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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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1. IDENTIFICAÇÃO

Ficha de Identificação

Produção Didático-pedagógica - Professor PDE/2013

Título: Estratégias de Ensino de História discutindo cultura Afro-Brasileira e Racismo

Autor: Roberlei Batista de Souza

Disciplina/Área: História

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Presidente Lamenha Lins Rua Lamenha Lins 2185, Bairro Rebouças

Município da Escola: Curitiba

Núcleo Regional de Educação:

Curitiba

Professor Orientador: Armando João Dalla Costa

Instituição de Ensino Superior:

UFPR

Relação Interdisciplinar: Arte, Língua Portuguesa, Sociologia.

Resumo:

A proposta desse material tem como objetivo central, estabelecer um diálogo através do debate em sala de aula com os estudantes do ensino médio. Esse debate deve problematizar a temática apresentada, visando um conhecimento mais dialético da realidade. Buscar construir com os estudantes, um pensamento mais relacional dos fatos históricos. Nessa perspectiva, pensar e discutir o racismo contra o negro em nossa sociedade e na própria escola. Reconhecer a identidade positiva desse sujeito histórico. Partindo dos conhecimentos e concepções já presentes em nossos estudantes, buscamos aprofundar a temática através de textos, música e filme. Com isso, usando do conhecimento adquirido, da pesquisa e da criatividade, possam elaborar uma apresentação teatral. Consideramos que essa estratégia do teatro em sala de aula contribui para a dinamização do aprendizado, com o envolvimento e participação dos estudantes.

Palavras-chave: Ensino de História; Teatro; Afro-brasileiro; Racismo

Formato do Material Didático:

Unidade Didática

Público Alvo: Estudantes do Ensino Médio

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2. APRESENTAÇÃO

A produção desse material didático visa uma busca de reflexão junto aos

estudantes do ensino médio, assim como professores que poderão tomá-lo como

sugestão de trabalho para desenvolver seus conteúdos. Essa reflexão se direciona

para a temática da cultura afro-brasileira, discutindo as questões étnico-racionais a

partir desse viés.

Uma opção para trabalhar nos conteúdos da aula de história, a questão afro-

brasileira tem seus diversos fundamentos, além das suas riquezas constitutivas

dentro da História de nosso país; ainda temos um problema crucial a ser enfrentado

na atualidade, que é o racismo, sobretudo no que se refere à cor da pele.

Contamos atualmente com toda uma legislação a respeito da

obrigatoriedade do ensino da história e Cultura Afro-Brasileira, conforme a Lei

10.639/03, art. 26ª. “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e

particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura afro-brasileira.”

No entanto, não basta a existência de leis para garantir um efetivo trabalho a

respeito dessa temática, precisamos criar estratégias, buscar diferentes linguagens

que venham provocar o debate em sala de aula e consequentemente para suas

comunidades.

Nesse sentido, apontamos o teatro como estratégia pedagógica para

dinamizar a reflexão e o debate sobre a temática proposta, pelo caráter provocativo

e criativo no seu processo de elaboração e apresentação.

O teatro tem o poder de provocar e despertar o monstro adormecido no

interior de quem pratica e de quem assiste, de abrir horizontes reflexivos, de

dar alegria e tristeza, de desinibir o tímido, de dinamizar o apático. O teatro

é forte porque explica o mundo que está em nossa volta através do

divertimento, da análise e da crítica. (CARTAXO, 2001, p.64).

Dessa forma, o teatro não só pode trabalhar os conteúdos específicos, como

também o desenvolvimento pessoal, enquanto expressão do indivíduo seja ele

tímido ou desinibido.

Avançando um pouco nessa estratégia, o autor Carlos Cartaxo, faz uma

diferença entre teatro na escola e teatro na educação.

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Vejamos então que, teatro na escola não é a mesma coisa que teatro na

educação. Esse último é mais abrangente e ultrapassa os limites do

professor de artes cênicas, e do professor de teatro, caso se trate apenas

de um trabalho de extensão com um grupo de teatro, e passa a ser

exercido como ferramenta didática facilitadora do processo pedagógico de

ensino-aprendizagem. Com essa compreensão, o professor/orientador de

qualquer disciplina ou curso pode também trabalhar o seu conteúdo

programático através da espontaneidade da linguagem teatral.

(CARTAXO,2001, p.64 e p.65).

Com essa diferenciação fica claro que não pretendemos, em nossa proposta

de trabalho, formar artistas, ou dar aula de Artes e sim ter o teatro como uma

ferramenta que pode ser utilizada no ensino de história, assim como em qualquer

outra disciplina, a fim de dinamizar os conteúdos e a participação do estudante.

A opção por uma Unidade Temática tem como objetivo discutir o tema

central, que é a questão étnico-racial, enquanto valorização da cultura

afrodescendente no Brasil. Estabelecer uma contraposição ao racismo presente

ainda hoje em nossa sociedade, mesmo se passando mais de um século da dita

“abolição” de uma escravatura, subjugando e oprimindo seres humanos

fundamentada numa pretensa inferioridade pela cor da pele, conforme

Brasil/SECAD, 2006, p.14.

Os 118 anos que nos separam da Lei Áurea não foram suficientes para

resolver uma série de problemas decorrentes das dinâmicas

discriminatórias forjadas ao longo dos quatro séculos de regime

escravocrata. Ainda hoje, permanece na ordem do dia a luta pela

participação equitativa de negros e negras nos espaços da sociedade

brasileira e pelo respeito à humanidade dessas mulheres e homens

reprodutores e produtores de cultura.

O enfrentamento ao racismo é uma tarefa de toda a sociedade e de forma

muito significativa, para nós professores e toda a comunidade escolar. A escola é

um espaço onde está presente uma grande diversidade, inclusive a étnico-racial. A

complexidade dessas relações faz emergir o constante conflito, onde devemos atuar

de forma dialética na sua compreensão e mediação, diante de nossas funções

enquanto sujeitos históricos. Nessa perspectiva, o autor Edélcio Mostaço, faz uma

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referência ao sociólogo Erving Goffmam sobre um estudo dos papéis sociais “atores

sociais” e uma relação com a teatralidade.

Seu enfoque recaiu, especialmente, sobre o sutil e indispensável sentido de

representação que perpassa os desempenhos sociais em geral, com

destaque para as atuações profissionais: o médico, o engenheiro, o

vendedor, entre outros, necessitam transmitir confiança e credibilidade aos

clientes e consumidores, sob pena de não sobreviverem em suas áreas de

atuação. Tais representações na vida cotidiana deram corpo à teatralidade

e à dramatização inerentes à vida social, uma nova dimensão da auto

apresentação dos indivíduos entre si, atando fortemente os laços da

interação. (MOSTAÇO, 2010, p.41).

Para a construção de nossa Unidade Didática, usaremos de várias

linguagens como texto, a música e o cinema, que tratam das questões étnico raciais

da cultura Afro-brasileira. A partir dessas discussões e reflexões do tema,

desenvolveremos com os estudantes trabalhos em grupos de debates e pesquisas

com várias atividades que culminarão na elaboração e apresentação de pequenas

peças de teatro. Com a contribuição das apresentações dos grupos, poderemos

construir um roteiro mais ampliado com toda a turma visando a apresentação de

uma peça para a Escola sobre a temática trabalhada.

3. UNIDADE I - Discutindo a Presença do Racismo no Brasil

Afinal, ainda existe racismo contra o negro no Brasil?

Quando fazemos essa pergunta no dia a dia, provavelmente teremos

diversas respostas. É possível também que muitas pessoas dirão que esse é um

problema já superado em nosso país e que os negros assim como todos os

afrodescendentes não sofrem mais esse tipo de preconceito na nossa sociedade.

Para entender melhor essa questão, além daquilo que já vivenciamos e percebemos

em nosso cotidiano, buscamos algumas leituras de autores especialistas no assunto

que nos explicam muitos fatores que compõem o nosso pensamento a respeito

desse tema. Quando refletimos mais a fundo com algumas leituras, podemos ver

que muito de nossas ideias e comportamentos estão ligados a uma imposição que

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nos faz crer que o correto é agir conforme colonizados, inferiores, aceitando uma

cultura do consumo, tanto econômico, quanto cultural. Dessa forma, o Brasil deveria

se tornar cada vez mais branco (numa visão euro-ocidental), para ser melhor.

Analisaremos então dois textos que nos ajudarão a discutir e entender um

pouco mais a questão do negro, do afrodescendente e o racismo no Brasil.

O primeiro texto é um pequeno trecho do livro Racismo à brasileira do autor

Martiniano José da Silva, da 4ª edição, publicada em 2008, que teve sua primeira

edição em 1985. Martiniano é um escritor baiano, advogado e professor

universitário, engajado no movimento negro (p. 99-100).

O segundo texto é também um pequeno trecho do artigo “O negro na

dramaturgia, um caso exemplar da decadência do mito da democracia racial

brasileira”, do autor Joel Zito Araújo, escrito em 2008.

Texto 1 –...

“Como poderia existir um povo tão marcado pela desordem, iniquidade,

imoralidade e ilusão desbragada dos costumes como o brasileiro? É uma lembrança

sombria onde surge a ideia secularmente consagrada de um dos mais velhos

conceitos de racismo dos tempos modernos, a secular “inferioridade africana”, torpe

concepção através da qual aderimos, copiamos, compilamos e imitamos, mais vezes

servilmente, os modelos externos, na antropologia, na história, na religião, na

sociologia, na língua, na economia, na política, na literatura, no direito, na filosofia,

no folclore, na música, na psicologia, na didática, na pedagogia, nas artes em geral;

enfim, nos trejeitos, em quaisquer juízos ou raciocínios, pois que, sem dúvida, onde

estamos mais profundamente atingidos pelas nocivas influências externas é na

psicologia comportamental ou do ajustamento. Aos poucos, entramos todos nesse

jogo sujo dos que promovem o consumismo desenfreado que os ricos do Norte nos

impingem. De tão atingidos pelas manhas desse colonialismo cultural, nos

transformamos no mais disfarçado e, ironicamente, no menos detectável dos povos

colonizados, a ponto de passarmos fome, vivendo no sticky! Surpreendente também

é que essa enganosa influência alcançou prestígio e larga eficácia, sempre na

ilusória tentativa de demonstrar que o negro, assim como o índio, teria sido

predestinado, originária e fisiologicamente, ao trabalho e apenas ao trabalho. Seria,

biológica e congenitamente inferior, não tendo condições, portanto, para conquistar

conhecimentos nem ganhar a representação política. O mestiço teria herdado as

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taras da raça inferior que nele concorria. Seria preguiçoso por índole, incapaz por

herança e falso por atavismo, dentre outros preconceitos , inicialmente aceitos e

perpetuados. De tão fortes, o negro no Brasil, para melhorar a própria identidade e a

dignidade de sua raça, só o conseguiria `a medida em que eliminasse aquele labéu

de sua ruindade inata, pela brancura gradual da pele, desse modo se vendo

purificado pelos “santos olhos” da civilização euro-ocidental, fato segundo o qual o

negro no Brasil só melhora quando perde a sua cor e sua cultura, tendo, assim,

somente dois caminhos inapeláveis para seguir: a integração biológica, via

miscigenação; e a cultural via a culturação; estando, portanto, inexoravelmente

impedido, biológica e culturalmente, de ser negro, já que essas relações levam-no

tão somente ao branqueamento, inclusive da alma...”

Texto 2 –...

“... Examinar a representação dos atores e das atrizes negras em quase 50

anos de história da telenovela brasileira, principal indústria audiovisual e

dramatúrgica do país, é trazer à tona a decadência do mito da democracia racial,

sujando assim uma bela, mas falsa imagem que o Brasil sempre buscou difundir de

si mesmo, fazendo crer que a partir de nossa condição de nação mestiça superamos

o “problema racial” e somos um modelo de integração para o mundo.

Nenhum dos grandes atores negros parece ter escapado do papel de

escravo ou serviçal na história da telenovela brasileira, mesmo aqueles que quando

chegaram à televisão já tinham um nome solidamente construído no teatro ou no

cinema, como Ruth de Souza, Grande Otelo, Milton Gonçalves e Lázaro Ramos.

Essa afirmativa pôde ser constatada na pesquisa que fizemos sobre a

representação do negro na história da telenovela brasileira, que deu origem ao filme

e livro A negação do Brasil.

...Mas a pior armadilha para os atores negros tem sido a manifesta opção

por profissionais brancos para representar a beleza ideal do brasileiro ou, até

mesmo, o típico brasileiro comum – uma estética produzida pela persistência da

ideologia do branqueamento em nossa cultura, um discurso construído no século

XIX que é revivido no dia-a-dia de nossas telinhas através da exclusiva escolha de

louras como apresentadoras ideais dos programas infantis e de modelos brancos

para papéis de galã e mocinhas...”.

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Atividades:

Após a leitura dos textos indicados, trabalhar em pequenos grupos:

a- Destacar os conceitos (palavras) que existem dúvidas sobre seus

significados e discutir com o grupo, para depois compartilhar com a turma

e o professor.

b- Destacar uma frase ou parágrafo que mais chamou a atenção nos textos e

justificar o por quê

c- Debata no grupo e faça um relato como os exemplos de racismo no texto

podem ser percebidos no seu dia-a-dia e nos meios de comunicação.

Depois apresentar para a turma.

d- Pesquisa;

escolha um povo africano que foi trazido para ser escravizado no

Brasil e investigue algum elemento de como vivia na sua terra de

origem;

investigue também qual era a principal justificativa dada para

escravizar o povo negro no Brasil.

Sugestão de atividade complementar;

- Assista ao filme (A negação do Brasil), disponível nos sites:

https://www.youtube.com/watch?v=jJFCEpc7aZM

https://www.youtube.com/watch?v=Fp6x9OtYuVo

4. UNIDADE II - Etnias e o Problema da Opressão

Canto das três raças - análise da música

A música nos traz possibilidades de entender e interpretar muitos temas de

nossa atualidade, assim como analisar outros períodos e contextos de nossa

História.

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A composição que vamos analisar em seguida é uma canção clássica da

música popular brasileira que foi interpretada por uma grande cantora, Clara Nunes,

tendo como compositores Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro. Seu primeiro

lançamento se deu em 1976, no formato de LP e só em 1995 foi lançada no formato

CD.

“Ninguém ouviu

Um soluçar de dor

No canto do Brasil....

...Negro entoou

Um canto de revolta pelos ares

No Quilombo do Palmares

Onde se refugiou...”

(http://www.youtube.com/watch?v=dcVKb2ht6BE, acesso em 27/11/2013).

Essa canção que nasce no período da ditadura militar no Brasil, nos faz

pensar sobre a dor, a injustiça e opressão vivida pelos povos. Porém, é muito

importante perceber que nem o índio, nem o negro e nem o branco se cala diante da

opressão. Todas essas etnias lutam pela sua liberdade e pela sua dignidade, seja na

condição de escravizados ou de trabalhador em tempos mais atuais.

Atividades:

a- Discuta com seu grupo que mensagem expressa essa música; ela retrata

uma situação que pode ser percebida no momento atual? Há um conteúdo

sobre o racismo?

b- Se existir algumas expressões na letra dessa canção que não foram

entendidas, faça um apontamento delas para esclarecimentos com o grupo e

a turma.

c- Você conhece outra música que fala sobre o negro e o racismo? Que

sugestão de música (principalmente na atualidade) pode ser dada para

analisar a temática que estamos estudando? Discuta com seu grupo.

d- Pesquisa:

Faça uma pesquisa investigando as seguintes situações:

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no período da escravidão no Brasil quem era escravizado e quem

escravizava;

uma notícia em algum veículo de comunicação que denuncia nos

dias de hoje a existência de trabalho escravo e quem são os

escravizados e escravizadores;

todos os negros no período da escravidão no Brasil viviam da

mesma forma, eram todos escravizados ou encontravam em

diversas situações.

qual era a situação dos escravos “libertos” após 1888.

5. UNIDADE III - Um grito de liberdade (análise do filme)

Ficha técnica;

Título original – Cry Freedom

País de origem – Inglaterra

Gênero – Drama

Tempo de duração – 157 minutos

Ano de lançamento – 1987

Estúdio/ distribuição – Universal Pictures

Direção – Richard Attenborough

Atores – Denzel Washington ( Steve Biko); Kevin Kline ( Donald Woods) e

outros.

Assistindo a esse filme, que é baseado em um livro dos anos 70, podemos

discutir um pouco sobre um terrível momento histórico vivido na África do Sul, que

era o Apartheid, um sistema cruel de separação entre brancos e negros. Apesar de

ser um país constituído majoritariamente por negros, o poder se concentrava nas

mãos de uma minoria branca, numa situação de grande opressão. No entanto a

opressão não aniquila a todos e a reação dos oprimidos se levanta com vozes de

luta em movimentos contra o racismo, dentre vários, o exemplo do ativista Steve

Biko, que morreu em 1977, representado nesse filme.

Essas vozes de luta não existiram apenas na África do Sul no regime

Apartheid, mas sim em toda parte do mundo, em diversos momentos da História,

como aqui no Brasil, onde o negro sempre resistiu à escravidão e opressão de modo

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geral e continua nos dias de hoje com várias lutas para o reconhecimento justo de

sua identidade, no princípio de igualdade de direitos.

É no sentido de reconhecer essa identidade que podemos perceber de

forma concreta de que a origem (etnia) ou cor da pele não vai definir alguém como

melhor ou pior. Prova disso é a presença do negro na construção de nossa História,

não só nos serviços braçais, promovendo o crescimento da economia, mas também

em muitas outras áreas como literatura, dramaturgia, engenharia, educação,

movimentos sociais, política e ciências de modo geral.

Atividades:

a- Apontar qual trecho ou cena do filme que mais lhe chamou a atenção e

justificar por que. Discuta com seu grupo.

b- Qual a mensagem central do filme? O mesmo consegue transmitir uma

mensagem definida? Discuta com seu grupo.

c- Pesquisa:

Investigue os seguintes itens:

alguns líderes nacionais e mundiais que lutaram ou lutam contra o

racismo;

um movimento negro hoje no Brasil e qual sua área de atuação.

Verifique as principais lutas (reivindicações) nessa área;

alguns exemplos de negros ou afro descentes no Brasil que se

destacaram positivamente nos campos: economia, tecnologia,

ciências, arte, política, literatura e outros. (escolher uma ou mais

dessas áreas para investigar).

6. UNIDADE IV – Teatro

Dramatização de elementos aprendidos sobre a relação étnico-racial na questão

Afro-brasileira.

O teatro desde a antiguidade se caracteriza principalmente na forma de

representar o outro, ou seja, nos colocar no papel de outra pessoa tentando

aproximar o máximo possível de suas reais características, sentimentos, atuações

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enquanto ser humano presente no mundo. Dessa forma, dramatizar uma situação,

um momento da nossa história é uma oportunidade rica para demonstrarmos o que

pensamos sobre determinado assunto, o que sabemos sobre ele e também de certo

modo como vemos o mundo, a sociedade e as pessoas que convivemos.

Sendo assim, o teatro pode nos ajudar de forma bem dinâmica a estudar

toda essa temática sobre relações étnico-raciais e o racismo contra o negro no

Brasil. Um bom exemplo disso foi a criação nos anos quarenta do Teatro

Experimental do Negro (TEN), que tinha uma proposta que ia além da própria

dramaturgia buscando a valorização do negro. Conforme a colocação de Abdias do

Nascimento, um de seus principais criadores, “... resgatar no Brasil os valores da

cultura negro- africana degredados e negados pela violência da cultura branco-

europeia; propunha-se à valorização social do negro através da educação, da

cultura e da arte...” (MENDES, 1993, p.48; apud Nascimento, 1968, p. 199).

A escola, a sala de aula são espaços onde podemos dramatizar as mais

diversas situações e temas de estudo, buscando a pesquisa, utilizando a criatividade

e o conhecimento para também construir ou resgatar valores.

Para entender um pouco mais sobre o fazer teatro na escola podemos citar

um pequeno trecho do livro “O que é Teatro”, de Fernando Peixoto, que demonstra a

existência de elementos essenciais do teatro. “... Um espaço, um homem no espaço.

Outro que o observa... no sentido mais amplo da palavra, este espaço poderá ser

qualquer espaço: uma esquina, uma loja, um restaurante, um trem, etc...”

(PEIXOTO, 1998, P.9 E P.15).

Então dizemos mais: Porque não ser a sala de aula ou o pátio da escola

espaços para representarmos em forma de teatro aquilo que estudamos?

Atividades:

A partir do que foi estudado sobre a temática, formar grupos com a

finalidade de elaborar um pequeno roteiro e apresentarem um

teatro, utilizando-se da pesquisa e criatividade do grupo. A sala

pode ser dividida entre quatro a seis grupos, conforme ficar melhor

a organização da turma. Cada grupo terá um tempo estipulado

para apresentação.

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Após a apresentação dos grupos podemos elaborar um roteiro

geral incluindo as várias contribuições e apresentar uma peça para

a escola.

Para a elaboração do trabalho, os grupos podem escolher um

período da História, uma questão específica, situações presentes

no cotidiano, elementos de lutas contra o racismo, personagens

históricos que contribuíram ou contribuem para uma afirmação

positiva do negro na sociedade. Tudo isso deve estar relacionado e

fundamentado com os estudos feitos sobre o assunto até então.

7. ORIENTAÇÃO METODOLÓGICA

Prezado (a) Professor (a):

O material didático apresentado não tem a pretensão de ser algo novo ou

desconhecido pelos professores. Certamente todos vocês em algum momento já

utilizaram algum tipo desses recursos e têm muito a dizer sobre essa experiência.

No entanto, nossa preocupação ou nosso foco principal está em apresentar mais

uma sugestão dentre as diversas possibilidades que podemos ter na utilização de

tais recursos para a problematização dos conteúdos trabalhados e sua dinamização.

Temos um grande desafio em construir com nossos estudantes uma

metodologia que consiga estabelecer o debate nas temáticas estudadas, visando

uma compreensão de forma relacional, saindo do senso comum para uma visão

mais dialética da História, assim como, do ser humano, da sociedade e do mundo.

Ao propor uma metodologia em que o teatro é tomado como estratégia no

ensino de História, sabemos que teremos além de muito trabalho para sua

organização dentro do espaço físico da escola e o tempo limitado, a necessidade de

um estudo mais aprofundado de cada temática. Para levar os estudantes a

construírem uma apresentação que exige um mínimo de organização de roteiro,

produção de texto, articulação de ideias, coerência de argumentos, precisamos

buscar uma fundamentação de estudos que garantam uma condição para a

realização de tal trabalho.

Em função do que já foi exposto, acreditamos que o estudo da temática

proposta que é o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira, tendo o teatro como a

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principal estratégia nessa relação de aprendizagem exige-se alguns pressupostos.

Por isso, partimos do estudo de textos que trazem uma fundamentação por alguns

teóricos especialistas no assunto e abrir assim um debate partindo das visões e

concepções já existentes nos estudantes que têm suas histórias de vida, que estão

inseridos em diversos meios sociais, com diversas interpretações da realidade e da

História como um todo. Sugerimos algumas atividades que podem organizar o

debate, sabendo que existem tantas outras formas de discutir a temática a partir dos

textos apresentados. Cada forma será adequada à realidade da turma ou da escola.

A análise de uma determinada música foi proposta de maneira intencional,

uma vez que, existem tantas outras possíveis para se estudar a questão Afro-

Brasileira e o racismo. Escolhemos uma música que não é atual, no entanto, muito

conhecida, intitulada como “Canto das Três Raças”, que passa por uma questão

temporal do trabalho e a luta pela liberdade. Por se tratar de uma composição dos

anos setenta, é interessante inclusive a discussão de muitos conceitos que

mudaram ou que foram resignificados no decorrer desse tempo, assim como

elementos que permanecem em problemáticas atuais. O próprio conceito de “raça”

ainda utilizado atualmente, porém, com uma perspectiva diferente, ou seja, uma

utilização que visa desconstruir o próprio conceito e passar a falar de “etnia” e não

mais de “raça”. Outra questão importante também ao propor uma música é abrir o

espaço para que os estudantes tragam ou sugiram tantas outras que conhecem,

inclusive da atualidade, nos mais diversos estilos, que tratam da temática em

estudo.

A unidade trabalhada com a exibição de um filme, ou parte dele, traz uma

contribuição significativa pelo fato que além do textual e da musicalidade também

presente, tem a imagem e a interpretação de contextos históricos. É claro que

precisamos ter em mente que uma obra mesmo tratando de certa realidade, é uma

produção a partir de um recorte, de um ponto de vista, de interpretações dos fatos

históricos. O filme não pode refletir a realidade e sim interpretá-la. Com o filme

proposto “Um Grito de Liberdade”, podemos ampliar a discussão sobre a temática

do negro e racismo além do nosso país, como no caso da África do Sul com o

Apartheid, uma realidade distante da nossa, mas que traz elementos para discutir a

questão étnico-racial e desconstruir a partir de um conhecimento elaborado, a ideia

de inferioridade ou superioridade de um povo pela sua constituição biológica. As

atividades propostas para essa unidade, também têm como objetivo central

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organizar um debate que ajuda a estabelecer relações mais amplas sobre a temática

estudada. Assim como na música, os estudantes também têm contato com várias

outras produções que podem ser citadas, sugeridas por eles nas discussões

efetuadas.

Por fim, podemos culminar nosso trabalho, utilizando de todos os recursos

anteriores para compor uma dramatização. Nesse ponto é importante para nós

professores algumas breves noções e referências sobre dramaturgia como explica

Renata Pallotini

“Quando se fala, na epígrafe, de um drama, não quer, naturalmente, falar de

peça de teatro com final infeliz, de tom sério, ou que leve a um desfecho

pessimista; drama seria simplesmente uma peça de teatro, um texto para

ser encenado, oriundo, outra vez, do grego drama, que significa ação

...podemos dizer que o ponto de partida para a feitura de um bom texto

dramático é a existência de um conteúdo a ser expressado, veiculado”.

(PALLOTTINI, 2005. p.15).

Dessa forma, essas colocações vêm exatamente ao encontro do que

objetivamos em nosso trabalho, ou seja, despertar e estimular uma ação em nossos

estudantes, visando de maneira participativa o aprendizado de um conteúdo.

Para entendermos um pouco mais essa relação do nosso conteúdo a ser

trabalhado e o teatro, podemos ver algumas considerações sobre o trabalho de

Moacyr Flores que no seu livro “O Negro Na Dramaturgia Brasileira – 1838- 1888”,

faz uma análise das peças de teatro desse período e como o historiador pode

aproveitar essa fontes para interpretações históricas de diferentes contextos.

“O historiador pode buscar o mundo das ideias no relato literário que, com

sua dimensão fictícia e imaginária dos fatos, mantém um aparato conceitual

relacionado à uma realidade. A análise dos códigos e das convenções

retóricas do discurso, como formas submersas de pensamento não só do

autor como de sua época, permite o entendimento de uma realidade

histórica. Em cada época, grupos sociais selecionam símbolos e signos que

perpassam pelas dimensões social e política.” (FLORES, 1995, p.8).

E mais adiante, explica a relação do tema de um texto com representações

de uma determinada sociedade.

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“O discurso ou tema central do texto pode ser inconsciente, ligado apenas

ao gosto da época, ou então intencional, buscando uma mudança de atitude

com o engajamento em uma campanha, como a abolicionista ou a

propaganda positivista. Na longa e curta duração pode-se estudar as

atitudes mentais, principalmente quando a própria sociedade contempla no

palco a sátira ou a recriação das rotinas de seu cotidiano.” (FLORES, 1995,

p.9).

Seja no drama ou na comédia, assim como os dramaturgos, nossos

estudantes certamente colocam em suas expressões teatrais, muitos conceitos,

visões de mundo, elementos que trazem da vida cotidiana numa relação com o

conteúdo estudado. Isso tudo pode nos dar um parâmetro sobre os objetivos e

resultados de nosso trabalho.

Como já foi dito em outro momento, não pretendemos discutir ou aprofundar

em nossas aulas de História sobre o que é dramaturgia ou estudar teatro em si

mesmo, até porque sem formação específica não daremos conta dessa tarefa. O

que almejamos então com essa proposta é fundamentalmente estudar o conteúdo

selecionado e a partir do embasamento sobre o tema, nossos estudantes tenham

uma condição mínima de reelaborar o aprendido, sintetizar e organizar as ideias

para expressarem de forma teatral as suas compreensões a respeito da temática

apresentada. Esse momento pode ser também, além de processo de conhecimento,

ser um processo avaliativo.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei nº 10639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei no 9.394, de 20 de

dezembro de 1996. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília,

DF 9 jan. 2003.

BRASIL, Ministério da Educação/Secretaria da Educação Continuada, Alfabetização

e Diversidade. Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnico-

Raciais, Brasília, SECAD, 2006.

CARTAXO, Carlos. O Ensino das Artes Cênicas na Escola Fundamental e

Média. João Pessoa. UFPB. 2001.

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FLORES, Moacyr. O Negro na Dramaturgia Brasileira – 1838-1888. Porto Alegre,

EDIPUCRS, 1995.

MENDES, Miriam Garcia. O Negro e o Teatro Brasileiro (entre 1889 e 1982), São

Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto de Arte e Cultura; Brasília: Fundação

Cultural Palmares, 1993.

MOSTAÇO, Edélcio (org.). Para uma história cultural do teatro.

Florianópolis/Jaraguá do Sul, design Editora, 2010.

PALLOTINI, Renata. O que é Dramaturgia, São Paulo, Brasiliense, 2005, (Coleção

primeiros passos).

PEIXOTO, Fernando. O que é Teatro, São Paulo, Brasiliense, 1998, (Coleção

primeiros passos).

SILVA, Martiniano José Da. Racismo à Brasileira: Raízes Históricas, 4ª ed. São

Paulo. 2009.

8.1 SITES

http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/consulta/detalhe.php?Id_Disco=DI0

0068. Acesso em 2711/2013

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2008000300016&script=sci_arttext

Acesso em 27/11/2013