OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Primeiramente será realizada uma entrevista...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: Memória, História e Cultura: Trabalhando a Ressignificação dos Conceitos Históricos a partir do cotidiano, experiência e cultura popular dos alunos da EJA de Cornélio Procópio- uma relação dialética entre

teoria e prática.

Autora: Roseane Mara de Souza Bonfim

Disciplina/Área:

(ingresso no PDE)

História

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

CEEBJA de Cornélio Procópio

Município da escola: Cornélio Procópio

Núcleo Regional de Educação: Cornélio Procópio

Professor Orientador: Marcio Luiz Carreri

Instituição de Ensino Superior: IES

Resumo:

A relevância deste trabalho está na

compreensão do desenvolvimento de

metodologias que favoreçam um ensino de

História comprometida com a inserção da

história de vida dos alunos da EJA,

valorizando seu cotidiano para que possam

assim através do meu trabalho ter uma nova

visão de mundo. O cotidiano está relacionado

com a possibilidade de que os alunos possam

perceber como suas vidas fazem parte da

História como um todo. Será realizada uma

entrevista com os alunos acerca da

compreensão que eles possuem sobre esses

conceitos. Trabalharei os conceitos a partir de

autores como: Williams, Thompson, Nora,

Halbwachs, Bakhtin, Ginzburg e a partir deles

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traremos a construção que se tem da ciência

sobre esses conceitos. A partir dai poderá ser

possível perceber como anteriormente eram

pensados tais conceitos e como eles foram

reelaborados, ou seja, ressignificados dado

um novo sentido a partir do trabalho realizado

com base nos autores para que finalmente o

aluno possa perceber que existe sim uma

relação entre o saber popular e o

conhecimento científico lhe possibilitando ter

uma nova visão de mundo. Utilizarei para este

trabalho a entrevista oral com os alunos.

Palavras-chave:

História, Memória, Cultura.

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público:

Alunos da EJA

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1 APRESENTAÇÃO

O presente material didático pedagógico é resultado do projeto desenvolvido

dentro do Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná-PDE, para

atendimento da formação continuada dos professores da rede pública estadual de

ensino do Paraná. A relevância deste trabalho está na compreensão do

desenvolvimento de metodologias que favoreçam um ensino de História

comprometida com a inserção da história de vida dos alunos da EJA, valorizando

seu cotidiano para que possam assim através do meu trabalho ter uma nova visão

de mundo. Trabalhando com os autores como: Williams, Thompson, Nora,

Halbwachs, Bakhtin, Ginzburg eles poderão compreender esses conceitos

significativos como História, Memória e Cultura e ressignificá-los, ou seja, poderão

compreender de uma nova maneira e a partir de então dar um novo sentido ao que

já estava formatado em seu sistema de valores. É ressignificando suas definições

sobre Memória, História e Cultura que ele desenvolverá capacidades de

compreender as circunstâncias da vida.

Pois, quando o significado for modificado ele também mudará a sua

forma de agir, ou seja, a sua prática. Sendo a prática algo material ela provoca nos

sujeitos mudanças no seu modo de agir que possibilitará aos alunos se perceberem

como sujeitos de sua própria história capaz de reescrevê-la. Desenvolvendo assim,

uma consciência histórica critica permitindo que ele formule outros pontos de vista

históricos. A consciência histórica cujo objetivo é dar identidade aos sujeitos e

fornecer à realidade em que eles vivem uma dimensão temporal, uma orientação

que pode guiar a ação, seja de forma intencional ou por meio da mediação da

memória histórica. Assim buscarei recuperar a vivência pessoal e coletiva do aluno

enxergando-o como um participante da realidade histórica objetivando transformar

com conhecimento histórico.

O trabalho com a História Cultural realizado por alguns autores no qual

trabalharei, fez surgir novas possibilidades novos olhares, trazendo a tona o

individuo enquanto sujeito histórico, recompondo histórias de vida, particularmente

aquelas pertencentes às camadas populares. A história oral privilegia a experiência

de vida daqueles que narram suas histórias, assim buscarei as singularidades das

trajetórias pessoais e da visão de mundo de cada um.

Considerando que muitos dos meus alunos se sentem excluídos da

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sociedade e não se enxergam como um ser histórico que possui sua própria história

de vida senti a necessidade de lhes permitirem que contem sua história. Assim irão

perceber que são importantes dentro do processo histórico que vivemos. A cultura

deve ser entendida como cultura popular, isto é, a valorização do seu cotidiano, de

sua experiência de vida e de suas práticas. Pretende-se assim voltar à atenção para

as pessoas “comuns” na qual Thompson busca reconstruir as experiências dessas

pessoas consideradas “comuns” dando importância a sua história.

Pois a partir do momento em que compartilharem sua história de vida poderão

entender que a história não é construída apenas por heróis, reis, rainhas, políticos

como contam os livros. Mas mostrar que sua experiência de vida é fonte de

conhecimento. Sendo assim, é importante que se preserve a memória daqueles que

não tem lugar nos manuais de história.

2 METODOLOGIA

Primeiramente será realizada uma entrevista com os alunos acerca

da compreensão que eles possuem sobre os conceitos de Memória, História e

Cultura, na qual responderão algumas questões utilizando seus conhecimentos

prévios. Na etapa seguinte trabalharíamos tais conceitos a partir de autores como:

Williams, Thompson, Nora, Halbwachs, Bakhtin, Ginzburg e a partir deles traremos a

construção que se tem da ciência sobre esses conceitos. Utilizarei para trabalhar

esses autores textos que abordam o conceito de cultura, memória e História. Junto

com os textos realizaremos debates e questionamentos em sala de aula.

A partir dai poderá ser possível perceber como anteriormente eram

pensados tais conceitos e como eles foram reelaborados, ou seja, ressignificados a

partir do trabalho realizado com base nos autores para que finalmente o aluno possa

perceber que existe sim uma relação entre o saber popular e o conhecimento

científico para que assim possa ressignificar seus conceitos de História, Memória e

de Cultura, dando um novo significado para que ele possa ter uma nova visão de

mundo.

Em seguida farei a entrevista novamente com os alunos para que ao final

do projeto ele possa perceber os resultados dos diversos procedimentos que foram

realizados nas suas etapas para se chegar à conclusão dessa relação entre o

conhecimento cientifico e o saber popular sendo apresentando o resultado para os

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demais alunos. E finalmente trabalharei com a sua história oral de vida utilizando a

sua memória e sua experiência para que ele possa ressignificar o vivido, e organizar

seu ponto de vista.

3 TRABALHANDO CONCEITOS

3.1 HISTÓRIA E MEMÓRIA

De acordo com Pierre Nora, História e Memória não são sinônimos

e uma opõe a outra. A memória é a vida, sempre carregada por grupos vivos e

nesse sentido, ela está em permanente evolução, aberta a lembrança e ao

esquecimento. A história é a reconstrução sempre problemática e incompleta do que

não existe mais. Conforme Nora (1981):

A memória é vida, sempre carregada por grupos vivos e, nesse sentido esta em permanente evolução aberta à dialética da lembrança e do esquecimento, inconscientes de suas deformações sucessivas, vulnerável a todos os usos e manifestações, suscetível de longas latências e de repentinas revitalizações.

Sendo assim trabalhar a história de vida dos alunos possibilita

compreender que tudo o que é chamado de história é memória, pois partilhando a

história de vida ele estará mergulhando na memória, ou seja, irá reviver sentimentos

e situações que talvez sejam intocadas por muito tempo. A memória é um fenômeno

atual, um elo vivido no eterno presente, à história é uma representação do passado.

A memória não se preocupa com detalhes, ela se alimenta de lembranças vagas. A

memória emerge de um grupo que ela une sendo por natureza múltipla e

desacelerada, coletiva, plural e individualizada. Já a história é ao contrario pertence

a todos e a ninguém, só se liga as continuidades temporais, às evoluções e as

relações das coisas. A memória é um absoluto e a história só conhece o relativo. Na

mistura, a memória que dita e a história que escreve. Tudo aquilo que se considera

memória, para Nora é, história.

Para ele existem lugares particularmente ligados à tarefa de fazer

recordar um determinado passado, pois a memória é seletiva, nem tudo é lembrado,

nem tudo é gravado, nem tudo é registrado, ou seja, para lembrar é necessário

esquecer. Dessa forma pode-se entender que a memória é a representação do

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passado.

De acordo com Halbwachs, a memória apoia-se sobre o “passado

vivido”, o qual permite a constituição de uma narrativa sobre o passado do sujeito de

forma viva e natural, mais do que sobre o passado apreendido pela história escrita.

Em Halbwachs, a memória histórica é compreendida como a sucessão de

acontecimentos marcantes na história de um país, não se preocupando com

detalhes. Ele aponta que as lembranças podem, a partir da vivência em grupo, ser

reconstruída. E que através das lembranças do passado que se explora o significado

da experiência vivida. E que ao entrar em contato com as lembranças de outros,

sobre pontos comuns em nossas vidas, acabamos por expandir nossa percepção do

passado, contando com informações dadas por outros integrantes do mesmo grupo.

Para além da formação da memória, Halbwachs aponta que as lembranças podem,

a partir desta vivência em grupo, ser reconstruídas ou simuladas. Podemos criar

representações do passado assentadas na percepção de outras pessoas, no que

imaginamos ter acontecido ou pela internalização de representações de uma

memória histórica.

A lembrança, de acordo com Halbwachs, é uma imagem engajada

em outras imagens. A princípio a memória pode parecer ser um fenômeno de cunho

pessoal, pois cada indivíduo possui lembranças de sua trajetória de vida, no entanto

Maurice Halbwachs demonstrara-nos que, talvez, o aspecto mais importante da

memória seja o seu caráter social, como um fenômeno que é construído de forma

coletiva na qual pode sobre transformações e mudanças,

Afirmando que não há memória que seja somente imaginação pura e

simples ou representação histórica que tenhamos construído que nos seja exterior,

isto é, todo este processo de construção da memória passa por um referencial que é

o sujeito. Conforme Nora, o significado histórico da palavra memória está

relacionado ao passado já vivido. Sendo ela de fundamental importância para a

construção de identidades sociais, pois cada grupo, a partir de suas tradições,

constrói sua memória. Assim a memória constitui um elemento essencial da

identidade, da percepção de si, e dos outros. Baseando-se nas ideias de Maurice

Halbwachs a memória pode apresentar de forma documentada ou através da

oralidade, por meio de depoimentos, testemunhos entre outros. A oralidade é uma

fonte muito maior que as fontes documentadas.

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Como diz Thompson (1998) “à história oral é uma história construída em

torno das pessoas. Pois as experiências cotidianas que permite que as pessoas

contribuam para o seu fazer-se”. Ela lança a vida para dentro da própria história e

isso alarga o seu campo de ação. Admite heróis vindos não só de líderes, mas

dentre a maioria desconhecida do povo. Mostra também que a história estuda a vida

de todos os homens e mulheres com o objetivo de recuperar o sentido das

experiências individuais e coletivas.

Neste sentido Thompson apresenta sua preocupação com os visto de baixo:

“Estou procurando resgatar o pobre descalço, o agricultor ultrapassado, o tecelão do tear manual “obsoleto”, o artesão “utopista” e até os seguidores enganados de Joana Southcott, da enorme condescendência da posteridade. Suas habilidades e tradições podem ter-se tornado moribundas. Sua hostilidade ao novo industrialismo pode ter-se tornado retrógrada. Seus ideais comunitários podem ter-se tornado fantasias. Suas conspirações insurrecionais podem ter- se tornado imprudentes. Mas viveram nesses períodos de extrema perturbação social, e nós, não”.

Sendo assim o autor deixa claro sua preocupação em recuperar as

experiências das pessoas comuns, pois são as experiências cotidianas que irão

permitir que as pessoas contribuíssem para o seu fazer-se. É dando voz às histórias

desses sujeitos, que eles irão perceber que são sujeitos de sua história.

Dessa maneira, podemos perceber que a História é portadora da

possibilidade de levar o aluno a estabelecer relações e produzir reflexões sobre

culturas, espacialidades e temporalidades variadas através da construção de noções

que contemplem os seus valores e os de seu grupo, desenvolvendo para isto

relações cognitivas fazendo com que o aluno participe de forma ativa na sociedade e

tenha uma nova visão de mundo.

3.2 CULTURA E CULTURA POPULAR

Raymond Williams, afirma que todo o modo de vida é cultura na qual seu

autor encontra-se emerso. Cultura é história, ela organiza valores e significados da

sociedade e também institui outros valores e significados ao fazer isto. Cultura é

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construída através do dialogo no dia a dia. Como afirma Williams “A Cultura é de

todos nós, em todas as sociedades e em todos os modos de pensar”. É nessa

interação social que toda a cultura é construída, ou seja, a cultura é produzida por

toda a sociedade. Para Williams a cultura não é um produto cuja especificidade se

desloca do todo, mas esta em relação direta com este todo. Williams deixa claro sua

posição quando afirma que:

Não há possibilidade de se chegar a uma cultura comum por meio da difusão e extensão dos valores de um grupo específico a todos os outros. Dada à sociedade que temos, esses valores seriam certamente os da classe dominante a questão é dar condições para que todos sejam produtores de cultura e não apenas consumidores de uma versão escolhida por uma minoria. (Cevasco, 2003, p.54).

Sendo cultura para Williams todo o modo de vida, ele nos mostra a

necessidade de acabar com as divisões sociais, respeitando toda a tradição cultural

onde coloca que não é apenas uma minoria, ou seja, a elite que possui cultura, mas

que é algo comum a toda a sociedade.

Dessa maneira a cultura articula instituições, interfere na política,

faz girar o capital, promove valores e contesta outros; enfim faz parte da vida

cotidiana e participa da vida de todos nós. Toda sociedade humana tem sua própria

forma, seus próprios propósitos, seus próprios significados, mostrando que a cultura

é de todos. Para Williams a cultura é experiência ordinária, que designa os

significados comuns a uma sociedade humana, seus modos de vida e também sua

produção artística e intelectual.

Cultura é uma resposta aos acontecimentos que constituem o que

viemos a definir como indústria e democracia na qual provocaram mudanças na vida

comum. Sem ela não conseguiremos entender quem somos e para onde vamos.

Mostra que todo modo de vida faz com que damos sentido às nossas instituições

práticas e relações, ou seja, à sociedade na qual estamos inseridos. Williams deixa

claro que cultura como modo de vida e cultura como produto artístico não se

separam, pois o valor atribuído esta no significado coletivo de ambos. Assim a arte

deve ser analisada com o um processo social não separado de sociedade, pois a

arte é tão cultural quanto às demais práticas humanas. Dessa forma entende-se que

cultura produz realidade. Ela não morre a cultura esta por todo lugar e em todos os

tempos, ou seja, onde está o homem lá com certeza estará à cultura.

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Dois autores consagrados como Mikhail Bakhtin e Carlos Ginzburg

realizaram trabalhos fundamentais para a compreensão do que chamamos de

Cultura Popular. Bakhtin reconhece na cultura popular ideais de liberdade e

universalidade. Bakhtin tenta enfocar o perfil de como a cultura popular foi

direcionada por um intelectual do porte de Rabelais. Analisa e desvenda

manifestações da cultura popular entre elas: festas, cerimônias, banquetes, jogos,

vocabulário entre outros. O carnaval tem um destaque importante nesses estudos,

pois representa a própria vida do povo baseado no principio do riso. Bakhtin se

preocupa em definir uma cultura e não uma sociedade, ou seja, busca entender a

visão de mundo da cultura cômica popular, e não refletir sobre a relação entre os

seus valores e a sociedade da qual faz parte. Mikhail Bakhtin, Carlo Ginzburg amplia

o conceito de cultura popular para uma discussão sobre o processo de circularidade

cultural. Valorizando a cultura de pessoas comuns e deixando claro que a cultura

popular é dinâmica podendo inclusive influenciar numa cultura dita hegemônica. O

conceito de Bakhtin de circularidade permanece atual mostrando que para se pensar

a cultura contemporânea mesmo nas sociedades burguesas existem expressões

culturais que se relacionam e se interagem de varias maneiras influenciando umas

as outras.

Bakhtin via a cultura popular como a mais importante inspiração da

produção literária deixando claro que é da cultura popular que se apreende uma

sabedoria especial, uma ética de múltiplas possibilidades. Coloca que a cultura

popular é acessível ao maior número de pessoas e nem sempre tem igual

tratamento, pois se privilegia a história oficial e das elites.

Ginzburg também mostra em suas obras os desníveis culturais que

existiam nas ditas sociedade civilizadas. No entanto, o uso da palavra cultura no

intuito de descrever crenças, atitudes e comportamentos próprios das classes

subalternas, foi de ocorrência relativamente tardia e surgiu do âmbito da

Antropologia Cultural. Só através do conceito de "cultura primitiva" é que se chegou

de fato a reconhecer que aqueles indivíduos outrora definidos de forma paternalista

como "camadas inferiores dos povos civilizados" possuíam cultura. A consciência

pesada do colonialismo se uniu assim à consciência pesada da opressão de classe,

podendo assim superar as antigas concepções de folclore como simples coleções

de curiosidades, ou concepções que viam as práticas culturais das camadas

subalternas como sombras das ruínas da cultura erudita. Ginzburg constata ainda

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que a aproximação da história com a temática do popular é recente. As ideias ou

crenças originais eram produtos das classes dominantes, e a difusão entre as

classes subalternas não era interessante às ideias ou crenças sofreram deformação

durante o processo de transmissão.

Ginzburg em sua obra O queijo e os vermes retrata a vida de um moleiro

alfabetizado que tinha contato com o mundo das letras e nem por isso perdeu sua

cultura. Esse contato realçou a sua forma de pensar e interpretar os fenômenos

religiosos e a religiosidade. Mostrando assim que devemos respeitar e valorizar as

várias culturas, e que a pessoa simples tem também a sua história de vida com suas

experiências.

4 ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS ALUNOS.

1. Qual a sua profissão?

2. Qual a série você esta cursando hoje?

3. O que levou você no passado a parar de estudar?

4. Que motivos fizeram com que você retornasse para a escola?

5. O que você espera com os estudos?

6. O que você entende por História?

7. Você se considera um sujeito da História? Justifique

8. O que é memória pra você?

9. Você acha importante preservar a memória? Por quê?

10. O que é cultura para você?

11. Você acha que tem cultura? Justifique.

12. Conte um pouco de sua experiência de vida.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo por estar em constante transformação acaba por

desvalorizar os valores culturais. Com o projeto pretendo fazer com que o aluno

possa entender o significado de cultura e compreender suas raízes culturais.

Fazendo-o refletir sobre sua própria cultura percebendo a importância de mantê-la

viva na memória, valorizando a cultura de forma a preservar sua identidade. E que

ao final do projeto ele possa ressignificar sua história de vida mudando sua visão de

mundo entendendo que é um sujeito da história capaz de modificar a sociedade em

que vive.

Cada individuo é peça fundamental dentro da história, por isso,

vale refletir sobre o papel dos indivíduos alçados à condição de heróis, levantando

questões sobre como essas imagens são construídas, as representações de uma

memória coletiva, os processos de esquecimento e omissão de outros personagens

e suas lutas em especial as ligadas a movimentos populares. Sendo assim os

estudos históricos devem contribuir, para que a partir de suas próprias vivências

sociais e do estudo de outros povos e culturas reflitam sobre a ética, e os princípios

humanísticos.

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REFERÊNCIAS

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PARANÁ. Secretária de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de História para a Educação Básica. Curitiba. SEED, 2008.

BITTERCOURT, Circe Maria Fernandes (Org.). O Saber Histórico na sala de aula. Sete ed. São Paulo: Contexto, 2002. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica da Educação de Jovens e Adultos. Curitiba: SEED, 2008. CEVASCO, Maria Elisa. Dez Lições sobre Estudos Culturais. São Paulo: Boi Tempo, 2003. POSCARO, Rosa Cristina. A História da Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Disponível em <http://www.histedbr.fal.unicamp.br> Acesso em: 20 abr. 2013. NAVARRO, Edneia Fátima. Políticas Públicas de educação de Jovens e Adultos no Brasil: Breve Histórico. Disponível em <http://www.histedbr.fal.unicamp.br> Acesso em: 12 abr. 2013. WILLIAMS, Raymond. Cultura e Sociedade: de Coliridge a Orwell; tradução de Vera Joscelyne. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. LIMA, Raquel Souza. O conceito de cultura em Raymond Williams e Edward P. Thompson: breve apresentação das ideias de materialismo cultural e experiência. Disponível em: http://www.historia.uff.br/cantareira/novacantareira/artigos/edicao8/artigo02.pdf Acesso em: 18/06/2013. THOMPSON, E. P.A Formação da Classe Operária Inglesa, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, 3 vol. THOMPSON, E. P. Costumes em Comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

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