OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS ......
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
OBJETOS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM COMO FERRAMENTA
METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS SOB UMA
PERSPECTIVA INCLUSIVA
Joseane Maria Rachid MARTINS1
João Amadeus Pereira ALVES2
RESUMO: O desempenho dos alunos em Ciências, observado com base em avaliações
internacionais, é lastimável, colocando o Brasil dentre os últimos lugares. Este panorama
educacional atinge todos os discentes, mas afeta diretamente àqueles que possuem
necessidades educacionais especiais, os quais se deparam ainda com uma série de
dificuldades inerentes à sua condição. As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
podem constituir um elemento a mais nas práticas pedagógicas vivenciadas pelos alunos
nas aulas de Ciências, uma vez que as TIC acrescentarão uma ampliação no acesso a
recursos didáticos ao processo de ensino-aprendizagem, além de estimularem processos de
compreensão de conceitos e fenômenos. Diante deste cenário, desenvolveu-se uma
pesquisa no Colégio Estadual Amyntas de Barros, em Pinhais-PR, o qual está criando uma
tradição na educação dos surdos. Por não existir um material didático adaptado às suas
necessidades, os alunos surdos apresentam dificuldades em compreender e rever os
conteúdos tratados em sala. O uso de Objetos Digitais de Aprendizagem (ODA) para
trabalhar conteúdos na área de Ciências pode ser somado à metodologia já utilizada pelos
docentes na tentativa de permitir uma melhor compreensão de conceitos e de fenômenos da
natureza. A receptividade e o envolvimento dos alunos da turma inclusiva de Ciências do 6º
ano foi evidente. O Edmodo despertou o interesse pelo conteúdo através de atividades com
vídeos, enquetes e quiz, bem como permitiu uma boa interação entre alunos e deles com o
professor. A objetividade que o conteúdo é apresentado, e a variedade de atividades do livro
digital suscitaram a curiosidade, facilitando a compreensão e sua realização. A webquest foi
o ODA que teve maior receptividade devido a sua proposta colaborativa e a
experimentação.
PALAVRAS-CHAVE: Objetos de aprendizagem. Ensino de Ciências. Inclusão.
O ENSINO DE CIÊNCIAS E A INCLUSÃO
O ensino de Ciências, conforme vislumbram as Diretrizes Curriculares da
Educação Básica – Ciências (DCN) do Ensino Fundamental – deve repensar os
fundamentos teórico-metodológicos que sustentam o processo ensino-
1 Licenciada em Ciências Biológicas pela UFPR, Especialista em Psicopedagogia pela UTP,
Professora PDE-SEED/PR. Email: [email protected]. 2 Mestre e Doutor em Educação para a Ciência pela UNESP. Professor Adjunto do Departamento de
Física da UTFPR. Email: [email protected]. Orientador neste estudo.
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aprendizagem; a reorganização dos conteúdos científicos escolares a partir da
história da ciência e da tradição escolar; os encaminhamentos metodológicos e a
utilização de abordagens, estratégias e recursos pedagógicos/tecnológicos; bem
como os pressupostos e indicativos para a avaliação formativa (PARANÁ, 2008).
Porém, são inúmeros os obstáculos que o docente precisa enfrentar para atingir tais
objetivos.
Os educadores, em suas práticas pedagógicas, comumente se veem na
dependência do livro didático por falta de planejamento ou por não se perceberem
potencialmente capazes de trabalhar com outros instrumentos. Neste sentido,
Krasilchik (2004, p.184) faz uma crítica:
O docente, por falta de autoconfiança, de preparo, ou por comodismo, restringe-se a apresentar aos alunos, com o mínimo de modificações, o material previamente elaborado por autores que são aceitos como autoridades. Apoiado em material planejado por outros e produzido industrialmente, o professor abre mão de sua autonomia e liberdade, tornando-se simplesmente um técnico.
A situação da educação brasileira é observada de vários modos, sendo um
deles a avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA, sigla
inglesa), elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), em 2009, a qual detectou que a média do desempenho dos
alunos em Ciências é lastimável, correspondendo ao 53º lugar. Dentre os países
latino-americanos, Chile (44º), Uruguai (48º) e México (50º) tiveram melhor
desempenho que o Brasil. O ranking coloca o nosso país entre os últimos lugares,
abaixo da média da América Latina (OCDE, 2009).
Segundo observações sistemáticas realizadas pela autora deste projeto, os
alunos chegam ao 6º ano do Ensino Fundamental com dificuldades em solucionar
atividades de Ciências que exigem um raciocínio lógico e científico. Eles
demonstram preocupação excessiva em buscar respostas no livro didático, copiando
uma determinada frase ou parágrafo do texto; ainda, têm dificuldades em elaborar
ideias próprias a respeito do que foi questionado, como se o tema trabalhado não se
relacionasse com nada do seu cotidiano. Isso só evidencia que as crianças ainda
chegam ao 6º ano com o vício do "questionário", que não aprenderam a pensar,
sabem apenas repetir ou copiar.
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Este quadro educacional se deve a um fenômeno complexo, abrangente, e
que envolve múltiplas dimensões, não podendo ser analisado apenas por um
aspecto, sob pena de o aluno ser considerado “o produto” desse processo. Essa
problemática não é resultado apenas da falta de políticas públicas educacionais,
mas das desigualdades socioeconômicas e culturais dos alunos, da desvalorização
profissional e possibilidade limitada de atualização permanente dos profissionais da
educação. É importante dizer que quando as oportunidades são ofertadas nem
todos os professores demonstram interesse em mudar, por inúmeras razões, tais
como falta de tempo, descrédito a novas propostas etc. Soares (2007) defende que
as escolas podem interferir no desempenho de seus alunos, pois:
O sistema escolar por si só não é capaz de mudar esta determinação social, mas algumas escolas conseguem em maior ou menor medida que seus alunos tenham um aprendizado melhor que o esperado para suas condições sociais. Os alunos dessas escolas têm um desempenho acima da linha que define a determinação social. Ou seja, o efeito da escola é relevante e decisivo, embora não possa mudar completamente a determinação social. Portanto, planejar o aumento do desempenho escolar de alunos do ensino básico utilizando apenas intervenções escolares implica aceitar, para a questão global, pequenos aumentos. Ainda assim, como mostram os dados empíricos, na situação atual do sistema de ensino básico no Brasil, onde prevalecem desempenhos muito baixos, existem oportunidades de melhorias substanciais de desempenho por meio de políticas escolares [...] (SOARES, 2007, p. 140-141).
A situação citada atinge todos os discentes, mas afeta diretamente àqueles
que possuem necessidades educacionais especiais, os quais se deparam ainda com
uma série de dificuldades inerentes à sua condição. Tais problemas enfrentados nos
sistemas de ensino evidenciam a necessidade de corrigir práticas discriminatórias e,
portanto, é fundamental a criação de alternativas para superá-los. Com isso, a
educação inclusiva entra em evidência obrigando instituições públicas diretamente
responsáveis a repensar a organização de escolas e classes especiais, o que
resulta em uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos
tenham as suas especificidades atendidas.
Estudos compilados pela Unesco (2005) mostram que a formação recebida
pelos professores de Ciências é muito teórica, compartimentada, desarticulada da
prática e da realidade dos alunos e, sobretudo, acrítica. Assim, os professores têm
muita dificuldade em transformar a sala de aula e criar oportunidades de
aprendizagem interessantes e motivadoras para o estudo das ciências. Esta
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dificuldade se agrava mais quando se fala tendo como parâmetro a interface: Ensino
de Ciências e Educação Especial. Assim, é possível questionar: como ensinar
Ciências a alunos com necessidades especiais em uma turma de inclusão? Como
incluí-los no processo de ensino-aprendizagem de Ciências de maneira efetiva? Que
recursos utilizar?
Nos últimos anos tem ocorrido uma nítida ampliação da literatura mais
especializada que versa sobre a inclusão de alunos com necessidades educacionais
especiais, o que também tem se intensificado em documentos oficiais, sobretudo
naqueles envolvendo políticas públicas no Brasil. A Constituição Federal (1988)
incorporou vários dispositivos referentes aos direitos da pessoa com deficiência, nos
âmbitos da saúde, educação, trabalho e assistência. Especificamente no campo da
educação, registrou-se o direito público à educação para todos os brasileiros; entre
eles, os indicados como portadores de algum tipo de deficiência, preferencialmente
junto à redes regulares de ensino. Essas determinações estenderam-se para outros
textos legais da União e para as legislações estaduais e municipais (GÓES, 2007).
Entretanto, Figueiredo (2002) alerta para o fato de que a presença da criança com
deficiência na escola regular representa um avanço no que se refere à
democratização do ensino, mas não garante a efetivação de uma política de
inclusão. Educação Inclusiva diz respeito não somente a inclusão das pessoas
portadoras de necessidades educacionais especiais nas redes oficiais de ensino em
todos os seus níveis, mas fundamentalmente compreende todas as diferenças
possíveis entre as pessoas.
Segundo o documento oficial “Marcos Político-Legais da Educação Especial
na Perspectiva da Educação Inclusiva”, do Ministério da Educação (BRASIL, 2010),
o movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e
pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos estarem juntos,
aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação. A educação
inclusiva constitui um novo paradigma educacional fundamentado na concepção de
direitos humanos, que julga igualdade e diferença como valores indissociáveis, e
que avança em relação à ideia de equidade formal ao contextualizar as
circunstâncias históricas da produção da exclusão dentro e fora da escola. A atual
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, em seu Art. 59
(BRASIL, 1996) preconiza que os sistemas de ensino devem assegurar aos alunos
currículo, métodos, recursos e organização específicos para atender às
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necessidades; assegura ainda a terminalidade específica àqueles que não atingiram
o nível exigido para a conclusão do Ensino Fundamental.
Dados recentes mostram que a Educação Especial no país tem 820.433
matrículas, somando os estudantes em escolas regulares e especiais, segundo o
último resumo técnico do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (BRASIL, 2012). Os dados também reafirmavam a
tendência de crescimento do número de alunos com deficiência em salas de aula
regulares, um aumento de 11,2% entre 2011 e 2012. Dessa forma, a escola precisa
buscar alternativas para oportunizar condições adequadas de ensino-aprendizagem
destes alunos. Para Magalhães (2011), a escola é que deve se adaptar às
necessidades do aluno especiais e não o contrário:
Na inclusão, a ideia subjacente é de que não é o aluno quem deve se moldar totalmente às demandas escolares, ou seja, o problema não está centrado na pessoa que tem necessidades específicas, mas nas interações que estabelece com as condições de ensino-aprendizagem que a escola possibilita. Portanto, a escola deve pensar sua organização curricular de modo a propiciar a este aluno condições adequadas [...] (MAGALHÃES, 2011, p. 22-23).
O movimento da educação inclusiva, que surge apoiado pela Declaração de
Salamanca (UNESCO, 1994), revela a necessidade da defesa do compromisso que
a escola deve assumir de educar cada estudante, contemplando a pedagogia da
diversidade, pois todos os alunos deverão estar dentro da escola regular,
independente de sua origem social, étnica, religiosa ou linguística. Assim, de acordo
com Mazzota (1996), a implementação da inclusão tem como pressuposto um
modelo no qual cada criança é importante para garantir a riqueza do grupo, sendo
recomendável que na classe regular toda diversidade de alunos esteja presente, de
tal forma que a escola seja criativa no sentido de buscar soluções visando mantê-los
no espaço escolar, levando-os à obtenção de resultados satisfatórios em seu
desempenho acadêmico e social.
A legislação atual garante, aos surdos, a inclusão no ensino regular na qual
a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) é considerada sua primeira língua, além da
presença de intérprete e do atendimento educacional especializado em contraturno.
Segundo Ramirez e Masutti (2009), o reconhecimento legal do português como
segunda língua (bilinguismo) para os surdos implica no reconhecimento de que a
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aprendizagem requer metodologias diferenciadas e com referenciais de culturas
visuais.
O Colégio Amyntas de Barros, onde foi realizado o estudo – foco deste
trabalho – é um dos poucos colégios da região metropolitana da capital paranaense
que está criando uma tradição na educação inclusiva. No que diz respeito aos
surdos, essa escola conta com a presença de intérprete, um acompanhamento em
contraturno (Atendimento Educacional Especializado) e oferta do curso de LIBRAS à
comunidade na própria instituição. Porém, os discentes surdos ainda sofrem para
conseguir superar a barreira linguística. Esses alunos comumente iniciam o Ensino
Fundamental sem o domínio da língua portuguesa, já que sua primeira língua é a
LIBRAS. Muitos alunos não são alfabetizados e a grande maioria dos
pais/responsáveis não conhece a língua de sinais. Por não existir um material
didático de Ciências adaptado às suas necessidades, os alunos surdos apresentam
dificuldades em compreender e rever os conteúdos trabalhados em sala.
As práticas pedagógicas advindas da política da inclusão escolar dos
surdos, especialmente as práticas dos professores de classe comum com alunos
surdos, são ainda recentes no Brasil. Consequentemente, um grande número de
surdos não consegue ler e escrever fluentemente ao concluir a Educação Básica ou
ter domínio sobre os conteúdos relacionados a este nível de escolarização
(FERNANDES, 2010). Isso denota uma inadequação do sistema de ensino,
revelando a urgência de medidas que favoreçam o desenvolvimento pleno destas
pessoas.
Por sua vez, os docentes brasileiros não conseguem ou não compreendem
a necessidade de adaptar suas aulas (em metodologias e avaliações) a fim de
priorizar os aspectos visuais. Além disso, não há material didático diferenciado para
que estes alunos possam estudar e com isso consigam efetivamente assimilar os
conteúdos tratados.
Martinho e Pombo (2009) afirmam que a introdução das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) no ensino, e em particular no ensino das Ciências
Naturais, origina uma alteração nos papéis de todos os intervenientes do processo
de ensino-aprendizagem. Esta alteração traz a solução de várias questões que
“perseguem” o ensino, na procura da melhoria de sua qualidade, tais como o
combate à indisciplina e ao insucesso escolar, mas também despertam a motivação.
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ENSINANDO CIÊNCIAS POR MEIO DAS TIC
As Tecnologias de Informação e Comunicação podem contribuir para
estimular o interesse e otimizar o desempenho escolar de estudantes surdos e
ouvintes, pois elas têm se tornado um fator fundamental no desenvolvimento
humano e também no científico. Elas podem se constituir como um elemento a mais
nas práticas pedagógicas vivenciadas pelos alunos nas aulas de Ciências, uma vez
que as TIC acrescentarão ao processo de ensino-aprendizagem o acesso a recursos
didáticos, além de estimularem os processos de compreensão de conceitos e
fenômenos, à medida que conseguem associar diferentes tipos de representação do
conteúdo e das atividades relativas a este. A tecnologia e o conhecimento integram-
se para produzir novos conhecimentos que permitam compreender os problemas
atuais, desenvolver projetos alternativos e contribuir para a construção da cidadania
(ALMEIDA; MORAN, 2005).
Martinho e Pombo (2009) destacam a flexibilidade e diversidade que as TIC
possibilitam para a realização das atividades educacionais:
As tecnologias de informação e de comunicação (TIC) podem constituir um elemento valorizador das práticas pedagógicas, já que acrescentam, em termos de acesso à informação, flexibilidade, diversidade de suportes no seu tratamento e apresentação. Valorizam, ainda, os processos de compreensão de conceitos e fenômenos diversos, na medida em que conseguem associar diferentes tipos de representação que vão desde o texto, à imagem fixa e animada, ao vídeo e ao som (MARTINHO; POMBO, 2009, p. 528).
A construção do conhecimento a partir das TIC já é uma realidade na
educação, pois vivemos num processo rápido de evolução tecnológica em que
crianças e jovens estão imersos no mundo virtual. Não há mais como os docentes
se eximirem de buscar alternativas didáticas mais envolventes e interessantes.
Considerando o cotidiano dos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental até os do 3º
ano do Ensino Médio torna-se muito difícil utilizar somente o livro didático como
ferramenta pedagógica quando se tem acesso imediato a informações e notícias em
tempo real através da internet, por exemplo. De acordo com Kenski (2007), para que
as TIC possam trazer alterações no processo educacional elas precisam ser
compreendidas e incorporadas pedagogicamente. Isso significa que é preciso
respeitar as especificidades do ensino e da própria tecnologia para poder garantir
que o seu uso, realmente, faça diferença.
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As TIC são recursos que despertam o interesse, pois dentre outras coisas
elas instigam a curiosidade, ao mesmo tempo em que contribuem para que o
aprendizado dos alunos com necessidades educacionais especiais possa ocorrer
sem traumas, em escolas regulares. Zulian e Freitas (2001) consideram que os
ambientes de aprendizagem baseados nas TIC, que compreendem o uso da
informática e de outros recursos e linguagens digitais, atraem para escola o aluno
com necessidades educacionais especiais, pois à medida que ele tem contato com
tais recursos midiáticos consegue abstrair e verificar a aplicabilidade do que está
sendo estudado, sem medo de errar, construindo o conhecimento, às vezes até pela
tentativa de ensaio e erro, inclusive favorecendo a cooperação, a socialização.
As TIC, pelo grande fascínio que exercem nas crianças e adolescentes, são
recursos poderosos para mobilizar o estudante, para atraí-lo ao estudo dos
conteúdos curriculares. Por isso cabe ao professor aproveitar tal fascínio para
pesquisar, selecionar e/ou criar ferramentas com finalidades educacionais a fim de
que os alunos possam explorar de modo que se revelem recursos efetivos de apoio
ao ensino e à aprendizagem.
As vantagens do uso das TIC na educação são inegáveis, porém é
necessário ter ciência de que o uso de ferramentas digitais não são, por si só,
capazes de modificar as práticas pedagógicas tradicionais, nas quais o aluno é um
sujeito passivo, pois a interatividade pressupõe a troca, o diálogo, o fazer junto.
(VIEIRA, 2011).
Martinho e Pombo (2009) também alertam que o entusiasmo e a esperança
que se deposita nas tecnologias não podem ser considerados como a solução de
todos os problemas educacionais. O professor precisa compreender que deve
passar de transmissor para mediador do conhecimento, de modo que os alunos
consigam atingir efetivamente os objetivos, sendo está faceta, talvez a mais
inovadora de todo este processo.
Nesse sentido, o estudo em tela neste artigo se justifica, pois ele está
atrelado a práticas da sua autora, uma vez que ela vem utilizando as TIC desde
2006 na metodologia do ensino de Ciências em classes inclusivas, tendo ao longo
do tempo observado uma boa receptividade por parte de todos os alunos. Esta
afirmação decorre do fato de que trabalhos como a produção de vídeos, blogs
jornalísticos, podcasts e webquests vêm contribuído para instigar o interesse e
facilitar a compreensão do conteúdo de Ciências. Os alunos envolvem-se
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rapidamente com as propostas produzindo trabalhos excelentes que na maioria das
vezes vão muito além das expectativas esperadas.
OBJETOS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM: FERRAMENTAS INOVADORAS
Os Objetos Digitais de Aprendizagem (ODA), segundo Coelho, Ishitani e
Nelson (2012), servem como um material digital de apoio ao professor e podem ser
utilizados por alunos ou qualquer outra pessoa interessada em aprender um
determinado assunto. Tais recursos digitais podem ser elaborados a fim de facilitar a
compreensão dos conteúdos pelos alunos surdos. Com isso, o professor favorece a
construção do conhecimento de seus alunos de maneira a atingir todos aqueles que
necessitem de uma metodologia diferenciada.
A principal ideia dos ODA, segundo Mercado, da Silva e Gracindo (2008, p.
112), é a de “quebrar o conteúdo educacional em pequenos pedaços que possam
ser reutilizados em diferentes ambientes e aprendizagem, em um espírito e
programação orientada a objetos, qualquer entidade, digital ou não, que possa ser
usada, reutilizada ou referenciada durante o uso de tecnologias no ensino.” O
docente pode aliar os ODA à outra ferramenta metodológica a fim de enriquecer o
trabalho pedagógico.
Os ODA são qualquer material digital, como por exemplo, textos, animações e
vídeos, aplicações, páginas web, de forma isolada ou em combinação, com fins
educacionais (BEHAR et al., 2009) e podem ser elaborados e utilizados de maneira
a instigar o raciocínio lógico, a interação e exploração dos conteúdos. Mercado, da
Silva e Gracindo (2008, p.113) destacam o caráter exploratório dos ODA: “Os ODA
visam à construção de conceitos por meio de atividades exploratórias. Na interação
com esses objetos se dá a possibilidade de operar interativamente. As simulações
permitem ao sujeito que aprimore e (re)construa sistemas de significações”.
Quadro negro, giz, livro didático impresso e caderno já começam a ser
considerados recursos educacionais obsoletos numa sala de aula. Os livros
didáticos atuais já disponibilizam, ainda que de maneira incipiente, objetos virtuais
de aprendizagem. Todavia, apesar de crianças e jovens passarem horas diárias
conectados à internet, acessando especialmente redes sociais através de
notebooks, tablets e celulares, ainda conhecem pouco os ODA, tais como o livro
digital, a webquest e o edmodo.
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Os livros digitais3 oferecem informação multimídia, recursos interativos e
atividades autoavaliativas. Normalmente são acessíveis via internet, mas alguns
estão presentes em outras mídias, como o DVD. Podem ser utilizados para trabalhar
conteúdos de ciências através de esquemas, sínteses, animações e atividades
autoavaliativas. O docente pode disponibilizar o material para acesso individual e/ou
trabalhar em sala de aula através de projeções e utilizá-lo como apoio às
explicações.
Em linhas gerais, uma webquest4 parte da definição de um tema e objetivos
por parte do professor, uma pesquisa inicial e disponibilização de links selecionados
acerca do assunto, para consulta orientada dos alunos. Estes devem ter uma tarefa
exequível e interessante que norteie a pesquisa. Para o trabalho em grupos, os
alunos devem assumir papéis diferentes, como o de especialistas, visando gerar
trocas entre eles (PIMENTEL, 2007). Em Ciências, os alunos podem pesquisar,
analisar, discutir e chegar a conclusões antes mesmo do professor apresentar
determinado conteúdo, bem como alunos surdos podem ainda ter acesso a vídeos
integrados em LIBRAS para facilitar a compreensão das atividades.
Edmodo5 é uma rede social educacional. Os docentes podem se inscrever e
enviar um convite personalizado a todos os alunos e, desta maneira, é possível criar
um grupo para cada classe. A plataforma permite compartilhar conteúdos, organizar
debates, realizar votações, dispor de uma agenda, entre outros recursos. A parte
gráfica oferece experiência de usuário semelhante ao Facebook, é intuitiva e de fácil
manejo. O recurso “biblioteca” também está disponível para a conta de estudante, o
que pode facilitar a realização de trabalhos, além de lhe possibilitar a experiência de
organizar suas próprias bibliotecas de estudos. Com isso, é possível a manter um
contato virtual através desta rede de maneira a estimular o interesse pela disciplina.
3 Livro digital: Livro digital ou e-book (abreviação em inglês) tem como principal objetivo a
disponibilização de um livro no formato digital, de forma que este pode ser visualizado através de um computador ou dispositivo móvel (BOTTENTUI JÚNIOR et al., 2009). 4 Webquest: é uma atividade didática, estruturada de forma que os alunos se envolvam no
desenvolvimento de uma tarefa de investigação usando principalmente recursos da internet (ABAR; BARBOSA, 2008). 5 Edmodo: é um site de microblogging para escolas, educadores e alunos. Ele dá suporte para o
compartilhamento, entre professores e seus alunos, de material educacional, links, enunciados de trabalhos, notas e notícias. Entretanto, não permite o compartilhamento de material entre professores.
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Os “edublogs6” constituem-se numa poderosa ferramenta interativa, pois
oferecem múltiplas opções de atividades tanto ao professor como aos alunos
formando redes virtuais de aprendizagem, num ambiente colaborativo, contribuindo
para a construção de uma cultura científica e tecnológica. Pode ser criado um
Edublog para trabalhar com a webquest e o livro digital como hiperlink7.
É importante ressaltar que o papel e a autoria do docente acerca da aula são
indispensáveis. O papel mediador do professor, na relação entre o sujeito
cognoscente e o objeto cognoscível (a relação do aluno com a matéria de ensino) é
uma reciprocidade obrigatória que encontra nestas TIC possibilidades mais
prósperas de acontecer. Tais ferramentas metodológicas poderiam dar margem a
conclusões precipitadas, culminando na reorganização das turmas em um maior
número de alunos. Entretanto, não há como explicar, instruir ou conduzir a
realização de uma atividade com as TIC em salas com um grande número de
alunos. Dessa forma, o processo de ensino-aprendizagem estaria fadado ao
fracasso.
Em uma matéria publicada pela Revista Nova Escola (VEROTTI, 2009), a
autora deste trabalho relata à repórter que já vem buscando flexibilizar suas aulas
para os surdos, aproveitando a TV com acesso a pen drive disponível na escola
para ampliar as possibilidades de exibição de vídeos, imagens e animações,
recorrendo também a apresentações teatrais, desenhos esquemáticos no quadro-
negro e materiais lúdicos. No entanto, não há um material pedagógico específico
para o ensino de Ciências que priorize as necessidades dos surdos. A utilização de
ODA, como os citados neste trabalho, que apresentem o conteúdo de modo a
privilegiar aspectos visuais em uma linguagem mais objetiva, pode contribuir para
um melhor desempenho de todos os alunos, especialmente daqueles com
necessidades educacionais especiais, como os surdos.
Os ODA podem auxiliar os professores e também os alunos na construção
de seu conhecimento (COELHO, 2012). O uso de ODA para trabalhar conteúdos na
área de Ciências pode ser somado à metodologia já utilizada pelos docentes na
6 Edublogs: “edublog” – junção de education e blog; são weblogs cujo principal objetivo é apoiar o
processo de ensino e aprendizagem em um contexto educativo (LARA, 2005). 7 Hiperlinks: significa qualquer coisa que se coloca em uma página da web e que, quando clicada
abre uma página diferente, ou um lugar diferente, da internet (MIRANDA, 2005).
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tentativa de permitir uma melhor compreensão de conceitos e de fenômenos da
natureza. Com isso, a utilização de ODA, como o livro digital, a webquest, o edmodo
e o edublog podem ser uma excelente alternativa metodológica para favorecer a
aprendizagem também de alunos com necessidades educacionais especiais, como
os surdos, no ensino de Ciências.
A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
Esta pesquisa, que faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE) do Governo do Estado do Paraná – turma 2013 – teve como público alunos
do 6º ano do Ensino Fundamental, turno vespertino, do Colégio Estadual Amyntas
de Barros – Ensino Fundamental e Médio e Profissionalizante, localizado no
município de Pinhais, Estado do Paraná.
O material didático foi elaborado para ser utilizado como apoio pedagógico
em uma classe inclusiva onde houvesse alunos surdos. A proposta visou contribuir
com o processo ensino-aprendizagem através da produção e utilização de ODA
como ferramenta metodológica para o ensino de Ciências.
A estrutura da unidade didática foi organizada de forma a possibilitar a
utilização, com os alunos do 6ºano, de um material digital repleto de recursos visuais
e atividades autoavaliativas para ensinar Ecologia, além de permitir uma interação
educativa nos moldes de redes sociais. Também há orientações de como criar ODA
a serem utilizados e adaptados para qualquer conteúdo.
A unidade didática foi dividida nos seguintes temas:
O que você precisa saber sobre os surdos?
Objetos Digitais de Aprendizagem
Livro Digital
Webquest
Edmodo
Edublog
Avaliação
Referências
O início da implementação do projeto foi marcado pela realização de uma
atividade diagnóstica com análise de imagens, e, posteriormente utilizando-se da TV
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pendrive e o livro didático o conteúdo de Ecologia foi abordado. As atividades dos
ODA foram realizadas antes ou depois de cada temática trabalhada.
EDMODO
Durante está fase inicial, os alunos foram levados ao laboratório de
informática da escola para realizarem o cadastro no Edmodo. A maior dificuldade
enfrentada nos primeiros dias foi acerca dos computadores, pois alguns deles
estavam com problemas de configuração e não permitiam acesso à internet.
Contudo, logo passaram por uma revisão e reconfiguração e o problema foi sanado.
As atividades propostas foram as seguintes: enquete sobre separação do lixo;
questão baseada em um vídeo sobre sustentabilidade; seleção de reportagens
sobre desequilíbrio ecológico e um quiz sobre Ecologia.
Os alunos demonstraram grande empenho, realizando as atividades
prontamente (Figura 1). Estas atividades também proporcionaram momentos de
interação aluno-aluno e aluno-professor através de comentários postados que
expressaram suas opiniões e algumas dúvidas. Alguns alunos até mesmo
buscaram, por conta própria, vídeos relacionados aos temas e disponibilizaram para
a turma. A plataforma Edmodo auxiliou nesse estudo, pois conforme analisam
Oliveira e Oliveira (2012), o professor a manter um contato mais frequente com o
alunado, proporcionando um maior interesse pela disciplina, visto que o ambiente
virtual permite a utilização de um número grande de mídias e conteúdos.
Figura 1: Vídeo sobre sustentabilidade
A possibilidade de os alunos verificarem as questões que não responderam
corretamente logo em seguida de usa realização proporcionou a identificação
imediata do erro cometido. Outro aspecto interessante é que a ferramenta oferece
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ao professor um relatório que demonstra as quantidades de questões respondidas
corretamente ou não, bem como as durações para resolução de cada uma e o
horário da realização/aluno. Muitos estudantes que apresentavam traços de timidez
em sala de aula conseguiram externar algumas ideias e sentimentos através da
interação com as ferramentas disponíveis no ambiente. Tais percepções corroboram
com aquelas feitas por Oliveira e Oliveira (2012).
Foi observado que a maioria dos alunos realizou as atividades sem
dificuldades. Já os alunos surdos necessitaram de auxílio da intérprete para a
compreensão plena do que foi solicitado. Através de uma enquete realizada no
próprio Edmodo pode-se verificar que mais de 90% dos alunos disseram ter gostado
e aprendido com o Edmodo (Figura 2).
Figura 2: Enquete sobre Edmodo
EDUBLOG
O edublog “Ciências Superlegal” (Figura 3) foi criado para facilitar a utilização
do Livro Digital e da Webquest, estes inseridos como link. Os alunos fizeram o
primeiro acesso ao blog através de um link disponível no Edmodo. Notou-se que o
layout do blog despertou o interesse para as atividades que seriam realizadas.
Foram postados pelos alunos vários comentários positivos acerca do Livro Digital e
da Webquest nos locais indicados para tal.
A ideia foi “alimentar” o blog inserindo jogos, vídeos e trabalhos realizados
pelos alunos incentivando à interação e colaboração. Para Oliveira (2008), há a
possibilidade de o professor desempenhar sua função como mediador na produção
de conhecimento, já que ele tem um papel ativo de instigar as discussões por meio
de comentários, potencializando a interação entre a classe; incentivar a escrita
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colaborativa, a autoria, o pensamento crítico e a capacidade argumentativa;
estimular o aprendizado extraclasse de forma lúdica; desenvolver a habilidade de
pesquisar e selecionar informações.
Figura 3: Blog (disponível em www.cienciassuperlegal.blogspot.com.br)
LIVRO DIGITAL
O livro digital foi elaborado a fim de sintetizar o conteúdo com um português
bem objetivo e muitas imagens auxiliando todos os alunos, mas especialmente os
surdos. Foi dividido em três temáticas: Seres vivos, Ecossistema e Desequilíbrio.
Finalizando cada temática, então foram produzidas atividades autoavaliativas
simples e com as mesmas figuras da parte teórica propositadamente para facilitar a
compreensão dos alunos surdos. As atividades foram (Figura 4 e 5): caça-palavras,
quebra-cabeças, palavra secreta, relacione, ordene as palavras, múltipla escolha,
descubra as palavras e raio x.
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Figura 4: Atividade Palavra Secreta Figura 5: Atividade Caça-Palavras
O livro digital foi disponibilizado no blog “Ciencias Superlegal” como link no
Edmodo. Assim como Esteves (2012), constatou-se um enorme interesse por parte
dos alunos, uma satisfação diante das atividades, que não é comum no processo de
ensino-aprendizagem tradicional, e com isso os alunos se empenharam mais nas
tarefas, já que se encontravam muito motivados perante a utilização do computador
na aprendizagem de conteúdos. A diversidade de atividades também contribuiu para
suscitar grande curiosidade e interesse por parte das crianças. Em uma enquete no
Edmodo, 100% dos alunos relataram ter gostado deste ODA. Os alunos surdos
demonstraram muito interesse e não tiveram nenhuma dificuldade em compreender
o conteúdo e realizar as atividades.
WEBQUEST
A webquest (Figura 6) foi criada, assim como o livro digital, para atender os
alunos surdos e seus colegas ouvintes do 6º ano. Por isso, o material foi escrito em
português e vídeos em LIBRAS (Figura 7) foram inseridos em cada etapa da
atividade. O conteúdo abordado foi Poluição, que faz parte do subtópico
Desequilíbrio Ecológico do conteúdo Ecologia. A atividade foi dividida em etapas:
apresentação, introdução, tarefas, processo, avaliação e conclusão. Essas etapas
culminaram em uma pesquisa, confecção de cartazes/vídeos e realização de um
experimento supervisionando no laboratório de Ciências.
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Figura 6: Webquest Figura 7: Vídeo em LIBRAS
A realização dessa atividade estimulou o desenvolvimento do trabalho em
equipe, o que é justamente a ideia da webquest ao propor a realização de uma
aprendizagem colaborativa, pois com o incentivo de um trabalho em grupo pode-se
promover o compartilhamento de informações que em geral contribuem para a
construção do conhecimento, já que “a webquest exige uma pesquisa feita
individualmente e não em grupo, a qual se aprofundada verticalmente, em apenas
uma direção ou ponto de vista. Porém, quando elaborada e executada em grupo, há
uma amplitude dessa pesquisa, em que se podem ter aspectos diferentes de um
problema, com diferentes pontos de vista” (DODGE, 1995, p. 5).
A webquest também foi disponibilizada no blog “Ciências Superlegal” como
link no Edmodo. Este foi o ODA que mais despertou o interesse, pois nenhum aluno
conhecia está proposta e todos ficaram demasiadamente curiosos em realizar o
experimento. A princípio esta atividade causou estranhamento aos alunos porque
nunca realizaram uma pesquisa onde os links já os direcionava as páginas que
deveriam ser visitadas. Contudo, a surpresa dos surdos foi emocionante: ao
visualizarem a webquest levaram um grande susto porque não esperavam encontrar
os vídeos e muito menos que fossem ver no site a intérprete que os acompanhava
em sala. Um dos alunos começou a repetir os sinais que via no vídeo
entusiasticamente e a perguntar como foram colocados os vídeos e porque a
intérprete estava ali. Uma aluna ouvinte relatou:
- “Eu achei legal por que a gente aprende rápido de um jeito legal”
Outro afirmou:
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- “Achei muito legal a webquest e aprendi bastante e entendi algumas coisas
que não tinha entendido antes e também gostei das atividades”.
Também foi a atividade que suscitou mais dúvidas, pois os alunos demoraram
um pouco para entender a dinâmica proposta.
A receptividade do uso dos ODA em turmas de inclusão por parte dos
professores foi muito significativa. Durante a realização do Grupo de Trabalho de
Rede (GTR), os professores cursistas confirmaram a relevância da pesquisa, como é
o caso da Profª Edilaine que considerou o seguinte:
- “[...] o uso da estratégia de desenvolvimento de projetos de trabalho ODA é
uma das alternativas que provocam mudanças importantes na escola”.
Já a Profª Adriane alertou que:
- “[...] especificamente no caso da disciplina de Ciências, há um ensino
excessivamente teórico, o que dificulta a construção do conhecimento de
alunos surdos e ouvintes”.
E a mesma professora afirmou ainda que:
- “[...] a dinâmica da educação inclusiva tem lançado excelentes iniciativas,
tais como esta, que estimula a construção de ODA direcionados aos surdos,
beneficiando todos os alunos”.
Muitos cursistas sentiram-se motivados a participar do GTR ativamente e
mostraram-se interessados em compreender como funcionavam as ferramentas e
como poderiam criar as suas. Vários foram os relatos do uso dos ODA propostos
neste artigo nas aulas destes professores, além de sugestões para adaptar o
material às suas necessidades.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“As pessoas têm direito a serem iguais sempre que a diferença as tornarem inferiores, contudo têm também o direito a serem diferentes sempre que a igualdade colocar em risco as suas identidades.”
Boaventura Souza Santos
O ensino de Ciências em turmas de inclusão exige que o docente considere
as dificuldades comuns a todos os discentes e também às inerentes àqueles com
necessidades educacionais especiais, como é o caso dos alunos surdos. Por isso,
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cabe ao professor buscar alternativas metodológicas para adaptar suas aulas às
exigências de tais alunos a fim de atingir a todos. Deve-se considerar que a
concepção de inclusão gira em torno da ideia de que é o professor e a escola que
devem se moldar ao aluno especial e não o contrário (MAGALHÃES, 2011).
A utilização das TIC para ensinar Ciências já é uma prática comum em
diversas instituições educacionais brasileiras e tem se constituído uma ferramenta
de apoio nas práticas pedagógicas vivenciadas pelos alunos nas aulas. As TIC têm
contribuído com o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que ocasionam uma
ampliação nos recursos didáticos disponíveis, além de estimularem os processos de
compreensão de conceitos e fenômenos, à medida que conseguem associar os
diferentes tipos de representação do conteúdo e das atividades relativas a este.
Ainda reside a ideia de senso comum de que crianças e adolescentes
dominam as TIC, basta ver que os ODA são praticamente desconhecidos pela
maioria deles. Entretanto, por serem ferramentas tecnológicas são atraentes e
desafiadoras sendo muito úteis para auxiliar os alunos na construção de
conhecimentos. ODA, como: o livro digital, a webquest e o edmodo são uma
novidade para ensinar Ciências e podem ser um diferencial para a inclusão de
alunos surdos.
A receptividade e o envolvimento dos alunos de uma turma inclusiva de
Ciências do 6º ano do Colégio Amyntas de Barros com o projeto foi evidente. O
Edmodo despertou o interesse pelo conteúdo através de atividades com vídeos,
enquetes e quiz, bem como permitiu uma boa interação entre alunos e com o
professor. A objetividade que o conteúdo é apresentado e a diversidade de
atividades do livro digital suscitaram a curiosidade, facilitando a compreensão e
realização. A webquest foi o ODA que teve maior receptividade devido a sua
proposta colaborativa e a experimentação.
O material digital produzido privilegia os alunos surdos que possuem uma
língua viso-espacial, a língua de sinais (LIBRAS) e que tem a língua portuguesa
como segunda língua. Por isso, os alunos se identificaram com os ODA utilizados, e,
principalmente, conseguiram compreender o conteúdo e realizar as atividades
sugeridas possibilitando uma inclusão efetiva.
Dessa forma, a utilização de OA como um apoio metodológico para o ensino
de Ciências, considerando-se as necessidades especiais dos alunos surdos,
favorece as condições para que possam desenvolver novos conhecimentos e não
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limitar-se a reproduzir enunciados e ideias prontas. Assim, observou-se que tanto
alunos surdos, quanto ouvintes foram instigados a se envolver com os conteúdos
propostos conseguindo estabelecer relações para atingir os objetivos desejados.
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