Os Motivos Para Viver

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Os Motivos Para Viver

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Após um acidente, Eduardo perde tudo o que mais importava pra ele no mundo. Desacreditado ele se afasta dos amigos, da familia e perde o emprego após uma confusão com seu chefe enquanto luta e tenta se recuperar de uma depressão. Nada em sua vida parece dar certo ou melhorar. Envolto em seus pensamentos, sentimentos ruins e em seus vicios, Eduardo começa a se trornar cada vez mais amargo com o mundo e as pessoas ao seu redor. Afim de dar um ponto final em tudo, decide pular de uma ponte pensando que assim acabaria com todo o seu sofrimento. Até que a vida começa a lhe dar motivos, novamente, para viver e mostra que olhar pra frente é muito mais vantajoso do que olhar para baixo. Um amigo de infância retorna e uma nova pessoa entra em sua vida com isso ele redescobre sentimentos como a amizade e o amor, dois dos melhores motivos para viver em sua opinião.

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Os Motivos Para

Viver

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Os Motivos Para

Viver

Bruno Cassiano

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“Cada dia é uma chance pra ser melhor que ontem

o sol prova isso quando cruza o horizonte”

Emicida/ Rael

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PRÓLOGO

vida é uma caixinha de surpresas! Em um

momento tudo está bem, as coisas estão em seus

devidos lugares e você fica feliz com isso e em

um piscar de olhos tudo parece desabar, as coisas saem de

seus lugares e a vontade de viver é extinta. Perde-se o

ânimo, o apetite, as inspirações, deixa-se de gostar de

tudo aquilo que antes gostava. Você se isola... Do mundo,

vê seus familiares e amigos desistindo de lutar a seu

favor, eles viram as costas e vão sem ao menos dizer um

adeus. Pouco importa, não por quê você não os amava,

mas sim por você mesmo já ter desistido de sí próprio.

Sabe, quando se perde a fé, os motivos para acreditar, a

vontade de viver... o mundo pode estar ao seu lado, te

apoiando, te encorajando a seguir com seus planos que

não importará. Mas a vida também é confusão... Duas

caixas disso exatamente. Ao mesmo tempo em que tudo

está ruindo e você sente o peso do mundo nas costas, ela

te dá sinais. Sinais esses que é preciso ser amalucado o

suficiente para entender e fazer uso deles. Posso estar

A

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certo ou posso estar completamente errado em tudo isso,

até por que a vida é feita de dúvidas não de respostas.

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ram sete da manhã quando o relógio ao lado da

cabeceira despertou, tinha sido outra noite dificil,

os pesadelos a muito me assombravam, o fato de

não lembrar da maioria deles após acordar me

deixava com mais angústia. A verdade é que minha

vontade era tacar o maldito despertador na parede e

depois pisar nele até ele sumir por inteiro, mas a Dra.

Juliana, minha psicologa na época, disse que esse não era

um jeito certo para liberar a raiva. Ela também dizia que

dormir muito não ajudava nada, então, mesmo que

estivesse com muito sono, com vontade de dormir o dia

todo eu me levantava e ia preparar o café da manhã.

Enquanto o café estava sendo coado saía para pegar o

jornal de todos os dias, um jornalista nunca se livra de

certos hábitos e vícios. Eu já não trabalhava há um ano e

meio, fui demitido do meu último trabalho por “liberar a

raiva” de um jeito errado no meu chefe, a lembrança disso

ainda me faz rir um pouco, quebrar o nariz de alguém

usando um monitor de computador é divertido,

E

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principalmente quando esse alguém está gritando no seu

ouvido para entregar a matéria ou dizendo que as matérias

estavam ruins.

Joguei o jornal em cima das caixas de pizza empilhadas

na mesa da cozinha e fui pegar o café. Eu sempre dizia

pra qualquer pessoa que provasse o meu café que o gosto

dele estava de acordo com o humor de quem o preparou.

Aquele café estava horrivel, lembro dele e aquele gosto

extramamente amargo me vem à boca, mas me lembro

dele por um outro motivo em especial, faziam exatos dez

dias que eu não saía de casa, depois de tomar aquilo

resolvi sair e procurar um lugar qualquer que servisse.

Entrei em uma padaria, o Imirim (bairro onde eu ainda

moro) é cheio de padarias e bares na avenida. O lugar não

estava nem vazio e nem cheio, tinham ali pessoas indo

para o trabalho, voltando do trabalho e eu, sentei no

balcão pedi o meu café e fiquei lá de cabeça baixa

ignorando as pessoas em volta, estar com as pessoas me

deixava nervoso e inquieto, o que eu mais queria era

tomar o café e voltar pra casa, ficar sozinho.

Estava eu tomando meu café, sossegado, sozinho e

“contente”, quando alguém me chamou. Era Renato meu

único amigo. O jeito que eu decidi seguir na vida não me

rendeu uma vida social badalada, tinha poucos colegas e

apenas um amigo.

- Eae Edu, quanto tempo cara. – Fazia um longo tempo

desde que falei com ele pela última vez – Tudo bem

contigo ?

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- Ah... Ta sim. Tudo ótimo. E com você ?

- Tudo legal também. Olha estou um pouco atrasado

agora, já estava de saída mas me passa seu número de

celular, qualquer hora a gente combina algo e põem a

conversa em dia.

- Certo.

Renato e eu éramos amigos desde a infância, estudamos

juntos e compartilhamos juntos o sonho de ser jornalista.

Aos 15 anos ele se mudou, foi morar em outra parte da

cidade, desde então não tive mais noticias dele até que ele

foi contratado pelo jornal que eu trabalhava. Anotei meu

número em um guardanapo enquanto Renato pagava a

comanda.

- Toma ai. – entreguei o número

- Beleza, te ligo algum dia desses e a gente combina algo.

Após ele ter ido embora tomei o primeiro gole do meu

café, já quase frio, enquanto pensava como era a vida

antes de tudo acontecer, o tanto que eu sorria, o tanto que

eu brincava, o tanto que eu sentia... Os motivos que eu

tinha para levantar todos os dias da cama e sorrir para o

sol quando ele estava lá pra sorrir pra mim também. Nem

sol tinha aquele dia, quem dirá motivos...

O café não estava lá essas coisas, pelo contrario tinha o

gosto muito parecido com o café que eu havia feito.

Quando sentei no sofá para procurar algo pra assistir

percebi que havia sentado em cima do meu celular.

Aquele celular me dava nos nervos, as únicas mensagens

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que eu recebia era da operadora falando que se eu não

colocasse créditos a linha seria cancelada. Não me

importava aonde o tinha deixado, às vezes o perdia por

dias e o achava por acaso como naquela vez. Havia uma

mensagem não lida mas não era da operadora novamente,

era de um número desconhecido. Um número que não

estava salvo na lista de contatos apareceu no visor, era

uma mensagem do Renato dizendo:

-Hey, aqui é o Renato. Salve o meu número ai, logo logo

eu te ligo marcando algo para colocarmos a conversa em

dia. Quem sabe tomar uma breja algum dia desses, sei lá...

Foi bom ter te visto brother.

Hoje eu percebo o quanto foi bom ter visto meu único

amigo de novo, talvez tenha sido esse o primeiro sinal de

que as coisas estavam para mudar. Naquele dia só pensei

em qual desculpa daria quando o Renato ligasse.

Ele ligou três dias depois me chamando para ir ao parque.

- O parque vai estar cheio, domingão vai ser um dia lindo

– Argumentava ele tentando me convencer.

- Até queria mas to cheio de coisa pra fazer.

- Tipo o quê ?

- Arrumar a casa – Respondi a primeira coisa que me veio

à cabeça – Isso aqui tá precisando de uma faxina.

- Certo... ! Mas da próxima não aceitarei desculpas – disse

ele com tom determinado.

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No domingo eu acordei determinado a fazer mesmo a

faxina, havia muito tempo que a casa não era arrumada.

Esse era o único mal de morar sozinho, ter de arrumar

você mesmo o “lar doce lar”, ainda mais se você é

homem que naturalmente não é organizado. Tinha caixa

de pizza em cada metro quadrado, sapatos com o par

inexistente e roupas em todos os cantos imaginaveis.

Achei minha caixa com minhas histórias em quadrinhos,

nos bons tempos eu colecionava de muitos super-herois.

Ao final do dia havia achado livros e dvd’s perdidos da

estante, camisetas de cantores que eu curtia, discos e cd’s

de música, devolvi as coisas que pertenciam a estante e

guardei com mais carinho aquelas que não tinham espaço

no móvel. Mas o achado mais comemorado daquele dia

foi uma caixa preta de madeira onde eu guardava minhas

duas câmeras favoritas no mundo, uma Kodak

profissional com muitos megapixels de resolução e uma

Polaroid que era o meu “xodó”. Eu amava fotografias e

amava fotografar também, naquela época eu não sabia ou

simplesmente não queria saber, mas a depressão estava

me tirando as pessoas, os hábitos, as vontades e tudo

aquilo que eu apreciava fazer nos tempos livres. Liguei a

Kodak e percebi que o cartão de memória ainda estava lá

e mesmo depois de um bom tempo a bateria havia

segurado um pouco de carga, foi ai que eu à vi nas fotos

sorrindo, com os olhos alegres, viva !