OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ... · depois oral do texto “A carta...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA TURMA - PDE/2013
Título: A Inferência como fio condutor no processo de leitura
Autor Maria Cristina de Melo
Disciplina/Área (ingresso no
PDE)
Português
Escola de Implementação
do Projeto e sua localização
Colégio Estadual Do Campo Engenheiro André
Guimarães Sobral – Ensino Fundamental e Médio.
Município da escola Mangueirinha
Núcleo Regional de
Educação
Pato Branco
Professor Orientador Mônica Cristina Metz
Instituição de Ensino
Superior
UNICENTRO
Relação Interdisciplinar
Resumo
O Colégio Estadual do Campo Engenheiro André Guimarães Sobral apresenta um número elevado de alunos com dificuldades na compreensão de textos, principalmente no 6º Ano. Então se faz necessária a implementação de um projeto, por meio de uma Unidade Didática, que venha ao encontro dessas dificuldades dos alunos, um trabalho diferenciado por meio de perguntas que possibilitem melhor compreensão dos textos que são lidos em sala de aula. Serão desenvolvidas atividades de leitura que possibilitem o aprimoramento da capacidade de inferência por meio de perguntas, discussão sobre a importância das perguntas no processo de leitura, elaboração de atividades de leitura por meio da inferência como fio condutor desse processo e realização de intervenções pedagógicas durante a execução das atividades de leitura.
Palavras-chave Leitura; inferência; compreensão.
Apresentação da Unidade Didática
A elaboração desta unidade didática faz-se necessária para a
implementação do projeto “A inferência como fio condutor no processo de
leitura”, no Colégio Estadual do Campo Engenheiro André Guimarães sobral,
onde há um número muito elevado de alunos com dificuldades na
compreensão de textos, principalmente no 6º Ano. Esses alunos apresentam
uma grande defasagem em relação aos conteúdos básicos de leitura, escrita e
oralidade.
Esta proposta pedagógica propõe um trabalho diferenciado por meio de
perguntas que possibilitem melhor compreensão dos textos que são lidos em
sala de aula por esses alunos. Possibilitará ao professor, como mediador do
conhecimento, trabalhar com perguntas que realmente estimulem os alunos a
pensar e desenvolver suas habilidades de leitura.
Segundo Menegassi (1999), “as perguntas apresentadas pelo professor,
em sala de aula, quando do trabalho com textos diversos, orientam a leitura
dos alunos direcionando a sua compreensão.” Nesse contexto é fundamental a
atuação do professor, que sendo um mediador, pode realmente concretizar o
processo de leitura de maneira eficaz. Quatro etapas do processo de leitura
são citadas por Menegassi (1995), a primeira é decodificação onde envolve os
símbolos escritos e sua ligação com o significado, a seguir vem compreensão
sendo aliada a decodificação, esta já exige um conhecimento prévio do aluno
para se iniciar a terceira etapa, a da interpretação. Então a capacidade crítica
do leitor entrará em ação levando-o a fazer julgamentos. E a última etapa, a
chamada retenção, ocorre após a compreensão ou a interpretação, sendo
responsável pelo armazenamento das informações na memória de longo prazo.
Busca-se com esta prática pedagógica uma melhoria na qualidade do
ensino e aprendizagem, principalmente dos alunos do 6º ano. Não apenas ler
superficialmente o texto, mas fazer com que o aluno chegue à compreensão do
texto lido, só assim haverá efetivação do processo da leitura. Com as
propostas de perguntamos trazemos também algumas sugestões de respostas,
com o objetivo de ilustrar as possibilidades de interação, de produção de novas
informações a partir da produção de inferências, podem-se produzir, portanto,
também, outras respostas a partir dos conhecimentos prévios dos alunos.
Inicialmente se pede aos alunos que façam a leitura silenciosa e
depois oral do texto “A carta e o índio” para depois responderem às perguntas
com a mediação do professor.
A carta e o índio
Um fazendeiro incumbiu a um índio, ainda não de todo civilizado que fosse levar dez belas frutas a um amigo. Sobre elas colocou uma carta.
No caminho o índio teve vontade de comer uma das frutas. E não se conteve: comeu-a!
Ao receber o presente, o amigo do fazendeiro disse ao índio: -Você comeu uma das frutas? - Eu? - Sim. Está faltando uma. - Como é que o senhor sabe? - Ora, essa! Pela carta. O índio não tinha a menor ideia de como a gente pode registrar as
ideias pela escrita, e desse modo transmiti-las aos outros. Por isso, olhou com admiração a folha de papel que o outro lhe exibia e
disse: -Ah! Isso conta o que a gente faz?... Eu não sabia! Uma semana depois, o índio foi de novo encarregado de levar um cesto
de frutas ao mesmo homem. Levava também uma carta. No meio do caminho, pousou a cesta no chão e, pegando na carta,
disse: - Deixe estar, bicho mexeriqueiro, contador do que a gente faz! Agora
você não há de ver o que vou fazer para contar aos outros! Dito isto, sentou-se sobre o envelope. Comeu três das frutas e atirou
longe as cascas e os caroços. Então, levantou-se, pôs a carta no lugar e continuou no caminho. Mas coitado! Mal chega a casa do amigo do fazendeiro, o mesmo lhe pergunta:
- Então, estavam boas as frutas? - Não sei não senhor! -Como, não sabe?... Pois comeu três delas? Vendo-se apanhado em falta, o índio muito sem jeito, confessou: - Comi sim senhor. O senhor me desculpe... Mas... Eu só queria saber
como foi que o senhor descobriu... - É boa! Pela carta! - Não pode ser não senhor! Está brincando comigo, porque desta vez
eu me sentei em cima dela e ela não viu nada... O homem sorriu daquela simplicidade, e o índio pôs-se a pensar no
caso. Embora não compreendendo tudo perfeitamente começou a perceber que os sinais escritos deviam servir para transmitir um recado.
VIANA, Francisco – adaptação de Altino Martinez. Leitura Teatralizada.
São Paulo: Ed. Clássico Científico, p. 67-8.
1)De que o fazendeiro incumbiu o índio? De levar belas frutas a um amigo.
2)Como era o índio? Ainda não era de todo civilizado.
3)O que ele fez no caminho? Comeu uma das frutas.
4)Por que ele comeu uma fruta? Por que teve vontade e não pode se conter.
5)Como o amigo do fazendeiro descobriu que o índio havia comido uma fruta? Por meio da carta que o fazendeiro mandou junto com as frutas.
6)O que ele fez para tentar enganar o amigo do fazendeiro na segunda vez que levou-lhe frutas? Sentou sobre o envelope para que ele não contasse ao amigo do fazendeiro que ele comeu três frutas.
7)Como reagiu o amigo do fazendeiro ao receber as frutas? Perguntando se as frutas estavam boas e dizendo que ele tinha comido três.
8)O índio pediu desculpas, mas ainda não entendia o que havia acontecido. Por quê? Porque não sabia como a escrita pode transmitir uma mensagem.
9)Por que o homem sorriu da simplicidade do índio? Porque ficou admirado com a sua falta de conhecimento sobre a escrita.
10)O que o índio começou a compreender depois do que lhe aconteceu? Que os sinais escritos deveriam servir para transmitir algum recado.
11) O que causou a falta de conhecimento do índio? Não conhecer os sinais escritos, talvez por falta de oportunidade de estudar.
12)Como vivem as pessoas que não conhecem a escrita? Vivem com dificuldades em compreender mensagens e dependendo de outras pessoas.
13)Por que existem pessoas que não sabem ler? Porque não tiveram oportunidade de aprender...
14)Qual é a importância da leitura para a vida das pessoas? É importante para se comunicar e compreender melhor o mundo em que vive.
15)Além da carta que outros meios de comunicação usam a escrita? Jornal, revista, livro, cartazes, e-mail,...
Fazer a leitura do comentário do humorista Jô Soares, para a revista
Veja. Ele brinca com a diferença entre o português falado e escrito. Conversar
com os alunos sobre essa diferença, responder as questões.
Pois é. U purtuguêis é muinto fáciu di aprender, purqui é uma língua qui a genti iscrevi ixatamenti cumu si fala. Num é cumu inglêis qui dá até vontadi di ri quandu a genti discobri cumu é qui si iscrevi algumas palavras. Im purtuguêis não. É só prestátenção. U alemão pur exemplu. Qué coisa mais doida? Num bate nada cum nada. Até nu espanhol qui é parecidu, si iscrevi muinto diferenti. Qui bom qui a minha língua é u purtuguêis. Quem soubé falá sabi iscrevê.
1)Conforme o texto, por que o português é uma língua fácil de aprender? Porque é uma língua que a gente escreve exatamente como fala.
2)Com quais línguas o Português é comparado? Inglês, Alemão e Espanhol.
3)Qual é a brincadeira presente no texto? Sugestão: Dizer que a fala e a escrita são iguais e mostrar o contrário...
4)A fala e a escrita são exatamente iguais? Explique. Espera-se que o aluno perceba que não, pois as pessoas falam diferente das linguagem escrita, a padrão.
5)O que acontece nesse texto com a escrita? Justifique. Levar o aluno a compreender que essa linguagem escrita só pode ser aceita na fala e não está adequada para a escrita.
6)O Português é mesmo fácil? Por quê? Sugestão; Não, pois a fala é fácil, mas a escrita deve ser padrão, seguindo regras de ortografia.
7)Você concorda com a última afirmação do texto? Explique. Resposta pessoal. Espera-se que o aluno perceba as diferenças no falar para o escrever.
8)O que acontece com quem escreve da maneira como fala? Espera-se que o aluno perceba que escrever como se fala torna a escrita incorreta, pois não está de acordo com a ortografia.
Leitura do poema “Pronominais” e perguntas para conduzir o processo
de leitura.
PRONOMINAIS (Oswald de Andrade) Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e do aluno E do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro.
1) Quem utiliza a forma “me dá um cigarro”? O bom negro e o bom branco da nação brasileira.
2) Para a gramática do professor, do aluno e do mulato sabido, qual é a forma correta? Dê-me um cigarro.
3) A partir da leitura do título pode-se inferir a temática do poema. Qual é? O uso de pronomes.
4) Por que essa fala inicial é da gramática do professor, do aluno e do mulato sabido? Sugestão: Porque eles têm conhecimento da linguagem padrão, do uso correto dos pronomes.
5) Há alguma diferença de sentido entre o primeiro e o último verso? Comente. Espera-se que o aluno perceba que o sentido é o mesmo, porém a organização da frase é diferente.
6) Para quem e com que objetivo o bom negro e o bom branco da Nação Brasileira dizem todos os dias: “Deixa disso camarada”? Sugestão: Para quem fala de acordo com as regras da gramática tentando dizer que o mais importante é se comunicar, se fazer entender.
7) A fala da maioria das pessoas brasileiras se assemelha à qual das duas formas? Pode ser o último verso ou “Me dá um cigarro”.
8) As duas formas podem ser consideradas adequadas? Cite uma situação adequada para a utilização de cada uma dessas formas. Sim, dependendo do contexto em que são usadas. Observar a coerência dos exemplos citados pelos alunos.
9) Por que ocorrem essas mudanças no modo de falar das pessoas? Sugestão: Devido ao nível de conhecimento das pessoas, do grupo ao qual pertence.
Crônica de Luis Fernando Veríssimo, “Aí, galera”. Leitura oral, individual ou dramatizada do texto. Comentários sobre o assunto e perguntas para compreensão e interpretação do texto.
Aí, galera
“Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotiparão”. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
-Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera. -Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares. -Como é?
-Aí, galera. -Quais são as instruções do técnico?
-Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação. -Ahn?
-É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles sem calça. -Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
-Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
-Pode. -Uma saudação para a minha genitora. -Como é?
-Alô, mamãe! -Estou vendo que você é um, um... -Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
-Estereoquê?
-Um chato?
-“Isso.”
Luís Fernando Veríssimo (In: Correio Brasiliense, 13/05/1998)
1)De que os jogadores de futebol podem ser vítimas? De estereotipação.
2)Qual foi a palavra do jogador para a galera? Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso de seus lares.
3)Qual frase traduz “Uma saudação pra minha genitora”? Alô, mamãe!
4)O entrevistador não entende as respostas do jogador. O que ele faz então? Sugestão: Ele fica na dúvida e repete a pergunta.
5)Quando o repórter demonstra não saber o significado da palavra estereotipação? Espera-se que o aluno perceba que é no final, quando pergunta “Estereoquê?”.
6) O que significa ser vítima de estereotipação? Sugere-se que seja ser vítima de algum tipo de preconceito, em que já se tem algo como verdade pré-estabelecida.
7) O que chama atenção do entrevistador na fala do jogador? Seu modo de falar, a linguagem utilizada pelo jogador que ele não entende. 9)Como o entrevistador recebe as respostas do jogador? Com espanto, admiração, dúvida...
10) As pessoas que ouvissem essa entrevista entenderiam completamente a fala do jogador?Por quê? Sugestão: Não, porque a maioria das pessoas não domina a linguagem padrão, são acostumadas com a linguagem coloquial.
11) Que pessoas poderiam compreender a fala do jogador nessa entrevista? Poderiam ser as pessoas que compreendem o uso da linguagem padrão, como professores da língua ou estudiosos.
12)Como se esperava que fossem as respostas do jogador? Que fossem resposta simples que todos entendessem...
13)Qual sentido tem a expressão: “Pegá eles sem calça”, no texto? Pegar os adversários desprevenidos para realizar a jogada...
14)O que causa humor nessa entrevista? O modo de falar do jogador e a não compreensão por parte do repórter.
15)Seria possível imaginar um jogador falando a palavra estereotipação?Comente. Não, por ser uma palavra pouco usada e de difícil compreensão...
16)O que há de semelhante entre o poema e a entrevista? Sugestão: O emprego da linguagem formal e informal.
Fazer a leitura das histórias em quadrinhos, inclusive as imagens, e
comentar sobre as linguagens: verbal e não verbal. Observar as expressões
das personagens e o que representam.
1) Quais são as personagens da história? Mafalda e a professora.
2)Que palavras acompanham o verbo confiar nos dois primeiros quadrinhos? Os pronomes eu, tu, ele, nós, vós, eles.
3)Que exercício Mafalda estava desenvolvendo? De Conjugação verbal.
4)Qual foi o comentário da Mafalda no último quadrinho? Que bando de ingênuos.
5)Como Mafalda entendeu a realização do exercício? Como se fosse realidade mesmo e não apenas exercício.
6)Como reage a professora durante a fala de Mafalda? Permanece quieta durante a apresentação, mas se surpreende com o comentário final da aluna. (Observar a expressão facial da professora).
7)Quem Mafalda chama de um bando de ingênuos? Por que ela faz essa afirmação? As pessoas que confiam em tudo porque ela pensa que não se deve confiar tanto.
8)É possível confiar sempre nas pessoas? Por quê? Geralmente não, pois muitas pessoas não são confiáveis, enganam...
9)O que pode acontecer com quem confia sempre em todos? Pode ser enganado, sofrer, ter decepções...
1)O que Mafalda está pensando no segundo quadrinho? E o que nós somos?
2)Que palavras do primeiro quadrinho estão indicando uma ordem ou pedido? Use, compre, beba, coma, prove.
3)O que elas sugerem para quem assiste TV? Que faça o que estão pedindo para fazer.
4)Quem são os malditos que a menina menciona no último quadrinho? Os responsáveis pelas propagandas...
5)Durante qual programação as pessoas são mais influenciadas pela TV? Durante os comerciais que apresentam propagandas maravilhosas...
6)Por que muitas pessoas fazem o que as propagandas sugerem? Porque se deixam influenciar, acreditam e sentem necessidade de consumir os produtos anunciados...
7)Além da TV, que outros meios também usam de persuasão para as pessoas? Rádio, revistas, jornais, internet... Agir de maneira crítica, só comprar se realmente necessita...
Ler o poema “Malinculia”, discutir sobre a linguagem escrita e a falada e
refletir sobre as questões.
Malinculia
Malinculia, Patrão É um suspiro maguado Qui nace no coração! É o grito safucado Duma sodade iscundida Qui nos fala do passado Sem se torná cunhicida! É aquilo qui se sente Sem pudê ispricá! Qui fala dentro da gente Mas qui não diz onde istá! Malinculia é tristeza Misturada cum paxão, Vibrando na furtaleza Das corda do coração! Malinculia é qui nem Um caminho bem diserto Onde não passa ninguém… Mas nem purisso, bem perto, Uma voz misteriosa Relata munto baxinho Umas história sodosa, Cheias de amô e carinho! Seu moço, malinculia É a luz isbranquiçada Dos ano que se passô… é ternura… é aligria… É uma frô prefumada Mudando sempre de cô! Às vez ela vem na prece Que a gente reza sozinho. Otras vez ela aparece No canto dum passarinho, Numa lembrança apagada, No romance dum amô, Numa coisa já passada, Num sonho que se afindô! A tá da malinculia Não tem casa onde morá… Ela veve noite e dia Os coração a rondá! Não tem corpo, não tem arma,
Não é home nem muié… E ninguém lhe bate parma Pru caso de sê quem é! Ela se isconde num bejo Qui foi dado há muntos ano… Malinculia é desejo, É cinza de disingano, Malinculia é amô, Pulo tempo sipurtado, Malinculia é a dô Qui o home sofre calado Quando lhe vem à lembrança Passages da sua vida Juras de amô…isperança… É tudo o que pode havê Guardado num coração! É uma histora que se lê Sem forma de ispricação! Pruquê inda vai nacê O home, ou mermo a muié, Capacitado a dizê Malinculia o qui é!!!
Antonio Sales. Retirado do livro A Língua de Eulália, de Marcos Bagno, p.197.
1)Onde nasce a melancolia? Nasce no coração.
2)A melancolia surge de qual tempo? Do passado.
3)Com que a melancolia é comparada? Cite três exemplos. Suspiro minguado, grito sufocado, um caminho bem deserto... ( Aceitar outras respostas conforme o texto)
4)Onde vive a melancolia? Vive a rondar os corações.
5)As expressões “patrão” e “seu moço” se referem a quem? Sugestão: As pessoas que estão lendo o texto.
6)Quais os sentimentos podem se relacionar com a melancolia? Tristeza, sofrimento, dor...
7)Por que a saudade remete ao passado? Espera-se que o aluno compreenda que no passado ficaram os fatos que são lembrados no presente e que essas lembranças trazem a saudade.
8)Como é um caminho bem deserto? Sugestão: É vazio, solitário, triste, difícil,...
9)A que conclusão se chega na tentativa de explicar o sentimento de melancolia? Que ainda continua a busca pelo significado...
10) As pessoas gostam desse sentimento? Por quê? Geralmente não, pois é um sentimento que faz sofrer, que machuca...
Leitura oral da crônica “Santos nomes em vão”. Comentários sobre os fatos narrados
Santos nomes em vãos
Drama verídico e gerado por virgulazinhas mal postas, cúmplices de
tantas reticências.
Praxedes é gramático. Aristarco também. Com esses nomes não
poderiam ser cantores de rock. Os dois trabalham num jornal. Praxedes
despacha-as questiúnculas à tarde. Aristarco, à noite. Um jamais concordou
com uma vírgula sequer do outro, e é lógico que seja assim. Seguem
correntes diversas. A gramática tem isso: é democrática. Permitindo mil
versões, dá a quem sustenta uma delas o prazer de vencer.
Praxedes é um santo homem. Aristarco também. Assinam listas,
compram rifas, ajudam quem precisa. E são educados. A voz dos dois é
mansa, quase um sussurro. Mas que ninguém se atreva a discordar de um
pronome colocado por Praxedes. Ou de uma crase posta por Aristarco. Se a
conversa ameaça escorregar para os verbos defectivos ou para as partículas
apassivadoras, melhor escapar enquanto dá. Porque aí cada um deles
desanda a bramir como um leão.
Adversários inconciliáveis têm um ponto em comum, além da obsessão
pela gramática: não são nada populares. Na frente deles, as pessoas ficam
inibidas, quase não conversam. Porque nunca sabem se dizem bom-dia ou
bons-dias, se meio quilo são quinhentos gramas ou é quinhentas gramas, se é
meio-dia e meio ou meio-dia e meia, se nasceram em Santa Rita dos Passa
Quatro ou dos Passam Quatro.
Para que os dois não se matem, o chefe pôs cada um num horário.
Praxedes, mais liberal (vendilhão, segundo Aristarco), trabalha nos
suplementos do jornal, que admitem uma linguagem mais solta. Aristarco,
ortodoxo (quadradão, segundo Praxedes) assume as vírgulas dos editoriais e
das páginas de política e economia. [...]
Sempre estiveram a um passo do quebra-pau. Hoje, para festa dos
ignorantes e dos mutiladores do idioma, parece que finalmente vão dar esse
passo. É dia de pagamento e eles se encontram na fila do banco. Um
intrigante vem pondo fogo nos dois há já um mês e agora ninguém duvida:
nunca saberemos quem é o melhor gramático, mas hoje vamos descobrir
quem é o mais eficiente no braço.
Aristarco toma a iniciativa. Avança e despeja:
- Seu patife, biltre, poltrão, pusilânime.
Praxedes responde à altura:
- Seu panaca, almofadinha, calhorda, caguincha.
Aristarco mete o dedo no nariz de Praxedes:
- É a vossa progenitora!
Praxedes toca o dedo no nariz de Aristarco:
- É a sua mãe!
Engalfinham-se, rolam pelo chão, esmurram-se.
Quando o segurança do banco chega para apartar, é tarde, Praxedes e
Aristarco estão desmaiados um sobre o outro, abraçados, como amigos
depois de uma bebedeira.
O guarda pergunta à torcida o que aconteceu. Um boy que viu tudo
desde o início explica:
- Pra mim, esses caras não é bom de bola. Eles começaram a falá em
estrangeiro, um estranhô o outro, os dois foram se esquentando, esquentando,
e aí aquele ali, ó, que também fala brasileiro, pôs a mãe no meio. Levô uma
bolacha e ficô doido: enfiô o braço no focinho do outro. Aí os dois rolô no chão.
Para a sorte do boy, Aristarco e Praxedes continuavam desacordados.
(DREWNICK, Raul.O Estado de São Paulo,Caderno 2, p. 2, 1998)
1)Quem são e onde trabalham Praxedes e Aristarco? São gramáticos e trabalham num jornal.
2)Por que um não concorda com o outro? Porque são de correntes diferentes, pensam de maneira diferente.
3)O que fez o chefe deles para evitar que eles se matassem? Colocou um em cada horário de trabalho para evitar que se encontrem.
4)Quando eles se encontram? Quando é dia de pagamento. 5)E o que eles fazem? Discutem e brigam.
6)Eles são adversários, mas tem um ponto em comum. Qual é esse ponto? Serem obsecados pela gramática e não serem populares.
7)Por que as pessoas ficam inibidas na frente deles? Porque não sabem a língua padrão que os dois dominam e tem medo de falar de maneira incorreta e serem corrigidas por eles.
8)As ofensas que um faz ao outro são iguais ou diferentes? Comente. São iguais em significados, embora usem palavras diferentes, elas são sinônimas.
9)Quando chega o segurança do banco para apartar a briga como estavam os dois homens? Desmaiados ou desacordados de tanto brigarem.
10)O guarda quer saber o que aconteceu e um boy que viu tudo explica. Como é essa explicação? É uma explicação com o uso de palavras incorretas para a linguagem padrão, mesmo que transmita os fatos ocorridos.
11)Por que o boy disse que um deles falava estrangeiro? Porque ele não entendeu o significado das palavras do gramático por lhe serem desconhecidas, embora sendo da Língua Portuguesa, são termos mais rebuscados.
12)Por que o boy teve sorte por estarem desacordados os dois gramáticos? Porque a sua fala era incorreta de acordo com as normas gramaticais.
13)O que tem de diferente entre o boy, Praxedes e Aristarco? A maneira de falar devido à formação de cada um.
14)A atitude dos dois homens foi correta? Como deveriam se comportar? Não está correta, pois deveriam respeitar o saber diferente um do outro.
15)Por que ocorrem essas diferenças entre algumas pessoas? Devido ao nível de conhecimento, grau de instrução, cultura, personalidade.
Texto extra:
Pedir aos alunos para que façam a leitura do texto “El sombrero”, que comentem sobre o fato narrado... Depois da leitura, com auxílio do professor seguem para as perguntas buscando as respostas.
El sombrero
Do tempo das diligências
Tarde quente naquele vilarejo mexicano às bordas do deserto de Sonora.
Todos os habitantes do lugar, reunidos na igrejinha para o ofício vespertino.
Entrando pela única rua, levantando o pó do chão crestado pelo sol, um
mexicano típico das forças de Zapata. Uma bandoleira de balas atravessada
no peito, um rifle na mão direita, e um violão atravessado nas costas.
Desmontou defronte a igreja, chutou os cachorros, cuspiu um pedaço de fumo
mascado na calçada e entrou. Os fiéis, desde o fundo da igreja começaram a
sussurrar:
- Señor, el sombrero!
Ele avança, destemido e de olhar duro, e à medida que vai se aproximando do
altar ouve mais vezes:
- Señor, el sombrero! Señor, el sombrero!
Chegando ao altar, encara o padre, deposita o rifle nos degraus, volta-se para
os fiéis, e pegando o violão anuncia:
- Atendiendo a los inúmeros pedidos de usted, yo voi a cantar:
"EL SOMBRERO"
-o- -o- -o- -o-
(Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/humor/1323675>. Acesso em 09 dez.
2013).
1)Quando e onde aconteceram os fatos?
Numa tarde quente em um vilarejo mexicano.
2)Onde as pessoas do vilarejo estavam reunidas?
Em uma igreja.
3)O que as pessoas diziam ao homem que entrou na igreja?
- Señor, el sombrero!
4)Como era e o que usava este homem mexicano ?
Um mexicano típico das forças de Zapata, usava uma bandoleira de balas atravessada no
peito, um rifle na mão direita e um violão atravessado nas costas.
5)O que era o “ sombrero” que ele usava?
Um chapéu mexicano.
6)Como é possível descobrir o significado da palavra “sombrero”?
Porque vem da palavra sombra, que o chapéu faz.
7)O que as pessoas queriam que ele fizesse?
Que tirasse o chapéu da cabeça em sinal de respeito.
8)E o que ele fez?
Cantou e tocou uma música que se chama “El sombrero”.
9)Por que ocorreu esse engano?
Porque essa palavra tem duplo sentido.
10)O que se pode fazer para que não ocorram enganos como esse?
Analisar o contexto, a situação de comunicação em a palavra está sendo usada.
Orientações metodológicas
O trabalho com leitura em sala de aula deve ser mais qualitativo e não
quantitativo para que seja bem desenvolvido. Foram escolhidos oito textos e
mais um extra, caso seja necessário sobre o uso da língua escrita e falada para
se trabalhar com alunos do 6º ano do ensino fundamental.
O professor deve ser o mediador e conduzir as perguntas aos alunos
levando-os a produzir inferências, tanto textuais como extratextuais. O primeiro
texto é com menor grau de dificuldade, assim como as perguntas, mas à
medida que se segue o trabalho, esse nível de inferência vai gradativamente
evoluindo. Isso para que o aluno desenvolva sua capacidade de inferir no texto,
buscando a compreensão textual já mencionada nesta unidade.
A leitura de cada texto apresentado aos alunos deve ser feita por eles,
podendo ser de forma silenciosa, oral e individual, coletiva ou dramatizada,
sendo possível o professor em sala de aula, escolher a melhor forma. Poderão
ser realizados comentários sobre o assunto de cada texto, relatos semelhantes,
comparações com outros textos, cabendo ao professor direcionar esta parte da
oralidade para depois partir para as perguntas.
As perguntas foram elaboradas seguindo as quatro etapas do processo
de leitura citadas por Menegassi (1995): decodificação, onde envolve os
símbolos escritos e sua ligação com o significado; compreensão, sendo aliada
a decodificação, exige um conhecimento prévio do aluno para se iniciar a
terceira etapa, a da interpretação. Então a capacidade crítica do leitor entrará
em ação levando-o a fazer julgamentos. E a última etapa, a chamada retenção,
ocorre após a compreensão ou a interpretação, sendo responsável pelo
armazenamento das informações na memória de longo prazo.
Lembrando sempre que o professor é mediador desse processo e deve
conduzir as atividades de modo que os alunos avancem a cada etapa, fazendo
com que se efetive o processo de leitura.
Referências DREWNICK, Paul. O Estado de São Paulo, Caderno 2, p.2, 1998. EL SOMBRERO. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/humor/1323675>. Acesso em 09 dez. 2013. FONTES, Martins. Quino, Toda Mafalda, 2000, p. 220. MENEGASSI, R. J. Leitura: a elaboração de perguntas pelo professor e os reflexos na interpretação textual. Mimesis, Bauru, v. 20. N. 2. 83-101, 2009. ____. Compreensão e interpretação no processo de leitura: noções básicas ao professor. Revista Unimar, Maringá, 17, p. 85-94, 1995. Revista "Veja" -28.11.90. 05. (Comentário de Jô Soares sobre a Língua Portuguesa) SALES, Antonio. Retirado do livro A Língua de Eulália, de Marcos Bago, página 197. SCHWARTZ, Jorge. Oswald de Andrade. Seleção de textos, notas, estudo biográfico, histórico e crítico por Jorge Schwartz. 2 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. VERÍSSIMO, Luís Fernando (In: Brasiliense Correio, 13/05/1998). VIANA, Francisco – adaptação de Altino Martinez. Leitura Teatralizada. São Paulo: Ed. Clássico Científico, p. 67-8.