Os Principios da Transformação da Vida - Capitulo-2 - 2ª Parte

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Editora Brasil Seikyo Brasil Seikyo - Edição 2231 - 14/06/2014 - Pág.B1 - Encontro com o Mestre Impresso por Marcelo Chirai (133609-6) página 1 Brasil Seikyo - Encontro com o Mestre “Os princípios da transformação da vida” [Capítulo 2] Continuação da edição 2.230. 2.4 Os dez estados de vida estão contidos no Gohonzon INTRODUÇÃO O Gohonzon, inscrito por Nichiren Daishonin, contém no centro o Nam-myoho-renge-kyo, a suprema lei da vida e do universo. A sua volta, encontram-se também os representantes dos dez estados de vida. Nesta seção, o presidente Ikeda explica como os dez estados que existem dentro de nós agem para criar valor positivo e contribuem pela nossa felicidade, manifestação do estado de buda quando realizamos nossa prática diária do gongyo e do daimoku diante do Gohonzon. Discurso do presidente ikeda Proferido no Curso de Aprimoramento da Divisão dos Jovens da SGI-Estados Unidos em 20 de fevereiro de 1990, no Centro de Treinamento de Malibu. A palavra japonesa honzon significa “objeto de devoção ou respeito fundamental”, ou seja, o objeto que respeitamos e para o qual nos devotamos tendo-o como a base fundamental de nossas vidas. Por isso, naturalmente, aquilo que estabelecemos como nosso objeto de devoção tem um impacto decisivo na direção de nossas vidas. Tradicionalmente, a maioria dos objetos de devoção no budismo era de estátuas de buda. Em alguns casos, quadros com imagens também eram comuns. As estátuas de buda não existiam nos tempos iniciais do budismo, porém, nos séculos seguintes elas surgiram em Ghandara, região noroeste da Índia, devido à influência da cultura grega. Dizem que serviram como objetos de troca no “caminho da seda” e, graças a elas e aos quadros, as pessoas se familiarizavam com a imagem do Buda, o que as faziam cultivar a fé e a reverência a ele. O objeto de devoção do Budismo de Nichiren Daishonin é o Gohonzon, um mandala inscrito com ideogramas. Mais que uma representação visual ou gráfica, diria que é a expressão mais nobre e grandiosa do mundo da sabedoria, a grandiosa sabedoria do buda original dos Últimos Dias da Lei. Por essa razão, o objeto de devoção do Budismo de Nichiren Daishonin difere fundamentalmente das outras ramificações do budismo. Os ideogramas são maravilhosos e têm um poder enorme. Por exemplo, a assinatura de uma pessoa, quando registrada, expressa a personalidade, a posição social, o poder, a condição emocional e física, a história pessoal e o carma. Da mesma forma, o daimoku de Nam-myoho-renge-kyo contém todos os aspectos do universo. Em sua obra Grande Concentração e Discernimento, Tiantai declara: “O surgimento refere-se ao surgimento da natureza essencial da Lei; e a extinção refere-se à extinção dessa natureza” (CEND, v. I, p. 225), todos os fenômenos são manifestações da Lei Mística. O verdadeiro aspecto de todos os movimentos e transformações do grande universo (todos os fenômenos) está perfeitamente representado no Gohonzon; o verdadeiro aspecto do macrocosmo, ou universo, é exatamente o microcosmo, ou vida — é o que Daishonin nos ensina em seus escritos. Além

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Impresso por Marcelo Chirai (133609-6) página 1

Brasil Seikyo - Encontro com o Mestre

“Os princípios da transformação da vida” [Capítulo 2]

Continuação da edição 2.230.

2.4 Os dez estados de vida estão contidos no Gohonzon

INTRODUÇÃO

O Gohonzon, inscrito por Nichiren Daishonin, contém no centro o Nam-myoho-renge-kyo, a suprema lei

da vida e do universo. A sua volta, encontram-se também os representantes dos dez estados de vida.

Nesta seção, o presidente Ikeda explica como os dez estados que existem dentro de nós agem para

criar valor positivo e contribuem pela nossa felicidade, manifestação do estado de buda quando

realizamos nossa prática diária do gongyo e do daimoku diante do Gohonzon.

Discurso do presidente ikeda

Proferido no Curso de Aprimoramento da Divisão dos Jovens da SGI-Estados Unidos em 20 de

fevereiro de 1990, no Centro de

Treinamento de Malibu.

A palavra japonesa honzon significa “objeto de devoção ou respeito fundamental”, ou seja, o objeto que

respeitamos e para o qual nos devotamos tendo-o como a base fundamental de nossas vidas. Por isso,

naturalmente, aquilo que estabelecemos como nosso objeto de devoção tem um impacto decisivo na

direção de nossas vidas.

Tradicionalmente, a maioria dos objetos de devoção no budismo era de estátuas de buda. Em alguns

casos, quadros com imagens também eram comuns. As estátuas de buda não existiam nos tempos

iniciais do budismo, porém, nos séculos seguintes elas surgiram em Ghandara, região noroeste da

Índia, devido à influência da cultura grega. Dizem que serviram como objetos de troca no “caminho da

seda” e, graças a elas e aos quadros, as pessoas se familiarizavam com a imagem do Buda, o que as

faziam cultivar a fé e a reverência a ele.

O objeto de devoção do Budismo de Nichiren Daishonin é o Gohonzon, um mandala inscrito com

ideogramas. Mais que uma representação visual ou gráfica, diria que é a expressão mais nobre e

grandiosa do mundo da sabedoria, a grandiosa sabedoria do buda original dos Últimos Dias da Lei. Por

essa razão, o objeto de devoção do Budismo de Nichiren Daishonin difere fundamentalmente das

outras ramificações do budismo.

Os ideogramas são maravilhosos e têm um poder enorme. Por exemplo, a assinatura de uma pessoa,

quando registrada, expressa a personalidade, a posição social, o poder, a condição emocional e física,

a história pessoal e o carma. Da mesma forma, o daimoku de Nam-myoho-renge-kyo contém todos os

aspectos do universo. Em sua obra Grande Concentração e Discernimento, Tiantai declara: “O

surgimento refere-se ao surgimento da natureza essencial da Lei; e a extinção refere-se à extinção

dessa natureza” (CEND, v. I, p. 225), todos os fenômenos são manifestações da Lei Mística.

O verdadeiro aspecto de todos os movimentos e transformações do grande universo (todos os

fenômenos) está perfeitamente representado no Gohonzon; o verdadeiro aspecto do macrocosmo, ou

universo, é exatamente o microcosmo, ou vida — é o que Daishonin nos ensina em seus escritos. Além

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disso, o Gohonzon evidencia o princípio de “unicidade de pessoa e Lei” (Ninpo ikka), expressando a

condição de vida de iluminação de Nichiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei.

O Gohonzon revelado por Daishonin é a personificação da lei fundamental do universo, que deve ser

revelada a todas as pessoas como o verdadeiro objeto de devoção.

No universo existem tanto as forças do bem como as artimanhas do mal. No Gohonzon constam os

representantes do estado de buda, como Shakyamuni e Muitos Tesouros, assim como o representante

do estado de inferno, como Devadatta — ou seja, todos os representantes dos dez mundos. Daishonin

elucida que tanto os representantes das forças do bem como das forças do mal são, sem exceção,

iluminados pela brilhante luz do Nam-myoho-renge-kyo, conforme o princípio de “nobres atributos

inerentes” (Honnu-no-Songyo) afirmando que essa é a função do Gohonzon, “Por serem nobre

atributos inerentes, são também honzon (verdadeiro objeto de devoção)” (GZ, p. 1243).

Quando realizamos o gongyo e daimoku diante do Gohonzon, as forças do bem e as do mal, inerentes

à nossa vida, começam a trabalhar como Honnu-no-Songyo. O estado de inferno com a vida de

sofrimentos, o estado de fome com incessante ânsia, o estado de asura com a sua perversa ira —

todos agem e têm a função de contribuir para nossa felicidade e na “criação de valor”.

Quando baseamos nossa vida na Lei Mística, os estados de vida que tentam nos conduzir em direção

ao sofrimento e à infelicidade tomam um rumo oposto, na direção positiva. Dessa forma,

compreendemos que os sofrimentos representam a lenha que inflama a alegria, a sabedoria e a

compaixão. A Lei Mística e a fé, juntos, formam o estopim para acender essa chama.

Além disso, quando recitamos Nam-myoho-renge-kyo, as forças positivas do universo, representadas

por todos os budas, bodisatvas, e divindades como Bonten e Taishaku, brilham ainda mais, expandindo

seus poderes e influência ilimitadamente. Os deuses do sol e da lua, que existem no microcosmo de

nossa vida, também brilharão para iluminar a escuridão. Todas as forças do bem e do mal, dos dez

estados de vida e três mil mundos num único momento da vida, juntos, trabalharão para nos conduzir

ao curso de uma vida imbuída das quatro virtudes: eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.

No decorrer de nossa existência, é natural nos depararmos com as doenças. Porém, quando nos

baseamos nos ensinamentos da Lei Mística, compreendemos que elas fazem parte da nossa vida e

jamais serão motivo de sofrimento e infelicidade. Da perspectiva da eternidade da vida, estamos, sem

dúvida, estabelecendo um “forte eu” que transborda felicidade absoluta capaz de superar quaisquer

obstáculos, desenvolvendo assim uma condição de vida ainda mais grandiosa. A vida será prazerosa e

a morte, pacífica, tornando-se uma solene partida para a próxima existência, que também será

maravilhosa.

Quando o inverno chega, as árvores ficam totalmente sem folhas ou flores. Mas, quando a primavera

chega, elas evidenciam sua energia vital que faz florescer novas folhas e belas flores. De forma

semelhante, a morte faz parte do processo da vida, uma transição para a próxima missão de vida, que

logo se inicia com o máximo impulso de vida.

2.5 Jamais procure o Gohonzon fora de si mesmo

INTRODUÇÃO

Muitas pessoas acham que o Gohonzon é superior e mais grandioso que si próprias. Porém, o

presidente Ikeda expõe o profundo significado dos ensinamentos de Nichiren Daishonin de que o

Gohonzon existe dentro de nós. A grande energia vital e a infinita sabedoria estão contidas em nós

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mesmos e podemos manifestá-las livremente por meio da nossa prática da fé.

Discurso do presidente ikeda

Proferido no Encontro Alusivo ao Dia 2 de Abril, falecimento do presidente Josei Toda, com a

presença de representantes de divisões, realizado em 3 de abril de 1993, em Tóquio.

Em qualquer religião, o objeto de devoção é de fundamental importância. Sendo assim, qual é o

verdadeiro significado do objeto de devoção — o Gohonzon — no Budismo de Nichiren Daishonin?

Em O Aspecto Real do Gohonzon, Daishonin diz: “Jamais busque este Gohonzon fora de si mesmo. O

Gohonzon existe apenas dentro do corpo de pessoas como nós, mortais comuns, que abraçam o Sutra

do Lótus e recitam Nam-myoho-renge-kyo” (WND, v. 1, p. 832). Toda Sensei após ler esta frase

explanou o seguinte:

Podemos orar ao Dai-Gohonzon

imaginando que exista fora de nós, a verdade é que ele reside dentro de nós que recitamos

Nam-myoho-renge-kyo com fé no Gohonzon das Três Grandes Leis Secretas. Essa afirmação de

Daishonin é realmente inspiradora.

Aqueles que ainda não possuem fé na Lei Mística são os que estão no “estágio de ser um buda na

teoria” [primeiro grau da escala de seis da Escola Tendai] e se acredita que a natureza de buda se

manifesta vagamente, mas sequer a buscam. Nós [membros da Soka Gakkai], ao contrário, oramos

diante do Gohonzon e, por essa razão, estamos no estágio de ouvir o nome e as palavras da verdade

[segundo grau da escala de seis da Escola Tendai], a qual mostra que o Gohonzon já reluz

brilhantemente dentro de nós.

Porém, a intensidade do brilho difere de acordo com a força e a fé de cada pessoa. Podemos

associá-la a uma lâmpada elétrica; uma lâmpada de alta potência brilha forte, enquanto a de baixa

potência emite uma luz fraca.

Tomando essa analogia como exemplo, aqueles que ainda não abraçaram a Lei Mística são como uma

lâmpada que não está conectada a fonte de energia. Para nós, praticantes da Lei Mística, a lâmpada é

o Gohonzon ligado à fonte e por isso nossa vida brilha intensamente.

Tudo depende da nossa fé. Quando possuímos forte fé, nossa vida se torna uma “fonte inesgotável de

benefícios”, justamente como Daishonin descreve o Gohonzon. Ele afirma: “Este Gohonzon também se

encontra unicamente nos dois ideogramas com os quais se escreve fé”1 (GZ, p. 1244).

Uma pessoa com uma prática da fé forte jamais se vê num beco sem saída. Independentemente dos

fatos de sua vida, ela os transforma em benefícios e em felicidade. No curso da vida, naturalmente

encontraremos diversos tipos de problemas e sofrimentos, mas, sem dúvida, também somos capazes

de transformá-los em oportunidades para desenvolver uma condição de vida ainda mais elevada. Por

essa razão, para todos os discípulos do Budismo de Nichiren Daishonin, tudo passa a ser fonte de

benefício e felicidade no nível mais profundo e a palavra “infelicidade” não faz parte do vocabulário.

Ao final de seus Comentários sobre “O Objeto de Devoção para Observar a Mente”, Nichikan Shonin

(1665–1726) escreveu:

Ao abraçarmos e manifestarmos nossa fé a este Gohonzon e recitarmos Nam-myoho-renge-kyo, nosso

ser se tornará instantaneamente a entidade dos três mil mundos num único momento da vida em

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unicidade com o fundador Nichiren Daishonin. Este é o verdadeiro sentido da frase “ele (o buda

original) ordenou aos quatro grandes bodisatvas colocarem-na (a gema do ichinen sanzen) em volta do

pescoço dos que vivem nos Últimos Dias (uma era em que as pessoas ignoram a Lei verdadeira)”

(END, v. I, p. 93). Além disso, deve-se dedicar à própria força da fé e da prática, após observar o poder

do Buda e o poder da Lei, para que não tenha arrependimentos para o eterno futuro, vivendo esta

existência totalmente vazia e sem sentido (Coletânea de Comentários, p. 548).

No momento em que abraçamos nossa fé no Gohonzon e recitamos Nam-myoho-renge-kyo, todo o

nosso ser nesse exato instante se torna a entidade dos três mil mundos num único momento da vida e

manifestamos a condição de vida do buda Nichiren Daishonin. Foi com esse propósito que Daishonin

inscreveu o Gohonzon, e justamente nessa ação encontramos a essência do Budismo de Nichiren

Daishonin.

A fé nos capacita a manifestar o Gohonzon que existe dentro de nós e nos possibilita evidenciar o

estado de buda, fazendo-o brilhar como um belo diamante.

No âmago da nossa vida, possuímos uma infinita energia vital e ilimitada sabedoria. Somente por meio

da fé seremos capazes de manifestá-las livremente.

Toda Sensei sempre dizia: “Nós manifestamos o que há dentro de nós. Não é possível manifestar o que

não temos!”. Assim como o forte e puro estado de buda, os fracos e medíocres estados de inferno,

fome e animalidade também existem em nossa vida e se manifestam em resposta às causas e às

condições do nosso ambiente.

A vida é única e eterna pelas três existências — passado, presente e futuro; por essa razão, nosso

carma de existências passadas também pode vir à tona no presente em forma de problemas e

sofrimentos. Mas, assim como as causas dos sofrimentos se encontram em nossa vida, possuímos o

poder de transformá-los em verdadeira felicidade — este é o real poder do estado de buda.

O presidente Toda afirmou que, na essência, o ser humano é a manifestação do que existe em seu

interior, nem mais, nem menos.

Por isso, é essencial que cultivemos “a terra de nossa vida” e finquemos profundamente “as raízes da

felicidade”. Devemos evidenciar o Gohonzon que existe dentro de nós para criarmos um forte eu tal

como uma grande árvore inabalável. Em termos de condição de vida, o resultado disso certamente será

o surgimento de qualidades e comportamentos humanos de excelente nível. Em termos de aspectos do

cotidiano, será a manifestação de benefícios e boa sorte.

O ponto crucial é possuir uma forte fé. Nichiren Daishonin diz: “O que importa é o coração” (WND, v. 1,

p. 1000).

O que importa não é a forma, posição social ou fortuna de uma pessoa, mas sim a forte fé que possui

em seu coração.

2.6 Gohonzon é o espelho que reflete

a verdade de nossa vida

INTRODUÇÃO

Nesta seção, o presidente Ikeda explana que o Gohonzon é como um espelho que reflete a verdadeira

natureza da nossa vida. É a expressão máxima da sabedoria do Buda que capacita todas as pessoas a

atingir a iluminação por meio do desafio à sua realidade.

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Discurso do presidente ikeda

Proferido na Reunião Geral da Divisão Feminina da SGI-Estados Unidos no campus da

Universidade Soka,

de Los Angeles, Calabasas, em 27 de fevereiro de 1990

Hoje, gostaria de discorrer sobre um ponto importante, referente à nossa atitude na fé, usando a

analogia do espelho. No budismo, espelhos têm vários significados e geralmente são utilizados para

explicar e ilustrar aspectos das diversas doutrinas. Por isso, quero discutir brevemente um exemplo do

espelho em nossa prática budista.

Nichiren Daishonin diz: “O espelho de bronze, ao ser polido, reflete o aspecto físico de uma pessoa,

mas não o seu coração. Ao contrário, o Sutra do Lótus reflete, com clareza, não apenas o aspecto

físico de uma pessoa, mas também o seu coração, e ainda o carma do passado, assim como o do

futuro” (GZ, p. 1521).

Um espelho, mesmo de bronze, ao ser polido, reflete o aspecto físico de uma pessoa. O espelho do

budismo, no entanto, revela o verdadeiro aspecto da nossa vida e reflete com nitidez o carma do

passado e do futuro.

O espelho reflete o que é visível aos olhos, enquanto o espelho do budismo reflete a vida que é

invisível aos olhos. O espelho, na realidade, é produto da sabedoria humana criado para refletir a luz e

imagens de objetos e pessoas. O Gohonzon, por sua vez, é a expressão máxima da sabedoria do Buda

que tornou possível a iluminação das pessoas pela manifestação do verdadeiro aspecto da própria

pessoa com base nas leis da vida e do universo. Assim como o espelho é indispensável para revelar

nosso aspecto, precisamos do espelho da vida que nos permita observar a nós mesmos e a nossa vida

para edificar uma existência mais bela e feliz.

De acordo com a frase do escrito “espelho de bronze, ao ser polido”, citada aqui, antigamente os

espelhos eram produzidos com metais polidos, como cobre, bronze ou mesmo ferro e, ainda, com a

mistura de estanho. Diferentemente dos atuais, que são produzidos a partir do vidro, a imagem refletida

por aqueles de bronze ao serem polidos não era nítida. Além disso, tais espelhos ficavam facilmente

embaçados e necessitavam de constante polimento para serem utilizados. O polimento exigia uma

técnica especializada e quem a detinha era um “polidor de espelhos”. Em Kamakura, na época em que

Nichiren Daishonin viveu, os espelhos eram de metais.

No escrito Atingir o Estado de Buda Nesta Existência consta: “Tal situação se assemelha a um espelho

embaçado que brilhará como uma joia quando for polido. A mente que se encontra encoberta pela

ilusão da escuridão inata da vida é como um espelho embaçado, mas ao ser polida, tornar-se-á como

um espelho límpido, que refletirá a natureza essencial dos fenômenos e da realidade” (CEND, v. I, p. 4).

Assim como um espelho embaçado ao ser polido brilha como uma joia, a vida na escuridão inata, se for

“polida”, refletirá com clareza a luz da Lei Mística. Portanto, a vida de todas as pessoas é, na realidade,

um espelho límpido e brilhante. Se esse espelho for polido, a vida será a de um buda, do contrário, se

ficar embaçado, será a de um mortal comum na escuridão inata. Polir a vida é orar a Lei Mística. Não

apenas devemos realizar essa prática para nós mesmos, como também ensinamos a Lei Mística para

outras pessoas e nos esforçamos para fazer brilhar o “espelho da nossa vida”. Nesse sentido, podemos

até dizer que somos “mestres polidores dos espelhos da vida”.

Apesar de tudo, o ser humano geralmente pode até embelezar o rosto, mas polir a vida é muito difícil.

Uma mancha no rosto o incomoda, porém é indiferente com a mancha da alma. (risos)

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No romance O Retrato de Dorian Gray, do escritor inglês Oscar Wilde (1854–1900), o protagonista,

Dorian Gray, um jovem bem apresentado e de rara beleza, era chamado de “jovem Adônis”. Para

eternizar sua beleza, certo pintor fez o seu retrato. Um excelente trabalho que expressava também

espetacular beleza e juventude. No entanto, ocorreu um fato curioso. Influenciado por um amigo, Dorian

Gray foi gradativamente percorrendo um caminho de prazeres e de maldades. Uma vida diária de

imoralidades. Apesar de tudo, sua beleza não mudava; continuava radiante. Mesmo após muitos anos,

sua juventude permanecia intocada. Mas, aos poucos, seu retrato foi se tornando feio como se

acompanhasse a vida degenerada de Dorian Gray.

Ele brincou com os sentimentos de uma jovem e a levou ao suicídio. Naquele momento, sua expressão

no retrato era de tamanha crueldade demoníaca que causava medo apenas de olhar a sua imagem.

Dorian Gray continuava com suas ações maldosas, o que provocava uma mudança também em seu

retrato. Ele começou a sentir medo. Esse “rosto de sua alma”, horrível, permaneceria eternamente após

sua morte, expressando a realidade com eloquência e fidelidade. E não teria sentido nem mesmo se

ele se tornasse uma pessoa de bem. Então, Dorian Gray decidiu: “Vou destruir este retrato! Se não

houver esta imagem, posso me separar do passado e me tornar uma pessoa livre”. E perfurou o retrato

com uma faca.

Naquele instante, ao ouvir os gritos, as pessoas correram e encontraram o retrato do belo e jovem

Dorian Gray e um velho caído à frente do quadro. Era o aspecto horrível de um homem (Dorian Gray)

que tinha em seu peito uma faca cravada. Ou seja, o retrato era a “imagem da sua vida” e a “imagem

da sua alma”, e era a expressão das causas e efeitos de suas ações. O rosto pode ser maquiado, mas

a alma, jamais, pois a lei da causa e efeito é absoluta.

O budismo cita o princípio de Intoku yoho — “virtude invisível e a recompensa visível”, no qual as

virtudes invisíveis são mais importantes que as visíveis. No mundo do budismo, ninguém escapa dos

efeitos de suas ações — sejam boas ou más; portanto, não há significado nenhum em aparentar o que

não é. A alma é esculpida pelas boas e más causas de uma pessoa e reflete no seu próprio aspecto.

Na Inglaterra, há um ditado: “O rosto é o espelho da alma”. Da mesma forma quando se olha no

espelho para se maquiar, para embelezar a alma, é necessário ter um espelho límpido para refletir as

profundezas da vida. Este espelho não é outro senão o objeto de devoção para observar a mente

(Gohonzon).

No escrito O Objeto de Devoção para a Observar a Mente, Nichiren Daishonin diz: “Somente quando

olhamos num espelho limpo conseguimos ver, pela primeira vez, que possuímos todos os seis órgãos

dos sentidos” (CEND, v. I, p. 373). O espelho limpo é o que nos mostra os seis órgãos dos sentidos:

olhos, ouvido, nariz, língua, corpo e coração. De forma semelhante, “observar a mente” significa

“observar” os dez estados de vida, especialmente o estado de buda. E o Gohonzon é o objeto de

devoção para observar a mente, que Daishonin estabeleceu para toda a humanidade.

Nichikan Shonin, em seu comentário sobre esse escrito, declarou: “O verdadeiro objeto de devoção

(Gohonzon) pode ser comparado a um límpido espelho”.

No Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Nichiren Daishonin afirma: “Os cinco

ideogramas do Myoho-renge-kyo refletem todos os fenômenos do universo, sem exceção” (GZ, p. 724).

O Gohonzon é o mais límpido de todos os espelhos e que revela o universo exatamente como ele é.

Quando oramos a este Gohonzon, somo capazes de evidenciar o estado de buda, a “observação do

verdadeiro aspecto da nossa vida”. A determinação da nossa prática da fé é revelada fielmente no

Gohonzon e reflete no grande universo. Este é o fundamento do princípio de ichinen sanzen (três mil

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mundos num único momento da vida).

Para Abutsu-bo, seu discípulo na Ilha de Sado, Nichiren Daishonin escreveu: “Talvez o senhor acredite

que tenha feito oferecimentos à torre de tesouro d’Aquele que Assim Chega Muitos Tesouros, porém,

isso não é verdade. O senhor fez oferecimentos a si próprio” (END, v. 5 p. 9).

A atitude de orar ao Gohonzon e praticar solenemente a fé, propriamente, é adornar a própria torre de

tesouro. Quando oramos ao Gohonzon, imediatamente, todos os budas e bodisatvas do universo

manifestam sua proteção. A calúnia produz exatamente o efeito contrário. Além disso, o “coração” é

muito importante. A determinação da prática da fé é muito sutil. Por exemplo, existem momentos em

que, mesmo durante a realização do gongyo ou na luta pelo kosen-rufu, nós nos sentimos relutantes.

Ocorre que esse estado de espírito é refletido fielmente no grande universo como um espelho. Nesse

caso, as entidades protetoras do universo também se sentirão relutantes em desempenhar suas

funções e consequentemente falharão em manifestar sua proteção. (risos)

Por outro lado, quando se realiza alegremente o gongyo e conduz as atividades com determinação para

acumular boa sorte em sua vida, as entidades protetoras do universo sentirão prazer em desempenhar

valentemente suas funções. De todo modo, as ações realizadas espontaneamente e com alegria se

reverterão em benefício próprio. Já que vai realizar é melhor que seja deste modo.

Se praticar de forma negligente com o pensamento de que é pura perda de tempo, sem fé e com

lamentações, tudo isto destruirá a boa sorte. Se uma pessoa continua a praticar deste modo, ela não

experimentará os notáveis benefícios, e isto servirá somente para aumentar sua crença de que a

prática é em vão. Isto se tornará um círculo vicioso. Quando a pessoa realiza uma prática da fé

duvidando dos resultados, esta fraca determinação é refletida no espelho do universo e os benefícios

serão insatisfatórios. Ao contrário, quando a pessoa se levanta com forte convicção, ela acumulará

infinita boa sorte.

Portanto, a atitude mais inteligente é controlar o próprio coração e empenhar-se em elevar sua fé com

jovialidade e vigor. Quando assim o fizer, tanto a vida como tudo que o cerca se desenvolverão

amplamente, e cada ação que tomar se tornará uma fonte de benefícios. A compreensão sutil desta

determinação (ichinen) é a chave para a fé e para se atingir o estado de buda nesta existência.

Um ditado russo diz: “De que vale criticar o espelho se o rosto é torto”. (risos) De maneira semelhante,

a felicidade ou infelicidade de uma pessoa é o resultado do reflexo do equilíbrio das causas boas ou

más acumuladas na própria vida. Não se deve culpar ninguém. Isto é muito mais verdadeiro no mundo

da prática da fé.

Uma comédia clássica japonesa conta a seguinte história. Havia um vilarejo onde ninguém possuía

espelhos. Naquela época, espelho era um artigo de luxo. Um marido que retornou da capital trouxe de

presente para a esposa um espelho. A mulher, que pela primeira vez na vida se viu num espelho,

questionou a imagem refletida: “Quem, afinal, é esta outra mulher? Você a trouxe da capital?” Então,

uma tremenda discussão teve início. Embora seja uma conhecida história, é fato que muitas pessoas

tornam-se zangadas ou aflitas acerca dos fenômenos que, na realidade, são reflexos de sua própria

vida — seu estado de espírito e a causa que criaram. Como a esposa na história que exclamou:

“Quem, afinal, é esta outra mulher?”.

Devido a esta ignorância, diante do “espelho da vida” do budismo, tais pessoas são incapazes de ver a

si mesmas como realmente são. Se a pessoa sequer conhece a si própria, não poderá conduzir outras

pessoas para o correto caminho da vida. Tampouco será capaz de perceber a essência da verdadeira

natureza das ocorrências na sociedade.

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Nesta edição, concluímos o Capítulo 2 do tema “Felicidade”. O Capítulo 3 será publicado em julho.

Nota: 1. A palavra japonesa que designa “fé” (shinjin) é formada por dois ideogramas chineses.

Presidente Ikeda e sua esposa, Kaneko, realizam um

encontro inesquecível com as integrantes da DF da

SGI-Estados Unidos em fevereiro de 1990, no Centro de

Treinamento de Malibu, Califórnia

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O JOJU GOHONZON DA SOKA GAKKAI está

consagrado no Auditório do Grande Juramento pelo

Kosen-rufu. Acima, primeira reunião geral com

representantes da SGI de vários países (nov. 2013)