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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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INDISCIPLINA NA ESCOLA: UMA RELAÇÃO DE PODER

Miriam Maria da Fonseca1

Eliacir Neves França2

Resumo Este artigo é resultado da pesquisa realizada no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2014, desenvolvida no Instituto de Educação Estadual de Londrina (IEEL). Num primeiro momento, trata-se de fazer um resgate do tema indisciplina na escola sobre o prisma da História iniciando com a Comunidade primitiva, passando pela Idade Clássica, Idade Moderna, pós modernidade chegando até os dias de hoje. Num segundo momento, inicia-se com uma reflexão sobre a conceituação de indisciplina na escola através de grupos de estudos nos quais utiliza-se como referencial teórico os estudos de Foucault (2007), que busca elucidar o conceito de indisciplina escolar para os educadores que atuam no colégio acima citado. Num terceiro momento, busca-se discutir as teorias acerca do tema indisciplina levando em consideração as experiências vividas pelos professores pedagogos da rede pública de ensino de diversas cidades do Estado. Objetivando vislumbrar alguns subsídios que norteiem o trabalho dos educadores, apresenta-se uma reflexão acerca do tema Indisciplina na escola para além do autoritarismo.

Palavras – chave. Indisciplina. Poder. Coerção. Autoritarismo. Regras.

INTRODUÇÃO

Um dos problemas mais relevantes que a educação enfrenta atualmente é

com certeza a indisciplina escolar. Esse é um fenômeno que leva a vários estudos

sobre o tema e a muitas hipóteses sobre suas causas. A educação é abalada

frequentemente com relatos de atitudes agressivas por parte de alunos, onde muitos

educadores sentem-se reféns do medo e da insegurança dentro das escolas e até

mesmo fora delas.

1 Licenciada em Pedagogia, [email protected]. 2 Docente do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina, [email protected]

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Muitas são as razões citadas para explicar a indisciplina dos alunos na sala

de aula e na escola, entre elas: fatores externos, desestruturação familiar, a inversão

de valores e o relacionamento do professor com o aluno.

Além disso, é muito comum, que pessoas alheias a realidade e ao dia a dia

da escola associem violência com indisciplina.

No entanto, o presente estudo se refere à indisciplina na escola, sobre a

violência dentro dela, carece de uma pesquisa à parte, com igual e merecedora

importância em outro momento.

Em se tratando de indisciplina, embora seja um assunto bastante discutido,

falta uma base teórica que possa orientar os professores e educadores com relação

ao encaminhamento que deve ser dado à indisciplina.

Assim, a proposta da pesquisa é procurar através das reflexões em grupos de

estudos conceituar indisciplina na escola, buscar os encaminhamentos necessários

para o tratamento da indisciplina buscando a superação de uma prática autoritária e

fora do contexto histórico atual.

É importante deixar claro que não se trata de incentivar a indisciplina, mas, de

perceber o sentido interessante que ela pode conter, na medida que pode

proporcionar o desenvolvimento do pensamento crítico, do pensamento divergente

que pode levar ao crescimento individual e grupal.

Isto posto, faz-se necessário esclarecer o que realmente significa indisciplina

num processo de reflexão coletiva de educadores da escola. Indaga-se então: O que

é indisciplina para você educador?

Em um segundo momento, elaborar um plano de ação utilizando os recursos

que a escola dispõe para trabalhar com a indisciplina de forma de forma não

autoritária.

Assim, entendemos que a temática proposta nesse estudo é extremamente

importante para o entendimento do que é indisciplina, discutindo a questão da

disciplina e suas relações de hierarquia e força à luz de uma perspectiva histórica.

Vale ainda dizer que nosso interesse em estudar o tema vem da proximidade

com nossa prática pedagógica, visto que trabalhamos na educação pública, na

função pedagógica e a partir destas reflexões modificar as ações cotidianas dentro

da escola visando a formação para a cidadania e melhoria na qualidade

educacional.

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UM CONCEITO DE INDISCIPLINA NA ESCOLA PARA IR ALÉM DE UMA

PRÁTICA AUTORITÁRIA

Formular um conceito de indisciplina na escola deve ser a preocupação inicial

de todo educador comprometido com a educação das classes populares. Porque a

partir da definição do significado de disciplina/indisciplina que se pode também

escolher o tratamento a ser dado a ela.

Entretanto, além de ser um conceito de complexa definição, há muitas

divergências com relação ao encaminhamento a ser dado aos atos indisciplinares.

No que diz respeito à conceituação e ao tratamento a ser dado à indisciplina,

há duas correntes divergentes: uma contra a indisciplina e outra a favor da

indisciplina.

Encontramos em Aquino (1996 e 2003) e La Taille (1996), teorias que

acreditam que a indisciplina na escola é um problema grave que deve ser

inicialmente prevenido, senão solucionado, combatido ou até eliminado.

No entanto, há também uma segunda vertente que considera a indisciplina

como resistência ao poder autoritário. Os autores que representam essa teoria são:

Foucault (2007), Guimarães (1996), Maffesoli (2004) e Guirado (1996). Esses

autores acreditam que é através dos atos de contestação do poder autoritário que a

sociedade tem seus avanços.

Com relação a essa temática, os estudos de Foucault (2007), vem contribuir

significativamente. Através de um método próprio, a arqueologia do saber, o autor

tomou o conceito de poder e o estudou historicamente. Ou seja, ele descobriu que o

conceito de poder em cada período histórico vivido pela humanidade, assumiu um

significado.

Investigando o conceito de poder através da arqueologia do saber, Foucault

(2009), afirma que a nossa sociedade é organizada pelo poder disciplinar. Este

poder é exercido através da normatização. Ou seja, o poder é a norma que define

como as pessoas devem agir, seus gestos e o próprio homem moderno. Através

desse direcionamento classifica-se o que é normal e o que não é.

Do ponto de vista do trabalho de Foucault (2007), a disciplina é um tipo de

poder exercido nos regimes democráticos. Ela procura moldar o corpo do indivíduo

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para a submissão. “(...) o corpo só se torna força útil se é ao mesmo tempo corpo

produtivo e corpo submisso. ”, (FOUCAULT, 2007, p.26)

De acordo com Foucault (2007) o poder disciplinar tem como objetivo

aumentar o efeito útil do trabalho e da atividade humana. Esse poder tem alguns

cuidados que garantem a sua sustentação. Resumidamente, passo a citação deles:

- Os indivíduos são distribuídos no espaço onde se encontram. São

confinados em um lugar fechado.

- Nesse lugar fechado, há controle da ação e também sobre como ela se

desenvolve. Dá-se importância considerável aos detalhes, das minúcias dos

comportamentos.

- Há vigilância hierárquica constante para garantia da disciplina.

- Faz-se o registro contínuo das informações acerca do indivíduo para

reportar aos superiores.

- A burocratização configura-se como o controle das ações.

Assim sendo, podemos inferir que a contribuição trazida por Foucault (2007)

no sentido de compreender o conceito de indisciplina na escola é importantíssimo.

Podemos fazer três constatações distintas.

Em primeiro lugar, disciplina é poder, indisciplina, portanto é resistência a

esse poder. Nesse sentido, quando um aluno se nega a obedecer a regra imposta

para o coletivo ao qual pertence, está demonstrando resistência ao poder autoritário.

Quando pensamos a indisciplina como resistência ao poder autoritário

podemos perceber que há um aspecto salutar nos atos indisciplinares. Somente o

aluno que argumenta, questiona, discute torna-se autônomo.

Neste sentido, os conflitos são essenciais para o crescimento da sociedade,

sendo inútil sufocá-los Maffesoli (2004), vem corroborar com os estudos de Foucault

quando afirma ser o conflito:

[...] inerente a toda sociedade humana [...] é revelador e ciclicamente retorna com toda força. É possível por algum tempo, mascarar seus efeitos, apagar seus aspectos mais flagrantes, mas ele está sempre lá, entrincheirado, pronto a ressurgir, nos atos privados e nas ações públicas. (MAFFESOLI, 2004, p. 28)

Em segundo lugar, o poder disciplinar só se estabelece com a concordância

do indivíduo a ser disciplinado.

Em sua obra “Microfísica do Poder”, Foucault (1979), afirma que o poder é

relação de forças. Nesse sentido, ele afirma:

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Mas é contra o poder que se luta, então todos aqueles sobre quem o poder se exerce como abuso, todos aqueles que o conhecem como intolerável, podem começar a luta onde se encontram e a partir de sua atividade (ou passividade própria). (FOUCAULT, 1979, p. 77)

Em terceiro lugar a disciplina objetiva a normatização da forma de viver das

pessoas. Todas as ações precisam estar dentro da norma estabelecida pelos grupos

e pela sociedade.

Novamente encontramos em Maffesoli (1985), apoio para as ideias de

Foucault quando ele esclarece que existem dois princípios que norteiam as relações

sociais: a moralidade e a ética. Onde há dois polos: normatização (dever-ser) e

relativização (querer-viver). Sobre isto o referido autor considera que:

[...] a moral, que decreta um certo número de comportamentos, que determina os caminhos de um indivíduo ou de uma sociedade, que, numa só palavra, funciona com base na lógica do dever-ser, e a ética que remete ao equilíbrio e a relativização recíproca dos diferentes valores que integram um determinado sistema (grupo, comunidade, nação, povo, etc.). A ética é, antes de mais nada, a expressão do querer-viver global e irreprimível, ela traduz a responsabilidade que este conjunto assume à sua continuidade. (MAFFESOLI,1985, p.21)

Em quarto lugar, através da punição, a disciplina aumenta.

Guirado (1996), analisando as ideias de Foucault, nos alerta para o ato de

punir como reforço para a indisciplina. Sobre isso ela adverte:

No fundo, Foucault acolhe aquilo que socialmente é considerado à margem do aceitável e lhe atribui um estatuto de existência, explicável pelos mecanismos da exclusão. Quer dizer, demonstra de modo consistente como o fato de estigmatizar e reprimir, por meio de procedimentos institucionalmente legitimados e/ou legalmente previstos, incita as práticas que se quer eliminar ou combater, (GUIRADO. 1996, p.58)

Ainda na esfera da culpabilidade existem aqueles que acusam o professor de

ser responsável pela indisciplina por não ter autoridade para conduzir bem a sua

turma e por isso, os alunos são indisciplinados. Ou quando conseguem a disciplina

esperada, são autoritários e disciplinadores, contribuem para o poder dominante

preparando futuros trabalhadores submissos, na medida em que faz da escola um

aparelho disciplinar.

O que deve ser enfocado é que conforme Guirado apud Aquino,1996 nos

esclarece:

Nem os professores (braços do poder do Estado, como querem algumas teorias) nem os alunos (por natureza indolentes e irresponsáveis, como

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sugerem outras) são os causadores dos embates do ensino. A rede de poder é uma estratégia sem sujeito... (GUIRADO, 1996, p.71)

O que se pode esperar então, é que numa perspectiva onde o professor

busque a emancipação do aluno e sua formação cidadã, a contestação não seja

considerada indisciplina, mas uma oportunidade na qual o aluno possa aprender a

convivência social democrática.

A INDISCIPLINA COMO INSTRUMENTO DE CONSTRUÇÃO DE UMA VIVÊNCIA

DEMOCRÁTICA

A conceituação do fenômeno indisciplina feita pelos educadores foi o objetivo

principal do projeto. Partindo do pressuposto que somente a partir dele se poderia

partir para a tomada de decisões com relação à administração do fenômeno na

escola, partiu-se para elaboração de momentos de reflexão para a visando a um

conceito para a indisciplina através de questionamentos:

- O que é indisciplina para você? Como era a disciplina no tempo em que

você estudava no ensino fundamental e médio?

Num segundo momento, através de leituras dos textos de teóricos que

estudaram o assunto em diversas situações:

- O conceito de disciplina e de indisciplina como uma construção através dos

tempos

- A contribuição que os estudos de Michel Foucault trouxeram para a

compreensão do fenômeno da indisciplina na escola.

- Os cuidados que devemos ter ao conceituarmos o fenômeno Indisciplina na

escola.

- As consequências para uma escola que aplica uma disciplina

excessivamente rígida.

- As implicações de uma escola que tem como ideal a formação da

cidadania e sufoca a indisciplina.

- Como a escola atual pode lidar com o aluno do século XXI, levando-se em

consideração uma prática não autoritária.

- A postura do professor para encarar a indisciplina como algo salutar.

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- Como administrar a indisciplina de forma que não entremos em contradição

com os objetivos de uma educação que se propõe a formar o educando em todas as

dimensões: intelectual, social, política, etc.

Em um terceiro e último momento, a elaboração de um plano de ação para se

trabalhar com a indisciplina na escola com os recursos que a escola dispõe,

objetivando uma prática não autoritária.

INDISCIPLINA EM SALA DE AULA: ESTRATÉGIAS DE AÇÃO

A indisciplina na escola, embora seja um assunto bastante discutido, falta

uma base teórica que possa orientar os professores e educadores com relação a

vários questionamentos. Entre eles podemos citar: O que é indisciplina para você?

Será que indisciplina é uma questão de concepção? A indisciplina é conceituada da

mesma forma no decorrer da História? Quem é o responsável pela indisciplina?

Quais são os encaminhamentos dados aos conflitos em sala de aula? Como se dá o

estabelecimento das regras de conduta na escola? Existe preocupação com o

estabelecimento de uma convivência democrática? Qual a diferença entre

autoritarismo e autoridade do professor? O descumprimento das regras gera

punição? Há preocupação com a formação de um cidadão que haja com criticidade?

Todas essas questões foram discutidas com base na reflexão que o projeto

propôs, procurando rejeitar ideia de que existem receitas prontas para se lidar com

este desafio. E mais importante, levar em consideração que a indisciplina escolar se

configura como uma resistência ao poder autoritário.

Isto posto e considerando as complexidades que permeiam o processo de

construção do conceito de indisciplina na escola, acreditamos que conhecer as

opiniões e percepções dos professores da escola pesquisada poderia trazer

importantes elementos de reflexão sobre a indisciplina da forma como está posta na

escola. Para tanto, selecionamos algumas falas de professores do Instituto e dos

cursistas do GTR que sintetizam o conceito de indisciplina dos grupos que, por

questões éticas, serão apresentados em ordem numérica como Profo1, Profo2....2

2 Como os professores conceituam indisciplina na escola? Atividade número 1 do GTR respondido

pelos professores cursistas e primeira etapa do curso de implementação na escola.

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Na visão de grande parte dos educadores indisciplina é toda forma de manifestação (conversas questionamentos, risos, posturas, atitudes...) por parte dos alunos. O que queremos de verdade são alunos submissos, sentados em ordem e extremamente dispostos a aprender o “pouco” que temos a ensinar. (Profo1).

Indisciplina é a falta de respeito as regras, negação as normas, mal comportamento que compromete a convivência social seja na sala de aula ou em qualquer espaço que estivermos. (Profo2). Na minha escola a indisciplina é vista como algo negativo, prejudicial ao ensino e aprendizado, rebeldia. (Profo5). De modo geral, a indisciplina é vista como algo que foge às regras, ao que é estabelecido como normal. (Profo6). Os professores da escola onde trabalho afirmam que a indisciplina é o estado de balbúrdia, confusão, barulho, agressividade, de tal modo exacerbado que impede o professor de ensinar e o aluno de aprender. (Profo3).

Diante da expressão dos professores acima que atuam como pedagogos nos

seus respectivos estabelecimentos de ensino e responderam à questão contida na

atividade 1 do GTR, assim como também dos educadores que atuam na escola, não

há divergências de concepções. Os professores são unânimes em considerar a

indisciplina como algo indesejável.

Uma constatação muito importante feita por vários professores é que a

indisciplina é tida nos ambientes escolares de modo geral como desrespeito às

regras estabelecidas, insubordinação ao que se denomina de norma, padrão. O

aluno indisciplinado é indesejado e desencorajado.

Entretanto, devido a inúmeros fatores, o que vemos é a generalização do que

se entende por indisciplina. Nesse sentido, qualquer ato, atitude, comportamento

não aceitável por algum professor e/ou escola logo é taxado como indisciplina (falar

gírias, conversar em sala, mascar chicletes, usar boné, sentar de lado na carteira,

rir, etc.).

A escola de modo geral e o professor continuam querendo tratar as crianças

e adolescentes de hoje como se estivéssemos vivendo no início do século passado.

A sociedade mudou e continua em constante transformação; as famílias têm

diversas formas de organização (quando ela existe); o mundo capitalista exige que

todos saiam de casa para trabalhar e as crianças e adolescentes ficam sozinhos,

soltos.

O que reforça também essa crise de paradigmas é o fato de que estamos

diante de três gerações totalmente diferentes.

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De acordo com Araujo (2015), na escola, alguns de nós já lidou com

a geração Y. Estes são acostumados com a rapidez para obter seus objetivos e não

se sujeitam a tarefas subalternas. São capazes de fazer múltiplas tarefas e foram

muito estimulados.

Já Mendonça (2015), nos ensina sobre a geração Z que são conhecidos pelo

dinamismo, autodidatismo, por serem críticos e exigentes. Por saberem o que

querem, não gostam das hierarquias nem de horários inflexíveis. São os jovens

da Geração Z, que nasceram depois de 1995"

Atualmente temos à nossa frente a geração alpha que de acordo com Beraldo

(2015), composta por crianças estão inseridas em um cotidiano rodeado pela

tecnologia que desde o nascimento. Ainda não dá para concluir como pensam, mas

se pode afirmar que são mais independentes que os nascidos na geração Y e com

mais habilidades para lidar com a tecnologia.

É lamentável, mas, a escola atual não está conseguindo atender à essas

novas gerações. Aluno muitas vezes é considerado indisciplinado e o professor

autoritário quer utilizar seu poder para transformá-los em seguidores submissos e

obedientes para servir e reproduzir.

Com base nesse pensamento, os professores constataram que é urgente que

se revise essa situação e que iniciativa deve começar nos cursos de formação de

professores.

Os professores entenderam que é preciso conhecer o perfil do novo aluno

para poder mediar os conflitos de forma eficaz:

É fundamental que o aluno perceba/sinta que é reconhecido e aceito por nós, algumas atitudes é que são inadequadas e inconvenientes naquele momento e as atitudes não se modificam imediatamente após uma mediação. É processo contínuo. (Profº 5)

Agora, com relação ao tratamento a ser dado à indisciplina dentro do

ambiente escolar, os professores apontaram para o fato de isto depender muito da

construção de um ambiente democrático.

As tramas para um ambiente democrático estão em processo. Há muitos fios por tecer, para compreender quem são os sujeitos, porque as coisas são diferentes daquilo que se imagina ser e acontecer. (Profº 6)

Na escola de implementação, os educadores construíram um plano de ação

para trabalhar com a indisciplina na escola com o objetivo de utilizar a indisciplina

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como elemento de construção de um ambiente democrático, utilizando os recursos

que a escola dispõe. (Anexo 1)

Os pedagogos cursistas do GTR também elaboraram um plano de ação.

(Anexo 2)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os profissionais da escola de implementação e os professores cursistas do

GTR, apontaram para várias constatações a serem observadas com relação à

disciplina na escola.

Primeiramente é muito importante fazer a distinção entre indisciplina, violência

e ato infracional, já que são conceitos bastante distintos. Saber entender e

conceituar cada um desses elementos é o primeiro passo para buscar formas de

superação de cada um deles.

É bastante comum na escola, professores que para situações triviais querem

a presença de uma autoridade policial, como se indisciplina fosse caso para tal

instância. É preciso que o espaço da escola seja um espaço de respeito as

diferenças e do estabelecimento de relacionamentos que nos permitam equacionar

essas demandas cada vez mais presentes no interior de nossas escolas.

Sobre o conceito de indisciplina, os educadores apontaram para o fato de que

nem todos os atos indesejados praticados pelo aluno podem ser considerados

indisciplina. Isto porque, algumas atitudes dos nossos alunos em sala de aula fazem

parte da cultura do momento histórico nos quais estão inseridos. Portanto, a solução

perante estas situações é compreender o contexto no qual o aluno está inserido. Ir

na contramão da história almejando encontrar uma escola do século passado, um

aluno idealizado, só trará frustrações.

Os problemas de indisciplina são recorrentes e não dependem do tamanho da

escola ou da sua localização geográfica. Assim, os problemas disciplinares estariam

ligados mais às relações estabelecidas no coletivo da escola do que nos sujeitos.

Isto talvez explique o fato de o fenômeno indisciplina ser generalizado, ou seja,

acontece em diferentes classes econômicas, diferentes famílias, etc.

A busca pelos culpados pela indisciplina deve ser descartada. A rede de

relações disciplinares existentes na sociedade é a responsável pela existência do

conflito. Devemos na verdade nos concentrarmos na diferença entre autoridade e

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autoritarismo que vai definir de forma mais concreta o tratamento dispensado à

disciplina/indisciplina na escola.

Precisamos romper paradigmas perpetrados nas escolas. Quando se trata de

indisciplina, não há receitas prontas. Cada tempo histórico produz um indivíduo com

suas necessidades e objetivos. A escola atual precisa atender as diferentes

gerações que estão chegando. Para isso, os professores precisam conhecer qual é

o perfil do aluno que ele está atendendo. Como se sente com relação à escola, o

que pensa, o que deseja, etc. O diálogo se revela como um instrumento eficaz na

resolução dos conflitos e na busca da justiça.

É importantíssimo que se utilize a indisciplina como elemento de formação.

Neste contexto, sugeriu-se trabalhar a indisciplina como uma oportunidade de

construção de um ambiente democrático, através da construção coletiva de regras,

onde o aluno possa falar e ser ouvido. Onde compreender o porquê das regras é um

direito do aluno e contribui para a formação da sua cidadania, na medida que ele

permita ser disciplinado porque percebe que uma disciplina justa é também ética

porque beneficia o coletivo.

REFERÊNCIAS

AQUINO, Julio Groppa (org). Indisciplina na escola: Alternativas teóricas e práticas. 8ª ed. São Paulo: Summus, 1996. ARAUJO, Felipe. GeraçãoY. Disponível em: http://www.infoescola.com/sociedade/geracao-y/) acesso em 27 de out.2015. BERALDO, Vanessa Vieira. GeraçãoAlpha. Disponível em:Http://www.marisapsicologa.com.br/geracao-alpha.html. CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP,1999. DE LA TAILLE, Yves. A indisciplina e o sentimento de vergonha. In: AQUINO, J. G. Indisciplina na escola: alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summus editorial, 16ª edição, 1996. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 2007. _____________ Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

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GUIMARÃES, M. Áurea. Indisciplina e violência: a ambiguidade dos conflitos na escola. In: AQUINO, J. G. Indisciplina na escola: alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summus editorial, 16ª edição, 1996. GUIRADO, Marlene. Poder indisciplina: os surpreendentes rumos da relação de poder. In: AQUINO, J. G. Indisciplina na escola: alternativas Teóricas e Práticas. São Paulo: Summus editorial, 16ª edição, 1996. MAFFESOLI, Michel. A parte do diabo: resumo da subversão pós-moderna. Rio de Janeiro: Record, 2004. _______________ A sombra de Dionísio: contribuição a uma sociologia da orgia. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985. MENDONÇA, Heloisa. Conheça a Geração Z: nativos digitais que impõem desafios as empresas. Disponível em:http://brasil.elpais.com/brasil/2015/02/20/politica/1424439314_489517.html Acesso em 27 de out.2015. RANGEL, Lúcia Helena. Da infância ao amadurecimento: uma reflexão sobre rituais de iniciação, 1999. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php? pid=S1414-32831999000200019&script=sci_arttext> Acesso em: 22 out. 2014. SOUZA, Neusa Maria Marques de Souza (org). História da Educação. São Paulo: Avercamp, 2006.

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ANEXOS

ANEXO 1 – Plano de ação elaborado pelos educadores da Escola de

Implementação.

Instituto de Educação Estadual de Londrina - IEEL

Plano de Ação: Indisciplina na escola

Proposta: Formação de professores com aplicabilidade simultânea

na sala de aula.

Sujeitos: Professores e alunos;

Objetivos:

Realizar formação com os professores sobre indisciplina na

sala de aula;

Aplicar as ações propostas em formação na prática em sala

de aula;

Fazer uma avaliação quantitativa da incidência dos registros

de indisciplina nos livros de ocorrência da sala de aula

acompanhado do encaminhamento feito pelo professor.

Dar feedback para os professores com vistas à administração dos

atos indisciplinares superando o autoritarismo.

Estratégias/ etapas:

1ª Etapa: Durante as horas atividades dos professores, discutir

com os professores o que eles entendem por indisciplina e registrar.

2º Momento: Ler com cada professor sua definição de indisciplina e

pedir que ele classifique o que é moral e o que é convencional.

3º Momento: Utilizar um suporte de leitura com as tirinhas do Calvin

provocando uma reflexão sobre a proibição ineficaz das normas e regimentos

sem a participação e construção da norma por todos os envolvidos;

2º Etapa

Depois dessa fase de reflexão estabelecer com os professores

novas formas de abordar as situações caracterizadas como ato de

indisciplina;

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Combinar com os professores de evitar a transferência de

autoridade frente aos atos de indisciplina e provocar a reflexão de que quanto

mais domínio o professor conquistar na abordagem dos atos de indisciplina e

evitar interferência de terceiros na sala de aula tanto mais serão eficazes as

ações disciplinares /educativas.

3º Etapa

Após orientações dos professores em sala, dividir em equipes e

pedir para os alunos observarem durante uma semana o cotidiano da escola

desde o horário de entrada, recreio, as aulas e saída e fazerem anotações.

No intuito de ter um parecer sobre a leitura feita pelos alunos sobre o

cotidiano escolar.

4º Etapa

Discussão em sala com a mediação do professor por meio de

debates, assembleia, júri-simulado dos dados coletados pelos alunos;

buscando a identificação dos temas e/ou conceitos: como ética, moral,

norma, convencional, entre outros.

Separar as ações consideradas éticas e não éticas;

Elencar as sugestões dos alunos para diminuir as ações antiéticas;

Elaborar uma síntese das ações apresentadas pelos alunos como

atitudes éticas que promovem a melhor convivência do grupo e sugerir que

esses textos com as frases dos alunos sejam acrescentados no regimento

escolar da escola e com intenção de utilizar na possível reelaboração do

regimento escolar em relação aos direitos e deveres dos alunos e

professores;

Divulgar para a toda comunidade escolar.

Avaliação

A avaliação será continua, observadas a participação o

envolvimento e as proposições do grupo, e por meio de questionários,

pedindo aos alunos, funcionários, professores e pais que analisem se houve

avanços. Com o resgate a listagem feita no começo do projeto e peça que a

equipe docente altere o que achar necessário.

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ANEXO 2 – Plano de Ação elaborado pela profº 1 do GTR

Entendendo a indisciplina e o novo perfil de aluno

O material didático apresentado visa contribuir analisando mais o contexto

social dentro da questão da indisciplina, partindo do princípio de que é necessário

entender quem é esse sujeito dito indisciplinado. A questão da indisciplina está mais

ligada às relações do que aos sujeitos e que a busca de entendimento e de

alternativas para trabalhar esses conceitos passa necessariamente pelo

entendimento de quem são esses sujeitos, como vivem, convivem, pensam para

partir de então fazer proposições onde o aluno seja respeitado e aprenda a respeitar

participando na construção de regras que facilitem o trabalho coletivo e o

aprendizado.

Objetivos:

Refletir sobre espaço escolar, seus limites e dificuldades enquanto

espaço formador de cidadãos críticos e reflexivos;

Refletir sobre o conceito de disciplina/indisciplina com um olhar sobre a

realidade escolar buscando dos e nos alunos alternativas para superar

a indisciplina;

Promover a prática do respeito e do diálogo com a criação de um

ambiente propício à aprendizagem.

Estratégias de ação

Através de grupos de estudos, realizar discussões, debates, etc. após assistir

vídeos e fazer leituras de autores de artigos científicos que tratam dos elementos

envolvidos com a indisciplina escolar abaixo descritos.

A criança em seu mundo Mário Sérgio Cortella

Neste vídeo, de acordo com o educador Mário Sérgio Cortella, nós estamos

“sacando” o futuro por antecipação. Significa que nós estamos gastando os meios

que permitiriam a existência de próximas gerações. Segundo sua análise, nós

anunciamos às crianças: "Não haverá futuro, não haverá meio ambiente, não haverá

segurança, não haverá trabalho. Vocês não têm presente!" Mas, segundo o próprio

Page 17: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · inicia-se com uma reflexão sobre a conceituação de indisciplina na escola através de grupos de estudos nos quais utiliza-se

educador, é preciso criar relações mais próximas com as crianças e saber quais são

as suas necessidades e desejos para que possamos formar cidadãos conscientes e

atuantes.

Leandro Karnal | O mundo que nos formou está obsoleto?

Neste vídeo, Karnal aponta algumas transformações marcadas pela

velocidade nas dinâmicas sociais.

Mario Sérgio Cortella / Z Geração do Agora - Documentário

Internet, tecnologia, computadores, redes sociais, conexão.... O mundo

globalizado está se modificando cada vez mais rápido e os jovens de hoje em dia, a

geração Z, caminham nesta velocidade. Neste documentário, o educador e filósofo

Mario Sergio Cortella, com o auxílio de mais duas especialistas, nos conduzem ao

interior do universo da juventude atual, tanto da área urbana quanto da rural.

Indisciplina como aliada

Reportagem sobre como trabalhar a indisciplina de forma adequada. Nesta

reportagem, são apontados caminhos para compreender e resolver a questão.

A indisciplina e a escola atual ( texto de JG Aquino)

Neste resumo de uma conferência, Julio Groppa Aquino traz um

entendimento de cunho histórico, da questão disciplinar.

Avaliação

A avaliação se dará nas observações das atitudes dos alunos em sala de

aula, no trato com seus pares e professores. Dar um feedback (aos alunos) dos

resultados quando das reuniões com as turmas ou em conselhos de classe

(professores).