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Escola Secundária de Caldas das Taipas
OS MAIAS
EÇA DE QUEIRÓS
Ano letivo 2011/2012
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 2
ÍNDICE
EÇA DE QUEIRÓS (1845-1900) ..................................................................................................................................... 3
CONTEXTO POLÍTICO E CULTURAL DO REALISMO E DO NATURALISMO ...................................................................... 4
PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS NA EUROPA NO SÉCULO XIX ...................................................................................... 4 EM PORTUGAL ............................................................................................................................................................... 4
GERAÇÃO DE 70 ............................................................................................................................................................ 5
REALISMO/NATURALISMO ......................................................................................................................................... 7
A AÇÃO NA OBRA OS MAIAS .....................................................................................................................................10
LINHA EVOLUTIVA DA DEGRADAÇÃO DOS MAIAS E DE PORTUGAL ...........................................................................15
A AÇÃO TRÁGICA EM OS MAIAS ................................................................................................................................15
A CRÓNICA DE COSTUMES .........................................................................................................................................18
JANTAR NO HOTEL CENTRAL – CAP. VI..................................................................................................................... 18 AS CORRIDAS DE CAVALOS – CAP. X ......................................................................................................................... 19 A IMPRENSA – CAP. XV .............................................................................................................................................. 20 O SARAU NO TEATRO DA TRINDADE – CAP. XVI ....................................................................................................... 21
PERSONAGENS ..........................................................................................................................................................22
CONCEÇÃO E FORMULAÇÃO ........................................................................................................................................ 22 CARACTERIZAÇÃO ........................................................................................................................................................ 24
A centralidade da personagem Carlos da Maia ...................................................................................................... 24
AFONSO DA MAIA .................................................................................................................................................27
A EDUCAÇÃO .............................................................................................................................................................33
TIPOS DE EDUCAÇAO .................................................................................................................................................... 34
ESPAÇO ......................................................................................................................................................................34
ESPAÇO FÍSICO ............................................................................................................................................................. 35 ESPAÇO SOCIAL ............................................................................................................................................................ 39 ESPAÇO PSICOLÓGICO ................................................................................................................................................. 39
TEMPO ......................................................................................................................................................................41
TEMPO DA HISTÓRIA .................................................................................................................................................... 41 TEMPO DO DISCURSO .................................................................................................................................................. 41 O TEMPO PSICOLÓGICO ............................................................................................................................................... 43
PROCESSO NARRATIVO .............................................................................................................................................44
FOCALIZAÇÃO ............................................................................................................................................................... 44 SEQUÊNCIA NARRATIVA DAS AÇÕES ............................................................................................................................ 44
A MENSAGEM ............................................................................................................................................................45
SIMBOLISMO .............................................................................................................................................................45
LINGUAGEM E ESTILO ................................................................................................................................................47
MODOS DE REPRESENTAÇÃO ....................................................................................................................................49
PLANO-SÍNTESE .........................................................................................................................................................51
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................................56
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 3
EÇA DE QUEIRÓS (1845-1900)
VIDA:
Nasceu na Póvoa de Varzim fruto de uma ligação ilegítima entre um magistrado e a filha de um
general do exército. Até aos quatro anos viveu com a madrinha em Vila do Conde indo depois
para a casa dos avós paternos, em Aveiro, após o casamento dos pais. Só aos dez anos se juntou
aos progenitores no Porto e aí, no Colégio da Lapa, teve como professor o seu futuro colaborador
e amigo Ramalho Ortigão.
Aos dezasseis anos, entra em Direito (Coimbra) e aí ganha a amizade de Antero de Quental,
Teófilo de Braga, José Falcão e outros que lhe modelariam o espírito.
Concluída a formatura, exerce advocacia e o jornalismo em Lisboa, vindo a ser cônsul de
Portugal em Havana, Inglaterra e França. Em 1886 casa com uma fidalga, D. Maria Emília de
Castro, morrendo em França, em 1900.
EVOLUÇÃO LITERÁRIA:
a) Fase romântica:
Nas “Prosas Bárbaras” dá-nos uma visão política do mundo cheia de panteísmo, muito idealizada e romântica.
b) Fase realista:
Aqui surge ocupado com o inquérito à sociedade portuguesa que procurava descarnar a fim de
pôr os podres à vista: O Crime do Padre Amaro; O Primo Basílio; A Tragédia da Rua das Flores;
O Mandarim; A Relíquia e Os Maias.
c) Fase social-nacionalista:
A partir de 1888, o escritor assiste ao início do desfazer da feira materialista: contesta-se o
positivismo no campo da Filosofia; na pintura o realismo é substituído pelo impressionismo. No fim
da sua carreira, impossibilitado de modificar a sociedade portuguesa, Eça voltou as costas aos
reformadores realistas e blocou-se numa redoma de imaginação com as suas criações burguesas
e assim aparecem os endinheirados: Fradique (Fradique Mendes); Gonçalo (Ilustre Casa de
Ramires); Jacinto (A Cidade e as Serras), fazendo sentir os encontros da pátria e do mundo.
TEMPERAMENTO DO ROMANCISTA:
Espírito aberto aos novos ideais literários. Mostra acentuado inconformismo com o ritmo da
evolução sociológica e política de Portugal constitucional, sendo irónico para com as
infraestruturas da civilização nacional contemporânea onde vê tudo pervertido e a merecer crítica.
Está convencido que uma catástrofe que “vire tudo de pernas para o ar” será capaz de salvar a
pátria.
Vivendo no estrangeiro e comparando civilizações, mostra-se um tanto sarcástico com as
nossas coisas e anseia por uma reforma total da nação.
A partir de 1880 (”vencido da vida”) abandona o inquérito à vida portuguesa e vai-se mostrar
atraído pela nossa terra e suas gentes, deixando transparecer rasgos de bondade pelo “Portugal
Velho”, ao mesmo tempo que confia num Portugal do futuro em África, condenando as políticas
que europeizando a nação lhe estavam a adulterar o espírito.
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CONTEXTO POLÍTICO E CULTURAL DO REALISMO E DO NATURALISMO
Principais acontecimentos na Europa no século XIX
A partir de 1740:
Aumento da população: emigração forte para outros continentes;
Transformações na agricultura (adubagem, especialização agrícola, aumento de
produção), indústria (aumento do número de indústrias, produção em massa, concentração
da população junto das zonas industriais) e comércio (a Europa passa a ser a fábrica do
mundo, vendendo o que produz).
Junção da ciência à técnica, de forma a aumentar o rendimento.
Revolução Industrial e Capitalista
Revolução Industrial e capitalista
Distinção muito forte entre as classes sociais: grandes diferenças entre pobres e ricos -
exploração do Homem pelo Homem. Temos o enriquecimento fácil de alguns em
detrimento da maioria trabalhadora.
Salienta-se o aparecimento da burguesia: a burguesia era um grupo de cidadãos que
pertencia inicialmente ao povo, mas ao enriquecer deixou de se identificar com o povo: a
burguesia cresce em número e em poder. A burguesia defende o liberalismo económico,
ou seja, uma economia aberta em que o Estado não intervém nos lucros.
Aparecem as doutrinas socialistas: estas ideias defendem que todos têm o direito de viver
de forma equivalente. Todos têm direito à educação e à saúde.
Trata-se de um socialismo utópico, porque, apesar de se tentar pôr em prática, não se
consegue nada.
Na Europa encontramos ideias:
Socialistas: Proudhon e Marx;
Filosóficas: Hegel, Hartmann e Schopenhauer;
Literárias: Balzac (romance); Stendhal (romance), Flaubert (romance) e Zola
(grande representante da escola Naturalista)
Os romancistas franceses fazem a delícia dos escritores mais novos: influenciam
Antero de Quental e Eça de Queirós e abriram caminho para o Realismo.
- No campo do Romance temos o Realismo e o Naturalismo.
- No campo da Poesia temos o Realismo e o Parnasianismo.
Em Portugal
Aumento da população: forte emigração
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A economia reflete a independência do Brasil (Portugal perde os recursos do Brasil)
Portugal dedica-se à agricultura, à pecuária e às atividades mineiras.
Dá-se um certo desenvolvimento na rede ferroviária e rodoviária: o melhoramento dos
transportes e das comunicações levam:
- abertura para os mercados urbanos;
- abertura ao mercado nacional;
- alargamento dos horizontes da população rural.
Portugal lança-se na conquista de África, no entanto, mais tarde, não conseguimos
acompanhar os outros países da Europa e acabamos por ficar para trás.
Não conseguimos concorrer com os países da Europa nem pela qualidade nem pelos
preços.
Em 1875 surgem em Portugal as ideias socialistas.
Desenvolvimento de Portugal pelos Intelectuais de Coimbra
Com a linha ferroviária que unia Paris a Coimbra, começam a chegar a Coimbra textos de
Hegel; Michelet e Proudhon. Os livros chegam às mãos dos estudantes universitários de
Coimbra que já andavam revoltosos: estes livros vieram aumentar o instinto revolucionário
dos estudantes.
1ª geração romântica: Garrett - marcada pelo nacionalismo cultural excessivo;
2ª geração romântica: António Feliciano de Castilho - coincide com o movimento da
Regeneração (1851). Encontramos os escritores comprometidos com o regime da
Regeneração e que eram privilegiados com cargos que lhes oferecia a:
- política;
- empregos públicos;
- jornalismo.
A pretensão dos escritores aos postos oficiais implicava uma atitude respeitosa e
obediente para com as instituições vigentes.
A Regeneração facilita uma literatura conservadora, seguidista, acomodada. Era uma
literatura oficial onde imperava o conservadorismo.
A 2ª geração romântica estava fortemente condicionada pela personalidade de Castilho:
era encarado como o patriarca das letras e tinha uma formação neoclássica, mas
adaptado aos gostos do público ultrarromântico.
Entre 1850 – 1870: período pouco fértil em originalidade literária. Verifica-se uma
alienação das realidades circundantes. Características:
- temas como a morte, a saudade e o amor infeliz;
- fácil sentimentalismo bucólico ou fatalista;
- culto provinciano da literatura, de importação e do panfleto literário;
- estilo melodramático e rebuscado;
- os textos formalmente são belos e musicais, mas o conteúdo é doentio.
GERAÇÃO DE 70
1865: em Coimbra: surgimento de uma nova geração intelectual, marcada pela rebeldia -
Geração de 70 –, sendo a “Questão Coimbrã” ou do “Bom Senso e Bom Gosto” a primeira
manifestação importante dessa mocidade.
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Esta Geração de 70 era constituída por jovens escritores e estudantes de Coimbra a
arrancou da degenerescência romântica da literatura portuguesa e, de uma maneira geral,
da cultura portuguesa: pôs em questão a cultura portuguesa desde as suas origens,
fixando-se nas Descobertas.
Preparar, pelo menos numa fase inicial, uma profunda transformação na ideologia política
e na estrutura social portuguesa (revolução republicana de 1910)
À Geração de 70 pertencem sobretudo: Antero de Quental, Eça de Queirós e Oliveira
Martins. Secundariamente, encontramos: Teófilo Braga, Gomes Leal, Jaime Batalha Reis,
Adolfo Coelho.
Como surge a Questão Coimbrã:
1862- publicação do poema D. Jaime, de Tomás Ribeiro. Feliciano Castilho
apadrinhou este poema, confrontando esta obra com Os Lusíadas, considerando-a
uma epopeia superior à de Camões.
Agosto de 1865: Antero de Quental publica Odes Modernas, influenciado por
escritores e filósofos franceses. Antero afirma no prefácio que “A poesia é a voz da
revolução”.
27 de setembro de 1865: Castilho escreve uma carta dirigida ao editor António
Pereira que serve de posfácio ao poema da Mocidade de Pinheiro Chagas.
Feliciano Castilho faz:
- o elogio deste escritor;
- ataca a escola de Coimbra;
- recomenda-o ao rei D. Pedro V para a cadeira de Literatura, no Curso Superior de
Letras.
Novembro de 1865: Antero responde com uma carta intitulada Bom Senso e Bom
Gosto.
Estava despoletada a Questão Coimbrã, que envolverá muitos escritores; estavam
também semeadas as sementes do Realismo.
Em Lisboa: nasce o Cenáculo (grupo de intelectuais: Antero de Quental, Eça de Queirós,
Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Jaime Batalha Reis). É uma espécie de prolongamento
dos tempos de Coimbra na capital.
1871: realizam-se as Conferências Democráticas do Casino.
Em Portugal, o Realismo e o Naturalismo aparecem ligados a expressões como Questão
Coimbrã, Cenáculo, Conferências do Casino, Geração de 70. A primeira foi o passo inicial
para a introdução de novas ideias e informa a oposição entre os de Coimbra e os de
Lisboa. O Cenáculo foi marcado por discussões intelectuais e a figura de Antero de
Quental, e entre os seus membros nasceu a ideia daquilo que seria um novo motivo de
polémica – as Conferências do Casino.
O período literário que se segue ao Realismo é o Naturalismo que se pode considerar, de
certa maneira, como o seu prolongamento.
Alguns escritores do século XIX, como Eça de Queirós, chegam a confundir o Realismo e
o Naturalismo.
A 2ª fase da Geração de 70, a final, e que corresponde exatamente ao fim do século, é a
fase do grupo dos “Vencidos da Vida”. Renunciam à ação política e ideológica imediata.
Surge então a idealização vaga de uma aristocracia iluminada, contraponto do socialismo
utópico.
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As Conferências do Casino
Foram assim chamadas porque decorreram na sala alugada do Casino Lisbonense.
Ao todo, realizaram-se cinco palestras em Lisboa, na primavera de 1871.
As conferências foram realizadas pelo chamado grupo do Cenáculo, formado por jovens
escritores e intelectuais da vanguarda (geração de 70). Este grupo passa a residir na
capital depois de concluídos os estudos em Coimbra.
Objetivos:
- “agitar” os problemas que eram responsáveis pelo estado de decadência do país e do
seu afastamento em relação à Europa culta.
As conferências do casino nasceram da: preocupação sentida por Antero desde a Questão
Coimbrã, no sentido de fazer sair a vida cultural portuguesa da estagnação que fora fomentada
pela Regeneração. Estas conferências vão ser pouco depois suspensas pelo governo, por
Portaria de 26 de junho de 1871.
Significado das Conferências do Casino:
Representam a afirmação de um movimento de ideias que contagiou os intelectuais
portugueses, através dos livros que vieram de fora.
Ideias:
- interesse pelas ideias políticas e sociais;
- evolucionismo de Darwin;
- interesse pelas ideias de Marx e Hegel;
- crença no progresso das sociedades, conseguido através das ciências;
- o realismo em arte como forma de expressar um novo ideal de vida (4ª Conferência – Eça
de Queirós: «A Literatura nova – o realismo como nova expressão de arte).
REALISMO/NATURALISMO
O Realismo nasceu como um movimento de reação ao Romantismo europeu. Como escola
literária, estendeu-se aproximadamente de 1830 a 1880. Na sua origem estão as novas teorias
sociais e científicas, o surto industrial e a difusão do pensamento de Augusto Comte - o
positivismo -, que fizeram surgir uma visão do mundo mais objetiva, ou, sob certo ponto de vista,
mais científica e crítica.
Na arte e na literatura, afastando-se claramente da tendência romântica para a imaginação,
para o devaneio, para a fuga da realidade, o autor realista procura representar, acima de tudo, a
verdade absoluta e objetiva, isto é, a vida tal qual ela é, servindo-se para isto da técnica da
documentação e da observação, procurando tornar a arte num espelho do mundo sensível,
através da atenção dada à natureza física e psicológica do homem. Interessado na análise de
caracteres, de modo a representar e interpretar a vida. O autor realista encara o homem e o
mundo objetivamente; para isso, serve-se das impressões sensíveis, procurando retratar a
realidade através da observação minuciosa dos factos, do uso de detalhes específicos, dando
origem a uma narrativa longa e lenta e à impressão nítida de fidelidade ao real,
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A escola realista atinge seu ponto máximo com o Naturalismo, que lhe acrescenta uma
nova conceção de vida, concebida como resultado da confluência de forças mecânicas e
exteriores (a hereditariedade, a educação e o ambiente) sobre os indivíduos, vistos como vítimas
desse rigoroso determinismo, que lhes condiciona as ações, o carácter e o destino.
Os narradores dos romances naturalistas têm como traço comum a omnisciência que lhes
permite observar as cenas diretamente ou através de alguns protagonistas. Privilegiam a minúcia
descritiva, revelando as reações externas das personagens, abrindo espaço aos retratos literários
e à descrição detalhada dos factos banais numa linguagem precisa e objetiva.
Outro tratamento típico é a caracterização psicológica das personagens, que têm seus
retratos compostos através da exposição dos seus pensamentos, hábitos e contradições,
revelando a imprevisibilidade das situações.
De forma esquemática, podemos sintetizar:
a) Marcas que definem o Realismo:
- reação aos ideais românticos e consequente negação do subjetivismo;
- pressupostos ideológicos de índole materialista, ligados a um liberalismo reformador ou ao
socialismo utópico;
- procura de representação do presente, ao contrário do Romantismo que se volta para o
passado ou para um futuro utópico;
- descrição da realidade tal como ela é, procurando temas de alcance coletivo;
- negação da arte pela arte;
- processos típicos de romance documental;
- análise psicológica;
- tratamento verdadeiro do material, procurando a verosimilhança no arranjo dos factos
selecionados;
- os incidentes do enredo decorrem do carácter das personagens - indivíduos concretos,
reconhecíveis, afastando-se dos tipos genéricos, personagens portanto vulgares,
imprevisíveis, complexas;
- verosimilhança das situações e dos traços de carácter;
- objetivismo, materialismo, racionalismo: o autor não confunde os seus sentimentos e
pontos de vista com as emoções e motivos das personagens;
- ataque às instituições tradicionais conservadoras: Família, Igreja, Estado;
- do ponto de vista da estrutura, a ficção realista distingue-se pelo predomínio da
personagem sobre o enredo, da caracterização sobre a ação, num compromisso do retrato
com a análise da realidade;
- temas: representação da vida burguesa, naquilo que ela possa ter de mais desagradável
ou negativo; a representação da vida urbana; a análise das relações e dos conflitos
sociais; a representação social e moral da frustração, da corrupção e do vício;
- formas literárias: romance (forma privilegiada) porque só através de uma forma narrativa
de grande alcance e profundidade seria possível o levantamento e o estudo sistemáticos e
exaustivos das problemáticas a abordar.
b) Marcas que definem o Naturalismo:
- teoria de que a arte deve conformar-se com a natureza, utilizando-se métodos científicos
de observação e experimentação no tratamento dos factos e das personagens. Aplicação
da ciência à Literatura - a observação e a experimentação como princípios metodológicos
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da investigação científica ("romance experimental");
- a visão da vida no Naturalismo é determinada, mecanicista: o homem é presa de forças
fatais e superiores, impulsionado tanto pela fisiologia como pelo espírito, ou pela a razão;
- o Naturalista observa o homem por meio do método científico, impessoal, objetivamente,
como um "caso" a ser analisado;
- tendência reformadora por parte do Autor: preocupação com os aspetos degradantes,
visando a melhoria das condições sociais que os geraram;
- com sua preocupação científica, o autor naturalista declara-se com interesses amplos e
universais: nada é desprovido de importância e significado, nada que esteja na natureza é
indigno da literatura;
- preocupa-se mais com as causas dos fenómenos do que com os fenómenos em si
(Determinismo);
- temas: o alcoolismo, como deformação social e dos caracteres; o jogo, encarado como
consequência de determinadas situações de injustiça; o adultério; a opressão social, como
resultado de conflitos de interesses, denunciando as suas causas económicas, políticas e
sociais; a doença (a loucura...), enquanto manifestação de taras hereditárias.
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A ação na obra Os Maias
1 - A ESTRUTURA DO ROMANCE
a) Título - Os Maias - história de uma família lisboeta, representante da alta burguesia, ao
longo de três gerações:
Caetano da Maia - (decadência do absolutismo)
Afonso da Maia (lutas liberais - absolutismo e liberalismo)
Pedro da Maia (crises do liberalismo)
Carlos da Maia (decadência do liberalismo)
b) Subtítulo - Episódios da Vida Romântica - descrição de quadros da vida romântica
através da crónica de costumes da sociedade lisboeta nos finais do século XIX - Época da
Regeneração.
2 - A ESTRUTURA É DEFINIDA POR DOIS NÍVEIS DE AÇÃO:
Nível 1 - Ação Fechada
a) Intriga principal - dominada pelos amores incestuosos de Carlos e Maria Eduarda e o
seu desfecho trágico.
b) Intriga secundária - dominada pelos amores de Pedro e Maria Monforte, a fuga desta
e o suicídio de Pedro.
Afonso da Maia - fator de unidade
Nível 2 - Ação Aberta
a) - Crónica de costumes - concretiza-se através da construção de ambientes e da
atuação de personagens-tipo; são episódios recheados de fina ironia, dos quais se destacam:
- o jantar no Hotel Central; - as corridas de cavalos; - o jantar dos Gouvarinhos; -
a redação do jornal A Tarde; - o sarau literário da Trindade; - passeio final de Carlos e Ega
Estes dois níveis articulam-se de forma alternada
3 - A ESTRUTURA DA INTRIGA
A - Introdução e preparação da ação (Cap. I a IV)
Ramalhete no outono de 1875 (Cap. I).
Instalação dos Maias.
Grande analepse:
- Juventude de Afonso e exílio em Inglaterra (Cap. I);
- Intriga secundária: vida de Pedro - infância, juventude, relação e
casamento com Maria Monforte, suicídio (Cap. I e II);
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- Carlos - infância (Cap. III);
- juventude e estada em Coimbra (Cap. IV);
- longa viagem pela Europa (Cap. IV) - época de formação.
Neste primeiro momento da intriga o ritmo é rápido - 55 anos da família dos Maias em
“flashback” (de 1875-1820). Os acontecimentos sucedem-se velozmente, assemelhando-se ao
ritmo narrativo de uma novela.
O tempo do discurso é menor (4 capítulos) que o tempo da história (55 anos).
B - Intriga principal (Cap. IV a XVII)
- Carlos vê Maria Eduarda no Hotel Central;
- Carlos visita Rosa (filha de Maria Eduarda);
- Carlos conhece Maria Eduarda, na casa desta;
- Declaração de Carlos a Maria Eduarda;
- Consumação do incesto inconsciente;
- Encontro de Maria Eduarda com Guimarães;
- Revelações de Guimarães a Ega;
- Revelações de Ega a Carlos;
- Revelações de Carlos a Afonso;
- Insistência no incesto, agora consciente;
- Encontro de Carlos com Afonso;
- Morte de Afonso (por apoplexia);
- Revelações de Ega a Maria Eduarda;
- Partida de Maria Eduarda.
Elo de ligação entre as duas intrigas - as revelações de Guimarães permitem apreender a
remota conexão das ações de Pedro e Maria Monforte com o presente de Carlos e Maria
Eduarda.
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ESQUEMA DAS ESTRUTURAS PARALELAS
(Intriga principal e intriga secundária)
PEDRO CARLOS
Vida dissoluta.
Vida dissoluta.
Encontro fortuito com Maria Monforte.
Encontro fortuito com Maria Edaurada.
Paixão Paixão
Pedro procura um encontro com Maria Monforte.
Carlos procura um encontro com Maria Eduarda.
Encontro através de Alencar/Melo.
Encontro através de Dâmaso (indireto).
Elemento de oposição: a negreira (oposição real de Afonso).
Elemento de oposição: a amante (oposição potencial de Afonso).
Encontros e casamento.
Encontros e relações.
Vida de casados; viagem ao estrangeiro, vida social em Arroios, nascimento dos filhos.
Vida de relações; viagem ao estrangeiro e
casamento adiados, vida social na Toca.
Retardamento do encontro com Afonso. Retardamento por causa de Afonso.
Elemento desencadeador do drama: o napolitano.
Elemento desencadeador da tragédia: Guimarães.
Infidelidade e fuga de Maria Monforte – reações de Pedro.
Descoberta do incesto – reações de Carlos.
O Drama A iminência da Tragédia
Regresso de Pedro ao Ramalhete, diálogo com Afonso e suicídio de Pedro.
Encontro de Carlos com Afonso, mudo, sem diálogo e motivação para o suicídio de Carlos.
Motivação para a morte de Afonso.
Morte de Afonso.
Outras ações secundárias surgem na obra e são merecedoras de atenção:
- A educação tradicional de Eusebiozinho em contraste com a educação
britânica de Carlos;
- Os amores de João da Ega e Raquel Cohen;
- O romance de Carlos com a Gouvarinho;
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- A história da falta de moral e escrúpulos de Dâmaso e seus comparsas
(Eusebiozinho e Palma Cavalão).
Esta segunda parte estende-se ao longo de 14 meses. O ritmo é espaçado, com uma
sucessão lenta de células narrativas, com retardamento da ação, concentração no espaço e
quase imobilidade no tempo, próprios do romance: o tempo do discurso equivale ao tempo da
história.
C - Epílogo (Cap. XVIII)
- Viagem de Carlos e Ega;
- Reencontro de Carlos e Ega - reflexão sobre as consequências familiares,
existenciais, psicológicas e ideológicas do incesto.
4 - ESTRUTURA TRÁGICA
Intriga do romance - dimensão trágica:
- o tema do incesto - entre Carlos e Maria Eduarda;
- as personagens (protagonistas) - de carácter superior e excecional;
- a força do destino - que se abate sobre as personagens de forma implacável.
5 – CLASSIFICAÇÃO LITERÁRIA
O romance apresenta-nos um vasto panorama da alta sociedade lisboeta da segunda metade
do século XIX, nele assumindo, portanto, um enorme relevo a análise do espaço social. Por essa
razão, não se hesita em classificá-lo como romance de espaço (Realismo).
Algumas características de romance naturalista (relevo dado à influência da hereditariedade,
do meio e da educação em personagens tão importantes como Pedro da Maia, Carlos, Maria
Eduarda,...) não chegam para secundarizar tudo o que faz da obra uma análise crítica da
sociedade contemporânea, representada por um indivíduo (Carlos da Maia) e por uma enorme
galeria de figuras que giram à sua volta.
N’Os Maias é, sobretudo, um espaço social que domina, o microcosmo da sociedade lisboeta
que representa uma realidade mais vasta – Portugal.
5.1. O REALISMO/NATURALISMO EM OS MAIAS
A obra Os Maias aproxima-se do Naturalismo pelos seguintes aspetos:
a negação da confusão entre arte e moral - a obra deveria fazer uma abordagem objetiva
da realidade - Eça de Queirós faz o retrato de uma sociedade decadente, dominada por
uma mentalidade decrépita e medíocre;
a "pintura" da sociedade contemporânea do autor;
a caracterização das personagens - produto da raça, do meio e do momento histórico;
a localização precisa das personagens no espaço físico (através da morada, por exemplo);
a ação - ao nível da prática voluntária do incesto, pela parte de Carlos;
a influência do fator hereditariedade - Carlos herda o temperamento romântico de sua
mãe;
a focalização omnisciente da narrativa (a par da focalização interna, centrada em Carlos);
o recurso ao discurso indireto livre;
a libertação da linguagem e da sintaxe.
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Português 11º Ano – 2011/2012 14
Eça de Queirós deixou-nos um testemunho inegável da época em que viveu através da
criação de caricaturas que povoam a sua obra e através da crítica aos costumes de uma
sociedade que estagnara, após uma tentativa de agitação do meio nacional - o Portugal da
Regeneração.
A obra afasta-se, contudo, da estética naturalista pelos seguintes fatores:
o carácter romanesco da ação e a aceitação da imaginação, a par da Razão;
a negação da filosofia positivista, em detrimento da crença num Destino que governa o ser
humano independentemente da sua vontade, do meio em que se insere e da filosofia de
vida que defende. Esta ideia aparece expressa no monólogo interior de Ega, após as
revelações do Sr. Guimarães em relação ao parentesco entre Carlos e Maria Eduarda:
"Não podia ser! Esses horrores só se produziam na confusão social, no tumulto da Meia
Idade! Mas numa sociedade burguesa, bem policiada, bem escriturada, garantida por tantas
leis, documentada por tantos papéis, com tanto registo de batismo, com tanta certidão de
casamento, não podia ser! Não!"
e no final da obra, quando Cardos e Ega defendem a teoria ”fatalismo muçulmano"
a crítica ao idealismo desmesurado subjacente à at itude do Homem, da segunda metade
do séc. XIX, ao acreditar na sua racionalidade como forma de explicação do Universo (é
esse sentido da obra Memórias de um Átomo, que João da Ega pensa escrever, sem que,
no entanto, concretize o seu intento).
A presença de um Destino que marca a vida humana levará, por outro lado, à ideia de
absurdo, que domina ainda a sociedade do século XX e que colocaria em causa a própria
racionalidade do ser humano, não apenas como forma de compreender o Universo, como
também enquanto forma de estar neste planeta.
Com efeito, Carlos não é apenas vítima do meio, do seu dandismo e do seu diletantismo.
Uma força superior conduziu-o à vida de Maria Eduarda, pagando ambos, de modo absurdo, o
erro que sua mãe cometera.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 15
LINHA EVOLUTIVA DA DEGRADAÇÃO DOS MAIAS E DE PORTUGAL
CR
ES
CE
NT
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EB
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DE
PO
RT
UG
AL
Caetano da Maia Lisboa absolutista.
Ambiente apostólico, tabernáculo e
plebeu.
Afonso da Maia
Presencia as gerações
em decadência
Lisboa Miguelista.
Reação ao absolutismo vigente.
Período de revolta e da revolução
liberal.
Pedro da Maia
Lisboa da instauração do Liberalismo
– as suas consequentes contradições
internas.
Ambiente cultural, amolecido por um
romantismo deletério.
Carlos da Maia
O último dos Maias
Lisboa da decadência, das
esperanças liberais.
Portugal da regeneração, país
politicamente estabilizado, mas
económica e financeiramente
decadente.
A ação trágica em Os Maias
O desfecho anunciado, a força do destino e os presságios.
Vilaça «aludia a uma lenda, segundo a qual eram sempre fatais aos Maias as paredes do
Ramalhete».
Maria Monforte escolhe o nome de Carlos Eduardo para o filho: «Um tal nome parecia-lhe
conter todo o destino de amor e façanhas». [Carlos Eduardo, recorde-se, foi o último dos
Stuart.].
Ega, a propósito do amor de Carlos e Maria Eduarda: «…ambos insensivelmente,
irresistivelmente, fatalmente, marchando um para o outro»; um amor vivido como «o seu
irreparável destino».
«Havia uma similitude nos seus nomes [Carlos Eduardo / Maria Eduarda]. Quem sabe se
não pressagiava a concordância dos seus destinos.».
Aspetos como a força do destino ou os presságios ganham uma importância capital.
Presságios: manifestações disfarçadas da força do destino, que deixam prever o desenlace
trágico.
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Português 11º Ano – 2011/2012 16
A trama urdida pelo destino
… desmaiavam, na trama de lã,
(ardil, cilada)
(apanhados)
os amores de Vénus e Marte (irmãos)
A DIMENSÃO TRÁGICA D’OS MAIAS ADVÉM:
- do fatalismo e da temática do incesto (cf. Rei Édipo);
- da importância atribuída ao destino - força destruidora;
- dos presságios e símbolos de natureza trágica.
1 – Destino
Afasta Carlos e Maria Eduarda na infância, junta-os e fá-los apaixonar-se um pelo outro em
adultos.
“inseparável”, “implacável” e “inevitável” assiste à felicidade dos amantes, enviando o seu
mensageiro na figura do Sr. Guimarães, para os destruir.
Vai ser revelado ao longo dos capítulos através dos presságios, dados pela focalização do
narrador e pelas personagens.
2 - Estrutura trágica da intriga - secundária e principal - (cf. Tragédia Clássica)
a) - Tal como na tragédia clássica:
atinge seres de condição elevada;
as personagens (em número reduzido) são um instrumento do destino;
submetem-se a uma fatalidade inexorável.
b) Elementos da tragédia:
Hybris - Pedro desafia Afonso
- Carlos desafia as normas da sociedade
Peripécia - Fuga de Maria Monforte
- Encontro de Maria Eduarda e Guimarães
Anagnórise - Reconhecimento da traição por Pedro
- Reconhecimento do incesto por Carlos e Maria Eduarda
Pathos - Sofrimento de Pedro
- Sofrimento de Carlos e Maria Eduarda
Catástrofe - Suicídio de Pedro - desfecho romântico
- Morte de Afonso
- Morte para o amor com a separação definitiva de Carlos e Maria Eduarda
- Morte social da família
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 17
Como inserir o trágico no romance realista?
afastamento em relação ao Naturalismo:
fatores: meio, educação e hereditariedade não funcionam determinismo e positivismo
Os Maias surge numa época de desconfiança no Naturalismo, mas não de um corte radical,
antes de uma transformação.
o recurso ao trágico surge como uma inovação estética:
incapacidade de o homem controlar a sua experiência
o carácter imprevisível dos fenómenos
Mas insere-se o insólito no quotidiano, moderando as consequências do incesto
(profundas, sim, mas não espetaculares)
o remorso - ato comedido;
o arrependimento - morte do avô;
desgosto - separação de Maria;
não destroem Carlos - não se suicida; viaja (tira partido do dinheiro);
claro que lhe deixa marcas na alma.
Mas Eça racionaliza o “dramalhão”, dizendo, à maneira naturalista “Ficavam só os dois
animais, nascidos do mesmo ventre, juntando-se a um canto como cães, sob o impulso
bruto do cio” (Cap. XVI).
e remata, desdramatizando: Ega confessou que Carlos ficara ainda abalado” (Cap. XVII)
Repare-se:- Ega inicialmente recusa;
- depois tenta explicar, pois Carlos e Maria Eduarda distinguem-se
numa Lisboa “provinciana”;
- tenta convencer Carlos que é apenas o fim de um “grande amor”.
E compensa ironicamente, pela inserção de episódios cómicos:
os prazeres da comida nos momentos mais graves (Ega vai comer um bife ao Tavares);
Vilaça à procura do chapéu interrompe várias vezes a revelação de Ega a Carlos;
os espirros quando Carlos e Ega visitam o Ramalhete no fim.
3 - Relação: Destino de Carlos e destino de Portugal
o destino conduz a família à destruição;
simbolicamente é o destino de uma geração, do Portugal finissecular.
vazio, frustração, marasmo;
homens socialmente inúteis e sua realização pessoal (Cap. XVIII);
destino fatal.
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Português 11º Ano – 2011/2012 18
A CRÓNICA DE COSTUMES
Ao subtitular o seu romance de “Episódios da vida romântica”, Eça apontou, desde logo, um
objetivo de alcance estrutural e social: a interligação da ação principal com uma sucessão de
acontecimentos de âmbito social que proporcionam a radiografia da sociedade lisboeta, e, por
extensão, de Portugal da segunda metade do século XIX.
Jantar no Hotel Central – Cap. VI
Objetivos:
homenagear o banqueiro Jacob Cohen;
proporcionar a Carlos um primeiro contacto com o meio social lisboeta;
apresentar a visão crítica de alguns problemas;
proporcionar a Carlos uma visão de Maria Eduarda.
Temas discutidos:
A Literatura e a crítica literária
Tomás de Alencar João da Ega
defensor do Ultrarromantismo;
incoerente: condena no presente o que cantara no passado: o estudo dos vícios da sociedade;
falso moralista: refugia-se na moral, por não ter outra arma de defesa, acha o Realismo/Naturalismo imoral;
defensor da crítica literária de natureza académica;
preocupado com aspetos formais em detrimento da dimensão temática;
preocupado com o plágio.
defensor do Realismo / Naturalismo;
exagera, defendendo a inserção da ciência na literatura;
não distingue Ciência de Literatura.
Carlos e Craft O Narrador
recusam o ultrarromantismo de Alencar;
recusam o exagero de Ega;
Carlos acha intoleráveis os ares científicos do Realismo;
Carlos defende que os caracteres se manifestam pela ação;
Craft defende a arte como idealização do que de melhor há na Natureza;
Craft defende a arte pela arte.
recusa o ultrarromantismo de Alencar;
recusa a distorção do naturalismo contido nas afirmações de Ega;
afirma uma estética próxima da de Craft: «estilos novos, tão preciosos e tão dúcteis»: tendência parnasiana.
Próximos da doutrina estética de Eça quando defende para a literatura uma nova forma
As finanças
O País tem absoluta necessidade dos empréstimos ao estrangeiro;
Cohen é calculista cínico: tendo responsabilidades pelo cargo que desempenha, lava as mão
e afirma elegantemente que o País vai direitinho para a bancarrota.
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A história e a política
João da Ega Tomás de Alencar
aplaude as afirmações do Cohen;
delira com a bancarrota como determinante da agitação social;
defende a invasão espanhola;
defende o afastamento violento da Monarquia;
aplaude a instalação da República;
a raça portuguesa é a mais covarde e miserável da Europa;
«Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.»
teme a invasão espanhola: é um perigo para a independência de Portugal;
defende o romantismo político (uma república governada por génios; a fraternização dos povos.);
esquece o adormecimento geral do País.
Próximo de Eça que defende uma catástrofe nacional como forma de acordar o País.
Jacob Cohen Dâmaso Salcede
há gente séria nas camadas políticas dirigentes;
Ega é um exagerado.
se acontecesse a invasão espanhola, ele «raspava-se» para Paris;
toda a gente fugiria como uma lebre.
Conclusões a retirar das discussões:
A falta de personalidade:
Alencar muda de opinião quando Cohen o pretende;
Ega muda de opinião quando Cohen quer;
Dâmaso, cuja divisa é «Sou forte», aponta o caminho fácil da fuga.
A incoerência: Alencar e Ega chegam a vias de facto e, momentos depois, abraçam-se como
se nada tivesse acontecido.
Acima de tudo: a falta de cultura e de civismo domina as classes mais destacadas, salvo
Carlos e Craft.
As corridas de cavalos – Cap. X
Objetivos:
novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei;
visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos;
tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris;
cosmopolitismo (postiço) da sociedade;
possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que viu à entrada do Hotel Central.
Visão caricatural:
o hipódromo parecia um palanque de arraial;
as pessoas não sabiam ocupar os seus lugares;
as senhoras traziam «vestidos sérios de missa»;
o bufete tinha um aspeto nojento;
a 1ª corrida terminou numa cena de pancadaria;
as 3ª e 4ª corridas terminaram grotescamente.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 20
Conclusões a retirar:
o fracasso total dos objetivos das corridas;
radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta;
o verniz de civilização estalou completamente;
a sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça.
O jantar dos Gouvarinho – Cap. XII
Objetivos:
reunir a alta burguesia e aristocracia;
reunir a camada dirigente do país;
radiografar a ignorância das classes dirigentes.
Conde de Gouvarinho Sousa Neto
voltado para o passado;
tem lapsos de memória;
comenta muito desfavoravelmente as mulheres;
revela uma visível falta de cultura;
não acaba nenhum assunto;
não compreende a ironia sarcástica do Ega;
vai ser ministro.
acompanha as conversas sem intervir;
desconhece o sociólogo Proudhon;
defende a imitação do estrangeiro;
não entra nas discussões;
acata todas as opiniões alheias, mesmo absurdas;
defende a literatura de folhetins, de cordel;
é deputado..
A Imprensa – Cap. XV
Objetivos:
passar em revista a situação do jornalismo nacional;
confrontar o nível dos jornais com a situação do país.
«A Corneta do Diabo» «A Tarde»
o diretor é Palma «Cavalão», um imoral;
a redação é um antro de porcaria;
publica um artigo contra Carlos mediante dinheiro;
vende a tiragem do número do jornal onde saíra o artigo;
publica folhetinzinhos de baixo nível.
o diretor é o deputado Neves;
recusa publicar a carta de retratação de Dâmaso porque o confunde com um seu correligionário político;
desfeito o engano, serve-se da mesma carta como meio de vingança contra o inimigo público;
só publica artigos ou textos dos seus correligionários políticos.
Superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado; incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura.
O baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; tais jornais, tal País.
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O Sarau no Teatro da Trindade – Cap. XVI
Objetivos:
ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;
apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;
reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família real;
criticar o ultrarromantismo que encharcava o público;
contrastar a festa com a tragédia.
Rufino Alencar
o bacharel transmontano;
o tema do Anjo da Esmola;
o desfasamento entre a realidade e o discurso;
a falta de originalidade;
o recurso a lugares-comuns;
a retórica oca e balofa,
a aclamação por parte do público tocado no seu sentimento.
o poeta ultrarromântico;
o tema da Democracia Romântica;
o desfasamento entre a realidade e o discurso;
o excessivo lirismo carregado de conotações sociais;
a exploração do público seduzido por excessos estéticos estereotipados;
a aclamação do público.
O episódio final: o passeio de Carlos e Ega
O último capítulo funciona como o epílogo do romance, dez anos depois de acabada a
intriga. É semelhante aos outros nos objetivos críticos e diferente porque tem uma dimensão
ideológica e o processo de representação é de carácter simbólico. Os espaços percorridos estão
impregnados de conotações históricas e ideológicas.
O Espaço de Camões - representa o Portugal heroico da epopeia portuguesa, um Portugal
glorioso, mas perdido, envolvido por uma atmosfera de estagnação (anterior a 1580).
Os bairros antigos da cidade (Graça e Penha) que representam o absolutismo e onde se
critica o poder dos clérigos (anterior a 1820).
O Chiado que representa o Portugal do presente, o país decadente da Regeneração (a partir
de 1852).
Os Restauradores, símbolo de uma tentativa de recuperação falhada.
O Ramalhete a funcionar como sinédoque de todo o país - atingido pela destruição e pelo
abandono.
Entende-se que o plano da crónica de costumes constitui, de certa forma, o espaço social
da obra e representa um verdadeiro panorama crítico da sociedade lisboeta da segunda metade
do século XIX
As classes dirigentes alheadas da realidade; uma sociedade deformada pelos excessos líricos do ultrarromantismo; tal oratória, tal País.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 22
PERSONAGENS
CONCEÇÃO E FORMULAÇÃO
Personagens planas e personagens-tipo (figurantes):
As personagens da crónica de costumes são, de um modo geral, personagens planas,
personagens-tipo que representam grupos, classes sociais ou mentalidades, movimentando-se
em determinados ambientes.
Por oposição à personagem redonda, a personagem plana revela:
ausência de densidade psicológica.
ausência de atitudes inovadoras.
tiques, trejeitos, pormenores físicos sistematicamente repetidos sempre que intervêm na
ação...
EUSEBIOZINHO:
Representa a educação tradicional portuguesa (retrógrada).
ALENCAR:
Representa o ultrarromantismo hipersentimental, solene, exagerado.
Surge na trama desde a juventude de Pedro da Maia.
Caracteriza-se pelas suas atitudes, modo de falar (adjetivos que lhe aplica o narrador -
caricato, exagerado, langoroso, plangente, turvo e fatal), frases ressonantes, gosto cantante e
arrastamento de frases.
Nas suas posições estético-ideológicas confunde a arte e a moral.
CONDE DE GOUVARINHO:
Representa o poder político, a retórica oca, o colonialismo, a estreiteza de vistas.
O seu nível de cultura era muito baixo, mas mesmo assim é dos melhores políticos que
existiam em Portugal nessa altura.
CONDESSA GOUVARINHO:
Uma das amantes de Carlos, sensual, provocante, adúltera, com traços de Romantismo.
Personifica a decadência moral da aristocracia lisboeta.
SOUSA NETO (CONSELHEIRO):
Representa a Administração Pública.
Muito próximo do Gouvarinho; a ignorância, a incapacidade para o diálogo interessante e
proveitoso.
PALMA CAVALÃO (JORNALISTA):
Representa o jornalismo, a sordidez dos meios jornalísticos portugueses, a corrupção, a falta
de dignidade profissional (princípios deontológicos).
Anda sempre na companhia de Eusebiosinho, levam prostitutas espanholas a Sintra.
STEINBROKEN:
Representa a diplomacia.
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Visão oca, palavras inofensivas que nada querem dizer.
DÂMASO SALCEDE:
Uma galeria de vícios.
Repugnante física e moralmente. Invejoso, cobarde, intriguista, caluniador, estúpido,
exibicionista.
Não se vincula a nenhuma profissão ou esquema cultural definido.
TAVEIRA:
Representa a ociosidade crónica dos funcionários públicos.
COHEN:
Judeu banqueiro, representante da alta finança.
RAQUEL COHEN:
O “adultério elegante”, desavergonhada e com gosto pela aventura amorosa.
NEVES (JORNAL “A TARDE”):
Colega do Palma Cavalão. Os interesses políticos e a verdade da informação.
CRUGES:
Talento artístico com uma ponta de génio.
Tímido, sem à vontade na sociedade mundana, influenciado pelos condicionamentos do meio,
idealiza música que nunca compõe porque não tem quem lha oiça e compreenda.
Simboliza o músico idealista, que sucumbe à mediocridade cultural nacional.
VILAÇA (pai e filho):
Os Vilaça são os procuradores da família Maia (primeira e segunda gerações). Vilaça é o
arauto da fatalidade que ensombra a família e a sua morada citadina, o Ramalhete. Após a
morte de seu pai, Manuel Vilaça assume a função de procurador, com escritório na Rua da
Prata, acalentando o desejo de vir a ser vereador da Câmara e, quiçá, deputado.
Apesar da sua condição subalterna, este burguês diligente e empreendedor torna-se, de
facto, o autêntico mensageiro da fatalidade, ao revelar a Carlos a identidade de Maria Eduarda,
incumbido por João da Ega, que não tivera coragem de o confessar ao seu melhor amigo.
É de salientar a lealdade sincera com que quer o pai quer o filho servem a família Maia.
CRAFT:
Craft é filho de um clérigo da igreja inglesa (formação britânica), facto que o aproximará de
Carlos da Maia e da sua forma de estar no mundo, pelo que, entre eles, nascerá uma amizade
espontânea.
Esta personagem d' Os Maias, rica, de temperamento byroniano, dedica o seu tempo a viajar
e a colecionar obras de arte, juntando-as na casa que possuía nos Olivais e que, posteriormente,
vem a ser o ninho amoroso de Carlos e de Maria Eduarda. Verdadeiro gentleman, herdou da sua
cultura britânica, a bravata na defesa de ideias, a retidão de carácter e a correção.
Distanciamento e superioridade em relação à mentalidade e valores culturais da sociedade
portuguesa da Regeneração.
A degradação do meio em que vive acaba por influenciá-lo: acaba os seus dias sucumbindo
ao álcool.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 24
RUFINO:
Deputado por Monção, símbolo da oratória parlamentar, usando e abusando de uma retórica
balofa e oca, com uma mentalidade profundamente provinciana e retrógrada.
GUIMARÃES (JOAQUIM):
Joaquim, Guimarães é um antigo trabalhador do jornal Rappel (fundado por Victor Hugo e
Rochefort) e tio de Dâmaso; Guimarães é o portador da desgraça da família Maia. Tendo
conhecido a mãe de Carlos em Lisboa, encontrando-a posteriormente em Paris, é o recetor da
caixa que, à semelhança da caixa de Pandora, encerra o segredo da verdadeira origem de Maria
Eduarda e que, mais tarde, entrega a João da Ega.
CASTRO GOMES:
Castro Gomes funciona como o elemento catalisador da catástrofe ao desvendar o passado
de Maria Eduardo, de quem fora amante em Paris durante três anos. É o grande responsável pela
entrada da mesma na sociedade lisboeta. Após a descoberta do romance de Maria Eduarda com
Carlos da Maia abandona Portugal, aparentemente, sem grande pesar.
CARACTERIZAÇÃO
Caracterização direta:
É usada de forma privilegiada para todas as personagens, à exceção de Carlos.
Destaca-se a heterocaracterização naturalista de Pedro da Maia e a autocaracterização
híbrida de Maria Eduarda.
Caracterização indireta:
É utilizada para a personagem Carlos da Maia, da qual apenas se apresentam, de
início, pequenos traços físicos, deixando que as suas ações mostrem a sua personalidade.
A centralidade da personagem Carlos da Maia
Excetuando Carlos da Maia – o protagonista – todas as outras personagens são
secundárias. O autor procede a um tratamento mais aprofundado em relação à personagem
principal, que se destaca de imediato de todas as outras, uma vez que toda a trama narrativa se
desenrola à sua volta.
O narrador apresenta a sua formação enquanto jovem estudante:
a sua educação de cariz britânico em Santa Olávia: “Não tinha a criança cinco anos já
dormia num quarto só, sem lamparina; e todas as manhãs, zás, para dentro de uma tina de água
fria, às vezes a gear lá fora... e outras barbaridades (...) parece que era sistema inglês! Deixava-o
correr, cair, trepar às árvores, molhar-se, apanhar soalheiras(...). E depois o rigor com as
comidas! Só a certas horas e de certas coisas(...)”
a estada em Coimbra: “Para esses longos anos de quieto estudo, o avô preparara-lhe uma
linda casa em Celas, isolada, com graça de cottage inglês, ornada de persianas verdes, toda
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 25
fresca entre as árvores. Um amigo de Carlos (um certo João da Ega) pôs-lhe o nome de «Paços
de Celas».(...) estava destinado a ser um desses médicos literários que inventam doenças (...)”
a sua vida social em Lisboa: “- É verdade! Então, noutro dia, que tal, em casa dos
Gouvarinhos? Eu infelizmente não pude ir.
Carlos contou a soirée.(...)”
A sua participação no desenrolar da intriga principal: “Insensivelmente, irresistivelmente,
Carlos achou-se com os seus lábios nos lábios dela.”
O seu regresso a Lisboa após anos de exílio voluntário: ” Nos fins de 1886, Carlos (...)
escreveu para Lisboa (...) anunciando que, depois de um exílio de quase dez anos, resolvera vir
ao velho Portugal, ver as árvores de Santa Olávia e as maravilhas da Avenida.”
Carlos da Maia, devido à sua origem familiar e posição económica é o representante de um
determinado grupo social – o mais elevado da sociedade portuguesa – que, devido ao seu
estatuto sócio-económico, leva uma vida desafogada que lhe possibilita uma existência ociosa em
Lisboa. Por este motivo é apelidado, pelo narrador e até por outras personagens, de dandy1
(dândi) e de diletante2.
CARLOS DA MAIA Processo de caracterização:
A nível estrutural:
Caracterização direta, a nível físico segue as diretrizes naturalistas
Caracterização indireta, a nível psicológico afastamento em relação às diretrizes
(o herói moderno define-se pela ação) naturalistas
Focalização predominantemente interna
A nível temático:
- Carlos, homem superior pela educação, cultura, elegância e inteligência.
- Falha - porque está inserido num meio familiar e social de bem-estar material, propício à
ociosidade e ao diletantismo (sociedade intelectualmente pobre, fútil, medíocre, corrupta e
mesquinha); porque revela alguma fragilidade perante as paixões (Romantismo). Apesar da
educação, falha.
segue as diretrizes naturalistas – importância do fator ambiente/meio
- Carlos, homem submisso a uma força trágica que o domina, a um destino que dita as leis na
sua vida, a forças transcendentes que escapam à explicação naturalista.
afastamento em relação às diretrizes naturalistas – importância do destino trágico
1 Dandy – homem que veste com apuro, um janota, um elegante, e que vive praticamente de aparências e de uma vida
ociosa e fútil. 2 Diletante – Aquele que cultiva uma arte por gosto, por prazer, mas sem levar a sério o que faz, exercendo o ofício
sem espírito profissional, talvez por não necessitar.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
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Assim, opta pela fuga, pela evasão, pelo suicídio psicológico, pelo conceito cínico da vida, de
um herói moderno.
Destacam-se na sua personalidade as seguintes características: cosmopolitismo,
sensualidade, luxo, diletantismo (brinca com teorias, conceitos sem levar a sério nada disso) e
dandismo (característica daquele que é janota).
- Simbologia do protagonista:
“Carlos da Maia simboliza um certo fracasso das castas dirigentes de aristocratas e da
burguesia endinheirada do nosso oitocentismo; o seu alheamento em relação ao país real, o seu
egoísmo de ricaços que acabam por ir gozar na estranja as rendas das plebes lusitanas,
identificando-se por fim com a própria incapacidade de Portugal em se regenerar, em encontrar
um caminho na encruzilhada de neurastenias e vencidismos finisseculares.”
Carlos da Maia é o protagonista da obra Os Maias. É o segundo filho de Pedro da Maia e de
Maria Monforte. Após o suicídio do pai, irá viver com o avô, Afonso da Maia, para Santa Olávia,
local que só abandonará para ingressar no curso de Medicina, na Universidade de Coimbra. É
descrito corno um belo jovem da Renascença (beleza que o aproxima de sua mãe, apesar de
possuir os olhos negros e líquidos dos Maias). Durante o período em que estuda, experimenta
um pequeno interlúdio amoroso com a mulher de um empregado do Governo Civil,
Hermengarda, que abandona por sentir compaixão do marido e do filho; posteriormente,
envolver-se-á com uma prostituta espanhola. Após o término do curso, faz uma viagem à
Europa e passeia-se pelos lagos escoceses com Mme. Rughel (uma holandesa que estava
separada do marido). De regresso a Lisboa, vem imbuído de planos grandiosos de pesquisa e
curas médicas, mas depressa sucumbe à inatividade, pois, em Portugal, a medicina não era
vista como uma profissão a exercer por um aristocrata da sua estirpe. Por outro lado, a sua
aparência agradável, a sua juventude e o seu estatuto social motivam o receio dos chefes de
família, que não lhe confiavam as suas esposas. Assim, apesar do entusiasmo e das boas
intenções, Carlos ver-se-á sem qualquer ocupação, bocejando durante as manhãs em que, no
seu consultório (cuja decoração, aliás, se associa muito pouco ao exercício da profissão que
escolhera), esperava que aparecesse o seu primeiro doente.
Acaba por ser absorvido por uma vida social e amorosa que levará ao fracasso das suas
capacidades e à perda das suas motivações. Com efeito, se Carlos da Maia é um diletante, que
se interessa por inúmeras coisas (medicina, literatura, cavalos, armas, bricabraque), o que o
conduzirá a um comportamento dispersivo, que redundará na ausência da realização de uma obra
que seria o testemunho do pragmatismo que defende, a verdade é que Carlos se transforma
numa vítima de dois fatores determinantes da sua conduta: a hereditariedade, que transparece
tanto na sua beleza física como no seu gosto exagerado pelo luxo; e o meio em que se insere,
pois, apesar do seu programa educacional à inglesa e da sua cultura, que o tornará, aliás, uma
personagem nitidamente superior ao contexto sociocultural que o envolve pelo que ostenta um
silêncio que se traduz por uma quase ausência de emissão de opinião ou participação efetiva em
conversas fomentadas pelas outras personagens (excetua-se, neste ponto, a sua relação com
Ega, o único que merece a verbalização das ideias de Carlos e a sua empatia com Craft que,
aliás, dispensa as palavras), Carlos será absorvido pela inércia do país. De facto, ele assumirá o
culto da sua imagem, numa pura atitude de dândi, tal como o descreve Baudelaire: "O dândi
(...) deve viver e dormir à frente de um espelho", "Um dândi não faz nada"; por outro lado, ainda
nos seus Cadernos Íntimos, Baudelaire afirma que "O verdadeiro herói diverte-se sozinho". É de
notar que a conceção de herói se liga à figura do dândi, por seu turno associada ao ser
João Medina, “A Ascensão e Queda de Carlos da Maia”
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antissocial, num prolongamento do herói romântico. É certo que a solidão de Carlos da Maia
não é evidenciada de forma direta. Contudo, a sua superioridade e distância em relação ao meio
lisboeta é traduzida pela ironia (pensemos na sua atitude perante Sousa Neto, que deseja saber
se em Londres é tudo "carvão”, ao que Carlos responde, irritado com a mediocridade intelectual
do seu interlocutor, que, de facto, em Londres, havia "bastante carvão, sobretudo nos fogões,
quando havia frio") ou pela condescendência (recordemos o episódio das corridas de cavalos
em que Carlos resolve apostar numa pileca desacreditada, Vladimiro, para quebrar a sensaboria
do momento). Na verdade, em Carlos da Maia encontramos um dandismo que se revela não só
por um narcisismo que se alia a um gosto exagerado pelo luxo, como através de uma
automarginalização voluntária em relação à sociedade, motivada pelo ceticismo e pela
consciência do absurdo e do vazio que governa o mundo daqueles que o rodeiam. É como se
Carlos criasse uma paralógica baseada na crença de valores autênticos, tão diferentes daqueles
que ele reconhecia no meio social lisboeta da época e que o narrador privilegia, através da
focalização interna centrada nesta personagem.
A Condessa de Gouvarinho surge, em Lisboa, como o primeiro fio da teia que irá aprisionar
Carlos, no momento em que se lhe entrega, em busca de uma aventura que pudesse apimentar
a sua vida, fugindo a um casamento monótono e banal. Carlos entregar-se-á ao prazer sensual,
do qual, porém, se entedia.
A sua verdadeira paixão nascerá em relação a Maria Eduarda que ele vê, pela primeira vez,
em frente ao Hotel Central, comparando-a, desde logo, a uma deusa, e que jamais esquecerá.
Por ela, dispõe-se a renunciar a preconceitos e a colocar o amor no primeiro plano das suas
prioridades. Porém, ao saber da verdadeira identidade de Maria Eduarda, consumará o incesto
voluntariamente (o que levará à morte de seu avô, Afonso da Maia) por não ser capaz de resistir
à intensa atracção que sobre ele exerce Maria Eduarda e a saciação só aparecerá depois.
Carlos (tal como Ega) acaba por assumir que falhara na vida. De facto, a ociosidade crónica
dos portugueses acabaria por o contagiar, levando-o a viver para a satisfação do prazer dos
sentidos e a renunciar ao trabalho e às ideias pragmáticas que o dominavam, aquando da sua
chegada a Lisboa.
Carlos simboliza, afinal, a incapacidade de regeneração do país a que se propusera a
própria Geração de 70.
AFONSO DA MAIA
1ª Geração da família Maia
Geração das lutas liberais miguelismo (absolutismo) do pai - Caetano da Maia
Percurso:
- Jovem liberalismo exílio em Santa Olávia
Inglaterra conforto
morte do pai regressa a Lisboa
casa com Mª Eduarda Runa morte sem abalos
casamento e suicídio do filho Pedro 1º choque
refúgio em Santa Olávia educa o neto
hábitos saudáveis
- Envelhece convívio tranquilo com os amigos Santa Olávia
Ramalhete
- Morre de apoplexia “mais idoso que o século”
amores incestuosos de Carlos
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Português 11º Ano – 2011/2012 28
Caracterização da Personagem:
- Caracterização direta processos naturalistas
- Focalização omnisciente
Simbologia:
Representa o Portugal da sã e velha cepa - independente, patriota, tradicionalista, íntegro,
honrado, lúcido, com uma visão inovadora da educação e da cultura ( do Portugal
decadente da regeneração).
É vítima do ambiente corrupto que não compreende.
“Afonso da Maia representa n’Os Maias a única voz séria que propõe a ação como cura para
os males do país (ironicamente nunca o vemos a trabalhar, a iniciar qualquer empresa…”
Machado da Rosa
Afonso da Maia é filho de Caetano da Maia, conservador e religioso; Afonso da Maia
defendeu, na sua juventude, valores opostos aos de seu pai. Ávido na leitura, elege como seus
autores preferidos Tácito e Rabelais, não obstante a passagem por Rousseau, Volney, Helvetius
e pela Enciclopédia.
Casa com Maria Eduarda Runa e, durante as lutas liberais, vê o seu domicílio invadido
pelos seguidores de D. Miguel.
Exila-se, então, em Inglaterra, com a mulher e o filho, Pedro da Maia, tomando contacto com
a sociedade e cultura britânicas, que iria merecer a sua admiração. A sua vida em Inglaterra,
todavia, fica marcada pelo inconformismo de Maria Eduarda Runa que, amante do sol, vai
definhando e se entrega à religião de uma forma beata e incondicional, o que obriga Afonso a
regressar definitivamente a Portugal. A religiosidade excessiva da mulher irá ter o seu preço: a
educação perniciosa de Pedro da Maia (que se vem a revelar na sua fraqueza de carácter e
consequente suicídio). Contra o fanatismo e a ignorância da mulher, Afonso revela-se impotente.
Após a morta da mulher e do filho, Afonso parte definitivamente para a sua quinta no Douro
(Santa Olávia), onde tentará remediar os erros cometidos no passado tomando como fulcro dos
seus interesses a educação do neto, Carlos da Maia, entretanto entregue pelo pai aos seus
cuidados.
Retratado como o representante do liberalismo em oposição ao absolutismo do época,
Afonso da Maia simboliza sobretudo, a integridade moral e a retidão de carácter. Crítico em
relação à forma de estar na vida do seu próprio neto, Carlos da Maia (e até em relação a João da
Ega), contesta a sua inatividade e a inutilidade do seu diletantismo, incitando-o à ação. Se
observarmos esta personagem com atenção, veremos que Afonso da maio desde a juventude
preconiza a ação transformadora da sociedade, mas está longe de a protagonizar, isto é, não
existe por parte de Afonso da Maia, patriota na forma e na essência, qualquer iniciativa para curar
os males do país. A sua militância social começa e acaba na palavra, na vontade de fazer; nada
mais. Embora comparado "aos varões das idades heroicas", Afonso da Maia não é mais que a
representação de um eco e um reflexo do passado glorioso, incarnando apenas os valores de
outrora; revela-se, contudo, incapaz de se adaptar às mudanças que se avizinham.
Com efeito, Afonso representa o português integro, associado a um passado nacional
heroico, mas cuja vitalidade se esgotou nesse mesmo tempo já perdido. Ele simboliza a
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 29
incapacidade de regeneração do país, que vive a ilusão desse tempo áureo, alimentando-se
dessa imagem, contudo, perdida.
Irá desiludir-se com a corrente liberal e ansiar por uma aristocracia Tory, que pudesse repor a
ordem, o progresso e a moral, de facto, a moral que lhe é tão cara e que vai custar-lhe a própria
vida, ao ter conhecimento da relação incestuosa de Carlos da Maia com Maria Eduarda, Afonso
da Maia, que tudo vira, tudo passara, dedicando exclusivamente ao neto os últimos anos da sua
vida, não resiste ao rude golpe do destino e morre, envolto em tristeza, no Ramalhete, casa que
tão funesta fora à sua família.
PEDRO DA MAIA
Semelhanças físicas e psicológicas com a Mãe:
Maria Eduarda Runa Pedro da Maia
. «verdadeiramente lisboeta, pequenina» . «ficara pequenino e nervoso»
. «definhava (…) todos os dias mais pálida» . «(…) mudo, murcho, amarelo»
. «a sua devoção (…) exaltava-se» .«(…) nesses períodos tornava-se devoto»
. «a melancolia de Maria Eduarda» . «crises de melancolia»
Conclusão:
. beatice e devoção
. saúde precária Pedro era o prolongamento físico e temperamental
. compleição débil da mãe (traços hereditários)
. individualismo
. nervosismo
. morbidez
Caracterização da personagem:
caracterização direta processos naturalistas
focalização omnisciente
atenção dada
- hereditariedade - Mãe (Runas)
- educação - tradicional
- o meio - “romantismo torpe” (paixão fatal)
elementos responsáveis pelo futuro de Pedro, pois moldam
a sua personalidade
Pedro “era em tudo um fraco”
Traços genéricos de Pedro:
É o prolongamento físico e temperamental da mãe (Maria Eduarda Runa), a quem muito
amou.
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Português 11º Ano – 2011/2012 30
É vítima do meio baixo lisboeta.
É vítima de uma educação retrógrada.
É vítima das traições de sua mulher e consequente falha no casamento.
Falha como homem, optando pelo suicídio.
JOÃO DA EGA
Autêntica projeção (retrato) de Eça de Queirós pela ideologia literária, usando também um
“vidro entalado no olho direito”, e “com a sua figura esgrouviada e seca, os pelos do bigode
arrebitado sob o nariz adunco”, era considerado “como o maior ateu, o maior demagogo, que
jamais aparecera nas sociedades humanas”. Mefistófeles de Celorico, excêntrico, cínico, o
denunciador de vícios, o demolidor enérgico da política e da sociedade, o homem que possui
“faísca, rasgo, estilo e coração”, é, no fundo, “um romântico e um sentimental, um desses
indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão”.
Tornou-se amigo inseparável de Carlos, instalou-se no Ramalhete, e Raquel Cohen, esposa
do banqueiro judeu Jacob Cohen, será a sua grande paixão. Como Carlos, tem grandes projetos
(a revista, as “Memórias de um Átomo”, “O Lodaçal”, etc.) que nunca chega a realizar. É também
um falhado, que a sociedade lisboeta decadente arrastou na sua onda de corrupção, todavia
progressista e sarcasticamente crítico do Portugal do Constitucionalismo. Como forma de salvar
Portugal, acreditava apenas nas virtualidades da invasão espanhola.
Se nos primeiros catorze capítulos Ega é uma personagem plana, caricatural, nos últimos
quatro ganha uma densidade psicológica e passa a desempenhar um papel fulcral na intriga.
Assim, vemos que o narrador, prescindindo da sua condição de omnisciente, deixa a focalização
das cenas mais dramáticas da intriga principal a João da Ega.
A vida psicológica de Ega manifesta-se ao nível da reflexão interiorizada, através de
monólogos interiores, sobretudo depois do encontro com o Sr. Guimarães, no capítulo XVI.
Ega representa na obra o intelectual dos grandes ideais, das revoluções facínoras, das
grandes alterações sociais; porém, nada faz para a sua eventual concretização, vivendo num
amplo parasitismo, refugiando-se por detrás da figura de Carlos que, a certa altura, a propósito do
talento de Cruges, pergunta: "E se o Ega fizesse um belo livro, quem é que lho lia?”.
Principais traços:
É a projeção literária de Eça de Queirós.
É uma personagem contraditória: por um lado é romântico e sentimental, por outro é
progressista e crítico sarcástico do Portugal do Constitucionalismo.
Diletante: concebe grandes projetos literários que nunca chega a concluir.
Nos últimos capítulos ocupa um papel de relevo no desenrolar da intriga.
É a ele que Guimarães entrega o cofre com os dados biográficos de Maria Eduarda.
É ele que procura Vilaça para lhe revelar a identidade de Maria Eduarda.
Carlos e ele revelam a triste novidade a Afonso.
É ele que revela a verdade a Maria Eduarda.
É também ele que acompanha Maria Eduarda ao comboio na hora da partida para
Paris.
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Português 11º Ano – 2011/2012 31
MARIA EDUARDA
Processo de Caracterização: - Caracterização híbrida:
A nível estrutural:
Caracterização direta segue as diretrizes naturalistas
Caracterização indireta (por vezes, auto-
caracterização) não segue as diretrizes naturalistas
. Focalização interna
A nível temático:
Maria Eduarda é fruto do meio e da educação
Vida dissoluta
Dignidade Segue as diretrizes
Mãe naturalistas
convento
Simbologia:
A personagem simboliza a importância da educação moral numa fase de
desenvolvimento da personalidade e a consequente capacidade de superação de todas as
crises.
Adquire também a sua força à custa do próprio sofrimento.
Traços principais:
Até aos 16 anos viveu num colégio de freiras perto de Tours. Viveu depois, em Paris, com o
irlandês Mac Green, de quem teve a filha Rosa.
Quando Mac Green morreu (na guerra contra os alemães), conheceu o brasileiro Castro
Gomes e, como esposa deste, chega a Lisboa.
Esclarecida a sua situação de amante de Castro Gomes e não de esposa, Carlos
apaixona-se por ela. Vivem uma vida transitoriamente feliz.
Guimarães destrói essa felicidade, apresentando os documentos da sua verdadeira
identidade.
Depois de se saber irmã de Carlos, parte para Paris e acaba por casar com Mr. De
Trelain, casamento, segundo o ponto de vista de Carlos, de dois seres desiludidos.
Ainda em relação a esta personagem, é de salientar o seu papel, quer ao nível da teoria
literária presente na obra, quer ao nível do simbólico feminino. Com efeito, a apresentação de
Maria Eduarda cumpre os modelos realista e naturalista, isto é, ela é o exemplo acabado de que
o indivíduo é um produto do meio (o que, aliás, se verifica também em relação a Carlos), pelo
que coincidem no seu carácter e no espaço físico que ela ocupa duas vertentes distintas da sua
educação: a dimensão culta e moral, construída aquando da sua estadia e educação num con-
vento, e a faceta demasiado vulgar, absorvida durante o convívio com sua mãe, proprietária de
uma casa de jogo no Parque Monceaux, onde Maria Eduardo tomara contacto com uma
realidade sórdida e do facto de manter relações, socialmente, marginalizadas (é o caso das
suas ligações Mac Gren, de quem tem uma filha, Rosa, com Castro Gomes, que a salva da
miséria e, mais tarde, com Carlos da Maia). Por outro lado, Maria Eduarda é o último elemento
feminino da família maio e simboliza, tal como as outras mulheres da família, a desgraça e a
fatalidade.
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MARIA MONFORTE
Fútil, leviana, sensual e romanesca, vítima da literatura romântica (a fuga com o “príncipe
italiano” tem o carácter romanesco dum episódio de novela romântica).
Vieram a chamar-lhe a negreira, porque a fortuna da família tinha sido conseguida pelo “Papá
Monforte”, transportando “cargas de pretos para o Brasil, para Havana e para Nova Orleães”,
arrancando a riqueza da “pele do africano”.
Contra a vontade de Afonso, Pedro da Maia apaixona-se por esta bela mulher e casa-se com
ela. Afonso passa a viver em Santa Olávia. Nasceram Carlos e Maria Eduarda. Maria Monforte
virá a fugir com o italiano Tancredo, levando Maria Eduarda consigo, abandonando Carlos e
provocando o suicídio de Pedro.
Entretanto, o italiano é morto num duelo e Maria levará uma vida dissoluta. Entregará a
Guimarães um cofre com documentos para identificação de sua filha.
Principais características:
É sensual e vítima da literatura romântica.
É uma desconhecida em Lisboa, mas causa sensação pela sua beleza e pelo seu luxo.
Seduzido pela sua beleza, Pedro apaixona-se e casa com ela.
Foge com o italiano, levando consigo a filha Maria Eduarda e abandona o marido e o filho.
O italiano é morto e ela começa a levar uma vida dissoluta e quase morre na miséria.
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Português 11º Ano – 2011/2012 33
A Educação
Pedro da Maia
Portuguesa tradicionalista
Eusebiozinho
Inglesa – Carlos da Maia
“Com o magistério a que o padre Vasques submete Pedro da Maia”, assistimos ao
desenvolvimento da típica educação portuguesa oitocentista e conservadora: o primado da
cartilha e com ela uma conceção essencialmente punitiva da devoção religiosa; o Latim como
prática pedagógica fossilizada e não criativa; e, sobretudo, a fuga ao contacto direto com a
Natureza e com as realidades práticas da vida. Tudo isto ganha uma importância particular,
quando reconhecemos no Pedro da Maia adulto os reflexos desta educação: a devoção histérica e
a incapacidade para encarar e resolver as contrariedades com que se defronta.
Estas normas educativas não se extinguem, porém, com a personagem que dela foi vítima.
Elas encontram-se presentes igualmente numa figura que, sobretudo por pertencer à geração de
Carlos, com ele mais abertamente contrasta neste e noutros aspetos. Referimo-nos a
Eusebiozinho, que o procurador Vilaça encontra em Santa Olávia (cap. III), em circunstâncias que
facilitam o encontro imediato com Carlos. Com efeito, enquanto Carlos patenteia uma saúde
exuberante, de Eusebiozinho diz-se que “nada mais melancólico que a sua facezinha trombuda, a
que o excesso de lombrigas dava uma moleza e uma amarelidão de manteiga”.
Não se julgue, entretanto, que esta oposição é casual; ela surge fundamentalmente como
resultante necessária da execução de programas educativos antagónicos. Com efeito, Carlos é
submetido a uma educação tipicamente inglesa: privilégio da vida ao ar livre, contacto com a
Natureza, exercício físico, aprendizagem de línguas vivas, desprezo pela cartilha e por todo o
conhecimento exclusivamente teórico. Tudo isto com grande escândalo da família e dos amigos
que viam no abade Custódio o pedagogo ideal (porque tradicional), para Carlos.
Em resumo: para além da já citada debilidade física em que os diminutivos (“craniozinho”,
“crescidinho”, “perninhas”, “linguazinha”) significam sobretudo fragilidade, estão em causa,
neste fragmento, os defeitos fundamentais de que enferma a educação, tais como a deformação
da vontade própria através do suborno, traduzido na promessa da mãe de que “se dissesse os
versinhos, dormia esta noite com ela”; a imersão na atmosfera doentia e melancólica do
Romantismo decadente e, finalmente, o recurso à memorização, isto é, a um atributo que implica
a desvalorização da criatividade e do juízo crítico.
Ora, em função de tudo isto, como estranhar que, quando adultos, Carlos e Eusebiozinho
continuem a ser personagens contrastivas? Como estranhar que Eusebiozinho mergulhe numa
vida de corrupção e de decadência física? E como estranhar que Carlos, pelo contrário, venha a
desfrutar de um estatuto de privilégio?
Segundo Eça de Queirós, a educação imperfeita leva ao diletantismo. Para ele «diletanteé
acentuadamente «móbil e superficial» e sobretudo «cético». O diletante corre entre as ideias e os
factos como «as borboletas que correm entre flores, para pousar, retomar logo o voo estouvado,
encontrando nessa fugidia mobilidade o deleite supremo». Falta-lhe interesse e paixão. Eça
considerava três espécies de diletantes: o das ideias, o das emoções e o da ação. Qualquer um
deles «é um pouco o resultado de uma educação deficiente no meio social em que se move».
Carlos da Maia é o diletante das ideias, que nunca conseguiu escrever o seu livro e que um dia
confessava ao avô a incapacidade: “- Enquanto se tratava de tomar notas, a coligir
documentos, reunir materiais, bem, lá vou indo, mas quando se trata de pôr as ideias, a
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 34
observação numa forma de gosto e simetria, dar-lhe cor, dar-lhe relevo, então... foi-se!”
Afonso da Maia explica: “o Português nunca pode ser homem de ideias, por causa da
paixão da forma.
- Questão de temperamento, disse Carlos.”
Sim, um pouco, devemos reconhecer, mas também por falta de educação da vontade. E a
prova é que, sob a disciplina escolar, Carlos não falhou; só falhou quando entregue a si mesmo.
Foi o que igualmente sucedeu a João da Ega, diletante de emoções, que, por falta de
perseverança, dispersou o talento nas conversas esfuziantes, no deleite das frases de efeito, as
grandes frases arrepiantes e paradoxais, sem nunca conseguir passar de um capítulo do seu
famoso livro – As Memórias de uma Átomo – e cuja comédia – Lodaçal – nunca passou de
projeto.
“Havia, tanto em Carlos da Maia, cuidadosamente educado à inglesa, como em João da
Ega, educado no desleixo português, a mesma falha, porque em nenhum deles fora
educada a vontade, desacertadamente conduzidos para triunfar dos outros, antes do
essencial, que era educá-los para triunfarem deles mesmos.”
Em Os Maias há quatro tipos de educação:
a de Pedro da Maia, sob a asa excessivamente carinhosa e sufocante da mãe;
a de Carlos da Maia, sob a disciplina férrea do avô, que se quer redimir da lamentável
transigência com a educação do filho (Pedro);
a de João da Ega, com todo o desleixo vulgar na nossa terra;
a de Eusebiozinho, numa atmosfera doentia e melancólica, sempre com a proteção
excessiva das tias e da mãe.
TIPOS DE EDUCAÇAO
CONSEQUÊNCIAS
CARLOS EUSEBIOZINHO
IME
DIA
TA
S
Conhecimento prático.
Aprendizagem de línguas vivas (Inglês).
Formatura em Medicina.
Abertura, tolerância e convivência.
A elegância e a destreza.
Conhecimento teórico.
Aprendizagem do Latim.
Bacharel em Direito e, depois, Desembargador.
Isolamento e intolerância.
Fragilidade, decadência física, covardia.
ME
DIA
TA
S
Educação deficiente para o meio social em que irá mover-se (Lisboa). falta de educação da vontade- vai
falhar quando entregue a si mesmo.
Diletantismo.
Romântico, apesar da educação "britânica"
Imoralidade - incesto
O falhanço
A prostituição.
A corrupção (a deslealdade, a falsidade, a calúnia).
ESPAÇO
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ESPAÇO FÍSICO
Os espaços geográficos mais relevantes que aparecem na obra são Coimbra, Lisboa e Santa
Olávia e ligam-se às vivências da personagem central, Carlos da Maia, em diferentes fases da sua
vida. Coimbra surge ligada à formação académica de Carlos; Lisboa corresponde ao período em
que, após uma viagem de final de curso pela Europa, Carlos decide instalar-se no Ramalhete.
Lisboa será o palco do fracasso das potencialidades de Carlos e da crónica de costumes.
Santa Olávia - símbolo da fertilidade da terra, onde abunda a água - opõe-se ao espaço citadino
e associa-se, fundamentalmente, a Afonso da Maia, o representante do velho Portugal,
saudável e íntegro.
Lisboa merece, porém, uma atenção especial - ai surgem outros espaços (microespaços) que
permitem quer a caracterização das personagens quer a definição da capital portuguesa,
estabelecendo-se, assim, uma relação evidente entre o espaço físico, as personagens e o espaço
social.
EXTERIORES
Santa Olávia infância e educação de Carlos
Coimbra estudos de Carlos
primeiras aventuras amorosas
Lisboa vida social de Carlos.
local onde se passa a intriga principal.
local privilegiado para a visão crítica da sociedade portuguesa da segunda metade do século XIX.
INTERIORES
O Ramalhete salas de convívio e de lazer.
o escritório de Afonso tem um aspeto de “uma severa Câmara de prelado”.
o quarto de Carlos tem um ar de “quarto de bailarina”.
O jardim tem um valor simbólico.
A Vila Balzac reflete a sensualidade de Ega.
O consultório de Carlos
revela o dandismo de Carlos.
A predisposição para a sensualidade.
A Toca espaço carregado de simbolismo.
revela amores ilícitos.
etc.
O Ramalhete
O Ramalhete era a residência da família Maia, em Lisboa. Ficava situada na Rua de São
Francisco, às janelas Verdes.
A vivência "intramuros" era fatal à família, na opinião do procurador Vilaça (cf. morte de
Pedro da Maia, morte de Afonso da Maia). Foi também um espaço negativo para Carlos da
Maia, que só aí residiu dois anos (de 1875 a 1877).
Simbolicamente, está ligado à decadência nacional do último quarto do séc. XIX. Aliás, se
analisarmos objetivamente o exterior do edifício, conotamo-lo imediatamente com o ramo de
girassóis que ornamentam a casa, substituindo o escudo heráldico da família e, metonimicamente,
ligamos o seu nome à simbologia da planta (simbolicamente, o girassol representa a atitude do
amante ou da amante, que se vira continuamente para olhar o ser amado, isto é, representa a
perfeição platónica na presença contemplativa e unificante; girando sempre, numa atitude de
submissão e de fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
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ultrapassar a paixão e a falta de recetividade do ser amado) que, metaforicamente, aparece ligada
à terceira e quarta gerações d'Os Maias.
Quando pensamos em Pedro da Maia e na sua paixão por Maria Monforte, constatamos que
existe uma associação à simbologia do girassol, uma vez que a atitude que Pedro da Maia
assume é não só de fidelidade, mas de submissão absoluta, o que o torna incapaz de enfrentar a
vida após a fuga da mulher, recorrendo ao suicídio. Na conquista amorosa e ao olhar
continuamente o ente amado, o amante quase que perde a vontade própria, para se tornar um
duplo do outro, sem a presença do qual se torna incompleto, sem vontade de viver e de reagir
perante a perda.
Carlos da Maia, por seu turno, vive para olhar e contemplar Maria Eduarda que, qual deusa, o
embriaga e o envolve na paixão, realizando, assim, aparentemente, a relação perfeita e unificante
do amor. Fiéis e submissos à paixão que os submerge, inebriando-os nos odores suaves e ternos
do amor, os amantes vivem euforicamente esta paixão até ao desenlace, isto é, até que Carlos da
Maia se revela incapaz de sustentar uma relação incestuosa (repulsa moral tardia!) e acaba por se
afastar do ser que amou.
É igualmente de realçar a riqueza simbólica e indicial do jardim do Ramalhete.
Numa primeira e última fases, este espaço evidencia a tristeza e o abandono. Na desolação
do jardim, sobressaem três símbolos do amor puro e imortal: o cipreste e o cedro, unidos entre si
por laços quase míticos que se perdem nos anais da mitologia grega, inseparáveis em vida,
envolvidos num amor puro e forte e cuja recompensa foi a união incorruptível das suas raízes, que
a tudo resistem, emblematizando o Amor Absoluto (contudo, nesta obra, a realização amorosa
absolutizada será corrompida pelos laços de sangue; no final, será a amizade de Carlos e de Ega
que tomará o valor de um sentimento incorruptível). Ora, velando por este par imortal,
encontramos Vénus Citereia. Simbolicamente ligada à sedução e à volúpia, esta deusa do amor,
que serve de elemento de união entre o dia e a noite, representa o amor na sua forma física,
expressando-se no desejo e no prazer dos sentidos. Metonimicamente, liga-se às três fases do
Ramalhete, isto é, numa primeira fase, relaciona-se com a morte de Pedro da Maia ("(...) e uma
estátua de Vénus Citereia enegrecendo a um conto..."); numa segunda fase, e após a
remodelação do Ramalhete, a estátua reaparece em todo o seu esplendor, como que
simbolizando a ressurreição da família para uma vida feliz e harmónica, deixando, no entanto,
adivinhar prenúncios de uma desgraça futura, enquanto símbolo da feminilidade perversa - tal
como vimos no capítulo anterior, o elemento feminino, ao invés de representar a estabilidade e a
harmonia, representa o elemento desestabillizador e caótico que se instaura na família dos três
varões Maia (Maria Eduarda Runa, Maria Monforte e Maria Eduarda) - na terceira e última fase, a
Vénus Citereia, enquanto símbolo do Amor e do Feminino, aparece aos nossos olhos coberta "(...)
de uma ferrugem verde, de humidade (...)” assumindo, assim, na plenitude, a sua simbologia
negativa, um duplo da figura de Maria Eduarda, último elemento feminino que, através do amor,
destruiu, para sempre, a frágil harmonia da família Maia.
A cascata
Atentemos ainda no significado da cascata.
Esta é símbolo de regeneração e de purificação (na tradição judaico-cristã); a água
aparece num espaço físico preciso que, metaforicamente, se reporta à família maio e à sua
decadência.
É interessante realçar a utilização da rede lexical (léxico, aliás, marcado pela sinonímia)
conotada com o choro: "o fio de água punha o seu choro lento"('), "cascatazinha chorando num
ritmo doce", "e mais lento corria o prantozinho da cascata, esfiando saudosamente, gota a gota,
na bacia de mármore".
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Como numa clepsidra, a água fluirá gota a gota, marcando a passagem inexorável do
tempo e, acentuando melancolicamente, o implacável Destino d'Os Maias, condenados ao
desaparecimento, após a doçura ilusória de um "instante" que durou dois anos.
À "cadência saudosa de um sonho" sucede a saudade, o silêncio e a memória fugaz de
um tempo, outrora feliz.
O consultório de Carlos
Situado em pleno Rossio, o consultório de Carlos preconiza e antecipa a dualidade
intrínseca à personalidade de Carlos. Homem do mundo, por educação e vivência, homem de
ciência, por formação e ideal, Carlos da maio irá revelar, na decoração do consultório, a dis-
persão e o diletantismo inerente aos jovens da sua geração.
Se, por um lado, o consultório, na antecâmara evidenciava reflexos mundanos, convidando
à voluptuosidade imagética, por outro, o gabinete, apesar da austeridade, era o exemplo da
frustração do ideal médico e o reflexo de uma sensualidade que emergia "nas fotografias de
atrizes" e no "divã, verdadeiro móvel de serralho, vasto, voluptuoso, fofo (...)°. À seriedade do
juramento de Hipócrates, sucedia a volúpia subtil, que Ega caracteriza como "Móvel de amor...”
para já não falar do piano, que mais convidava à festa do que ao apaziguamento do estado
doloroso dos enfermos.
A casa de Maria Eduarda
Na Rua de São Francisco, a casa de Maria Eduardo era propriedade da mãe de Cruges que,
amavelmente, alugara o primeiro andar a Castro Gomes e a Maria Eduarda.
É interessante verificar a relação metonímica que se estabelece. entre o casaco de Maria
Eduarda, o primeiro objeto que prende o atenção de Carlos e o comportamento que esta vai
assumir na relação amorosa com Carlos da Maia: “( ...) com as duas mangas abertas, á maneira
de dois braços que se oferecem (...) o forro, de cetim branco não tinha o menor acolchoado, tão
perfeito devia ser o corpo que vestia: e assim, deitado sobre o sofá, nessa atitude viva, num
desabotoado de seminudez, adiantando em vago relevo o cheio de dois seios, com os braços
alargando-se, dando-se todos, aquele estofo parecia exalar um calor humano, e punha ali a
forma de um corpo amoroso, desfalecendo num silêncio de alcova (...)". À semelhança do
casaco, também Maria Eduarda se vai abandonar às doces sensações do amor e à embriaguez
da paixão que a farão desfalecer nos braços de Carlos, numa dádiva total e inequívoca, no
silêncio do ninho amoroso que, ambos partilham na Toca.
Contrastando com a sala, porém, o quarto de Maria Eduardo aí oferece a Carlos da Maia
sensações díspares: aliado ao bom gosto e ao requinte de algumas peças, destacavam-se duas
que marcavam a dissonância: o "Manual de Interpretação dos Sonhos" e "uma enorme caixa de
pó de arroz, toda de prata, com uma magnífica safira engastada na tampa dentro de um círculo
de brilhantes miúdos, uma joia exagerada de cocotte". Estes dois objetos pressagiam a
dualidade de Maria Eduardo e, simbolicamente, ligam-se a Afrodite, enquanto deusa do Amor e
elemento perverso do ser feminino, revelando, igualmente, um meio cultural subtilmente distante
do de Carlos, evidência a que este é sensível. Ou seja, se, por um lado, Maria Eduarda é
comparada a uma deusa e assume esse estatuto na sua relação com Carlos, o que é facto é
que será Maria Eduarda a consumar a fatalidade e a extinção da família.
A Vila Balzac
A Vila Balzac situava-se, algures, na Graça. O retiro amoroso de João da Ega reflete a sua
dualidade literária e a sua personalidade contraditória (a escolha do nome do chalet - do escritor
francês realista Balzac que, também ele, se divide entre o Romantismo e o Realismo é, aliás,
significativo). No final da obra, Ega assume-se: "E que somos nós? Que temos nós sido desde o
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colégio, desde o exame de Latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na
vida pelo sentimento e não pela razão...”.
Ligada à dimensão dissoluta da vida do escritor de quem tem o nome, no retiro de Ega destaca-
se o quarto, local onde passa grande parte do seu tempo e que tem como cor predominante o
vermelho, simbolicamente ligado à vida e à morte. A sua ambivalência representa o ardor
amoroso e carnal de um Eros triunfante que convida à transgressão (pensemos na sua relação
adúltera com Raquel Cohen), mas, de tal modo exagerado, que se reveste de um carácter
infernal e descontrolado que leva Ega a mascarar-se de Mefistófeles, assumindo, assim, a sua
condição de amante cego e infernal. O espelho que envolve o quarto enfatiza, por outro lado, o
carácter narcisista e ocioso de Ega, na Lisboa finissecular.
A outra faceta da personagem aparece refletida na ausência de decoração da sala, espaço
de um "intelectual" que se alimenta de uma "côdea de Ideal" e de "duas garfadas de filosofia"
fazendo a oposição entre os ideiais que apregoa e aquilo que é, de facto, pois a sua sensua-
lidade sobrepõe-se à sua faceta intelectual.
A Toca
A Toca era o recanto idílico, nos Olivais, onde Maria Eduardo e Carlos da maio partilharam
as curtas juras de Amor. Propriedade de Craft, foi arrendada por Carlos da maio, para preservar
a sua privacidade amorosa. Objetivamente ligada à habitação de alguns animais, a Toca
representa, simbolicamente, o "território" de Carlos da maio e de Maria Eduarda.
À semelhança de alguns felídeos (as panteras), a união de Carlos e de Maria Eduarda
estava como que predestinada (através da especularização do nome, isto é, o masculino e o
feminino dos nomes) e a sua completude assume-se na totalidade da entrega mútua. A própria
decoração da Toca permite-nos antever o desfecho desta relação que, afrontando valores éticos
e morais, desafia as leis humanas e se rende a outras leis, através da relação incestuosa,
bestialmente consumada (será interessante verificar que, por exemplo, as panteras só acasalam
no seio da família, mantendo os laços de sangue, o que, aliás, acontecia nalgumas tribos
primitivas como forma de manter a casta real).
O exotismo, desde cedo anunciado na própria decoração do Ramalhete, através dos móveis
e das peças de porcelana árabes e japonesas, deixa adivinhar o confronto de culturas e
respetivos valores.
Essa decoração, marcada pelos objetos raros e estranhos, acentua-se na Toca (lembremo-
nos da cornija do móvel preferido de Carlos, onde se percebem dois faunos, símbolos do amor
carnal) ou do quadro em que, numa bandeja de cobre, surge a cabeça degolada de S. João
Baptista.
É de salientar neste espaço a luxúria da cor - o amarelo e o dourado que remete,
igualmente, para o gosto das sensações fortes, moralmente proibidas. O incesto significa a
extinção da família (e esta extinção liga-se à incapacidade de regeneração do próprio país, isto
própria frustração dos ideais da Geração de 70).
Santa Olávia
Santa Olávia era o solar da família Maia, em Resende, na margem esquerda do Douro, e
simboliza a vida e a regeneração dos dois varões da família.
Favorecida pelo clima ameno, Santa Olávia representa o meio de purificação de Afonso da
Maia (aí se encontra durante a infância e o crescimento de Carlos Eduardo e aquando do
abandono de Lisboa, após a ligação amorosa de Carlos com Maria Eduarda. Trata-se, assim, de
um espaço natural, conotado positivamente, símbolo de vida, metonimicamente ligado à água e
opõe-se ao espaço citadino degradado, Lisboa, local da degeneração da família.
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Sintra
Local edénico e idílico, representa na obra a beleza paradisíaca, por excelência. A sua
soberba paisagem oscila entre o passado histórico (residência de verão da família real,
desde D. João I) e o passado romântico (aí viveu o escritor romântico Lord Byron). Perdendo-
se nas brumas da serra, a vila de Sintra ergue-se em todo o seu esplendor, qual fénix, e
envolve a memória dos que a visitam (como acontece a Alencar). É também palco da
passagem da alta burguesia do séc. XIX. Importa, no entanto, salientar que é através da
experiência mística de Cruges que nos apercebemos da sua ligação simbólica aos outros
espaços e às personagens. Vejamos: o palácio da Vila, pelo, pela sua austeridade, pode ser
comparado à austeridade do Ramalhete e, metaforicamente, ligar-se à personagem de
Afonso da Maia; o Palácio da Pena, solitário no cume da serra, como que perdido na
paisagem romântica, liga-se à figura de Pedro da Maia; o Palácio de Seteais, votado ao
abandono, remete ainda para o Ramalhete, já no final da obra, após dez anos de abandono,
a riqueza paisagística de Sintra e da Várzea evocam Santa Olávia, pequeno vergel nas
margens do Douro. O ambiente bucólico e pungente de vida coloca Sintra na esfera
ideológica da regeneração do país, apregoada por Ega, mas o seu aspeto paradisíaco será
corrompido pela agressão prosaica, representada pelos valores decadentes apresentados
pelas figuras de Eusebiozinho e de Palma Cavalão (que aí se encontram com prostitutas
espanholas) ou de Dâmaso, que também aí transporta o seu "chique a valer", tornando este
éden natural uma continuação do espaço lisboeta.
Lisboa
Lisboa é o espaço físico onde se concentra a alma de Portugal: "O país está todo entre a
Arcada e S. Bento!... "
É um espaço caracterizado pela degradação moral, onde os portugueses exibem a sua
ociosidade crónica. A capital é, assim, o símbolo da decadência nacional. No final da obra,
sob a visão de Carlos, o narrador afirma: "Nada mudara. A mesma sentinela sonolenta
rondava em torno à estátua triste de Camões. (...)”
Conclusão:
O espaço físico exterior acompanha o percurso da personagem central e é motivo para a
representação de atributos inerentes ao espaço social.
Os espaços interiores estão de acordo com a escola realista/naturalista: interação entre o
homem e o ambiente que o rodeia.
ESPAÇO SOCIAL
Os Maias é um romance de espaço (social) porque nele desfila uma galeria imensa de figuras
que caracterizam a sociedade lisboeta: as classes dirigentes, a alta aristocracia e a burguesia.
Cumpre um papel eminentemente crítico. (vide Crónica de costumes)
ESPAÇO PSICOLÓGICO
Constituído pelas zonas da consciência da personagem, manifesta-se em momentos de maior
densidade dramática. É sobretudo Carlos que desvenda os meandros da sua consciência,
ocupando também Ega lugar de relevo.
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Português 11º Ano – 2011/2012 40
Ca
rlo
s
sonho de Carlos no qual evoca a figura de Maria Eduarda (cap. VI)
nova evocação de Maria Eduarda em Sintra (cap. VIII)
reflexões de Carlos sobre o parentesco que o liga a Maria Eduarda (cap. XVII)
visão do Ramalhete e do avô, após o incesto (cap. XVII)
contemplação de Afonso da Maia, morto, no jardim (cap. XVII)
Eg
a
reflexões e inquietações após a descoberta da identidade de Maria Eduarda (cap.
XVI)
Conclusão:
A representação do espaço psicológico permite definir a composição destas personagens
como personagens modeladas.
A presença do espaço psicológico implica a presença da subjetividade. Uma vez mais, a
estética naturalista está posta em causa.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 41
TEMPO
TEMPO DA HISTÓRIA
DESENVOLVIMENTO DA AÇÃO
AÇÃO
CONCLUSÃO
antes
de 1800
nascimento de Afonso («mais velho que o século»)
1820
a 1822
Afonso «a atirar foguetes de lágrimas à constituição»
1830 1848 1858 1870
referências ao
Ramalhete e
aos Maias.
Relações Pedro / Maria Monforte.
Nascimento de Carlos e de Maria Eduarda.
Morte de Pedro.
Educação de Carlos.
(...)
1875
a 1877
Relações
Carlos / Maria
Eduarda.
Morte de Afonso.
1887
«Luminosa e macia manhã de janeiro de 1887» Carlos regressa.
TEMPO DO DISCURSO
Outono
de 1875
ANALEPSE NA DIEGESE
AÇÃO PRINCIPAL
1820 1875
Outono
de 1875
(1)
(2)
Janeiro
de 1877
(3)
Janeiro
de 1874
(4)
No Ramalhete
Caetano da Maia.
Juventude de Afonso.
Juventude e amores.
Fuga de Maria Monforte.
Suicídio.
Carlos em Coimbra.
Primeira viagem de Carlos.
(1) Afonso, no Ramalhete, espera a chegada de Carlos da sua longa viagem pela Europa.
(2) Relação Carlos / Maria Eduarda. (3) Morte de Afonso e partida de Carlos. (4) Regresso de Carlos a Lisboa. Encontro
com Ega e almoço no Hotel Bragança.
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As anacronias
A narração dos acontecimentos ao nível do discurso não apresenta a mesma ordem por que
sucederam ao nível da história.
As analepses (narrativas anteriores):
Trata-se de recuos no tempo e elas surgem, na obra, com três finalidades:
a de dar a conhecer o passado das personagens como forma de instaurar a ação principal (é o
caso do relato da juventude de Afonso da Maia, a que se segue o relato da ação secundária,
centrada em Pedro, e a formação de Carlos, passando pela sua educação e pela vida
universitária em Coimbra) - os antecedentes apresentados permitem a coerência da diegese,
isto é, da história narrada, preparando a intenção e coesão quer ao nível da evolução dos
acontecimentos, quer no âmbito da análise crítica, que se entrelaça com a mensagem final da
obra.
a de caracterizar as personagens - as analepses permitem revelar aspetos essenciais em
relação à formação das personagens - salienta-se aqui a formação de Carlos (que o tornará
um indivíduo superior ao meio em que se encontra, mas que será igualmente vítima de fatores
de carácter hereditário, revelados, também, ao nível da analepse centrada no romance e
casamento de Pedro e de Maria Monforte e a educação e vivências de Maria Eduardo, com
tudo o que de contraditório estas implicam.
a de optar pelo modelo naturalista na construção da diegese - sendo o indivíduo um produto
da educação que lhe foi ministrada e do meio ambiente em que se insere, as analepses
permitem reconstruir as personagens como um todo, organicamente coeso, se tivermos em
conta o feixe disseminativo de influência a que elas estão sujeitas (são de realçar, neste
domínio, Carlos e Maria Eduarda), ou seja, a própria incoerência torna-se uma visão
naturalista das situações, fruto de uma observação minuciosa e de posteriores ilações de tipo
experimentalista.
As anisocronias:
Trata-se da falta de coincidência entre o tempo da diegese (da história) e o tempo do
discurso; neste caso, o tempo do discurso é menor que o tempo da história.
Os resumos
O narrador conta sumariamente o que ocorreu durante determinados períodos para, depois,
poder prosseguir a narrativa, de modo a que a estrutura formal e ideológica da mesma seja
percetível (por vezes, o resumo é, simultaneamente uma analepse - é o caso do recuo temporal
inicial, que abrange cerca de cinquenta anos: a juventude de Afonso da maio até à instalação de
Carlos em Lisboa).
As elipses
Neste caso, o narrador omite períodos temporais que são sugeridos ao nível da história; n'Os
Maias é, sobretudo, no início obra, ou seja, coincidindo com a grande analepse, que as elipses
ocorrem, pois o narrador destaca apenas aqueles acontecimentos cujo sentido é pertinente para a
compreensão da intriga principal (é de referir que, em relação ao desenvolvimento e maturação de
Carlos, vários períodos temporais são omitidos, pelo que a influência naturalista não é seguida de
forma absoluta; contudo, o narrador apresenta-nos aqueles momentos da formação da
personagem que, apesar de não se incluírem num relato minucioso da sua evolução, permitem,
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 43
teoricamente, essa referência); no final da obra, a elipse apresenta uma dimensão diferente,
sugerindo o desgaste psicológico a que as personagens foram sujeitas, assim como a angústia
nostálgica perante o facto de que o tempo passado é irreversível, o que se prende, aliás, com a
conceção absurdista da existência e com o saudosismo que impregna os diálogos e movimentos
de Carlos e de Ega (é neste sentido que a passagem dos anos é referida de forma significativa).
Isocronia
Consiste na tentativa de fazer coincidir o tempo do discurso com o tempo diegético; a isocronia
é privilegiada ao nível do desenrolar da ação principal e da construção da crónica de costumes
(neste caso, a isocronia funciona, simultaneamente, como uma forma de satirizar a sociedade da
época através da relevância conferida às falas e expressões gestuais e fisionómicas das
personagens, permitindo o retrato realista, e como um meio de traduzir a monotonia e a
sensaboria que, na perspetiva de Carlos, caracterizam tais momentos); a narrativa adquire
algumas características do texto dramático, pois a duração do relato dos acontecimentos torna-se
mais real. As marcas da isocronia são, assim:
o diálogo (este modo de expressão predomina no modo de representação que é a narração) -
e, implicitamente, o discurso direto;
a apresentação da movimentação das personagens;
a descrição da transformação fisionómica das personagens.
O TEMPO PSICOLÓGICO
O tempo psicológico é o tempo vivido pelas personagens, de forma subjetiva, isto é, não
coincide com as referências cronológicas apresentadas.
Na obra, o tempo psicológico surge, fundamentalmente, através das reflexões de Carlos e de
Ega e traduz as seguintes ideias:
a fluidez irreversível que conduz, inevitavelmente, ao sentimento de perda e à morte de um
passado feliz (simbolizada igualmente na morte de Afonso da maio e no abandono do
Ramalhete, no final da obra);
a intensidade das vivências das personagens - o período correspondente à consumação
da paixão entre Carlos e Maria Eduarda parece preencher a vida do protagonista (e
também de Ega), que afirma que só vivera dois anos no Ramalhete e era como se nele
estivesse "metida a [sua] vida inteira" ;
o desgaste das personagens, a nível psicológico - após os dois anos em que a família
habita o Ramalhete, Afonso sucumbe definitivamente e Carlos (e também Ega) sente-se
"esvaziar" por dentro, depois de uma tragédia e de perdas que o tornam nostálgico e
cético; para Maria Eduardo, adivinha-se, de novo, o sofrimento e uma fraqueza maior;
a decadência progressiva da nação, motivada pela inação dos portugueses - no final da
obra, a inatividade da nação é reafirmada - Portugal decai, constituído por indivíduos que
se entregam a uma ociosidade crónica e Carlos sente a passagem do tempo como um
fator de corrosão do próprio país que em nada se alterou após os dez anos em que esteve
ausente e que, progressivamente, perde a sua identidade, o que motiva a, sua consciência
inabalável de que jamais se sentiria "em casa", em Portugal.
Nota: Apesar de as reflexões e a memória se integrarem no estudo do espaço psicológico, a
dimensão que o tempo psicológico assume é, preferencialmente, visível nestes momentos, a que
se aliam algumas falas das personagens (sobretudo, de Carlos e de Ega).
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PROCESSO NARRATIVO
FOCALIZAÇÃO
Há na obra Os Maias dois tipos de focalização:
Omnisciente (conduzida por um narrador omnisciente):
Na introdução, em que se faz a retrospetiva da família (juventude de Afonso, educação e
suicídio de Pedro, formação física e cultural de Carlos) e, a partir daí, só esporadicamente.
Interna (ponto de vista das personagens):
É principalmente segundo o ponto de vista de Carlos que o leitor toma contacto com as
personagens e os episódios representativos da sociedade lisboeta; após a sua chegada a Lisboa,
não só acompanhamos os passos de Carlos por diversos locais, como é pelo seu “olhar”, segundo
a visão subjetiva da personagem (e também, num plano secundário, de Ega) que nos é dada a
conhecer a realidade social – os episódios da vida romântica.
Focalização omnisciente
a reconstrução do Ramalhete
a figura de Afonso da Maia
os estudos de Carlos em Coimbra
o retrato de Ega
o retrato de Eusebiozinho
o retrato de Dâmaso
O narrador perspetiva
Focalização interna
a educação de Carlos
Vilaça perspetiva
Maria Eduarda, à entrada do Hotel Central
e na rua
o episódios da crónica de costumes, à exceção do Jornal “A Tarde” e do sarau da Trindade
a cidade de Lisboa e a sua sociedade, dez anos após o desenlace
Carlos perspetiva
o episódio dos jornais
o Ramalhete fechado
a sua própria consciência
Ega perspetiva
SEQUÊNCIA NARRATIVA DAS AÇÕES
Há, na obra, exemplos de encaixe (história da vida passada de Maria Eduarda, narrada pela
própria), encadeamento (por exemplo, no desenrolar dos amores de Carlos e Maria Eduarda) e
ainda de alternância (cenas da ação central e da ação secundária, entrelaçadas).
Predomina, no entanto, a partir do momento em que Carlos e o avô se fixaram em Lisboa, o
encadeamento das ações, que se desdobram em sucessividade.
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A Mensagem
A mensagem que o autor pretende deixar com esta obra, tem uma intenção iminentemente crítica.
É através do paralelo entre duas personagens - Pedro e Carlos da Maia, que Eça concretiza a sua
intenção. Note-se que ambos, apesar de terem tido educações totalmente diferentes, falharam na
vida. Pedro falha com um casamento desastroso, que o leva ao suicídio; Carlos falha com uma
ligação incestuosa, da qual sai para se deixar afundar numa vida estéril e apagada, sem qualquer
projeto seriamente útil, em Paris.
Por outro lado, estas duas personagens, representam também épocas históricas e políticas
diferentes. Pedro, a época do Romantismo, e seu filho, a Geração de 70 e das Conferências do
Casino, geração potencialmente destinada ao sucesso. Mas não foi isso que sucedeu e é este
facto que o escritor pretende evidenciar com o episódio final - o fracasso da Geração dos
Vencidos da Vida.
Assim, estas personagens representam os males de Portugal e o fracasso sucessivo das
diferentes correntes estético-literárias. Fracasso este que parece dever-se, não às correntes em
si, mas às características do povo português - a predileção pela forma em detrimento do
conteúdo, o diletantismo que impede a fixação num trabalho sério e interessante, a atitude
"romântica" perante a vida, que consiste em desculpar sistematicamente, os próprios erros e
falhas, e dizer "Tudo culpa da sociedade".
Simbolismo
Os Maias estão incrivelmente repletos de símbolos.
Afonso da Maia é uma figura simbólica - o seu nome é simbólico, tal como o de Carlos - o nome
do último Stuart, escolhido pela mãe. Carlos irá ser o último Maia - note-se a ironia em forma de
presságio.
No Ramalhete, esta designação e o emblema (o ramo de girassóis) mostram a importância "da
terra e da província" no passado da família Maia. A "gravidade clerical do edifício" demonstra a
influência que o clero teve no passado da família e em Portugal.
Por oposição, as obras de restauro, levadas a cabo por Carlos, introduziram o luxo e a decoração
cosmopolita, simbolizam uma nova oportunidade, uma reforma da casa (ou do país) para uma
nova etapa - é o reflexo do ideal reformista da Geração de Carlos. Carlos é um símbolo da
Geração de 70, tal como o é Ega. Tal como o país, também eles caíram no "vencidismo".
No último capítulo, a imagem deixada pelo Ramalhete, abandonado e tristonho, cheio de
recordações de um passado de tragédia e frustrações, está muito relacionado com o modo como
Eça via o país, em plena crise do regime.
O quintal do Ramalhete, também sofre uma evolução. No primeiro capítulo a cascata está seca
porque o tempo da ação d' Os Maias ainda não começou. No último capítulo, o fio de água da
cascata é símbolo da eterna melancolia do tempo que passa, dos sentimentos que leva e traz,
mostra-nos também que o tempo está mesmo a esgotar-se e o final da história d' Os Maias está
próximo. Este choro simboliza também a dor pela morte de Afonso da Maia. A estátua de Vénus
que, enegrece com a fuga de Maria Monforte.
Agora, (no último capítulo) coberta de ferrugem simboliza o desaparecimento de Maria Eduarda,
os seus membros agora transformados dão-lhe uma forma monstruosa fazendo lembrar Maria
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Eduarda e monstruosidade do incesto. Esta estátua marca então, o início e o fim da ação
principal. Ela é também símbolo das mulheres fatais d' Os Maias - Maria Eduarda e Maria
Monforte.
No quarto de Maria Eduarda, na Toca, o quadro com a cabeça degolada é um símbolo e
presságio de desgraça. Os seus aposentos simbolizam o carácter trágico, a profanação das leis
humanas e cristãs.
Também o armário do salão nobre da Toca, tem uma simbologia trágica. Os guerreiros
simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os trofeus agrícolas, o trabalho: qualidades
que existiram um dia na família (e no Portugal da epopeia). Os dois faunos simbolizam o desastre
do incesto decorrido entre Carlos e Maria Eduarda. No final um partiu o seu pé de cabra e o outro
a flauta bucólica, pormenor que parece simbolizar o desafio sacrílego dos faunos a tudo quanto
era grandioso e sublime na tradição dos antepassados.
No final, a estátua de Camões é o símbolo da nostalgia do passado mais recuado.
Não é difícil lermos o percurso da família Maia, nas alterações sofridas pelo Ramalhete. No início
o Ramalhete não tem vida, em seguida habitado, torna-se símbolo da esperança e da vida, é
como que um renascimento; finalmente, a tragédia abate-se sobre a família e eis a cascata
chorando, deitando as últimas gotas de água, a estátua coberta de ferrugem; tudo tem um
carácter lúgubre. Note-se que as paredes do Ramalhete foram sempre sinal de desgraça para a
família Maia. O cedro e o cipreste, são árvores que pela sua longevidade, significam a vida e a
morte, foram testemunhas das várias gerações da família. Mas também, simbolizam a amizade
inseparável de Carlos e João da Ega.
A morte instala-se nesta família. No Ramalhete todo o mobiliário degradado e disposto em
confusão, todos os aposentos melancólicos e frios, tudo deixa transparecer a realidade de
destruição e morte. E se os Maias representam Portugal, a morte instalou-se no país.
A Toca é o nome dado à habitação de certos animais, o que, desde logo, parece simbolizar o
carácter animalesco do relacionamento de Carlos e Maria Eduarda. Na primeira vez que lá vão,
Carlos introduz a chave no portão com todo o prazer, o que sugere o poder e o prazer das
relações incestuosas; da segunda vez ambos a experimentam - a chave torna-se, portanto, o
símbolo da mútua aceitação e entrega. Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam o carácter
trágico, a profanação das leis humanas e cristãs.
Os Maias estão também, povoados de símbolos cromáticos: a cor vermelha tem um carácter
duplo, Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, despertam a
sensibilidade à sua volta; espalham a morte. O vermelho é, portanto, o símbolo da paixão
excessiva e destruidora. Já o vermelho da vila Balzac é muito intenso, indicando a dimensão
essencialmente carnal e efémera dos encontros de amor de Ega e Raquel Cohen. O tom dourado
está também presente, indicando a paixão ardente; anunciando a velhice (o outono), a
proximidade da morte. Morte prefigurada pela cor negra, símbolo de uma paixão possessiva e
destruidora.
Mãe e filha conjugam em si estas três cores: elas são, portanto, vida e morte, o divino e o
humano, a aparência e a realidade, a força que se torna fraqueza.
Constatamos que a simbologia d' Os Maias possui uma função claramente pressagiosa da
tragédia.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
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LINGUAGEM E ESTILO
Ao nível semântico:
São de privilegiar dois recursos estilísticos fundamentais:
a ironia, através da qual se realiza a crítica à mediocridade do povo português, servindo a
construção da crónica de costumes:
"D. Ana, depois de bocejar de leve, retomou a sua ideia:
- Sem contar que o pequeno está muito atrasado. A não ser um bocado de inglês, não sabe
nada... Não tem prenda nenhuma!
- Mas é muito esperto, minha rica senhora! – acudiu Vilaça.
- É possível- respondeu secamente a inteligente Silveira.”
a hipálage, que surge com função caracterizadora, como tradução dos sentimentos das
personagens e também com carácter irónico:
"O azul parecia recuado a uma distância infinita, repassado do silêncio luminoso.”
(...) cofiava silenciosamente os seus longos bigodes tristes.”
Ao nível lexical (utilização vocabular):
Combinação de palavras que leva à alteração do sentido denotativo das mesmas.
Introdução de vocabulário dos níveis de língua familiar e corrente, que caracteriza o tom
oralizante e, por vezes, concretiza a função crítica.
Criação de neologismos estilísticos.
Estrangeirismos (anglicismos - vocábulos de origem inglesa – e galicismos - vocábulos de
origem francesa).
"(. ..) calou-se; ocupou-se só dele, quis saber que tal ele achava aquele St. Emilion, e,
quando o viu confortavelmente servido de sole normande, lançou com grande alarde de
interesse esta pergunta".
ou
“- Eu agora ando bem... Mas muito blasé.”
O adjetivo com novos valores expressivos:
recorrência à dupla adjetivação;
associação sinónima;
função caricatural / satírica;
tradução da união concreto/abstrato.
Atentemos nalguns exemplos:
"Carlos abria os olhos para ela, assombrado, emudecido"
"Dâmaso era interminável, torrencial, inundante a falar das suas conquistas" - (função
caricatural e satírica).
As formas verbais com sentido ideológico unificante:
formas verbais que conotam a ação/ a caracterização/ a descrição;
o verbo como expressão das emoções, sentimentos ou intenções das personagens;
utilização do pretérito imperfeito do modo indicativo e do gerúndio;
pretérito perfeito.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 48
Vejamos alguns exemplos:
"Dâmaso, escarlate, estoirava de gozo"
"Assim atacado entre dois fogos, Ega troveiou"
"O mulherão da Concha rosnou os buenos dias"
"O criado, que entrava do outro lado com a cafeteira, estacou, afiando o olho curioso,
farejando escândalo"
O advérbio com função caracterizadora, caricaturaI e crítica:
formação, a partir do adjetivo – neologismos;
valor metafórico do advérbio;
a função satirizante e cómica;
funcionamento com valor semântico oposto ao que é sugerido pelo verbo.
Observemos alguns exemplos:
"(...) enquanto Cruges, .ao lado, de mãos atrás das costas, e a face erguida para o terraço,
bocejava desconsoladamente"
ou
"Dâmaso sorria também, lividamente" - (formação do advérbio a partir do adjetivo - valor
estilístico)
O sufixo como forma de caracterização das personagens e de crítica:
"Depois a Lola, tomando um arzinho espremido, apresentou o outro mulherão, la senorita
Concha... ".
Ao nível sintático:
Construção frásica flexível (afasta-se do rigor erudito).
Repetição estilística.
Construção sintática próxima da estrutura francesa.
Utilização de frases curtas.
Nova organização dos vocábulos na frase.
Recorrência a paralelismos.
Ao nível fónico:
Utilização da aliteração.
Os ritmos ligados aos aspetos semânticos e ideológicos.
Repetições fónicas.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 49
Modos de representação
A obra Os Maias são um texto narrativo, onde são inseridas descrições como forma de
caracterização de personagens e de ambientes.
Ao nível da descrição, é de salientar a marca impressionista na apresentação paisagística
(o Impressionismo é um movimento estético que surgiu associado às artes plásticas e que
consiste na sugestão de uma impressão, sem que, para tanto, seja apresentado o recorte nítido
do objeto pintado; em literatura é, igualmente, traduzido pela impressão sugeri da ao nível da cor,
da luminosidade, da forma e do plano). Atentemos no exemplo que se segue, referente à
descrição de Sintra:
«Os muros estavam cobertos de heras e de musgos: através da folhagem, faiscavam
longas flechas de sol. Um ar subtil e aveludado circulava, rescendendo às verduras novas; aqui
e além, nos ramos mais sombrios, pássaros chilreavam de leve; e naquele simples bocado de
estrada, todo salpicado de manchas do sol, sentia-se já, sem se ver, a religiosa solenidade dos
espessos arvoredos (...)”
ou
"E dali olhava, enlevada mente, a rica vastidão de arvoredo cerrado, a que só se veem os
cimos redondos, vestindo um declive da serra como o musgo veste um muro, e tendo àquela
distância o brilho da luz, a suavidade macia de um grande musgo escuro.”
Modos de expressão
Para além do diálogo e do monólogo de algumas personagens, é de reter a utilização do
discurso indireto livre.
O discurso indireto livre, consiste na união entre a voz do narrador e a de uma determinada
personagem. Assim, apresenta marcas do discurso direto, ainda que não seja introduzido pelo
travessão, o sinal gráfico que introduz este tipo de discurso. São de salientar as seguintes marcas:
Ao nível do discurso direto:
pontuação que traduz as opiniões e sentimentos das personagens: ponto de exclamação,
reticências, ponto de interrogação;
frases de tipo exclamativo e interrogativo.
Ao nível do discurso indireto:
utilização da terceira pessoa do plural;
pronomes na terceira pessoa;
tempos verbais utilizados na narração;
utilização de interjeições ou de locuções interjetivas;
utilização de deíticos (vocábulos que dão indicações temporais e espaciais).
Reparemos, então nas transcrições que se seguem, nas quais é utilizado o discurso
indireto livre:
"Ali todos eram homens de asseio, de sala, hem? Então, que se não mencionasse o
"excremento!"
ou
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 50
"Em resumo, era um telhudo. E a vida daquele homem era misteriosa... Que diabo estava ele
a fazer em Lisboa? Ali havia dificuldades de dinheiro... E eles não se davam bem. Na véspera
houvera decerto uma questão. Quando ele entrara, ela estava com os olhos vermelhos e enfiada;
e ele nervoso, a passear pela sala, a retorcer a barba... Ambos contrafeitos, uma palavra cada
quarto de hora... "
O discurso indireto livre surge na obra como forma de caracterizar as personagens e
apresenta, igualmente, uma função caricatural, ligada à crónica de costumes.
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 51
Os Maias Plano-Síntese
Cap. I
Os Maias vêm habitar o Ramalhete (1875)
A descrição do Ramalhete antes de 1875
Vilaça, procurador dos Maias
O restauro do Ramalhete (descreve-se a nova decoração)
Afonso (retrato físico)
Caetano da Maia (pai intransigente)
Juventude de Afonso
Casamento e exílio
Educação de Pedro (o padre Vasques)
O regresso a Lisboa
A morte de Maria Eduarda Runa (mãe de Pedro)
A paixão de Pedro
Alencar conhece a mulher que Pedro vai amar (Maria Monforte)
O casamento de Pedro e o corte de relações com Afonso
Cap. II
Regresso a Lisboa
O nascimento de uma filha (Maria Eduarda)
O nascimento de um filho (Carlos)
Tancredo, o Napolitano, frequenta casa de Pedro
Afonso vê, pela primeira vez Carlos Eduardo
Pedro suicida-se
Afonso parte com Carlos para Santa Olávia
Cap. III
Vilaça em Santa Olávia
A educação de Carlos (Mr.Brown)
A educação de Eusebiozinho (a tradicional portuguesa)
Um serão em Santa Olávia
Vilaça informa sobre paradeiro de Maria Monforte
A confirmação da morte de Maria Eduarda (neta de Afonso)
Carlos vai entrar na faculdade
Cap. IV
Paços de Celas (a estadia de Carlos em Coimbra)
João da Ega (amigo de Carlos)
Amores de Carlos
Carlos forma-se em medicina
Carlos parte para uma viagem
O regresso de Carlos
A instalação no Ramalhete (1875)
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 52
Os projetos de Carlos (consultório, laboratório)
Ega vem para Lisboa
Cap. V
O serão no Ramalhete. Primeira doença de Carlos.
Fala-se de Ega, de Steinbroken. Taveira fala nos Gouvarinhos.
Laboratório de Carlos e carreira médica
Ega ama Raquel Cohen
Ega visita Carlos no laboratório (consultório)
Ega insulta os jornalistas (imprensa)
Ega propõe que o apresentem aos Gouvarinhos
Carlos vai a S. Carlos
Carlos conversa com Baptista (criado de quarto) sobre os Gouvarinhos e sobre aventuras
amorosas
Em S. Carlos, Ega apresenta Carlos aos Gouvarinhos.
Cap. VI
Carlos visita Ega na vila Balzac
Carlos e Ega conversam sobre Gouvarinhos
Carlos é apresentado a Craft
Convite de Ega para um jantar no Hotel Central
Carlos vê uma senhora extremamente bela.
Dâmaso informa acerca da identidade da senhora Castro Gomes
Ega apresenta Alencar a Carlos
Cohen
O jantar: literatura, política…
Depois do jantar um final agitado (entre Ega e Alencar)
Discussão e reconciliação
Carlos recorda o passado: recorda visão da bela senhora.
Cap. VII
Craft íntimo do Ramalhete
Dâmaso íntimo do Ramalhete (persegue Carlos)
Ega informa Carlos sobre a paixão da Gouvarinho
Carlos vê novamente a senhora Castro Gomes.
A Gouvarinho vai ao consultório de Carlos
Dâmaso frequenta Castro Gomes
Ega publica um artigo insensato sobre Cohen
Carlos pensa que os Castro Gomes foram a Sintra
Cap. VIII
Carlos procura ver Madame Castro Gomes
Carlos e Cruges partem para Sintra
Encontram Eusebiozinho
Vão a Seteais (Alencar recita)
ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS
Português 11º Ano – 2011/2012 53
Carlos pergunta pelos Castro Gomes: partiram na véspera – Dâmaso está com eles.
Jantam
Regresso a Lisboa.
Cap. IX
Convite dos Gouvarinhos a Carlos para jantar
Dâmaso pede a Carlos que venha ver uma doente (filha de Castro Gomes)
Dâmaso confidencia a Carlos perspetivas de ficar só com Madame Castro Gomes Castro
Gomes partirá para o Brasil).
Carlos prepara-se para o baile em casa dos Cohen
Noite em casa de Craft (Ega, Carlos e Craft)
Dâmaso informa Carlos presumível doença de Castro Gomes
Carlos cruza-se com Castro Gomes: pensa pedir a Dâmaso que lho apresente
Carlos vai ao chá a casa dos Gouvarinho
Sedução de Carlos pela condessa de Gouvarinho
Cap. X
As aventuras de Carlos/ condessa de Gouvarinho
Carlos e o marquês, descendo a rua de S. Roque, conversam
Avistam Madame Castro Gomes (perturbação) sobre as corridas de cavalos.
Carlos congemina a ideia de Dâmaso levar aos Olivais os Castro Gomes
Carlos e Dâmaso falam sobre as corridas.
Carlos fala a Dâmaso no passeio aos Olivais.
Corridas
Dâmaso informa Carlos sobre a partida de Castro Gomes para o Brasil; Carlos permite a
insistência da Gouvarinho para ir visitar uma doente, decide-se a acompanhá-la.
Carlos sai das corridas e vai à rua de S. Francisco na tentativa de se avistar com Madame
Castro Gomes.
Cap. XI
Carlos vai a casa de Madame Castro Gomes (Maria Eduarda)
No Ramalhete Carlos revê o encontro
Carlos recebe um bilhete da Gouvarinho sobre ida a Santarém
Gouvarinho resolve a situação partindo com a mulher Carlos goza, durante semanas, a
intimidade da casa de Maria Eduarda: grande amizade entre ambos
Carlos em casa de Maria Eduarda
Aparece Dâmaso
Dâmaso pede explicações a Carlos
Cap. XII
Ega volta para Lisboa (Ramalhete)
Carlos e Ega vão ao jantar dos Gouvarinho
Reconciliação Carlos/ condessa de Gouvarinho
Carlos compra a quinta dos Olivais (p/instalar M.Eduarda)
Afonso aprova a compra
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Ega confidente de Carlos
Cap. XIII
Ega informa Carlos das difamações de Dâmaso a seu respeito e a respeito de M. Eduarda.
Preparativos da quinta dos Olivais (Toca)
Carlos ameaça Dâmaso
Dâmaso pede explicações
Aniversário de Afonso
A Gouvarinho pede explicações a Carlos
Carlos rompe as relações com a Gouvarinho
Cap. XIV
Afonso parte para Santa Olávia
Maria Eduarda parte para os Olivais
Ega parte para Sintra
Carlos só em Lisboa
Alencar apresenta Guimarães a Carlos
Idílio Carlos/Maria Eduarda
Maria Eduarda visita o Ramalhete
Carlos vai a Santa Olávia: regressa e recebe Castro Gomes
Castro Gomes revela a Carlos que não é marido de Maria Eduarda
Desespero de Carlos (a mentira): decide romper.
Carlos perante Maria Eduarda não consegue manter decisão
Longa história de Maria Eduarda
Carlos propõe casamento a Maria Eduarda
Cap. XV
Maria Eduarda, na Toca, conta a Carlos a vida atribulada
Carlos conta a Ega o propósito de partir com Maria Eduarda
O avô-obstáculo a esta ideia
Ega, Carlos e Maria Eduarda jantam nos Olivais
Toca, ponto de reunião de amigos
Dâmaso difama publicamente Carlos na “Corneta do Diabo”
Ega e Cruges desafiam Dâmaso
Dâmaso retrata-se num documento que é obrigado a escrever
Carlos sente-se vingado
Afonso regressa a Lisboa
Carlos regressa ao Ramalhete
Maria Eduarda regressa à rua de S. Francisco
Festa de beneficência: Ega vê Dâmaso com Raquel Cohen
Ega publica a retratação de Dâmaso (sem repercussões)
Cap. XVI
Carlos e Ega em casa de Maria Eduarda
O Sarau
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Guimarães entrega um cofre a Ega
Guimarães revela a identidade de Maria Eduarda (irmã de Carlos)
Cap. XVII
Ega na posse do segredo, pensa na forma de o revelar a Carlos
Vilaça é incumbido de o fazer: carta de Maria Monforte esclarece e filiação de Maria Eduarda
Vilaça revela a Carlos a notícia
Ega e Carlos conversam sobre o assunto
Carlos dá abruptamente a notícia a Afonso
Carlos decide dar ele mesmo a notícia a Maria Eduarda
Carlos, face a Maria Eduarda, deixa-se levar e nada lhe revela
Carlos a passar as noites com Maria Eduarda
Ega e Afonso certificam-se da situação
Carlos vê pela última vez o avô
Afonso morre
Carlos parte para Santa Olávia
Ega revela a Maria Eduarda o seu parentesco com Carlos
Maria Eduarda parte para Paris
Ega vai ter com Carlos
Cap. XVIII
Notícia da partida de Carlos e Ega para o estrangeiro
Ega volta a Lisboa ano e meio depois
Carlos volta a Portugal (dez anos depois)
Os velhos amigos: encontro ou notícias
Carlos e Ega visitam Ramalhete: modificações operadas pelo tempo.
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Português 11º Ano – 2011/2012 56
BIBLIOGRAFIA
COELHO, Jacinto do Prado, (direção de), Dicionário de Literatura, Porto, Figueirinhas, 3ª ed.,
1983.
JACINTO, Conceição e LANÇA, Gabriela, Os Maias, Porto Editora, 1998.
O Realismo, Eça de Queirós e “Os Maias, Cadernos de Português, Edições Sebenta, 2ª ed.
REIS, Carlos, Introdução à leitura d’Os Maias, Livraria Almedina, 5ª ed., 1995.
SARAIVA, António José e LOPES, Óscar, História da Literatura Portuguesa, Porto Editora, 12ª
ed., 1982.