Os Falsos Amigos Na Relação Espanhol - Português(1)

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Falsos amigos- Espanhol/Portugues

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  • 1Nota prvia sobre direitos de autor: O presente documento uma verso PDF disponibilizada noendereo http://www.ii.ua.pt/cidlc/gcl/ do documento publicado segundo a referncia abaixoindicada. Este documento pode ser acedido, descarregado e impresso, desde que para uso nocomercial e mantendo a referncia da sua origem.

    VAZ da SILVA, Ana Margarida Carvalho e VILAR, Guillermo, Os falsos amigos narelao espanhol portugus, Cadernos de PLE 3, 2003 (2004), pp. 75-96.

    Ana Margarida C. Vaz da SilvaGuillermo Rodrguez Vilar

    Centro de Lnguas e Culturas Universidade de Aveiro

    OS FALSOS AMIGOS NA RELAO ESPANHOL - PORTUGUS

  • 2ResumoDurante o processo de ensino/aprendizagem de qualquer Lngua, um dos principais

    efeitos da interaco de sistemas lingusticos, com que se deparam quer alunos quer professores, o denominado falso amigo.

    Partindo da definio deste termo lingustico, do processo mental que o origina e da suaprvia contextualizao, este artigo procura estabelecer uma diviso das principais lexiasafectadas na relao Espanhol - Portugus (nvel inicial), tendo em conta aspectos fonticos,ortogrficos e semnticos.

    Em modo de concluso, apresentar-se- um pequeno apndice - dicionrio da relaodos termos encontrados em ambas as lnguas.

    ResumenDurante el proceso de enseanza y aprendizaje de cualquier lengua, uno de los

    principales efectos de la interaccin de sistemas lingsticos al cual tanto alumnos comoprofesores han de hacer frente, es el denominado falso amigo.

    Partiendo de la definicin de este trmino lingstico y del proceso mental que loorigina, y previa contextualizacin del falso amigo, con este artculo estableceremos unadivisin de las principales lexas afectadas en la relacin Espaol - Portugus (nivel inicial),teniendo en cuenta aspectos fonticos, ortogrficos y semnticos.

    Finalmente, cerramos este estudio con un pequeo apndice - diccionario de la relacinde los trminos encontrados en ambas lenguas.

    AbstractDuring the learning/teaching process of any language, one of the main effects of the

    interaction between the linguistic systems both students and teachers have to face, is the socalled false friend.

    From the linguistic term False Friend and from the mental process that originates it, weshall establish a new classification of the main cases that exist in the learning and teaching ofPortuguese-Spanish (elementary level). Finally, we shall end this paper with a brief appendixcontaining the most common false friends.

  • 3INTRODUO

    Ao contrrio do que ditam as regras, esperamos que nos seja permitido comear o nossoestudo com as palavras de outro investigador. O Professor Juan Manuel Carrasco, no seuManual de Iniciacin a la Lengua Portuguesa1, faz esta interessante apreciao:El portugus suele considerarse lengua fcil. Cualquier hispanohablante, por el hecho de serlo,cree que al menos puede entender y hacerse entender al establecer un dilogo con una personade lengua portuguesa. Este hecho, apoyado adems por la facilidad con que se puede entenderun texto escrito en portugus con muy pocas nociones que se tengan de este idioma, provoca unrechazo o un desprecio, si no por esta lengua, s por su estudio profundo y sistemtico. Cuandoste, finalmente, se emprende, las dificultades parecen insalvables y es fcil caer en eldesnimo, especialmente a la hora de usar oralmente la lengua (hablarla y entenderla). (...) Lasimilitud entre las lenguas espaola y portuguesa es, sin duda, una ventaja para el aprendizajerpido. Sin embargo, es tambin un arma de doble filo, pues el hispanohablante encontrarmultitud de formas similares a su lengua que poseen un uso y un significado completamentediferente. Deber, por lo tanto, prestar ms atencin que cualquier otro estudiante a lasparticularidades del portugus y, en consecuencia, debe evitar guiarse slo por las estructuras yel lxico del castellano sin cerciorarse con anterioridad sobre su uso en portugus.

    Interessa-nos agora este comentrio, no s pelo seu carcter de efectivo resumo dasituao dos falsos amigos na relao mantida entre as lnguas Portuguesa e Espanhola, mastambm pelos fundamentais aspectos culturais que intervm neste processo2. Como bem diz oProfessor Carrasco, existe um inevitvel ponto de partida para a criao de inmeros casos defalsa amizade lingustica. A enorme semelhana partilhada por ambas as lnguas, produto deuma mesma origem latina e de determinantes paralelismos culturais e histricos, provoca, paraalm da rejeio ao estudo profundo de uma destas lnguas pelos falantes da outra, oaparecimento de um importante nmero de falsos amigos quando a aprendizagem da Lngua finalmente levada a cabo.

    Deixando de lado obsoletos pensamentos e prejuzos lingusticos, tentaremos proporuma nova abordagem dos falsos amigos, baseando-nos em primeiro lugar nas nossasexperincias como alunos e professores, ao mesmo tempo, do Portugus e do Espanhol. Nestesentido, temos vindo a constatar que em verdade, numa fase inicial de aprendizagem, os falsosamigos aparecem frequentemente e em maior medida durante as aulas de Portugus (PLE) doque nas aulas de Espanhol (ELE) , mas considerados estes casos desde a ptica do investigadoroferecem uma explicao para a sua existncia mais complicada, vistos os processos eelementos que fazem parte nela.

    I. O CONCEITO FALSO AMIGO

    Falso amigo um termo coloquial usado em Lingustica, nomeadamente em reasespecficas da traduo, para fazer referncia s lexias cognatas com diferente significao. Isto, o falso amigo aquele signo lingustico que, geralmente pelo efeito de partilha de umamesma etimologia, tem uma estrutura externa muito semelhante ou equivalente a de outro signonuma segunda lngua, cujo significado completamente diferente. Essa comunidade de formasou aparnas leva o falante bilingue a estabelecer uma correspondncia de significados ou,aproveitando a mesma terminologia, a acreditar numa relao de amizade semntica falsa.

    1 Carrasco Gonzlez, Juan Manuel: Manual de Iniciacin a la Lengua Portuguesa, Ariel LenguasModernas, Barcelona, 2001, pg. 32 No presente artigo trabalharemos apenas sobre os sistemas de lngua peninsulares do Espanhol e doPortugus, evitando considerar as variaes no europeias.

  • 4Portanto, o falso amigo o nome que recebe cada um dos signos que conformam esteprocesso de extenso de contedos, mas evidentemente o que interessa de cada par lingustico a relao estabelecida entre eles por parte do falante ou aluno. Essa ligao sempre formuladacom base nos elementos semnticos, como mais frente trataremos, da mesma forma que seformulam outros efeitos no interior de cada lngua.

    Por esta razo, e antes de nos adentrarmos na anlise dos falsos amigos, convmestabelecer as diferenas existentes entre este conceito e outros semelhantes, tais como porexemplo os Parnimos, para alm de determinar outros como a interferncia lingustica, quetambm se vem envolvidos no contexto de presena do falso amigo.

    Brevemente, podemos dizer que a Paronmia tem uma zona de contacto com a produodos falsos amigos, e por isso que em ocasies este conceito aparece envolvido em anlisescomo esta. Dois elementos parnimos mantm entre si uma situao de semelhana, tambmprovocada como no caso dos falsos amigos por ambos os termos procederem de um mesmotimo. No entanto, os parnimos nunca estabelecem entre si um conflito a nvel semntico, poisesse tipo de palavras pertence a um mesmo campo de significao, sendo o sentido de um dosparnimos maior do que o outro, de modo a permitir inserir nele o contedo do outro termo. oque acontece, por exemplo, entre animal e animalesco ou trabalho e trabalhador. Estesexemplos partilham com os falsos amigos aspectos que poderamos chamar de constituio,como por exemplo significantes externos semelhantes e origem etimolgica comum. Noentanto, os parnimos afastam-se claramente dos falsos amigos porque dentro deles no existeconflito nem choque semntico e muito menos dentro de uma hipottica situao de traduo oude ensino.

    Neste sentido, as interferncias lingusticas encontram-se mais vinculadas aos falsosamigos, por aparecerem durante o contacto de duas lnguas. No entanto, e frente ao casoanterior, as interferncias nem sempre possuem rasgos externos semelhantes nem origenscomuns. A interferncia entende-se como a invaso parcial e momentnea de uma lngua A,quase sempre materna, sobre outra B, na qual o aluno se inicia. As razes desse salto que oaluno pratica de uma lngua para a outra podem ser mltiples e quase sempre recaem sobre afalta de uso do vocabulrio recm aprendido. sobretudo nos nveis inciais onde o aluno deuma segunda lngua costuma trabalhar com ela em funo de uma constante traduo a partirdar frmulas gramaticais correspondentes sua lngua materna, da mesma forma que vaicriando mentalmente um glossrio bilingue com os termos assimilados. A partir desta atitudebase, a interferncia constitui uma falha na traduo da lngua materna para a lngua secundria,deixando o aluno incluir o termo na sua forma e timo original no ambiente de uma lnguaestrangeira.

    Geralmente as interferncias costumam aparecer em maior medida sobre estrututrasgramaticais e sintcticas do que em termos de vocabulrio isolados. Assim, dentro da relaoentre as lnguas portuguesa e espanhola, devemos destacar para o fenmeno interferencial doisfactos. Por um lado, dentro do sistema gramatical, contamos com a diferena de gnero depalavras de uso elevado como sangue, nariz, leite, Sida, costume,, etc. Por outro lado, a nvelsintctico, a ausncia do Infinitivo Pessoal no complexo verbal espanhol costuma provocar errosquando o aluno evita o seu uso atravs de perfrases finais do tipo que+conjuntivo, quecorrespondem a estruturas do Futuro de Conjuntivo.

    II. PROCESSO DE FORMAO DO FALSO AMIGO

    Os dois elementos que conformam o signo lingustico, significante e significado, soaspectos que fazem parte na elaborao do falso amigo, mas que nem sempre so consideradosem conjunto nas aproximaes a este fenmeno. Para sermos mais exactos, poderamos fazeresta pergunta: que o que provoca o falso amigo, dois significantes semelhantes ou significadosdivergentes? At agora parece que todos os estudos so orientados para a comparao de formasorais ou escritas semelhantes, incidindo com menor presso sobre as suas diferenas designificado. Este sentido no percurso da anlise dos falsos amigos, isto , partirmos do lado

  • 5externo e acabar no interno concluindo que as expectativas de sinonmia no ficam satisfeitas, vlido, mas para ns no nico. Sem que seja necessrio alterar a ordem da marcha parapropor um novo sistema de anlise, lanamos agora esta interrogao: Quando que se produz ofalso amigo?.

    Com esta pergunta queremos chamar a ateno para o facto do processo do falso amigono estar por inteiro concludo at que o elemento semntico entra em jogo e que, portanto, oprocesso significante>significado pode levar-nos a concluses precipitadas. Para melhorcompreenso da nossa proposta, faamos agora a seguinte simulao em contexto real. Costumaser habitual, nas primeiras aulas de portugus, inserir o aluno na sua nova realidade material,oferecendo-lhe as primeiras noes do vocabulrio do mbito do estudante. Chegados aoentorno da sala de aula, normal a prtica do vocabulrio e da pronncia com a descrio domobilirio.

    Comeam ento a aparecer os primeiros casos de falsos amigos. O aluno hispanfonopartir sempre da sua lngua, tentando aproximar-se o mximo possvel ao equivalente emportugus, com a esperana de dar uma resposta certa. De entre as vrias possibilidades devocabulrio, ns agora destacamos trs substantivos, que colocamos na tabela a seguir com atraduo correspondente:

    ESPANHOL PORTUGUSSilla CadeiraMesa MesaPizarra Quadro

    Com o primeiro caso, ao aluno responder silla na tentativa de traduzir cadeira,vemos desaparecer tanto os indcios de coincidncia lingustica como de aparecimento de falsoamigo. No entanto, no segundo caso, o aluno consegue fazer coincidir duas formas, mas semprea partir da sua lngua materna. Finalmente, no terceiro caso, o falante conhece uma outra novaforma lingustica, que em aulas posteriores se pode tornar um falso amigo j que em espanholcuadro tem um significado completamente diferente de pizarra (quadro).

    Tendo estes trs exemplos em conta, vemos que a relevncia do lado externo da palavrano nico nem suficiente por si mesmo para resultar num falso amigo, pois o caso de mesareflecte bem o elevado nmero de vezes em que as lnguas espanhola e portuguesa coincidemnas suas respectivas evolues.

    Graas tambm a estes trs pares de signos lingusticos, podemos traar j um nvel deformao ou considerao de falsos amigos, onde finalmente se revela a importncia do ladosemntico. Em primeiro lugar, as diferenas visveis entre silla/cadeira deixam ver a prudnciaque a aprendizagem do portugus exige ao falante de espanhol e como as tentativas deconseguir uma traduo fcil so frustradas. Em segundo lugar, mesa/mesa, exemplificam bemcomo um falso amigo se desfaz ao inserirmos o aspecto semntico nas nossas intuies.Finalmente, quadro/pizarra leva-nos ao aparecimento, num futuro imediato, do falso amigocuadro/quadro.

    A partir da anlise dos trs pares apresentados, pretendemos demonstrar que o falsoamigo s se pode considerar tendo em conta o contedo semntico. A simples aparncia grficada palavra no nos demonstra se se trata da mesma palavra em duas lnguas diferentes, j queambas partiram do mesmo timo arcaico, ou se, por outro lado, estamos perante duas palavrascompletamente distintas, cuja evoluo fontica aproximou graficamente, mas que continuamafastadas a nvel do significado. precisamente a cadeia significante>significado que nospermite compreender as palavras coincidentes na sua forma completa.

  • 6 evidente que o falso amigo o resultado de um conflito entre essas duas facetas dapalavra o significante e o significado. Mais concretamente, pode dizer-se que corresponde aum lapso de aprendizagem por parte do falante ou estudante, no processo de atribuio destasduas partes a um nico signo lingustico, quer oral quer escrito.

    Digamos que, usando conceitos de outras disciplinas, o falso amigo em lingustica oequivalente aos falsos silogismos filosficos ou s regras de trs matemticas, onde o falantepe em prtica dois ou mais elementos lingusticos procura de um resultado, que se estabelecepor deduo.

    Ora bem, a este princpio ou base de actuao, devemos acrescentar outros factores quecondicionam o aparecimento de falsos amigos. O primeiro deles, e principal de todos, aexistncia de duas lnguas em simultneo durante o processo. Esta situao, ainda que possaparecer bvia e evidente, muitas vezes esquecida, talvez por essa mesma evidncia. Noentanto, agora, para ns necessrio que o contacto entre lnguas fique em primeiro planoporque dele emergem os outros condicionantes dos falsos amigos.

    Portanto, no momento do aparecimento dum falso amigo, o falante encontra-se atrabalhar com ambas as lnguas em simultneo, Espanhol e Portugus no nosso caso, sob umefeito de bilinguismo. Como se sabe, o uso ou conhecimento de dois idiomas por parte de ummesmo falante no deve ser total para se considerar bilinguismo em toda a regra, pois mesmoque exista apenas compreenso escrita ou falada de uma segunda lngua, assim como produos escrita ou s falada, o fenmeno do bilinguismo considera-se realizado. Quer isto dizer queos estudantes espanhis de Portugus, mesmo na sua fase de iniciao, j comeam a exercerbilinguismo e portanto os processos de interferncias lingusticas podem comear a aparecer emqualquer momento.

    Estabelecido este ponto de partida, entramos j no resto de factores que exerceminfluncia sobre o falso amigo, tais como as j nomeadas interferncias ou a actividade datraduo mental, que comentaremos mais frente neste estudo. Mas para j interessa-nos ficarcom a ideia principal de que no falso amigo d-se sempre e obrigatoriamente uma situao debilinguismo ou, pelo menos, de duas lnguas em contacto na mente do falante.

    Se assim no fosse, e trabalhssemos apenas com uma s Lngua, quer a espanhola quera portuguesa, os fenmenos perante os quais nos iramos debruar seriam bem diferentes. AHomofonia e a Homonimia, produto tambm de analogias incorrectas ou falsas, podem realizar-se no interior de uma nica lngua, isolada, mas tambm entre dois idiomas, porm essa no sempre a base de um falso amigo. No entanto, em muitas classificaes dos falsos amigos, estesdois efeitos lingusticos so a sua razo principal.

    Se, neste momento, no tivssemos em conta que no processo de criao do falso amigoho-de aparecer duas lnguas activas como mnimo, chegvamos ao resultado da existncia demltiplas formas de falsa amizade interna dentro de cada uma das lnguas isoladamente emesmo quando tidas como maternas. Tanto as particularidades da Fontica da LnguaPortuguesa, pela complexidade que oferece a um hispanofalante, como a controvertida3ortografia de ambas as lnguas, fazem com que surjam confuses de homofonia e homografiacomo estas que apresentamos a seguir:

    PORTUGUS ESPANHOLFato / Facto Baca / VacaHesitar / Excitar Hola / OlaAnos /nus Ala / HalaDose / Doze Rebelar / RevelarCaar / Casar S/Si

    Homfonos

    Ns / Noz / Ns (pl n)Homgrafas Conto (v) / Conto (subs) Vino (v) / Vino (subs)

    3 Controvertida entendida como os conflictos que pode provocar a tendncia culta do Espanhol frente aoportugus (prohibir/proibir, por exemplo) e, ao mesmo tempo, por provocar importantes discusses nospases da Amrica do Sul e a suas tentativas de reforma, tanto para o espanhol quanto para o portugus.

  • 7Falo (v) / Falo (subs) Velo (v) / Velo (subs)

    Mas, na maioria das vezes, quando existe confuso entre este tipo de par de palavras porquese verifica um erro ortogrfico (resultado de um domnio rudimentar da nova lnguaestrangeira), dado que em quase todos os exemplos dados, e de preferncia no Portugus, afontica estabelece diferenas primordiais para a distino de cada elemento lingustico.Enquanto os pares espanhis Hola/Ola e Hala/Ala oferecem sempre e em qualquer situao amesma realizao fnica, os portugueses citados oferecem claras diferenas, pouco perceptveispara os alunos de um nvel inicial de PLE, mas fundamentais na lngua portuguesa. Entramosassim na considerao da importncia que a oralidade e a escrita tm na relao dos falsosamigos.

    Podemos afirmar que, devido origem comum e a momentos histricos de convvio delnguas, na escrita o local onde a maioria dos falsos amigos na relao Portugus-Espanhol seencontram. Remetendo agora para a nossa prpria introduo, podemos lembrar que emprincpio qualquer falante de espanhol no encontra fortes obstculos na compreenso de umtexto escrito. Nesse ambiente, o estudante ter mais probabilidades de criar falsos amigos, poisgrande nmero de esses supostos casos deixam de existir quando passados realizao oral.

    Frente ao sistema simples do espanhol, onde cada grafia remete sempre para um nicofonema e onde as vogais, sempre elos fundamentais na cadeia fnica, contam apenas comrealizaes exclusivas, a Lngua Portuguesa revela-se para os estudantes foneticamentecomplexa e dependente de combinaes. Estas diferenas entre escrita e oralidade no portuguslevam-nos a afirmar que os falsos amigos orais so mnimos ou at inexistentes, dado queperante lexias completamente coincidentes o Portugus oferece fonemas voclicos ouconsonnticos que afastam a palavra da realidade espanhola e, por conseguinte, eliminam osuposto falso amigo.

    Como exemplo desta afirmao, analisemos agora alguns dos pares de falsos amigoscompletamente coincidentes no plano grfico. Polvo, Carro ou Espantoso so trs casos quepartilham uma mesma escrita nas duas lnguas mas que, efectuadas oralmente, mostramimportantes divergncias:

    PORTUGUS ESPANHOLPolvo [polvu] [polbo]Espantoso [ ptozu] [espantoso]Carro [kaRu] [karo]

    O fechamento das vogais tonas do Portugus (principalmente as finais, que s vezesquase desaparecem ao ouvido de um falante de espanhol), a produo labiodental do /v/, assimcomo a realizao glotal do /R/ em Portugus, so fenmenos to afastados da fonticaespanhola e to desconhecidos para um aluno do nvel inicial que a palavra concreta acaba porser irreconhecvel para o ouvinte.

    No entanto, e mesmo que sejam poucos, h casos de falsos amigos que oferecem umanica realizao fontica, como acontece por exemplo com apagar, anho, gana ou nota,vocbulos que, no nosso entender, devem ter uma especial considerao.

    Mas, voltando ao mbito da escrita, devemos reconhecer que ela no s se evidenciacomo o maior local de produo de falsos amigos, mas tambm como o maior contexto deanlise dos mesmos. Como se de uma iluso ptica se tratasse, em princpio parece que o falsoamigo um termo apenas criado e usado pelos investigadores da aprendizagem de lnguas paraa definio objectiva de algumas das interferncias ocorridas no processo de memorizao, masuma outra actividade late calada e passa despercebida -a traduo. Portanto, uma perguntainiludvel chega at ns: at que ponto o falso amigo pertence a uma ou a ambas as reaslingusticas?

  • 8Achamos que a resposta no pode ser categrica, pois o falso amigo pode ser tantoparticular quanto comum a cada disciplina. Isto , para que o falso amigo seja inerente e prpriode alguma (ou ambas) especialidade, teramos de a considerar como consequncia dedeterminadas aces, da mesma forma que tambm o falso amigo seria nesse caso o contentorde algum produto ou efeito diferente ao que poderia criar no caso da outra disciplina lingustica.Assim visto, poderia defender-se que o falso amigo elaborado por efeito da traduo no omesmo que aquele que surge num momento dado da aprendizagem de lnguas.

    Mas, por outro lado, j que o produto final o mesmo, isto , um falso amigo, seriairrelevante e entorpecedor fazer distines a partir do local e origem de cada caso. Mas averdade que no fundo, a aprendizagem e a traduo partilham este efeito, at ao ponto deestas duas parcelas da Lingustica no serem afastadas nem diferenciadas em determinadasaproximaes aos falsos amigos. Assim diz, por exemplo, a Professora Daz Ferrero4: Lasemejanza de las lenguas romnicas, especialmente del espaol y el portugus, facilita y agilizael aprendizaje, pero al mismo tiempo se convierte en una trampa y en una fuente de errorespara la traduccin.

    III. TIPOLOGIA DO FALSO AMIGO.

    Uma das classificaes at agora mais seguidas pelos estudiosos do campo em questo aque, como afirma Daz Ferrero, se baseia no aspecto (sic) que provoca a falsa analogia5. Estacategoria de falsos amigos, tambm seguida com algumas variantes por Mrio Morales deCastro noutro interessante artigo6, pode resumir-se assim:

    1. Diferente sentido e forma idntica ou semelhante:1.1.Homgrafos: borracha, tela, vaso, garrafa, apagar, espantoso, azar, acordar,

    bolso, salsa, etc.1.2. Homfonos: talher, balco, ninho, balo, galheta, mercearia, escova, assinatura,

    sto, etc.

    2. Diferente gnero gramatical: o nariz, a arte, a rvore, a paisagem, o leite, a sndrome, aomoplata, a ptala, etc.

    3. Diferente pronncia: academia, embolia, sintoma, limite, nvel, elogio, fobia, etc.

    4. Diferente registo lingustico: dano, perdo, excelentssimo, lata, ligar, caldo, etc.

    5. Diferente grafia: livro, cascavel, aprovar, algibe, gengibre, comear, ombro, hino, etc.

    Mas, lidos estes cinco casos com ateno, veremos que esse aspecto para o qual remeteDaz Ferrero no outra coisa seno o aspecto fsico ou aparncia externa. Sendo assim, e comoh sculos estabeleceu Ferdinand de Saussure, a aparncia de qualquer forma lingusticaestabelece-se por dois parmetros: externo, que permite ao falante reconhecer a forma,distingui-la e op-la a outras; e interno, que faz possvel dotar a forma de contedo lingustico.Por sua vez, a cara externa da forma lingustica pode desdobrar-se em outras duas facetas, orale escrita, segundo a frmula pela qual o vocbulo seja percebido pelo falante, enquanto que o

    4 Cfr. Daz Ferrero, Ana: Portugus y espaol. La traduccin de la semejanza; inwww.ugr.es/~dpto.ti/act/congresoICAIETI/res/archivos/Diaz.doc5 Daz Ferrero; op. cit.6 Morales de Castro, Mrio: Estudo dos Falsos Amigos no Portugus e no Espanhol Orientado para oEnsino / Aprendizagem do Portugus e Para a Traduo, in Actas do VIII Encontro da AssociaoPortuguesa de Lingustica; Lisboa, 1992, pp 357-370.

  • 9lado interno da palavra tenta ser nico e intransfervel para no provocar casos de polissemia ousinonmia.

    Tendo este princpio fundamental em considerao, podemos regressar ao resumo decasos antes fornecido e orden-lo em consonncia, atendendo ao facto da analogia ser baseadano aspecto externo ou interno da palavra. Nesse caso, o esquema fica reagrupado do seguintemodo:

    1. Aspecto Externo:

    a) Escrita:- Homgrafos- Diferente Grafia

    b) Oralidade:- Homfonos- Diferente pronncia

    2. Aspecto Interno:

    - Diferente gnero gramatical

    - Diferente registo lingustico

    Mesmo assim, achamos que ainda possvel uma outra classificao, mais simples e aomesmo tempo mais rigorosa e que colabore no proceso de ensino e aprendizagem do Portuguscomo segunda lngua. A partir dos casos j conhecidos, e com o propsito de traar essa novaproposta de categorias dos falsos amigos, invertemos a ordem de anlise e partimos destapremissa- estabelecer os limites para considerar uma forma como no sendo falso amigo.

    Sobre a considerao daquilo que ou no um verdadeiro falso amigo recaemdiversos factores. Para alm dos que j temos comentado anteriormente, um dos maisconflitivos o uso que o signo lingustico recebe por parte dos falantes. evidente que autilizao social que se faz das palavras determinante na sua semntica, atendendo a que, porvezes, o prprio uso que acaba por desviar o termo para um determinado significado. Por isso,nem sempre suficiente, no estudo dos falso amigos, contar apenas com o significado, pois foradas disparidades ou afinidades semnticas que as lexias de duas Lnguas possam apresentar, odesuso de uma dessas formas torna inexistente o par lingustico que constitui o falso amigo.

    Quer dizer que prioritrio que ambas as formas escolhidas para representar uma falsaanalogia lingustica sejam de uso real e quotidiano, dentro das limitaes que cada nvel deensino impem por si mesmo e das que cada formante e formador estabelecem de maneiraparticular. Portanto, de nada serve propor pares de palavras nos quais um dos elementos provocachoque semntico s a partir da sua quarta ou quinta acepo, restrita alis a alguma parcelatcnica ou muito especfica do idioma. Da mesma forma, os falsos amigos perdem umimportante valor quando uma das palavras tomada de uma variante dialectal ou de umamodalidade regional de fala, pois nesse caso reduzem-se de forma drstica as possibilidadesreais de existncia do falso amigo.

    Em segundo lugar, achamos que as diferenas ortogrficas tambm no so suficientespara considerar a existncia de um falso amigo. Estabelecer pares como Cano/Cancin ouApesar/A pesar, supe quase sempre preestabelecer analogias confusas que para nada atendempara os aspectos fonticos, morfolgicos e histricos que precisamente possibilitaram aexistncia de duas lnguas ao mesmo tempo semelhantes e diferentes. Alis, estascorrespondncias baseadas na aparncia podem ter efeitos negativos na aprendizagem doPortugus, pois, por exemplo, neste caso estabelece-se como regra geral que a terminaoportuguesa o equivale espanhola n, quando sabido que estas diferenas tm a sua razonas diferentes terminaes latinas ANVM e ONEM.

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    bvio e evidente que Cano/Cancin so formas muito parecidas, pois em essnciaso a mesma na perspectiva da origem. Se as considerssemos falsos amigos no teramos maisremdio do que ir progredindo nos exemplos, ampliando-os cada vez mais at chegar a enfrentarpor completo os dois sistemas lingusticos, o espanhol e o portugus.

    Isto incide de novo na importncia que o carcter semntico tem em todo o processo.Podemos, por exemplo, nessa continuidade analgica da qual antes falvamos, imaginar aincluso de todos os pares verbais do tipo Cantara/Cantara. Todos os falantes de Espanholviriam a identificar a forma Cantara portuguesa com o tempo imperfeito do conjuntivoespanhol por desconhecerem que se trata de uma forma de indicativo e, o que ainda maisimportante, que historicamente esta segunda opo a mais correcta ou aproximada ao Latim.

    Entrando assim em pleno na considerao de processos de formao histrica delnguas, devemos tambm atender para dois casos especficos- as chamadas lexias cognatas e asdiferenas de gnero. Em relao ao primeiro caso, palavras que partilham o mesmo radical masque correspondem a zonas de uso diferentes, temos de dizer que o Portugus faz divergir maistimos do que o Espanhol, como por exemplo acontece com Dois/Duas, Trfego/Trfico ouSono/Sonho.

    Geralmente estes pares com idntico timo apenas correspondem a um termo emEspanhol, com o qual se pretende estabelecer uma situao de falso amigo. Mas, para o nossoentendimento, o que acontece nesta situao apenas desconhecimento por parte do aluno sobrea evoluo de determinadas palavras portuguesas para duas formas, da mesma forma que ofalante de espanhol desconhece a natureza de certas qualidades lingusticas de outras lnguas,como podem ser o partitivo do Catalo e do Italiano, o neutro de matria do Leons ou osmorfemas possessivo-genricos do Alemo. Quer dizer, para ns a divergncia de signoslingusticos a partir de uma mesma etimologia deve ser tirada da exclusividade do plano dolxico e ser contemplada dentro do todo da Lngua Portuguesa.

    Assim visto, cabe ao aluno o dever de ir progredindo em conhecimentos e aumentarpaulatinamente o seu vocabulrio, at saber usar e distinguir correctamente as lexias cognatas. preciso, portanto, eliminar a gravidade do assunto, sobretudo quando mais da metade dessaslexias cognatas no se assemelham a nenhuma outra forma do Espanhol. Alis, as diferenasexistentes e apreciveis entre os trs pares de lexemas do Portugus antes expostos sopercebidas pelo hispanfono da mesma forma que ele distingue e aprecia determinadas formasque tambm so coincidentes na forma da sua Lngua Materna. Para o aluno mdio do nvelinicial, que no atende a questes de origem da Lngua e evoluo do vocabulrio, as diferenasentre Dois/Duas, Trfego/Trfico ou Sono/Sonho compreendem-se da mesma forma que emEspanhol se explicam as diferenas do chamado gnero dimensional, como por exemplocharco/charca (poa/lagoa).

    Relativamente s diferenas de gnero morfolgico, segundo alguns autores, estadiferena tambm serve como razo para um falso amigo. Da mesma forma que algum recminiciado na aprendizagem do Portugus ter de assimilar novas terminaes verbais, tambmdever reestruturar muitas terminaes genricas. Mas estas diferenas, simplesmente externas,tambm no podem ser consideradas como falsos amigos considerando que a analogia realizadapelo aluno resulta positiva.

    O aluno, neste caso, desconhece o processo histrico de reduo de casos e gneroslatinos, o qual nunca foi to rgido como o considerado por alguns estudiosos dos falsos amigos.Vejamos estas afirmaes de Manuel Alvar e Barnard Pottier7: De ello se infiere que el gnerogramatical en espaol depende sobre todo- de causas histricas (se mantiene con bastantefidelidad la herencia latina), aunque stas puedan quedar perturbadas por otras analgicas (lossustantivos en e abundan ms en masculino y, por tanto, atraen a algunos femeninos), o, en loscasos de inseguridad original, se crean masculinos o femeninos sin gran rigor en una divisinque, incluso, puede mantenerse vacilante a lo largo de siglos. Con lo que viene a probarse laarbitrariedad del gnero gramatical y la indiferencia de la lengua ante tales hechos.

    Exactamente igual acontece com falsos amigos propostos em outros estudos anteriores,onde os vocbulos portugueses praa ou branco so opostos aos espanhis plaza e blanco,

    7 Alvar e Pottieer: Morfologa Histrica del Espaol, Madrid Gredos, pg 45.

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    omitindo a tendncia natural do portugus para as consoantes laterais lquidas em interior deslaba frente vibrante simples escolhida pelo Espanhol. As diferenas de gnero, junto com asdiferenas notadas entre /r/ e /l/, assim como o desaparecimento em Portugus de todos os /-n-/e /-l-/ latinos intervoclicos (DOLORE>dolor>door>dor; COLORE>color>coor>cor;FAMINE>fomne>fome) frente permanncia em Espanhol, configuram a essncia gramaticalportuguesa e nunca podem ficar longe do olhar do professor ou do investigador.

    Com estas noes presentes, vemos que mesmo que o aluno enfrente formas comoPraa/Plaza, Branco/Blando ou Brando/Blando, o falso amigo nunca se materializa, pois asequivalncias pressupostas, a priori, so as correctas. E se, como de certo o , o nosso propsitoao estabelecer uma listagem de casos mais pedaggica do que cientfica ou pragmtica, com aeliminao de casos como os citados estaremos a dar um passo em frente na facilidade deaprendizagem.

    Excludos, portanto, estes factores arbitrrios sob o nosso critrio (ortografia, uso),dirigimos agora o nosso olhar para o aspecto mais importante de todos: o contedo semnticodo signo lingustico. evidente que a analogia que se quer estabelecer entre palavras resultafalsa graas oposio dos respectivos significados. Desde esta perspectiva nada faria pensarque s vezes resulta complicado determinar quando estamos perante falsos amigos se no fosseporque, tanto a Lngua Espanhola como a Portuguesa, possuem um elevado ndice depolissemia.

    Muitos dos falsos amigos apresentados na relao Portugus- Espanhol estoconstitudos a partir de uma segunda ou at terceira acepo, para alm de outros segundossignificados que se possam atribuir a nvel diastrtico ou diafsico. Neste caso convm terprudncia no momento de estabelecer falsos amigos e no escolher significados paralelos muitorestritos no seu uso, pois nesse caso voltamos a reduzir as possibilidades reais de existncia dafalsa analogia.

    Neste sentido, tomemos como exemplo a oposio dos termos Lata/Lata, ambospolissmicos nas suas lnguas de origem. Mesmo assim, e apesar da pluralidade de significados,ambas as palavras possuem como primeira acepo metal, enquanto que s a partir dasseguintes significaes comeam a aparecer disparidades. Esta prioridade de significadospoderia ficar esquematizada no seguinte quadro:

    Falso Amigo: Lata PORTUGUS ESPANHOL1 Acepo Metal Metal2 Acepo Descaramento Molestar (aborrecer)

    Acontece ento que inserir o par Lata/Lata na listagem correspondente a um nvel deiniciao pode levar ao aluno a evitar o uso certo desta palavra na sua primeira acepo quandoesta a correcta. Alm de mais, preciso ter em conta que Lata no sentido portugus dedescararamento, como indicvamos mais acima, s aparece na expresso idiomtica TerLata. Logicamente, adquirir tais nveis de conhecimento est fora no s de um nvel deiniciao, mas tambm fora das pretenses de fala de um estudante estrangeiro de Portugushabitual.

    Alis, tratando-se de estudantes com o Espanhol como Lngua Materna, parece-nosmelhor ideia optar por uma outra via de ensino para este caso, em particular, e outrossemelhantes em geral, dado que o sentido de descaramento reproduz-se igualmente emEspanhol atravs de uma perfrase lingustica formulada com o verbo Ter. Em Espanhol, pode-se encontrar um equivalente a Ter Lata na expresso Tener cara e, visto que ambas asfrmulas populares de expresso partilham o mesmo esquema sintctico do VerboTer+Substantivo, parece-nos mais adequado incluir este candidato a falso amigo num nvelsuperior de ensino, sempre dentro dos usos especficos que o Portugus d a determinadosverbos de frequncia elevada, como o Ter, Ser ou Estar.

    Como dizamos, da mesma forma que eliminamos o registo lingustico na consideraodos falsos amigos, temos que afastar a distribuio geogrfica do total das razes que coincidem

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    no aparecimento dos falsos amigos, e apenas apreci-la em casos muito especficos. Chamamosa ateno sobre a necessidade de trabalhar sempre sobre sistemas padres de Lngua no s porserem o Espanhol e o Portugus duas Lnguas fragmentadas em variedades ou modalidadesinternas (maiores e mais apreciveis no Espanhol, se no temos em considerao as variedadesno europeias), mas porque, no caso do Espanhol, a Lngua encontra-se em constante contactocom outras (Catalo, Basco, Galego e at o Ingls, o Francs e o rabe se olharmos para asituao lingustica de Gibraltar, Ceuta e Melilla), o que provoca inmeros casos de bilinguismoque influenciam de maneira importante a variao lingustica do hispanfono que se encontranessa geografia e posteriormente a sua aprendizagem da Lngua Portuguesa, aquando do seuestudo.

    Com base nestas ideias, achamos justificado eliminar, ou pelo menos reconsiderar,alguns falsos amigos tpicos dos estudos da relao Portugus-Espanhol, tais comoAssinar/Asignar ou Assento/Asento. Em verdade devemos reconhecer que a semelhana destasformas escritas elevada, sobretudo no segundo caso, e que tendo as palavras espanholasdistinto significado das portuguesas, factvel a produo de um falso amigo. Mas, observadosestes exemplos desde a perspectiva fontica, torna-se obrigatrio recorrer pronncia tpica deuma variedade regional do Espanhol para o falso amigo chegar a ser efectivo. Assim, noprimeiro dos exemplos, imprescindvel que a realizao espanhola omita a consoante oclusivasonora para se aproximar ento da ausncia do dito fonema na palavra em Portugus. Essedesaparecimento quase impossvel de verificar, pois a nica realizao aproximada que sepode comparar a de substituio da vogal sonora por um outro fonema aspirado, como normal das falas andaluzas. Esta modalidade de fala, que no pode chegar a ser consideradadialecto e que se extende muito mais alm das fronteiras polticas da Andaluzia, tambmgeneraliza o fonema surdo /s/ nos casos onde corresponde //, de modo que um falante destaregio faria equivalente o segundo exemplo proposto (Assento/Acento).

    Parece-nos ento arriscado propor pares de falsos amigos para cuja existncia necessrio recorrer a duas modalidades de oralidade muito precisas para completar o espaovazio deixado por duas semelhanas externas da palavra pouco evidentes. Torna-se necessrio,uma vez mais, trabalhar sempre sobre sistemas padres de Lngua e evitar deixar de lado operfil real a que obedecem geralmente os estudantes de Portugus com o Espanhol como LnguaMaterna.

    Situao muito semelhante a que encontramos nos falsos amigos constitudos pordiferenas de uso em determinadas camadas sociais da populao (ou diastratia). Devemoscontar com a possibilidade de que, para um falante de um nvel de conhecimento mdio ousuperior, fiquem eliminados alguns pares de falsos amigos. Um exemplo prximo a estasituao encontramo-lo na palavra gaveta que, mesmo sem chegar a estabelecer um falsoamigo, elimina o processo de aprendizagem/memorizao do termo, j que o Espanhol possuiem desuso esta mesma forma, com idntico significado.

    Por ltimo, e paralelamente a todos estes factores de produo dos falsos amigos, umelemento constante deve ficar em primeiro plano na nossa anlise: o contexto. J sejaconsiderando o falso amigo no mbito do ensino/aprendizagem ou j na traduo,inevitvelmente a analogia lingustica passa a depender do contexto. Em diversas ocasies, alocalizao do termo em questo ser a base para o incio do processo de equvoco semntico,enquanto que noutras situaes acontecer completamente o contrrio.

    O contexto geral no qual se insere o falso amigo j alerta o aluno sobre as futurasrepercurses e, s vezes, torna-se impensvel pretender manter o significado que umadeterminada palavra tem na Lngua Materna nesse mbito da comunicao. Evidentemente, eralcito afirmar-se agora que o contexto pode exercer precisamente o efeito contrrio e gerar porele prprio o conflito semntico. Mas a elevada semelhana das escritas do Portugus e doEspanhol fazem-nos fixar mais concretamente sobre a estrutura sintctica como fornecedor defalsos amigos.

    Como exemplo, podemos apontar agora para a enorme diferena existente entre asconstrues finais elaboradas nas respectivas Lnguas com a estrutura para+si. A forma derespeito si inexistente em Espanhol, pois esta Lngua apenas possui os nveis de tratamentoinformal e formal, representados respectiva e unicamente por T e Usted. Mas o conflito

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    semntico aparece quando, neste caso, possvel encontrar uma forma plenamente coincidentecom si mas equivalente ao condicional se.

    Desta forma, quando o estudante espanhol repara numa construo do tipo para+si, fica espera da incluso de uma orao subordinada (para se) e a orao que tem perante ele no fazsentido, pois est carente de contedo. Este caso pode acontecer numa orao passiva do tipoEsta promoo feita para si, onde o hispanfono fica espera de mais um segmentocomunicativo aps ler o introdutor si, j que na sua ordem de traduo a frase apresentadaequivale a Esta promoo feita para se.... Portanto, o estudante deve fazer frente, nestecaso, no s s diferenas de significado, mas tambm a uma remodelao da ordem detratamento formal, incluindo um novo nvel (voc, sem equivalente em Espanhol) e a novaforma apresentada (si).

    Para ns este e outros casos semelhantes vm demonstrar a importncia que o falsoamigo tem na aprendizagem das Lnguas e a necessidade de reorientar este fenmeno fora dasfronteiras da traduo, isolando as consequncias de um e outro ambiente. Seja como for,achamos j suficiente o at agora dito para poder traar as novas linhas onde encaixar os falsosamigos na especial relao Portugus-Espanhol.

    Eliminando agora o contexto de produo, que se entende tanto no mbito deensino/traduo, como no ambiente de localizao (texto escrito ou oral), devemos marcar osrequisitos minimamente obrigatrios para a considerao de falso amigo:

    a) As respectivas estruturas externas devem ser altamente semelhantes;

    b) Deve produzir-se conflicto semntico real, quer isoladamente quer no contexto de fala;

    c) Se a semelhana entre pares for fontica, ambas as realizaes devem pertencer aossistemas padres de Lngua;

    d) Os diferentes significados devem proceder de uma primeira acepo ou de uma segundasignificao suficientemente generalizada.

    Estes parmetros, podem, por sua vez, ver-se resumidos em apenas nos dois factores que atagora temos destacado e defendido para considerar hipotticos falsos amigos entre as duasLnguas: semelhana de formas e disparidade de significados. Deste modo, e dependendo doplano externo dos signos lingusticos sobre o qual se deseje orientar a relao de falsa analogialexical e da graduao que atinja a dissemelhana semntica, poderamos distinguir somenteduas categorias de falsos amigos: o falso amigo total e o falso amigo parcial.

    O primeiro caso aquele onde a semelhana entre dois termos de Lnguas diferentesenvolve os dois planos externos do signo lingustico, a escrita e a oralidade, e sempre que oenfrentamento semntico seja efectuado sobre primeiras acepes. Frente a este caso, o falsoamigo parcial aquele que se realiza apenas sobre a escrita ou sobre a fala, bem como aqueleque confronta segundos significados. Com este procedimento, simplificamos antigasclassificaes estabelecidas apenas sobre a aparncia externa, considerando agora a homofonia ea homografia questes secundrias, j que neste momento a relevncia dada totalmente aonvel semntico.

    A partir desta ideia, resumimos a nossa proposta no seguinte quadro, dando espao ssituaes possveis:

    COINCIDNCIA EXTERNA CHOQUE TIPO CLASSEEscrita 1 significao F.A. Parcial HomgrafoEscrita Fala 1 significao F.A. TotalFala 1 significao F.A. Parcial HomfonoEscrita Fala 2 significao F.A. Parcial

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    Obtemos ento trs tipos de falsos amigos constitudos sobre o choque de dois primeirasacepes no coincidentes e uma quarta categoria para aquelas palavras plenamentecoincidentes, mas confrontadas num segundo sentido, atribuido por determinados contextos ounveis de fala. Desta maneira, dentro de cada tipologia seria possvel distinguir fenmenos dehomografia e homofonia, quando fossem realmente existentes sobre o sistema padro de fala.

    Acrescentando anterior tabela alguns casos exemplares, chegamos ao seguinte quadro:

    TERMO (pt) COINCIDNCIA EXTERNA CHOQUE TIPO CLASSEAceite Escrita 1 significao F.A. Parcial HomgrafoAnedota Escrita 1 significao F.A. ParcialApagar Escrita Fala 1 significao F.A. Total Homg/HomfCombinar Escrita Fala 1 significao F.A. Total Homg/HomfNinho Fala 1 significao F.A. Parcial HomfonoEscova Fala 1 significao F.A. ParcialLata Escrita Fala 2 significao F.A. Parcial Homg/Homf

    Encontrmos a, portanto, dois pares de falsos amigos considerados por ns parciais porse basearem apenas em aspectos externos, j na escrita, como no caso de Anedota/Ancdota, jno caso da oralidade, como acontece em Escova/Escoba. Junto com eles temos outros doiscasos irmos, os de Aceite/Azeite e Ninho/Nio, que contm semelhanas externas at fazeremparte dos fenmenos da homografia e homofonia, processos que antes no eram possveisdevido a alteraes de posio da slaba tnica e das diferentes realizaes do fonema s.

    Contamos tambm com outros dois casos de falsos amigos totais, onde, de igual modo,se reproduzem fenmenos de repetio da escrita e da realizao fnica. Dentro desta rea, ocaso mais evidente o par Apagar/Apagar, onde as correspondentes pronncias do Espanhol edo Portugus no podem encontrar elementos divergentes dado que a realizao da consoantevelar oclusiva sonora intervoclica nica em ambas as Lnguas. A mesma justifio, s quetrasladada agora para a realizao da labial oclusiva sonora, a que podemos oferecer para o parCombinar/Combinar.

    Finalmente, encontramos o caso j antes referido de Lata/Lata, que, apesar de seapresentar como um par plenamente coincidente ( excepo de leves diferenas na realizaodo /l/, que mais velarizado em Portugus do que em Espanhol), tem sido catalogado comoexemplo de falso amigo parcial. A razo, que j sabemos, que as divergncias de significadoapenas se produzem no ambiente de fala muito concreto, o qual no nos parece suficiente paraelevar o caso a falso amigo geral. Perto desta situao encontra-se o anterior exemplo dado,Combinar/Combinar, pois trata-se de um par at certo ponto incompleto j que o significadosobre o qual se baseia (marcar um encontro com algum) secundrio em Portugus. Mas,por possuir esse segundo significado um registo de uso na Lngua quotidiana, provavelmentesuperior primeira acepo, torna-se, para a situao de ensino, um falso amigo total.

    APNDICE

    So j muitos os apndices e dicionrios de Falsos Amigos existentes, e resulta portantoinevitvel no cair na repetio, dado que o corpus continuar intacto no seu conjunto. Apenas possvel encontrar pequenas diferenas entre as propostas que se podem encontrar nas variadaspublicaes e pginas da Internet. Neste sentido, o nosso corpus coerente com o exposto atagora, pelo qual a reduo de casos em comparao a outros estudos ser maior. No entanto,pela mesma razo, inserimos alguns vocbulos at agora despercebidos, na tentativa de fazerainda mais fora na teoria de reorientao proposta.

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    A interpretao do seguinte glossrio deve realizar-se como um duplo dicionrio-Portugus>Espanhol e vice-versa, de forma a fazer coincidir as formas aparentementesemelhantes na entrada de cada um dos dicionrios.

    PORTUGUS ESPANHOL ESPAOL PORTUGUS

    Aborrecer Molestar Aborrecer DetestarAbrigo Refugio Abrigo CasacoAceitar Aceptar Aceitar LubrificarAceite Aceptado, acepte Aceite Azeite, leoAcordar Despertar Acordar LembrarAlis Adems Alias AlcunhaAnedota Chiste Ancdota Facto real engraadoAnho Cordero Ao AnoApagar Borrar Apagar DesligarApaixonado Enamorado Apasionado AfeioadoApenas Slo, slamente A penas QuaseArcada Conjunto de arcos Arcada Convulso do vmitoAsa Ala Asa PegaAssinatura Firma Asignatura DisciplinaAula Clase Aula Sala de AulaAzar Mala suerte Azar Sorte, FortunaBalco Mostrador Balcn VarandaBarata Cucaracha Barata EconmicaBeata Colilla Beata Mulher demasiado religiosaBilhete Entrada, tiquet Billete NotaBilheteira Taquilla Billetera Porta-moedasBocado Poco Bocado DentadaBolso Bolsillo Bolso Carteira de senhoraBorracha Goma Borracha BbadaBrincar Jugar Brincar SaltitarBrincos Pendientes Brincos PulosCadeira Silla Cadera AncaCamioneta Autobs regular Camioneta CarrinhaCana Caa de pesca Cana Cabelo brancoCarro Automvil Carro Coche, carroaCarto Tarjeta Cartn PapeloCena Escena Cena JantarChatear Molestar, enfadar Chatear Falar em chatChato Aburrido, pesado Chato Pessoa com nariz pequenoCoelho Conejo Cuello PescooColada Pegada, encolada Colada Roupa lavadaColar Pegar con cola Colar CoarCombinar Quedar, citar Combinar Fazer CombinaoConcorrncia Competencia Concurrencia ConflunciaConvicto Convencido Convicto PresidirioCopo Vaso Copo FlocoCorrida Carrera Corrida TouradaCostas Espalda Costas Litoral MarinhoCravo Clavel Clavo PregoCriana Nio Crianza CriaoCumprimentar Saludar Cumplimentar Preencher

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    Curso Carrera universitaria Curso Ano acadmicoDesabrochar Manifestar Desabrochar DesapertarDesenho Dibujo Diseo DesignDesenvolver Desarrollar Desenvolver DesembrulharDespacho Resolucin administrativa Despacho GabineteDoce Dulce Doce DozeEmbarao Complicacin Embarazo GravidezEngraado Gracioso Engrasado EngraxadoEscova Cepillo Escoba VassouraEscritrio Oficina Escritorio Mesa-secretriaEspanto Admiracin Espanto HorrorEspantoso Sorprendente Espantoso HorrvelEsperto Listo, inteligente Experto PeritoEsquisito Extrao Exquisito DeliciosoEstofado Tapizado Estofado GuisadoEstufa Invernadero, vivero Estufa FogoExprimir Expresar Exprimir EspremerFarol Faro martimo Farol FarolimFechar Cerrar Fechar DatarFrias Vacaciones Ferias FeirasFrente Delante Frente TestaGana Hambre, apetito Gana VontadeGanga Tela vaquera Ganga PechinchaGordura Grasa Gordura GrossuraGozar Burlarse Gozar DesfrutarGraa Gracia Grasa GraxaGrade Reja, verja Grada GradeamentoGrifo Animal Mitolgico Grifo TorneiraGuizo Cascabel Guiso CozinhadoLargo Ancho Largo CompridoLargura Anchura Largura ComprimentoLegenda Subttulo Leyenda LendaMala Maleta Mala MMas Pero Ms MaisMear Dividir en dos Mear UrinarMediano Medio Mediano MdioMdio Mediano Medio MeioMofeta Humarea volcnica Mofeta DoninhaNinho Nido Nio CrianaNota Billete Nota BilheteOficina Taller Oficina EscritrioOsso Hueso Oso UrsoPaquete Transatlntico Paquete EmbrulhoPegada Huellas, pisadas Pegada ColadaPegar Coger Pegar Bater, colarPelo Por el; por lo Pelo CabeloPila Pene, pito Pila PilhaPolvo Pulpo Polvo PPosse Posesin Pose PosturaPrenda Regalo Prenda Pea de roupaPrestar Servir Prestar EmprestarPresunto Jamn serrano Presunto Suposto, hipotticoProcurar Buscar Procurar Tentar

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    Pronto Terminado, acabado Pronto CedoPropina Matrcula, cuota Propina GorjetaQuadro Pizarra Cuadro MolduraRato Ratn Rato MomentoRegalo Deleite Regalo Prenda, presenteSaco Bolsa Saco SacaSalada Ensalada Salada SalgadaSalsa Perejil Salsa MolhoSobremesa Postre Sobremesa Momento aps almooSto tico, buhardilla Stano CaveSucesso xito Suceso AcontecimentoSujo Sucio Suyo Dele, delaTaa Copa Taza Chvena, canecaTalher Cubierto Taller OficinaTermo Trmino Termo Garrafa trmicaTodava Sin embargo Todava AindaVaranda Balcn Baranda CorrimoVaso Macetero Vaso CopoVassoura Escoba Basura LixoVassoureiro Vendedor de escoba Basurero Lixeiro

    BIBLIOGRAFIA

    - Carrasco Gonzlez, Juan Manuel: Manual de Iniciacin a la Lengua Portuguesa, ArielLenguas Modernas, Barcelona, 2001

    - Castro Moutinho, Lurdes: Uma Introduo aos Estudos da Fontica e da Fonologa doPortugus, Coleco Pltano Universitria, Pltano Editora, Lisboa, 2000

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    - Morales de Castro, Mrio: Estudo dos Falsos Amigos no Portugus e no Espanhol Orientadopara o Ensino / Aprendizagem do Portugus e Para a Traduo, in Actas do VIII Encontro daAssociao Portuguesa de Lingustica; Lisboa, 1992