Os Ninguéns

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No caso, uma trágedia de uma família nordestina que motivada pela crise hídrica se trancaa, com suas reservas, em sua casa. Mas o medo cresce tanto que acaba por se tornar o único patrimônio da família a ser protegido. E tanto faem, na loucura da clausura, que a lha mais nova assassina ! todos brutalmente... " nordeste do #rasil s$o muitos. " %equitinhonha & um nordeste em Minas. 'ert$o mineiro. Mas n$o fa muita diferen(a, pq uma ve trancaados em casa a família se torna uma tribo única, e seus modos voltam ao primitivo do ser, aos instintos, com espa(o e tempos pr)prios . *ensei em nordeste tbm pq naquele lugar se tem uma rela($o diferente com a água e com a naturea. Eu +á escrevi este teto há uns - anos, mas n$o eu tive uns entraves no teto que s) consegui responder por agora. " teto em sí n$o está pronto, tinha esperan(as de achar em minha casa em ra(uaí, mas n$o achei. Mas está congurado em minha cabe(a. ideia & irmos pesquisando estas personagens, e aí eu vou propondo teto e a gente v/ como ca. 0e repente at& este esqueleto muda. 1 uma tipo de cria($o2 eperimenta($o que vai envolver música e corpo tbm. *enso num cenário com várias esta(3es e com cenas algumas vees simult4neas, de modo que se possa ver várias hist)rias. pensei nas personagens das viinhas, sempre a beira da cena com seus enormes leques a espalhar vento e boatos. Elas tbm dariam a no($o de tempo e de moral do mundo eterior. E0'E5 67N MN8 M58 9E5EN M7:9E55E E57NE

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No caso, uma trágedia de uma família nordestina quemotivada pela crise hídrica se trancaa, com suas reservas,em sua casa. Mas o medo cresce tanto que acaba por setornar o único patrimônio da família a ser protegido. E tanto

faem, na loucura da clausura, que a lha mais novaassassina ! todos brutalmente...

" nordeste do #rasil s$o muitos. " %equitinhonha & umnordeste em Minas. 'ert$o mineiro. Mas n$o fa muitadiferen(a, pq uma ve trancaados em casa a família setorna uma tribo única, e seus modos voltam ao primitivo doser, aos instintos, com espa(o e tempos pr)prios. *ensei em

nordeste tbm pq naquele lugar se tem uma rela($odiferente com a água e com a naturea. Eu +á escrevi esteteto há uns - anos, mas n$o eu tive uns entraves no tetoque s) consegui responder por agora. " teto em sí n$oestá pronto, tinha esperan(as de achar em minha casa emra(uaí, mas n$o achei. Mas está congurado em minhacabe(a. ideia & irmos pesquisando estas personagens, eaí eu vou propondo teto e a gente v/ como ca. 0e

repente at& este esqueleto muda. 1 uma tipo de cria($o2eperimenta($o que vai envolver música e corpo tbm.*enso num cenário com várias esta(3es e com cenasalgumas vees simult4neas, de modo que se possa vervárias hist)rias.

pensei nas personagens das viinhas, sempre a beira dacena com seus enormes leques a espalhar vento e boatos.Elas tbm dariam a no($o de tempo e de moral do mundoeterior.

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MN0

N061

 ;"66E'

*60"

07"N<

 %1''7:

*E6'"N=EN'

":;>?7 2 M$e 2 :ontroladora 2 *olvo

'E?E6" 2 *7 2 frio e autoritário

67; 2 @759 2 falsa distraída 2 gato

@";"=6@" 2 fala mais pra si que pros outros

67:60"2 A @759" 2 cachorro

6"#E6;" 2 B @759" 2 papagaio

 +ornaleiras Cse epressando a equidade de generoD corremanunciando a seca e outras trag&dias chacina defelisburgo, prefeitos cassados, hediondeas gerais. blacFout. lu no meio.

8ma família se a+eita para foto, o pai +á inicia a cenasentado no meio, a m$e aguarda e observa em p&enquanto os dois lhos se sentam no ch$o ao lado dos pais,e a lha que deveria sentar no ch$o, entre o dois, senta emoutro lugar. m$e vai at& a lha mostrar o erro.

":;>?7

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6ita, seu lugar & aquiG ve Maria, parece at& que n$o tefalei nesta horinha mesmo. Htodo ano & isso, a mesmacoisaI

Cas duas ocupam seus lugares. " pai se inclina e fala com am$eD

'E?E6"

?/, mulher, & dessa distra($o que tenho falado. Ela ! nadase at&m. Jparece que n$o & minha lhaK.

C'orriem. foto. "ctávia se levanta e caminha para ofotográfo.D

":;>?7

@ico muito agradecida que o senhor tenha vindo mais umave at& nossa casa para tirar a foto da família. s condi(3esde saúde de 6ita n$o permitem que ela saia de casa e omundo lá fora está cada ve mais horrível.

@";"=6@"

N$o se preocupe em tempos como esses deve se permitircar no aconchego do lar. N$o há lugar como nosso lar, n$o& mesmoLG

":;>?7

1 verdade...

@";"=6@"

Mas e a menina Colhando para 6itaD, como tem passadoL

":;>?7

0o mesmo modo. :ura n$o se acha, a solu($o que temos ecar assim enclausurada. 'e se ep3e ao sol +áperecepadece...

'E?E6" Cainda sentadoD

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"ctávia, n$o vai oferecer nada para o nosso amigoL

":;>?7

"ra, onde est$o meus modosL 8m biscoito, um golinho de

caf& ou at& de água mesmo.

@";"=6>@"

ceito o gole dagua. N$o sabemos at& quando poderemosnos dar ao luo de beber, n$o & mesmo 0ona "ctávia, ascoisas v$o de mau a pior. ;em lido os +ornaisL N$oGL ;ávindo recheado de hediondeas gerais. 'e torcermos aspáginas principais capa at& de escorrer sangue... 8mhorrorG

":;>?7 Ctraendo o gole dáguaD

#em sei. :ada dia saio menos de casa. Em breve pararemosde comprar comidas para refor(ar as portas.

@";"=6@" Cbebendo conforme a sede mandaD

Está certa, 0ona "ctávia, n$o há nada de #elo para se verno 9orionte.

Cdevolve o copoD

Ent$o vou me indo. 'empre que precisar estou a disposi($o.

":;>?7

Estou certa disso, e muito agradecida.

C" fotografo saiD

'E?E6"

Oue tanto falava com o fotografoL

":;?7

N$o muito. @alamos da barbárie que tem se tornado o

mundo. ndo cada dia mais preocupada.

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#5 #5 #5 7N;E6PQ" EN;6E@MR57SSSSSSSSSSSSSASSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

SSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

C?"5;M "' %"6N5E76"' :"M N";R:7' *7"6E' 7N0,8M :EN>67"' *":57*;7:" 0E 8M 6E5700E *6"S7M." @8N0" 8M :N;" E EM *"N;"' 07';7N0"' T ;"6E'0NPM " #"7. 8M #"70E76" ;EM 8M #E66N;E E ;":"' #"7' EO8N;" 0E:5M *"E'7

#"7' Hcoro alternadoI

*ega a faca %esus e reparte este p$o.

#"70E76" Hcomo se tocasse os bois com a poesiaI

s pulgas sonham em comprar um c$o,e os ningu&ns com deiar a pobrea,que em algum dia mágico de sorte

chova a boa sorte a c4ntarosU

mas a boa sorte n$o chove ontem,nem ho+e, nem amanh$, nem nunca, nem uma chuvinha caido c&u da boa sorte, por mais que os ningu&ns a chamem emesmo que a m$o esquerda coce, ou se levantem com o p&direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.

#"7'

Nas veredas do ?aleo clamor do pe$o,no ventre da terrao tesouro escondidoe a mis&ria campeiana face do ch$o2 *ega a faca, %esus,e reparte este p$o.

#"70E76"

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"s ningu&ns os lhos de ningu&m, os dono de nada."s ningu&ns os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida,fodidos e mal pagos

Oue n$o s$o embora se+am.Oue n$o falam idiomas, falam dialetos.Oue n$o praticam religi3es, praticam supersti(3es.Oue n$o faem arte, faem artesanato.Oue n$o s$o seres humanos, s$o recursos humanos.Oue n$o tem cultura, t/m folclore.Oue n$o t/m cara, t/m bra(os.Oue n$o t/m nome, t/m número.Oue n$o aparecem na hist)ria universal, aparecem nas

páginas policiais da imprensa local."s ningu&ns, que custam menos do que a bala que osmata. Crepetindo num mantra decadente enquanto os boismugem outra poesia at& que ambos, numa polifonia lírica,acabem.Dque custam menos do que a bala que os mata.menos do que a bala que os mata.a bala que os mata.que os mata.mataG

#"7'

Nas veredas do ?aleo clamor do pe$o,o berro do boienlouquece os senhorestodos partidários

da vil divis$o#"7' e #"70E76"2 *ega a faca, %esus,e reparte este p$oG

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#lacFout. @oco no centro. "ctávia arrasta 6ita at& o quarto,

":;>?7

" que vc tem na cabe(as, meninaGL *erdeu o medo da dorL

?ou te apresentá2la novamente e o farei sempre queesquecer . Cdespe+a um punhado de gr$os e a fa a+oelharem cimaD Nos matamos para te manter protegida e voc/simplesmente caminha para a morteL N$o pode estar emseu +uío perfeito. Cfaendo a m$o pesar no ombro da lha,lhe afundando os +oelhos nos gr$osD. 6ee. 6ee bastante.6ee at& enrouquecer, at& esfolar a língua. *ara deiar demasoquismos. Csai do quarto. 6ita rea e chora aos solu(os.

Ela ouve um barulho no escuro, se vira e di

67;

?á emboraG

C8ma vo masculino responde do escuro, o som de cascosde cavalos acompanham as falas.

@8N"

Mas n$o lhe nenhum mal. N$o & comigo que vc estábrava. *or que me epulsasL

67;

N$o quero ver ningu&m.

@8N"

Eu sei. ?c quer & ver o mundo lá fora...

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67;

N$o s) quero como tentei. 1 algum tipo de crime querereistir como os outrosL Nem sei que cara o sol tem. Na

minha imagina($o ele ri.@8N"

" sol anda muito mal humorado... ssim como vc, 6itinhaG

C6ita 6iD

@8N"

hG @inalmente.

C#lacFoutD

*.' " @auno na verdade n$o & um @auno, naverdade se assemelha mais a um minotauro. Ele apro+e($o eterna de 6ita de um ser mitol)gico,

como ela n$o se lembra bem como s$o os bodesU ea última ve que saiu de casa foi num +aneiroHquando ela conseguiu fugir rápido de casa, ! noite,seguiu a música e viu um corte+o ao #umba meu #oie voltou sem ser VagradaI. Ent$o ela o imaginacomo um #umba meu boi human)ide e por assimser ele tem movimentos rápidos, alegres ecircenses, o modo de dier fa refer/ncia aoportugu/s falado no nordeste, especicamente no*ará. Ele vai simboliar a agressividade dela, ostraumas, na primeira cena s) se ouvirá a vo, nasegunda se verá o vulto dele brincando com ela, edaí por diante ele se mostrará cada ve mais e terámais poder sobre 6ita.

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W6ecife 1 o sol saindo E o bandeira B anunciandoseus mortos

@oi A tiro lá na 5inha do ;iro T facadas lá na #ombado 9emet&rio

Eu passando manteiga no p$o E pensando, quem

será o pr)imoL

Mataram a pedradas lá paras bandas do :oqueEncontrado enforcado nas matas de pipucos

Estupraram mais uma mulher em :asa marela 'angra aperiferia bem de manhainha

" caf& esfria de tanta dor E o pior, & que n$o adianta

chorar o leite derramado WCMir), 5inha de 6iscoD.