OSTRACODES DA FORMAÇÃO SANTANA (CRETÁCEO INFERIOR, … · 2017. 11. 22. · Sara Lais Rahal...

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Universidade de Brasília UnB Instituto de Geociências IG Programa de Pós-Graduação em Geologia OSTRACODES DA FORMAÇÃO SANTANA (CRETÁCEO INFERIOR, APTIANO SUPERIOR), BACIA DO ARARIPE, NE-BRASIL: TAXONOMIA, DISTRIBUIÇÃO ESTRATIGRÁFICA E PALEOECOLOGIA LUCAS SILVEIRA ANTONIETTO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº. 266 Orientador: Prof. Dr. Dermeval Aparecido do Carmo (IGD UnB) Examinadores: Prof. Dr. Maria Inês Feijó Ramos Membro Titular Externo Prof. Dr. Mario Luis Assine Membro Suplente Externo Profa. Dra. Edi Mendes Guimarães Membro Titular Interno Prof. Dr. Ricardo Lourenço Pinto Membro Suplente Interno Brasília, DF 05 de fevereiro de 2010.

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  • Universidade de Brasília – UnB

    Instituto de Geociências – IG

    Programa de Pós-Graduação em Geologia

    OSTRACODES DA FORMAÇÃO SANTANA (CRETÁCEO INFERIOR,

    APTIANO SUPERIOR), BACIA DO ARARIPE, NE-BRASIL:

    TAXONOMIA, DISTRIBUIÇÃO ESTRATIGRÁFICA E

    PALEOECOLOGIA

    LUCAS SILVEIRA ANTONIETTO

    DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Nº. 266

    Orientador:

    Prof. Dr. Dermeval Aparecido do Carmo (IGD – UnB)

    Examinadores:

    Prof. Dr. Maria Inês Feijó Ramos – Membro Titular Externo

    Prof. Dr. Mario Luis Assine – Membro Suplente Externo

    Profa. Dra. Edi Mendes Guimarães – Membro Titular Interno

    Prof. Dr. Ricardo Lourenço Pinto – Membro Suplente Interno

    Brasília, DF

    05 de fevereiro de 2010.

  • II

    Ao meu pai, Aldo Antonietto Júnior, geólogo.

    Uma de suas metas profissionais era a Pós-Graduação,

    da qual ele precisou abrir mão em nome da família.

    Agora, pai, essa é pra você.

  • III

    AGRADECIMENTOS

    À minha pequena família, Edriana e Léo, por todo o apoio e, principalmente,

    compreensão. Vocês serão parte da minha vida para sempre; não importa o que aconteça;

    onde quer que estejamos, estaremos sempre ligados.

    À minha grande família: pais, Aldo e Tereza, e irmãs, Laís e Ana Tereza, por todos os

    anos de convivência. Aos meus queridos avós, Aldo e Cida, Filinha e Tito (nomes para mim

    mais importantes do que os de batismo), meus padrinhos, Márcia e Zé Augusto, meu afilhado,

    Matheus, e todos os tios, primos e sobrinhos que participam positivamente desta caminhada.

    Ao Prof. Dr. Dermeval Aparecido do Carmo, pela oportunidade única de cursar

    Mestrado em Paleontologia no Instituto de Geociências da UnB. A conclusão deste trabalho

    obviamente não seria possível sem toda a estrutura e cooperação oferecidas. Ao Prof. Dr.

    Carlos José Souza Alvarenga, por me receber como aluno de Mestrado em um primeiro

    momento.

    À Dra. Silvia Regina Gobbo (minha “co-orientadora não oficial”), por todo apoio na

    reta final do trabalho e seus desdobramentos. Ao Prof. Dr. Mario Luis Assine, pelos esforços

    na resolução das questões litoestratigráficas deste trabalho.

    Ao Prof. Dr. Detlef Hans-Gert Walde e Profa. Dra. Sonia Nair Bao, pelas cartas de

    recomendação. Espero, com este trabalho, ter sido digno da confiança depositada em mim por

    vocês quando, lá no começo, me recomendaram para este programa de pós-graduação.

    Ao Instituto de Geociências da UnB e seus professores, Dra. Caroline Thaís Martinho,

    Dr. Geraldo Resende Boaventura, Dr. João Carlos Coimbra, Dr. Marco Ianniruberto, Dr.

    Patrick Seyler, Dr. Reinhardt Adolfo Fuck, Dra. Sara Cristina Ballent e Dr. Francisco

    Henrique de Oliveira Lima, pelas disciplinas cursadas nestes últimos dois anos. Aos

    secretários e demais funcionários, pelo suporte nas atividades diárias.

    Aos colegas paleontólogos do CENPES-Petrobras, Dr. Oscar Stroschoen Júnior, Dr.

    João Villar de Queiroz Neto e a geóloga Jeanine de Lacerda Grillo, pelo auxilio durante as

    minhas viagens à cidade do Rio de Janeiro para tiragem de fotomicrografias. Ao técnico

    Rogério da Silva Martins da Costa, pelas excepcionais fotos tiradas em microscópio

    eletrônico de varredura para este trabalho. À Dra. Sara Lais Rahal Lenharo, da Polícia Federal

    do Distrito Federal, por parte das fotomicrografias aqui utilizadas.

    Às funcionárias Joana e Nilma, do Instituto de Biologia da UnB, pelo auxilio e apoio

    durante a aquisição da licença que me permitiu realizar este trabalho. Pelo mesmo motivo, ao

  • IV

    Setor de Recursos Humanos da UnB.

    Aos companheiros de laboratório, Dr. Ricardo Lourenço Pinto, Dr. Cláudio Magalhães

    de Almeida, M.Sc. Henrique Zimmerman Tomassi e M.Sc. Simone Carolina Sousa e Silva,

    pelas discussões enriquecedoras, e por aquelas nem tanto, igualmente. À bolsista de iniciação

    científica Maria Alice Morgado Castanheira Cordeiro Fernandes, pelo apoio fundamental

    neste projeto e seus derivados. Aos ex-companheiros de laboratório Fábio Makino, Tito Neto

    e Zé Eduardo, pela amizade permanente.

    Aos meus queridos amigos, aqueles com quem pude compartilhar os raros momentos

    de sossego dos últimos dois anos: Carol Foca, Carol Grande, Paçoca, Dedé, Natália, Áli,

    Patrícia Loraine, e por fim os meus eternos amigos (os primeiros que fiz em Brasília!)

    Rodrigo, Pedro e Lucas; caras, vocês são incríveis.

    Um agradecimento especial ao Prof. Dr. José Roberto Pujol-Luz, por me mostrar, de

    certa forma, outras opções de áreas de trabalho além da Zoologia.

    Finalmente, meus muito sinceros pedidos de desculpas a todos aqueles que por acaso

    não foram citados, embora ainda assim o mereçam. Saibam que, no meu coração, vocês e

    todos os aqui mencionados são referência bibliográfica.

  • V

    “Dê-me uma alavanca

    e um ponto de apoio onde colocá-la,

    e eu vou mover o mundo.”

    Arquimedes

  • VI

    RESUMO

    Treze espécies de ostracodes foram recuperadas em amostras de seções das

    perfurações IPS-11-CE e IPS-12-CE, membros Crato e Romualdo, Formação Santana:

    Harbinia alta, Harbinia crepata, Harbinia micropapillosa, Harbinia salitrensis, Harbinia

    symmetrica, Cetacella edrianae sp. nov., Talicypridea? sp.1, Talicypridea? sp.2, Paracypria

    sp.1, Ilyocypris sp.1, Darwinula?sp.1, Gen. 1 et sp.1 e Gen. 2 et sp.1. As espécies de

    ostracodes presentes nas associações e conjuntos permitem a correlação do Andar Alagoas na

    bacia do Araripe com diversas bacias da margem continental brasileira: Espírito Santo,

    Grajaú, Maranhão, Potiguar e Sergipe-Alagoas. Adicionalmente, é possível correlacionar este

    intervalo ao Aptiano superior das bacias do Gabão, Congo e Angola, na margem continental

    ocidental africana. As associações e conjuntos de espécimes, em geral, são límnicas,

    monoespecíficas e amplamente dominadas por espécies do gênero Harbinia, o que indica a

    presença de paleoambientes dominados por lagos salobros ou hipersalinos. Cetacella, gênero

    associado a ambientes carbonáticos, ocorre em uma amostra de calcário das camadas Ipubi.

    Ocorrências de Ilyocypris e Paracypria no Membro Romualdo evidenciam intervalos de

    condições de água doce a oligo-halina; adicionalmente, a ocorrência de Paracypria indica

    ambientes transicionais. De acordo com a análise das seções estudadas, bem como trabalhos

    anteriores, os sedimentos do Membro Crato, em especial as camadas Ipubi, e da base do

    Membro Romualdo foram depositados em ambientes transicionais compostos por lagos

    costeiros. Estes apresentavam salinidade variando entre hipersalina, para o Membro Crato, e

    água doce a salobra, para o Romualdo, com predominância de condições de baixa energia

    ambiental e episódios eventuais de alta energia.

    Palavras-chave: Cretáceo inferior, Andar Alagoas, taxonomia, distribuição estratigráfica,

    paleoecologia.

  • VII

    ABSTRACT

    Thirteen ostracod species were recovered from samples in sections of drillings IPS-11

    IPS-CE and IPS-12-CE, Crato and Romualdo members, Santana Formation: Harbinia alta,

    Harbinia crepata, Harbinia micropapillosa, Harbinia salitrensis, Harbinia symmetrica,

    Cetacella edrianae sp. nov., Talicypridea? sp.1, Talicypridea? sp.2, Paracypria sp.1,

    Ilyocypris sp.1, Darwinula? Sp.1, Gen. 1 et sp.1 and Gen. 2 et sp.1. The species associations

    and clusters allow correlation of the Alagoas Stage in the Araripe basin with several others in

    the Brazilian continental margin: Espírito Santo, Grajaú, Maranhão, Potiguar and Sergipe-

    Alagoas. Additionally, this interval can be correlated to the upper Aptian of the basins of

    Gabon, Congo and Angola, in the African western continental margin. Species associations

    and clusters are in general limnic, monospecific and largely dominated by species of

    Harbinia, an evidence of paleoenvironments dominated by brackish to hypersaline lakes.

    Cetacella, a genus associated to carbonate environments, occurs in one limestone sample of in

    the Ipubi layers. Occurrence of Ilyocypris and Paracypria in the Romualdo Member indicate

    freshwater to oligohaline intervals; additionally, the occurrence of Paracypria indicates

    transitional environments. According to the analysis of the studied sections, as well as

    previous works, sediments from the Crato Member, in particular the Ipubi layers, and the

    basal section of the Romualdo Member were deposited in transitional environments

    composed by coastal lakes. These lakes presented salinity levels ranging from hypersaline in

    the Crato Member to freshwater until brackish in the Romualdo Member, with prevalence of

    low-energy environmental conditions and eventual episodes of high energy.

    Keywords: Lower Cretaceous, Alagoas Stage, taxonomy, stratigraphic distribution,

    palaeoecology.

  • VIII

    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

    2. GEOLOGIA REGIONAL ............................................................................................... 1

    3. ANDAR ALAGOAS ......................................................................................................... 6

    3.1.Andar Alagoas na bacia do Araripe: formações Barbalha e Santana

    ............................................................................................................................................. 8

    4. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 11

    5. GEOLOGIA LOCAL ..................................................................................................... 14

    5.1. Perfuração IPS-11-CE ............................................................................................. 14

    5.2. Perfuração IPS-12-CE ............................................................................................. 16

    6. TAXONOMIA ................................................................................................................. 17

    7. DISTRIBUIÇÃO ESTRATIGRÁFICA ....................................................................... 40

    8. PALEOECOLOGIA E PALEOAMBIENTE .............................................................. 43

    8.1. Análise da estrutura populacional ................................................................................. 45

    8.2. Considerações Finais ...................................................................................................... 47

    9. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 49

    10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 49

  • IX

    Índice de figuras

    Figura 1. Localização da bacia do Araripe em relação a importantes bacias do nordeste do

    Brasil (modificado de Arai et al., 2006). .................................................................................... 2

    Figura 2. Mapa geológico da bacia do Araripe e de localização das perfurações IPS-11-CE e

    IPS-12-CE (modificado de Assine, 1990). ................................................................................. 3

    Figura 3. Carta estratigráfica da bacia do Araripe, Estado do Ceará, NE-Brasil (modificado

    de Coimbra et al., 2002; Assine, 2007; Do Carmo et al., 2008). ............................................... 5

    Figura 4. Paleocorrentes das sequências sedimentares da bacia do Araripe, NE-Brasil

    (modificado de Assine, 1994, 2007). ......................................................................................... 6

    Figura 5. História da litoestratigrafia da bacia do Araripe, NE-Brasil (modificado de Martill,

    2007). .......................................................................................................................................... 9

    Figura 6. Biozoneamento da Formação Santana (modificado de Assine, 2007 e Coimbra et

    al., 2002). ................................................................................................................................. 10

    Figura 7. Zonas Sergipea variverrucata Regali et al., 1974 emend. Regali, 1987b (P-270) e

    Harbinia spp.201-218 (O11) na bacia do Araripe e outras bacias do nordeste do Brasil

    (modificado de Do Carmo, 1998; Gobbo, 2006). .................................................................... 11

    Figura 8. Localização das perfurações IPS-11-CE e IPS-12-CE, bacia do Araripe, Brasil. ... 13

    Figura 9. Coluna estratigráfica e amostragem das perfurações IPS-11-CE e IPS-11-CE,

    Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. .................................................................... 15

    Figura 10. Dimensões e regiões da carapaça em Ostracoda (adaptado de Kesling, 1951). .... 18

    Figura 11. 1-9. Harbinia alta Do Carmo et al., 2010. 1-3. Adulto (CP-408), vistas laterais

    esquerda (VLE) e direita (VLD) e dorsal (VDo). 4. Estágio juvenil A-1 (CP-409), VLD. 5.

    Estágio juvenil A-2 (CP-410), VLD. 6. Estágio juvenil A-3 (CP-411), VLD. 7. Estágio juvenil

    A-4 (CP-412), VLD. 8. Estágio juvenil A-5 (CP-413), VLD. 9. Estágio juvenil A-6 (CP-414),

    VLD. 10-18. Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber, 1971) emend. Antonietto et al.,

    2010. 10-12. Adulto (CP-400), VLD, VLE e VDo. 13. Estágio juvenil A-1 (CP-401), VLD.

    14. Estágio juvenil A-2 (CP-421), VLD. 15. Estágio juvenil A-3 (CP-402), VLD. 16. Estágio

    juvenil A-4 (CP-403), VLD. 17. Estágio juvenil A-5 (CP-419), VLD.18. Estágio juvenil A-6

    (CP-420), VLD. ........................................................................................................................ 22

    Figura 12. Estágios ontogenéticos de Harbinia alta Do Carmo et al., 2010, Membro

    Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. Obs.: Alguns dos exemplares

    medidos se encontram em Antonietto et al. (2010). ................................................................ 23

    Figura 13. 1-8. Harbinia symmetrica (Krömmelbein & Weber, 1971) emend. 1. Adulto (MP-

  • X

    O-1614), vista lateral direita (VLD). 2-4. Estágio juvenil A-1 (CP-383), vista lateral esquerda

    (VLE), VLD e vista dorsal (VDo). 5. Estágio juvenil A-1 (CP-384), vista interna esquerda

    (VIE). 6. Estágio juvenil A-2 (CP-385), VLD. 7. Estágio juvenil A-1 (CP-384), detalhe dos

    elementos da charneira: fossetas (Fs) e barra (Br). 8. Estágio juvenil A-1 (CP-383), detalhe

    das cicatrizes dos músculos adutor (CA) e dorsal (CDo). 9. Harbinia crepata Do Carmo et al.,

    2010. Estágio juvenil A-1 (CP-390), VLE. 10. Harbinia micropapillosa (Bate, 1972) emend.

    Do Carmo et al., 2008. Estágio juvenil A-2 (CP-389), VLE. 11-13. Cetacella edrianae sp.

    nov. 11 Adulto (CP-405), VLD. 12-13. Adulto (CP-404), VLE e VDo. 14-16. Talicypridea?

    sp.1 (CP-407), VLD, VLE e VDo. ........................................................................................... 26

    Figura 14. Estágios ontogenéticos de Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber, 1971)

    emend. Antonietto et al., 2010, Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-

    Brasil. ....................................................................................................................................... 28

    Figura 15. 1-2. Talicypridea? sp.2 (CP-393), vistas laterais esquerda (VLE) e ventral. 3-5.

    Paracypria sp.1 (CP-392), vista lateral direita (VLD), VLE e vista dorsal (VDo). 6-7.

    Iliocypris sp.1 (CP-391), VLD e VDo. 8-12. Darwinula? sp.1. 8-10. Adulto (CP-415), VLD,

    VLE e VDo. 11. Juvenil A-2 (CP-416), VLD. 12. Juvenil A-3 (CP-417), VLD. 13-15. Gen et

    sp. indet. 1.(CP-406), VLD, VLE e VDo. 16-17. Gen et sp. indet. 2 (CP-418), VLE e vista

    interna esquerda (VIE). ............................................................................................................ 35

    Figura 16. Distribuição estratigráfica e abundância das espécies de ostracodes na perfuração

    IPS-11-CE, Membros Crato, em especial as camadas Ipubi, e Romualdo, bacia do Araripe,

    Brasil. ....................................................................................................................................... 41

    Figura 17. Distribuição estratigráfica e abundância das espécies de ostracodes na perfuração

    IPS-12-CE, Membro Romualdo, bacia do Araripe, Brasil. ...................................................... 42

    Figura 18. Intervalos de salinidade e diversidade específica (adaptado de Hudson, 1990). ... 44

    Figura 19. Estrutura populacional com base em estágios ontogenéticos e possíveis

    interpretações paleoambientais (adaptado de Whatley 1983, 1988). ....................................... 45

    Figura 20. Estrutura populacional por estágio ontogenético em amostras dos Membros Crato

    e Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. ............................................... 46

    Figura 21. Ocorrências autóctones e alóctones e níveis de energia do meio em amostras da

    perfuração IPS-11-CE, bacia do Araripe, Brasil (obs: amostras do Membro Romualdo na

    perfuração são estéreis). ........................................................................................................... 47

    Figura 22. Ocorrências autóctones e alóctones e níveis de energia do meio em amostras da

    perfuração IPS-12-CE, bacia do Araripe, Brasil. ..................................................................... 48

  • XI

    Índice de Tabelas

    Tabela I. Amostras da perfuração IPS-11-CE, Membros Crato e Romualdo, Formação

    Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. ..................................................................................... 12

    Tabela II. Amostras da perfuração IPS-12-CE, Membro Romualdo, Formação Santana, bacia

    do Araripe, NE-Brasil. ............................................................................................................. 12

    Tabela III. Material ilustrado de Harbinia alta Do Carmo et al., 2010, Membro Crato,

    Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. .................................................................... 20

    Tabela IV. Material ilustrado de Harbinia crepata Do Carmo et al., 2010, Membro

    Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. .................................................. 22

    Tabela V. Material ilustrado de Harbinia micropapillosa (Bate, 1972) emend. Do Carmo et

    al., 2008, Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. ................... 24

    Tabela VI. Material ilustrado de Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber, 1971) emend.

    Antonietto et al., 2010, Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil.

    .................................................................................................................................................. 26

    Tabela VII. Material ilustrado de Harbinia symmetrica (Krömmelbein & Weber), 1971,

    Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. ................................... 29

    Tabela VIII. Material ilustrado de Cetacella edrianae sp. nov, Membro Crato, Formação

    Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. ..................................................................................... 31

    Tabela IX. Material ilustrado de Talicypridea? sp.1, Membro Crato, Formação Santana, bacia

    do Araripe, NE-Brasil. ............................................................................................................. 32

    Tabela X. Material ilustrado de Talicypridea? sp.2, Membro Romualdo, Formação Santana,

    bacia do Araripe, NE-Brasil. .................................................................................................... 33

    Tabela XI. Material ilustrado de Paracypria sp.1, Membro Romualdo, Formação Santana,

    bacia do Araripe, NE-Brasil. .................................................................................................... 35

    Tabela XII. Material ilustrado de Ilyocypris sp.1, Membro Romualdo, Formação Santana,

    bacia do Araripe, NE-Brasil. .................................................................................................... 36

    Tabela XIII. Material ilustrado de Darwinula? sp.1, Membro Crato, Formação Santana, bacia

    do Araripe, NE-Brasil. ............................................................................................................. 38

    Tabela XIV. Material ilustrado de Gen et sp. indet. 1, Membro Crato, Formação Santana,

    bacia do Araripe, NE-Brasil. .................................................................................................... 39

    Tabela XV. Material ilustrado de Gen et sp. indet. 2, Membro Romualdo, Formação Santana,

    bacia do Araripe, NE-Brasil. .................................................................................................... 39

    Tabela XVI. Distribuição de espécies do gênero Harbinia em bacias e estratos do Atlântico

    Sul. ............................................................................................................................................ 43

  • 1

    1. INTRODUÇÃO

    A presente dissertação trata da taxonomia, paleoecologia e distribuição estratigráfica

    de espécies de ostracodes dos membros Crato, especialmente as camadas Ipubi, e Romualdo,

    Formação Santana, Andar Alagoas, bacia do Araripe (Aptiano-Albiano?), Brasil. As amostras

    provem de duas perfurações do “Projeto Santana II”, do Serviço Geológico do Brasil –

    CPRM, denominadas IPS-11-CE e IPS-12-CE. As sondagens foram feitas, respectivamente,

    nos municípios do Crato e de Jardim, no Estado do Ceará, Brasil.

    A Formação Santana é reconhecida pelo registro fóssil abundante e variado, que inclui

    fragmentos vegetais, vertebrados e artrópodes, em especial ostracodes. No que se refere ao

    estudo de ostracodes, os primeiros trabalhos remetem à década de 1970, enfocados

    principalmente em morfologia e taxonomia (Krömmelbein & Weber, 1971; Bate, 1971, 1972,

    1973; Silva, 1978a,b,c). Nos anos 80 e 90, as pesquisas passaram a abordar outros aspectos,

    como distribuição populacional, bioestratigrafia e correlações com outras bacias (Arai &

    Coimbra, 1990; Bérthou et al., 1990; Silva Telles Jr. & Viana, 1990; Bérthou et al., 1994;

    Colin & Depèche, 1997).

    Do final dos anos 90 em diante, percebe-se um direcionamento para o estudo da

    morfologia de apêndices e descrição de ovos (Smith, 1999, 2000). No Século XXI, destacam-

    se o trabalho de revisão da bioestratigrafia baseada em ostracodes (Coimbra et al., 2002); os

    estudos paleoambientais dos membros Crato e Romualdo (Gobbo, 2006); a retomada dos

    estudos de revisão da taxonomia (Do Carmo et al., 2004), e suas conseqüências para o

    biozoneamento da bacia (Do Carmo et al., 2008). O retorno dos trabalhos a essas áreas tem

    sido importante para complementar lacunas deixadas por estudos anteriores, direcionados para

    aspectos essencialmente aplicados. Assim sendo, o presente trabalho vem contribuir para uma

    compreensão ampliada a respeito da fauna de ostracodes da Formação Santana, bem como o

    refinamento da bioestratigrafia e a datação relativa do Andar Alagoas na bacia do Araripe.

    2. GEOLOGIA REGIONAL

    A bacia do Araripe está localizada na região Nordeste do Brasil, sobre a província

    estrutural Borborema, também conhecida como Região de Dobramentos do Nordeste

    (7°02'°49' S e 38°30'–40°55' W) (Assine, 1992; Coimbra et al., 2002) (Fig. 1). Possui

    aproximadamente 9.000 km2 de área, estendendo-se pelos estados do Ceará, Piauí,

    Pernambuco e Paraíba, por cerca de 180km no sentido E-W e 70km de N-S, em seu trecho

    mais largo (Ponte & Appi, 1990; Vidal et al., 2006). A bacia ocupa as áreas correspondentes à

  • 2

    chapada do Araripe, na porção oeste, e partes do vale do Cariri, a leste.

    A divisão geográfica regional da bacia permite identificar dois grupos sedimentares

    distintos: o vale do Cariri, dominado por sedimentos do Grupo Vale do Cariri (formações

    Cariri, Brejo Santo, Missão Velha e Abaiara); e a chapada do Araripe, onde afloram

    preferencialmente unidades do Grupo Araripe (formações Barbalha, Santana, Araripina e

    Exu); (Assine, 2007) (Fig. 2). A bacia do Araripe é cercada por uma série de afloramentos,

    denominados por diversos autores como sub-bacias (Silva et al., 2003), que testemunham

    uma maior extensão areal em períodos anteriores ao atual (Ponte, 1994). Estes mesmos

    afloramentos geralmente são encontrados em regiões de depressão derivadas do tectonismo

    distensivo regional (Valença et al., 2003).

    De modo geral, a história geológica da bacia do Araripe está ligada à fragmentação do

    Gondwana e à abertura do oceano Atlântico Sul (Castro & Castelo Branco, 1999; Kellner,

    2002). O surgimento da bacia remete ao paleozóico; a partir do Neojurássico, quatro estágios

    sucessivos de evolução tectônica são identificáveis: pré-rifte (bacia interior simples), rifte

    (bacia do tipo rifte intracontinental) e pós-rifte I e II (bacia interior simples novamente)

    (Ponte & Ponte Filho, 1996; Assine, 2007). Cada estágio está separado por discordâncias,

    indicando o caráter poli-histórico da bacia (Assine, 1994; Arai, 2006) (Fig. 3).

    Figura 1. Localização da bacia do Araripe em relação a importantes bacias do nordeste do Brasil (modificado de

    Arai et al., 2006).

  • 3

    Figura 2. Mapa geológico da bacia do Araripe e de localização das perfurações IPS-11-CE e IPS-12-CE (modificado de Assine, 1990).

  • 4

    A sequência inferior ou Paleozóica da bacia compreende os sedimentos da Formação

    Cariri, assim denominada por Beurlen (1962). A unidade é possivelmente Neo-

    ordoviciana/Siluriana e aflora a leste da bacia, no Vale do Cariri (Braun, 1966; Ghignone,

    1972; Assine, 1992, 2007; Ponte & Ponte Filho 1996). Esta formação é constituída por

    arenitos médios a muito grossos, com níveis conglomeráticos, especialmente na base. Estes

    depósitos são interpretados como de fácies de sistemas fluviais entrelaçados, com padrões de

    paleodrenagem fluindo para noroeste (Assine, 1994) (Fig. 4). Foi considerada afossilífera

    (Braun, 1966), à exceção de icnofósseis observados por Carvalho (2000), porém

    questionáveis segundo outros autores (Kellner, 2002).

    A sequência Jurássico-Aratu da bacia, ou J-20-J30, é representada pelas formações

    Brejo Santo e Missão Velha (Assine, 2007). A primeira é composta por folhelhos e lamitos

    com ostracodes e palinomorfos normalemente encontrados no Andar Dom João (Braun, 1966;

    Coimbra, 2002). A presença exclusiva de espécies límnicas indica sedimentação lacustre. A

    Formação Missão Velha, sobreposta, apresenta arenitos localmente conglomeráticos,

    abundantes em fragmentos vegetais silicificados. As fácies representam planícies fluviais de

    sistemas entrelaçados (Assine, 2007).

    O estágio rifte da bacia do Araripe, ou K10-K30, iniciado possivelmente no

    Berriasiano, é representado pela Formação Abaiara (Ponte Filho & Ponte, 1992; Ponte &

    Ponte Filho, 1996). A sequência é formada por folhelhos sílticos e siltitos, com intercalações

    arenosas e níveis conglomeráticos com fragmentos de madeira silicificada, e conglomerados

    observáveis apenas em subsuperfície (Assine, 2007). O registro fossilífero da formação varia

    de escasso e esparso, na parte inferior da unidade, a abundante, embora pouco diverso, mais

    acima (Coimbra et al., 2002). Associações faciológicas e conteúdo fossilífero indicam

    sedimentação em tratos deposicionais com alternância de lagos rasos e planícies fluviais de

    canais entrelaçados. Paleocorrentes medidas nos arenitos fluviais mostram fluxo constante

    para sul-sudoeste, em cenário paleogeográfico similar ao do Andar Dom João (Assine, 1994).

    A supersequência pós-rifte I, ou K40-K60, representa o Aptiano-Albiano? na bacia do

    Araripe. É constituída inicialmente por dois ciclos trangressivos-regressivos, representados

    por sistemas fluviolacustres: o primeiro, correspondendo ao intervalo entre a base da

    Formação Barbalha e as camadas Batateira; o segundo, caracterizado pelo topo da Formação

    Barbalha e parte do Membro Crato da Formação Santana. Acima, há dois intervalos

    deposicionais: transicional-evaporítico, representado pelas camadas Ipubi; e transicional-

    litorâneo, correspondente ao Membro Romualdo (Assine, 2007). Essa sequência é

    posteriormente detalhada na seção 3.1 do presente trabalho.

  • 5

    Figura 3. Carta estratigráfica da bacia do Araripe, Estado do Ceará, NE-Brasil (modificado de Coimbra et al., 2002; Assine, 2007; Do Carmo et al., 2008).

  • 6

    Figura 4. Paleocorrentes das sequências sedimentares da bacia do Araripe, NE-Brasil (modificado de Assine,

    1994, 2007).

    A sedimentação na bacia do Araripe se encerra entre o Mesoalbiano e o Cenomaniano,

    com a deposição das formações Araripina e Exu, também denominadas sequência K70-K80

    (Assine, 1990, 1992; Brito Neves, 1990). O padrão de paleocorrentes nas formações indica

    fluxo deposicional para oeste, uma mudança acentuada em relação ao padrão das sequências

    inferiores (Assine, 1994). A Formação Araripina, mais basal, é constituída por ritmitos de

    arenitos finos e lamitos, com brechas intraformacionais. O conjunto de fácies indica

    sedimentação em planícies distais de leques aluviais (Assine, 1992, 2007). Palinomorfos

    revelam predominância de angiospermas em clima quente e semi-árido, contrastando com o

    domínio de gymnospermas até então observado (Lima, 1979).

    A Formação Exu, correspondente ao topo da sequência sedimentar no Araripe,

    apresenta arenitos e conglomerados dispostos em granodecrescência ascendente, com

    eventuais intercalações pelíticas. A associação é interpretada como depósitos de planícies

    distais de leques aluviais e canais distributários, característicos de sistemas fluviais

    entrelaçados (Assine, 1992, 2007; Silva et al., 2003). Somente traços fósseis são conhecidos

    da formação, o que inviabiliza uma datação precisa; a idade é admitida como Cretáceo

    superior com base em correlações litoestratigráficas com bacias adjacentes (Assine, 2007).

    3. ANDAR ALAGOAS

    O Andar Alagoas corresponde à unidade cronoestratigráfica do Cretáceo Inferior no

  • 7

    Brasil sobreposta ao Andar Jiquiá e sotoposta ao Andar Albiano. O limite superior deste andar

    local foi posicionado na perfuração CPB-1R-SE, a 324m, e o inferior na perfuração MD-1-

    AL, a 1180m (Schaller, 1969). Embora considerado de idade Aptiana para as bacias marginais

    (Regali, 1989a,b; Regali & Viana, 1989; Araripe & Feijó, 1994; Beltrami et al., 1994; Feijó,

    1994; Viviers et al., 2000), no Araripe o andar se estende até o Eoalbiano (Regali & Viana,

    1989; Arai et al., 1989), possivelmente até o final do Albiano (Coimbra et al., 2002)

    O Andar Alagoas se encontra subdividido em dois pacotes distintos na margem

    continental do Brasil. O Alagoas inferior é caracterizado por sedimentação

    predominantemente continental, com incursões marinhas. O Alagoas superior corresponde à

    sedimentação transicional e marinha ocorrida durante o Neoaptiano. Nas porções mais distais,

    os sedimentos predominantemente carbonáticos foram depositados em ambiente marinho raso

    de um mar epicontinental (Valença et al., 2003; Dias, 2005). No final do Aptiano, um período

    de aridez resultou na deposição de espesso pacote evaporítico, conhecido como “evento

    Ibura” (Dias, op. cit.).

    As biozonas de ostracodes utilizadas para o reconhecimento do Andar Alagoas foram

    estabelecidas na bacia de Sergipe-Alagoas, sob a denominação O10/O11, e adotando como

    espécies-guia Cytheridea? spp.201-218. Fixou-se como seção de referência o intervalo de

    840-2200 m da perfuração PIA-2-AL, na área de Piaçabuçu (Schaller, 1969). A posterior

    formalização do código O11 para a biozona ocorreu a partir do estudo de ostracodes da bacia

    de Campos (Moura, (1987). Do Carmo et al. (2008), em trabalho de revisão taxonômica das

    espécies do andar, propuseram a alteração do nome da biozona para Harbinia spp.201-218.

    Gobbo (2006) propôs a divisão de O11 nas subzonas Candona sp. (base) e Harbinia sp.

    (topo).

    Com relação a palinomorfos, existe pouco consenso quanto às biozonas que definem o

    andar, e vários tópicos são passiveis de discussão. Um dos problemas diz respeito à

    sobreposição de zonas entre o Aptiano superior e o Albiano inferior. Zonas como

    Vitreisporites pustulosus Regali, 1987a, sinônimo de Caytonipollenites? sp.1 Regali et al.,

    1974, codificada como P-280; Pentapsis valdiviae Lammons, 1970, codificada como P-310; e

    Elateropollenites jardinei Herngreen, 1973, codificada com P-320, apresentam distribuição

    variada entre as diversas bacias do nordeste brasileiro, ocorrendo em intervalos que

    contradizem cartas palinoestratigráficas prévias (Regali et al., 1985; Regali & Viana, 1989).

    Regali & Viana (1989) admitem cinco zonas de palinomorfos para o Andar Alagoas:

    Transitoripollis crisopolensis (Regali et al., 1974) emend. Dino, 1994, codificada como P-

    230; Inaperturopollenites curvimuratus, codificada como P-240; I. turbatus Balme, 1957,

  • 8

    codificada como P-260; Sergipea variverrucata Regali et al., 1974 emend. Regali, 1987b,

    codificada como P-270 e Complicatissacus cearensis Regali, 1987a (Regali & Viana, 1989;

    Dino, 1994; Hessel et al., 1994). Esta última é questionada por alguns autores (Arai et al.,

    1989) por não ocorrer na seção-tipo do andar nem ser exclusiva do mesmo. Das cinco, P-230

    e P-270 são as mais utilizadas, devido a sua maior precisão: a extinção de P-230 marca o final

    do Eoaptiano, enquanto a extinção de S. variverrucata é correlacionado ao final do Aptiano

    (Arai et al., op.cit.; Dino, 1992).

    3.1. Andar Alagoas na bacia do Araripe: formações Barbalha e Santana

    A unidade basal da sequência, denominada Formação Barbalha, é composta

    predominantemente por arenitos, com grande quantidade de estruturas sedimentares,

    conglomerados e alguns níveis de folhelhos (Chagas, 2006). A coluna compreende dois ciclos

    de arenitos e conglomerados fluviais, cujos topos são marcados por intervalos pelítico-

    carbonáticos (Neumann et al., 2003). O primeiro, conhecido como camadas Batateira,

    representa o primeiro registro de um sistema lacustre anóxico na bacia, rico em matéria

    orgânica. É considerado um marco estratigráfico importante do Neoaptiano, coevo às camadas

    Trairi, bacia do Ceará, e Ponta de Tubarão, bacia Potiguar, evidenciando condições

    paleoambientais similares nessas bacias (Hashimoto et al., 1987).

    A Formação Santana tem início ao final do segundo ciclo regressivo da Formação

    Barbalha (Chagas et al., 2007). A unidade apresenta dois dos mais conhecidos lagerstätten do

    Eocretáceo em Gondwana (Maisey, 1991; Martill & Willby, 1993; Carvalho & Santos, 2005).

    Dependendo do autor, é considerada uma formação individualizada, subdividida em dois ou

    três membros (Braun, 1966; Beurlen, 1971; Lima, 1979; Brito-Neves, 1990; Ponte & Appi,

    1990; Assine, 1990, 1992, 1994, 2007; Ponte, 1994); outros preferem subdividi-la em três,

    elevando cada membro à categoria de formação (Martill & Willby, 1993; Neumann &

    Cabrera, 1999; Valença et al., 2003) (Fig. 5). Neste trabalho, é adotada a classificação de

    Assine (2007).

    A Formação Santana compreende calcários laminados, gipsita, folhelhos escuros,

    arenitos calcíferos, pelitos e arenitos argilosos. Nos folhelhos mais superiores, ocorrem

    concreções calcárias (Saraiva et al., 2007). Sua base, conhecida como Membro Crato, é

    caracterizada por folhelhos calcíferos interestratificados com calcários laminados, em bancos

    com espessura superior a 20m, e folhelhos pirobetuminosos, freqüentemente calcíferos,

    devido à abundância de ostracodes. No topo do membro, ocorre um nível expressivo, embora

    descontínuo, de evaporitos gipsíticos, as camadas Ipubi (Assine, 2007; Martill, 2007).

  • 9

    Figura 5. História da litoestratigrafia da bacia do Araripe, NE-Brasil (modificado de Martill, 2007).

    O Membro Romualdo, na porção superior da formação, se interdigita com as camadas

    Ipubi em algumas regiões, enquanto em outras se sobrepõe diretamente ao Crato. É

    constituído por intercalações de folhelhos, margas, calcários e lentes de arenitos, com níveis

    locais conglomeráticos (Chagas, 2006). Os folhelhos e as margas são bastante fossilíferos, e

    apresentam microfósseis límnicos, como ostracodes e conchostráceos (Bérthou et al., 1994).

    Ingressões marinhas pulsáteis, formam ambientes mixohalinos com baixa diversidade de

    espéciesna base do membro; destacam-se no topo da unidade diversos horizontes com

    concreções calcíferas, as quais contem macrofósseis tridimensionalmente preservados (em

    especial peixes), o que é bastante raro no registro geológico mundial (Ponte & Appi, 1990;

    Fara et al., 2005).

    A Formação Santana é datada como Aptiana-Albiana com base em palinomorfos

    (Pons et al., 1990, Coimbra et al., 2002). Inicialmente, um sistema lacustre se formou na

    região, dando origem às rochas do Membro Crato; posteriormente, ocorreram ingressões

    marinhas pontuais (Kellner, 2002). A presença da Ecozona Subtilisphaera spp., bem como

    dogênero Spiniferites, constitui uma evidência dessas ingressões (Arai et al., 1994). Há

    dúvidas sobre a região a partir da qual essas ingressões ocorreram; o mais provável, com base

    na análise de paleocorrentes, seria o complexo de bacias do Recôncavo-Tucano-Jatobá

    (Assine, 1994, 2007).

    Nas formações Barbalha e Santana são reconhecidas três zonas de amplitude

    diferencial superior, uma de ostracodes e duas de palinomorfos. A de ostracodes é

  • 10

    denominada Harbinia spp 201-218 (Coimbra et al., 2002; Do Carmo et al., 2008). Da base

    para o topo, esta zona é dividida em duas subzonas de abundância: Candona spp. e Harbinia

    spp. (Gobbo, 2006). As zonas de palinomorfos, da base para o topo, são Sergipea

    variverrucata e Cicatricosisporites avnimelechi (Fig. 6).

    É notável na bacia do Araripe o diacronismo entre o topo das zonas Harbinia spp 201-

    218 e Sergipea variverrucata, o qual não é observado nas bacias marginais próximas (Regali,

    1989a,b; Araripe & Feijó, 1994; Beltrami et al., 1994; Feijó, 1994; Coimbra et al., 2002;

    Gobbo, 2006; Do Carmo et al., 2010;) (Fig. 7). Coimbra et al. (op. cit.) abordam essa

    problemática sob a perspectiva da integração de dados palinológicos, e principalmente

    ostracodológicos; entretanto, os mesmos posicionam o topo do Alagoas na bacia do Araripe

    no Aptiano-Albiano, contrariando interpretações de autores prévios que posicionam este

    limite no Albiano mais inferior, independente do diacronismo entre Harbinia spp 201-218 e

    Sergipea variverrucata (Regali & Viana, 1989; Regali, 1990). Ainda na mesma publicação

    (página 697, linha 10), vale mencionar um erro com relação à idade admitida para a Formação

    Barbalha e Membro Crato da Formação Santana, equivocadamente posicionados no Albiano

    superior.

    Figura 6. Biozoneamento da Formação Santana (modificado de Assine, 2007 e Coimbra et al., 2002).

  • 11

    Figura 7. Zonas Sergipea variverrucata Regali et al., 1974 emend. Regali, 1987b (P-270) e Harbinia spp.201-

    218 (O11) na bacia do Araripe e outras bacias do nordeste do Brasil (modificado de Do Carmo, 1998; Gobbo,

    2006).

    Tendo em vista o reconhecimento constante da Zona Harbinia spp.201-218, bem

    como a histórica problemática na datação por palinomorfos da transição Andar Alagoas-

    Albiano, o presente trabalho se propõe a estudar a taxonomia, paleoecologia e distribuição

    estratigráfica dos ostracodes da Formação Santana. A Zona Harbinia spp.201-218, aqui

    estudada em detalhe com base nos microfósseis recuperados, parece ser o instrumento mais

    adequado para contribuir com a discussão sobre o topo do Andar Alagoas na bacia do

    Araripe.

    4. MATERIAL E MÉTODOS

    As amostras do presente trabalho (Tabs. I e II) foram coletadas em cilindros de

    sondagem obtidos na bacia do Araripe entre 07/01/1978 e 31/03/1978. O material faz parte do

    Projeto Santana II, em parceria com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), ligado ao

    Ministério das Minas e Energia, Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM)

    (Scheid et al., 1978). As perfurações utilizadas, IPS-11-CE (446610L-9206760N UTM) e

    IPS-12-CE (459760L-9171760N) provem respectivamente dos municípios do Crato e de

    Jardim, ambos no Estado do Ceará (Fig. 8). A partir da coluna estratigráfica estabelecida,

    foram feitas as descrições das seções amostradas em cada uma das perfurações.

  • 12

    Tabela I. Amostras da perfuração IPS-11-CE, Membros Crato e Romualdo, Formação Santana, bacia do

    Araripe, NE-Brasil.

    Amostra Litologia

    MP-1096, MP-1097 e

    MP-1099

    Siltito esverdeado, algo micáceo, com boa laminação. Milimétricas conchas de bivalves

    bem conservadas. Manchas de tons escuro e marrom, devido a óxido de ferro,

    comumente ao longo do acamamento.

    MP-1100, MP-1101 e

    MP-1102 Folhelho esverdeado com intercalações margosas, aspecto terroso.

    MP-1103

    Folhelho horizontalizado de cor preta, com lâminas betuminosas e níveis estreitos de

    gipsita. Finas lentes de calcário esbranquiçado. Distúrbio na laminação e presença de

    pequeninas conchas.

    MP-1105 Marga laminada escura a cinza esverdeada, com filmes betuminosos, micácea.

    Disseminação de pirita em pequenos cristais.

    MP-1106 Folhelho síltico micáceo, com níveis calcíferos em 56,37m. Belo agregado drusiforme

    de pirita, com 2,5 centímetros de diâmetro.

    MP-1107 Interface folhelho síltico micáceo-marga laminada cinza-escura.

    MP-1109 Marga laminada cinza-escura.

    MP-1110 e MP-1113 Marga laminada cinza escura com níveis carbonosos, argilosos e lâminas betuminosas,

    fossilífera.

    MP-1114 e MP-1116 Marga laminada negra, com níveis argilosos escuros e de gipsita subordinadamente.

    MP-1118 e MP-1121 Siltito micáceo cinza escuro a preto, laminado, com manchas margosas esbranquiçadas.

    Tabela II. Amostras da perfuração IPS-12-CE, Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-

    Brasil.

    Amostra Litologia

    MP-1044, MP-1045, MP-1046, MP-1047 e MP-

    1048

    Folhelho cinza esverdeado a negro, com muscovita em finas

    lamelas. Nódulos ou níveis calcíferos e grande quantidade de

    fósseis (conchas calcíferas esbranquiçadas). O folhelho é

    laminado, com ângulo de 15º a 20º em relação à horizontal.

    MP-1049, MP-1050, MP-1051, MP-1052, MP-

    1053, MP-1054, MP-1055, MP-1056, MP-1057,

    MP-1058, MP-1059, MP-1060, MP-1061, MP-

    1062, MP-1063, MP-1064, MP-1065, MP-1066,

    MP-1067, MP-1071 e MP-1075

    Siltito micáceo de tonalidade cinza escura.

    MP-1076, MP-1079, MP-1083, MP-1084, MP-

    1085, MP-1086, MP-1087, MP-1088, MP-1089,

    MP-1091, MP-1093, MP-1094 e MP-1095

    Siltito argiloso calcífero, com mica em finas lamelas.

    Impressões fósseis vegetais escuras e pequenas conchas.

    Laminação com mergulho de 15º.

  • 13

    Figura 8. Localização das perfurações IPS-11-CE e IPS-12-CE, bacia do Araripe, Brasil.

    As amostras brutas foram tombadas e acondicionadas em sacos plásticos contendo o

    número de tombo e uma ficha catalográfica. O objetivo do procedimento é facilitar eventuais

    repreparações ou análises posteriores do material restante, quando existente. Os sacos

    plásticos foram embalados por perfuração, e guardados em caixas no Laboratório de

    Micropaleontologia da UnB. Do material selecionado, pesou-se um máximo de 40g por

    amostra, devido ao tamanho reduzido da maioria; amostras menores que 40g foram

    preparadas integralmente.

    A preparação seguiu o procedimento descrito em Sohn (1961) adaptado segundo Do

    Carmo et al. (2004). As amostras foram tratadas com peróxido de hidrogênio (H2O2) a 30%,

    visando a desagregação das partículas da rocha. Encerrado o processo, adicionou-se álcool

    etílico para encerrar a reação entre o H2O2 e a rocha. A separação dos grãos por tamanho foi

    feita, salvo exceções, com peneiras de malha de 630, 250, 160 e 80 m – para as amostras

    MP-1044 a MP-1048, substituiu-se a peneira de 160 por uma de 120m, e para a amostra MP-

    1121, trocou-se a de 80 por uma de 74m. O material retido em cada peneira foi secado e

    acondicionado em potes etiquetados. Em seguida, ocorreu a triagem e a identificação dos

    espécimes de ostracodes encontrados.

  • 14

    O material triado e selecionado para identificação das espécies foi ilustrado e

    depositado na Coleção Científica do Museu de Geociências, abrigada no Laboratório de

    Micropaleontologia do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília. O material tipo

    foi incorporado à Coleção de Pesquisa do Museu de Geociências do Instituto de Geociências

    da Universidade de Brasília, e se encontra tombado e armazenado no Laboratório de

    Micropaleontologia. A tiragem de fotomicrografias foi realizada no Instituto Nacional de

    Criminalística da Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal-DF, em

    Brasília, e no CENPES/PETROBRAS, na cidade do Rio de Janeiro.

    5. GEOLOGIA LOCAL

    Dois cilindros de sondagem referentes ao Projeto Santana II (CPRM), da bacia do

    Araripe, foram utilizados como material de pesquisa. O material provem das perfurações IPS-

    11-CE e IPS-12-CE, e corresponde quase exclusivamente a sedimentos da Formação Santana,

    tanto do Membro Crato quanto do Romualdo (Fig. 9). A seguir, é apresentada uma descrição

    litológica detalhada dos perfis correspondentes às seções amostradas em cada perfuração.

    5.1. Perfuração IPS-11-CE

    A perfuração IPS-11-CE abrange intervalos litológicos caracterizados, da base para o

    topo, por carbonatos, evaporitos e sedimentos siliciclásticos de baixa granulometria (siltitos e

    pelitos). A seção amostrada corresponde à transição do Membro Crato para o Romualdo. Na

    base da seção, observa-se um possível contato com a Formação Barbalha. A sequência

    litoestratigráfica desta perfuração apresenta uma diferença expressiva em relação a

    afloramentos e outras perfurações estudadas na região do Município do Crato: o intervalo

    evaporítico naquele, correspondente às camadas Ipubi, é pouco expressivo e fragmentado,

    ocorrendo em camadas esparsas, de no máximo 4m de espessura. Em contraste, algumas

    localidades da bacia apresentam níveis evaporíticos de até 30m, estando a principal região

    produtora de gesso na porção oeste da bacia, no Estado de Pernambuco (Assine, 2007).

    A sequência tem início em um arenito micáceo escuro, laminado, com pequenas

    intercalações de níveis betuminosos. O pacote superior apresenta uma camada de calcário

    laminado creme a cinza escuro. Em seguida, ocorrem siltitos micáceos cinza escuros a pretos,

    com manchas margosas esbranquiçadas. O próximo estrato corresponde a uma marga arenosa,

    com fósseis vegetais centimétricos pretos, carbonosos, tornando-se um arenito síltico micáceo

    cinza escuro em direção ao topo.

  • 15

    Figura 9. Coluna estratigráfica e amostragem das perfurações IPS-11-CE e IPS-11-CE, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil.

  • 16

    Acima, observa-se calcários dolomíticos com manchas verdes amareladas, alternando

    para margas laminadas intercaladas com folhelhos negros. Localmente, podem apresentar

    níveis conglomeráticos, argilosos e gipsíticos. Um nível de gesso esbranquiçado, compacto, é

    visível logo acima, ao qual se seguem margas laminadas cinza escuras, fossilíferas, com

    níveis carbonosos, argilosos e lâminas betuminosas; lentes estreitas de gipsita ocorrem na

    base dessa camada. Um segundo nível de gesso, de menor espessura que o primeiro, ocorre

    logo acima na sequência.

    O estrato sotoposto corresponde a margas laminadas cinza escuras, com nível piritoso

    milimétrico e lentes betuminosas, seguido por um folhelho síltico micáceo cinza escuro, com

    níveis calcíferos e piritosos. A próxima camada compreende margas escuras a cinza

    esverdeadas laminadas, com filmes betuminosos estreitos. Calcários laminados com

    alternância de leitos claros e escuros, fossilíferos, recobrem a camada anterior. Sobre as

    mesmas, ocorrem folhelhos horizontalizados fossilíferos de cor preta, com lâminas

    betuminosas, níveis estreitos de gipsita e finas lentes de calcário.

    O nível seguinte é composto por siltitos argilosos pretos laminados, com um nível

    estreito de finas lentes de gesso branco, pequenos cristais de pirita e camadas betuminosas

    estreitas, também de cor preta. A camada marca o fim do intervalo evaporítico na perfuração,

    na transição entre os membros Crato e Romualdo. Um intervalo arenoso de grande espessura

    e variabilidade se encontra depositado na base do Membro Romualdo, ao qual se segue uma

    camada de siltito micáceo laminado, creme a cinza escuro, com possíveis microcristais de

    pirita na base e níveis argilosos entremeados.

    Um nível de siltito esverdeado a cinza-escuro, com laminação discreta e intercalações

    margosas e carbonáticas ocorre em sequência, seguido de uma camada decimétrica de marga

    micácea laminada verde. Logo acima se observa uma camada de siltito com laminação

    milimétrica, pequenas lentes margosas e oxidação ferrosa localizada. Os sedimentos

    apresentam conchas em bom estado de preservação. A coluna estratigráfica da seção

    amostrada em IPS-11-CE se encerra com uma camada de solo creme, composto de areia e

    argila, recobrindo os demais sedimentos.

    5.2. Perfuração IPS-12-CE

    A seção amostrada em IPS-12-CE tem início na cota de 150m. A perfuração apresenta,

    da base para o topo, intervalos siliciclásticos, carbonáticos, siliciclásticos com influencia de

    carbonatos e siliciclásticos novamente, encerrando a seção. Na base, são observados arenitos

  • 17

    argilosos finos a médios, cinza amarelados, com esporádicos níveis carbonáticos e lamelas

    micáceas. Logo acima, aparece uma camada de siltito argiloso laminado, carbonáticos na

    base, passando à coloração creme, com manchas de oxidação e níveis arenosos finos; em

    direção ao topo, torna-se acinzentado, com níveis locais de pirita disseminada.

    Na sequência, ocorre um nível conglomerático seguido de ritmito de margas

    laminadas brancas e folhelho negro, com possível ocorrência de fósseis de peixe. O pacote

    seguinte, bastante expressivo, compreende siltitos micáceos cinza escuros com diversas lentes

    e níveis calcíticos esbranquiçados, alguns deles em associação com pirita. O registro

    fossilífero é variado, com presença de vestígios de ostracodes, gastrópodes, pelecípodes, grãos

    de pólen e fragmentos vegetais.

    Sobrepostos, ocorrem folhelhos cinzas esverdeados a pretos, com nódulos e níveis

    calcíferos. Esta camada é bastante fossilífera, contendo os mesmos taxa observados no

    folhelho sotoposto. As camadas que encerram a seção amostrada não foram testemunhadas,

    sendo descritas via referência bibliográfica como arenitos amarelados a avermelhados, de

    granulação variando entre fina e grosseira, por vezes conglomerática. Apresentam manchas

    argilosas e níveis caulínicos, além de estratificação plano-paralela a cruzada.

    6. TAXONOMIA

    A taxonomia supragenérica é aquela adotada por Martin (1958), Bate (1972) e Liebau

    (2005). A terminologia morfológica foi extraída de Kesling (1951) e Do Carmo et al. (2008)

    (Fig. 10). Para se referir à abundância dos espécimes, utiliza-se as seguintes referências: raro,

    de 1 a 5 espécimes; freqüente, de 6-10 espécimes; e abundante, mais de 10 espécimes. Treze

    espécies de ostracodes dos membros Crato e Romualdo da Formação Santana foram

    identificadas no presente trabalho: Harbinia alta Do Carmo et al., 2010, Harbinia crepata Do

    Carmo et al., 2010, Harbinia micropapillosa (Bate, 1972) emend. Do Carmo et al., 2008,

    Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber, 1971) emend. Antonietto et al., 2010, Harbinia

    symmetrica (Krömmelbein & Weber, 1971) emend., Cetacella edrianae sp. nov.,

    Talicypridea? sp.1, Talicypridea? sp.2, Paracypria sp.1, Ilyocypris sp.1, Darwinula? sp.1,

    Gen et sp. indet. 1 e Gen. et sp. indet. 2.

    Classe OSTRACODA Latreille, 1802

    Subclasse PODOCOPA Müller, 1894

    Ordem PODOCOPIDA Sars, 1866

  • 18

    Figura 10. Dimensões e regiões da carapaça em Ostracoda (adaptado de Kesling, 1951).

    Subordem CYPRIDOCOPINA Jones, 1901

    Superfamília CYPRIDOIDEA Baird, 1845

    Família CYPRIDIDAE Kaufmann, 1900

    Subfamília CYPRIDINAE Baird, 1845

    Gênero Harbinia Tsao, 1959 emend. Hou, 1984

    1965 Hourcqia Krömmelbein, p.68-69 (non Hourcqia africana africana Krömmelbein, 1965; Hourcqia

    africana confluens Krömmelbein & Weber, 1971).

    1972 Pattersoncypris Bate, p. 380-381.

    Espécie-tipo. Harbinia hapla Tsao, 1959.

    Diagnose. Carapaça subtriangular a oval em vista lateral. Margem dorsal angulada; margem

    anterodorsal mais longa que a posterodorsal; ângulo cardinal anterior distinto; extremidade

    anterior arredondada; extremidade posterior em declive, obliquamente arredondada; margem

    ventral quase reta ou levemente côncava na região mediana. Valva esquerda recobrindo a

    direita, exceto pela região da charneira. Superfície lateral coberta por estriações e reticulações.

    Zona de porocanais estreita; porocanais radiais curtos, retilíneos e raros; duplicatura

  • 19

    moderadamente larga. Charneira adonte, composta de uma canelura alongada, com as

    extremidades mais largas, na valva direita e um sulco correspondente na esquerda. Em vista

    dorsal, fusiforme, com ambos os lados uniformes e fortemente convexos; extremidades

    anterior e posterior muito arredondadas e quase iguais. Impressões musculares dorsal e do

    adutor típicas da Família Cyprididae (Hou, 1984).

    Distribuição estratigráfica. Cretáceo (Hou, 1984).

    Discussão. A diagnose segue Hou (1984). Existe grande debate em torno do status dos

    gêneros Hourcqia e Pattersoncypris em relação a Harbinia. Recentemente, espécie-tipo de

    Hourcqia, Hourcqia africana, foi redescrita e atribuída ao Gênero Cypridea Bosquet, 1852,

    por apresentar um diminuto bico na região anteroventral (Do Carmo et al., 2008).

    Concomitantemente, varias características compartilhadas entre espécies originalmente

    descritas para Hourcqia, H. angulata angulata, H. a. salitrensis, H. a. sinuata e H. a.

    symmetrica, não são observáveis nos espécimes da espécie-tipo, como o formato geral

    subtriangular, presença da corcova na margem dorsal e recobrimento expressivo nas regiões

    anterodorsal e posterodorsal. Em Coimbra et al. (2002), H. a. angulata e H. a. symmetrica

    foram transferidas para o gênero Pattersoncypris Bate, 1972. Do Carmo et al. (op.cit.), após

    estudo detalhado de material-tipo, reclassificaram estas espécies como pertencentes a

    Harbinia. Desde então, Hourcqia é considerado sinônimo júnior de Cypridea, e

    Pattersoncypris, de Harbinia. Como Tsao (op.cit.) apresenta fotografias de baixa resolução, e

    em Hou (op.cit.) há certamente a classificação de espécies diferentes sob o mesmo nome, no

    presente trabalho adota-se como referência apenas o holótipo figurado em Hou (op.cit.).

    Atualmente, técnicas de holotomografia tem sido utilizadas para auxiliar a resolução de

    problemas dessa natureza, melhorando a caracterização de espécies do gênero (Matzke-

    Karazs et al., 2009). Hourcqia dakotaensis Tibert & Colin 2009, recentemente descrita em

    Tibert et al. (2009) a partir de material recuperado do Cenomaniano superior, Formação

    Dakota, bacia Great Western, Estados Unidos, apresenta as características diagnósticas de

    Harbinia, e por isso consta no presente trabalho como espécie pertencente a esse gênero.

    Harbinia alta Do Carmo et al., 2010

    Fig. 11, 1-9

    1990 Hourcqia angulata angulata Krömmelbein & Weber, 1971: Silva-Telles Jr. & Viana, est. 3, fig. 3.

    ?2006 Harbinia angulata (Krömmelbein & Weber, 1971): Ramos, Rossetti & Paz, 344, fig. 4, E-H.

    Diagnose. Carapaça com corcova alta; linha de charneira curta e em forte declive. Superfície

  • 20

    externa com delicada reticulação hexagonal, com a porção central dos retículos côncava (Do

    Carmo et al., 2010).

    Localidade-tipo. perfuração RN-1, profundidade de 1376,30m, Estado do Rio Grande do

    Norte, NE-Brasil (Do Carmo et al., 2010).

    Horizonte-tipo. Formação Alagamar, bacia Potiguar, Aptiano (Do Carmo et al., 2010).

    Homótipos. CP-408, CP-409, CP-410, CP-411 e CP-412, CP-413 e CP-414 (carapaças) (Tab.

    III).

    Tabela III. Material ilustrado de Harbinia alta Do Carmo et al., 2010, Membro Crato, Formação Santana, bacia

    do Araripe, NE-Brasil.

    Espécime Amostra Status Comprimento (mm) Altura (mm) Largura (mm)

    CP-408 MP-1109 Homótipo 0,94 0,70 0,48

    CP-409 MP-1109 Homótipo 0,83 0,62 0,42

    CP-410 MP-1109 Homótipo 0,71 0,54 0,35

    CP-411 MP-1109 Homótipo 0,57 0,42 0,29

    CP-412 MP-1109 Homótipo 0,41 0,32 0,19

    CP-413 MP-1109 Homótipo 0,36 0,27 0,19

    CP-414 MP-1109 Homótipo 0,29 0,22 0,15

    Localidade. Perfuração IPS-11-CE, Município do Crato, Estado do Ceará, NE-Brasil.

    Horizonte. MP-1109, em marga laminada cinza escura a 59,15m de profundidade, Membro

    Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe.

    Ocorrência. Abundante, em MP-1109, perfuração IPS-11-CE.

    Distribuição geográfica e estratigráfica. Brasil, em quatro bacias: Espírito Santo, Potiguar,

    Grajaú e Araripe. Na bacia do Espírito Santo, Aptiano-?Albiano. Na bacia Potiguar,

    Formação Alagamar, Aptiano (Do Carmo et al., 2010). Na bacia do Grajaú, Formação Codó,

    Aptiano superior (Ramos et al., 2006). Na bacia do Araripe, membros Crato e Romualdo,

    Formação Santana (Silva-Telles Jr. & Viana, 1990), Aptiano-Albiano (Regali, 1990; Coimbra

    et al., 2002); no presente trabalho, restrita ao Aptiano superior.

    Discussão. A diagnose segue Do Carmo et al. (2010). H. angulata (Krömmelbein & Weber,

    1971) (Fig. 4, E-H) em Ramos et al. (2006) consta como provável sinônimo de H. alta,

    devido ao formato menos alongado em relação a H.angulata e ornamentação semelhante à de

    H. alta. Este material, no entanto, se encontra em processo de revisão, e deve ser melhor

    documentado e fotografado mais adiante. No presente trabalho, é ilustrada a série

    ontogenética da espécie como em Antonietto et al. (2010) (Fig. 12).

  • 21

  • 22

    Harbinia crepata Do Carmo et al. 2010

    Fig. 13, 9

    1990 Gen. ind. sp. aff. 207: Silva-Telles Jr. & Viana, est. 2, figs. 1 e 3.

    Diagnose. Carapaça subtriangular alongada, com corcova baixa na região anteromediana.

    Superfície lisa. Ângulo cardinal posterior visível embora pouco marcado (Do Carmo et al.,

    2010).

    Localidade tipo. Perfuração CE-1, profundidade de 2079,50m, Estado do Ceará, NE-Brasil

    (Do Carmo et al., 2010).

    Horizonte-tipo. Formação Alagamar, bacia Potiguar, Aptiano.

    Material ilustrado. CP-390 (valva) (Tab. IV).

    Tabela IV. Material ilustrado de Harbinia crepata Do Carmo et al., 2010, Membro Romualdo, Formação

    Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil.

    Espécime Amostra Status Comprimento (mm) Altura (mm) Largura (mm)

    CP-390 MP-1047 Homótipo 0,80 0,54 -

    Localidade. Perfuração IPS-12-CE, Município de Jardim, Estado do Ceará, NE-Brasil.

    Horizonte. MP-1047, em folhelho cinza-esverdeado a negro a 107,25 de profundidade,

    Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe.

    Ocorrência. Comum, em MP-1047, MP-1048 e MP-1049, perfuração IPS-12-CE.

    Distribuição geográfica e estratigráfica. Brasil, em duas bacias: Potiguar e Araripe. Na

    bacia Potiguar, Formação Alagamar, Aptiano (Do Carmo et al., 2010). Na bacia do Araripe,

    Membro Crato, Formação Santana (Silva-Telles Jr. & Viana, 1990), Aptiano (Regali, 1990;

    Coimbra et al., 2002); no presente trabalho, é ampliada até o Membro Romualdo e restrita ao

    Aptiano superior.

    Discussão. A diagnose segue Do Carmo et al. (2010).

    Figura 11. 1-9. Harbinia alta Do Carmo et al., 2010. 1-3. Adulto (CP-408), vistas laterais esquerda (VLE) e

    direita (VLD) e dorsal (VDo). 4. Estágio juvenil A-1 (CP-409), VLD. 5. Estágio juvenil A-2 (CP-410), VLD. 6.

    Estágio juvenil A-3 (CP-411), VLD. 7. Estágio juvenil A-4 (CP-412), VLD. 8. Estágio juvenil A-5 (CP-413),

    VLD. 9. Estágio juvenil A-6 (CP-414), VLD. 10-18. Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber, 1971) emend.

    Antonietto et al., 2010. 10-12. Adulto (CP-400), VLD, VLE e VDo. 13. Estágio juvenil A-1 (CP-401), VLD. 14.

    Estágio juvenil A-2 (CP-421), VLD. 15. Estágio juvenil A-3 (CP-402), VLD. 16. Estágio juvenil A-4 (CP-403),

    VLD. 17. Estágio juvenil A-5 (CP-419), VLD.18. Estágio juvenil A-6 (CP-420), VLD.

  • 23

    Figura 12. Estágios ontogenéticos de Harbinia alta Do Carmo et al., 2010, Membro Romualdo, Formação

    Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil. Obs.: Alguns dos exemplares medidos se encontram em Antonietto et al.

    (2010).

    Harbinia micropapillosa (Bate, 1972) emend. Do Carmo et al., 2008

    Fig. 13, 10

    1972 Pattersoncypris micropapillosa Bate: 379-393, pls. 66-71.

    1973 Pattersoncypris micropapillosa Bate: Bate, 101-108, figs. 1:19:102, 1:19:108.

    1989 Hourcqia angulata angulata (Krömmelbein & Weber): Viana, Brito & Silva-Telles, 216, figs. 2, a, b, c.

    1990 Hourcqia angulata angulata (Krömmelbein & Weber): Depèche, Bérthou & Campos, :303-304, pl. 1,

    figs. 1-2; pl. 3, fig. 17..

    1990 Pattersoncypris micropapillosa Bate: Depèche, Bérthou & Campos, 303-306, pl. 1, fig. 9; pl. 2, figs. 9-

    11. [Non] 303-308, pl. 1, figs. 10-11; pl. 3.

    2000 Pattersoncypris micropapillosa Bate: Smith, pls. 1-9.

    ?2006 [Non] Harbinia micropapillosa (Bate): Ramos, Rossetti & Paz, 344, fig. 4:A-D.

    2008 Harbinia micropapillosa (Bate): Do Carmo, Whatley, Queiroz Neto & Coimbra, .795, fig. 6:6.

  • 24

    Diagnose. Carapaça oval com corcova anterodorsal pronunciada. Extremidade anterior mais

    arredondada do que a posterior. Valva direita com ângulo cardinal anterior bem marcado e

    declive da margem anterodorsal em concavidade (Do Carmo et al., 2008).

    Localidade-tipo. Chapada do Araripe, Estado do Ceará, NE-Brasil (Smith, 2000).

    Horizonte-tipo. Formação Santana, bacia do Araripe, Aptiano-Albiano (Smith, 2000).

    Material ilustrado. CP-389 (valva) (Tab. V).

    Tabela V. Material ilustrado de Harbinia micropapillosa (Bate, 1972) emend. Do Carmo et al., 2008, Membro

    Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil.

    Espécime Amostra Status Comprimento (mm) Altura (mm) Largura (mm)

    CP-389 MP-1047 Homótipo 0,75 0,51 -

    Localidade. Perfuração IPS-12-CE, Município de Jardim, Estado do Ceará, NE-Brasil.

    Horizonte. MP-1047, em folhelho cinza-esverdeado a negro a 107,25 de profundidade,

    Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe.

    Ocorrência. Rara, em MP-1047 e MP-1049, perfuração IPS-12-CE.

    Distribuição geográfica e estratigráfica. África, Libéria, Aptiano-Albiano (Bate, 1972).

    Brasil, em duas bacias: Sergipe-Alagoas e Araripe. Na bacia de Sergipe-Alagoas, Formação

    Riachuelo, Aptiano (Moura, 1987, 1988; Smith, 2000; Campos Neto et al., 2007). Na bacia

    do Araripe, Formação Santana, Aptiano-?Albiano médio (Bate, op. cit.; Regali, 1990). No

    presente trabalho, ainda nesta bacia, ocorrência restrita ao Membro Romualdo, Formação

    Santana, Aptiano superior.

    Discussão. A diagnose da espécie segue Do Carmo et al. (2008). Os exemplares em Ramos et

    al. (2006) não apresentam as principais características distintivas atribuídas a Harbinia

    micropapillosa, como o formato geral e intensidade dos recobrimentos antero-dorsal e

    postero-dorsal da valva esquerda sobre a direita. A posterior reclassificação deste material é

    recomendável, a fim de se determinar a espécie à qual pertence.

    Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber, 1971) emend. Antonietto et al., 2010

    Fig. 11, 10-18

    1971 Hourcqia angulata salitrensis Krömmelbein & Weber: 81, est.6, figs. 26a-c.

    1990 Pattersoncypris cf. Pattersoncypris angulata salitrensis (Krömmelbein & Weber): Silva-Telles &

    Viana, 319-321, est. 2, fig. 8.

    1990 Hourcqia? sp.2: Silva-Telles & Viana, 319-321, est. 3, figs. 5-6.

  • 25

  • 26

    1990 Cultella sp.: Depèche, Bérthou & Campos, 305-306, pl. 2, fig. 3.

    1990 Hourcqia angulata salitrensis Krömmelbein & Weber: 307-308, pl. 3, fig.14.

    2006 Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber): Ramos, Rossetti & Paz, fig. 4:Q-T.

    2008 Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber): Do Carmo, Whatley, Queiroz Neto & Coimbra, 2008,

    795, fig. 6:8.

    Diagnose. Carapaça subtriangular a subovalada em vista lateral, com maior altura mediana e

    maior comprimento ventrocentral. Ângulo cardinal posterior arredondado, visível apenas na

    valva direita. Extremidade posterior estreitamente arredondada. Superfície externa lisa. Em

    vista dorsal, marcadamente fusiforme (Antonietto et al., 2010).

    Localidade-tipo. Amostra de superfície, Estância Saco do Salitre, Distrito de Rancharia,

    Município de Araripina, Estado de Pernambuco, NE-Brasil (Krömmelbein & Weber, 1971).

    Horizonte-tipo. Formação Santana, bacia do Araripe, Aptiano (Krömmelbein & Weber,

    1971).

    Material ilustrado. CP-400, CP-401, CP-402, CP-403, CP-419, CP-420 e CP-421

    (carapaças) (Tab. VI).

    Tabela VI. Material ilustrado de Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber, 1971) emend. Antonietto et al.,

    2010, Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil.

    Espécime Amostra Status Comprimento (mm) Altura (mm) Largura (mm)

    CP-400 MP-1076 Homótipo 1,19 0,82 0,68

    CP-401 MP-1089 Homótipo 1,13 0,74 0,60

    CP-421 MP-1076 Homótipo 1,02 0,71 0,60

    CP-402 MP-1089 Homótipo 0,91 0,61 0,42

    CP-403 MP-1076 Homótipo 0,66 0,42 0,34

    CP-419 MP-1076 Homótipo 0,46 0,32 0,24

    CP-420 MP-1076 Homótipo 0,37 0,27 0,21

    Figura 13. 1-8. Harbinia symmetrica (Krömmelbein & Weber, 1971) emend. 1. Adulto (MP-O-1614), vista

    lateral direita (VLD). 2-4. Estágio juvenil A-1 (CP-383), vista lateral esquerda (VLE), VLD e vista dorsal

    (VDo). 5. Estágio juvenil A-1 (CP-384), vista interna esquerda (VIE). 6. Estágio juvenil A-2 (CP-385), VLD. 7.

    Estágio juvenil A-1 (CP-384), detalhe dos elementos da charneira: fossetas (Fs) e barra (Br). 8. Estágio juvenil

    A-1 (CP-383), detalhe das cicatrizes dos músculos adutor (CA) e dorsal (CDo). 9. Harbinia crepata Do Carmo

    et al., 2010. Estágio juvenil A-1 (CP-390), VLE. 10. Harbinia micropapillosa (Bate, 1972) emend. Do Carmo et

    al., 2008. Estágio juvenil A-2 (CP-389), VLE. 11-13. Cetacella edrianae sp. nov. 11 Adulto (CP-405), VLD. 12-

    13. Adulto (CP-404), VLE e VDo. 14-16. Talicypridea? sp.1 (CP-407), VLD, VLE e VDo.

  • 27

    Descrição. Carapaça subtriangular a subovalada em vista lateral, com maior altura na região

    mediana e maior comprimento na ventromediana. Valva esquerda maior que a direita, com

    recobrimento expressivo ao longo de toda margem livre, porém mais visível nas regiões

    antero e posterodorsal e ventral. Margem dorsal côncava, com corcova pronunciada na região

    mediana. Linha de charneira subretilínea. Ângulo cardinal posterior arredondado, visível

    apenas na valva direita. Margem ventral levemente convexa. Margem anterior arredondada.

    Margem posterior estreitamente arredondada. Superfície externa lisa. Em vista dorsal,

    fusiforme, com maior largura na região posteromediana.

    Localidade. Perfuração IPS-12-CE, Município de Jardim, Estado do Ceará, NE-Brasil.

    Horizontes. MP-1076, em siltito micáceo de tonalidade cinza-escura a 125,79m de

    profundidade, e MP-1089, em siltito argiloso calcífero, com mica em finas lamelas; Membro

    Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe.

    Ocorrência. Abundante, em MP-1046, MP-1061, MP-1062, MP-1066, MP-1067, MP-1070,

    MP-1071, MP-1072, MP-1073, MP-1074, MP-1075, MP-1076, MP-1079, MP-1083, MP-

    1084, MP-1085, MP-1086, MP-1088, MP-1089, MP-1093 e MP-1094, perfuração IPS-12-CE.

    Distribuição geográfica e estratigráfica. África, bacias do Congo, Gabão e Angola, Aptiano

    (Bate, 1999). Brasil, em duas bacias: Araripe e Grajaú. Na bacia do Grajaú, Formação Codó,

    Aptiano (Ramos et al., 2006). Na bacia do Araripe, Formação Santana, Aptiano

    (Krömmelbein & Weber, 1971); no presente trabalho, restrita à porção basal do Membro

    Romualdo, Formação Santana, Aptiano superior.

    Discussão. A diagnose segue Antonietto et al. (2010). Hourcqia angulata salitrensis em

    Depèche et al. (1990), embora similar, é apenas tentativamente posicionado na lista de

    sinônimos deste trabalho, devido à fotografação insuficiente. No presente trabalho, a série

    ontogenética da espécie encontra-se ilustrada (Fig. 14); entretanto, não foram recuperados

    espécimes do estágio A-7, possivelmente devido à fragilidade do mesmo.

    Harbinia symmetrica (Krömmelbein & Weber, 1971) emend.

    Fig. 13, 1-8

    1971 Hourcqia angulata symmetrica Krömmelbein & Weber: 81, est. 6, fig. 25a-c.

    1990 Hourcqia? sp. 2: Silva-Telles & Viana, 318-321, est. 2, fig. 8.

    1990 Hourcqia angulata symmetrica (Krömmelbein & Weber, 1971): Silva-Telles & Viana, 318-321, ests. 1

    e 3, fig. 8.

    1990 Cultella sp.1 e sp.2: Depèche, Bérthou & Campos, 305-308, pl. 2, fig. 1-3.

  • 28

    Figura 14. Estágios ontogenéticos de Harbinia salitrensis (Krömmelbein & Weber, 1971) emend. Antonietto et

    al., 2010, Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil.

    1990 Cultella sp. Depèche, Bérthou & Campos 307-308, pl. 3, fig. 19.

    2002 Pattersoncypris angulata symmetrica (Krömmelbein &Weber): Coimbra, Arai & Carreño, 691, fig.4,

    30.

    Diagnose. Carapaça subtriangular em vista lateral, Maior altura entre anteromediana e

    mediana e maior comprimento centroventral. Extremidades anterior e posterior amplamente

    arredondadas. Superfície externa ornamentada com papilas contendo o centro deprimido,

    lembrando uma reticulação, porém lisa próximo à margem dorsal da carapaça.

    Localidade-tipo. perfuração VGST-1-MA, amostra de calha a 384 m de profundidade,

    Estado do Maranhão, NE-Brasil (Krömmelbein & Weber, 1971).

    Horizonte-tipo. Formação Codó, bacia do Maranhão, Aptiano (Krömmelbein & Weber,

    1971; Ramos et al., 2006).

    Material ilustrado. MP-O-1614 (topótipo), CP-383 e CP-385 (carapaças); CP-384 (valva)

    (Tab. VII).

  • 29

    Tabela VII. Material ilustrado de Harbinia symmetrica (Krömmelbein & Weber), 1971, Membro Romualdo,

    Formação Santana, bacia do Araripe, NE-Brasil.

    Espécime Amostra Status Comprimento (mm) Altura (mm) Largura (mm)

    MP-O-1614 - Topótipo 1,02 0,64

    CP-383 MP-1047 Homótipo 0,89 0,60 0,49

    CP-384 MP-1047 Homótipo 0,88 0,61 -

    CP-385 MP-1049 Homótipo 0,80 0,53 0,40

    Descrição. Carapaça subtriangular em vista lateral, com maior altura na região anteromediana

    e maior comprimento ao longo da região ventromediana. Valva esquerda maior que a direita,

    com recobrimento discreto ao longo da margem livre, porém mais visível nas regiões antero e

    posterodorsal e ventral. Margem dorsal levemente côncava, com corcova pouco pronunciada

    na região mediana. Linha de charneira retilínea. Ângulo cardinal posterior arredondado nas

    valvas esquerda e direita, mas quase imperceptível na primeira. Margem ventral subretilínea.

    Extremidades anterior e posterior amplamente arredondadas. Superfície externa ornamentada

    na região central com papilas contendo o centro deprimido, lembrando uma reticulação, e lisa

    próximo às margens da carapaça. Em vista dorsal, elíptica, com maior largura na região

    posteromediana. Charneira merodonte, constituída por duas fossetas e uma barra na valva

    esquerda. Selvage se estendendo da porção posterior da charneira até a região anteromediana

    da margem ventral. Cicatriz adutora característica da Família Cyprididae, com fórmula 1-2-2-

    2 (da região dorsal para a ventral, quatro fileiras de cicatrizes, contendo uma, duas, duas e

    duas cicatrizes). Cicatriz dorsal composta por três marcas, dispostas em triângulo invertido.

    Localidade. Perfuração IPS-12-CE, Município de Jardim, Estado do Ceará, NE-Brasil.

    Horizonte. MP-1047 e MP-1048, em folhelho cinza-esverdeado a negro a 107,25 e 108,30m

    de profundidade, respectivamente; e MP-1049, em siltito micáceo de tonalidade cinza escura,

    a 109,65m de profundidade; Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe.

    Ocorrência. Comum, em MP-1047, MP-1048 e MP-1049, perfuração IPS-12-CE.

    Distribuição geográfica e estratigráfica. África, bacias do Congo, Gabão e Angola, Aptiano

    (Bate, 1999). Brasil, em duas bacias: Araripe e Maranhão. Na bacia do Maranhão, Formação

    Codó, Aptiano superior (Krömmelbein & Weber, 1971; Ramos et al., 2006). Na bacia do

    Araripe, Membro Romualdo, Formação Santana, Aptiano superior.

    Discussão. No presente trabalho, considerando a excelente preservação de espécimes, bem

    como a recuperação dos estágios ontogenéticos A-1 e A-2, apresenta-se a redescrição da

    espécie e uma nova diagnose para a mesma. Considera-se a morfologia de A-1 muito próxima

  • 30

    à de um adulto; todavia, para auxiliar na redescrição, utilizou-se um espécime adulto

    proveniente da seção-tipo de Harbinia symmetrica, pertencente à Coleção Científica do

    Museu de Geociências, abrigada no Laboratório de Micropaleontologia do Instituto de

    Geociências da Universidade de Brasília.

    Subfamília CYCLOCYPRIDINAE Kaufmann, 1900

    Gênero Cetacella Martin, 1958

    Espécie-tipo. Cetacella inermis Martin, 1958.

    Diagnose. Subovalada em vista lateral, com maior altura na região mediana. Valva esquerda

    maior que a direita; caracterizada por ornamentação composta por costelas e sulcos que se

    estendem ao longo de toda a valva. Charneira formada por barra e canelura. Cicatriz do adutor

    apresenta seis marcas; mandibular, duas; obliquamente anteroventrais em relação às do

    adutor; e antenal, duas, anterodorsais às mandibulares. Dimorfismo sexual moderadamente

    acentuado, relacionado a altura e comprimento das carapaças (Martin, 1958, Moore, 1961).

    Distribuição estratigráfica. Jurássico superior, Oxfordiano, ao Cretáceo inferior, Barremiano

    (El Albani et al., 2004); possivelmente até o Cenomaniano médio (Viviers et al., 2000).

    Discussão. Cetacella se assemelha ao gênero Petrobrasia Krömmelbein, 1965 com relação à

    ornamentação estriada, mas difere pelo formato geral da carapaça: o primeiro tende a ser

    elíptico, enquanto o segundo é subtriangular. Em relação a Damonella Anderson, 1966,

    apresenta o mesmo formato geral, mas com discrepâncias na ornamentação e recobrimento na

    margem ventral, bastante pronunciado em Damonella e uma das principais características

    diagnósticas do gênero. Em relação a Zonocypris Müller, 1898, apresenta grande semelhanças

    de ornamentação tamanho e formato geral, embora seja evidente a diferença em vista dorsal

    na comparação com a espécie-tipo, Z. madagascariensis Müller 1898 (Müller, 1898,

    Lyubimova et al., 1960). O gênero inicialmente foi registrado no Kimmeridgiano da

    Alemanha (Martin, 1958; Moore, 1961); trabalhos posteriores apontam ocorrências no

    Cretáceo, desde o Barremiano (El Albani et al., 2004) até possivelmente o Aptiano-

    Cenomaniano médio (Viviers et al., 2000).

    Cetacella edrianae sp. nov.

    Fig. 13, 10-12

    Origem do nome. Homenagem a Edriana Araújo de Lima, pelos anos de intensa amizade,

    companheirismo e inspiração.

    Diagnose. Carapaça subovalada em vista lateral. Valva esquerda maior que a direita, com

  • 31

    recobrimento discreto ao longo da margem livre, porém mais visível ao longo da região dorsal

    e na porção mediana da margem ventral. Superfície externa coberta por estrias bastante

    suaves, mais evidentes próximo às margens da carapaça.

    Localidade-tipo. Perfuração IPS-11-CE, a 54,88m de profundidade, Município do Crato,

    Estado do Ceará, NE-Brasil.

    Horizonte-tipo. Camadas Ipubi, Membro Crato, Formação Santana, bacia do Araripe,

    Aptiano superior.

    Material ilustrado. CP-404 e CP-405 (carapaças) (Tab. VIII).

    Tabela VIII. Material ilustrado de Cetacella edrianae sp. nov, Membro Crato, Formação Santana, bacia do

    Araripe, NE-Brasil.

    Espécime Amostra Status Comprimento (mm) Altura (mm) Largura (mm)

    CP-404 MP-1103 Holótipo 0,48 0,29 0,21

    CP-405 MP-1103 Parátipo 0,45 0,27

    Descrição. Carapaça subovalada em vista lateral, com maior altura próximo à região

    anteromediana e maior comprimento ao longo da região ventromediana. Valva esquerda

    maior que a direita, com recobrimento discreto ao longo da margem livre, porém mais visível

    ao longo da região dorsal e na porção mediana da margem ventral. Margem dorsal levemente

    côncava. Linha de charneira subretilínea. Ângulo cardinal posterior bastante arredondado nas

    valvas esquerda e direita. Margem ventral subconvexa na valva esquerda e subretilínea na

    direita. Extremidades anterior e posterior amplamente arredondadas, a segunda levemente

    obliqua. Superfície externa coberta por estrias bastante suaves, mais evidentes próximo às

    margens da carapaça. Em vista dorsal, elíptica, com maior largura na região posteromediana.

    Localidade. Perfuração IPS-11-CE, Município do Crato, Estado do Ceará, NE-Brasil.

    Horizonte. MP-1103, em folhelho horizontalizado de cor preta, com lâminas betuminosas e

    níveis estreitos de gipsita e finas lentes de calcário esbranquiçado.

    Ocorrência. Comum, em MP-1103, perfuração IPS-11-CE.

    Distribuição geográfica e estratigráfica. Brasil, bacia do Araripe, Formação Santana,

    Membro Crato, Aptiano superior.

    Discussão. A espécie pertence ao gênero pelos motivos já supracitados. Cetacella edrianae é

    a primeira espécie de Cetacella formalmente designada no Cretáceo na América do Sul,

    embora o gênero tenha sido anteriormente registrado, ainda que com ressalvas por Viviers

    (2000).

  • 32

    Subfamília TALICYPRIDEINAE Hou, 1982

    Gênero Talicypridea Khand, 1977

    Espécie-tipo. Cypridea biformata Szczechura & Blaszyk, 1970, segundo Khand (1977).

    Diagnose. Carapaça ovalada arredondada, de tamanho médio. Maior convexidade no terço

    posterior e maior altura no terço frontal. Margem dorsal retilínea ou levemente encurvada,

    decaindo suavemente em direção ao terço posterior. Valva esquerda recobre a direita ao longo

    da margem livre, exceto no terço posterior da margem dorsal e região da projeção rostral. No

    terço posterior da margem dorsal, linha de comissura ausente. Região ventral da extremidade

    anterior da valva direita desenvolve uma projeção rostral. Zona de porocanais estreita, com

    poucos porocanais do tipo reto. Lamela interna sem estrutura, bem desenvolvida na

    extremidade posterior. Charneira do tipo lofodonte, com dois dentes e uma canelura na valva

    direita e elementos inversos na esquerda (adaptado de Khand, 1977).

    Distribuição estratigráfica. Cretáceo superior (Khand, 1977; Horne & Colin, 2005). Aqui

    são registrados os possíveis primeiros espécimes do Cretáceo inferior (Aptiano superior).

    Discussão. Os exemplares do presente trabalho são tentativamente classificados no gênero

    Talicypridea devido a presença doa protuberância rostral característica do gênero. Entretanto,

    há necessidade de se estudar com mais profundidade outros gêneros da família, como

    Altanicypris Szczechura, 1978, Bogdocypris Khand, 1994 e Nemegtia Szczechura, 1978

    (Szczechura, 1978; Khand, 1994).

    Talicypridea? sp.1

    Fig. 13, 13-15

    Material ilustrado. CP-407 (carapaça) (Tab. IX).

    Tabela IX. Material ilustrado de Talicypridea? sp.1, Membro Crato, Formação Santana, bacia do Araripe, NE-

    Brasil.

    Espécime Amostra Status Comprimento (mm) Altura (mm) Largura (mm)

    CP-407 MP-1109 Hipótipo 0,92 0,52 0,53

    Descrição. Carapaça subtriangular em vista lateral, com maior altura próximo à região

    anteromediana e maior comprimento ao longo da região ventromediana. Valva esquerda

    maior que a direita, com recobrimento ao longo de quase toda a margem livre, mais

    visivelmente ao longo das regiões anterodorsal e dorsoposterior. Valva direita com lamela

    proeminente na extremidade anterior. Margem dorsal côncava, levemente pontiaguda na

  • 33

    região anteromediana. Linha de charneira subretilínea. Ângulo cardinal posterior bastante

    arredondado nas valvas esquerda e direita, porém mais marcado na última. Margem ventral

    levemente côncava. Extremidade anterior arredondada, com presença de um rostro pouco

    desenvolvido. Extremidade posterior levemente afilada. Superfície externa coberta por

    retículos, que em conjunto se assemelham a estriações. Em vista dorsal, fusiforme, com maior

    largura na região mediana.

    Localidade. Perfuração IPS-11-CE, Município do Crato, Estado do Ceará, NE-Brasil.

    Horizonte. MP-1109, em marga laminada cinza escura a 59,15m de profundidade, Membro

    Crato, Formação Santana, bacia do Araripe.

    Ocorrência. Rara, em MP-1109, perfuração IPS-11-CE.

    Distribuição geográfica e estratigráfica. Brasil, bacia do Araripe, Formação Santana,

    Membro Crato, Aptiano superior.

    Discussão. Algumas características separam Talicypridea.? sp.1 de outras espécies do gênero.

    O espécime identificado possui formato subtriangular, diferentemente das espécies

    anteriormente descritas para o gênero, que são ovaladas. A estrutura rostral se encontra com o

    formato original alterado, devido à preservação deficiente, e o número de espécimes

    recuperados é reduzido, apenas um, o que inviabiliza uma taxonomia mais definitiva.

    Talicypridea? sp.2

    Fig. 15, 1-2

    Material ilustrado. CP-393 (carapaça) (Tab. X).

    Tabela X. Material ilustrado de Talicypridea? sp.2, Membro Romualdo, Formação Santana, bacia do Araripe,

    NE-Brasil.

    Espécime Amostra Status Comprimento (mm) Altura (mm) Largura (mm)

    CP-393 MP-1076 Hipótipo 0,86 - 0,60

    Descrição. Carapaça subovalada em vista lateral, com maior comprimento ao longo da região

    ventromediana. Valva direita com lamela proeminente na extremidade anterior. Margem

    ventral subretilínea. Extremidade anterior arredondada, com presença de um rostro bastante

    desenvolvido. Extremidade posterior arredondada, porém mais obliquamente que a anterior.

    Superfície externa coberta por pequenas papilas, lembrando estriações. Em vista dorsal,

    elíptica, com maior largura na região mediana.

    Localidade. Perfuração IPS-12-CE, Município de Jardim, Estado do Ceará, NE-Brasil.

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  • 35

    Horizonte. MP-1076, em siltito micáceo de tonalidade cinza-escura a 125,79m de

    profundidade, Membro Romualdo, Forma