OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Oliveira defendem que seu desenvolvimento não...

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DIVERSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO NA AGRICULTURA FAMILIAR

Selene Rocker Padilha1

Roseli Alves Santos2

RESUMO: Atualmente percebemos que parcela cada vez maior de agricultores adquire, via mercado tradicional, grande parte das mercadorias de consumo diário, oriundos do campo, os quais foram eles próprios que produziram a matéria prima, que muitas vezes por comodidade ou por falta de opção preferem comprá-los transformados, nos supermercados e pagar um preço elevado. Considerando esse contexto e a realidade dos jovens educando da Casa Familiar Rural, desenvolvemos estudos através de oficinas, levando-o a fazer análise da produção, do consumo, dos custos e benefícios e busquem através da diversificação da produção, alterar o contexto em que se inserem.

PALAVRAS-CHAVE: Agricultura Familiar. Diversificação. Renda. Sustentabilidade.

INTRODUÇÃO

Há algum tempo vimos observando, conversando, com os alunos a respeito

da agricultura camponesa, em um passado recente grande parte dos agricultores,

compravam pouco do que consumiam.

De acordo com Kautsky (1968), retratando-se a Europa do séc XVIII, a família

camponesa constituía uma sociedade econômica e bastava-se a si mesma, produzia

seus alimentos, construía suas casas, fabricava suas ferramentas, curtia peles,

preparava o linho e a lã, fazia suas roupas. O camponês ia ao mercado para vender

a sobra do que produzia e comprar o supérfluo. Deste resultado dependia seu “luxo”,

mas nunca a sua existência. Esta sociedade, que se bastava a si mesma, era

indestrutível. Poderia ser abalado por uma colheita ruim, um incêndio, era um mal

passageiro.

Atualmente percebemos agricultores adquirirem produtos no mercado, os

quais foram eles próprios que produziram a matéria prima, que, muitas vezes por

comodidade, sem fazer qualquer análise, preferem comprá-los transformados,

industrializados, nos supermercados e pagar um preço elevado por este mesmo

produto.

1 Professora de Geografia do Colégio Estadual José de Alencar – Casa Familiar Rural Nova Prata do Iguaçu.

2Professora Orientadora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná Campus de Francisco Beltrão.

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Partindo dessa realidade, fez-se necessário trabalhar com o jovem agricultor,

levá-lo a analisar a produção, o consumo, o custo e os benefícios da transformação

da produção agropecuária, em especial, pautado na diversidade.

Este estudo buscou qualificar os jovens agricultores do terceiro ano da Casa

Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu, para que assumam uma nova postura

diante a realidade de agricultura familiar na qual estão inseridos. Em parceria com a

EMATER, ARCAFAR, oferecemos a estes jovens, alternativas viáveis para

diversificar a produção no estabelecimento, transformar para consumo próprio e para

comercialização. Buscamos com isso incentivar a melhorar da qualidade de vida e

da renda familiar.

Diante das dificuldades vivenciadas pelos agricultores, este trabalho buscou

através de estudos bibliográficos, do diagnóstico da propriedade, indicar

possibilidades viáveis de produção sustentável para a agricultura camponesa, aos

jovens do terceiro ano da Casa Familiar Rural (CFR) de Nova Prata do Iguaçu - PR.

Este estudo foi realizado inicialmente a partir de pesquisa bibliográfica que

nos possibilitou melhor compreensão da questão agrária brasileira, para isto

buscamos aporte teórico em Kautsky, Abramovay, Fernandes, Hespanhol, Oliveira,

Santos, Andrade, Paulino, Stedile, visto que estes autores trazem em seus estudos

apontamentos importantes para o tema em estudo.

A pesquisa ocorreu na Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu-PR, nos

meses de fevereiro de 2013 a dezembro de 2014. Após a pesquisa bibliográfica,

realizamos a coleta de dados sobre a produção dos estabelecimentos de cada

jovem, em seguida fizemos a análise da produção, suas vantagens e desvantagens,

em parceria com a EMATER, realizamos oficinas que demonstraram algumas

práticas de diversificação da produção bem como possibilidades de mudanças na

propriedade.

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1 Agricultura camponesa: uma possibilidade de agricultura sustentável e vida

digna no campo

Diversos teóricos como Abramovay (1992), Fernandes (2000), Oliveira (2004),

Santos (2010), Andrade (2005), Paulino (2003), Stedile (2005), entre outros,

realizaram estudos acerca do campesinato. Para Fernandes e Abramovay, estes

produtores estão se metamorfoseando da essência camponesa à reprodução de

características do modo de produção capitalista, em agricultura familiar. Paulino e

Oliveira defendem que seu desenvolvimento não tem provocado o desaparecimento

do campesinato, mas a luta constante para manter-se no campo e garantir vida

digna a família, através do trabalho e da renda da terra, sem explorar o trabalho do

outro, tem levado a sua recriação. Teóricos da agricultura defendem:

... o agricultor familiar que utiliza os recursos técnicos e está altamente integrado ao mercado não é um camponês, mas sim um agricultor familiar. Desse modo, pode-se afirmar que a agricultura camponesa é familiar, mas nem toda a agricultura familiar é camponesa, ou que todo camponês é agricultor familiar é camponês. Criou-se assim um termo supérfluo, mas de reconhecida força teórico política. E como eufemismo de agricultura capitalista, foi criada a expressão agricultura patronal. (FERNANDES, 2001, p.29-30).

Para HESPANHOL (2000), mesmo com a luta intensa pelo acesso a terra,

aconteceu um processo de diminuição do campesinato, e estes passaram por

processos de transformação nas relações de produção que se faz necessários

refutar o conceito de camponês.

...que a utilização na década de 1990, da categoria de análise agricultura familiar para designar genericamente as unidades de produtivas, nas quais a terra, os meios de produção e o trabalho encontram-se estreitamente vinculados ao grupo familiar, deve ser aprendida como um reflexo das alterações recentes ocorridas na agricultura brasileira e que, em última análise, levaram a valorização do segmento familiar. Nesse sentido, as categorias de análise até então utilizadas para caracterizarem essas unidades de produção, como campesinato, pequena produção, agricultura de subsistência, produção de baixa renda, entre outras, perdem seu poder explicativo, favorecendo a emergência de novas concepções teóricas consubstanciadas na categoria agricultura familiares. (HESPANHOL, 2000, pág.2).

Para estes teóricos a agricultura familiar apresenta algumas características

que a diferencia da agricultura camponesa, conforme destaca Abramovay (1991)

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como: integração ao mercado, o papel determinante do Estado no desenvolvimento

de políticas públicas e a incorporação de tecnologias. Este agricultor seria então a

reprodução do projeto da sociedade e do modo capitalista de produção. Dentro

desta lógica, o camponês muitas vezes é considerado como o velho, o atraso,

enquanto o agricultor familiar representa o novo, o moderno, o progresso.

Uma agricultura familiar, altamente integrada ao mercado, capaz de incorporar os principais avanços técnicos e de responder às políticas governamentais não pode ser nem de longe caracterizada como camponesa... (Teríamos assim) unidades produtivas que são familiares, mas não camponesas. (ABRAMOVAY. 1992, p.22).

Conforme Paulino (2003) acredita-se não se tratar de picuinhas conceituais,

visto que por trás das concepções teóricas se constroem projetos de intervenção na

realidade, os quais modificam o presente e criam possibilidades de definir o futuro de

quem vive do campo. Acerca da dimensão política do conceito Shanin (1980, p.76-

77, apud PAULINO 2003 p.43) coloca:

Um camponês não é uma palavra vazia a refletir os preconceitos do populus, as frivolidades linguísticas dos intelectuais ou ainda, conspirações de adeptos de uma ideologia, embora às vezes isso possa ser verdadeiro. Se revogado, este conceito (ainda?) não pode ser facilmente substituído por algo de natureza semelhante. Ele tem, assim como os conceitos de “capitalismo”, “proletariado” e, é claro, “modo de produção”, potenciais de reificação, isto é, pode ser enganoso, assim como pode ser usado para enganar, especialmente quando utilizado de maneira ingênua. Tem-se dito corretamente que “o preço da utilização de modelos é a eterna vigilância”. É verdade também que sem tais construções teóricas não seria absolutamente possível qualquer progresso nas ciências sociais. O camponês é uma mistificação principalmente para aqueles que são propensos a se tornar mistificados (...). Em última instância, os conceitos devem servir não a “uma questão de reconciliação dialética de conceitos”, mas “a compreensão das relações reais.” (...) Excetuando sua mistificação e sua utilização ideológica, o conceito de campesinato cumpriu, muitas vezes, todos esses serviços. Esta capacidade ainda não se esgotou.

Desta forma, conforme Paulino (2003), ao instituir as relações econômicas,

nas quais o mercado comparece como agente exclusivo e soberano, como eixo de

análise, nos trás a ideia de que o camponês deixa de ser o principal criador de sua

própria existência. Paulino (2003, p.44) coloca:

O pressuposto de que a iminência do mercado extermina o campesinato nos remete àquela velha concepção de que essa classe social seria um resíduo em vias de extinção, pois se admitirmos que a mesma seja parte do capitalismo, não é

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possível sentenciá-la ao isolamento das condições produtivas orquestradas por esse modo de produção.

Sobre isto, Abramovay (1992, p.58-59) coloca que o problema que

preocupava Chayanov é de grande atualidade nas ciências sociais como um todo:

Não se pode compreender o campesinato imputando-lhe categorias que não correspondem suas formas de vida. Embora a unidade de produção camponesa lida com o trabalho, bens de produção e terra, disso não decorre a presunção de que ela gera salário, lucro e renda da terra. (...) O campesinato não é simplesmente uma forma ocasional, transitória, fadada ao desaparecimento, mas, ao contrário, mais que um setor social, trata-se de um sistema econômico, sobre cuja existência é possível encontrar as leis da reprodução e do desenvolvimento.

Sobre isto Chayanov (1986, apud ABRAMOVAY 1992 p.59) diz que diferente

do trabalhador assalariado o camponês é: “sujeito criando sua própria existência”.

A história do campesinato no Brasil é marcada de preconceito. Ao longo do

tempo, conforme Andrade (2005) criou-se meios de manter sua existência no

campo. Pela reação às transformações impostas, surgiram assim estratégias de

ação, baseadas nas ideias de enfrentamento aos proprietários de terras por meio de

elementos capazes de gerar resistência e buscar a garantia de suas reivindicações.

A ideia de campesinato na sua origem passa, portanto, por uma posição política de

como interpretar as reivindicações de determinado grupo social.

Assim, conforme Oliveira (2004) o camponês luta para construir uma história

diferente, em que os meios de produção estejam ao alcance dos setores que

produzem alimentos para a mesa de todos, de forma que não se deseja construir

uma categoria que tenha privilégio, mas que possa ser reconhecida na sociedade. O

anseio da maioria dos camponeses é a garantia da permanência no campo com

condições dignas e justas para poder viver.

O que pretendemos com este trabalho, não foi levantar discussão a respeito

do conceito de agricultura familiar e camponesa, apenas o fizemos para

compreender o embate histórico da luta pela terra defendida pelos camponeses. O

que nos propomos, é buscar apontar caminhos viáveis para uma agricultura que

possibilite vida digna, acesso consciente aos bens produzidos pela sociedade, as

novas tecnologias de modo que não comprometa a sustentabilidade, onde o

camponês através da busca constante pelo conhecimento, trabalho, técnicas, possa

produzir e apropriar-se do fruto de seu trabalho. Acreditamos, que com a existência

de uma classe camponesa que tenha acesso ao conhecimento que envolve sua vida

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e seu trabalho, que com vasta variedade da produção e de políticas públicas que

possibilite uma relação direta do produtor com o consumidor, o que permite um

ganho real no produto produzido, é possível melhorar a renda desta classe e abrir

novas possibilidades de permanência no campo.

A agricultura orgânica pode ser uma possibilidade viável para estes

produtores, pois é um sistema de produção de alimentos que privilegia a

preservação da saúde humana, animal e o ambiente, faz uso de tecnologias de

baixo custo, utiliza técnicas de controle biológicos, faz uso de adubo orgânico, faz

rotação de cultura, policultura, busca o equilíbrio e a auto-sustentabilidade do

ecossistema. Desta forma promove o trabalho digno, respeita as condições e

características de cada lugar e os jovens estudantes da Casa Familiar Rural

recebem formação que promove esta prática.

Este sistema de cultivo é disciplinado pela Lei n. 10.831 de 2003, que

estabelece princípios e normas de produção, embalagem, distribuição e rotulagem.

Os produtos orgânicos recebem um selo que garante a sua origem e qualidade.

A fiscalização da produção orgânica é garantida por instituições

certificadoras, mas existem também outras formas de certificação, como o sistema

participativo ou a organização de controle social. Todos eles têm que ser

cadastrados no Ministério da Agricultura.

2 Agricultura em Nova Prata do Iguaçu

O município de Nova Prata do Iguaçu está localizado na região sudoeste do

Paraná, a 514 km da capital Curitiba. Sua área total é de 351,115km2, com uma

população de 10.377 habitantes, sendo 6.067 na zona urbana e 4.310 na zona rural

(IBGE – 2010). Sua altitude é de 438m.

O município possui atividades econômicas diversificada com predominância

do setor agropecuário, conforme mostra a tabela abaixo:

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ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS E ÁREA SEGUNDO AS ATIVIDADES ECONÔMICAS – 2006.

ATIVIDADES

ECONÔMICAS

ESTABELECIMENTOS ÁREA (ha)

Lavoura temporária 513 10.571

Horticultura e floricultura 39 81

Pecuária e criação de

outros animais

754 16.583

Produção florestal de

florestas plantadas

16 239

Produção florestal de

florestas nativas

3 58

Aquicultura 1 X

TOTAL 1.335 27.920

Tabela 1 - FONTE: IBGE – Censo Agropecuário (2006)

NOTA: a soma das parcelas da área, não corresponde ao total porque os dados das unidades

territoriais com menos de três informantes estão identificados com o caractere “X”. Dados revisados

e alterados após divulgação da segunda apuração do Censo Agropecuário 2006, em outubro de

2012.

Como mostra à tabela, na atividade agropecuária do município de Nova Prata

do Iguaçu predomina lavoura temporária, pecuária e criação de outros animais.

Destacam-se a produção de soja, trigo, milho, conforme mostra a tabela abaixo.

ÁREA COLHIDA E PRODUÇÃO AGRÍCOLA -2011

PRODUTOS ÁREA COLHIDA (ha) PRODUÇÃO (t)

Soja 15.400 53.300

Trigo 6.900 17.250

Milho 3.900 30.030

Feijão 800 1.440

Fumo 370 717

Mandioca 340 8.160

Uva 38 399

Cana de açúcar 24 1440

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Laranja 23 713

Erva mate 15 120

Tabela 2 - FONTE: IBGE (2011) – Produção Agrícola Municipal

NOTA: Dados estimados. Os municípios sem informação para pelo menos um produto das lavouras

temporárias e permanente não aparecem nas listas. Posição dos dados, no site do IBGE, 04 de

dezembro 2012. Diferenças encontradas são em razão da unidade adotada.

A atividade pecuária e aves são significativas conforme tabela a seguir:

EFETIVO DE PECUÁRIA E AVES – 2011.

EFETIVOS NÚMERO

Rebanho de bovinos 35.283

Rebanho de equinos 288

Galináceos (galinhas, galos, frangos, (as) e pintos ) 1.055.943

Rebanho de ovinos 805

Rebanho de suínos 38.107

Rebanho de caprinos 425

Codornas 845

Coelhos 1.225

Rebanho de muares 7

Rebanho de ovinos tosquiados 780

Rebanho de vacas ordenhadas 8.650

Tabela 3 - FONTE: IBGE (2011) – Produção da Pecuária Municipal

NOTA: O efetivo tem como data de referência o dia 31 de dezembro do ano em questão. Os

municípios sem informação para pelo menos um efetivo de rebanho não aparecem nas listas.

Posição dos dados, no site do IBGE, 04 de dezembro 2021.

PRODUÇÃO DE ORIGEM ANIMAL - 2011

PRODUTOS VALOR (R$

1000,00)

PRODUÇÃO UNIDADE

Lã 9 1.404 Kg

Leite 24.258 31.100 Mil litros

Mel de abelha 91 17.600 Kg

Ovos de codorna 5 5 Mil dúzias

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Ovos de galinha 826 631 Mil dúzias

Tabela 4 - FONTE: IBGE (2011) – Produção da Pecuária Municipal

NOTA: Os municípios sem informação para pelo menos um produto de origem animal não aparecem

na lista. Posição dos dados, no site do IBGE, 04 de dezembro 2012. Diferenças encontradas são em

razão da unidade adotada.

ESTABELECIMENTOS AGROPECUÁRIOS E ÁREAS SEGUNDO A CONDIÇÃO DO PRODUTOR -

2006

CONDIÇÃO DO

PRODUTOR

ESTABELECIMENTOS ÁREA (ha)

Proprietário 1.045 24.405

Assentamento sem

titulação definitiva

2 X

Arrendatários 114 2.046

Parceiro 41 441

Ocupante 99 995

Produtor sem área 34 -

TOTAL 1.335 27.920

Tabela 5 - FONTE: IBGE(2006) - Censo Agropecuário

NOTA: a soma das parcelas da área, não corresponde ao total porque os dados das Unidades

Territoriais com menos de três informantes estão identificados com o caractere “X”. Dados revisados

e alterados após divulgação da segunda Apuração do Censo Agropecuário 2006, em outubro de

2012.

Como podemos observar a partir dos dados das tabelas a produção,

agropecuária do município de Nova Prata do Iguaçu é um tanto diversificada, com

predominância na produção destinada a atender as necessidades do mercado

como; soja, trigo, milho, bovinos, suínos e aves.

Quanto ao número de propriedades agrícolas em Nova Prata do Iguaçu

predominam as pequenas, que utilizam a mão de obra familiar e sua produção é

diversificada. Grande parte dos jovens, filhos de agricultores tem buscado formação

na Casa Familiar Rural, onde oferece além do Ensino Médio Regular, a Formação

em Agricultura, contribuindo, desta forma com a melhoria da qualidade da produção

e permanência dos jovens no meio rural.

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A Casa Familiar Rural (CFR) de Nova Prata do Iguaçu está localizada na

comunidade de Nova Gaúcha a aproximadamente cinco quilômetros do centro da

cidade. Foi implantada no município em 1995 ofertando o curso “Qualificação em

Agricultura”. Entre 1996 até 2006 ofereceu também o Ensino Fundamental séries

finais, em forma de supletivo. A partir de 2010 passou a ofertar o Ensino Médio e

Qualificação em Agricultura na modalidade “Pedagogia de Alternância”; que valoriza

o conhecimento prático familiar, ampliando com o científico escolar.

A pedagogia da alternância busca oferecer possibilidades para o jovem

permanecer no campo, sem deixar de oferecer formação para prosseguir seus

estudos ou trabalhar em outras profissões.

Conforme dados levantados pela CFR de Nova Prata do Iguaçu, 87% dos

jovens formados na instituição continuam no meio rural, com boa renda e melhor

qualidade de vida para eles e seus familiares.

A CFR trabalha com uma associação de pais, que tem como objetivo

promover o bom andamento e auxiliar na manutenção da mesma. Tem como

parceira também a ARCAFAR – SUL (Associação Regional das Casas Familiares do

Sul do Brasil), e esta têm parcerias regionais, estaduais, nacionais e internacionais.

A CFR de Nova Prata do Iguaçu tem como parceiro também a Prefeitura Municipal,

Câmara de Vereadores, CRESOL, CLAF, Sindicatos, SENAR e EMATER, tem como

escola base o Colégio Estadual José de Alencar. Partindo dessa realidade, fez-se

necessário trabalhar com o jovem agricultor, levá-lo a analisar a produção, o

consumo, o custo e os benefícios da transformação da produção agropecuária, em

especial, pautado na diversidade.

Este estudo foi realizado com os jovens do terceiro ano da Casa Familiar

Rural de Nova Prata do Iguaçu e buscou qualifica-los para que assumam uma nova

postura diante a realidade da agricultura familiar na qual estão inseridos. Em

parceria com a EMATER, ARCAFAR, oferecemos a estes jovens, alternativas diante

esta realidade, diversificar a produção no estabelecimento, transformar para

consumo próprio e para comercialização. Buscamos com isso incentivar a melhorar

da qualidade de vida e da renda familiar.

Diante das dificuldades vivenciadas pelos agricultores, este trabalho buscou

através de estudos bibliográficos, do diagnóstico da propriedade, indicar

possibilidades viáveis de produção sustentável para a agricultura camponesa, aos

jovens do terceiro ano da Casa Familiar Rural (CFR) de Nova Prata do Iguaçu - PR.

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Este estudo foi realizado inicialmente a partir de pesquisa bibliográfica que

nos possibilitou melhor compreensão da questão agrária brasileira, para isto

buscamos aporte teórico em Kautsky, Abramovay, Fernandes, Hespanhol, Oliveira,

Santos, Andrade, Paulino, Stedile, visto que estes autores trazem em seus estudos

apontamentos importantes para o tema em estudo.

A pesquisa ocorreu na Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu-PR, nos

meses de fevereiro de 2013 a dezembro de 2014.

Num segundo momento, após a pesquisa bibliográfica, realizamos a coleta de

dados sobre a produção dos estabelecimentos de cada jovem, em seguida fizemos

a análise da produção, suas vantagens e desvantagens.

Num terceiro momento, em parceria com a EMATER, realizamos oficinas que

demonstraram algumas práticas de diversificação da produção bem como

possibilidades de mudanças na propriedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a intensa utilização de tecnologias, máquinas e equipamentos que

facilitam o trabalho, aceleram o processo produtivo, estimulam a produção para

atender os interesses do mercado, percebemos que em grande parte das

propriedades familiares, ao longo do tempo, o hábito de diversificar a produção para

atender as necessidades da família, foi sendo deixado de lado e substituído pela

compra de produtos industrializados, prontos para o consumo. Esta prática tem

levado muitas famílias deixarem de fazer uso de tecnologias de baixo custo, de fazer

controle biológico natural, de fazer uso de adubos orgânicos, como: esterco,

adubação verde, composto orgânico, de fazer a manutenção da cobertura do solo e

preservação das fontes de água; a rotação de culturas, policultura e biodiversidade;

isto tem comprometido a saúde e segurança alimentar do agricultor e do

consumidor; a geração de empregos e permanência da família no campo.

Diante desta realidade buscamos neste artigo sensibilizar o jovem agricultor

da Casa Familiar Rural de Nova Prata do Iguaçu da necessidade de retomar estes

hábitos, de diversificar a produção no estabelecimento familiar. Para isto realizamos

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o diagnóstico da produção agrícola na propriedade e podemos perceber que a

produção em poucas são diversificada.

Estudamos as diferenças entre a agricultura diversificada e a monocultura,

para que os mesmos percebessem as vantagens que uma propriedade com

produção diversificada pode oferecer e com isso melhorar a qualidade alimentar, o

custo de vida, a renda familiar e a sustentabilidade da propriedade e também do

ambiente.

REFERÊNCIAS

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