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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Oliveira defendem que seu desenvolvimento não...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
DIVERSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR
Selene Rocker Padilha1
Roseli Alves Santos2
RESUMO: Atualmente percebemos que parcela cada vez maior de agricultores adquire, via mercado tradicional, grande parte das mercadorias de consumo diário, oriundos do campo, os quais foram eles próprios que produziram a matéria prima, que muitas vezes por comodidade ou por falta de opção preferem comprá-los transformados, nos supermercados e pagar um preço elevado. Considerando esse contexto e a realidade dos jovens educando da Casa Familiar Rural, desenvolvemos estudos através de oficinas, levando-o a fazer análise da produção, do consumo, dos custos e benefícios e busquem através da diversificação da produção, alterar o contexto em que se inserem.
PALAVRAS-CHAVE: Agricultura Familiar. Diversificação. Renda. Sustentabilidade.
INTRODUÇÃO
Há algum tempo vimos observando, conversando, com os alunos a respeito
da agricultura camponesa, em um passado recente grande parte dos agricultores,
compravam pouco do que consumiam.
De acordo com Kautsky (1968), retratando-se a Europa do séc XVIII, a família
camponesa constituía uma sociedade econômica e bastava-se a si mesma, produzia
seus alimentos, construía suas casas, fabricava suas ferramentas, curtia peles,
preparava o linho e a lã, fazia suas roupas. O camponês ia ao mercado para vender
a sobra do que produzia e comprar o supérfluo. Deste resultado dependia seu “luxo”,
mas nunca a sua existência. Esta sociedade, que se bastava a si mesma, era
indestrutível. Poderia ser abalado por uma colheita ruim, um incêndio, era um mal
passageiro.
Atualmente percebemos agricultores adquirirem produtos no mercado, os
quais foram eles próprios que produziram a matéria prima, que, muitas vezes por
comodidade, sem fazer qualquer análise, preferem comprá-los transformados,
industrializados, nos supermercados e pagar um preço elevado por este mesmo
produto.
1 Professora de Geografia do Colégio Estadual José de Alencar – Casa Familiar Rural Nova Prata do Iguaçu.
2Professora Orientadora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Francisco Beltrão.
Partindo dessa realidade, fez-se necessário trabalhar com o jovem agricultor,
levá-lo a analisar a produção, o consumo, o custo e os benefícios da transformação
da produção agropecuária, em especial, pautado na diversidade.
Este estudo buscou qualificar os jovens agricultores do terceiro ano da Casa
Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu, para que assumam uma nova postura
diante a realidade de agricultura familiar na qual estão inseridos. Em parceria com a
EMATER, ARCAFAR, oferecemos a estes jovens, alternativas viáveis para
diversificar a produção no estabelecimento, transformar para consumo próprio e para
comercialização. Buscamos com isso incentivar a melhorar da qualidade de vida e
da renda familiar.
Diante das dificuldades vivenciadas pelos agricultores, este trabalho buscou
através de estudos bibliográficos, do diagnóstico da propriedade, indicar
possibilidades viáveis de produção sustentável para a agricultura camponesa, aos
jovens do terceiro ano da Casa Familiar Rural (CFR) de Nova Prata do Iguaçu - PR.
Este estudo foi realizado inicialmente a partir de pesquisa bibliográfica que
nos possibilitou melhor compreensão da questão agrária brasileira, para isto
buscamos aporte teórico em Kautsky, Abramovay, Fernandes, Hespanhol, Oliveira,
Santos, Andrade, Paulino, Stedile, visto que estes autores trazem em seus estudos
apontamentos importantes para o tema em estudo.
A pesquisa ocorreu na Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu-PR, nos
meses de fevereiro de 2013 a dezembro de 2014. Após a pesquisa bibliográfica,
realizamos a coleta de dados sobre a produção dos estabelecimentos de cada
jovem, em seguida fizemos a análise da produção, suas vantagens e desvantagens,
em parceria com a EMATER, realizamos oficinas que demonstraram algumas
práticas de diversificação da produção bem como possibilidades de mudanças na
propriedade.
1 Agricultura camponesa: uma possibilidade de agricultura sustentável e vida
digna no campo
Diversos teóricos como Abramovay (1992), Fernandes (2000), Oliveira (2004),
Santos (2010), Andrade (2005), Paulino (2003), Stedile (2005), entre outros,
realizaram estudos acerca do campesinato. Para Fernandes e Abramovay, estes
produtores estão se metamorfoseando da essência camponesa à reprodução de
características do modo de produção capitalista, em agricultura familiar. Paulino e
Oliveira defendem que seu desenvolvimento não tem provocado o desaparecimento
do campesinato, mas a luta constante para manter-se no campo e garantir vida
digna a família, através do trabalho e da renda da terra, sem explorar o trabalho do
outro, tem levado a sua recriação. Teóricos da agricultura defendem:
... o agricultor familiar que utiliza os recursos técnicos e está altamente integrado ao mercado não é um camponês, mas sim um agricultor familiar. Desse modo, pode-se afirmar que a agricultura camponesa é familiar, mas nem toda a agricultura familiar é camponesa, ou que todo camponês é agricultor familiar é camponês. Criou-se assim um termo supérfluo, mas de reconhecida força teórico política. E como eufemismo de agricultura capitalista, foi criada a expressão agricultura patronal. (FERNANDES, 2001, p.29-30).
Para HESPANHOL (2000), mesmo com a luta intensa pelo acesso a terra,
aconteceu um processo de diminuição do campesinato, e estes passaram por
processos de transformação nas relações de produção que se faz necessários
refutar o conceito de camponês.
...que a utilização na década de 1990, da categoria de análise agricultura familiar para designar genericamente as unidades de produtivas, nas quais a terra, os meios de produção e o trabalho encontram-se estreitamente vinculados ao grupo familiar, deve ser aprendida como um reflexo das alterações recentes ocorridas na agricultura brasileira e que, em última análise, levaram a valorização do segmento familiar. Nesse sentido, as categorias de análise até então utilizadas para caracterizarem essas unidades de produção, como campesinato, pequena produção, agricultura de subsistência, produção de baixa renda, entre outras, perdem seu poder explicativo, favorecendo a emergência de novas concepções teóricas consubstanciadas na categoria agricultura familiares. (HESPANHOL, 2000, pág.2).
Para estes teóricos a agricultura familiar apresenta algumas características
que a diferencia da agricultura camponesa, conforme destaca Abramovay (1991)
como: integração ao mercado, o papel determinante do Estado no desenvolvimento
de políticas públicas e a incorporação de tecnologias. Este agricultor seria então a
reprodução do projeto da sociedade e do modo capitalista de produção. Dentro
desta lógica, o camponês muitas vezes é considerado como o velho, o atraso,
enquanto o agricultor familiar representa o novo, o moderno, o progresso.
Uma agricultura familiar, altamente integrada ao mercado, capaz de incorporar os principais avanços técnicos e de responder às políticas governamentais não pode ser nem de longe caracterizada como camponesa... (Teríamos assim) unidades produtivas que são familiares, mas não camponesas. (ABRAMOVAY. 1992, p.22).
Conforme Paulino (2003) acredita-se não se tratar de picuinhas conceituais,
visto que por trás das concepções teóricas se constroem projetos de intervenção na
realidade, os quais modificam o presente e criam possibilidades de definir o futuro de
quem vive do campo. Acerca da dimensão política do conceito Shanin (1980, p.76-
77, apud PAULINO 2003 p.43) coloca:
Um camponês não é uma palavra vazia a refletir os preconceitos do populus, as frivolidades linguísticas dos intelectuais ou ainda, conspirações de adeptos de uma ideologia, embora às vezes isso possa ser verdadeiro. Se revogado, este conceito (ainda?) não pode ser facilmente substituído por algo de natureza semelhante. Ele tem, assim como os conceitos de “capitalismo”, “proletariado” e, é claro, “modo de produção”, potenciais de reificação, isto é, pode ser enganoso, assim como pode ser usado para enganar, especialmente quando utilizado de maneira ingênua. Tem-se dito corretamente que “o preço da utilização de modelos é a eterna vigilância”. É verdade também que sem tais construções teóricas não seria absolutamente possível qualquer progresso nas ciências sociais. O camponês é uma mistificação principalmente para aqueles que são propensos a se tornar mistificados (...). Em última instância, os conceitos devem servir não a “uma questão de reconciliação dialética de conceitos”, mas “a compreensão das relações reais.” (...) Excetuando sua mistificação e sua utilização ideológica, o conceito de campesinato cumpriu, muitas vezes, todos esses serviços. Esta capacidade ainda não se esgotou.
Desta forma, conforme Paulino (2003), ao instituir as relações econômicas,
nas quais o mercado comparece como agente exclusivo e soberano, como eixo de
análise, nos trás a ideia de que o camponês deixa de ser o principal criador de sua
própria existência. Paulino (2003, p.44) coloca:
O pressuposto de que a iminência do mercado extermina o campesinato nos remete àquela velha concepção de que essa classe social seria um resíduo em vias de extinção, pois se admitirmos que a mesma seja parte do capitalismo, não é
possível sentenciá-la ao isolamento das condições produtivas orquestradas por esse modo de produção.
Sobre isto, Abramovay (1992, p.58-59) coloca que o problema que
preocupava Chayanov é de grande atualidade nas ciências sociais como um todo:
Não se pode compreender o campesinato imputando-lhe categorias que não correspondem suas formas de vida. Embora a unidade de produção camponesa lida com o trabalho, bens de produção e terra, disso não decorre a presunção de que ela gera salário, lucro e renda da terra. (...) O campesinato não é simplesmente uma forma ocasional, transitória, fadada ao desaparecimento, mas, ao contrário, mais que um setor social, trata-se de um sistema econômico, sobre cuja existência é possível encontrar as leis da reprodução e do desenvolvimento.
Sobre isto Chayanov (1986, apud ABRAMOVAY 1992 p.59) diz que diferente
do trabalhador assalariado o camponês é: “sujeito criando sua própria existência”.
A história do campesinato no Brasil é marcada de preconceito. Ao longo do
tempo, conforme Andrade (2005) criou-se meios de manter sua existência no
campo. Pela reação às transformações impostas, surgiram assim estratégias de
ação, baseadas nas ideias de enfrentamento aos proprietários de terras por meio de
elementos capazes de gerar resistência e buscar a garantia de suas reivindicações.
A ideia de campesinato na sua origem passa, portanto, por uma posição política de
como interpretar as reivindicações de determinado grupo social.
Assim, conforme Oliveira (2004) o camponês luta para construir uma história
diferente, em que os meios de produção estejam ao alcance dos setores que
produzem alimentos para a mesa de todos, de forma que não se deseja construir
uma categoria que tenha privilégio, mas que possa ser reconhecida na sociedade. O
anseio da maioria dos camponeses é a garantia da permanência no campo com
condições dignas e justas para poder viver.
O que pretendemos com este trabalho, não foi levantar discussão a respeito
do conceito de agricultura familiar e camponesa, apenas o fizemos para
compreender o embate histórico da luta pela terra defendida pelos camponeses. O
que nos propomos, é buscar apontar caminhos viáveis para uma agricultura que
possibilite vida digna, acesso consciente aos bens produzidos pela sociedade, as
novas tecnologias de modo que não comprometa a sustentabilidade, onde o
camponês através da busca constante pelo conhecimento, trabalho, técnicas, possa
produzir e apropriar-se do fruto de seu trabalho. Acreditamos, que com a existência
de uma classe camponesa que tenha acesso ao conhecimento que envolve sua vida
e seu trabalho, que com vasta variedade da produção e de políticas públicas que
possibilite uma relação direta do produtor com o consumidor, o que permite um
ganho real no produto produzido, é possível melhorar a renda desta classe e abrir
novas possibilidades de permanência no campo.
A agricultura orgânica pode ser uma possibilidade viável para estes
produtores, pois é um sistema de produção de alimentos que privilegia a
preservação da saúde humana, animal e o ambiente, faz uso de tecnologias de
baixo custo, utiliza técnicas de controle biológicos, faz uso de adubo orgânico, faz
rotação de cultura, policultura, busca o equilíbrio e a auto-sustentabilidade do
ecossistema. Desta forma promove o trabalho digno, respeita as condições e
características de cada lugar e os jovens estudantes da Casa Familiar Rural
recebem formação que promove esta prática.
Este sistema de cultivo é disciplinado pela Lei n. 10.831 de 2003, que
estabelece princípios e normas de produção, embalagem, distribuição e rotulagem.
Os produtos orgânicos recebem um selo que garante a sua origem e qualidade.
A fiscalização da produção orgânica é garantida por instituições
certificadoras, mas existem também outras formas de certificação, como o sistema
participativo ou a organização de controle social. Todos eles têm que ser
cadastrados no Ministério da Agricultura.
2 Agricultura em Nova Prata do Iguaçu
O município de Nova Prata do Iguaçu está localizado na região sudoeste do
Paraná, a 514 km da capital Curitiba. Sua área total é de 351,115km2, com uma
população de 10.377 habitantes, sendo 6.067 na zona urbana e 4.310 na zona rural
(IBGE – 2010). Sua altitude é de 438m.
O município possui atividades econômicas diversificada com predominância
do setor agropecuário, conforme mostra a tabela abaixo:
ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS E ÁREA SEGUNDO AS ATIVIDADES ECONÔMICAS – 2006.
ATIVIDADES
ECONÔMICAS
ESTABELECIMENTOS ÁREA (ha)
Lavoura temporária 513 10.571
Horticultura e floricultura 39 81
Pecuária e criação de
outros animais
754 16.583
Produção florestal de
florestas plantadas
16 239
Produção florestal de
florestas nativas
3 58
Aquicultura 1 X
TOTAL 1.335 27.920
Tabela 1 - FONTE: IBGE – Censo Agropecuário (2006)
NOTA: a soma das parcelas da área, não corresponde ao total porque os dados das unidades
territoriais com menos de três informantes estão identificados com o caractere “X”. Dados revisados
e alterados após divulgação da segunda apuração do Censo Agropecuário 2006, em outubro de
2012.
Como mostra à tabela, na atividade agropecuária do município de Nova Prata
do Iguaçu predomina lavoura temporária, pecuária e criação de outros animais.
Destacam-se a produção de soja, trigo, milho, conforme mostra a tabela abaixo.
ÁREA COLHIDA E PRODUÇÃO AGRÍCOLA -2011
PRODUTOS ÁREA COLHIDA (ha) PRODUÇÃO (t)
Soja 15.400 53.300
Trigo 6.900 17.250
Milho 3.900 30.030
Feijão 800 1.440
Fumo 370 717
Mandioca 340 8.160
Uva 38 399
Cana de açúcar 24 1440
Laranja 23 713
Erva mate 15 120
Tabela 2 - FONTE: IBGE (2011) – Produção Agrícola Municipal
NOTA: Dados estimados. Os municípios sem informação para pelo menos um produto das lavouras
temporárias e permanente não aparecem nas listas. Posição dos dados, no site do IBGE, 04 de
dezembro 2012. Diferenças encontradas são em razão da unidade adotada.
A atividade pecuária e aves são significativas conforme tabela a seguir:
EFETIVO DE PECUÁRIA E AVES – 2011.
EFETIVOS NÚMERO
Rebanho de bovinos 35.283
Rebanho de equinos 288
Galináceos (galinhas, galos, frangos, (as) e pintos ) 1.055.943
Rebanho de ovinos 805
Rebanho de suínos 38.107
Rebanho de caprinos 425
Codornas 845
Coelhos 1.225
Rebanho de muares 7
Rebanho de ovinos tosquiados 780
Rebanho de vacas ordenhadas 8.650
Tabela 3 - FONTE: IBGE (2011) – Produção da Pecuária Municipal
NOTA: O efetivo tem como data de referência o dia 31 de dezembro do ano em questão. Os
municípios sem informação para pelo menos um efetivo de rebanho não aparecem nas listas.
Posição dos dados, no site do IBGE, 04 de dezembro 2021.
PRODUÇÃO DE ORIGEM ANIMAL - 2011
PRODUTOS VALOR (R$
1000,00)
PRODUÇÃO UNIDADE
Lã 9 1.404 Kg
Leite 24.258 31.100 Mil litros
Mel de abelha 91 17.600 Kg
Ovos de codorna 5 5 Mil dúzias
Ovos de galinha 826 631 Mil dúzias
Tabela 4 - FONTE: IBGE (2011) – Produção da Pecuária Municipal
NOTA: Os municípios sem informação para pelo menos um produto de origem animal não aparecem
na lista. Posição dos dados, no site do IBGE, 04 de dezembro 2012. Diferenças encontradas são em
razão da unidade adotada.
ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS E ÁREAS SEGUNDO A CONDIÇÃO DO PRODUTOR -
2006
CONDIÇÃO DO
PRODUTOR
ESTABELECIMENTOS ÁREA (ha)
Proprietário 1.045 24.405
Assentamento sem
titulação definitiva
2 X
Arrendatários 114 2.046
Parceiro 41 441
Ocupante 99 995
Produtor sem área 34 -
TOTAL 1.335 27.920
Tabela 5 - FONTE: IBGE(2006) - Censo Agropecuário
NOTA: a soma das parcelas da área, não corresponde ao total porque os dados das Unidades
Territoriais com menos de três informantes estão identificados com o caractere “X”. Dados revisados
e alterados após divulgação da segunda Apuração do Censo Agropecuário 2006, em outubro de
2012.
Como podemos observar a partir dos dados das tabelas a produção,
agropecuária do município de Nova Prata do Iguaçu é um tanto diversificada, com
predominância na produção destinada a atender as necessidades do mercado
como; soja, trigo, milho, bovinos, suínos e aves.
Quanto ao número de propriedades agrícolas em Nova Prata do Iguaçu
predominam as pequenas, que utilizam a mão de obra familiar e sua produção é
diversificada. Grande parte dos jovens, filhos de agricultores tem buscado formação
na Casa Familiar Rural, onde oferece além do Ensino Médio Regular, a Formação
em Agricultura, contribuindo, desta forma com a melhoria da qualidade da produção
e permanência dos jovens no meio rural.
A Casa Familiar Rural (CFR) de Nova Prata do Iguaçu está localizada na
comunidade de Nova Gaúcha a aproximadamente cinco quilômetros do centro da
cidade. Foi implantada no município em 1995 ofertando o curso “Qualificação em
Agricultura”. Entre 1996 até 2006 ofereceu também o Ensino Fundamental séries
finais, em forma de supletivo. A partir de 2010 passou a ofertar o Ensino Médio e
Qualificação em Agricultura na modalidade “Pedagogia de Alternância”; que valoriza
o conhecimento prático familiar, ampliando com o científico escolar.
A pedagogia da alternância busca oferecer possibilidades para o jovem
permanecer no campo, sem deixar de oferecer formação para prosseguir seus
estudos ou trabalhar em outras profissões.
Conforme dados levantados pela CFR de Nova Prata do Iguaçu, 87% dos
jovens formados na instituição continuam no meio rural, com boa renda e melhor
qualidade de vida para eles e seus familiares.
A CFR trabalha com uma associação de pais, que tem como objetivo
promover o bom andamento e auxiliar na manutenção da mesma. Tem como
parceira também a ARCAFAR – SUL (Associação Regional das Casas Familiares do
Sul do Brasil), e esta têm parcerias regionais, estaduais, nacionais e internacionais.
A CFR de Nova Prata do Iguaçu tem como parceiro também a Prefeitura Municipal,
Câmara de Vereadores, CRESOL, CLAF, Sindicatos, SENAR e EMATER, tem como
escola base o Colégio Estadual José de Alencar. Partindo dessa realidade, fez-se
necessário trabalhar com o jovem agricultor, levá-lo a analisar a produção, o
consumo, o custo e os benefícios da transformação da produção agropecuária, em
especial, pautado na diversidade.
Este estudo foi realizado com os jovens do terceiro ano da Casa Familiar
Rural de Nova Prata do Iguaçu e buscou qualifica-los para que assumam uma nova
postura diante a realidade da agricultura familiar na qual estão inseridos. Em
parceria com a EMATER, ARCAFAR, oferecemos a estes jovens, alternativas diante
esta realidade, diversificar a produção no estabelecimento, transformar para
consumo próprio e para comercialização. Buscamos com isso incentivar a melhorar
da qualidade de vida e da renda familiar.
Diante das dificuldades vivenciadas pelos agricultores, este trabalho buscou
através de estudos bibliográficos, do diagnóstico da propriedade, indicar
possibilidades viáveis de produção sustentável para a agricultura camponesa, aos
jovens do terceiro ano da Casa Familiar Rural (CFR) de Nova Prata do Iguaçu - PR.
Este estudo foi realizado inicialmente a partir de pesquisa bibliográfica que
nos possibilitou melhor compreensão da questão agrária brasileira, para isto
buscamos aporte teórico em Kautsky, Abramovay, Fernandes, Hespanhol, Oliveira,
Santos, Andrade, Paulino, Stedile, visto que estes autores trazem em seus estudos
apontamentos importantes para o tema em estudo.
A pesquisa ocorreu na Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu-PR, nos
meses de fevereiro de 2013 a dezembro de 2014.
Num segundo momento, após a pesquisa bibliográfica, realizamos a coleta de
dados sobre a produção dos estabelecimentos de cada jovem, em seguida fizemos
a análise da produção, suas vantagens e desvantagens.
Num terceiro momento, em parceria com a EMATER, realizamos oficinas que
demonstraram algumas práticas de diversificação da produção bem como
possibilidades de mudanças na propriedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a intensa utilização de tecnologias, máquinas e equipamentos que
facilitam o trabalho, aceleram o processo produtivo, estimulam a produção para
atender os interesses do mercado, percebemos que em grande parte das
propriedades familiares, ao longo do tempo, o hábito de diversificar a produção para
atender as necessidades da família, foi sendo deixado de lado e substituído pela
compra de produtos industrializados, prontos para o consumo. Esta prática tem
levado muitas famílias deixarem de fazer uso de tecnologias de baixo custo, de fazer
controle biológico natural, de fazer uso de adubos orgânicos, como: esterco,
adubação verde, composto orgânico, de fazer a manutenção da cobertura do solo e
preservação das fontes de água; a rotação de culturas, policultura e biodiversidade;
isto tem comprometido a saúde e segurança alimentar do agricultor e do
consumidor; a geração de empregos e permanência da família no campo.
Diante desta realidade buscamos neste artigo sensibilizar o jovem agricultor
da Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu da necessidade de retomar estes
hábitos, de diversificar a produção no estabelecimento familiar. Para isto realizamos
o diagnóstico da produção agrícola na propriedade e podemos perceber que a
produção em poucas são diversificada.
Estudamos as diferenças entre a agricultura diversificada e a monocultura,
para que os mesmos percebessem as vantagens que uma propriedade com
produção diversificada pode oferecer e com isso melhorar a qualidade alimentar, o
custo de vida, a renda familiar e a sustentabilidade da propriedade e também do
ambiente.
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