OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · sedentária ocasionando o desenvolvimento da...

18
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

Transcript of OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · sedentária ocasionando o desenvolvimento da...

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

_________________________

Professora licenciada em Física pela Fundação Faculdade de Filosofia e Letras de Guarapuava

e participante do projeto de Desenvolvimento da Educação - PDE. Atua na rede pública

estadual desde 1990.

Professor do departamento de física da Universidade Estadual do Centro Oeste e mestre em

estatística pela Universidade Estadual de Londrina.

A INTERATIVIDADE COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO-APRENDIZAGEM NO

ENSINO DE TERMOLOGIA

Glaci de Fátima Traple

Juarez Matias Soares

Resumo: Este artigo apresenta os resultados de um estudo sobre interatividade realizado com alunos do segundo ano do ensino médio de uma escola estadual. O objetivo é proporcionar aos sujeitos envolvidos no processo de ensino aprendizagem de física informações para utilização de metodologias com emprego da interatividade. A presente pesquisa foi desenvolvida durante o primeiro semestre do ano de 2014 envolvendo 86 alunos do segundo ano que formam três turmas do ensino médio utilizando o espaço de sala de aula e o laboratório de física com suas ferramentas. O método utilizado foi o engajamento interativo com a técnica instrução por pares de Eric Mazur utilizada para demonstração dos conteúdos de Termologia. A técnica foi aplicada em uma turma

denominada 2º ano do ensino médio no período da manhã, usando a sala de aula e em contraturno usando o laboratório de física. O instrumento utilizado para a coleta dos materiais foi o teste conceitual. Em sala de aula em dia anterior ao conteúdo a ser aprendido foi recomendado uma leitura orientada aos alunos que contemplava os conceitos a serem entendidos. No momento da aula foi feito uma exposição dialogada breve do conteúdo, para verificar a aprendizagem dos conceitos foi utilizado um teste conceitual aplicado com o uso do data show (projetor de imagens) e flashcards (cartões de resposta). Palavras-chave: interatividade, inovação, comunicação.

1. INTRODUÇÃO

Analisando a teoria sobre a origem da humanidade temos o conhecimento de

que os seres humanos modernos só surgiram há 150 mil anos. A medida que a vida

dos homens sofria transformações, pois a cada momento era necessário novos

conhecimentos para produzir alimentos, tanto na prática da agricultura, quanto na

produção de carne. Há uns 50 mil anos supridas as necessidades básicas de

alimentação e moradia, os seres humanos lançaram-se à conquista do planeta em

diferentes rumos desde a África até a Polinésia.

Nessa época o ser humano troca seu estilo de vida nômade pela vida

sedentária ocasionando o desenvolvimento da agricultura e da domesticação de

animais que traziam o alimento necessário para perto da habitação dos homens.

Com o surgimento da escrita, surgem as primeiras civilizações em isolamento com

suas próprias dietas em função de produtos vegetais e animais que existiam em sua

área de habitação.

No entanto, estas barreiras alimentícias foram caindo a medida que as distintas

civilizações históricas foram entrando em contato umas com as outras e

comercializando entre si. Nasceram as primeiras cidades e o surgimento da escrita

por todos os lugares do planeta, ao mesmo tempo, de maneiras diferentes. Foi

possível então armazenar o conhecimento usando escrituras ideográficas que logo

evoluíram para sistemas fonéticos.

No século V a.C. o desenvolvimento da escritura permitiu o surgimento da vida

cultural, nasceu a literatura.

No final da idade Média e início da idade Moderna caracterizado pela

transição do feudalismo para o capitalismo nasce o Renascentismo termo para

redescoberta e revalorização da cultura antiga clássica com ideal humanista e

naturalista.

No século XIV graças as novas universidades os conhecimentos e ideias

espalhavam-se e eram criados com facilidade. Houve no século XVIII

transformações tecnológicas e sociais no mundo ocidental, que passou de rural a

urbano, abrindo caminho para o capitalismo características da Revolução Industrial.

A Revolução Tecnológica começou com o uso de novas tecnologias na

produção e na fabricação de novos produtos a serem consumidos pela sociedade,

seja na indústria, agricultura, comércio em serviços do dia-a-dia de forma positiva ou

negativa etc.

Revolução Tecnológica “são as invenções, as descobertas ou as criações realizadas

pelo Homem, que afetam, de forma profunda, ampla e generalizada, os

conhecimentos, os costumes e as práticas cotidianas do seu meio”.

Da descoberta do uso dos metais, a invenção da escrita, ao domínio dos

mares,o desenvolvimento da genética e das comunicações, o homem vem

ampliando seus conhecimentos, construindo sua história, desenvolvendo suas

potencialidades no planeta terra. Uma revolução só acontece quando a sociedade

necessita dessas mudanças como no caso da Revolução Industrial que provocou

uma separação entre as classes sociais quando o capital é considerado mais

importante do que a mão de obra. A revolução tecnológica através da internet

consolidou a diferença entre as classes e a terceira chamada Era do Conhecimento

salienta a importância do conhecimento através da informação em detrimento ao

capital.

Na escola se ministra conteúdos de Física utilizando quadro negro e papel, na

tentativa de fazer com que os alunos aprendam apenas imaginando e memorizando

os conteúdos, sentimos a necessidade de mudanças na prática pedagógica do

professor em sala de aula. Precisamos considerar as várias razões que levam o

ensino da Física a um quadro insatisfatório. A inexistência de espaço e material

adequado para a realização das aulas de Física são razões que tem contribuído com

a dificuldade no ensino e aprendizagem do conteúdo de Física no Ensino Médio.

Devido a esses problemas dentre outros as aulas de Física são

ministradas por método de transmissão de conteúdos, onde o professor é o locutor e

o aluno o ouvinte, restringindo-se à teorização dos conteúdos.

Nos preocupa que os alunos não aprendem muito numa aula

convencional (passiva), independentemente da forma como se ensina. Para que

ocorra a aprendizagem com significado dos conteúdos de Física propomos a

Técnica de aprendizagem colaborativa, substituindo o método da transferência de

informação pela Interatividade em sala de aula.

Para a aplicação da Interatividade serão construídos espaços interativos

em sala de aula utilizando as ferramentas que a escola possui como televisão,

computador, softwares, Internet, material experimental, etc. No espaço elaborado

serão aplicados os conteúdos de Termologia. O objetivo é promover uma conexão

entre a teoria e a prática, ou seja, atingir a práxis, no sentido de aplicar tal estratégia

para instigar os alunos a apropriar-se dos conhecimentos científicos que envolvem

conteúdos de Termologia.

Como questões norteadoras do presente trabalho, adotamos:

a) Em comparação com o ensino tradicional, quais os resultados obtidos através da

implementação do método instrução por pares em uma escola de ensino básico

braileira em temos da motivação para aprender Física, engajamento cognitivo e

desempenho em Testes Conceituais por parte dos alunos?

b) A discussão entre os pares, no contexto de nossa pesquisa, promove a

convergência para a resposta correta em testes conceituais, conforme apontado por

alguns estudos na literatura?

2. Fundamentação teórica

Durante décadas nas escolas brasileiras e atualmente as práticas de ensino

estão vinculadas à recepção e a reprodução mecânica de conteúdos evidenciando

um posicionamento didático mecanicista, tecnicista e tradicional , o professor

assume o papel de emissor de conteúdos e tudo que o receptor aluno tem que fazer

é ficar quieto, prestar atenção e decorar o conteúdo que o professor expõe, segundo

Paulo Freire (1996, p. 14) é preciso que na formação do professor ele tenha uma

atitude de sujeito capaz de produzir o saber, assumindo que ensinar não é transferir

conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou a sua construção.

As mudanças no processo de ensino aprendizagem começaram à ocorrer na

década de 1980 onde uma ampla literatura tomou ciência dos novos recursos que

deram suporte as novas práticas pedagógicas.

Para Santos (2007, p. 787), houve

um deslocamento dos princípios orientadores do ensino em diferentes áreas do saber. Deflagou-se um vigoroso processo de questionamento e revisão do ensino vigente. É a gênese de um movimento que propõe a reconceitualizar não só os objetivos do ensino, mas, sobretudo, os objetivos de ensino, juntamente com os pressupostos e

procedimentos didáticos.

Juntamente com a literatura vieram os recursos referente às múltiplas

linguagens e diversificadas formas de expor o conteúdo em sala de aula como

exemplo temos os suportes textuais, como charges, histórias em quadrinhos, jogos,

jornais, cinema, literatura de cordel, redes sociais (facebook, MSN, Orkut) revistas,

tirinhas, entre outros.

Também dessas múltiplas linguagens fazem parte as tecnologias da informação e da

comunicação (TICs) que aplicam os recursos tecnológicos da informática aos

processos educacionais simultaneamente com a ciência, a tecnologia e o ensino.

Nesse contexto como novos meios didáticos temos: as plataformas virtuais de

aprendizagem (Moodle), redes sociais, chats educacionais, debates via internet,

fóruns virtuais etc . O conteúdo é exposto de uma forma inovadora quando do uso

dos novos recursos didáticos propiciando novas formas de aprendizagem, induzindo

o aluno a refletir, a elaborar e a formular hipóteses, construindo sentidos e

significados. Esses paradigmas em que o educando é instigado a compreender sob

diversas formas as múltiplas linguagens denotam as posturas construtivistas e

sociointeracionistas de ensino-aprendizagem.

Sob essa perspectiva de ensino o professor assume a postura de mediador que

entre o aluno e o conhecimento seja na construção, produção ou significado diante

das informações recebidas. De acordo com Silva (2011, p.1), que aborda as

alterações na função social do docente.

O professor não é mais aquele que detém um conhecimento absoluto e dogmático (que não admite questionamentos), mas aquele que organiza a articulação entre o saber e o aluno. Nessa direção, o professor é alçado à condição de mediador, deixando de lado a postura de transmissor de conteúdos e, por conseguinte, assumindo o papel de orientador e de estimulador na construção social do conhecimento do aluno (Silva, 2011, p.1).

O aluno deixa de ser apenas receptor e reprodutor das falas do professor e

dos autores dos livros didáticos passando a ser construtor, produtor social. Segundo

Xavier (2007, p.4) o aluno deixa a postura de “um sujeito passivo, que recebe as

instruções de um professor que supostamente sabe o conteúdo a ser ensinado e,

como num passe de mágica transfere-lhe esse saber”.

Nessas condições de verdadeira aprendizagem ao qual os alunos se

transformam em construtores e reconstrutores do que lhes é ensinado, juntamente

com o professor a interatividade se insere no processo de ensino-aprendizagem o

que gera uma alteração nas relações tradicionais de ensino dando ênfase a

autonomia do discente na construção social do conhecimento.

2.1 Interatividade como estratégia de ensino-aprendizagem.

Para se obter um diferencial no processo de ensino-aprendizagem em

um mundo tão competitivo e sem fronteiras, é necessária a busca constante de

renovação das ideias e de conceitos que quebram paradigmas e aceitação dos

desafios enfrentando as incertezas que cercam o futuro em seus mais distintos

segmentos. Em nosso tempo a interatividade é um desafio explicito para todos os

agentes do processo de comunicação.

Enquanto as instituições que fazem parte da sociedade procuram meios para que

aconteça a interatividade, a escola e os sistemas de ensino permanecem inertes

para uma nova comunicação com os alunos em sala de aula. Muitos educadores já

despertaram para o fato de que a aprendizagem verdadeira, genuína só acontece

com a participação do aluno.

Segundo Marco Silva (v. 26, nº 3, set/dez 2000). Interatividade é um conceito de

comunicação e não de informática. Pode ser empregado para significar a

comunicação entre interlocutores humanos, entre humanos e máquinas e entre

usuário e serviço. No entanto, para que haja interatividade é preciso garantir duas

disposições básicas:

1. A dialógica que associa emissão e recepção como pólos antagônicos e

complementares na co-criação da comunicação;

2. A intervenção do usuário ou receptor no conteúdo da mensagem ou do programa,

abertos a manipulações e modificações.

O professor disponibiliza o conteúdo preparado evoluindo em torno de um

objetivo preconcebido com coerência e continuidade, abrindo um leque de

possibilidades. Quando elementos são acionados pelos alunos garantindo

significações livres sem perder o foco da proposição, permitindo ampliações e

modificações feitas pelos alunos.O aluno cria, modifica, constrói, aumenta e, assim,

se torna co-autor. Essa estratégia educacional pautada na co-autoria, à

interatividade expõe a opção crítica que o professor assume à intervenção, à

modificação , ele constrói um conjunto de territórios a explorar, converte-se em

formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de trabalho,

sistematizador de experiências.

2.2 Sala de aula interativa

O uso da razão foi defendido para se alcançar a liberdade, a autonomia e a

emancipação pelo movimento global, político, social, econômico e cultural, o

iluminismo que manteve a crença que a escola é um lugar destinado a formar

cidadãos esclarecidos, senhores do próprio destino. No entanto na sala de aula o

aluno não participa da construção do conhecimento e da própria comunicação. O

nosso aluno tem conhecimentos sofisticados de informática, é pesquisador ativo e

consumidor de informações que se encontram em sites de pesquisa como google,

bibliotecas e enciclopédias digitais, portais etc., é participante de blogs, fotologs,

videologs, youtube, orkut, etc., adepto da interação virtual MSN, SMS, email e

antenado em tecnologias novas, é um ser humano interativo fazendo parte de um

mundo fascinante, mas o ambiente de sala de aula é totalmente oposto a isso.

Para tornar a escola atrativa e interessante devemos ter uma nova sala de

aula que deve ser conectada, interativa, multimídia, extensível no tempo e no

espaço. Deve ter quadros eletrônicos interativos, teclados e tabletes interativos,

extensibilidade espacial da classe presencial, interatividade pela rede,

extensibilidade temporal da classe presencial.

Segundo Marco Silva para promover a sala de aula interativa, o professor

necessita desenvolver pelo menos cinco habilidades, entre outras:

1. - Pressupor a participação-intervenção dos alunos, sabendo que participar é

muito mais que responder "sim" ou "não", é muito mais que escolher uma

opção dada; participar é atuar na construção do conhecimento e da

comunicação;

2. - Garantir a bidirecionalidade da emissão e recepção, sabendo que a

comunicação e a aprendizagem são produzidas pela ação conjunta do

professor e dos alunos;

3. - Disponibilizar múltiplas redes articulatórias, sabendo que não se propõe uma

mensagem fechada, ao contrário, se oferece informações em redes de

conexões, permitindo ao receptor ampla liberdade de associações, de

significações;

4. - Engendrar a cooperação, sabendo que a comunicação e o conhecimento se

constroem entre alunos e professor como co-criação e não no trabalho

solitário;

5. - Suscitar a expressão e a confrontação das subjetividades, sabendo que a

fala livre e plural supõe lidar com as diferenças na construção da tolerância e

da democracia.

As tecnologias são utilizadas numa sala de aula interativa para ampliar o

acesso à informação aumentando o número de agentes educacionais envolvidos no

processo de ensino-aprendizagem. Todos os envolvidos no processo de

aprendizagem estão no mesmo espaço e tempo empregando intensivamente as

tecnologias de informação e comunicação em suas atividades.

2.3 O processo de ensino-aprendizagem em grupos.

Uma opção didática favorável à aprendizagem é fazer com que os alunos

trabalhem em pequenos grupos e para os próprios Parâmetros Curriculares

Nacionais - PCN (BRASIL, 2002), o trabalho com grupos permite que os estudantes

sejam protagonistas do próprio aprendizado, pois nessa situação é possível:

Promover o máximo de participação individual, o estudo aprofundado de um tema, a

coleta de informações e experiências.

Possibilitar a troca de informações entre os participantes do grupo, a reflexão crítica.

Facilitar o estudo aprofundado de um tema através da pesquisa.

Permitir a participação total e livre, a solução conjunta de problemas, a criatividade,

a coleta de informações e experiências.

Proporcionar a reflexão, o incentivo a cooperação e o debate de ideias entre os

estudantes.

Conforme a tendência pedagógica progressiva libertadora abordada por

Luckesi (1994, p.8):

Assim sendo, a forma de trabalho educativo é o "grupo de discussão a quem cabe autogerir a aprendizagem, definindo o conteúdo e a dinâmica das atividades. O professor é um animador que, por princípio, deve "descer ao nível dos alunos, adaptando-se às suas características e ao desenvolvimento próprio de cada grupo. Deve caminhar "junto", intervir o mínimo indispensável, embora não se furte, quando necessário, a fornecer uma informação mais sistematizada. (Luckesi, 1994, p.8)

O professor deve estar atento ao trabalho em e com o grupo, pois as relações

interpessoais serão mais constantes e demandarão um cuidado em especial. È

importante a compreensão do processo grupal desenvolvidos nos ambientes de

ensino-aprendizagem de Física (sala de aula, laboratórios, etc) em respeito às ações

educativas eficazes do professor para que o mesmo prazer que o aluno tem ao sair

para o recreio ou na hora da saída, esteja presente na sala de aula. Isso permitiria

que o professor favorecesse tanto a aprendizagem dos conteúdos específicos,

quanto o desenvolvimento de habilidades de comunicação e de atuação dos atores

envolvidos. Explorando os pequenos grupos seria possível introduzir na sala de aula

situações de interação e de ensino-aprendizagem pouco contempladas nesses

ambientes onde, em geral os alunos interagem somente com o professor ouvindo-o

ou respondendo às suas perguntas.

2.4 O método Engajamento Interativo.

O método Engajamento Interativo possibilita ao aluno aprender conteúdos por

meio de atitudes, ação e interação dos participantes na aprendizagem que só pode

ser efetiva em contextos significativos. È um método que abrange várias técnicas

educacionais que quando aplicado provoca nos participantes estímulos intelectuais

conjunto por parte de alunos ou de alunos e professores. Para aprender

determinado assunto os alunos trabalham geralmente em grupos, buscando solução

de problemas ou criando produtos.

Na implementação do método engajamento interativo foi levado em

consideração a característica maior participação dos alunos nas atividades em sala

de aula com a técnica Instrução por Pares(IP) escolhida para objeto deste trabalho

dentre outras existentes que proporcionam a interatividade.

2.5 Peer Instruction - Instrução por Pares (IP)

Segundo Araújo e Mazur (2013) a técnica instrução por pares (IP) é baseada

no estudo prévio de materiais disponibilizados pelo professor e apresentação de

questões conceituais em sala de aula, para os alunos discutirem entre si. Seu

objetivo é promover a aprendizagem dos conceitos fundamentais dos conteúdos em

estudo, através da interação entre os alunos. Nessa técnica, as aulas são divididas

em pequenas séries de apresentações orais por parte do professor, focadas nos

conceitos principais para os alunos responderem primeiro individualmente e então

discutirem com seus pares. Após uma exposição oral (aproximadamente 15 minutos)

o professor apresenta aos alunos uma questão conceitual, de preferência de múltipla

escolha que tem como objetivos promover e avaliar a compreensão dos estudantes

sobre os conceitos apresentados.

É pedido para cada aluno pensar sobre a alternativa que considera correta e

em uma justificativa para sua escolha (aproximadamente 2 minutos). Na sequência,

é aberta a votação para mapeamento das respostas dos alunos à referida questão.

Usualmente a votação é feita por meio de algum sistema de resposta como

flashcards (cartões de resposta) ou clickers, espécie de controles remotos

individuais que comunicam por radio frequência com o computador do professor. As

figuras ilustram esses instrumentos.

(a) (b)

(a) Exemplo de um cartão de resposta (flashcard) com a letra “A” representando a alternativa escolhida. (b) Receptor de radiofrequência USB e sistema remoto de resposta (clicker). Por exemplo, o aplicativo web Learning Catalytics2 permite aos estudantes Analisando as respostas informadas, mas ainda sem indicar a correta aos

alunos, o professor decide entre:

1ª. A maioria dos alunos escolhe o item correto, isso indica uma boa compreensão

da turma. O professor então resolve rapidamente o problema e dá continuidade à

aula expositiva. Essa opção é aconselhada se mais de 70% dos estudantes votarem

na resposta correta.

2ª. Se a maioria escolhe uma resposta incorreta, o professor discute novamente o

assunto e um novo Teste Conceitual pode ser apresentado ao final da nova

explicação. Essa é a opção indicada se menos de 30% das respostas estiverem

corretas.

3ª. Se o percentual de acertos obtidos na primeira votação estiver entre 30% e 70%.

Neste caso a interação entre os alunos torna-se importante, preferencialmente que

tenham escolhido respostas diferentes, pois o professor instrui os alunos a

convencerem o colega de que sua resposta é a correta. O tempo despendido nesta

etapa costuma ser de três a cinco minutos, dependendo do nível de discussão

alcançada. Após a discussão a questão é votada novamente, em geral o número de

respostas aumenta consideravelmente, mostrando que os estudantes podem se

agrupar em instrução por pares.

A técnica Instrução por Pares (IP), descrita por Mazur e Somers(1997), pode

ser dividida em nove momentos principais:

1. Breve apresentação oral sobre os elementos centrais de

um dado conceito ou teoria é feita por cerca de 20

minutos.

2. Uma pergunta conceitual, usualmente de múltipla

escolha, denominada Teste Conceitual, é colocada aos

alunos sobre o conceito (teoria) apresentado na

exposição oral.

3. Os alunos têm entre um e dois minutos para pensarem

individualmente, e em silêncio, sobre a questão

apresentada formulando uma argumentação que

justifique suas respostas.

4. Os estudantes, através de algum sistema de votação

(clickers, flascards), informam suas respostas ao

professor.

5. De acordo com a distribuição de respostas, o professor

pode passar para o passo seis (quando a frequência de

acertos estiver entre 35% e 70%), ou diretamente para o

passo nove (quando a frequência de acertos for superior

a 70%).

6. Os alunos discutem a questão com seus pares por cerca

de dois minutos.

7. Os alunos votam novamente, de modo similar ao

descrito no passo 4.

8. O professor tem um retorno sobre as respostas dos

alunos após as discussões e pode apresentar o

resultado da votação aos alunos.

9. O professor, então, explica a resposta da questão aos

alunos e pode apresentar uma nova questão sobre o

mesmo conceito ou passar ao próximo tópico da aula,

voltando ao primeiro passo. Essa decisão dependerá do

julgamento do professor sobre a adequação do

entendimento atingido pelos estudantes a respeito do

conteúdo abordado nas questões.

O diagrama mostrado na figura ilustra o processo de aplicação da técnica Instrução

por Pares (IP).

Diagrama do processo de implementação da técnica IP (Peer Instruction). Em destaque, a etapa conhecida como ConcepTest. Adaptado de Lasry, Mazur e Watkins (2008).

O Teste Conceitual permite uma pausa da exposição do material

possibilitando ao aluno que mantenha sua atenção, faça uma auto-avaliação de

seus conhecimentos (importante para habilidades metacognitivas), ao professor uma

avaliação da turma. A técnica instrução por pares possibilita aos alunos uma

oportunidade de aprenderem uns com os outros, de articularem verbalmente suas

ideias e de praticarem a comunicação com seus pares.

2.6 O uso da experimentação.

O primeiro passo para atividade experimental em Física é o encontro do

aprendiz e um determinado fenômeno que ele vai tentar compreender ou com o qual

vai interagir. Para que o estudante esteja motivado a resolver um problema, é

necessário que esse problema tenha significado para ele e ele de alguma forma se

envolva no seu desenvolvimento. O ensino da Física deve ser baseado na pesquisa,

ou descoberta pelos estudantes de algo através de suas próprias ações e

sistematização das observações através do pensamento.

As atividades devem ser elaboradas para demonstrar ou simular um

fenômeno físico, por meio das quais os estudantes estimulam os sentidos e a

percepção. As sensações provocadas durante o desenvolvimento das atividades

buscam envolver o estudante emocional e afetivamente, por meio do estímulo à

reflexão e ao interesse pelos assuntos estudados, privilegiando o aspecto lúdico, a

interatividade, a participação, a experimentação, a criatividade e a abordagem

construtivista na apropriação do conhecimento (Rocha, Lemos e Schall, 2010).

As atividades experimentais ocupam um papel importante num ensino que

procura proporcionar condições para que o estudante construa seu conhecimento,

colocando em conflito suas ideais prévias a partir do que observa em situações

experimentais, contando com a mediação dos colegas e do professor. Cabe ao

estudante o envolvimento na atividade experimental de forma ativa, reflexiva e

voluntária, levantar hipóteses, fazer registros individual escrito e colocar esses

registros aos outros alunos para elaboração de um registro negociado coletivo. As

atividades experimentais tornam a aprendizagem mais significativa, suscitando o

interesse, promovendo uma atitude crítica, estimulando a curiosidade e valorizando

a interação entre diversas áreas do conhecimento, servem como uma ferramenta de

apoio ao trabalho que se realiza na sala de aula aumentando a compreensão de

fenômenos científicos, desenvolvem atitudes favoráveis em relação à ciência;

mostram a utilidade da ciência e da tecnologia, constituem uma fonte de motivação;

apontam para o caráter experimental da física e sua relação com a vida cotidiana,

reforçam as habilidades criativas; estabelecem vínculos entre o formalismo científico

e a realidade permitindo introduzir uma perspectiva histórica no processo de ensino

e aprendizagem.

3. Estratégias de ação

A seguir descreveremos a dinâmica da implementação do método

engajamento interativo com a técnica instrução por pares em sala de aula onde foi

exposto o conteúdo sobre termologia. A cada dia da implementação foi preparado

um procedimento experimental, providenciado todo o material para realização da

experiência no laboratório de física, Nas primeiras implementações o professor

realizou o experimento seguindo o procedimento, expondo para os alunos o

acontecimento do fenômeno, após houve uma breve exposição dos conceitos físicos

envolvidos. Para verificar a aprendizagem foi aplicado um teste conceitual de

múltipla escolha sobre os conceitos físicos envolvidos, como o número de acertos

estava entre 30% e 70% do número de alunos participantes foi aplicado a técnica

instrução por pares de Eric Mazur, após os pares interagirem e novamente aplicado

outro teste conceitual, registramos que o número de acertos foi superior a 70 %

possibilitando que o professor prosseguisse com o conteúdo.

Considerando que as atividades experimentais tornam a aprendizagem mais

significativa nas implementações seguintes propusemos aos alunos que formassem

grupos com quatro elementos e de posse do procedimento e do material necessário

realizassem o experimento e anotassem suas conclusões.

Quando todos os grupos terminavam de realizar o experimento, foi feita uma breve

explanação dos conceitos físicos, após aplicamos um teste conceitual para verificar

o entendimento. Notamos que aumentou o número de acertos em relação ao

número de alunos participantes. não havendo nenhum resultado insatisfatório,

inferior a 30%, ou estavam entre 31% a 70% ou maiores que 70%.

4. Considerações finais

Através da união dos sentidos sensoriais: audição, tato, paladar, olfato e visão

os seres humanos tem a percepção de mundo facilitando a retenção do

conhecimento que é captado pelas células sensoriais e interpretado pelo celebro.

O uso do método engajamento interativo com a técnica instrução por pares

estimula o educando para aprendizagem explorando os sentidos sensoriais ao

mesmo tempo, facilitando a interpretação do cérebro no processo cognitivo.

Partindo da premissa que aprendemos com nosso corpo preparamos a realização

de experimentos que acontecem no cotidiano do aluno contextualizando a área de

termologia .

Em todos as atividades propostas os alunos participaram ativamente

prestando atenção na explanação dos conceitos físicos em sala de aula, seguindo

os procedimentos para realização dos experimentos em laboratório, respondendo as

questões conceituais, reelaborando seu aprendizado através da técnica instrução

por pares. As aulas ministradas em relação ao método engajamento interativo de

Eric Mazur foram sobre: história da termologia, temperatura e calor, escalas

termométricas, construção de um termômetro, transmissão de calor, capacidade

térmica, mudança de fase, pescando gelo com um barbante, água com gelo pode

evaporar, mudança de estado da água, calor sensível e calor latente, pressão e

volume com experiência com título copinho mágico, regelo, a fusão da água com

temperatura constante, lei de Charles relacionando volume e temperatura.

Nas implementações realizadas no turno em sala de aula após a exposição

dos conceitos físicos para os vinte e oito alunos do segundo ano do ensino médio,

depois de respondido o teste conceitual, 30% dos alunos conseguiam acertar a

resposta correta, aplicando a técnica instrução por pares depois de interagirem 90%

dos alunos responderam corretamente há um novo teste conceitual.

Foram feitas em contraturno quatorze implementações em aulas

experimentais com roteiro para que os alunos desenvolvessem as experiências no

laboratório, após aula expositiva curta, responderam a questão conceitual, onde dez

implementações obtiveram resultado positivo e quatro resultado insatisfatório sendo

realizadas novas implementações. Em relação à esse número de implementações

foi obtido 75% de aprovação da técnica instrução por pares.

Observamos que o método engajamento interativo torna a aprendizagem eficaz e

atrativa para o aluno representando uma inovação da qualidade de ensino usado no

processo de ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Ives Solamo e MAZUR, Eric. Instrução por colegas e ensino sob

medida: Uma proposta para o engajamento dos alunos no processo de ensino

aprendizagem de Física. spon e e

ttps per od os s r nde p p s a - n p . Acesso

em 26/09/2013

BAQUERO, Ricardo. Vygotski e a aprendizagem escolar. Trad. Ernani

F. da Fonseca Rosa. – Porto Alegre: Artes Médias, 1998.

BARBOSA, Augusto César de Castro e CONCÓRDIO, Cláudia Ferreira Reis.

Ensino colaborativo em ciências exatas. Revista Eletrônica do Mestrado

Profissional em Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente, Ensino, Saúde e

Ambiente, v.2 n.3 p 60 -86 dezembro 2009. Disponível em

www.ensinosaudeambiente.com.br/edicoes/.../Texto%205%20Augusto.p... Acesso

27/11/2013.

BARROS, Acacio de et al. Engajamento interativo no curso de Física I da UFJF.

Revista Brasileira de Ensino Made Física, v. 26, n. 1, p. 63-69 (2004). Disponível em

www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/v26_63.pdf . Acesso em 25/05/2013.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica.

Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: MEC/SEMTEC, 1999.

4v.

CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. et al. Termodinâmica: um ensino por ação.

São Paulo. Fé/USP, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática

educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. 14 Ed. São Paulo: Cortez. 1994.

MAZUR, Eric e SOMERS, M.D. Peer instruction: A user' manual. Upper Saddle

River, N.J. Prentice Hall, 1997. 253 p.

PARANÁ, Secretaria do Estado de Educação. Diretrizes Curriculares da Educação

Básica (DCE). Física. 2008

SANTOS, Carmi Ferraz. Letramento e ensino de História: os genêros textuais no

livro didático de História. In: Anais do 4º Simpósio Internacional de Estudos de

Gêneros

SILVA, Silvio Profirio e ARCANJO, Jacineide Gabriel. Uma perspectiva histórica da

prática pedagógica. Revista Presença Pedagógica, Minas Gerais, set/out.,2012

SILVA, Marco. Falta interatividade; Revista Carta na Escola, São Paulo, jan/2012

SILVA, Marco. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.

SILVA, Marco. Que é interatividade?", Boletim Técnico do SENAC, Rio de Janeiro, v. 24,

n.º 2, mai./ago., 1998.

VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2010.