OS OLHOS DA SOLIDÃO -...
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Valter da Rosa Borges
Os Olhos da Solidão
Recife Edição do Autor
2014
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Copyright © 2014, Valter da Rosa Borges
Projeto gráfico-editorial: Salete Rêgo Barros
B732o Borges, Valter da Rosa, 1934-
Os olhos da solidão / Valter da Rosa Borges. M – Recife: Ed. do Autor, 2014.
165p. 1. POESIA BRASILEIRA – PERNAMBUCO. I. Título. CDU 869.0(81)-1 CDD B869.1
PeR – BPE 14-288
Produção:
Novoestilo Edições do Autor Rua Sérgio Magalhães, 54 – Graças – Recife-PE
Fone 81 3243 3927 [email protected]
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Na solidão, vejo melhor. As pessoas me distraem o olhar.
Mais pesada que o não, Mais pesada que a solidão
É a vida vivida em vão.
A solidão não aplaca, Do vão prazer, a ressaca.
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A excessiva convivência com os outros É nociva. Mas, a solidão desnecessária É pior.
A solidão, às vezes, É quase uma pessoa.
Na solidão ensurdeço-me Dos ruídos do mundo.
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Somente na solidão A sinceridade não é perigosa.
A vida a dois: A mais difícil
Das relações humanas.
Eu tenho uma fé profana Nas pessoas que amo.
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Pensadores petulantes: Não sabem administrar sua vida E querem organizar o mundo.
Inventario-me. Sou o único herdeiro
De mim mesmo. Filosofo o cotidiano. Afinal, eu vivo aqui.
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Livro novo, objeto sensual. Prazer da visão Do tato e do olfato, Mas nem sempre da mente.
Não somos iguais. Apenas semelhantes
Ou diferentes.
Árvores, parentes vegetais. Por isso, essa alegria verde, Quando estou entre elas.
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Sinceridade: às vezes, desagradável. Às vezes, perigosa.
Sou otimista ou pessimista Em cada situação específica.
O amor é o regaço Onde melhor descansamos Do cotidiano cansaço.
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O adjetivo: uma opinião. O substantivo é neutro.
Não perceber o tempo. Será isso a eternidade?
Nas catedrais das certezas Sou, às vezes, iconoclasta.
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Cada poeta é herdeiro De todos os poetas mortos. Dispensa-se o inventário.
Todos os versos possíveis Ainda não foram escritos.
Precisamos de mais poetas. Não visito poemas: Eles é que me visitam Sem avisar-me.
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A poesia - ópio de palavras. Quem a experimenta Se vicia.
Ninguém é sábio Por antiguidade.
Mais do que conhecimentos, Acumulei dúvidas.
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A televisão é o circo Da festiva mediocridade.
A mentira é como o Bombril: Tem mil e uma utilidades.
A juventude é de graça. Mas a velhice tem preço.
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Nem sempre estamos de acordo Com o que quer nosso corpo
Mesmo nas árvores velhas Se abrigam
Os passarinhos. Um dia, descobri em mim O adulto escondido. Foi o meu pecado original
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Há quem viva esse contraste: Corpo em roupas de luxo, Alma coberta de traste.
O cochilo é um sono anão. Não há poder maior Do que o de quem É amado por muitas pessoas. Das ditaduras, os lacres Ocultam os massacres.
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O amor tem medida: Comporta poucas pessoas.
A mediocridade improdutiva Se beneficia
Dos frutos da inteligência. Não há ninguém que sucumba Vitimado por macumba.
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Tudo o que não fomos São fantasmas de corpos Que não nasceram.
No ócio criativo Há muito o que fazer.
Mas o trabalho atrapalha. Há momentos em que sou Paisagem que observa.
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Há fatos viscosos, Que ficam grudados Na memória.
A presença da pessoa amada Ocupa todo nosso ser.
Já não somos nós. De Ícaro ao avião, O sonho de voar Não foi em vão.
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Uma casa povoada De retratos de pessoas mortas. Fantasmas protetores Habitando as paredes.
Se o sapo é poeta (como um poeta me disse),
Quem traduzirá seus coaxos? Não adianta o lamento: A cova é O arquivo do esquecimento.
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No jardim do mosteiro As plantas parecem Monges vegetais.
Em minha torre de marfim, Plantei um jardim
Dentro de mim. A mão se abriu Como uma flor desabrochando No galho do braço.
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Cada vez mais coisas. As pessoas Já não são importantes. Aposentado o cão. O melhor amigo do homem – O robô.
Quanto mais pessoas, Menos pessoas visíveis.
Sexo fácil. Amor difícil. Paixão “fast-food”.
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Os rituais induzem curas. Felizes os pobres de espíritos: Não necessitam pensar.
Com as palavras, Criamos o nosso mundo.
O Paraiso era ágrafo. Apiedo-me das pessoas, Que são imunes à arte. Não sabem o prazer dessa doença.
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Nas coisas que amamos, Deixamos nossa presença. No futuro, serão fantasmas, Assombrando seus novos donos.
Sentia-se ignorado Com a planta que nasceu
No canto escuro de uma parede.
A procissão desfila pelas ruas. Uma enorme serpente, Feita de pessoas de fé.
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As igrejas barrocas me comovem. Dispensam teologias.
A alma se alimenta De tudo o que ama.
Mesmo a simples impressão De que somos amados Nos faz felizes.
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Tudo agora é quântico. O que será o amor quântico?
A ideia é o fato Que ainda não nasceu.
A luz filtrada, Através dos vitrais, É mais do que a luz que vemos.
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Uma saudade de chumbo Faz a alma cifótica.
Há paixões vitalícias. Só nos desocupam
Quando morremos.
Os álbuns guardam Os que já fomos E os que já foram.
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Não confie demais Nos seus trilhos. Os trens descarrilham
É melhor a justa fúria Do que a inútil lamúria.
Tédio: a vida em suspensão. Aguarda-se o seu retorno.
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Pior que o amor desfeito, É o amor que não foi.
Assim como a escuridão, O excesso de luz nos cega.
Noite insone. Busco, no sonho, O meu clone.
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Sou filho da criança que fui. Por isso sinto sempre Saudades do meu pai.
Meditar é estar ausente, Mesmo na companhia
Dos outros. Como um pianista, a chuva Toca seus dedos de água No teclado das telhas.
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A torneira do tempo Gotejando os segundos. Priva-nos de ouvir A eternidade.
Tão íntimos Que não mais se percebem
E monologam entre si. A velha mobília Guarda no seu verniz A memória da família.
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A luz do Sol me alumbra; Mas meu misticismo Aflora na penumbra.
Quem não teve uma paixão Não sabe o que perdeu.
E quem perdeu uma paixão Nunca mais a esqueceu.
A dúvida nos liberta Do cárcere da certeza.
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Somos temporais. Não podemos saber O que não é tempo.
Vizinhança vertical. Moradores invisíveis
Se encontram no elevador. Será que, no futuro, As pessoas serão apenas Quimicamente felizes?
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O corpo da bailarina, Em voo de ave, fascina.
Às vezes, ser irônico, Funciona como um tônico.
A sereia é um peixe Que, da mulher que quis ser, Só conseguiu a metade.
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Vivemos num mundo de coisas. Quase não vemos pessoas.
Sejamos, na vida, mais Do que simples comensais.
Incomoda-me que as pessoas Esperem algo de mim. Não quero essa obrigação.
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A velhice só é boa Quando nos sentimos livres Como as crianças.
Se, um dia, houver autoclonagem, O novo corpo levará o velho
Saudosamente para o cemitério. Não há agasalho Para uma alma Nua de afetos
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Um coração de granito, Da pressão da dor do mundo, Não sente o atrito.
Um coração volúvel É, nas paixões, solúvel.
Almas de silício Comprazem-se no cilício.
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A experiência da ascese Dispensa a exegese Da teologia.
A semente sonha a árvore Que, um dia, será.
A árvore sonha a semente Da qual ressuscitará.
A terra – a anti-mãe – Devora seus filhos mortos.
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Do que se amou, pesa a carga De uma saudade amarga! Viver o mistério é mais importante Do que a tentativa de explicá-lo.
Sempre fazia as coisas Sem escutar a voz do coração.
A mente era surda. O milagre é o acaso disfarçado.
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Lembrar os amigos mortos Sempre nos faz bem. Mesmo que não haja sobrevivência.
Novos amigos Para ocupar o afeto
Dos amigos falecidos. Era um materialista. Um dia, contraiu a fé E não se curou.
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O girassol, Apaixonado, Só olha o Sol.
Saudade do que fui. Do que não fui.
Do que não serei. Desconfio de elogios. Fica-me sempre a dúvida: Gentileza ou hipocrisia?
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Queria ter muitos braços Como o polvo Para abraçar-te.
A chuva me molha, Mas a saudade
Persiste seca.
Andam sempre de mãos dadas. O amor os tornou xifópagos.
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Um dia, jovens, se encontraram. Namoraram, noivaram, casaram. Tiveram filhos, netos, bisnetos. Envelheceram e morreram. Ninguém se lembra mais deles.
Há momentos
Em que o eu me incomoda. Busco o vazio.
Obrigo-me ao mínimo. É o meu direito.
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Jesus, braços abertos, No Corcovado, Não o triste Jesus Crucificado.
Tudo acontece Somente uma vez.
Inútil a imitação. Se o prazer gangrena, Viver não vale a pena.
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Só há gurus Para os guris.
A manhã nasceu muda. O galo da vizinhança
Morreu. Ao chamego. Ao aconchego. Não há quem não tenha apego.
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A alma do cão ronda A casa onde mora O saudoso dono.
Como será, no futuro, O amor de uma máquina,
E o amor a uma máquina?! Olhou uma mulher e viu Uma antiga namorada Vestida de passado.
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Há momentos em que nossos sorrisos Nos fazem parecer uma criança feliz Escutando o som de guizos.
Procuro ser muitos Para não me cansar
De ser um só. Pedaços de tempos Irreconhecíveis: Falha da memória.
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O monge pudendo, com as tentações da carne, não está podendo.
O sapo apaixonado Só vê a companheira.
Os insetos comemoram. Há sempre um instante, Que nos deixa uma nódoa Que jamais se apaga.
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A densa fumaça De uma súbita saudade A visão embaça.
No banho, ela sente, Na carícia do sabonete,
Uma paixão ausente. É preciso saber perder, Sem se arrepender, Arriscar é necessário.
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A ardente paixão derrete A alma, como se ela fosse De espermacete.
O peixe no aquário Sonha oceanos.
A morte não tem dó. Transforma tudo o que é vivo Na igualdade do pó.
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Pobres átomos Perpetuamente presos Nas múmias.
Decidi a cremação Para a libertação imediata
Dos átomos que fui. Ninguém se perdoa Do tempo perdido Na juventude.
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O autêntico herói Na dor se constrói.
Nada existe em vão. De que serviria a luz
Sem a escuridão?! Nada está perdido, Mas desconectado De nossa memória.
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Um dia, voltaremos ao mar De onde saímos. A terra já não nos caberá.
Multidão exaltada: Corpos sem cérebro.
A arte não explica o mundo: Embeleza-o.
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O desejo de paz Jamais se esgota E ressuscita Em cada derrota.
Do amor que me tinhas (Sempre soube) Era tão imenso
Que em mim não coube. De tudo que me alimento, Incluo meu pensamento.
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A Lua Cheia sua Sua luz sobre a rua.
Árvore do Universo, onde Começa a tua fronde?
Dos mistérios, busca-se a causa, Em séculos de indagação Sem pausa.
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No êxtase da música, Não penso em Paraíso: Estou nele.
No mais profundo silêncio, Podemos escutar
O vozerio dos átomos E o diálogo das galáxias.
Ninguém é Atlas Para sustentar O peso do mundo.
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Quem sou, quando sonho? O meu anti-eu, Suponho.
Somos átomos passageiros Que se reproduzem.
A morte – átomos estéreis. Na sucessão dos fatos. Muitos serão esquecidos, Ou nem sequer conhecidos.
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Não se prepare para o poema: Ele é uma visita inesperada.
Os vivos e os mortos, Juntos no mesmo álbum.
Nunca estão sozinhos. Não que as coisas tenham alma, Mas elas fazem parte da família Quando são estimadas.
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Se tudo muda, não somos confiáveis. Por que os fatos do mundo o seriam?
Precisamos de máscaras Para conviver com outros
Em paz. Um mundo melhor: uma promessa milenar. Será, um dia, cumprida? Até hoje, profetas e salvadores se enganaram. Ou nos enganaram?
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Inquilinos da vida, Um dia, seremos despejados. E sem aviso prévio
O ópio do poder. Os ditadores
Sempre estão drogados. Templos, igrejas e mesquitas Oferecem salvação. Os crentes São clientes fieis.
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Somente a riqueza material é visível. Por isso atrai as pessoas.
Prevemos o futuro? Ou o inventamos? Utopia – imaginário lugar Dos desesperados do mundo.
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Há momentos em que fico a esmo, Perdido no infinito de mim mesmo.
O vilão é tão famoso quanto o herói. E, às vezes, mais admirado.
Serão sempre os gênios As luzes dos milênios. Mas o povo é cego.
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O horizonte parece Uma ponte curva Sem ninguém.
Este mundo é um vasto Campo de bois no pasto.
O mal no mundo. Inclusive, Em nosso íntimo vive.
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Somos um ourives Que nem sempre sabe lapidar-se.
As coisas abandonadas Pelo dono que morreu.
As coisas órfãs... À espera do dono que morreu.
Lidar com os fatos, Com as pessoas, Com nós mesmos. O que é mais difícil?
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Enterro do coveiro: Vingança dos vivos.
Quase sempre faltam pregos Para crucificar tantos egos.
É na velhice Que os dias são preciosos. A juventude é pródiga.
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A castidade deveria ser Um dos pecados mortais.
O robô que se fabrica É o mesmo que há em nós.
Nem sempre temos escolhas: A ventania do acaso Nos arrasta como folhas.
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Moderno Prometeu, O tempo nos acorrentou Nos relógios. Quem nos libertará Do abutre de cada dia?
Infeliz matrimônio. Vida em manicômio.
O mais implacável ateu É aquele que, um dia, creu.
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Os médicos estão perdendo Seu poder de feiticeiros As máquinas os substituem.
A dor nos ensina. Colhei-a, Mesmo que seja a dor alheia.
Quando me faço vazio De mim mesmo, me recrio.
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Das paixões, as brasas Queimam as nossas asas.
A morte come O corpo, o nome
E o renome. Nem sempre os bens Nos fazem bem.
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Dizem que não morremos, Mas nos encantamos. Quem nos desencantará?
O pesadelo É o sonho
Que enlouqueceu. O TALVEZ sempre no muro: Não decide ser sim, Não decide ser não.
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No nosso DNA, A memória Milenar da humanidade.
Pietá: um amor de mãe Feita de mármore.
Na fúria da ventania, A árvore chora folhas.
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A interminável gangorra: A vida sobe, a morte desce, A vida desce, a morte sobe.
Das altas montanhas, no pináculo, A paisagem é sonho e espetáculo.
Ao meio-dia, o Sol Cobre de luz a Terra Com invisível lençol.
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A solitária moldura De um retrato ausente.
Um silencia denso, Imenso, esmagador,
Sem ninguém. Alice, onde é a porta do espelho? Estou preso na realidade.
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A presença de tua ausência Irreversível Não me abandona.
Às vezes preciso Fincar-me em mim
Para não sair do agora. Acometeu-me um perfume Sem onde e sem quando. De que ou de quem?
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A liberdade nunca deve ser maior Do que o que podemos fazer com ela. Liberdade que sobra é inútil.
Nem sempre estamos no ponto, Ou não estamos prontos
Para um amor repentino.
Esvaziei todas as gavetas. Joguei lembranças no lixo. Mas a memória tudo guardou.
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A pior lepra é a da alma: Contagia as mentes predispostas.
Não sei ficar sisudo. Contraria o que sou.
Ainda não vi o rosto De um santo sorridente. Sorrir é pecado?
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Valter da Rosa Borges
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Os índios fumavam O cachimbo da paz. Por falta de cachimbo, O mundo não tem paz.
Para preservar O patrimônio do meu passado,
Tombei algumas memórias. A casa em que eu nasci, tinha um sótão. Era o lugar mais alto da minha infância De onde eu espiava o mundo.
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O tempo está levando os meus cabelos... Sinto uma conformada saudade capilar.
Quando, pela primeira vez, vesti calças compridas,
Me senti orgulhoso De ser promovido a rapaz.
Compartilhamos memórias. Quando um de nós morre, Perdemos uma parte delas.
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Valter da Rosa Borges
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Em cada amigo meu, Há uma versão diferente de mim. Nem mesmo, em mim, sou um.
Ainda bem que a memória é gasosa. Se fosse sólida, nos esmagaria.
As lágrimas represadas Apodrecem na alma.
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Excesso de opções Nos confundem: Podemos fazer escolhas erradas.
Para conhecer meu íntimo, Fico, cada vez mais, ínfimo.
Mesmo na paisagem De um poluído rio, A beleza das palafitas.
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Lama e despejos. E a alegria Dos caranguejos.
A lagartixa, Balançando a cabeça,
É um sim réptil. O voo pequeno Das aves na gaiola. Asas frustradas.
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O papagaio do bordel Falava o nome das putas E conhecia os clientes. Quando morreu, Ninguém fez sexo Naquela noite. O bordel estava de luto.
Marujos americanos desembarcados Conquistavam as pensões alegres
Do bairro do Recife. Clientes brasileiros dispensados.
No cemitério, o cão Vigia a cova do dono. Espera a ressurreição?
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Os sonhos são como os cabelos, Mesmo cortados, Crescem de novo.
Os becos estreitos: As pessoas mais próximas,
Enquanto passam. A doença tem suas compensações. O enfermo É o centro das atenções.
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No quintal da minha casa. Em noite de Lua Cheia, A velha benzedeira, Maria do Terço, (Molhada de luar), Contava à meninada embevecida Histórias que ela inventava.
Os fortes trovões do Recife, Anunciados por relâmpagos.
Eram meu êxtase. Hoje, morreram quase todos
E os que restaram são raquíticos. A grande cheia do Recife. Os bairros alagados. Na Estrada dos Remédios, Uma placa na casa, após a cheia: “Vende-se essa merda”. Tapacurá nos salvou.
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Os bondes não existem mais. Assim como os navios, Deveriam existir Bondes-fantasmas, Circulando Nas madrugadas do Recife.
O general Dantas Barreto, Quando virou avenida,
Rasgou, pelo meio, o corpo Do bairro de São José.
E demoliu, com fúria tratoral, A Igreja dos Martírios.
As santas e os santos presos No santuário da casa. O que eles fizeram?
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Na minha juventude, os quintais Me causavam surpresas vegetais.
Os fantasmas abandonaram o Recife. Os vivos ocuparam
Todos os espaços da noite. Na Natureza, não há sucatas: Nós é que inventamos o inútil.
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Música, o unguento Que alivia o sofrimento.
Nos lagos mansos, Nadam serenos
Os cisnes e o gansos. Que tal esse bordão: A melhor das primas É a do violão?!
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O importante não são as coisas, Mas o que imaginamos Sobre elas. Uma coisa só coisa É apenas uma coisa.
As coisas visíveis nem sempre o são Porque não são olhadas.
Há quem veja melhor as invisíveis. O verso e o reverso das coisas Enriquecem o olhar.
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O tempo traça aleatórios caminhos, Qual uma traça.
Pobre alma servil, Tua existência
De que te serviu?! Cada relógio de pêndulo, No seu tique-taque, Tem o seu próprio sotaque.
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O cacto sempre armado De espinhos. Paranoia vegetal.
Os mortos esquecidos... Talvez alguns deles
Sejam santos anônimos. Para alguns vaidosos Até seus sofrimentos São virtuosos.
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A castidade Não espiritualiza. Neurotiza.
Este luar... Este silêncio...
Perdi o endereço do meu corpo. Tenho tanto amor à vida Que, quando morrer, Ainda estarei pensando Que continuo vivo.
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Nas noites de São João, Fascinava-me com o fogo da fogueira E do fogo dentro de mim. Hoje sou fogo apagado e cinzas de saudades. São João se esqueceu de mim.
Cinema com a namorada. Por causa da escuridão,
Não conseguíamos ver o filme. Se há pecados “inconfessáveis”, O pecador está condenado Por fraude no confessionário.
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Ninguém paga Pelo que faz em seus sonhos. Eles prescrevem Quando acordamos.
A beleza de um sacerdote É a tentação das mulheres,
Doidas para pecar. Nas Sextas-feiras Santas, Os crentes beijavam as feridas Do corpo de pedra de Jesus. Ninguém se contaminava. Milagre? Ou micróbios convertidos Ao Catolicismo?
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A gente nunca deveria Desaprender de ser criança. Ser adulto, dói.
No apartamento de um hotel, As coisas são sem ternura.
Não fazem amizade com os hóspedes. Em cima dos telhados, Ouviam-se os arrulhos Dos pombos apaixonados.
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As crianças gostam de Papai Noel, Jesus, sovina, não lhes dá presentes.
Quando não me penso Como corpo,
Sinto-me infinito. Sempre sou surdo Para ouvir absurdo.
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Os medíocres escolhem Ídolos para adorar. Sem eles, nada são.
A guerra converte A ferocidade em heroísmo.
O nacionalismo aplaude. Os arrogantes cretinos São humanos girinos.
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Que terapeuta, pode ajudar O pedante apedeuta?
Todos os sonsos São esconsos.
Adoram disfarces.
Vontade de mudar o mundo: Comichão da juventude. Mas é temporária Como a catapora.
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A mediocridade é um molde, A que se ajusta A maioria das pessoas.
É tragicamente cômico Que o ideal de uma vida
Seja apenas o econômico. Se a paixão já não arde, Não a busque mais. É tarde.
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O crente masoquista Crê que o sofrimento O reino dos céus conquista.
Saber e não fazer É um saber inútil.
É fácil ser anônimo Para se dizer o que pensa.
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Às vezes, uma palavra É o estopim de um poema.
Autores vivos e mortos Moram nos seus livros
No condomínio das bibliotecas. Desculpem-me os melancólicos, Os saudosistas crônicos: Não tenho vocação para ser triste.
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Uma presença incômoda, Como pesa! A mente Fica corcunda.
Um novo dia Nem sempre é um dia novo.
Pode já nascer velho. A exposição demasiada Ao sol da fama, Pode dar câncer Na epiderme da alma.
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Velhice extrema: Múmia viva Fora do sarcófago.
Há quem seja uma fera adormecida, Que sonha ser um anjo escondido
Sob forma humana. Amo a vida que levo: Não sonho ser longevo.
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Estoicismo moderno: Vencer as tentações Diárias do consumo.
Até uma boa vida Tem feitos colaterais.
Fala-se tanto de paz. Mas os líderes do mundo Sofrem de surdez.
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Uma planta no jarro Traz a floresta Para dentro da casa.
As megalópoles São florestas
De feras urbanas. Tablets e celulares: Presença dos que estão ausentes, Ausência dos que estão presentes.
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Os edifícios cada vez mais altos. Saudade do chão.
Do avanço tecnológico Será uma grande obra Renovar a nossa pele
Como faz a cobra. Nasceu XX. Agora é XY. Nasceu XY. Agora é XX.
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Além das coisas Inúteis que se guarda, Nada é mais inútil Do que o ódio.
O acaso quebra A chatice da ordem.
Que bom não sabermos tudo! Um momento de loucura Também o tédio cura.
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Vivemos à nossa superfície. Quem já desceu Aos subterrâneos de seu ser?
Quanto dos outros há em nós? Quanto de nós preservamos,
Para manter a nossa identidade?! Os braços querem ser asas. Mas, os pés não entendem Essa ambição
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Procura-se o elixir Para melhor viver Do que só existir.
A nossa espontaneidade Pode aborrecer os outros
Que nos querem previsíveis. A liberdade excessiva Às vezes embriaga E dá ressacas de arrependimento.
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Se a vida tem enredo Sejamos, ao menos, Um bom ator. Afinal, a responsabilidade É do autor.
A paixão nos prende às suas amarras. O ódio nos fere com as suas garras.
Não adianta sutura Nas almas despedaçadas Pela amargura.
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Seria insuportável Uma felicidade indivisível. Bom são os pedacinhos delas Espalhados em cada dia.
Sou muitos, Mas não brigamos:
Cada um de mim Tem seu momento de aparecer.
- Se dói tanto o tédio, O que dele fazer? - Sede-o.
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Valter da Rosa Borges
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Se tudo muda, Nenhum conhecimento É confiável.
Conhecer os outros? Nem sequer nos conhecemos.
O medo de esquecer E a dor De não poder esquecer.
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Ninguém nos completa. Não nascemos pela metade. O amor é que nos dá essa ilusão.
Há livros que lemos gota a gota. Outros, de um só trago.
Uns que relemos vez em quando. Outros, nunca mais.
Quem a Vida Não batizou Vive pagão.
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A beleza tem o dom De absolver todos os defeitos De quem a criou.
Quem não conseguiu ser o que é Já está no Inferno.
O caos urbano nos viciou. Não suportamos mais Uma vida tranquila. Ficamos entediados Por carência de barulho.
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Os bonecos de ventríloquo Da opinião pública. São sonâmbulos Que pensam estar acordados.
Não temos obrigação De ser sinceros
Em qualquer situação. É melhor a proteção
Das mentiras habituais. Há erros tão gratificantes Que nós dá a vontade de repeti-los E aprender, de novo, a lição.
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Em qualquer regime, Quem está no poder Não é confiável.
Riqueza cada vez maior: O que ela nos vai melhorar
Como seres humanos?! A vida é sim e não: Há momentos para a razão E momentos para a emoção.
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Afinal. O que foi feito Do Juízo Final?
De muitos, a consciência Moral foi à falência.
A vaidade é sempre sincera. A modéstia, não.
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Valter da Rosa Borges
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Há momentos que sofremos Crise de credulidade.
Os bons conselhos Têm admiradores
Mas poucos seguidores. Ideias nos possuem. Somos médiuns Obsidiados.
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Liberdade também é isso: Um mínimo de compromisso.
De todas as minorias, A dos ricos é a menor
E a mais poderosa. Se há “pecado original” Ele é um defeito incorrigível Do nosso DNA.
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Valter da Rosa Borges
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Há pessoas com as quais Não se pode dialogar: Estão programadas Como um computador.
A mídia fabrica medíocres E é sustentada por eles.
Nenhuma ideologia é necessária. Podemos viver muito bem sem elas.
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As ideias perigosas Fabricam seus mártires Que se sentem abençoados
O que somos Não precisa de proteção.
O meu tempo é valioso. Não o gasto com qualquer pessoa Ou atividade.
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Os melhores hábitos São aqueles que escolhemos E não os impostos Pela sociedade.
Se a vida é como um rio, Poucos sabem nadar.
O caos é o momento criativo da ordem. Quando desperta do sono da rotina.
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O futuro não é garantia Das promessas do presente.
Se todos somos um, que pena! Poucos me agradam.
Quando medito, não estou. Apenas sou.
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O futuro são possibilidades. Uma delas nos alcançará.
Não precisamos de universos paralelos: Já vivemos vidas paralelas.
Há pessoas que nem sequer São úteis a si mesmas. Mas, são recicláveis.
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A natureza, sem atributos. E nós, com tantos tributos.
Procura-se O que jamais foi pensado
No passado. O que a fama nos melhora? Ela apenas incha o eu.
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As nossas teorias São brinquedos de adulto. E ficamos tristes Quando elas deixam De funcionar.
Rotina e criatividade: Precisamos das duas.
A metafísica é um exercício de imaginação. Daí, a sua beleza.
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Os pés – antenas invertidas: Captam mensagens do chão.
O que é o progresso? Apenas um aumento de facilidades?
Anjos e demônios que conheço Habitam a Terra.
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O mundo nos seria diferente Se árvore fosse apenas árvore, A formiga, apenas formiga, O homem apenas homem.
A estatuária é o gesto
Impermeável no tempo E imobilizado no espaço.
Se tudo são aparências, Convivamos com elas Como se fossem verdadeiras.
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Os mitos são sucedâneos Do mundo insatisfatório.
A beleza embriaga: Sou viciado nela.
Cada nova geração Outra humanidade. Nem sempre a melhor.
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Só o presente tem chão. O passado e o futuro não têm onde.
Há lugares e momentos Que o passado nos possui.
Somos médiuns de nós mesmos. A mão nada segura para sempre. O temporário foge por entre os dedos.
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Quem ama seu amo?
Promessa não é garantia. O amanhã é apenas
Uma esperança. Poucas lembranças restam De tudo o que foi vivido. O tempo Lavou quase toda a memória. O esquecimento nos renova.
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Uma árvore feliz Está plena de folhas, Flores e frutos... E passarinhos.
Não há vacina contra O contágio da dor dos outros.
Era um silêncio denso, pegajoso Como um condomínio De muitas solidões.
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O humor é uma coisa séria Que incomoda as pessoas sérias.
A escada de Jacob: Por que não
Uma escada rolante? Na terra do sono Florescem sonhos. Nem todos belos.
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Não há fatos nus: Estão todos vestidos De ideias e símbolos.
As coisas pagãs Só são visiveis
Quando batisadas. Os pirilampos São sonhos de estrelas, Voando na escuridão.
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O canto de um pássaro à janela: Música com asas.
Verso sem estro É sempre canhestro.
A pintura e a escultura São imóveis. A música não para de fluir.
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Escureço quando fecho os olhos: Minha noite particular.
Todos somos mortais: Como é ser eterno?
Ninguém nasce culpado. Somos culpados depois.
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Quando as algemas afroxam, Tem-se a ilusória sensação De liberdade.
A dor que dói pouco Não tem força de lembrança.
O não pode ser provisório. O nunca é definitivo. A esperança é talvez.
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Rasgo velhas certezas. Esvazio gavetas. A dúvida Gera o vazio para Se encher de novas certezas.
Ela me caotizou. Em um só momento, Perdi minha ordem.
Numa migalha do tempo, Lembro um momento perdido, Porque foi pouco amado.
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O horizonte depende Do tamanho do olhar.
Os rios do pensamento Estão poluídos. Garimpo ideias,
Mas quase sempre Recolho cascalhos.
Somos um corpo mutante Sempre modificável Por pensamentos e emoções.
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Imaginar é também Uma forma de turismo. Não necessitamos de guias.
O gênio é um erro Na linha de produção Das pessoas comuns.
Os pés do andarilho Comandam o corpo.
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Os livros guardam ideias. Mas, a maioria Apenas palavras.
Sou mais ilha do que continente. O oceano me isola e protege. Às vezes, me faço península.
Mais do que dos corpos Muitas ideias nos separam.
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O encantamento está além Da verdade e da mentira.
Palavras despudoradas: Vivem em clandestinidade
Nas pessoas educadas. O que não reciclável. É um pária na natureza.
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O rio do tempo passa Levando sonhos e fatos.
Andar sem destino É um modo de escolher
Lugar nenhum. Gosto de brincar Com paradoxos e absurdos. A lógica é enfadonha.
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Dissolvo-me no êxtase, Meu Nirvana temporário.
Vida substantiva: Vida sem adjetivos.
O balouçar de um barco: A sensação de esquecido berço.
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Em estado de criança, Me sinto livre. O adulto é quase robô.
Gosto de falar-me. Assim, nunca estou sozinho.
São sempre conversas sinceras.
O presente sustenta As lembranças do passado E os sonhos e esperanças do futuro.
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O gênio é invisível Aos olhos dos medíocres.
Tenho opiniões, não certezas. Sinto-me livre para mudar.
Arriscar impossíveis. A imaginação cria o inédito.
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Quando jovem, perguntava: - Quem sou eu? Hoje, apenas sou. Ser quem não é necessário.
Com as palavras Fabricamos impossíveis.
O tempo-arqueiro Dispara sua flexa. Qual o seu alvo?
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Caos – os átomos em férias.
Seres e coisas Pedaços ilusórios
Do espaço indivisível. Os átomos são deuses pagãos: Estão em tudo E não param de criar.
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Não me contem segredos. Bastam-me os meus.
Meu tempo é precioso. A maior parte dele
Gasto comigo. Hoje boio Mais do que nado Nas águas do tempo.
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Sou comodista. Sigo, da natureza, A lei do menor esforço.
Na minha infância, Uma professora
Deu-me o seu retrato. Acho que ela foi
Minha primeira namorada.
Ainda bem que esqueci Muitas lições que me ensinaram. Nunca senti falta delas.
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Confiar é um risco. Não confiar, uma dúvida crônica.
Não se pode fazer algo no futuro. Ninguém ainda chegou lá.
Doce pecado. Salgada virtude. Um causa diabete, A outra, hipertensão.
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Ninguém é líder Em qualquer situação.
Algum dos estados da água É “superior” ao outro?
Só existe o que estamos fazendo. E enquanto fazemos.
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Somos viciados Em fantasias e esperanças. A realidade, às vezes, dói.
Ler um livro É ressuscitar
O autor falecido Em cada leitura.
A vida é uma unção. Tudo o mais É nossa invenção.
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O melhor contato É o tato. Sensualidade em ação.
Filhos do Tempo. Não sobreviveremos
Na Eternidade. Ninguém nos salvará Da nossa condição humana. Gurus e Avatares fracassaram.
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O nosso pecado original É a tentação pelo saber. Os ignorantes herdam o Céu.
Decepciono-me De ainda me decepcionar
Do ser humano. Importa viver. Sobreviver à morte Não é importante.
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Ser coerente não é obrigatório. Não me importo Em ser contraditório.
Nadamos ou a correnteza nos arrasta Sem que nos apercebamos?!
Padrões de formas Parecem imortais. Sempre se replicam.
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O acaso nos conforta: Nem tudo é determinado.
Há mistérios verdadeiros E mistérios inventados.
Os tolos não sabem distingui-los. A vida é autofágica: Alimenta-se de si mesma.
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Valter da Rosa Borges
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Quem nunca teve uma paixão, Merece compaixão.
Não há rotinas iguais. Apenas semelhantes.
Prever os fatos? Prefiro o inédito.
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OS OLHOS DA SOLIDÃO
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Impossível saber Tudo o que é possível.
Sou contraditório Porque sou muitos.
Relembras as primaveras Quando ainda Eros eras?
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Valter da Rosa Borges
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A Vida, qual Penélope, Desfaz à noite Tudo o que fez no dia.
Estamos todos de passagem. Não há pouso definitivo
Na nossa infinita Viagem. Na velhice, o receio: É possível ficar mais feio.
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OS OLHOS DA SOLIDÃO
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Oculto em nós, Há um pássaro, Querendo voar, Querendo cantar.
A vida, rotina, Mas também milagre.
Ora vinho, Ora vinagre.
Eu e meu violão, Parceria de carne e madeira, Dueto em cada canção.
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Valter da Rosa Borges
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O zelo com as coisas materiais. Falta tempo para se cuidar De questões transcendentais.
Há situações em que o corpo É a prisão perpétua
Do ser humano. O êxtase é mudo. Falar é sacrilégio.
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OS OLHOS DA SOLIDÃO
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Discordem de mim, Mas usando a razão E não a emoção.
A nudez do corpo é fácil. A alma nunca se despe.
Quando me esqueço de mim, sou eterno.
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Valter da Rosa Borges
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Se tudo é sonho, o sonho é real.
Viver por todos os evos, É o sonho dos longevos
Afinal, para que convencer os outros das nossas convicções?!
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OS OLHOS DA SOLIDÃO
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Religião: um mínimo de razão, um máximo de emoção.
Mais importante do que vemos é o que interpretamos do visto.
A vida é um mistério: Prefiro vivê-lo Do que tentar compreendê-lo.
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Valter da Rosa Borges
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Que a vida se celebre Na mansão ou no casebre. A velhice é o exílio Das paixões e do idílio.