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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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DO MUNDO DA LEITURA PARA A LEITURA DE MUNDO: UMA

PRÁTICA PEDAGÓGICA COM O GÊNERO MÚSICA

Vania do Nascimento Ricardo1

Íria Marjori S. Reisdorfer2

RESUMO: O presente artigo é resultado da aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica “Do

Mundo da Leitura para a Leitura de Mundo: uma Prática Pedagógica com o Gênero Música”, no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). O objetivo deste trabalho foi utilizar o gênero música como um recurso didático de incentivo à leitura, nas aulas de Língua Portuguesa. O trabalho foi direcionado com base em uma perspectiva sócio-interacionista da linguagem (Koch, 2006; Marcuschi, 2005; 2008). Para a aplicação do trabalho, algumas músicas foram selecionadas: Asa Branca, de Luiz Gonzaga; Pra não dizer que não falei das flores (Caminhando), de Geraldo Vandré e Herdeiros do Futuro, de Toquinho. O trabalho foi dividido em cinco etapas onde, em cada delas, diferentes atividades envolvendo o gênero música foram trabalhadas, tendo como objetivo central o incentivo à leitura. O trabalho foi aplicado na cidade de Antonina, Estado do Paraná, no Colégio Estadual Rocha Pombo, com alunos dos sextos anos. Os resultados foram bastante satisfatórios, e constatou-se que as atividades envolvendo a música trazem um bom resultado de incentivo à leitura e, também, para o desenvolvimento da competência leitora.

PALAVRAS- CHAVE: Leitura. Compreensão textual. Ensino-aprendizagem. Música.

1 INTRODUÇÃO

O tema elencado “Do mundo da leitura para a leitura de mundo: uma prática

pedagógica com o gênero Música” se justifica pelo número expressivo de alunos que

apresentam o desinteresse pela leitura; que quase sempre se dá de forma obrigatória

gerando, consequentemente, um certo desinteresse, por parte do aluno, ao ato de ler,

conforme nos aponta Villardi (1997, p. 4) em sua obra:

“(...) é visível que à medida que os alunos avançam na escolaridade, a ligação que eles têm com a leitura é menor; como se os procedimentos pedagógicos adotados, ao invés de aproximar os estudantes, fossem, aos poucos, afastando-os dos livros, criando entre eles uma relação de enfado e desinteresse”.

1 Professora PDE, licenciada em ‘Letras-Português e Literaturas’ e em ‘Artes Visuais’, especialista em ‘Interdisciplinaridade’ e ‘Português e Literaturas’. Vinculada ao Colégio Estadual Rocha Pombo, Antonina/Paraná. E-mail: [email protected] 2 Professora orientadora, Mestre em Linguística. Vinculada ao departamento de Letras da Universidade Estadual do Paraná, Campus de Paranaguá. E-mail: [email protected]

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Sabemos que a leitura é extremamente importante para o desenvolvimento do

indivíduo, pois é ela que o auxilia na construção das significações do mundo o qual

está imerso, relacionando as experiências de seu mundo no ato de ler.

Koch (2006), em sua obra, menciona que, ao lermos, ativamos um lugar social,

vivências, relações com o outro, valores da comunidade, conhecimentos textuais, etc

e que o sentido de um texto não estaria apenas no texto, nem no leitor, mas na

interação entre autor-texto-leitor.

Diante disso, este trabalho foi pensado e elaborado com a proposição de

incentivar, através da música, o hábito da leitura.

Sabemos que a escola possui uma grande responsabilidade no

desenvolvimento do hábito de ler, assim como, na competência leitora do sujeito e

que cabe, consequentemente, ao professor auxiliar neste incentivo e

desenvolvimento.

Marcuschi (2008) defende que o ensino da língua portuguesa seja focado na

exploração dos gêneros textuais, nas modalidades da língua falada e escrita, pois,

conforme nos aponta o autor, estes serão presumivelmente mais bem-sucedidos, visto

que os alunos obtêm capacidade de se expressar distintamente nas manifestações às

quais sejam expostos. Nesse sentido é que o gênero Música foi elencado.

Os gêneros textuais, conforme nos apresentam Koch (2005); Marcuschi,

(2008), no âmbito da Linguística Textual, são inter-relacionados à competências

sociais e cognitivas de comunicação, que são produzidas, compreendidas e

regularizadas por sujeitos nas diversas práticas sociais. Dessa forma, estão

associados conhecimento, linguagem e práticas comunicativas para a verificação das

variadas ações sociais mediadas pela linguagem e efetivadas textualmente na forma

de gêneros do discurso/textuais.

A partir desta concepção, a proposta de trabalho aqui exposta, com o gênero

textual “música”, leva em conta os diálogos que se constituem entre as linguagens

existentes, a partir da música.

Nas palavras de Bürman et al. (2002, p. 84):

[...] as canções constituem um recurso autentico, flexível e lúdico que permite, mediante uma adequada exploração didática, criar contextos do uso da língua significativos para os estudantes. Seu potencial didático pode se analisar em relação com suas características como amostras da língua ‘em todos os níveis da analise linguística’, com os conteúdos culturais, e com o seu valor

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de desenvolvimento da competência comunicativa, a partir de um trabalho integrado as destrezas.

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS

2.1 Incentivo à Leitura: Uma Construção Mútua Entre Agentes e Colaboradores

Atualmente, a leitura tem sido destaque nas pesquisas e no que se refere ao

seu incentivo, através de projetos e programas, pois, no Brasil, conforme nos aponta

Lajolo (1997), vivemos uma crise no âmbito da leitura. Atualmente, crianças e jovens

não possuem o hábito de ler, família não incentivam seus filhos nesta prática ou, em

outro aspecto, a escola possui a dificuldade no desenvolvimento desta competência

e/ou no auxílio desta prática.

Lajolo (1997) nos aponta que este fato não é uma característica dos tempos

modernos, e sim devido a tradição cultural do nosso país. A autora afirma que a “crise”

é resultado, entre outros fatores, da precariedade de condições socioeconômicas e

da instituição escolar, além da precariedade das bibliotecas e também da oferta e

venda de materiais impressos.

Sabemos que a leitura é um instrumento importante na vida das pessoas, pois

é através dela, da interação entre autor, texto e leitor (Koch, 2006), que a construção

de sentido ao mundo que ele está inserido é realizada, pois no momento desta

interação (autor-texto-leitor), ele não somente decodifica as letras e palavras mas atua

na construção de sentido, utilizando seus conhecimentos e experiências de mundo no

ato de ler. Compreender o que se lê, como bem salienta a autora, é algo que não se

restringe aos conhecimentos referentes à ‘gramática e ao léxico da língua portuguesa’,

ela envolve os saberes resultantes do domínio social do leitor, por meio da união de

uma série de conhecimentos de vários tipos de mecanismos.

A leitura, segundo a autora, é um ato social, compreendida como um diálogo

entre o leitor e o texto, os quais devem ser levados em consideração os

conhecimentos prévios trazidos por esse leitor e o contexto de produção. A forma de

interpretar um texto dependerá do repertório cultural e conhecimento enciclopédico de

cada leitor, e que por meio desse ato poderemos construir significados e/ou (re)

significar o mundo o qual estamos inseridos e interagir socialmente. O leitor diante de

um texto adota função dinâmica na produção de sentido, já que o autor apenas situa

o caminho que deve ser percorrido (Koch, 2006). Koch (2006) ainda menciona que a

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leitura como ato de produção de sentido está intimamente ligada a perspectivas

linguísticas, cognitivas, dialógicas, interativas e sociais, no qual possibilitam

compreender que o leitor não é um mero receptor de mensagens, mas, sim, uma parte

do processo de construção e reconstrução dos sentidos do texto, realizando um

trabalho ativo de construção do significado do texto.

Para Martins (1994), o ato de ler envolve uma série de estratégias que permite

o indivíduo compreender o que lê. Nas palavras do autor:

Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequadas para abordá-los de forma a atender a essa necessidade (Martins, 1994, p. 180).

No âmbito da aprendizagem, Kleiman e Moraes (1999) mencionam que a

leitura constitui uma ferramenta infalível neste processo, pois, segundo as autoras, é

através dela que somos capazes de exercer interação, atuar de forma dinâmica e

crítica na sociedade. Ainda de acordo com Martins (1994, p. 34):

Aprender a ler significa aprender a ler o mundo, e a função do educador não seria precisamente a de ensinar a ler, mas criar condições para o educando realizar a sua própria aprendizagem, conforme seus próprios interesses, necessidades, fantasias, seguindo as dúvidas e exigências que a realidade lhe apresenta.

Portanto, atividades como a apresentada neste projeto, que oportunize

realizar diferentes ações com diferentes usos da língua que circulam no cotidiano,

podem ser de grande valia para a aprendizagem, desenvolvimento da competência

leitora e, sobretudo, incentivo ao ato de ler.

2.2 O Gênero Música Como Estratégica Metodológica de Incentivo à Leitura

De uma forma geral, pode-se dizer que gênero textual é um termo utilizado

para nomear os diferentes textos ou as diferentes manifestações orais e escritas que

circulam na sociedade. É a maneira como a língua se organiza para nos apresentar

diferentes contextos de comunicação; é a língua em constante uso. Para Marcuschi

(2008, p.155) são eles:

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textos materializados em situações comunicativas recorrentes. [...]São os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas.

De acordo com Marcuschi (2008), mesmo que o falante não possua um saber

técnico ele é capaz de se comunicar e ser compreendido por seu interlocutor. Algo

que acontece porque os gêneros textuais, segundo o autor, não são criados por um

falante; eles resultam de “formas socialmente maturadas em práticas comunicativas

na ação linguageira” (MARCUSCHI, 2008, p.189); e estão associados historicamente

à vida cultural e social, contribuindo de forma organizada e estabilizada nas atividades

do dia-a-dia, conforme aponta abaixo:

São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. No entanto, mesmo apresentando alto poder preditivo e interpretativo das ações humanas em qualquer contexto discursivo, os gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. (MARCUSCHI, 2014, p. 01).

Em princípio, conforme nos aponta Koch (2006), a organização de gêneros

textuais apresentou-se direcionada, exclusivamente, para efetivar a diferença nas

maneiras de construção textual literária. Atualmente, conforme nos aponta a autora,

quando se fala em gênero, há uma gama de possibilidades, contemplando todos os

meios prováveis de produção textual linguística, seja escrita ou oral. Nessa

perspectiva, como bem salienta Koch (2006), a classificação dos gêneros textuais é

uma tarefa infinita:

E a lista é numerosa mesmo! Tanto que estudiosos que objetivaram o levantamentoe a classificação de gêneros textuais desistiram de fazê-lo, em parte porque os gêneros existem em grande quantidade, em parte porque os gêneros como práticas sociocomunicativas, são dinâmicos e sofrem variações em sua constituição, que, em muitas ocasiões, resultam em outros gêneros, novos gêneros (KOCH, 2006, p.121).

Para Marcuschi (2008, p. 155), os gêneros são agrupados de acordo com o

seu padrão “sociocomunicativo”, como bem ele exemplifica: bula de remédio,

reportagem, carta, piada, cardápio de restaurante, música, conto, fábula, crônica,

edital de concurso, discurso político, entre outros.

Porém, o reconhecimento e a especificação dos textos e a identificação dos

gêneros, conforme aponta Dolz, Noverraz e Schneuwey (1998), é fundamental para a

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construção de um referencial pedagógico, que salientará o que se atribui ser agente

de ensino-aprendizagem dentro de uma condição de comunicação própria.

O uso de gêneros textuais em sala de aula, conforme nos aponta Marcuschi

(2008), principalmente no ensino de Língua Portuguesa, proporciona diálogo com

diversas possibilidades de aprendizado, pois sua apropriação é um mecanismo

fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades humanas.

Sabemos que a música é um recurso bastante singular no que tange à

comunicação de pensamentos críticos, promove discussões, desafia a crítica e

favorece a capacidade dos alunos de interpretação; além de ser um eficiente

instrumento para transmitir valores, expressar conceitos, sobretudo, construir

conhecimentos.

O gênero textual música desperta no aluno, a curiosidade e interesse para

descobrir o que está por trás da composição, permite com que ele faça relações com

outros textos, palavras e expressões que remetem a significados diversos na língua

estudada; possibilita aos ouvintes, também, relacioná-la com outros gêneros textuais,

sejam orais ou escritos.

Para Melo (2009), a música além de ser um meio de expressão de ideias e de

sentimentos, é também uma forma de linguagem bastante apreciada pelas pessoas e

que adquire um significado importante na vida da criança desde cedo, onde além de

emoções despertadas, são também aperfeiçoadas outras competências, como:

memorização, concentração, trabalho em equipe, entre outros.

Gardner (1995), em sua conhecida obra já dizia que o uso apropriado da música

como ferramenta didático-pedagógica oferece aos alunos a oportunidade de

integração das quatro habilidades da língua: ouvir, falar, ler e escrever, bem como,

permite a revisão de vocábulo e estruturas gramaticais, pois, para o autor, a música

retrata a língua em seu contexto real.

Assim, a partir do que foi mencionado acima, é válido considerar que trabalhar

com música, por meio de diversas atividades, a partir das caracterizações que este

gênero desperta no universo da criança, pode incentivar na construção do hábito da

leitura, assim como, proporcionar o desenvolvimento da competência leitora. A partir

destes elementos, abaixo serão relatadas as atividades desenvolvidas no trabalho.

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3 RELATO DAS EXPERIÊNCIAS

O projeto executado teve seu início após a apresentação do mesmo à direção,

à equipe pedagógica, aos professores, funcionários e alunos que estariam envolvidos

nas atividades, para que tomassem ciência do tema, metodologia e relevância da

execução do mesmo, igualmente também, conscientizá-los para uma participação

concreta e verdadeira no decurso das tarefas, a fim de que se conseguisse atingir os

objetivos almejados.

A estrutura metodológica da aplicação do trabalho definiu-se em 5 etapas,

sendo a primeira de apresentação do trabalho e as demais em diferentes atividades,

as quais foram desenvolvidas a partir das músicas selecionadas para o

desenvolvimento do projeto, que foram: Asa Branca, de Luiz Gonzaga; Pra não dizer

que não falei das flores, de Geraldo Vandré e; Herdeiros do Futuro, de Toquinho.

Antes de iniciar as atividades propostas com as músicas, a primeira etapa

também consistiu na aplicação de um questionário relacionado à leitura, com objetivo

de se verificar os hábitos de leitura dos alunos pertencentes às turmas que estariam

envolvidas na aplicação das atividades do projeto em si, que seriam as turmas dos

sextos anos do Colégio Rocha Pombo, da cidade de Antonina, Estado do Paraná.

A pesquisa realizada indicou que 35% dos alunos gostam de ler histórias em

quadrinhos, em razão de ser o material que eles mantinham maior contato em suas

residências; o que nos sugere indicar que a família possui uma grande parcela de

responsabilidade no hábito de ler ou o desenvolvimento desta. As demais indicativas

dividem-se-em romances, poesias, literatura infantil e outras.

Após essa breve pesquisa, a próxima tarefa desta primeira etapa foi apresentar

o gênero Música aos alunos, os quais se mostraram bastante entusiasmados com a

atividade. O tratamento desta atividade, com a realização das canções, apresentação

das letras, discussão em torno dos estilos musicais não somente oportunizou

conhecer o gosto musical dos alunos, mas também permitiu delinearmos as

características dos variados estilos de canções e discutirmos questões pertinentes

como a importância da reflexão e análise das letras musicais, as quais se ouve. A

aplicação desta atividade através da canção musical, das discussões primárias em

torno dos estilos musicais e das letras das canções, evidenciaram que os alunos

possuem um conhecimento rudimentar em torno deste gênero e do que envolve o ato

de ler, pois em princípio, o que se percebeu foi que a maioria dos alunos não faziam

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certa reflexão sobre a letra da música que ouviam, mas somente apreciavam o ritmo

musical, os quais se identificavam.

A partir da primeira etapa, que teve como objetivo contextualizar de forma

geral o que seria realizado com as turmas selecionadas, fazer uma discussão em torno

dos estilos musicais e uma pesquisa sobre a interpretação ou não das letras musicais,

as demais etapas foram desenvolvidas.

Na segunda etapa, a música elencada para se trabalhar as atividades foi a

música “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga. Na terceira etapa, a música elencada foi “Pra

não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré. Na quarta etapa, a Música

selecionada foi “Herdeiros do Futuro”, de Toquinho.

Em cada uma das etapas acima, onde diferem as músicas trabalhadas e,

consequentemente, sua contextualização de produção e análise linguística das letras,

algumas atividades foram realizadas com os alunos, que serão relatadas abaixo,

objetivando o incentivo à leitura e ao desenvolvimento da competência leitora.

Algumas atividades foram desenvolvidas, como a apresentação das canções e suas

respectivas letras, onde tentou-se identificar a partir de sua apresentação, o assunto

principal da canção. A partir deste momento, tentou-se localizar as informações

explícitas no texto para dessa forma, possibilitar ao aluno a constituição da proficiência

leitora. Na sequência, os alunos se manifestaram a partir do debate de ideias,

refletindo sobre a temática do texto de modo que relataram as suas opiniões sobre

cada uma das letras das canções. A partir daí, iniciou-se um diálogo de leitura com o

aluno. A partir das múltiplas leituras e mediação do professor, os alunos foram

incentivados a perceberem a relação do texto com o contexto, ao momento histórico

de produção das músicas. Foi o momento de compartilhar conhecimentos e levar o

aluno a descobrir as intenções do texto, formular hipóteses, objetivando dar sentido

ao ato de ler. Os alunos conseguiram colocar-se frente a uma postura ativa, de

análise, de resposta ao texto lido e, além disso, conseguiram fazer inferências no ato

de ler. Para que isso fosse construído, os alunos fizeram pesquisas sobre a biografia

dos autores e contexto de produção das músicas. Debates em torno foram realizados.

A partir daí, os alunos, então, foram conduzidos à sala interativa (sala de datashow e

informática) para que pudessem assistir aos vídeos, onde interpretações diversas das

canções foram apresentadas, onde foi também apontado a importância da leitura e

compreensão do cenário, da linguagem intertextual e do contexto na leitura e,

consequentemente, na compreensão de um texto. Consequentemente, foram

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abordadas habilidades como identificar informações explícitas e inferir as implícitas

no texto, uma possibilidade do leitor transcender o que está escrito, reconhecendo o

subentendido e o pressuposto.

As atividades conseguiram atingir seu objetivo, o resultado alcançado foi

bastante satisfatório, onde fundamentou-se a capacidade do leitor, a partir das

marcas/pistas organizadas no campo textual, de localizar informações de que precisa,

respeitando os diferentes propósitos comunicativos para o desenvolvimento da

capacidade leitora, ao incentivo ao ato de ler, que não é apenas, como bem salienta

Koch (2006), a decodificação das letras e palavras, mas sim na interação entre leitor,

texto e autor.

Vale destacar que dentre os aspectos positivos, a partir da prática pedagógica

com o gênero música foi possível a leitura se manifestar na sala de aula, não apenas

no sentido de um texto, porém permitido o surgimento de uma leitura crítica

proveniente da capacidade de ler aquilo que não está escrito, mas que pode ser

inferido, deduzido pelos alunos. Nesse contexto revelador de percepção do aluno

como leitor, foi possível constatar e registrar como eles estavam envolvidos no

processo de ensino/aprendizagem do ato de ler, sentindo-se privilegiados e

valorizados pela participação ativa nas atividades.

Ao término da atividade, criou-se um espaço para divulgação em torno das

reflexões dos alunos, pesquisas e discussões das músicas trabalhadas, por meio de

exposições no mural, varal e apresentação oral para que fosse socializado com toda

a comunidade escolar.

Na quinta etapa, última do trabalho, um Clube de Leitura foi idealizado e

composto, onde alunos e professores poderiam realizar encontros para discussões

possíveis em torno de livros previamente selecionados para leitura e debate. O Clube

de Leitura se fundamentaria em uma comunidade de leitores, que se encontram

periodicamente (semanalmente), que partilham a leitura de um livro e expressam a

sua opinião sobre essa mesma leitura. Para que isso fosse então realizado,

professores e alunos criaram o regulamento e normas para a organização deste

Clube, que foi denominado: “O Despertar da Leitura”.

A partir desta última etapa, os alunos foram motivados a continuar a busca por

leituras que fossem enriquecedoras e desafiadoras; fazendo visitas e uso à biblioteca

para conhecer o acervo e escolher livros de sua preferência, ficando assim,

estabelecida uma aula da semana para o momento de leitura. Caso o horário de uma

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aula fosse insuficiente para o término da leitura, os alunos poderão levar para casa o

seu livro e dar continuidade à leitura e, após um mês, todos os envolvidos se reúnem

para contar e debater sobre o que leram.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas integradas ao PDE permitiram o estudo de teorias que embasam

ações e direcionamento das aulas sob um viés crítico, adotando um suporte

pedagógico que pode auxiliar no desenvolvimento da competência leitora, no incentivo

à leitura através da música.

A implementação de ações na escola reforçam a necessidade de que haja

constantemente o repensar do fazer pedagógico, contextualizando as experiências do

aluno com o saber científico e, desse modo, aperfeiçoar o processo de ensino e

aprendizagem.

Durante a aplicação deste projeto de intervenção ficou evidente a constatação

de motivação e participação efetiva dos alunos, habituados ao processo tradicional,

diante de uma metodologia mais ativa e dinâmica. Para que as atividades fossem

desenvolvidas, foi necessário considerar os diversos elementos que fundamentam o

ato de ler e o desenvolvimento da competência leitora, assim como, os problemas e

dificuldades que estão em torno da leitura.

A música é sem dúvida, uma importante ferramenta de auxílio didático,

incentivo à leitura e desenvolvimento da competência leitora. A aplicação das

atividades auxiliou positivamente não somente no incentivo à leitura ou

desenvolvimento da competência leitora, mas na conquista de uma certa autonomia

na compreensão do texto lido, de certa forma, do mundo que os cerca.

A partir dos resultados visualizados, é possível afirmar que o projeto de

intervenção pedagógica “Do mundo da leitura para a leitura do mundo: uma prática

pedagógica através da música” foi desenvolvido com sucesso no âmbito escolar e

atendeu às expectativas iniciais, indo além do esperado com os resultados positivos

e a participação bem sucedida dos alunos.

Consideramos, assim, que a implementação deste projeto venha favorecer

significativamente o processo de ensino-aprendizagem e, a partir dos resultados,

apoiar à leitura e escrita no interior do ambiente escolar e, consequentemente,

melhorar o desenvolvimento dos alunos em outras disciplinas, uma vez que a leitura

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é parte fundamental de todo o processo de ensino e cotidiano dos alunos. Nas

palavras de Barros (2006, p. 12): “a música é informação, pois modifica, transforma,

comunica, forma opiniões e representa conceitos”.

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