado que todos
os debatedores – especialistas e
público – partilhem do mesmo ponto
de partida e que o intercâmbio
ocorra de igual pra igual. Desta
forma, como é inteiramente
desejado, aumenta-se a medida de
envolvimento subjetivo. E o efeito
surpresa também é considerável.
Fole Punu
em edição do
evento no prédio
histórico do
Parque Lage, no
Rio de Janeiro.
Mãe ou pai?
sem saber dados da
obra, o sexo da
escultura foi um dos
temas da conversa
no Museu Afro Brasil.
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“especialistas”
público
objeto nocentro da sala
corredor livrecorredor livre
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corr
edor
liv
reco
rred
or li
vre
-
modus operandi do evento: montagem da sala
O formato corresponde ao clássico
Fishbowl.
Forma-se um círculo com 5-7
assentos para a moderação e para
os “especialistas”. No centro é
disposto o objeto – de tal modo
que mesmo fora do centro interior
ele continue sendo visível. Um
assento no centro do círculo deve
permanecer desocupado. Ele é
reservado às contribuições vindas
do público. O público senta-se nas
fileiras logo atrás do círculo interno.
A experiência demonstrou que o
formato funciona melhor quando o
número de participantes fica entre
30 e 100 pessoas.
O posicionamento do objeto no
centro, visível para todos, é tão
importante quanto a possibilidade
de observá-lo de todos os ângulos.
No caso de objetos especialmente
valiosos, pode-se providenciar
uma interdição ou uma proteção
de vidro, mesmo quando seja mais
interessante para a dinâmica que o
objeto esteja desobstruído.
Quando possível, o objeto deve ser
gradativamente rotacionado durante
a discussão para que todos possam
ver quais detalhes estão sendo
mencionados ou discutidos.
Como o formato Fishbowl prevê
que todos os que queiram contribuir
devam tomar lugar no assento
central, os outros assentos não
devem ser dispostos muito perto um
dos outros, de modo que o acesso
ao círculo interno possa ocorrer
facilmente e sem dificuldade.
Outra opção é ajudar o público a
visualizar a peça com a filmagem
e projeção das imagens em
uma tela. Mesmo no caso de um
número reduzido de participantes,
faz sentido trabalhar com um
microfone, já que muitas vezes é
difícil entender uma pessoa, caso
sente-se atrás dela. O ideal é que
todos os especialistas, incluindo
a moderação e o assento livre no
centro disponham de um microfone.
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É importante que antes do início
do evento todos os participantes
tenham a possibilidade de olhar
o objeto atentamente e explorar
todos os seus lados, ângulos e
dimensionalidades.
Quando todos tenham tomado seus
lugares, o/a moderador(a) esclarece
o andamento da dinâmica: cada
especialista tem 5 minutos para
falar sobre ou com o objeto. Para o
perfeito desenrolar do processo, faz
sentido convidar não menos que 3 e
não mais que 5 especialistas.
Depois que o/a último(a) especialista
tenha se manifestado(a), o público é
integrado na discussão por meio do
estímulo a tomar o assento vazio no
centro e falar sobre suas próprias
impressões.
O formato Fishbowl funciona, via
de regra, por si mesmo, sem que,
para o caso de direcionamento
da discussão, seja necessária uma
moderação. É, no entanto, essencial
esclarecer o formato e suas regras
ao início para que o público, por um
lado, participe e, por outro, não seja
dominante demais. Uma regra, por
exemplo, refere-se ao tomar posição
de pé atrás do assento ao público,
quando ele estiver ocupado, para
expressar assim que você gostaria
de ser o próximo a falar. Esta regra
também pode ajudar no caso de
debatedores que se alongam demais
na fala.
Devido a perspectivas diversas,
frequentes e criativas, as discussões
são vivas e divertidas. Em algumas
edições, pediu-se por fim que
o/a “verdadeiro especialista” (o/a
curador/a do museu ou acervo de
onde a peça foi emprestada, por
exemplo) apresentasse o objeto
assim como informe a sua origem.
Outra opção pode ser divulgar em
uma tela de projeção ou panfleto
com dados sobre a peça após a
conversa. É importante, no entanto,
que esse momento seja apenas
informativo e não uma “aula”sobre o
objeto, que confronte o conteúdo da
conversa com “fatos” sobre o objeto.
modus operandi do evento: dinâmica em andamento
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Infraestrutura
• 50 – 120 cadeiras de acordo com o
número do público e o tamanho do
espaço.
• Possibilidade de exposição para ao
objeto escolhido.
• Seguro (transporte) para o objeto
de arte escolhido (sobretudo no caso
em que o evento seja realizado fora
do museu).
Equipamento de som
• 1 mesa de som MG16
• 2 – 7 microfones sem fio
• Pelo menos 2 auto-falantes
Gravações em vídeo das Conversas
com Objetos já realizadas
1 —— Parque Lage
(Rio de Janeiro, Brasil)
goo.gl/5Qqyt6
2 —— Casa das 11 Janelas
(Belém, Brasil)
goo.gl/GAcii3
3 —— Museu Afro Brasil
(São Paulo, Brasil)
goo.gl/tcoMSV
modus operandi do evento: estrutura técnica
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Fole punu é
deslocado para
dentro da bacia de
metal do artista
Ricardo Basbaum
pelo curador Pablo
Lafuente.
Escultura Lobi
foi o primeiro
objeto a participar
das converas.
Na foto, com a
curadora Gabi
Ngobo.
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MATTOS, Claudia. Whiter art history:
geography, art theory and new
perspectives for an inclusive art
history.
Leia mais:
bit.ly/2J9uKNy
MATTOS, Claudia. An archive written
in clay: Emilio Goeldi between
Archaeology, Art and Politics.
Leia mais:
goo.gl/6bvigK
PASZTORY, Esther. Thinking with
Things. Towards a New Vision of Art,
Austin: University of Texas Press,
2005.
JOYCE, Rosemary; GILLESPIE, Susan
(org.) Things in Motion. Objects
Itineraries and Anthropological
Practice. New Mexico: School of
Advanced Research Press, 2015.
para saber mais
-
Direção
Katharina von Ruckteschell-Katte
Diretoria de Programação Cultural
Martin Bach
Programação Cultural
Karina Legrand
Luiz Rangel
Tatjana Lorenz
Coordenação do Projeto
“Episódios do Sul”
Lorena Vicini
Curadoria do Projeto
Conversas com Objetos
Claudia Mattos Avolese
Comunicação
Simone Malina
Gabriel Borges
publicação
Concepção e Edição
Lorena Vicini
Projeto Gráfico e Diagramação
Bianca Baderna
Agradecimentos especiais pelos
comentários à Isabel Hölzl
(Goethe-Institut Helsinki)
créditos
-
Goethe-Institut São Paulo
Rua Lisboa, 974
05431-001 São Paulo - SP
Tel (55 11) 3296.7000
www.goethe.de/saopaulo