OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · o livro e enriquecer as práticas de leitura e...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O PEQUENO PRÍNCIPE: REFLEXÕES SOBRE A LITERATURA
INFANTIL NO COTIDIANO ESCOLAR
Rita de Cássia Renzi1
Karine Marielly Rocha da Cunha2
RESUMO
As histórias infantis, presentes há muito tempo em nossa cultura, representam o contato da criança com o mundo da leitura e da escrita. Além de se relacionarem ao cuidado afetivo, à construção da identidade, ao desenvolvimento da imaginação, da leitura e da escrita, como princípio primordial, transmitem prazer e fruição. Este projeto teve como objetivo aproximar os alunos do gênero literário, motivando-os para a leitura, a reflexão sobre o relacionamento humano e a prática de virtudes em nossa sociedade, de forma interdisciplinar, uma vez que conceitos de outras disciplinas também foram tratados. Foi implementado no 1º semestre de 2014, no Colégio Estadual Barão do Rio Branco, com aproximadamente 25 alunos do 6º ano A do Ensino Fundamental. Baseou-se no livro “O Pequeno Príncipe”, de Saint Exupéry, por ser uma leitura agradável, de linguagem acessível aos alunos e por conter uma rica temática. A sequência das atividades representou uma fonte de estratégias e procedimentos de leitura eficientes para os alunos superarem o processo mecânico de decodificação de símbolos e aprenderem a ler por prazer, para estudar e para se informar, atribuindo significado ao que é lido.
Palavras-chave: Literatura; leitura; letramento; histórias infantis; relações humanas.
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que a leitura é uma exigência da sociedade moderna, que
contribui para a realização de atividades básicas até as mais complexas, sendo
um importante instrumento para o exercício da cidadania e participação social.
A escolha por histórias infantis, presentes há muito tempo em nossa
cultura, justifica-se por representarem o contato da criança com o mundo da
leitura e da escrita, relacionando-se ao cuidado afetivo, à construção da identidade,
ao desenvolvimento da imaginação, da leitura e da escrita. Como princípio
primordial, a maioria delas não tem como preocupação transmitir algum
ensinamento, e sim, transmitir prazer e fruição.
1 Professora da rede pública do Estado do Paraná – SEED/PR. 2 Professora Doutora, orientadora da UFPR.
A Literatura é vista como arte que transforma, ou seja, humaniza o homem e
a sociedade. Candido (1972) atribui a ela três funções: a psicológica, a formadora e
a social.
A primeira permite ao homem fugir da realidade, mergulhar no mundo das
fantasias, possibilitando-lhe momentos de reflexão, identificação e catarse.
Quanto à segunda, ele afirma que a literatura por si só faz parte da formação
do sujeito, atuando como instrumento de educação, ao retratar realidades não
reveladas pela ideologia dominante.
A terceira, a função social, é a forma como a literatura retrata os diversos
segmentos da sociedade, é a representação social e humana.
Utilizou-se como apoio o livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint
Exupéry. A escolha desse livro foi devido ao fato de o mesmo apresentar uma leitura
rápida, prazerosa e de fácil entendimento, além de abordar aspectos da relação
humana, relacionando metáforas às atitudes do ser humano que podem contribuir
para a formação do aluno cidadão.
Com a temática existencialista, essa obra se constitui no segundo livro mais
vendido e traduzido nos seus setenta anos de existência, atrás apenas da Bíblia
Sagrada. Desde a sua publicação, a trama já foi contada em diversas plataformas,
como desenho animado no final da década de 1970 e, mais recentemente, em forma
de animação computadorizada, exibida pelo canal de TV Discovery Kids e na série
de quadrinhos publicada pela Editora Amarilys.
A metodologia proposta traz como encaminhamento que os conteúdos
estruturantes da disciplina sejam abordados através da leitura, interpretação e
contextualização do livro, e de atividades específicas para refletir o comportamento
humano e os valores que se constroem no convívio com o outro.
A proposta de Unidade Didática apresentada como requisito parcial para
a conclusão do PDE 2013/14 surgiu a partir da necessidade de aproximar os
alunos do 6º ano ao gênero literário, já que a maioria desses não tem acesso
a obras literárias e nem o hábito da leitura no contexto familiar. Sendo assim,
é fundamental que o professor ofereça textos literários que contribuam para a
sua formação enquanto leitores e estimulem a prática da leitura como fruição e
aprimoramento da sensibilidade estética.
O tema proposto, mesmo aqui sendo indicado para o sexto ano, pode ser
trabalhado com qualquer turma, em todas as séries do Ensino Fundamental e até
mesmo do Ensino Médio. O envolvimento do professor com esta proposta de
trabalho, mais do que fixar aprendizagem, estará na memória do aluno ao longo da
vida, como agregador de valores e princípios morais.
2 A LITERATURA NO COTIDIANO ESCOLAR
Nas últimas décadas o conhecimento sobre desenvolvimento infantil avançou
muito, levando à conclusão de que as possibilidades de aprendizagem e
desenvolvimento da criança são muito maiores do que se acreditava anteriormente.
A preocupação com o desenvolvimento global da criança motivou a revisão dos
critérios e referenciais que orientam o processo educativo da criança, na família, na
comunidade, nas creches (Educação Infantil) e na escola. Conforme os Parâmetros
Curriculares Nacionais:
A criança como todo ser humano é um sujeito social e histórico, faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que se estabelece com outras instituições sociais (BRASIL, PCNs, 2008).
A partir deste avanço destaca-se que o desenvolvimento da criança está
diretamente relacionado com a diversidade e qualidade das experiências que ela
tem oportunidade de vivenciar, das possibilidades de ação e dos limites
estabelecidos pelos adultos.
Por volta dos 7-8 anos a criança começa a racionalizar seus pensamentos e
a fazer perguntas para entender a razão dos problemas e fatos, sendo essa fase
conhecida como a idade dos porquês.
Perto dos 9-10 anos a criança já possui um repertório de mais de cinco mil Palavras e começa a desenvolver a capacidade de entender comparativos e
algumas metáforas. De acordo com o desenvolvimento cognitivo de Piaget, nessa
fase, aumentam a lógica e a objetividade e surge o pensamento dedutivo,
aumentando ainda mais o interesse por metáforas.
No contexto da alfabetização, a literatura e os contos de fada auxiliam na
formação da criança, pois representam o contato com o mundo da leitura
e da escrita, além de ajudar na formação do caráter. Isto quer dizer que a
literatura infantil, além de transportar o leitor mirim a lugares imaginários e de
permitir vivenciar situações que a vida cotidiana não proporcionaria, estimula o
interesse pelo texto escrito enquanto linguagem capaz de materializar ações e
pensamentos humanos. Por isso, convém envolver as crianças, desde a mais tenra
idade, em eventos de letramento: “situações em que a escrita constitui parte
essencial para fazer sentido à situação, tanto em relação à interação entre os
participantes como em relação aos processos e estratégias interpretativas”
(KLEIMAN, 1995, p.40).
Segundo Vygotsky (1996, p.18),
A importância do trabalho criador (imaginativo) se verifica no desenvolvimento da criatividade infantil, na evolução e no amadurecimento da criança, pois no plano imaginário podem ser observados os desenvolvimentos cognitivos, pelo raciocínio estimulado, assim como a memória, além de uma amplitude nas noções de valores morais.
Dentre os muitos eventos de letramento, os atos de narrar e ler histórias
se constituem em práticas prazerosas e significativas para as crianças, seja nos
lares ou em instituições educativas. Um dos principais objetivos da leitura ou da
narração de histórias na escola é estabelecer interação entre as crianças e a
linguagem escrita, “de modo a possibilitar uma intimidade prazerosa, uma relação
afetiva com a natureza dessa modalidade de linguagem” (MAIA, 2007, p.95).
Para tanto, o professor deve assumir o papel de mediador entre a criança e
o livro e enriquecer as práticas de leitura e narração de histórias tendo em vista
que, por meio delas, promove-se o processo de letramento das crianças e
estimula a aprendizagem da leitura e da escrita.
Com base nesses esclarecimentos passa-se a refletir a respeito dos
conceitos de letramento e alfabetização, da relação existente entre esses dois
processos e, por fim, de como tornar possível a relação entre a literatura infantil
e os processos de letramento e alfabetização, enfatizando práticas pedagógicas
que envolvem narrações de histórias.
No Brasil, as primeiras referências à palavra letramento para designar algo
que ultrapassa o processo de alfabetização surgiram na segunda metade da
década de 1980. Mais do que saber ler e escrever, ser letrado significa responder
às exigências de leitura e escrita que a sociedade nos impõe cotidianamente.
Soares (1998, p.19), ressalta que o surgimento do termo letramento
representa uma mudança histórica nas práticas sociais: ‘novas demandas sociais
de uso da leitura e da escrita exigiram uma nova palavra para designá-la’.
Segundo a autora, etimologicamente, a palavra literacy vem do latim
littera (letra), que, acrescida do sufixo –cy denota qualidade, condição, estado, fato
de ser. No caso da língua portuguesa, à palavra letra, que também se origina do
latim littera, foi acrescentado o sufixo –mento, que denota o resultado de uma
ação. Assim, letramento é definido por Soares (1998, p.18) como “[...] o
resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever: o estado ou
condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-
se apropriado da escrita”.
Para Kleiman (1989), letramento são as próprias práticas e eventos
relacionados com uso, função e impacto social da escrita.
Em ambas definições percebe-se a ideia de uso social da linguagem,
sendo possível concluir que o conceito de letramento ratifica o caráter social e
interativo da leitura.
A leitura é então, assumida como
Uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo (KOCH; ELIAS, 2011, p.37).
Contudo, o letramento é considerado um fenômeno multifacetado e, por
cobrir uma vasta gama de conhecimentos, habilidades, capacidades, valores, usos
e funções sociais, seu conceito envolve sutilezas e complexidades difíceis de
serem contempladas em uma única definição. Por isso, Mortatti (2004, p.8), salienta
que
O processo de letramento [...] está diretamente relacionado com a língua escrita e seu lugar, suas funções e seus usos nas sociedades letradas, ou seja, nas sociedades organizadas em torno de um sistema de escrita e em que esta, sobretudo por meio do texto escrito e impresso, assume importância central na vida das pessoas e em suas relações com os outros e com o mundo em que vivem.
Isso significa que um adulto pode não saber ler e escrever, mas ser, em
certa medida, letrado. O mesmo pode ocorrer com a criança que ainda não foi
alfabetizada, mas que tem a oportunidade de folhear livros, de brincar de
escrever, de ouvir histórias. Assim, aprender a ler e a escrever, componentes
básicos do processo de alfabetização, consiste numa relação recíproca entre os
envolvidos. Isto quer dizer que o indivíduo letrado, “[...] não é só aquele que sabe
ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a
leitura e a escrita, e responde adequadamente às demandas sociais de leitura e
de escrita” (SOARES, 1998, p.39-40).
Defender a indissociabilidade entre os processos de alfabetização e
letramento significa que, ao organizar a prática pedagógica, se faz necessário
dotar de intencionalidade e sistematicidade tanto as ações que envolvem o
ensino do sistema de escrita, quanto as que pretendem mergulhar as crianças
no mundo da escrita. É nesta situação que se sugere recorrer à literatura infantil,
considerando-a não apenas capaz de ampliar o nível de letramento das crianças e
de estimulá-las a aprender a ler e a escrever, mas, sobretudo, de revestir de
ludicidade as práticas pedagógicas que envolvem esses dois processos.
Essa orientação corrobora com as reflexões promovidas por Maia (2007)
acerca da formação de leitores. Para ela, “[...] a literatura possibilita à criança
uma apropriação lúdica do real, a convivência com um mundo ficcional, a
descoberta do prazer proporcionado pelo texto literário e a apreensão do
potencial linguístico que esse texto expressa” (MAIA, 2007, p.67).
Segundo Lajolo (2001, p.66), “na tradição brasileira, literatura infantil e
escola mantiveram sempre relação de dependência mútua”. A escola,
incontáveis vezes, recorreu à literatura infantil, por meio do envolvimento provocado
pelas narrativas e/ou pelo encantamento dos versos, para difundir valores,
conceitos, atitudes, comportamentos.
Nessa perspectiva os livros de literatura infantil não podem ser utilizados
como um pretexto para leituras obrigatórias. É papel da escola expor os alunos
ao mundo fantástico da literatura, utilizando os enredos e a conduta das
personagens para contribuir com a formação de leitores críticos, capazes de
perceber as relações entre as histórias e suas próprias vidas, facilitando a
compreensão de mundo.
Para Oliveira (2010), é importante trabalhar a literatura na escola de forma
integral, ou seja, explorando todas as possibilidades de interpretação e de estética
sugeridas pelos textos literários, para despertar o interesse dos alunos pela leitura
em geral e, mais especificamente, pela literatura infantil, a fim de tornarem-se bons
leitores e apreciadores desse gênero de modo que as aulas de Literatura, além da
construção de conhecimentos, contribuam para estimular a criatividade e despertar
emoções.
Faz-se necessário refletir com os alunos o comportamento humano não para
apontar o defeito do outro, mas para oportunizar que cada um se “olhe” e se
expresse, trazendo exemplos de situações vividas em seu cotidiano. Nesse sentido,
o trabalho a ser realizado contribuirá para que os alunos compreendam a
importância de ser e de sonhar. Ter sonhos significa estar vivo. Imaginar é uma
habilidade que deve ser alimentada na infância, já que a falta dela pode representar
uma dificuldade para o aluno enfrentar sua realidade. É necessário criar
oportunidades para a continuidade dos sonhos.
Considerando a vista a realidade da maioria das escolas, compostas por
alunos desinteressados pelo processo de leitura e escrita, o crescente desrespeito
ao professor, a desarmonia entre alunos e a grande dificuldade de manifestarem
suas opiniões sobre determinado assunto, e tendo como base a diferença de
classes sociais, se faz necessário que o professor trace novas estratégias de ensino
fugindo do tradicionalismo autoritário e intolerante.
2.1 CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
A leitura ou o relato de uma história são sempre bem vindos para as
crianças, em quaisquer das séries em que se encontrem.
A história lida ou contada desempenha uma função catalisadora de
interesse e prazer. Se há interesse por parte das crianças, é porque o mundo
organizado em forma de narrativa corresponde aos seus interesses e anseios e,
consequentemente, é significativo para elas.
Afirmam Garcia et al. (1982, p.41), que o professor, para ser um bom
contador de histórias, deve utilizar algumas técnicas que o auxiliarão. Elencamos
a seguir essas técnicas em negrito:
Sentimentos dos ouvintes: o professor deve estar atento aos
sentimentos dos seus ouvintes. Deve contar a história com emoção, paixão e
entusiasmo.
Também deve ter uma dicção bem articulada, para que os alunos
entendam o que ele fala. A voz é um ingrediente de fundamental importância,
pois ela materializa não só as sucessivas fases do conto, como também as
personagens, uma vez que cada um possui uma voz típica e fácil de ser
identificada. Vale lembrar, também, que o uso da voz exige os seguintes elementos:
- Sonoridade e timbre: a sonoridade trata do bom som, da pronúncia das - Intensidade: é o grau de força com que o som produz, altura, volume. palavras, e o timbre é a qualidade que distingue um som, independentemente de sua altura ou intensidade. É a personalidade da fala. Os diferentes timbres são frequentemente descritos como claro, nasal, áspero, rouco, seco, aspirado. A voz deve ser agradável, audível, nem muito baixa, nem muito alta. - Velocidade: varia de acordo com as necessidades da expressão. Pode ser rápida, mediana, rapidíssima ou lenta, lentíssima. - Dicção: é a pronúncia correta de todos os sons de uma palavra. Uma pronúncia defeituosa atrapalha a narrativa. Deve-se evitar vícios de linguagem (GARCIA et al., 2004, p.41).
Olhar: o olhar é o elo principal do contador de histórias, pois é ele que
traz as pessoas para dentro do conto. O professor deve distribuir bem o olhar,
olhando ao menos uma vez para cada aluno ao contar a história.
Expressão corporal: o corpo e as mãos ajudam a expressar as ideias.
Mas devem ser usados com moderação. Todo o enredo pode ser baseado em
gestos, pois cada personagem tem um modo de falar, de andar, trejeitos, manias,
atitudes e jeito de ser que denunciam seu estado social e emocional. As mãos são
capazes de dar colorido à história. A linguagem das mãos é poderosa e
decisiva no ato de contar.
Memória e improvisação: o professor deve ter uma boa memória,
conhecer e guardar a sequência do conto.
Credibilidade: o professor deve manter o olhar firme, para convencer e
manter a atenção do ouvinte.
Clima e ritmo: toda história tem uma sequência rítmica que varia
conforme o que está sendo narrado. Cada parte da história tem um ritmo. O ritmo
do início da história não é o mesmo que o do seu ponto culminante.
Enfim, utilizando essas técnicas, o professor pode desempenhar bem a
sua tarefa de contar histórias e prender a atenção da sua plateia.
A contação de histórias desencadeia uma série de possibilidades, mas o
fato mais importante é a descoberta de um mundo de encantamento e prazer.
Através dessa prática o aluno descobre o livro, a leitura, o prazer de ler, de
descobrir e conhecer culturas, conhecer povos e costumes diferentes, entender a
evolução e os caminhos que nossos antepassados cruzaram, conhecer a si
mesmo.
Quando o professor lê para as crianças, mostra-lhes seu próprio
comportamento leitor e contribui para que se familiarizem com o universo
letrado. Por isso, é fundamental que ele prepare sua leitura ensaiando em voz
alta, planejando intervenções para fazer antes, durante ou depois da leitura,
antecipando a organização do espaço e a disposição das crianças, e, ainda,
determinando o momento estratégico em que interromperá a leitura (para
continuar num momento seguinte). Ao ouvir as opiniões das crianças, o professor
possivelmente verificará diferentes interpretações do que foi lido. Isso deve ser
respeitado, porque, nesse caso, não há respostas corretas ou incorretas. Como
todos os textos literários, a história de O Pequeno Príncipe permite ao leitor criar
algumas interpretações enquanto lê. Nessas conversas com as crianças, o
professor pode ter como foco aspectos retóricos do texto. Prestando atenção
neles, o grupo poderá perceber que, por meio da forma pela qual os
acontecimentos são narrados, o autor direciona a interpretação sobre
determinadas passagens.
A contação de histórias é uma prática fantástica, que, por si só, desenvolve
e fortalece a socialização, a intelectualidade, e é uma grande aliada no
desenvolvimento psicológico do indivíduo. A criança que tem o hábito de ouvir
histórias, certamente sentirá vontade de contar histórias também, então desenvolve
o vocabulário e a oralidade.
3 METODOLOGIA
O projeto de intervenção pedagógica PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional do Estado do Paraná) 2013/14 foi implementado no espaço da
Biblioteca do Colégio Estadual Barão do Rio Branco, localizado na Rua Brigadeiro
Franco, n° 2532, bairro Água Verde, em Curitiba-PR, pela professora Rita de Cassia
Renzi, no 6º ano A do Ensino Fundamental, do período vespertino, contando com
aproximadamente 25 alunos.
O colégio atende a uma comunidade escolar, em sua maioria, de nível
socioeconômico médio, com predominância da classe trabalhadora, sendo oriundos
não apenas do bairro já citado, mas também de locais mais distantes.
As pesquisas bibliográficas e a elaboração do Projeto de Intervenção
Pedagógica ocorreram no 1º semestre de 2013, e, no segundo semestre, foi
elaborado o Material Didático.
A intervenção ocorreu no 1° semestre de 2014, num total de 36 horas,
conforme as atividades descritas a seguir:
- Leitura do livro O Pequeno Príncipe
Na primeira etapa da intervenção pedagógica, foi realizada a leitura por
capítulos (em pdf), pelos alunos, no laboratório de informática, pois não havia
livros suficientes para todos.
- Representações de frases do livro através de pintura
Os alunos, organizados em grupos, realizaram desenhos e pinturas com lápis
de cor, giz de cera e tinta guache, relacionados com os cenários e os personagens
das histórias.
- Dramatização, com a formação de um teatro
Formou-se um teatro e as crianças, divididas em grupos, dramatizaram a
história, representando os personagens.
Este foi um dos momentos mais lúdicos e interessantes do projeto, pois as
crianças escolheram e interpretaram os personagens que mais lhes agradavam.
Este momento foi propício para o professor avaliar a compreensão dos
alunos com relação à história, trabalhar a oralidade, o movimento e a
expressividade de cada um, muito importantes nesta faixa etária.
Todos os alunos da classe participaram, demonstrando prazer e entusiasmo.
Ao final, realizou-se uma discussão onde cada um expressou sua opinião
sobre os personagens, suas ações e seu destino na história.
- Criação e contação de histórias
Os alunos foram estimulados a criar novas histórias, com completa liberdade
sobre o estilo e sobre os personagens, e depois contá-las aos seus colegas.
Histórias variadas, curtas e longas, alegres, engraçadas e tristes, foram criadas
pelos alunos.
Às vezes, alguns alunos demonstravam dificuldades, em maior ou menor
grau, para criar. Nessas ocasiões, verificou-se a colaboração dos colegas, que
ajudavam com sugestões, melhorando a fluência da criação.
- Utilização de conceitos de outras disciplinas
Valeu-se de conceitos da disciplina Ciências para explicar o drama dos
Baobás (capítulo V) relacionando-o com a preservação do meio ambiente.
- Discussão sobre o valor da amizade
Tomou-se como referência o capítulo XXI e a música Cativar é amar de Magda
Soares para realizar discussões sobre o valor da amizade. Apresentada a letra da
música, foram feitas algumas perguntas, como: O que é cativar? Você já foi cativado
por alguém? Você acha que já cativou alguém, um amigo? Você já pensou sobre a
importância do amigo em nossas vidas? Os alunos cantaram com grande entusiasmo,
e mais parecia um coral.
- Sessão de cinema
Apresentou-se o filme O Pequeno Príncipe numa sessão de cinema,
com direito a pipoca e suco. Foi uma tarde bem divertida para os alunos.
- Confecção de painel com os desenhos dos alunos
Foi confeccionado um painel com desenhos diversos que representavam
os diversos personagens, os animais, as situações mais importantes da história,
etc.
A turma foi dividida em cinco grupos e cada grupo escolheu um capítulo
que mais gostou para elaborar os cartazes. Os trabalhos ficaram maravilhosos e
foram utilizados como painel de fundo do palco, no dia da dramatização.
- Confecção de origamis
A confecção do origami come-come foi um sucesso. Os alunos escolheram
quatro virtudes que achavam indispensáveis na vida deles e colocaram na
dobradura. O trabalho ficou colorido e muito bonito.
Após a implementação do projeto PDE, foi realizado Fórum com os
integrantes do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), e o feed back recebido foi
extremamente gratificante.
Analisando-se as respostas obtidas no Fórum, foi possível constatar que
os participantes compreenderam a grande relevância do Projeto no âmbito da
escola pública, e demonstram acreditar no seu sucesso, que pode funcionar como a
“Parábola do Semeador”: nem todas as sementes germinarão, mas por certo muitas
produzirão bons frutos, pois a sensibilização é o fator decisivo para a promoção do
gosto pela leitura, que contribui para a formação de leitores críticos, conscientes e
atuantes.
A maioria dos cursistas conta que implementou em sala de aula algumas das
atividades propostas, como a leitura, as colagens, e principalmente a reflexão sobre
o resgate dos valores humanos.
Outros participantes também salientaram a importância do desenvolvimento
do projeto além das paredes da sala de aula, com a exposição dos trabalhos na
biblioteca e corredores da escola, para que toda a comunidade possa admirar as
obras desses alunos.
Ao destacar-se o valor literário e humanizador da obra O Pequeno Príncipe,
que leva à reflexão sobre a necessidade de enxergarmos o próximo com o coração,
que nos desperta para as coisas simples e belas da vida, e ainda aborda o
respeito ao próximo e suas diferenças, refletindo sobre o amor, a amizade e a
solidariedade, percebe-se que a mensagem passada pela obra aos leitores
enriquecerá suas memórias e condutas durante toda a vida. Sentimentos bons
produzem boas ações!
4 RESULTADOS ALCANÇADOS
A execução do projeto tinha como expectativa: aproximar os alunos do gênero
literário, diminuindo ou eliminando o desinteresse e o descaso dos alunos durante as
aulas; despertando neles o gosto pela leitura; utilizando o mundo do imaginário
infantil para desenvolver a criatividade; proporcionando experiências que
trabalhassem com o lúdico para estimular a atenção, a concentração e a memória;
refletindo sobre a prática de virtudes e as relações humanas; aprimorando a leitura
e, consequentemente, a escrita; formando leitores competentes; contribuindo para o
aprimoramento do desempenho do aluno em sala de aula; melhorando a
convivência dos educandos.
Assim, com as atividades realizadas de leitura, interpretação oral e escrita,
representações com pintura, produção de textos e dramatização, foi possível
verificar que os resultados esperados foram devidamente alcançados.
Verificou-se, também, que o educador tem a função importantíssima de
conseguir o êxito da leitura pelas crianças. Este é um trabalho que deve ser feito de
forma gradual, que requer esforço e empenho do professor. Ao final, é
profundamente gratificante quando se observa que a grande maioria dos alunos
pede a continuação destas aulas, com sincero interesse.
As atividades realizadas na intervenção objeto deste estudo possibilitaram o
enriquecimento mútuo entre alunos e professor. Houve momentos prazerosos, troca
de experiências, trabalho criativo, coletivo e cooperativo, gerando um clima de
intenso interesse, entusiasmo e integração.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aprendizagem é uma construção progressiva, ativada pela experiência, pela
relação recíproca da criança com seu meio e da estimulação a que está exposta.
Na infância, a imaginação tudo pode e tudo concretiza. Para a criança, tudo é
possível e real. Ao utilizar-se do maravilhoso universo da literatura infantil, partindo
da imaginação, influenciada pelo animismo das histórias e fábulas, é possível tornar
o aprendizado uma prazerosa e produtiva atividade.
O domínio da leitura e da escrita amplia o conhecimento em outros níveis de
ensino e disciplinas, principalmente porque a leitura e a interpretação estão
presentes em todos os assuntos da vida cotidiana, inclusive como meio de
comunicação entre as pessoas.
Ao realizar essas intervenções foi possível observar que as crianças gostam
de atividades relacionadas à contação de histórias, brincadeiras, dramatizações,
pinturas, entre outras atividades, que as deixem extravasar sua imaginação,
tornando assim o processo de aprendizagem/alfabetização mais agradável,
dinâmico e produtivo. Ainda, se essas atividades forem didaticamente bem
trabalhadas, o resultado alcançado será de extrema importância para a formação
social, cultural e intelectual das crianças.
Porém, vale lembrar que as características e a individualidade de cada
criança devem ser respeitadas, estimulando e desenvolvendo suas leituras
singulares e produções individuais, possibilitando o uso de diferentes materiais,
fazendo com que estes sejam percebidos em suas diversidades, manipulados e
transformados pelas crianças, e possibilitando que o prazer lúdico seja gerador do
processo de produção da leitura e da escrita.
A ação pedagógica do professor, por sua vez, não pode ficar restrita à sua
sensibilidade para propor atividades quando elas se evidenciem como oportunas.
Ele deve também criar estes momentos, através de propostas que vão ao encontro
das necessidades e do desenvolvimento das crianças, ajudando-as a explicitar
melhor o que estão pensando e sentindo para poder expressar e comunicar-se com
os outros e, principalmente, apreender novos conhecimentos.
Enfim, este estudo proporcionou a constatação de que, a partir da utilização
da literatura infantil, com o livro O Pequeno Príncipe (contação de histórias) e das
artes (dramatização e pintura), pode-se proporcionar à criança uma ferramenta de
relevante importância no processo de construção do conhecimento.
REFERÊNCIAS
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