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Revista Cientiacutefica Vozes dos Vales ndash UFVJM ndash MG ndash Brasil ndash Nordm 06 ndash Ano III ndash 102014 Reg 1202095ndash2011 ndash UFVJM ndash QUALISCAPES ndash LATINDEX ndash ISSN 2238-6424 ndash wwwufvjmedubrvozes

Ministeacuterio da Educaccedilatildeo ndash Brasil

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri ndash UFVJM Minas Gerais ndash Brasil

Revista Vozes dos Vales Publicaccedilotildees Acadecircmicas Reg 1202095 ndash 2011 ndash UFVJM

ISSN 2238-6424 QUALISCAPES ndash LATINDEX

Nordm 06 ndash Ano III ndash 102014 httpwwwufvjmedubrvozes

Os impactos da vida na cidade e do campo na sauacutede mental

relatos de docentes que atuam em comunidades ribeirinhas no

estado do Amapaacute

Profordf MSc Selma Gomes da Silva Mestre em Psicologia da Educaccedilatildeo

Aluna do doutorado Interinstitucional ndash DINTER em Sociologia da Universidade Federal do Cearaacute em parceria com a Universidade Federal do Amapaacute - UNIFAP

Professora de Psicologia da Educaccedilatildeo vinculada ao Colegiado de PedagogiaUNIFAP

httplattescnpqbr1380611093265384 E-mail selmaunifapbr

Prof Dr Antocircnio Cristian Saraiva Paiva Doutor em Sociologia

Professor do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Sociologia da Universidade Federal do Cearaacute - UFC - Brasil

Poacutes-Doutorado (em andamento) na Universitegrave de Strasbourg - Franccedila httplattescnpqbr2635234979088002

E-mail cristianpaivaufcbr

Resumo O presente artigo discute a influecircncia da vida na cidade no possiacutevel desencadeamento de transtornos mentais em relaccedilatildeo da vida na zona rural Para isso parte-se das seguintes indagaccedilotildees a vida urbana favorece o desenvolvimento de doenccedilas psiacutequicas O que pensam os docentes que moram na cidade e trabalham em zonas rurais Para responder estes questionamentos optou-se pela abordagem essencialmente qualitativa com a utilizaccedilatildeo do uso de narrativas Os sujeitos da pesquisa para construccedilatildeo deste trabalho foram docentes da rede estadual que desenvolvem suas praacuteticas na zona rural especificamente em localidades ribeirinhas no Sistema Modular de Ensino (SOME) Com base nos

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relatos obtidos atraveacutes de entrevistas e escuta de experiecircncias de docecircncia e de vivecircncias de sofrimento mental de alguns professores verificou-se que as pessoas podem adoecer tanto nas cidades como em zonas rurais Palavras-chave Cidade Zona rural SauacutedeDoenccedila mental

INTRODUCcedilAtildeO

Viver na cidade para algumas pessoas pode ser concebido como

representaccedilotildees de sucesso de conquista de liberdade e de autonomia poreacutem

poderaacute tambeacutem ser percebida como sinocircnimo de stress do tempo cronometrado do

medo da distacircncia afetiva e da violecircncia A vida no campo da mesma maneira para

muitos poderaacute ter conotaccedilotildees de descanso sossego paz tranquilidade

estreitamento de laccedilos sociais solidariedade sauacutede qualidade de vida dentre

outros Da mesma forma para alguns poderaacute ser vista como uma vida ldquosem graccedilardquo

monoacutetona lugar de poucas oportunidades de crescimento pessoal econocircmico e

cultural Com base nessas breves notas introdutoacuterias suscita-se as seguintes

questotildees a vida urbana favorece o desenvolvimento de doenccedilas psiacutequicas Quem eacute

mais vulneraacutevel ao adoecimento mental as pessoas que habitam cidade ou as que

vivem no campo Quais os fatores associados O que pensam alguns professores e

professoras do Sistema de Ensino Modular do Estado do Amapaacute (SOME)1 sobre

essa temaacutetica

A partir dessas indagaccedilotildees o presente trabalho tem como objetivo discutir a

partir de relatos de alguns docentes que habitam na capital do Estado mas exercem

suas funccedilotildees em localidades rurais como a vida na cidade eou do campo pode

favorecer processos de sofrimentosadoecimentos mentais

A pesquisa eacute essencialmente qualitativa Optou-se portanto pela teacutecnica de

coleta de dados as narrativas de docentes sobre suas experiecircncias em

comunidades rurais em escolas pertencentes ao municiacutepio de Macapaacute mas

1 O Sistema de Organizaccedilatildeo Modular de Ensino (SOME) foi implantado no Estado do Amapaacute em caraacuteter experimental em 1986 e em 2005 foi reestruturado permanecendo ateacute o momento atual para atender agraves necessidades educacionais e garantir o ensino sistemaacutetico agrave zona rural (localidades de faacutecil e difiacutecil acesso) do Estado Respaldado na Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo (LDB) a saber Lei 939495 Art 81 como forma de garantir o acesso ao conhecimento nas diversas localidades do Estado onde natildeo era possiacutevel estruturar o ensino regular devido as dificuldades contextuais

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localizadas especificamente em aacutereas ribeirinhas Para isso a coleta de dados deu-

se atraveacutes de entrevistas e de escuta de relatos e de depoimentos sobre suas

experiecircncias condiccedilotildees de trabalho sentimentos e vivecircncias Foi concedido ao

entrevistado total liberdade para falar sobre suas vivecircncias nessas comunidades de

acordo com a percepccedilatildeo e vivecircncias deles como a vida na cidade eou no campo

contribui para o aparecimento de transtornos psicoloacutegicos

Para compreender essas esses relatos buscou-se na literatura autores que

abordam e analisam os impactos da vida na cidade e suas relaccedilotildees com formas de

adoecimento psiacutequico de seus habitantes procurou-se tambeacutem verificar o que

pensam esses teoacutericos sobre as caracteriacutesticas da vida em aacutereas rurais Dos

teoacutericos pesquisados parece ser visiacutevel a tendecircncia em afirmar que as pessoas

adoecem mais ldquoda menterdquo na cidade do que no campo considerando o estilo de vida

caracteriacutestico das grandes cidades reconhecido como estressante dinacircmico

controlado pelo reloacutegio racional constantes ruiacutedos desprovido de relaccedilotildees afetivas

mais proacuteximas entre outros aspectos (SIMMEL 2001)

Nesse sentido Durante (2014) relata em uma recente pesquisa do Instituto

de Pesquisa e Orientaccedilatildeo da Mente do Instituto (IPOM)2 realizada com

aproximadamente duas mil pessoas entre 20 a 50 anos em Satildeo Paulo Rio de

Janeiro Salvador Belo Horizonte Brasiacutelia e Fortaleza mostrou que sete em cada

dez pessoas que moram em cidades com mais de dois milhotildees de habitantes

reconhecem que sentem com frequecircncia sintomas que indicam algum tipo de

transtorno psiacutequico Desse percentual 95 afirmam se sentir muito estressados

87 ansiosos em excesso 72 declaram ter insocircnia e outros problemas ligados ao

sono 68 depressatildeo 49 jaacute tiveram ataques de pacircnico e 37 reconhecem que

tem agorafobia3

2 O Instituto de Pesquisa e Orientaccedilatildeo da Mente (IPOM) eacute uma instituiccedilatildeo destinada agraves pesquisas e estudos sobre o desenvolvimento da mente e de distuacuterbios nessa aacuterea 3 Transtorno psicoloacutegico cuja caracteriacutestica essencial eacute uma ansiedade acerca de estar em locais ou situaccedilotildees das quais escapar poderia ser difiacutecil (ou embaraccediloso) ou nas quais o auxiacutelio pode natildeo estar disponiacutevel na eventualidade de ter um ataque de pacircnico ou sintomas tipo pacircnico (por ex medo de ter um ataque suacutebito de tontura ou um ataque suacutebito de diarreia) (Criteacuterio A) A ansiedade tipicamente leva agrave esquiva global de uma variedade de situaccedilotildees que podem incluir estar sozinho fora de casa ou estar sozinho em casa estar em meio a uma multidatildeo viajar de automoacutevel ocircnibus ou aviatildeo ou estar em uma ponte ou elevador Alguns indiviacuteduos satildeo capazes de se expor agraves situaccedilotildees temidas mas enfrentam essas experiecircncias com consideraacutevel temor Frequentemente um indiviacuteduo eacute mais capaz de enfrentar uma situaccedilatildeo temida quando acompanhado por algueacutem de confianccedila (Criteacuterio B) A esquiva de situaccedilotildees pode prejudicar a capacidade do indiviacuteduo de ir ao trabalho ou realizar

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O estudo tambeacutem revelou os principais agentes associados pelos

entrevistados a esses distuacuterbios mentais nos habitantes das grandes cidades dos

sujeitos entrevistados 65 das pessoas atribuiacuteram a superlotaccedilatildeo e atrasos dos

transportes puacuteblicos 57 ao tracircnsito caoacutetico 48 ao excesso de tarefas

desempenhadas durante o dia 33 a longas jornadas de trabalho e 24 a pressatildeo

de prazos horaacuterios e compromissos

Para compreender a vida e as proacuteprias caracterizaccedilotildees de cidade buscou-se

primeiramente a concepccedilatildeo de Alves (2011 p109) quando afirma

A metroacutepole pode ser caracterizada como um espaccedilo de concentraccedilatildeo populacional de riquezas de tecnologia de inovaccedilatildeo de difusatildeo da modernidade e de possibilidades pela existecircncia concentrada de atividades e de serviccedilos eacute tambeacutem marcada pelo aumento da pobreza da violecircncia das formas precaacuterias de habitaccedilatildeo e atualmente no caso brasileiro pela ampliaccedilatildeo do nuacutemero de trabalhadores informais que ocupam os espaccedilos puacuteblicos para a reproduccedilatildeo da vida

Sposito (2011 p133) diverge desse pensamento e considera que a cidade e as

redes urbanas seriam vistas de outro ponto de vista porque a diferenccedila possibilita o

diaacutelogo e a contradiccedilatildeo como motor de transformaccedilotildees enquanto a desigualdade

quando acentuada pode ampliar o conflito a indiferenccedila a segregaccedilatildeo e a

fragmentaccedilatildeo

Nunes (2014) no texto ldquoA interface entre o urbano e o rural na Amazocircnia

brasileirardquo citando os claacutessicos Marx Weber e Durkheim destaca a contribuiccedilatildeo

desses autores sobre as relaccedilotildees do homem com o urbano e o rural poreacutem

segundo a opiniatildeo dele quem melhor discutiu o indiviacuteduo e sua relaccedilatildeo com o

urbano foi Georg Simmel Nunes reteacutem que Simmel avanccedilou analisando

principalmente os efeitos da metroacutepole na estrutura mental dos habitantes

Nunes (2014) tambeacutem menciona vaacuterios outros estudiosos como Sigmund

Freud Norbert Elias Michel Foucault Henry Lefebvre e ateacute mesmo alguns mais

contemporacircneos como por exemplo Pierre Bourdieu Para o autor esses teoacutericos

consideram a relaccedilatildeo indiviacuteduo e sociedade como geradora de conflitos individuais e

de desajustes sociais decorrentes de estiacutemulos nervosos aos quais as pessoas

atividades cotidianas (por ex fazer compras do dia-a-dia levar os filhos ao meacutedico) A ansiedade ou esquiva foacutebica natildeo eacute melhor explicada por um outro transtorno mental (Criteacuterio C) (DSM-IV 2002)

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ficam submetidas em funccedilatildeo sobretudo da vida numa grande cidade De acordo

com a exposiccedilatildeo de Nunes a cidade possui as seguintes caraterizaccedilotildees

A anaacutelise teoacuterica da relaccedilatildeo campocidade encara uma relaccedilatildeo de oposiccedilatildeo e vecirc a cidade como o lugar da modernidade Segundo o autor a cidade seria o lugar onde a racionalizaccedilatildeo do mundo encontraria condiccedilotildees para se consolidar como ethos em oposiccedilatildeo ao mundo rural calcado em relaccedilotildees primaacuterias de cunho familiar ou de pequenos grupos Entre uma situaccedilatildeo onde predominaria o anonimato (a cidade) contrapor-se-ia uma outra onde predominam as relaccedilotildees face-a-facerdquo (NUNES 2014 p 2)

Nunes parece apoiar-se em Simmel ([1903]2001) haja vista que eacute nesta

perspectiva que se destacam as anaacutelises deste autor sobre a caracterizaccedilatildeo do viver

na cidade

Para Simmel (2001) a vida em sociedades urbanizadas eacute capaz de gerar

certos efeitos psicoloacutegicos nos indiviacuteduos que dividem os espaccedilos das cidades A

maioria dessas consequecircncias eacute negativa para a sauacutede mental dos indiviacuteduos e

para defender-se os habitantes metropolitanos satildeo levados a adotar uma seacuterie de

comportamentos Sendo assim Simmel afirma que haacute uma intensificaccedilatildeo de

estiacutemulos (externos e internos) sobre a estrutura cognitiva das pessoas exigindo

delas a elaboraccedilatildeo de uma ldquoindividualidade metropolitanardquo gerando assim uma

necessidade de adaptaccedilatildeo psicoloacutegica do indiviacuteduo agrave vida na metroacutepole e em razatildeo

de raacutepidas e continuadas variaccedilotildees de estiacutemulos de haacutebitos circunstacircncias e

mudanccedilas raacutepidas que produzem uma intensificaccedilatildeo dos processos cognitivos e da

vida emocional dos sujeitos

Nesse sentido para Simmel (2001 p 12) ldquoA metroacutepole altera os

fundamentos sensoriais da vida psiacutequicardquo O homem metropolitano estaacute exposto a

uma quantidade maior de estiacutemulos do que o homem do campo para o autor a

diferenccedila da cidade grande com o campo consiste no antagonismo entre o mais

raacutepido e o mais lento entre o habitual e o novo devido a mudanccedilas constantes de

imagens sons entre outros Desta forma ldquopoderia haver uma espeacutecie de ldquooverdoserdquo

de estiacutemulos nervosos isto provocaria uma desestabilizaccedilatildeo emocionalrdquo (LIMA

2012 p 151)

Dentro deste contexto o autor cita como consequecircncia o processo de

intelectualizaccedilatildeo o distanciamento das relaccedilotildees afetivas a reserva e a atitude

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blaseacute4 como estrateacutegias de proteccedilatildeo psicoloacutegica para que os sujeitos consigam

continuar vivendo na metroacutepole o autor enfatiza a atitude blaseacute como decorrecircncia

do espiacuterito moderno vivido nas grandes cidades

O espiacuterito moderno tornou-se crescentemente um espiacuterito calculista O rigor do caacutelculo da vida corrente resultante da economia monetaacuteria correspondente ao ideal das ciecircncias naturais nomeadamente agrave ideia de transportar o mundo numa questatildeo aritmeacutetica e de fixar cada uma das suas componentes numa formula matemaacutetica (SIMMEL 2001 p 33)

Dessa forma Simmel (2001 p 32) considera que a metroacutepole promove

configuraccedilotildees situacionais que exibem o indiviacuteduo a um estilo mental mais racional

mais calculista e ao mesmo tempo submete o indiviacuteduo agraves condiccedilotildees psicoloacutegicas

diferentemente da vida em pequenas localidades rurais onde o estilo de vida

caracteriza-se pelo ldquofluir sensorial e mental mais lento mais familiar mais tranquilordquo

onde as emoccedilotildees de afetividade satildeo mais presentes nas relaccedilotildees intersubjetivas

Frente aos ldquovariados e contrastantes estiacutemulosrdquo que o psiquismo humano eacute

exposto no contexto das grandes cidades e para adaptar-se agraves alteraccedilotildees e as

contradiccedilotildees dos acontecimentos provocados pela vida na metroacutepole o indiviacuteduo

desenvolve uma estrateacutegia de proteccedilatildeo e de escape frente agraves variadas perturbaccedilotildees

e intensificaccedilatildeo sensorial e psiacutequica o homem metropolitano assim promove uma

capacidade protetora contra essa profunda perturbaccedilatildeo psiacutequica para lidar com a

fluidez e descontinuidade do ambiente externo proacuteprio das grandes metroacutepoles

Esta maneira racional de enfrentamento da vida na cidade com o tempo torna-o

ldquoindiferente a todos os aspectos pessoaisrdquo (SIMMEL 2001 p 32)

Wirth (2001) expotildee seu pensamento sobre o desenvolvimento das cidades

numa linha semelhante a de Simmel Ele defende que a cidade eacute produto do

crescimento e natildeo da criaccedilatildeo instantacircnea por isso eacute de esperar as suas influecircncias

sobre os modos de vida de seus habitantes Wirth (2001 p 45) diz que

A influecircncia que a cidade exerce sobre a vida social do homem eacute superior ao que a parcela urbana da populaccedilatildeo julga pois a cidade natildeo eacute apenas

4 Fenocircmeno psiacutequico definido por Georg Simmel (2001 p 35) como consequecircncia dos estiacutemulos nervosos que em acelerada mudanccedila emergem com todos os seus contrastes e dos quais a intensificaccedilatildeo da racionalidade metropolitana parece resultar estimulaccedilatildeo maacutexima do sistema emocional ateacute ao ponto de deixar de ter qualquer reaccedilatildeo forccedilando assim o sistema nervoso dar respostas aos diversos e incongruentes estiacutemulos ao ponto de esgotar as suas energias tornando-se incapaz de reagir a novos estiacutemulos

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cada vez mais o lugar de habitaccedilatildeo e de trabalho do homem moderno mas tambeacutem o centro que potildee em macha e controla a vida econocircmica poliacutetica e cultural () configurando um universo articulado de uma enorme variedade de aacutereas povos e atividades

Wirth destaca que o crescimento das cidades e a urbanizaccedilatildeo do mundo satildeo dos

fenocircmenos mais impressionantes dos tempos modernos e que por isso tem seus

atrativos Nesse sentido Wirth (2001 p 47) considera que a cidade principalmente

A grande metroacutepole pode considerar-se resultante da sua elevada concentraccedilatildeo de em instalaccedilotildees e atividades industriais comerciais financeiras e administrativas vias de transporte e linha de comunicaccedilatildeo equipamento cultural e recreativo como a imprensa estaccedilotildees de raacutedio teatros bibliotecas museus salas de espetaacuteculos oacuteperas hospitais instituiccedilotildees de ensino superior centros de investigaccedilatildeo editoras organizaccedilotildees profissionais instituiccedilotildees religiosas e de assistecircncia social

Wirth observa que natildeo satildeo apenas os recursos e equipamentos econocircmicos sociais

e culturais proacuteprios da cidade que tornam as tornam atrativas mas tambeacutem o modo

de vida tido como urbano principalmente por aqueles que vivem em zonas rurais

O que atraem as pessoas agraves cidades Caracterizando a cidade do ponto de

vista social o Wirth (2001 p 52) considera que os habitantes da cidade conhecem

uns aos outros em papeacuteis altamente segmentados e que ldquoas relaccedilotildees intersubjetivas

se realizam mais pelos contatos impessoais superficiais transitoacuterios e reservados

diferente das relaccedilotildees no campo que podem ser de tipo primaacuterio de solidariedade e

afetividaderdquo Por outro lado o referido autor reteacutem que na cidade

O indiviacuteduo ganha um certo grau de autonomia e de liberdade relativamente ao controle pessoal e emocional exercido por grupos proacuteximos por outro lado perde a expressatildeo espontacircnea da sua a personalidade a postura moral e a sensaccedilatildeo de participaccedilatildeo inerentes agrave vida em sociedade Isso constitui essencialmente o estado de anomia ou de vazio social a que Durkheim alude ao tentar explicar as vaacuterias formas de desorganizaccedilatildeo social da sociedade industrial (WIRTH 2001 p 53)

Dessa forma Wirth chama agrave atenccedilatildeo para o fato de os indiviacuteduos viverem e

trabalharem em contato estreito sem que existem laccedilos sentimentais e emocionai

entre si promove o espiacuterito de competiccedilatildeo sobranceira e exploraccedilatildeo muacutetua Para

contraria a irresponsabilidade e a desordem potencial tende-se a recorrer a

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mecanismos de controle Como ele proacuteprio exemplifica ldquoos reloacutegios e os sinais de

tracircnsito simbolizam a ordem social no mundo urbanordquo (WIRTH 2001 p 55)

Seguindo essa linha de raciociacutenio Wirth em sua abordagem enfatiza o

distanciamento social entre os indiviacuteduos acentuando o caraacuteter reservado dos

indiviacuteduos a diminuiccedilatildeo das relaccedilotildees pessoais gerando um espaccedilo para a instalaccedilatildeo

da solidatildeo aleacutem do mais para o autor ldquoA frequente e inevitaacutevel movimentaccedilatildeo de

um grande nuacutemero de indiviacuteduos num habitat congestionado daacute origem ao conflito e

agrave irritaccedilatildeordquo Consequentemente ldquoO ritmo acelerado e a complicada tecnologia sob

os quais se desenrola a vida em aacutereas de grande densidade fazem acentuar as

tensotildees nervosas resultantes daquelas frustraccedilotildees pessoaisrdquo (WIRTH 2001 p 55-

6)

Assim para Wirth (2001 p 55 e 60) ldquoo mundo urbano valoriza o

reconhecimento visualrdquo Nesse contexto segundo o olhar do autor funccedilotildees como a

ldquopreservaccedilatildeo da sauacutede as formas de mitigar o sofrimento associado agrave inseguranccedila

pessoal e social as providecircncias referentes agrave melhoria da educaccedilatildeo da recreaccedilatildeo e

da cultura deram origem a instituiccedilotildeesrdquo

Na opiniatildeo do referido autor eacute na cidade mais do que no campo que os

desarranjos pessoais a desordem mental o suiciacutedio a delinquecircncia o crime a

corrupccedilatildeo e a inseguranccedila podem grassar Todavia ele ressalta a necessidade de

realizar pesquisas para tais confirmaccedilotildees embora ele retenha que seja possiacutevel

analisar tal realidade com base apenas nas manifestaccedilotildees de tais fenocircmenos

(WIRTH 2001 p62)

Sousa (2008 p 21-2) chama atenccedilatildeo para as transformaccedilotildees econocircmicas

que vem se arrastando desde os anos 70 mais especificamente para a questatildeo do

individualismo como ldquoingrediente cultural-simboacutelico fundamental do modelo social

capitalistardquo que tem como caracteriacutesticas proacuteprias a globalizaccedilatildeo a transiccedilatildeo do

modo de regulaccedilatildeo e do regime de acumulaccedilatildeo ldquofordistasrdquo para o lsquopoacutes-fordismordquo e

sua acumulaccedilatildeo flexiacutevel a precarizaccedilatildeo do mundo do trabalho investida neoliberal

e a desregulamentaccedilatildeo Ele alega que essa ldquodesordem despolitizadardquo e a

problemaacutetica do medo e da inseguranccedila satildeo geradoras de processos patoloacutegicos

proacuteprios de uma ldquofoboacutepolerdquo caracterizada como

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Uma cidade em que grande parte de seus habitantes presumivelmente padece de estresse crocircnico (entre outras siacutendromes foacutebico-ansiosas inclusive transtorno de estresse poacutes-traumaacutetico) por causa da violecircncia do medo da violecircncia e da sensaccedilatildeo de inseguranccedila (SOUSA 2008 p 40)

Bauman (2011) parece concordar com a ideia de Sousa (2008) quando apresenta e

analisa o conceito de ldquomixofobiardquo em sua obra ldquoA eacutetica impossiacutevel no mundo dos

consumidoresrdquo A respeito desse raciociacutenio ele declara

A mixofobia eacute uma reaccedilatildeo previsiacutevel e difundida agrave variedade esmagadora arrepiante e estressante de tipos humanos e estilos de vida que se encontram e se acotovelam pelos espaccedilos das ruas das grandes cidades contemporacircneas ndash natildeo apenas nos oficialmente proclamados bairros barra-pesada ou nas ldquoruas perigosasrdquo mas tambeacutem nas aacutereas de convivecircncia normais (leia-se desprotegidas de ldquoespaccedilos de interdiccedilatildeordquo) Como estabelecem a multivelocidade e a diversidade cultural de ambientes urbanos na era da globalizaccedilatildeo ndash condiccedilatildeo passiacutevel de se intensificar ao longo do tempo - eacute provaacutevel que as tensotildees surgidas da vexatoacuteria confusa e irritante falta de familiaridade do cenaacuterio deem vazatildeo a iacutempetos segregacionistas (BAUMAN 2011 p 73)

Sob essa perspectiva Bauman focaliza para os fatores que precipitam a mixofobia

dentre os quais satildeo citados

O sentimento de ldquonoacutesrdquo que expressa um desejo de ser semelhante eacute um caminho para os homens e as mulheres evitarem a necessidade de olhar mais profundamente para o interior do outro () Esse sentimento promete certo conforto espiritual a perspectiva de tornar a integraccedilatildeo mais faacutecil de sustentar cortando o esforccedilo de entendimento negociaccedilatildeo e comprometimento exigidos pelo viver em meio a e com a diferenccedilardquo (BAUMAN 2011 p 74)

Duarte (2003 p174) remete-se a Durkheim (1970) para mencionar que este

autor jaacute destacava o individualismo como categoria onipresente na caracterizaccedilatildeo da

modernidade e que essa carregava uma ambiguidade instauradora e fundamental

como percebe-se na palavras de Duarte (2003 p 174)

Designava uma categoria de acusaccedilatildeo a tudo que parecia corroer a antiga solidariedade social um ldquoegoiacutesmordquo coletivo moderno ao mesmo tempo em que abarcava os melhores valores associados agrave cidadania republicana como as preeminentes liberdade e igualdade

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Concorda-se com o pensamento de Durkheim destacado por Duarte quando se

reporta ao individualismo como caracteriacutestica proacutepria da modernidade talvez sendo

nos dias atuais um dos fatores significativo para o adoecimento mental haja vista

que o individualismo conduz o ser humano a experiecircncia de solidatildeo existencial

1CONTEXTUALIZACcedilAtildeO

11Macapaacute a capital no meio do mundo

Macapaacute a capital no meio do mundo eacute marcada pela linha do Equador

constituiacuteda agrave margem do majestoso Rio Amazonas abriga a imponente Fortaleza de

Satildeo Joseacute monumento histoacuterico considerado uma das seacutetimas maravilhas do Brasil

construiacuteda durante a segunda metade do seacuteculo XVIII e concluiacuteda mais

precisamente em 1782 com fins de seguranccedila das fronteiras das terras e riquezas

brasileiras contra os povos que tinham os ldquoolhos vidradosrdquo nas riquezas das terras

brasileiras e mais especificamente nos bens naturais das terras tucujus

Macapaacute eacute a capital do Estado do Amapaacute e primeiro municiacutepio a ser criado5 O

vocaacutebulo Macapaacute eacute de origem tupi e uma variaccedilatildeo de macapaba que na liacutengua

indiacutegena quer dizer estacircncia das macabas ou lugar de abundacircncia da bacaba6

5 Originou-se de um destacamento militar fixado no mesmo local das ruiacutenas da antiga Fortaleza de Santo Antocircnio a partir de 1740 Este destacamento surgiu em razatildeo de constantes pedidos feitos pelo governo da Proviacutencia do Gratildeo Paraacute e Maranhatildeo (a quem as terras do Amapaacute estavam juridicamente anexadas) Joatildeo de Abreu Castelo Branco que desde 1738 sentindo o estado de abandono em que se encontrava a Fortaleza solicitava agrave Coroa portuguesa providecircncias urgentes Em 1740 veio a resposta do rei portuguecircs D Joatildeo que natildeo soacute autorizou o governador do Paraacute a construir um fortim no mesmo local das ruiacutenas da fortaleza de Santo Antocircnio como tambeacutem enviou um projeto de construccedilatildeo de um pequeno forte idealizado pelo sargento-mor Manuel de Azevedo Fortes e pelo engenheiro-mor do reino Miguel Luiacutes Alves Deste forte originou-se Macapaacute Depois que D Joseacute I assumiu o trono portuguecircs o Marquecircs de Pombal assumiu o ministeacuterio real e nomeou em seguida seu irmatildeo Francisco Xavier de Mendonccedila Furtado para o comando das Armas da Proviacutencia do Paraacute assim como para a presidecircncia da proacutepria proviacutencia gozando de plenos poderes para promover a fundaccedilatildeo e colonizaccedilatildeo de vilas na Amazocircnia Setentrional Eacute nesta eacutepoca que Macapaacute assiste agrave chegada dos colonos dos Accedilores Em 2 (dois) de fevereiro de 1758 Mendonccedila Furtado instala os poderes Legislativo e Judiciaacuterio da vila e em 4 (quatro) de fevereiro dois dias depois eleva o povoado agrave categoria de vila A emancipaccedilatildeo de Macapaacute despertou a cobiccedila de holandeses ingleses e franceses que ameaccedilavam a todo custo invadir a vila Apoacutes intensa campanha Mendonccedila Furtado vem a falecer natildeo realizando o sonho de ver Macapaacute fortificada condignamente A grande Fortaleza soacute foi inaugurada em 19 de marccedilo de 1782 18 anos depois de iniciados os trabalhos Erguida a imponente Fortaleza a vila comeccedilou a desenvolver-se sempre gozando das vantagens inerentes agrave sua qualidade de centro militar ateacute os dias que precederam agrave proclamaccedilatildeo da Independecircncia do Brasil Macapaacute cresceu agrave sombra desta Fortaleza testemunho do esforccedilo luso-

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A cidade de Macapaacute na deacutecada de 1990 vivenciou um crescimento populacional

espantoso pessoas de outros estados brasileiros como maranhenses paraenses

piauienses e cearenses comeccedilaram a vir para Macapaacute atraiacutedos pela Aacuterea de Livre e

Comeacutercio7 Este processo natildeo pode ser analisado de forma deslocada do contexto

mundial em relaccedilatildeo ao comeacutercio de produtos importados De acordo com

depoimentos de pessoas da regiatildeo ldquochegavam barcos lotados de pessoasrdquo oriundas

de outros estados brasileiros em busca de melhores condiccedilotildees de vida nas terras

tucujus

Para entender a cidade de Macapaacute agrave eacutepoca sua precariedade quanto aos

serviccedilos de saneamento e estruturais precisa-se compreender que as estruturas

fiacutesicas natildeo estavam adequadas para este ldquobumrdquo do crescimento populacional A

populaccedilatildeo explodiu como tambeacutem diversos problemas estruturais e que ateacute o

momento atual ainda natildeo foram resolvidos pela administraccedilatildeo puacuteblica para atender

as demandas do crescimento populacional

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE

2014) a populaccedilatildeo estimada em 2013 em Macapaacute eacute de 437256 habitantes A aacuterea

da unidade territorial eacute de 6408545 kmsup2 tendo-se uma densidade democraacutetica de

6214 habkmsup2 No momento atual a cidade de Macapaacute que tem como gestor

municipal o prefeito Cleacutecio Luiacutes Vilhena Vieira encontra-se vivenciando muitos

brasileiro na conquista colonizaccedilatildeo e manutenccedilatildeo da Amazocircnia e representa a mais vigorosa afirmaccedilatildeo do domiacutenio portuguecircs no Territoacuterio do Amapaacute Elevada agrave categoria de vila com a denominaccedilatildeo de Satildeo Joseacute de Macapaacute em 1758 Sede na antiga povoaccedilatildeo de Satildeo Joseacute de Macapaacute Instalada em 04 de fevereiro de 1758 e reconhecida como cidade com a denominaccedilatildeo de Macapaacute pela Lei nordm 281 de 06 de setembro de 1856 Em divisatildeo administrativa referente ente ao ano de 1911 o municiacutepio eacute constituiacutedo do distrito sede (BRASIL 2014) 6 Bacaba eacute um fruto gorduroso originaacuterio da bacabeira palmeira nativa da regiatildeo de onde se extrai um vinho de cor acinzentada muito saboroso A bacabeira tem o tronco solteiro liso que cresce ateacute 20 metros de altura e eacute marcado por aneacuteis correspondentes agraves cicatrizes Suas folhas satildeo pinadas crespadas e medem de 4 a 6 metros de comprimento Possui tambeacutem uma bainha verde-escura que mede cerca de um metro de altura formando a regiatildeo colunar no aacutepice da estiacutepite Seus ramos satildeo foliados (cerca de cem) de ambos os lados da folha mais ou menos pendular medindo de 30 a 100 cm de comprimento Possui flores unissexuadas geralmente uma feminina para duas masculinas inseridas em toda a extensatildeo do ramo do apoacutedice Apresenta cachos robustos (cerca de 15 metros de comprimento) com frutos arredondados de 15 cm de diacircmetro casca de cor roxo-escura (quase preta) e fruto de aspecto oleoso Tem como habitat ideal a mata virgem alta de terra firme e tambeacutem de vaacuterzea 7 A Aacuterea de Livre Comeacutercio foi criada para promover o desenvolvimento das cidades de fronteiras internacionais localizadas na Amazocircnia Ocidental e em Macapaacute e Santana com o intuito de integraacute-las ao restante do paiacutes oferecendo benefiacutecios fiscais semelhantes aos da Zona Franca de Manaus com incentivos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Imposto sobre Circulaccedilatildeo de Mercadorias e Serviccedilos (ICMS) proporcionando melhoria na fiscalizaccedilatildeo de entrada e saiacuteda de mercadorias fortalecimento do setor comercial abertura de novas empresas e geraccedilatildeo de empregos

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problemas estruturais diante dos quais o gestor e sua equipe natildeo conseguem

apresentar soluccedilotildees eficazes para a diversidade de necessidades da cidade como

sauacutede educaccedilatildeo seguranccedila puacuteblica saneamento baacutesico dentre outros Entre os

problemas de grande visibilidade da cidade de Macapaacute podemos destacar a

situaccedilatildeo das avenidas e ruas que se encontram ldquorepletasrdquo de buracos Macapaacute

possui 800 km de vias Desses 400 km nunca receberam nenhum tipo de

pavimento Dos outros 400 km restantes 300 km estatildeo totalmente danificados

alguns com pavimentaccedilatildeo de mais de 30 (trinta) anos de acordo com a avaliaccedilatildeo da

Confederaccedilatildeo Nacional de Municiacutepios (2014)

A cidade de Macapaacute pode ser caracterizada segundo a percepccedilatildeo de Tostes

(2014 p2) como

Uma cidade em constante mudanccedila transformaccedilotildees motivadas muito mais pela pressatildeo social e poliacutetica do que propriamente por regras baacutesicas de planejamento urbano ateacute neste quesito verifica-se nesta cidade como existe a influecircncia nas demais cidades do Amapaacute isso eacute fruto da predominacircncia do setor puacuteblico intenso e que caracterizou fortemente o comeacutercio Diferentemente do comeccedilo do Territoacuterio Federal nas primeiras deacutecadas onde a instalaccedilatildeo da ICOMI motivou e estimulou o comeacutercio local nos dias atuais a economia do setor puacuteblico cresceu e determinou o funcionamento do comeacutercio e outras atividades de serviccedilos Macapaacute padeceu tambeacutem de diversos governos que deixaram de cumprir um papel importante de investir em projetos estruturais e estruturantes aacutegua energia pavimentaccedilatildeo e transporte digno

Para este autor o slogan era cuidar apenas de problemas cotidianos ateacute nesse

ponto as demais cidades amapaenses passaram a copiar o modelo da capital

investir em questotildees cotidianas e sem regras de planejamento

Apoacutes essa breve caracterizaccedilatildeo do municiacutepio de Macapaacute abordar-se-aacute os

relatos de profissionais docentes que trabalham em comunidades ribeirinhas

localizadas nos arredores de Macapaacute suas vivecircncias docentes dificuldades e

narrativas de adoecimento relacionadas agraves condiccedilotildees estruturais nessas

comunidades

12Relatos de adoecimento de docentes que habitam em Macapaacute e trabalham em localidades ribeirinhas

As narrativas que seratildeo apresentadas e discutidas referem-se aos depoimentos

de docentes que atuam no SOME mais especificamente em aacutereas ribeirinhas nas

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proximidades de Macapaacute Os recortes apresentados dizem respeito a processos de

sofrimentoadoecimento psiacutequico vivenciados por esses professores retirados das

entrevistas realizadas como parte da pesquisa em andamento Seratildeo apresentados

relatos de 3 (trecircs) docentes8

Relato 01 Professor Jerocircnimo - Natural de uma comunidade quilombola (Lagoa

dos iacutendios) proacuteximo a Macapaacute 42 anos separado pai duas filhas adolescentes

professor estatutaacuterio do Estado do Amapaacute graduado em pedagogia em direito e

estaacute concluindo o curso de Histoacuteria (licenciatura e bacharelado) na Universidade

Federal da Amapaacute (UNIFAP) Possui curso de especiaccedilatildeo lato sensu em histoacuteria da

Aacutefrica Ingressou no SOME em 2004 na ocasiatildeo exercia a funccedilatildeo de diretor em

uma escola particular e por motivos pessoais pediu demissatildeo Essa decisatildeo gerou

um impacto financeiro em seu orccedilamento familiar foi quando surgiu a oportunidade

de trabalhar no SOME a convite de um amigo como forma de suprir as dificuldades

financeiras onde exerce suas funccedilotildees de professor haacute dez (10) anos Na entrevista

Jerocircnimo declarou-se dependente do aacutelcool e relata sua experiecircncia com a realidade

rural longe da cidade como motivo para iniciaccedilatildeo do consumo de aacutelcool

A minha primeira experiecircncia foi assim parece assim que eles faziam de

propoacutesito os novatos pegavam logo os piores locais Eu peguei Filadeacutelfia do

Bailique9 24 horas de viagem de barco quatro casas uma igreja Assim

era a comunidade a uacuteltima do Bailique porque laacute ateacute a aacutegua eacute salgada Aiacute

vem logo a ldquoporradardquo neacute Eu natildeo bebia hoje eu estou com um copo de

bebida na matildeo lhe atendendo Eu natildeo bebia Aiacute vem logo aquela falta da

famiacutelia Eu era casado mulher linda minha filha Aiacute vem logo como eacute que

tu vai suprir isso E a gente natildeo percebe a gente estaacute tatildeo embebida

emprenhado pela ideia do dinheiro neacute Que vai mas aiacute vem os problemas

logo olha soacute vinte e quatro horas de viagem sem um uacutenico telefone para

se comunicar pra laacute Macapaacute tinha que pegar um barco duas horas de

viagem (risos irocircnicos) pra chegar numa comunidade que tinha o telefone

aiacute chegava laacute o telefone natildeo funcionava aiacute tudo isso vem Isolamento total

e como eu disse agora a pouco o soldado quando ele vai agrave operaccedilatildeo

boina o Bope o Exeacutercito eles satildeo preparados pra isso noacutes natildeo somos

[Noacutes professores] de cara a Secretaria jaacute joga hoje eacute sorteio eu vou pra

um interior por sorteio na eacutepoca parece que ele ldquoah esse eacute novato toma o

pior lugarrdquo Noacutes temos dentro do modular noacutes temos o Filadeacutelfia do

8 Os nomes satildeo fictiacutecios para assegurar as diretrizes e normas regulamentadoras em pesquisas com seres humanos de acordo com a Resoluccedilatildeo 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de SauacutedeMinisteacuterio da SauacutedeMS 9 O Arquipeacutelago do Bailique eacute um conjunto de ilhas que fazem parte do municiacutepio de Macapaacute A sua populaccedilatildeo eacute de aproximadamente 6 mil habitantes O Arquipeacutelago eacute composto por oito ilhas apenas duas natildeo satildeo habitadas a ilha do Meio e Parazinho sendo que nesta uacuteltima localiza-se a reserva bioloacutegica do Parazinho Filadelfia eacute uma das comunidade mais distantes

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Bailique noacutes temos o Sucurijuacute10 que satildeo lugares extremamente distantes e

difiacuteceis de acesso Eu fui trabalhar no Sucurijuacute quando eu terminei meu

trabalho eu passei uma semana pra tentar sair de laacute () aiacute imagina longe

da sua famiacutelia famiacutelia natural neacute Mulher esposa matildee irmatildeos longe de

amigos Porque a gente chega num interior desse ningueacutem conhece ah eacute

aquele pessoal estranho Quando vocecirc comeccedila a fazer amizades que pra

fazer amizades natildeo eacute assim de uma hora pra outra eacute no miacutenimo 30 dias 40

dias e vocecirc jaacute estaacute indo embora pra outro local onde comeccedila tudo de novo

Aiacute o que eacute que vem como suporte Do aacutelcool hoje eu sou um alcoacuteolatra

Pedi minha famiacutelia moro sozinho como vocecirc estaacute vendonessas

condiccedilotildees (mostra a casa em total desordem)

O professor Jerocircnimo afirmou que antes de iniciar a sua experiecircncia como professor

do SOME natildeo consumia bebidas alcoacuteolicas inclusive em sua primeira viagem levou

uma ldquocaixa de iogurterdquo que foi motivo de risos para outros colegas Ele atribui o

consumo de aacutelcool ao estilo vida solitaacuterio na zona rural e ao distanciamento social da

vida na cidade dos amigos e familiares Concedeu a entrevista consumindo bebida

alcoacuteolica e afirmou que consome cerca de 2 (dois) litros por dia natildeo bebe cerveja

porque teve um enfarto recentemente

Relato 02 Professor Antocircnio ndash Natural de Castanhal estado do Para tem 40

anos eacute casado tem duas filhas afirma ter uma famiacutelia ldquobem estruturadardquo Graduado

em Pedagogia professor da rede estadual da disciplina de Oficina e Trabalho Atua

no Ensino Fundamental no SOME haacute 10 anos Iniciou no ensino modular quando agrave

eacutepoca era diretor de uma escola de Ensino Fundamental e Meacutedio na comunidade de

Tessalocircnica11 e em contato com os professores do Modular sentiu o desejo de

vivenciar essa realidade movido pelo objetivo de ldquolevar o conhecimentordquo agraves

comunidades mais longiacutenquas de difiacutecil acesso como ele mesmo relata

10 Sucuriju eacute um distrito do municiacutepio brasileiro de Amapaacute no interior do estado homocircnimo agrave cidade De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) sua populaccedilatildeo no ano de 2010 era de 939 habitantes sendo 483 homens e 456 mulheres possuindo um total de 224 domiciacutelios particulares Foi criado pela lei federal nordm 3055 de 22 de dezembro de 1956 O Distrito de Sucuriju caracteriza-se por uma planiacutecie inundaacutevel Fuacutelvio-marinha com sedimentos fixados predominantemente por manguezais Dista em linha reta 120 km da sede do municiacutepio e 220 km da capital do Estado Macapaacute Apresenta uma aacuterea de 16700 ha localiza-se no extremo norte do Estado do Amapaacute na margem direita do rio Sucuriju proacuteximo de sua desembocadura O acesso ao Distrito do Sucuriju tem duas alternativas via a sede do municiacutepio de Cutias do Araguari e daiacute de barco regional viajando 18 horas dependendo das condiccedilotildees da mareacute e das condiccedilotildees climaacuteticas a segunda alternativa eacute o deslocamento a partir da sede do municiacutepio do Amapaacute e daiacute em barco regional viajando 20 horas tambeacutem dependendo das condiccedilotildees de mareacute e clima 11 Comunidade afrodescendente cerca de 45 km de Macapaacute subdistrito do municiacutepio de Porto Grande Possui uma estimativa de 191 moradores

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Haacute exatamente 10 anos a gente se encantou com essa modalidade de ensino Eu estava em uma direccedilatildeo de escola na zona rural de Macapaacute comunidade de Tessalocircnica e a gente via os professores que passavam por laacute percebi tambeacutem a importacircncia dessa modalidade de ensino jaacute que o estado natildeo tem natildeo tinha na eacutepoca e natildeo tem ateacute hoje natildeo tem condiccedilotildees de atender o ensino regular em distantes localidades Que a gente sabe tem muitas localidades do Oiapoque ao laranjal do Jari incluindo ateacute o distrito do Bailique que satildeo distantes de difiacutecil acesso () O ensino modular no que se refere aacutes questotildees estruturais a gente sofre trabalhando na cidade a gente tem uma equipe teacutecnica tem uma infraestrutura nas escolas melhorada mas no interior a gente passa por muitas situaccedilotildees difiacuteceis por conta que a secretaria nos envia para o interior e natildeo nos daacute nenhuma espeacutecie de acompanhamento mas eacute uma experiecircncia uacutenica trabalhar no modular porque vocecirc sai de Macapaacute designado pra ir pra uma localidade e muitas vezes a gente natildeo tem ideia de como eacute a localidade e eu cito a Vila Brasil que eacute uma Localidade vizinha da Guayana Francesa eu tive a privileacutegio de abrir o primeiro moacutedulo naquela localidade de 5ordf seacuterie a comunidade jaacute fazia 4 anos que vinha lutando pela implantaccedilatildeo do ensino modular fundamental nesta localidade O ensino modular ele tira o teu tempo com a tua famiacutelia porque no ano a gente passa praticamente 80 a 90 na zona rural e a tua famiacutelia natildeo pode ir com vocecirc Natildeo pode levar filho natildeo pode levar esposa pra comunidade porque vocecirc estaacute com um grupo de professores e ateacute que vai em algumas comunidades proacuteximas de Macapaacute vocecirc leva a tua famiacutelia num dia de recreaccedilatildeo de festa de lazer um final de semana mas no decorrer das aulas vocecirc natildeo pode levar a tua famiacutelia Entatildeo eu acho que o moacutedulo daacute mas ele tira nesse sentido a distacircncia com a famiacutelia vocecirc perde muito A gente sente muito a falta da famiacutelia porque a gente transfere o carinho e o amor dos filhos da esposa para colegas que estatildeo junto conosco e nem sempre isso eacute receptiacutevel Quando vocecirc falou na ldquoCasa do Professor12rdquo me veio na cabeccedila agrave solidatildeo que muitos passam no moacutedulo e isso faz com que muitos deles procurem uma fuga que natildeo eacute muito positiva que eacute a questatildeo da bebida alcoacuteolica em alguns casos ateacute drogas e isso acaba atrapalhando a vida profissional do educador A solidatildeo se daacute no interior porque muitas vezes vocecirc vai dar aula no moacutedulo vocecirc vai com um ou dois colegas em alguns moacutedulos e quando vocecirc termina de dar aula os alunos muitas vezes natildeo moram muito perto moram distantes e vocecirc se torna solitaacuterio fica sozinho neacute Entatildeo tem que ter um autocontrole muito grande sempre buscar leituras vocecirc sempre sair um pouquinho na comunidade pra conversar saber um pouco da comunidade porque se vocecirc se fechar no alojamento vocecirc vai ter problemas psicoloacutegicos problemas psiacutequicos porque vocecirc passa muito tempo sozinho Vocecirc conversa vocecirc dorme e acorda do lado do colega mas agraves vezes isso natildeo lhe basta vocecirc precisa de mais ter um divertimento que na zona rural natildeo haacute esse lazer falta muito Eu vejo muitos colegas Selma que realmente precisam de um tratamento psicoloacutegico por conta dessa solidatildeo do modular

12 Nuacutecleo de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede do Professor instituiacutedo pela Secretaria de Educaccedilatildeo do Estado (SEED) para atender docentes em sofrimentoadoecimento biopsicossocial Possui um equipe multidisciplinar formada por psicoacutelogos nutricionistas fonoaudioacutelogos assistentes sociais pedagogos entre outros

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Infelizmente minha opiniatildeo na cidade hoje eacute um corre-corre muito grande e eu vejo que a zona rural ela tem um diferencial aiacute muito importante que eu gosto que eacute a tranquilidade hoje na cidade a gente natildeo tem isso vocecirc agraves vezes estaacute em casa mas tem que estar trancado por conta da violecircncia Na zona rural vocecirc natildeo tem isso porque na comunidade todo mundo se conhece satildeo poucas localidades que tem essa modalidade de ensino modular que vocecirc vai com medo satildeo poucas as localidades As localidades mais distantes satildeo as melhores localidades pra trabalhar porque a violecircncia eacute quase zero

O professor Antocircnio fala do trabalho no Modular como forma de sofrimento mental

devido a precarizaccedilatildeo das condiccedilotildees de trabalho mas tambeacutem devido a distacircncia

social vivenciada pelos docentes principalmente em consequecircncia do afastamento

familiar e dos amigos mais proacuteximos Relata tambeacutem da dificuldade de comunicaccedilatildeo

em algumas comunidades e tudo isso gera solidatildeo e estados emocionais

depressivos que podem conduzir alguns professores a formas compensatoacuterias

como a ingestatildeo de aacutelcool e outras substacircncias psicoativas praacutetica que ele

assegura ser bastante comum entre os professores o Modular Ele tambeacutem acredita

que muitos docentes estatildeo precisando de cuidados psicossocial Entretanto ele

proacuteprio ressalta que o ldquocorre-correrdquo na cidade e a violecircncia inerente agrave cidade na vida

rural embora em algumas localidades a violecircncia jaacute tenha se intensificado mas a

vida ainda eacute mais tranquila

Relato 03 Professor Denis ndash Natural de Macapaacute 38 anos casado tem uma

filha exerce a profissatildeo de docecircncia haacute 18 anos na rede de ensino estadual Eacute

graduado em Pedagogia e atualmente eacute estudante de Letras pela Unifap Eacute poacutes-

graduado em Pedagogia Escolar e Tecnologia em Educaccedilatildeo Atua no Ensino

Modular a 13 anos Estaacute lotado na comunidade Maruanun13 Este professor sofre de

Transtorno do Pacircnico e Ansiedade Generalizada Para ele a vida no campo tem

efeitos terapecircuticos sente-se melhor quando estaacute fora da vida na cidade embora no

momento atual trabalha em comunidades mais proacutexima da Capital por que faz

acompanhamento psiquiaacutetrico e psicoloacutegico no Nuacutecleo de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede do

13 Estaacute localizado ao sudeste do Estado do Amapaacute e distante agrave 80 km da capital Macapaacute Eacute composto por vaacuterias comunidades que satildeo Conceiccedilatildeo Torratildeo Simiatildeo Satildeo Raimundo Satildeo Joseacute Auto Pirativa Satildeo Tomeacute Santa Maria Faacutetima e Santa Luzia Essas comunidades formam uma regiatildeo que se desenvolveu em torno do rio Maruanum e representam um contexto cultural e ecoloacutegico muito rico com beleza exuberante que eacute muito caracteriacutestico da Amazocircnia O acesso pode realizado atraveacutes de via fluvial e tambeacutem por via terrestre pela rodovia BR 156 essa rodovia interliga Macapaacute a Laranjal do Jariacute

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ProfessorCasa do Professor14 Seguem seus depoimentos acerca do trabalho no

Modular

Para mim natildeo foi muito difiacutecil porque sou uma pessoa que gosto do interior da floresta dos rios e essas comunidades garante ficam agraves margens dos rios gosto do contato com as pessoas do interior satildeo pessoas simples mas falam muito a realidade pra vocecirc a gente aprende com elas tanto da vida pessoal como das mazelas que a gente encontra por aiacute O trabalho nessas comunidades no interior do estado natildeo eacute faacutecil escolas mau estruturadas com diretores que natildeo tem a miacutenima formaccedilatildeo para ser diretor para administrar uma escola a gente ver tambeacutem o niacutevel dos alunos dos que vem da 4ordf para a 5ordf seacuterie satildeo alunos com niacutevel baixiacutessimo Natildeo sabem escrever o nome a gente tem que alfabetizaacute-los Tambeacutem a falta de participaccedilatildeo dos pais o pai do interior ele vai soacute para festejos nas escolas dia das matildees festas juninas natildeo satildeo todos mas a grande maior O problema de transporte tem comunidade soacute dar para fazer um tuno de aulas devido agrave distacircncia tem comunidade que se viaja trecircs horas as vezes encontra a questatildeo da mareacute desfavoraacutevel as vezes o governo natildeo paga os barqueiros entatildeo as aulas ficam interrompidas por 15 dias Outra coisa eacute permanecircncia na escola trabalhei em escolas que o diretor compareceu soacute no primeiro dia de aula outras situaccedilotildees que o diretor comparece soacute no final do moacutedulo ele chega na escola para receber o diaacuterio Cada professor faz o trabalho ao seu jeito Se o professor for compromissado ele cumpre direitinho se natildeo for ele vai em ora por isso que o sistema enfraquece devido ao descaso o natildeo compromisso com a educaccedilatildeo O sofrimento psiacutequico eacute um caso seacuterio tem professores que natildeo tem o costume de ficar longe da famiacutelia entatildeo estes professores sofrem ficam mau humorados por conta dessa distancia passam de 2 (duas) semanas e entatildeo comeccedilam esses sintomas a pessoa fica reclamando de estar distante de natildeo poder ficar com a famiacutelia vem as saudades a falta dos filhos da esposa sem poder se comunicar Tem comunidade que pessoa fica isolada natildeo tem telefone tem professores que chegam a se desesperar e por natildeo ter suporte para o professor pega uma comunidade dessa distante e a diretora ausente Acredito esse seja um fato que possa contribuir para desencadear distuacuterbios emocionais

Essa distacircncia causa um certo sofrimento leva o professor viver numa comunidade pequena entatildeo vocecirc natildeo tem muita opccedilatildeo de ir pra li ou ldquopra acolaacuterdquo fica muito restrito As casas satildeo de palafitas entatildeo as vezes vocecirc vai na casa de algueacutem fazer uma visita jogar conversa fora energia soacute agrave noite de 18 agraves 22 horas depois disso apaga tudo Cada um deve estar na sua casa ou com uma lanterna na matildeo Esse contexto tambeacutem favorece para a questatildeo de relacionamentos amorosos de professores do Modular professores com algueacutem da comunidade com alunas ou entre colegas E

14 Local onde desenvolvo aminha pesquisa Foi instituiacutedo em 2005 como o nome de Serviccedilo de Apoio PsicossocialSAPS e recentemente passou por um processo de mudanccedila estrutural adaptaccedilotildees fiacutesicas ampliaccedilatildeo da equipe multidisciplinar e dos serviccedilos ofertados Antes funcionava somente intervenccedilotildees psicossociais agora oferece tambeacutem cuidados na aacuterea de fonoaudiologia fisioterapia nutricionista dentre outros A Casa do professor foi inaugurada em 06 de maio de 2014 e no dia 09 do mesmo mecircs ocorreu um tentativa de homiciacutedio na sala de espera da Casa Uma professora deferiu quatro tiros em outra professora As duas eram faziam acompanhamento na Casa as duas sofrem de transtorno depressivo e tinham conflitos de natureza pessoal

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tambeacutem por estarem tristes leva muito para o consumo de aacutelcool eles bebem muito todas noites eles bebem Acontece mais entre os homens poreacutem algumas mulheres tambeacutem bebem Acho difiacutecil essa pessoa trabalhar no dia seguinte Em relaccedilatildeo a minha histoacuteria de adoecimento desde pequeno eu sentia muito nervoso encarar uma plateia era algo que eu natildeo conseguia no Ensino Meacutedio percebi que eu piorei depois comecei a trabalhar com 4 (quatro) anos de trabalho eu sentia mais esse nervoso em ficar no meio de pessoas nesse periacuteodo fui ser diretor de uma escola de um interior tinha que ser professor de 4 (quatro) turmas muitas atribuiccedilotildees na escola muitas vezes natildeo dormia emagreci muito era muito trabalho entatildeo percebi que comecei a piorar nos todos os ambientes quando tinha muita gente eu comeccedilava a tremer e ficar com as matildeos suadas entatildeo eu procurei uma psicoacuteloga mas ela natildeo me falou era uma Siacutendrome do Pacircnico ou Ansiedade e depois eu fui para outro meacutedico fiquei sendo acompanhado por ele muito anos ateacute que ele faleceu eu fiquei sem apoio o meu mundo caiu e depois fui para outra meacutedica continuo com ela ateacute hoje Quando foi ano passado eu fiquei sem o remeacutedio eu discuti com um vizinho tivemos uma discussatildeo muito feia eu estava sem o remeacutedio fiquei muito abalado desmaie chamaram o Serviccedilo de Atendimento Moacutevel de Urgecircncia (SAMU) A noite quando fui ao banheiro antes de chegar ao banheiro eu cai depois disso o quadro se alterou eu fiquei nervoso de mais tinha medo de natildeo poder voltar ao trabalho de natildeo ser professor de natildeo poder viver em sociedade de natildeo poder cuidar da minha famiacutelia medo de natildeo poder evoluir na minha profissatildeo Aleacutem dos choros tive vaacuterias crises de choro Tomar remeacutedios melhora um pouco teve um periacuteodo que natildeo dormia ia para casa de minha matildee chorava meus irmatildeos me apoiavam Todas as situaccedilotildees que se desencadearam medos terriacuteveis entatildeo eu vim para a para o SAPS e fu atendido pela psicoacuteloga com continuo sendo atendido Por conta dos remeacutedios desencadeei uma impotecircncia sexual outro dano satildeo os tremores que apresento Eu praticamente natildeo vivo alegre de uma certa forma fico com a minha famiacutelia tenho a esperanccedila de um a dia natildeo tomar mais esses remeacutedios mas de outra forma temo de deixar de natildeo poder deixar de toma-los Quando paro de tomar fico confuso e ansioso As pessoas de fora que natildeo sabem desses fatos pensam que as pessoas satildeo doidas Eu tive uma crise no ano passado gosto muito das pessoas do campo as pessoas satildeo verdadeiras satildeo humildes eu gosto muito disso sem contar os momentos extra sala de aula de sair pra pescar caccedilar tomar banho no rio de visitar as famiacutelias Essa crise me deixou muito apreensivo um desespero muito grande muito medo medo de noccedilatildeo poder trabalhar foi um monte de coisa que me atrapalhou muito passei dois meses sem trabalhar e fui com a psicoacuteloga e determinou para a coordenaccedilatildeo do Modular que eu ficasse em comunidades proacuteximas Tenho medo das pessoas muitos tem uma visatildeo deturpada dos professores que fazem acompanhamento na Casa do Professor muitos dizem que as pessoas que vem para a Casa satildeo perturbados Tenho medo do que vatildeo pensar de mim de me discriminar de me chamar de doido perturbado coisa assim Com isso tenho me reservado para me proteger dessas conversas depois desses problemas natildeo fico mais na comunidade volto para casa todos os finais de semana Eu sinto um desconforto em permanecer no meio deles eu me preocupo muito do que pensam de mim Soacute tem uma justificativa para isso a minha condiccedilatildeo de doente

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Eu gostaria de viver natildeo com esse problema gostaria de viver tranquilamente Hoje eu natildeo posso beber uma cerveja vejo meus amigos bebendo isso me dar uma certa inveja Vivo sempre com uma certa frustraccedilatildeo Com esse meu problema deixei de fazer muitas coisas natildeo tenho vida social as pessoas me incomodam Ateacute pra caminhar sei que tenho que caminhar ultimamente uma coisa que estaacute se intensificando eacute que durmo muito tenho muita dificuldade para me levantar Ateacute para vim para caacute natildeo foi faacutecil me levantar

Nota-se que para este professor desenvolver suas atividades na zona rural

ameniza de uma certa forma o seu sofrimento psicoloacutegico haja vista que ele se

identifica com estilo de vida no interior e gosta da vida simples proacutepria das

comunidades rurais O afastamento social eacute ldquoterapecircuticordquo considerando o

ldquodesconfortordquo do qual ele menciona em estar em ambientes com muitas pessoas

ajudando-o distanciar-se do objeto que lhe provoca sintomas ansioacutegenos

Eacute perceptiacutevel tambeacutem que o seu sofrimento devido o transtorno que eacute

acometido de natildeo poder conduzir sua vida de forma ldquonormalrdquo como os demais

colegas e das consequecircncias provocados pelos danos colaterais da doenccedila e das

formas de tratamento medicamentosa Entretanto neste caso parece que o

adoecimento psiacutequico natildeo estaacute diretamente relacionado com a vida no campo nem

com a dinacircmica proacutepria da cidade como foi visto em seus relatos o transtorno de

ansiedade e a fobia social jaacute se manifestavam desde a sua infacircncia sofrendo

evoluccedilotildees a medida que ele foi se expondo por exigecircncias da profissatildeo em

situaccedilotildees sociais puacuteblicas

CONCLUSAtildeO

O sofrimentoadoecimento envolve uma multiplicidade de fatores Natildeo eacute

simples discutir sobre essa temaacutetica haja vista natildeo somente os fatores

relacionados como tambeacutem a complexidade proacutepria da subjetividade humana

Foi possiacutevel observar atraveacutes das narrativas dos docentes apresentadas

que para alguns o campo pode ser um lugar de sofrimento principalmente quando

apresenta condiccedilotildees de elevada precariedade de vida e de trabalho como no caso

do trabalho desses docentes precariedade dos alojamentos do transporte das

condiccedilotildees estruturais e pedagoacutegicas das escolas da dificuldade de comunicaccedilatildeo

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afastamento dos familiares dos amigos da ruptura de laccedilos sociais solidatildeo

anguacutestias e ausecircncia de apoio do Estado para com esses trabalhadores que satildeo

lanccedilados nessas comunidades com a exigecircncia que desenvolvam uma educaccedilatildeo de

qualidade

Finaliza-se apontando para o fato de que os trecircs relatos apresentados talvez

natildeo sejam suficientes para tecer conclusotildees mais consistentes sobre a influecircncia da

vida na cidade e do campo como agente preponderante no adoecimento psiacutequico

das pessoas entretanto concorda-se com Simmel (2001) que a vida na cidade pela

sua dinacircmica e intensidade de estiacutemulos pode representar um aspecto de maior

vulnerabilidade para o adoecimento mental poreacutem o campo com a sua vida calma

e ldquomonoacutetonardquo em alguns casos poderaacute tambeacutem conduzir a determinadas formas

de adoecimento tudo isso vai depender da modalidade de relaccedilotildees que os

indiviacuteduos estabelecem com estas realidades e da sua capacidade de

adaptabilidade

Tem-se consciecircncia de que este trabalho representa reflexotildees preliminares

como exerciacutecio de anaacutelise e escrita poreacutem significativo para o processo de

investigaccedilatildeo do objeto de estudo proposto no projeto de doutorado e de construccedilatildeo

do trabalho final

ABSTRACT This article discusses the influence of city life on the possible development of mental disorders in relation of life in the countryside For this one starts from the following questions urban life favors the development of mental illness What do you think teachers who live in the city and work in rural areas To answer these questions we chose to essentially qualitative approach using the use of narratives The subjects of this study were to construct network state that teachers develop their practices in rural areas especially in coastal locations the Modular Learning System (SOME) Based on reports obtained through interviews and listening experiences of teaching and experiences of mental distress of some teachers it was found that people can get sick in the cities and in rural aacutereas Keywords City Countryside HealthMental Illness

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REFEREcircNCIAS

ALVES Gloacuteria da Anunciaccedilatildeo A mobilidade na produccedilatildeo do espaccedilo metropolitano In CARLOS Ana Fani Alessandri SOUZA Marcelo Lopes SPOSITO Maria Encarnaccedilatildeo Beltratildeo A produccedilatildeo do espaccedilo social agentes e processos escalas e desafios (Orgs) Satildeo Paulo Contexto 2011 Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais ndash DSM-IV-TR Porto Alegre Artmed 2002 BRASIL Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=160030ampsearch=amapa|macapa|infograficos-historicogt Acesso em 12 Abr 2014 BAUMAN Zigmunt A eacutetica eacute possiacutevel num mundo de consumidores Traduccedilatildeo de Alexandre Werneck Rio de Janeiro Zahar 2011 CARLOS Ana Fani Alessandri SOUZA Marcelo Lopes SPOSITO Maria Encarnaccedilatildeo Beltratildeo A produccedilatildeo do espaccedilo social agentes e processos escalas e desafios (Orgs) Satildeo Paulo Contexto 2011 Confederaccedilatildeo Nacional de Municiacutepios Governo do Estado do Amapaacute Disponiacutevel em lt httpwwwcnmorgbrmunicipiosindex100116100116007gt Acesso em 12 abr 2014 DUARTE Luiacutez Fernando Dias Indiviacuteduo e pessoa na experiecircncia da sauacutede e da doenccedila Ciecircncia amp Sauacutede Coletiva 8(I) 173-183 2003 DURANTE Myriam Os grandes centros urbanos estatildeo adoecendo o brasileiro Entrevista agrave Raacutedio CBN no dia 07032014 Disponiacutevel em lthttpwwwipom-orgcombr gt Acesso em 24 mar 2014 LIMA Renata Mayara Moreira de A criacutetica do mundo moderno em Georg Simmel Revista Inter-leggere Nordm 10 - Jan-jun2012 SIMMEL Georg A metroacutepole e a vida mental In VELHO Otaacutevio G O fenocircmeno urbano Rio de Janeiro Zahar 2001 NUNES Brasilmar Ferreira A interface entre o urbano e o rural na Amazocircnia brasileira notas para reflexatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwjornaldomaussorgjornalextra2007_07_27_09_42_50pdf Acesso em 5 Abr 2014 SOUZA Marcelo Lopes Foboacutepole o medo generalizado e a militarizaccedilatildeo da questatildeo urbana Rio de Janeiro Bertran-Brasil 2008

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TOSTES Joseacute Alberto Macapaacute no Amapaacute Jornal O Tribuna Amapaense Postado haacute 7th January 2013 Disponiacutevel em lt httptribunaamapaenseblogspotcombr201301artigo-do-tostes-macapa-no-amapahtmlgt Acesso em 10 Abr 2014 WIRTH Louis O urbanismo como modo de vida In FORTUNA Carlos (Org) Cidade Cultura e Globalizaccedilatildeo ensaios de sociologia Oeiras (Portugal) Celta editora 2001

Texto cientiacutefico recebido em 10092014

Processo de Avaliaccedilatildeo por Pares (Blind Review - Anaacutelise do Texto Anocircnimo)

Publicado na Revista Vozes dos Vales - wwwufvjmedubrvozes em 31102014

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Perioacutedico Cientiacutefico Eletrocircnico divulgado nos programas brasileiros Stricto Sensu

(Mestrados e Doutorados) e em universidades de 38 paiacuteses

em diversas aacutereas do conhecimento