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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

É PRECISO CONHECER PARA RESPEITAR: a diversidade sexual na escola e na sociedade.

Osmar Marini1 Sérgio Roberto Abrahão2

Resumo: Durante toda a vida, as pessoas herdam crenças, das quais algumas podem ser úteis, outras, apenas crenças preconceituosas que se reproduzem por falta de conhecimento e reflexões, podendo prejudicar e discriminar pessoas. O objetivo deste trabalho no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, 2013/2014, é contribuir para o conhecimento básico de toda comunidade escolar, em prol do respeito ao próximo e da minimização do preconceito e discriminação por orientação sexual e identidade de gênero; proporcionar reflexões e estabelecer um diálogo sobre LGBT: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, uma vez que, mesmo a escola e a sociedade tendo essa diversidade de pessoas, ainda vê como tabu a abordagem de tais assuntos, em meio ao fundamentalismo religioso que os reprime social e politicamente, pressionando e influenciando as decisões do estado que deve ser laico. Utilizou-se na implementação deste trabalho, um questionário diagnóstico, vídeos, slides, relatos, discussão no grupo de participantes: alunos, professores, funcionários, direção e equipe pedagógica, onde de modo geral, o grupo demonstrou desconhecimento sobre o que diz a OMS Organização Mundial de Saúde a respeito da despatologização da homossexualidade; da resolução 001/09 do Conselho Federal de Psicologia que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual; da Instrução Conjunta 02/2010 SEED/SUED/DAE, que ampara e dá direito ao nome social às travestis e transexuais maiores de 18 anos, nos documentos escolares.

Palavras-chave: Educação. Diversidade Sexual. Direitos Constitucionais. Laicidade. Introdução

O artigo apresenta as considerações finais do trabalho realizado no Programa

de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria de Estado da Educação do

Paraná, durante os anos de 2013 e 2014.

O mesmo não é voltado exclusivamente à disciplina de Educação Física, mas

sim, à todas as disciplinas e em todo o âmbito educacional, conforme justificado com

maiores detalhes na apresentação da Produção Didática.

O tema pesquisado e aplicado na escola foi sobre a Diversidade Sexual na

Educação, objetivando provocar reflexões e sensibilizar para o respeito, em prol do

conhecimento e da desconstrução de preconceitos.

1 Professor PDE - Licenciado em Educação Física, pós-graduado em Educação Física Escolar e em Educação

Especial. Professor da rede pública estadual de ensino - Curitiba – PR. ([email protected]). 2 Professor Orientador - Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná, Doutor em Atividade Física,

Educação Física e Esporte pela Universidade de Barcelona. Vinculado ao Departamento de Educação Física da

Universidade Federal do Paraná. ([email protected]).

Os motivos deste trabalho se deram pela existência da homofobia3 nas

escolas e na sociedade, que ainda resultam em violências físicas e psíquicas de

crianças, jovens e adultos, bem como, em assassinatos de pessoas LGBTs

(conforme citado nas pesquisas do projeto de intervenção pedagógica e da produção

didática deste PDE); pela insegurança de professores e professoras em abordar tal

temática; pela carência destes materiais nas escolas e pela ausência de legislações

da própria Secretaria de Estado da Educação, que ampare legalmente e incentive

este trabalho nas instituições de ensino, uma vez que um projeto chamado “Escola

Sem Homofobia”, produzido por entidades não governamentais com supervisão do

MEC (Ministério da Educação), e aprovado pela UNESCO (Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), e que traria materiais pedagógicos

(que já estavam prontos) que tratavam do assunto para as escolas de ensino médio,

foi impedido e vetado por pressão de parlamentares da bancada religiosa.

1. A Diversidade Sexual na Escola e na Sociedade

(...) ao se pensar no ambiente escolar atual e na convivência de diferentes grupos sociais, fica evidente o surgimento de conflitos e idéias contrastantes a respeito de assuntos ligados aos variados grupos. No que se refere à sexualidade, as discussões sejam talvez as mais polêmicas por envolverem muito mais que conceitos científicos diversos: referem-se, muitas vezes, a conceitos dogmáticos, especulativos, preconceituosos, limitados e conservadores, que, aliados a uma formação incipiente por parte das / os educadores / as, gera a apropriação de um currículo que geralmente ignora, trata com superficialidade ou desconsidera tal perspectiva. (SANTOS; ARAÚJO, 2009, p. 15).

Junqueira (2009, p. 30) afirma que: “As temáticas relativas às

homossexualidades, bissexualidades e transgeneridades são invisíveis no currículo,

no livro didático e até mesmo nas discussões sobre direitos humanos na escola”.

Torres, (2010, p. 55), coloca que: “Muitas vezes, essas questões circulam

pouco nos espaços formais de educação. Geralmente, o preconceito é tão intenso

que, se alguém fala sobre elas, já passa a ser considerado gay ou lésbica, etc.”.

Santos (2009, p. 64) aponta que:

Um argumento insistentemente proferido pelos / as professores / as, que tem tido visibilidade ao longo da história da educação, é o de que os / as

3 Homofobia: medo, aversão, ou o ódio irracional a gays, lésbicas, bissexuais, travestis e/ou

transexuais. (REIS 2009, p. 253).

educadores / as habilitados / as em alguma disciplina diferente de Ciências e Biologia, não se “sentem” preparados para tratar pedagogicamente da sexualidade nas escolas por não possuírem formação inicial (graduação) e continuada (pós-graduação, cursos, seminários, simpósios) específicas para tanto.

A homossexualidade ainda é um tema cercado de preconceitos, o qual está

ligado à falta de conhecimento (Reis, 2009, p. 248), e sendo este, algo que compete

à escola, o autor afirma ainda que: “A escola é um ambiente detentor de um

potencial que pode tornar a sociedade mais solidária e justa, por meio de uma

educação voltada para a cultura da paz e ao respeito aos direitos e diversidade

humana...” (p. 247).

“O preconceito, quando colocado em prática, transforma-se em discriminação

que, inclusive, marginaliza as pessoas cuja sexualidade é diferente da ortodoxa” (pp.

248 – 249).

Reis (2009, p. 249) aponta também que:

Na pior das situações, a consequência dessa discriminação da sexualidade não ortodoxa é a expulsão pela família, a rejeição pelos colegas, a evasão escolar, a resultante falta de qualificação para o mercado de trabalho, a discriminação na busca por emprego e, para alguns a prostituição, como a última alternativa de sobrevivência, considerando-se toda a vulnerabilidade social e pessoal que essa situação acarreta.

Junqueira (2009, p. 02) reforça, dizendo que:

A homofobia compromete a inclusão educacional e a qualidade do ensino. Incide na relação docente-estudante. Produz desinteresse pela escola, dificulta a aprendizagem e conduz à evasão e ao abandono escolar. Afeta a definição das carreiras profissionais e dificulta a inserção no mercado de trabalho.

O que os autores acima colocam, mostra que o preconceito e a discriminação

podem interferir diretamente no Ideb das escolas (Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica). O Ideb “foi criado pelo Inep4 em 2007 e representa a iniciativa

pioneira de reunir em um só indicador dois conceitos igualmente importantes para a

qualidade da educação: fluxo escolar e médias de desempenho nas avaliações”.

Brasil, (2011, p. 01).

Sabendo destes indicadores, as instituições de ensino poderiam evitar que

esses fatos prejudicassem o desempenho escolar de crianças, jovens e adultos

4 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. (BRASIL, 2011, p. 01).

garantindo o que preconiza o art. 3º, inciso I, da LDB5: “igualdade de condições para

o acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1996, p. 01).

Brasil (1990, p. 01), o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA, discorre em

seu art. 5º que: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na

forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos

fundamentais”.

Segundo a Constituição Federal de 1988, art. 3º, parágrafo IV, (BRASIL, 1988,

p. 01), constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil

“promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e

quaisquer outras formas de discriminação”. No artigo 5º, consta que “Todos são

iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”.

Diante das citações da LDB, do ECA e da Constituição Federal, questiona-se:

O que os governantes e as escolas tem feito para garantir esses direitos aos

estudantes, funcionários, professores, enfim, a toda sociedade?

Em 2004 o governo federal, por meio da Secretaria de Direitos Humanos da

Presidência da República, Ministério da Saúde, juntamente com a Sociedade Civil

Organizada, tomou a iniciativa de elaborar o Programa Brasil Sem Homofobia.

(BRASIL, 2004). Desde então, não se pode negar os avanços proporcionados ao

público LGBT em termos de visibilidade e promoção da cidadania, entretanto, no

item V do Programa de Ações no que se refere ao “Direito à Educação: promovendo

valores de respeito à paz e à não-discriminação por orientação sexual”, dentre

algumas, destacamos a seguinte proposta de ação deste programa: “Estimular a

produção de materiais educativos (filmes, vídeos e publicações) sobre orientação

sexual e superação da homofobia” (BRASIL, 2004, p. 22).

Diante da proposta citada acima, lembramos de uma tentativa de

concretização da mesma: o kit anti homofobia. Um material do Projeto Escola Sem

Homofobia, produzido por entidades não governamentais com supervisão do MEC, e

aprovado pela UNESCO (o órgão das Nações Unidas, voltado para a educação). Os

kits continham vídeos e cartilhas que seriam distribuídos em 6 mil escolas de ensino

5 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996, p. 01).

médio, com o objetivo de combater a discriminação homofóbica. Porém, conforme

divulgado pelo Jornal Nacional (2011), a distribuição destes kits foram canceladas

depois que parlamentares das bancadas religiosas ameaçaram o governo com

retaliações (Jornal Nacional, 2011).

Assim, o que viria para contribuir e facilitar o trabalho pedagógico dos

professores, (que não tiveram oportunidade de participar de alguma formação sobre

o tema, ou que não se sentem seguros com a discussão em sala de aula), foi

interrompido por influência político-religiosa.

Profissionais da educação, no entanto, ainda não contam com suficientes diretrizes e instrumentos adequados para enfrentar os desafios relacionados aos direitos sexuais e à diversidade sexual. É comum que tais profissionais declarem não saber como agir quando um estudante é agredido por parecer ou afirmar ser homossexual, bissexual ou transgênero. (JUNQUEIRA, 2009, p. 34).

Torres (2010, p. 52), em sua atuação na formação continuada de

educadores/as, identifica a dificuldade que estes tem com a população LGBT. O

autor afirma ainda que: “Na maioria das vezes, a pessoa que participou do curso

sente que foi um ganho pessoal, mas não vê como socializar os conhecimentos

adquiridos” (p. 52).

Não basta os professores e professoras participarem de uma palestra ou de

um curso. É importante buscar mais subsídios como leituras, filmes, formações

continuadas, etc., para sua segurança em abordar o tema. Seffner (2009 p. 136)

assinala que “As questões que envolvem a diversidade sexual são complexas e

exigem estudo por parte dos professores”. Lembra ainda que “Não devemos abordar

nenhum tema de forma improvisada na escola. Escola é lugar de aprendizagens, e

isto se faz de forma planejada”. O autor coloca também, que a luta por materiais

pedagógicos adequados e formações sobre temas da sexualidade deve continuar.

(SEFFNER, 2009, p. 136).

É importante destacar que, nenhum professor deve ser obrigado a abordar

estes assuntos em sala de aula. Devem se sentir à vontade e seguros para o fazê-lo.

Os professores com pertencimento religioso ou valores morais não condizentes com

a valorização da diferença, não estão habilitados para uma abordagem esclarecida

do assunto. (SEFFNER, 2009, p. 137).

Silva (2013 p. 01), se referindo à política Brasileira, onde se construiu uma

bancada que segue a orientação político-religiosa das lideranças pentecostais,

lembra o fato de um membro desta bancada ter assumido a presidência da

Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, e o surgimento de

grandes discussões “sobre direitos de liberdade religiosa, vida sexual,

manifestações, minorias, etc.”, “diante de inúmeros vídeos mostrados com suas

desastradas declarações sobre negros, gays, mulheres e católicos, agitou-se

intensamente a discussão em torno do Brasil como Estado laico”.

Silva (2013 p. 01) alerta ainda que isso:

... põe em risco a paz pública na medida em que compromete as boas relações de convivência entre os mais diversos segmentos religiosos do Brasil. Agressões e ataques deste ou daquele grupo podem desencadear uma onda de intolerância, algo incompatível com o espírito do povo brasileiro, na medida em que a Constituição garante a todos o direito à vida, de ir e vir, à manifestação do pensamento, à liberdade de credo e de crença.

Referindo-se às ações efetivas de inclusão da diversidade sexual na pauta

dos estudos das escolas, Seffner (2009, p. 135) discorre sobre a necessidade da

neutralidade religiosa nessas discussões:

A adequada discussão dessas questões deve ser feita sempre levando em conta que a escola é um espaço público, e necessariamente laico. Desta forma, aquilo que as religiões pensam e dizem acerca da sexualidade humana não deve virar regra dentro da escola. As regras da escola são as regras do espaço público, regras democráticas de convívio, valorização e respeito da diferença. Escola não é igreja e professor não é sacerdote ou pastor.

2. Metodologia No primeiro semestre de 2014, foi implementado no CEEBJA Dr. Luiz Losso

Filho, o Projeto de Intervenção Pedagógica. O que estava planejado para iniciar com

os profissionais da educação na semana pedagógica de fevereiro de 2014, não

ocorreu porque a maioria dos educadores fizeram essa formação continuada nas

escolas em que trabalham, em turnos diferentes. Assim, foi replanejado com a

direção e equipe pedagógica, que os profissionais da educação participariam desta

implementação juntamente com os alunos de acordo com as datas e turmas

planejadas.

Conforme a estratégia de ação da Produção Didática, em cada turma /

encontro, a implementação se iniciava com a aplicação do questionário diagnóstico.

Em seguida, a proposta do trabalho PDE era apresentada aos participantes, e uma

breve introdução de questionamentos relacionados ao tema apresentava a

necessidade da discussão.

Os assuntos foram abordados por meio de slides que apresentavam o tema e

seus conceitos, vídeos de curta e média duração, aberturas para questionamentos e

debates, e por fim, a avaliação.

Simultaneamente à implementação deste trabalho no CEEBJA, acontecia o

GTR – Grupo de Trabalho em Rede, que objetivou a socialização das produções do

professor PDE com os professores das diversas regiões do Estado, por meio do

Ambiente Virtual de Aprendizagem da Secretaria de Estado da Educação –

SEED/PR. Analisadas por esses professores que se inscreveram nessa formação

por necessidade e / ou afinidade ao tema, essas produções tiveram avaliação

positiva de todos. Foram discutidas nos fóruns e diários, além das possibilidades de

aplicação nas escolas, as experiências práticas e sugestões de atividades de cada

um.

3. Resultados da Implementação Como esperado, o tema foi bem aceito pelos alunos e professores

participantes, e em um dos encontros, a discussão foi mais acalorada quando alunos

religiosos colocaram suas convicções no debate. Esse diálogo foi importante e rico, e

foi aí que entrou o filme “Orações para Bobby” e o vídeo “Medo de Quê”,

acrescentando um olhar diferente às nossas reflexões. Tivemos depoimentos de

alunos que revelaram casos em que alunos LGBTs se evadiram da escola pela

pressão discriminatória que sofriam. Foi gratificante, ao final, quando entre jovens e

adultos que vieram agradecer, um com mais de 60 anos deixou suas palavras de

apoio e satisfação. Houve também, um comentário de satisfação em redes sociais

por parte, inclusive de uma aluna lésbica, sendo que, o que mais emocionou e fez

com que esse trabalho tenha valido a pena, foi uma carta que outra aluna entregou,

pedindo sigilo. Em sua declaração, contava um pouco da sua vida, das dificuldades

que passa por ser lésbica e da superação, além de deixar palavras de gratidão: “...

meus parabéns professor, você sempre será respeitado por nós que somos GLS,

você merece tudo de bom em sua vida, esta noite vou orar pela sua vida, você está

fazendo um papel perfeito. Esta minha declaração você pode contar em suas

palestras”. (Aluna do CEEBJA, 2014).

Os professores e professoras participantes do GTR destacaram que o tema

ainda é tabu em muitas escolas, e que as piadinhas preconceituosas são frequentes,

inclusive na sala dos professores, que fazem chacota citando nomes de alunos os

quais suponham que sejam homossexuais. Seffner (2009, p. 132), cita que dentre as

modificações necessárias na escola, para a efetiva inclusão de alunos da

Diversidade Sexual, “A primeira é a abolição das piadas e das manifestações

sexistas, tão comuns entre professores e professoras, acerca dos alunos e das

alunas ‘diferentes’ dos padrões heterossexuais ditos ‘normais’”.

Esses (as) professores e professoras participantes do GTR, ao abordarem

sobre o fórum “Vivenciando a Prática”, onde alguns relataram suas experiências de

abordagem ao tema na escola, falaram sobre o embate com as crenças religiosas,

(inclusive o caso da diretora de uma escola de educação especial que segue a

tradição de rezar o pai nosso com os alunos antes do início das aulas), bem como, a

boa aceitação, apoio e colaboração de alguns professores, frente à resistência e

deboche de outros que se incomodam simplesmente pelo fato do assunto ser

abordado na escola.

O público-alvo participante da implementação do Projeto de Intervenção

Pedagógica na Escola, direcionado pela Produção Didático-pedagógica, no CEEBJA

Dr. Luiz Losso Filho, foi composto por: 88 alunos jovens e adultos (43 do gênero

masculino e 45 do feminino), seguidos de 14 participantes denominados

Profissionais da Educação: 02 (duas) Agentes Educacionais I, 01 (uma) Agente

Educacional II, 02 (duas) Pedagogas, 01 (um) Diretor e 08 Professores (as) das

diversas disciplinas do ensino fundamental e médio.

A amostragem apresentada a seguir, referente ao questionário diagnóstico6

(que antecedeu a implementação do projeto) e a avaliação (que sucedeu esta

implementação), mostra um pouco do quantitativo desta pesquisa-ação.

Dos 88 alunos participantes que preencheram e entregaram o questionário

diagnóstico, somente 80 estavam presentes no momento do preenchimento e

entrega da avaliação. Dos 14 profissionais da educação participantes que

preencheram e entregaram o questionário diagnóstico, somente 10 estavam

presentes no momento do preenchimento e entrega da avaliação.

Tabela 1 - Questionário Diagnóstico

ALUNOS / % Em relação à Diversidade Sexual

Masculino Feminino Total

11,6

11,1

11,3

Participaram de curso sobre esta temática

30,2

42,2

36,3

Participaram de debate sobre a mesma

41,8

33,3

37,5

Assistiram à palestra relacionada ao tema

30,2

28,8

29,5

Leram algum livro sobre o tema

13,9

13,3

13,6

Acreditam que a homossexualidade é uma doença

34,8

11,1

22,7

Afirmam que a homossexualidade é safadeza

79,0

62,2

70,4

Afirmam que as pessoas escolhem ser Gays ou Lésbicas

62,7

62,2

62,5

Presenciaram casos de homofobia na rua, vendo Gays, Lésbicas, Travestis ou Transexuais, serem xingados(as)

44,1

51,1

47,7

Presenciaram casos de homofobia na escola, vendo Gays, Lésbicas, Travestis ou Transexuais serem xingados(as) ou serem motivo de piadas pelos outros alunos

11,6

6,6

9,0

Conhecem casos em que professores desrespeitaram alunos por estes serem LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais)

23,2

24,4

23,8

Conhecem casos de alunos que foram agredidos fisicamente por outros, pelo fato de serem LGBTs

9,3

33,3

21,5

Tem pessoa/s LGBTs na família

51,1

37,7

44,3

Teriam dificuldades para aceitar um filho ou filha LGBT

46,5

75,5

61,3

Tem amigos/as LGBTs

6 O Questionário Diagnóstico e a Avaliação, são anexos da Produção Didática deste PDE, e tiveram o objetivo de

diagnosticar o que os participantes pensavam ou conheciam a respeito de pessoas LGBTs (antes da

implementação do projeto), bem como, ao final, avaliar a eficácia da implementação do mesmo no CEEBJA.

37,2

44,4

40,9

Conhecem casos em que pessoas LGBTs foram espancadas pelos pais, ou expulsas de casa por serem como são

13,9

17,7

15,9

Conhecem casos em que pessoas LGBTs se suicidaram por não suportar a pressão da família, religião e sociedade

83,7

91,1

87,5

Acham importante trabalhar este tema nas escolas

Tabela 2 – Segundo bloco de perguntas do Questionário Diagnóstico

ALUNOS / % Ao descobrir que o filho ou filha fosse LGBT

Masculino Feminino Total

20,9

37,7

29,5

Recorreria à religião, padre, pastor ou outros líderes religiosos;

34,8

28,8

31,8

Procuraria um psicólogo para ajudá-lo (a) a se ‘curar’;

11,6

4,4

7,9

Levaria-o (a) ao médico em busca de uma ‘cura’;

51,1

48,8

50,0

Procuraria um psicólogo em busca de uma melhor compreensão e para ajudar o (a) filho (a) a se aceitar;

4,6

2,2

3,4

Daria uma surra para educá-lo (a) melhor;

2,3

0

1,1

Expulsaria-o (a) de casa;

69,7

84,4

77,2

Conversaria com ele / ela e o / a aceitaria.

Tabela 3 – Avaliação

ALUNOS / % Em relação ao Projeto de Intervenção Pedagógica

Total

98,7

Responderam que os conteúdos e temas discutidos contribuíram para uma melhor compreensão sobre a Diversidade Sexual

90,0

Acreditam que este trabalho na escola pode ajudar a diminuir o preconceito e a discriminação

88,7

Responderam que os vídeos, filmes e livros apresentados tornaram as explicações mais dinâmicas, além de contribuir para sua compreensão.

O que os pais deveriam fazer ao descobrir que tem um filho ou filha LGBT?

83,7

Deveriam aceitar o (a) filho (a) do jeito que ele (a) é

0

Deveriam bater no (a) filho (a)

0

Deveriam expulsá-lo (a) de casa

28,7

Deveriam procurar a religião, padre, pastor ou outros líderes religiosos para tentar mudar a orientação sexual ou identidade de gênero do (a) filho (a)

15,0

Deveriam levar o (a) filho (a) ao médico ou psicólogo para tentar mudar a orientação sexual ou identidade de gênero dele (a)

81,2

Responderam que os pais que tem dificuldade em aceitar seus filhos, deveriam procurar auxílio de psicólogo; de outros pais que aceitam seus filhos LGBTs; livros; ONGs ou grupo de pais de homossexuais na Internet, para entender o que é homossexualidade e identidade de gênero

Tabela 4 - Questionário Diagnóstico: PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO: Professores (as), Agentes Educacionais I e II, Direção, Equipe Pedagógica.

Total / % Em relação à Diversidade Sexual

50,0

Participaram de curso sobre esta temática

50,0

Participaram de debate sobre a mesma

64,2

Assistiram à palestra relacionada ao tema

28,5

Leram algum livro sobre o tema

0

Acreditam que a homossexualidade é uma doença

0

Afirmam que a homossexualidade é safadeza

50,0

Afirmam que as pessoas escolhem ser Gays ou Lésbicas

50,0

Possuem conhecimentos suficientes para abordar essa questão com alunos (as) dentro ou fora de sala

14,2

Ao presenciarem algum (a) aluno (a) ser xingado (a) por ser LGBT, acham mais fácil deixar que resolvam entre eles (as)

28,5

Presenciaram casos de homofobia na rua, vendo Gays, Lésbicas, Travestis ou Transexuais, serem xingados(as)

42,8

Presenciaram casos de homofobia na escola, vendo Gays, Lésbicas, Travestis ou Transexuais serem xingados(as) ou serem motivo de piadas pelos outros alunos

7,1

Conhecem casos em que professores desrespeitaram alunos por estes serem LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais)

21,4

Conhecem casos de alunos que foram agredidos fisicamente por outros, pelo fato de serem LGBTs

7,1

Tem pessoa/s LGBTs na família

35,7

Teriam dificuldades para aceitar um filho ou filha LGBT

78,5

Tem amigos/as LGBTs

28,5

Conhecem casos em que pessoas LGBTs foram espancadas pelos pais, ou expulsas de casa por serem como são

14,2

Conhecem casos em que pessoas LGBTs se suicidaram por não suportar a pressão da família, religião e sociedade

92,8

Acham importante trabalhar este tema nas escolas

É importante destacar que, dos 07 (sete) profissionais que afirmaram ter conhecimentos para abordar o assunto dentro ou fora de sala de aula, 03 (três) destes (as) assinalaram questões não condizentes com a desconstrução de preconceitos:

- Os (as) professores (as) A, B e C, dizem que ser gay ou lésbica é uma opção; - Os (as) professores (as) A e B, teriam dificuldade para aceitar um filho LGBT; - O (a) professor (a) A, recorreria à religião se tivesse um filho LGBT; - O (a) professor (a) C, procuraria um psicólogo para “curar” o filho;

Tabela 5 – Segundo bloco de perguntas do Questionário Diagnóstico - PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

Total / % Ao descobrir que o filho ou filha fosse LGBT

14,2

Recorreria à religião, padre, pastor ou outros líderes religiosos;

7,1

Procuraria um psicólogo para ajudá-lo (a) a se ‘curar’;

0

Levaria-o (a) ao médico em busca de uma ‘cura’;

71,4

Procuraria um psicólogo em busca de uma melhor compreensão e para ajudar o (a) filho (a) a se aceitar;

0

Daria uma surra para educá-lo (a) melhor;

0

Expulsaria-o (a) de casa;

85,7

Conversaria com ele / ela e o / a aceitaria.

Tabela 6 – Avaliação - PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO

Total / % Em relação ao Projeto de Intervenção Pedagógica

100,0

Responderam que os conteúdos e temas discutidos contribuíram para uma melhor compreensão sobre a Diversidade Sexual

100,0

Acreditam que este trabalho na escola pode ajudar a diminuir o preconceito e a discriminação

100,0

Responderam que os vídeos, filmes e livros apresentados tornaram as explicações mais dinâmicas, além de contribuir para sua compreensão.

O que os pais deveriam fazer ao descobrir que tem um filho ou filha LGBT?

100,0

Deveriam aceitar o (a) filho (a) do jeito que ele (a) é

0

Deveriam bater no (a) filho (a)

0

Deveriam expulsá-lo (a) de casa

0

Deveriam procurar a religião, padre, pastor ou outros líderes religiosos para tentar mudar a orientação sexual ou identidade de gênero do (a) filho (a)

0

Deveriam levar o (a) filho (a) ao médico ou psicólogo para tentar mudar a orientação sexual ou identidade de gênero dele (a)

100,0

Responderam que os pais que tem dificuldade em aceitar seus filhos, deveriam procurar auxílio de psicólogo; de outros pais que aceitam seus filhos LGBTs; livros; ONGs ou grupo de pais de homossexuais na Internet, para entender o que é homossexualidade e identidade de gênero

4. Considerações Finais

É preciso conhecer para respeitar: A Diversidade Sexual na Escola e na

Sociedade. Este é o título das produções realizadas neste PDE.

Se é preciso conhecer para respeitar, como esse conhecimento chegará

efetivamente a todas as escolas, se há barreiras para a produção e distribuição de

materiais específicos? E ainda, se as insuficientes formações ofertadas na rede

pública estadual de ensino, muitas vezes não garantem a segurança dos

profissionais em enfrentar o desafio do preconceito e resistência dos próprios

colegas de trabalho, bem como, a influência religiosa nesses espaços?

Se com a lei 10.639/03 (sobre a obrigatoriedade do Ensino de História e

Cultura Afro-Brasileira), há quem não a cumpra, imagine sobre a Diversidade Sexual,

que não existe lei, e nem uma resolução específica da secretaria estadual de

educação.

Conhecer para respeitar ou criminalizar? Se houve a necessidade em

criminalizar o racismo7, na tentativa de combatê-lo, defende-se aqui que o mesmo

necessita ser feito com a homofobia, pois, somente com a educação, a chegada do

respeito poderá levar muitos anos ou nunca existir. Seria como um grupo apagando

incêndios, enquanto outros vão ateando fogo. Enquanto poucas escolas e

movimentos sociais trabalham para minimizar o preconceito e a discriminação com

base na OMS – Organização Mundial da Saúde, na constituição, ECA, na resolução

001/09 do Conselho Federal de Psicologia8, etc., alguns líderes religiosos (inclusive

presentes nos cargos da política brasileira), pregam o contrário com base no

fundamentalismo religioso e seus valores morais cristãos. A criminalização do

racismo não o erradicou, mas apresentou força para minimizá-lo, diminuir as

piadinhas e inibir o racista, e consequentemente aumentar o respeito. Assim, ao final

desta pesquisa e sua implementação, acredita-se que o mesmo possa ocorrer com a

criminalização da homofobia.

7 Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (BRASIL, 1989).

8 Estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da Orientação Sexual. Conselho Federal

de Psicologia (1999).

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