Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem,...

10
ABIM 005 JV Ano XII - Nº 104 - Dez/18 Símbolos Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”.

Transcript of Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem,...

Page 1: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

ABIM 005 JV Ano XII - Nº 104 - Dez/18

Símbolos Os Mistérios da Iniciação!

“Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”.

Page 2: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 27.874 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

www.revistaartereal.com.br - [email protected] - Facebook RevistaArteReal - (35) 99198-7175 Whats App.

EditorialNesta edição, ousamos por despertar a

atenção de nossos leitores quanto à importância dos símbolos, na transmissão dos conhecimentos, através das civilizações, perpetuando seu real significado de forma fidedigna. O “símbolo” é um elemento essencial no processo de comunicação, encontrando-se difundido pelo cotidiano e pelas mais variadas vertentes do saber humano.

Segundo a Professora Ludmila de Moura, “a comunicação humana é simbólica. Língua, conceitos, valores, ideias, crenças, tudo que faz parte da cultura humana é baseado em símbolos que, por meio de uma convenção social, são associados pelos indivíduos a um determinado significado, e isso faz com que seja possível a interpretação dos conteúdos comunicados”.

O termo “simbólico” atua como um adjetivo qualificativo, que serve para designar tudo que expressa um simbolismo, algo não concreto ou evidente. O simbólico é causado por causa da presença de símbolos. Os símbolos podem ser qualquer tipo de representação gráfica, oral ou gestual que substitua uma ideia, uma forma de sentir, uma opinião, etc.

Portanto, não seria errado dizer que nossos Templos são verdadeiros “Livros de Pedra”, pois a simbologia que os ornamenta representa laudas e laudas de inesgotáveis ensinamentos, que o Iniciado, consciente da necessidade de se enveredar por uma caminhada de Luz, adentrará e contemplará seu arquétipo, buscando se fundir a ele.

Nenhum símbolo maçônico existe ao acaso. Todos se encontram a espera de serem explorados, decodificados, percebidos, a fim de servir de auxílio da expansão da consciência de quem os contempla. A transmissão de nossos ensinamentos segue uma linha didática simbólica. Não quer dizer que, por ser simbólica, deveremos entender de forma pejorativa, como alguma coisa insignificante, irrelevante.

Muito pelo contrário, o símbolo possibilita ao postulante à Iniciação que, a cada oportunidade que o contemplar, consiga extrair novos conceitos e valores, anteriormente, não observados. O símbolo continua o mesmo, que mudou foi o postulante, ampliando, naturalmente, seu estado de consciência.

Este preâmbulo serve para justificar a escolha deste temário para esta edição. Selecionamos, com isso, matérias que visam elucidar essa premissa. Com relação ao conceito pejorativo de simbólico, em matéria de nossa autoria, estamos publicando “Simbólica, não no Sentido Pejorativo”, onde chamamos atenção para o processo pedagógico maçônico.

De autoria do Irmão Roberto Bondarik, a matéria “A Interpretação e o Entendimento dos Símbolos” traz vasta informação a respeito do tema, baseada em compilações de diversos autores, onde o leitor poderá se orientar quanto à importância de se aprofundar nos estudos da simbologia iniciática.

João Nery Guimarães nos presenteia com “A Antiguidade dos Símbolos”, mostrando a influência de diversas tradições na simbologia maçônica. Finalizamos com a matéria de Martha Follain, intitulada “Símbolos e Rituais Maçônicos”, que complementa este temário.

Aproveitamos este espaço para desejar a todos um Natal repleto de muita Paz, Amor e Sabedoria, que o ano vindouro seja de grandes realizações e que possamos manter a pujança deste canal de divulgação, em prol do engrandecimento da cultura maçônica!

Page 3: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

Revista Arte Real nº 104 - Dez/18 - Pg 03

Simbólica, Não no Sentido Pejorativo!

Francisco Feitosa

O termo “Loja Simbólica” faz alusão à vivência dos pedreiros, em alojamentos, nos canteiros de obra, em tempos pretéritos. Atualmente,

a parte da Maçonaria, cuja responsabilidade é a administração dos três primeiros Graus, independente do Rito praticado, é a Maçonaria Simbólica, chamada, antigamente, de “Blue Lodges” ou “Loja Azuis”, possuindo uma estrutura simbólica, rica em informações, porém um tanto complexa, principalmente, àqueles que, de fato, não passaram por um processo iniciático, ou não se enveredaram, como deveriam, nos estudos de seus excelsos Arcanos.

Quando a chamamos de “simbólica”, não devemos entender esse termo, pelo cunho pejorativo, como irrelevante, sem importância, apenas ilustrativo, conceito adotado por muitos “profanos de avental”, lamentavelmente. Quando assim a tratamos, é em razão de seus ensinamentos estarem ocultos em símbolos, cuja interpretação é parte imprescindível do aprendizado e, consequente, da evolução maçônica do postulante à iniciação. O próprio processo de iniciação não se finda na cerimônia de iniciação, quando o candidato ingressa na Ordem. Transcorre por toda caminhada maçônica, cujos símbolos que ornamentam o Templo, que é um verdadeiro “Livro

de Pedra”, passam a ter um papel fundamental na busca do arquétipo, até que o postulante, por mérito, consiga se fundir ao mesmo, e, de fato, tornar-se um iniciado, na acepção da palavra.

As instruções maçônicas se utilizam de uma metodologia de aprendizagem muito especial. Muitas vezes não é suficiente lê-las para compreendê-las. O processo é mais que analítico e envolve, além da instrução escrita, um conjunto de outros fatores para que possamos captar sua verdadeira essência.

Observa-se que toda instrução deve ser ministrada dentro de nossos Templos, em Loja

Page 4: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

Revista Arte Real nº 104 - Dez/18 - Pg 04

aberta. Se tivéssemos que nos ater, apenas, no que está escrito em nossos rituais, bastava, apenas, lê-las em nossa casa e fazermos peças de arquitetura e enviarmos à Loja, como monografias. Essa possibilidade de ensino à distância não existe na Maçonaria, justamente porque se fazem necessários, além da instrução escrita, outros aspectos importantíssimos que compõem o processo pedagógico maçônico.

Um desses aspectos é o Símbolo, que no significado lato, é a representação de um aspecto da verdade, que independe da estática da fé, mas, decorre da cinética do raciocínio. É certo dizer, portanto, que símbolo, à luz da Ciência Iniciática das Idades, é a síntese de um aspecto da Verdade Única. E, por esta mesma razão, sua forma gráfica, numérica, pictórica ou qualquer outra, atravessa incólume os tempos sem sofrer, intrinsecamente com as modificações aparentes das ideias, descobertas e invenções, pois, como síntese de algo real e imutável, assim permanece através dos séculos.

Os símbolos existentes em nossos templos têm uma finalidade maior que a decoração. Todo símbolo, através de seu arquétipo, é uma vertente de energia. O Maçom interage com essa energia,

essa informação oculta que o símbolo emana. O estudo de nossas instruções, por si só, tem, apenas, uma atuação no aspecto físico, enquanto o decifrar de um símbolo provoca, paulatinamente, um desenvolvimento no aspecto psíquico. As instruções ministradas no Templo, em Loja aberta, sob a influência da egrégora milenar de nossa Ordem, completam o processo, atuando no plano espiritual.

Esse entendimento foi se perdendo e, hoje, é pouco percebido por nossos Mestres. Infelizmente, o cargo de 1º e de 2º Vigilantes, muitas vezes, passa a ser ocupado, apenas, como um trampolim para o Veneralato e as preocupações daqueles, que deveriam ser diretamente responsáveis pelas instruções, lamentavelmente, são bem outras.

Para alcançarmos o perfeito entendimento de uma instrução maçônica precisaremos nos conscientizar e fazer uso desse conjunto de fatores que compõe esse especial processo pedagógico. Assim procedendo, tornar-nos-emos portadores das Chaves que abrirão as portas do perfeito entendimento. As chamadas Chaves do Conhecimento Iniciático.

O Processo é “Simbólico”, mas não pejorativamente falando!

Page 5: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

Revista Arte Real nº 104 - Dez/18 - Pg 05

A Interpretação e o

Entendimento dos SímbolosRoberto Bondarik

A Ordem Maçônica baseia os seus muitos princípios e os seus diversos ensinamentos em símbolos e rituais. Podemos afirmar que

uma das principais características da Maçonaria, seja, justamente, aquela de procurar velar e proteger os seus muitos segredos dos olhos daqueles que, ainda, sejam considerados profanos. A maneira encontrada pela Ordem Maçônica para ministrar os seus muitos segredos e ensinamentos aos seus Iniciados, é procurar, sempre, faze-lo utilizando-se de símbolos e metáforas (CAMPANHA, 2003, p.38).

Esta Simbologia Maçônica, sua interpretação e o seu entendimento são as ferramentas utilizadas pelos maçons para o seu constante escavar de masmorras ao vício e no seu permanente edificar e levantar de templos às virtudes: “Para tornar sua doutrina mais facilmente assimilável, como também, para inspirar conceitos mais amplos, a Maçonaria transmite seus ensinamentos por meio de símbolos. Cada maçom vê nestes símbolos conforme o seu grau de evolução, sem, contudo, afastar-se dos fundamentos da doutrina (...)” (GRANDE LOJA DO PARANÁ, 2000, p.3).

Em seu “Dicionário de Maçonaria”, uma obra que consideramos fundamental, Joaquim Gervásio de Figueiredo, coloca-nos uma interessante definição da Ordem Maçônica, em que procura destacar a importância da utilização de símbolos para a difusão

dos princípios maçônicos: “A Maçonaria é um sistema sacramental que, como todo sacramento, tem um aspecto externo visível, consistente em seu cerimonial, doutrinas e símbolos, e acessível, somente, ao maçom que haja aprendido a usar sua imaginação espiritual e seja capaz de apreciar a realidade velada pelo símbolo externo (...)” (FIGUEIREDO, 1998, p.231).

Na Maçonaria a maior parte dos símbolos e metáforas, que são utilizados, provêm da antiga atividade profissional e corporativa dos pedreiros medievais. Construtores que eram, principalmente, de Igrejas, grandiosas Catedrais, sólidos castelos e fortalezas, os pedreiros medievais organizados em

Page 6: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

Revista Arte Real nº 104 - Dez/18 - Pg 06

uma Corporação, constituíam a Maçonaria Operativa que evoluiu para as Organizações Maçônicas Simbólicas e Especulativas contemporâneas.

A linguagem simbólica ou metafórica é característica das sociedades iniciáticas, pois exige-se do interprete dos símbolos, na maioria das vezes, um conhecimento que, somente, será possível existir, se este já for um iniciado naqueles mistérios, cujos símbolos se pretende analisar. Este contato possibilita uma maior familiaridade e um convívio mais profundo e significativo. E este é, ao nosso ver o caso da Maçonaria.

“Herdeira espiritual das Sociedades Inciáticas da Antiguidade, a Maçonaria perpetua o tradicional método iniciático na ensinança de suas doutrinas. Por este sistema que se funda no simbolismo, isto é, na interpretação intuitiva dos símbolos, o ensino maçônico torna-se muito pessoal e praticamente auto didático. É com efeito, como tão bem explicou o eminente escritor maçom J. Cornelup: “O próprio de um símbolo é de poder ser entendido de várias maneiras, segundo o ângulo sob o qual ele é considerado, de modo que `um símbolo admitindo, apenas, uma única interpretação não será verdadeiro símbolo (...)”. (ASLAN, 2000, p.5).

Os símbolos aliados às metáforas e a prática da analogia, sempre, foram utilizados na transmissão de informações e mensagens, principalmente aquelas que são consideradas religiosas ou até mesmo esotéricas. Assim foi com o cristianismo ao longo de sua evolução, e, também, com a imensa maioria das religiões que existem na atualidade ou que já existiram. Uma cerimônia religiosa ou ritual é um exemplo prático da riqueza representada pelos símbolos, bem como da sua utilização, assunto a que fazemos referência neste trabalho.

“(...) A cerimônia religiosa desempenha um papel importante em todas as religiões (...) invoca-se ou louva-se um deus ou vários deuses, ou, ainda, manifesta-se gratidão a ele ou a eles. Tais cerimônias religiosas, ou ritos, tendem a seguir um padrão bem distinto, ou ritual (...).” (HELLERN, op. cit., p. 25).

Sobre a interpretação e o correto entendimento dos símbolos, bem como dos próprios ritos ou rituais, quer sejam eles religiosos ou mesmo filosóficos, Fernando Pessoa teceu algumas poucas, mas mesmo assim muito importantes considerações. Cabe, no entanto, ressaltar, antes de qualquer outra consideração, que Fernando Pessoa é um dos mais importantes escritores da língua portuguesa de todo o século XX. Segundo ele próprio, que por diversas vezes claramente destacou, nunca pertenceu a Maçonaria, apesar de nutrir por esta instituição um profundo respeito, consideração e apreço.

Em um artigo jornalístico, intitulado “Associações Secretas: Análise Serena e Minuciosa a Um Projeto de Lei Apresentado ao Parlamento”, e publicado no Diário de Lisboa no início do ano de 1935, Fernando Pessoa faz uma defesa e uma apologia muito bem fundamentada da Maçonaria e dos direitos do homem. Porém ele procura enfatizar de maneira bastante clara a sua condição de não maçom, destacando as dificuldades advindas de tal condição.

Ele destaca as barreiras e limitações naturais que são encontradas por aqueles que não pertencem à Ordem Maçônica, para pesquisar sobre os seus conteúdos e os seus muitos mistérios: “(...) Não sou maçom, nem pertenço a qualquer outra Ordem semelhante ou diferente. Não sou, porém, anti-maçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma ideia absolutamente favorável da Ordem Maçônica (...) assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo para quem o estuda de fora (...)” (PESSOA, 1935, passim).

Page 7: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

Revista Arte Real nº 104 - Dez/18 - Pg 07

A primeira constatação que empolga aquele que se aprofunda na interpretação da liturgia maçônica é a da antiguidade dos seus símbolos,

de suas alegorias. Remontam as origens dos símbolos maçônicos à aurora do homem sobre a Terra. Daí, terem alguns observadores apressados concluído que a Franco-Maçonaria é tão antiga quanto o mundo. Trata-se, evidentemente, de um exagero, pois a Franco-Maçonaria, com as características atuais, data do século XVIII, ou melhor, do ano de 1717, ponto de partida da Franco-Maçonaria Moderna. Foi nessa data que se firmou a preponderância da Franco-Maçonaria Especulativa, sobre a Operativa.

Mas, anteriormente, à memorável reunião das quatro lojas franco-maçônicas de Londres, existiam várias lojas por toda a Inglaterra, Alemanha, França e Itália, formadas por pedreiros de profissão, reunidos em confrarias, com regulamentos próprios, sinais de reconhecimento, símbolos litúrgicos, e se tratando por irmãos. Guardavam, ciosamente, a sua arte de construir do conhecimento do vulgo ou profanos. A par desses conhecimentos, essas confrarias (Guilds, Brotherhoods, Bruderschaften, Confrèries) constituídas por verdadeiros artistas (foram os construtores das grandes catedrais europeias e os criadores da arte gótica) reuniam e conservavam a tradição esotérica da antiguidade pagã, às vezes, confundidas com as tradições mais novas do cristianismo. Compreende-se, assim, o respeito que os príncipes tiveram por essas corporações de artesãos, às quais dotaram de regalias e privilégios.

Desse imenso legado das tradições antigas, de que os pedreiros (maçons, masons, maurerei) foram os depositários conscientes ou inconscientes, faziam parte, também, as tradições ocultas, herméticas, dos mistérios antigos, perpetuados em símbolos e práticas esotéricas.

Estabeleceu-se, assim, um liame entre a Franco-Maçonaria do século XVIII e a mais remota antiguidade, que levou os escritores a que nos referimos, a declarar a Franco-Maçonaria coeva da vinda do homem sobre a face da Terra. A verdade, contudo, como já dissemos, é um pouco diferente: os legítimos símbolos maçônicos é que se perdem na noite dos tempos, mas a Franco-Maçonaria, como a conhecemos, data de pouco mais de dois séculos, ou por outra, a Instituição é nova e a sua essência é antiga.

A Antiguidade dos Símbolos

João Nery Guimarães

Page 8: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

Revista Arte Real nº 104 - Dez/18 - Pg 08

Tão antigos são os símbolos adotados e conservados zelosamente pela Franco-Maçonaria, que sem receio de errar podemos afirmar que nenhum deles é de data posterior ao ano um da Era Cristã. Tal afirmativa se reveste de tanta importância que o poder mantê-la compensa todas as pesquisas, todas as vigílias gastas em escavar o dourado veio das tradições antigas.

Existem símbolos na Franco-Maçonaria, usados desde a sua fase Operativa, cujo significado foi inteiramente estranho aos homens da época, não iniciados nos mistérios maçônicos, quando não foram completamente desconhecidos. Pois bem, quando teve o mundo notícia dos descobrimentos arqueológicos verificados no século XIX, constataram, os franco-maçons, que muitos de seus símbolos figuravam nos objetos encontrados, pertencentes à civilizações já desaparecidas, com as quais os homens haviam perdido todo contato, anteriores ao advento do cristianismo.

É forçoso admitir que os franco-maçons não inventaram, por coincidência, tais símbolos, pois muitos deles tinham o mesmo significado maçônico de hoje. Alguns, por exemplo, são tão evidentes, que não permitem margem a dúvidas.

Existiu, portanto, um misterioso fio que preservou a tradição antiga, fio esse que não trepidamos em declarar — o segredo dos iniciados. A sabedoria antiga, velada em alegorias e guardada pelo compromisso, entre determinado grupo de homens, congregados em torno de um ideal iniciático, pôde,

assim, chegar até nós. Só desta forma compreende-se o mistério que a muitos pareceu indecifrável.

Ensinam a história, a sociologia e a literatura, que as obras homéricas foram guardadas pela tradição oral durante séculos, antes de receberem a forma escrita. O mesmo processo sofreu quase todas as lendas dos primórdios da civilização. Se assim aconteceu em relação a obras literárias e narrativas históricas, porque não sucederia o mesmo com uma tradição iniciática, perpetuada através de símbolos?

Sobre o poder conservador dos símbolos, já disse o nosso Irmão MICHA, que “se a verdade sobre a natureza essencial do ser e da vida universal é tão alta e tão sublime que nenhuma ciência vulgar ou profana não pode chegar a descobrir, o simbolismo é, por sua vez, como uma espécie de revestimento, de meio de conservação ideal dessa verdade e uma linguagem ideográfica que a iniciação entrega à nossa meditação, e que só os iniciados podem traduzir sem deformar-lhe o sentido”.

A longevidade das práticas maçônicas repousa tranquilamente na imutabilidade dos seus símbolos, muito mais fáceis de se guardarem puros do que longas narrativas. E o que é a liturgia, senão o conjunto desses símbolos realizados sob determinada forma e em determinadas circunstâncias?

Page 9: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

Revista Arte Real nº 104 - Dez/18 - Pg 09

Símbolos e Rituais

Maçônicos

Martha Follain

Como instituição iniciática, a Maçonaria adota para o ensino e estudo de sua filosofia, a apresentação de Símbolos e Rituais. Este método consiste

na interpretação intuitiva dos Símbolos e Rituais, e é eminentemente auto didático.

Ritual Maçônico é uma representação, uma demonstração alegórica, um teatro ritualístico. Rituais (ou cerimônias) são fundamentais para o maçom. Dentre eles, destacam-se: o Ritual de Iniciação: de profano a Aprendiz; Ritual de Elevação: de Aprendiz a Companheiro; e o Ritual de Exaltação (Rito Escocês Antigo e Aceito) de Companheiro a Mestre, que é a encenação da morte de Hiram Abiff. Os Rituais são cerimônias de transformação interior - há uma interconexão entre o consciente e o inconsciente.

“Iniciação” é uma palavra oriunda do latim “initiare”, “início ou começo em”. O termo “iniciação” tem um sentido designado pelo uso comum da palavra: é o “início” de alguma coisa. Mas a expressão “Ritual Iniciático” é usada em dois contextos diferentes: em primeiro lugar, um Ritual Iniciático é a cerimônia de aceitação de um indivíduo por determinado grupo. Nessa primeira acepção, o Ritual Iniciático tem um caráter social, que demarca a relação da pessoa com a coletividade ou com algum segmento da sociedade. Portanto, quando o indivíduo entra para um determinado grupo, esse ingresso é comemorado com um Ritual de Iniciação.

Em segundo lugar, a expressão “Ritual Iniciático”, indica não uma mudança de condição social, mas uma

transformação interna: o que se modifica é o próprio ser do iniciado e, consequentemente, sua consciência e percepção. Trata-se de uma verdadeira transmutação, no sentido alquímico do termo. E, ao contrário do primeiro tipo, não envolve uma cerimônia pública. É um reconhecimento externo de uma mudança interior, que já se processou. Neste segundo sentido, a Iniciação ocorre quando o neófito estabelece contato com as forças arquetípicas e deixa seu campo de consciência ser transformado pela exposição a essas forças, que se expressam por meio de manifestações simbólicas, que cabem a ele decifrar. O cérebro, durante práticas de Rituais (ou de meditação), passa a operar em ondas mais lentas. Durante o Ritual, o indivíduo entra num estado alterado de consciência, com ondas cerebrais alfa e teta, que lhe permitem acessar o inconsciente. Esse estado alterado de consciência é alcançado pelo pensamento e a emoção, colocados na dramatização. Quando acontece a emoção (intensidade e perfeição na atuação de cada maçom), o cérebro não consegue perceber o que é “realidade” e o que é “teatro”, entendendo o Ritual como realidade no presente. E, cada maçom, acessando seu inconsciente individual, estará conectado com o inconsciente coletivo.

No Ritual de Iniciação, há uma transmutação, um renascimento interior, proporcionando uma nova percepção de si mesmo e do mundo. O iniciado passa por “provas”, como acontece com cada indivíduo durante sua vida. Por esse motivo, o símbolo maçônico da Iniciação é a morte – morrer para a vida profana e renascer para

Page 10: Os Mistérios da Iniciação! - revistaartereal.com.br · Os Mistérios da Iniciação! “Homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo”. ... que é um verdadeiro

Revista Arte Real nº 104 - Dez/18 - Pg 10

a Vida Maçônica. Morte e nascimento são dois aspectos entrelaçados e inseparáveis de toda mudança.

Os Rituais de Iniciação na Maçonaria englobam esses dois sentidos. O Ritual se destina a legitimar o ingresso do indivíduo na Ordem, e concomitantemente, seu interior está se desenvolvendo por meio de uma série de evoluções graduais que vão ampliando seu consciente e inconsciente. A Iniciação tem como especial e fundamental objetivo, dissolver e eliminar aspectos negativos, que possam estar impedindo o crescimento pessoal: medos, egoísmo, etc. O ato da Iniciação não pretende extirpar definitivamente do homem seu ser profano e o mundo. A finalidade é fazê-lo conviver com o profano e o conhecimento sagrado.

Os símbolos utilizados na cerimônia têm como finalidade, agregar as forças arquetípicas para o iniciado. A promoção na hierarquia da Ordem ocorre, quando sua consciência (do iniciado) atingiu um grau de desenvolvimento satisfatório. Os Graus maçônicos são os degraus do conhecimento a serem alcançado pelo iniciado.

Como todo processo de metamorfose, não há retrocesso para o iniciado. Uma vez maçom, sempre maçom. Transposto o portal que transmuta o indivíduo, ele jamais será o mesmo. O iniciado morre para uma realidade e renasce para outra dimensão de sabedoria. As consequências do Ritual são irreversíveis: o milho que vira pipoca, jamais volta a ser milho. O iniciado fez o voto de caminhar sempre adiante, portanto, não pode mais retroceder.

Nos Rituais, são interpretadas, dramatizadas e vivenciadas várias situações arquetípicas - arquétipos primordiais, muito mais antigos que a própria linguagem. Os Rituais, praticados em segredo são a imagem de processos interiores, permitindo a elevação para o conhecimento, a sabedoria, de maneira progressiva. Os ensinamentos da Ordem dão-se, preferencialmente, através de três caminhos: Rituais, Devocionais e Contemplativos. Os Rituais são o caminho da ação e são o principal método de ensinamento da Ordem. No caminho da devoção, há o uso da meditação, obediência e amor

fraterno – os aspectos devocionais acontecem por meio dos trabalhos filantrópicos. O caminho contemplativo acontece com o estudo de símbolos e os valores que esses símbolos representam.

Os Rituais estão carregados de alegorias e simbolismos que se impõem desvendar e assimilar. Os símbolos utilizados pela Maçonaria têm origens diversas. Alguns autores dividem esses símbolos em dois tipos principais: os que tiveram origem na Maçonaria Operativa e os que foram introduzidos a partir de conhecimentos ocultistas, que se integraram à Maçonaria Especulativa (Alquimia, Hermetismo, Astrologia, Numerologia, Cabala). Mas todos os símbolos devem ser assimilados pelo maçom e interpretados de acordo com sua inteligência, grau de evolução interior, sua maneira de ser e sentir. Os símbolos são oriundos de diversas crenças, filosofias, antigos mistérios, mas isso não implica que os maçons partilhem dessas crenças. As mensagens contidas nos símbolos serão interpretadas, compreendidas e interiorizadas, e passarão a fazer parte do ser e da experiência de cada maçom. Ser maçom implica integrar o racional a uma entrega mística. Os Rituais e o estudo da simbologia permitem que os maçons progridam no entendimento racional e emocional, nos conceitos que a Maçonaria transmite. Com o aprofundamento de seus estudos, o maçom encaminha-se para a verdadeira “espiritualidade” – sem dogmas, livre de crenças religiosas. Na realidade, é mais um princípio filosófico “espiritualista”: considerar que no homem e no Universo há “algo mais”, seja do ponto de vista “imanente” ou “transcendente”. Essa espiritualidade é um aspecto indissociável da condição humana, e está muito mais além do que qualquer religião: espiritualidade é o que coloca cada ser diante do absoluto, do infinito, do todo, da eternidade, de seu “Deus”, de si próprio. A espiritualidade maçônica é uma espiritualidade livre, pois sugere um caminho individual para a relação com a Divindade, com o Divino. A Ordem, respeitando as diferentes opções religiosas, não despoja o indivíduo de seu entendimento espiritual. E, esse respeito é a base da harmonia e da tolerância maçônica.

Como ensina Carl Sagan (maçom): “é essa espiritualidade que nos permite sentir de uma forma mais intensa e profunda a beleza de uma trilogia muito famosa e que define bem os grandes valores da humanidade: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. E quando chegamos a esta fase em que, enquanto vamos construindo o nosso templo interior, e vamos estabelecendo fortes laços de união com os nossos Irmãos, é que estaremos realmente aptos a influenciar, positivamente, a evolução da humanidade e a defender todos os seus grandes valores”.