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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

O IMPACTO DO TEACHING GAMES FOR UNDERSTANDING (TGFU)

NA APRENDIZAGEM TÁTICA DO FUTEBOL DE CAMPO

Autor: Frederico Ruva Neto1

Orientador: Michel Milistetd2

RESUMO

A necessidade de analisar as metodologias de ensino dos esportes coletivos e compreender de queforma o processo de ensino da tática ocorre no Futebol de Campo é fundamental para que osprocessos pedagógicos se tornem mais efetivos na comunidade escolar. Desta maneira, buscandoromper com o tradicionalismo do aprofundamento técnico do ensino dos esportes, aplicamos o projetode Intervenção Pedagógica de implantação do “Modelo de Ensino de Jogos para a Compreensão”(TGfU - Teaching Games for Understanding),com alunos do Projeto Hora Treinamento do EnsinoFundamental da E.E. Nossa Senhora das Graças. Essa proposta pretendeu desenvolver acapacidade de jogo de adolescentes, analisar o nível de resolução dos problemas que desafiam a suacapacidade de compreender e atuar no esporte e incutir nos alunos o processo de análise dacomplexidade tática, acréscimo de variáveis nas formas de jogo e pensar estrategicamente. Foramaplicadas dezesseis sessões de treinamento com duas horas de duração para cada unidade, visandoa melhoria da compreensão tática do futebol de campo. Assim constatamos de fundamentalimportância aplicar o TGfU para o ensino do Futebol de Campo para os alunos do ensinoFundamental, visto que alcançamos a melhoria no nível de jogo por eles praticados.

PALAVRAS CHAVE: Metodologias de Ensino. Futebol. Compreensão Tática.

INTRODUÇÃO

A visível necessidade de que os processos de ensino-aprendizagem nos

esportes sejam mais condizentes com suas características específicas, em alusão à

ênfase da aplicação da técnica como modelo isolado tem tomado conta da agenda

de investigação nas últimas décadas. A partir dos anos 80 surgem modelos

construtivistas que baseiam seus pilares pedagógicos na tomada de decisão,

colocando o aluno como construtor ativo da sua própria aprendizagem (Mesquita,

2004) O Método de Ensino do Jogo para a Compreensão (TGFU, em inglês)

proposto por Bunker e Thorpe em 1982, é criado como reação a concepção

tecnicista enfatizando a compreensão tática e a capacidade de resolução dos

problemas apresentados pelo jogo com desafios de compreender e atuar.

1 Professor da Rede Estadual de Ensino do Paraná, lotado na Escola Estadual Nossa Senhora das graças – Ensino Fundamental – NRE de Irati, integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE. E-mail: [email protected]

2 Professor Mestre Orientador. UNICENTRO/Campus Irati. E-mail: [email protected]

A adaptação destas formas de jogo faz-se por referência a quatro princípios

pedagógicos: a seleção do tipo de jogo; a modificação do jogo por representação

(formas de jogo reduzidas representativas das formas adultas de jogo); a

modificação por exagero (manipulação das regras de jogo, espaço e do tempo de

modo a canalizar a atenção dos jogadores para o confronto com determinados

problemas táticos); o ajustamento da complexidade tática (o repertório motor que os

alunos já possuem deve permitir-lhes enfrentar os problemas táticos ao nível mais

adequado para desafiar sua capacidade de compreender e atuar no jogo). O jogo,

objetivado numa forma modificada e concreta, é a referência central para o processo

de aprendizagem, é ele que da coerência a tudo quanto se faz de produtivo na aula

(GRAÇA e MESQUITA, 2007).

Deste modo, a experimentação de modelos de ensino-aprendizagem nos

esportes se faz necessária, pois se em um momento denota a maior participação de

crianças e jovens em práticas esportivas, por outra é ligada ao desenvolvimento da

inteligência e tomada de decisão de jogadores, incentivando a buscar uma

autonomia de aprendizagem. Além disso, o fator motivacional de modelos

construtivistas, parece ser um caminho ideal para o descontentamento e

desmotivação em formas de ensino parcial, que valoriza apenas aos mais

habilidosos, deixando de lado grande parte de crianças e jovens ligados à práticas

esportivas.

Há vinte e sete anos de trabalho como professor do Ensino Fundamental, e

durante este período sempre participando dos Jogos Escolares do Paraná, me

pergunto de que forma o ensino da tática do Futebol de Campo a nível escolar pode

ser mais efetivo? Sentimos a necessidade de novas formas de treinamento e uma

reflexão sobre o que se faz hoje no esporte escolar tanto para o lado bom, quanto

para enumerar e corrigir os erros até agora praticados.

Considerando que atualmente nas escolas de forma geral, não se prepara

uma equipe de forma coerente por fatores que variam desde a poucas horas de

treinamento, trabalho com um grupo muito heterogêneo quanto ao tempo de prática

do esporte, até alunos com problemas familiares e de comportamento; falta de

calendário para competições, pouca estrutura nas escolas e má formação de

professores, entre outras.

Criar linhas de passe, colocação individual em espaços onde a bola pode

chegar, desmarcação em relação aos jogadores adversários, solucionar os

problemas que o jogo apresenta, são ações individuais e coletivas que parecem ser

impossíveis de ser alcançadas com equipes escolares. Fato marcante e visível é a

diferença existente nas competições deste nível, das equipes bandejadas por times

de base e escolas particulares com treinamentos diários e as vezes em dois

períodos, com seleção de atletas sustentados por bolsas de estudos e com nível de

organização mais especializado, contando com espaços mais adequados,

professores e materiais sofisticados, com estrutura suficiente para se impor e vencer

seus adversários mais fracos.

Portanto o objetivo da proposta foi verificar o impacto do “Teaching Games for

Understanding” no comportamento tático de estudantes do Ensino Fundamental,

observar o nível de compreensão e desenvolvimento da capacidade de jogo na sua

forma tática após a aplicação do TGfU, confrontar os alunos com problemas que

desafiam a sua capacidade de compreender e atuar no esporte em questão e incutir

nos alunos o processo de análise da complexidade tática e acréscimo de variáveis

na forma de jogo, fortalecendo os elementos “conceito de jogo” e “pensar

estrategicamente” vincando a ligação entre o conhecimento declarativo e processual

Educação Física Escolar

Para contextualizarmos a Educação Física Nacional e Regional ou iniciarmos

uma compreensão acerca da área, é importante indagarmos: O que é Educação

Física? Desde quando é uma área reconhecida na escola? Segundo o Professor Dr.

Valdir Barbanti (USP, 2012).

A Educação Física é determinada culturalmente pelo o que o homem pensade seu corpo, como ele pensa de si mesmo em relação ao seu corpo, ecomo ele pensa que seu corpo deve ser treinado, exercitado, disciplinado,desenvolvido, educado. Isto é verdade tanto em sociedades onde existe acrença que o “eu” e o corpo são separados como naquelas onde há aaceitação científica de que o homem é um organismo unificado que move,pensa, sente, se expressa, etc.

A Educação Física é antes de tudo, uma tarefa educacional que objetiva

promover o desenvolvimento físico, social e mental do homem. É a soma das

mudanças provocadas no indivíduo para experiências centralizadas em padrões

básicos de movimento. É auto educação, a descoberta de si mesmo através dos

movimentos corporais, ilimitada capacidade de cada um expressar amor, beleza,

liberdade, disciplina e sentido. Tudo que parece estar além da expressão verbal. De

acordo com o Caderno das Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação

Básica do Estado do Paraná (2006, p.15):

Por não existir um plano nacional de Educação Física, a prática nas escolasse dava pelo método Francês de ginástica adotado pelas Forças Armadas etornado obrigatório a partir de 1931. A Educação Física se consolidou nocontexto escolar a partir da Constituição de 1937,quando objetivavadoutrinar, dominar e conter os ímpetos das classes populares. Tambémenaltecia o patriotismo, a hierarquia e a ordem, seguindo a risca osprincípios higienistas para um corpo forte , saudável e robusto, delineadopara a defesa e proteção da família e da Pátria.

Desde o início do século passado, Hetherington,(1910) formulou os quatro

princípios fins da Educação Física que são: “fins orgânicos com objetivos biológicos;

fins psicomotores com objetivos relativos a habilidades; fins afetivos com objetivos

atitudinais e experienciais e fins cognitivos com objetivos de conhecimento”. Com

esses princípios,

uma pessoa fisicamente educada como a que demonstra competência em algumas

formas de movimento, aplica conceitos nas habilidades motoras, tem vida ativa,

adquire condição física favorável a saúde, sabe que a atividade física fornece

oportunidade de divertimento, desafio, expressão corporal e interação social.

Todavia, por se apresentar como uma disciplina escolar, a Educação Física

deve ultrapassar os limites do movimentar-se focando os princípios educacionais e

as reflexões sobre as necessidades do ensino perante os alunos, tentando superar

contradições e valorizando a educação. É importante considerar experiências

regionais e ser interdisciplinar entendendo a Cultura Corporal e suas dimensões

humanas tratadas pelas ciências humanas, sociais, da saúde e da natureza. (SEED,

2008).

Deste modo a educação Física Escolar deve vencer os problemas que ha

atingem como: a luta da supervalorização das outras matérias que enxugam a grade

curricular causando perda de aulas e por consequência de empregos, os Diretores

que enxergam a Educação Física como a hora da bagunça, da indisciplina e do

barulho; a escassez de material e de espaços e o conceito tradicional da técnica

aplicada pelos profissionais da área.

Também não devemos deixar de citar que é atribuído ao currículo das

atividades múltiplas, grande parte da responsabilidade pelo insucesso da pedagogia

no ensino das atividades desportivas, como: 1)pequenas unidades temáticas com

tempo de instrução reduzido. 2) fraca sequência pedagógica entre as aulas,

unidades de ensino e anos de escolaridade. 3) pouca exigência de aplicação tática

das habilidades no jogo. 4) pouca ou nenhuma instrução ou supervisão ativa do

jogo. 5) pouca ou nenhuma medida para equilibrar as oportunidades de jogo dos

alunos de nível mais baixo.6) exposição pública obrigatória da incapacidade de

jogo.7) controle da aula por autoridade central, minimizando as oportunidades de

autonomia, iniciativa pessoal e liderança(Ennis,1999). Para isso a Educação Física

deve estar na pauta de discussões dos educadores e educandos para juntos

formalizar mudanças e conceitos necessários ao seu desenvolvimento e

crescimento no âmbito escolar.

CARACTERÍSTICAS DO ESPORTE

Há vários estudos e abordagens sobre os esportes coletivos, um desses

trabalhos enfatiza que as modalidades esportivas podem ser agrupadas em uma

única categoria pelo fato de todas possuírem seis invariantes: uma bola, um espaço

de jogo, parceiros, adversários, um alvo a atacar e a defender e regras específicas.

Bayer ainda define os princípios operacionais dos esportes coletivos em dois grupos,

sendo três para o ataque, que são: conservação individual e coletiva da bola,

progressão da equipe e da bola em direção ao adversário e finalização da jogada

visando o ponto; e os três princípios operacionais da defesa que são: recuperação

da bola, impedir o avanço da equipe contrária e da bola em direção ao próprio alvo e

proteção da meta. A partir desses princípios, são necessárias ações para a sua

operacionalização como: criar linhas de passe, colocação individual em espaços

onde a bola poderá chegar, desmarcação em relação ao adversário e outras.

(Daollio, 2002)

Em se tratando do esporte coletivo futebol de campo a nível escolar, que

sustenta a ideia do nosso projeto de pesquisa, a necessidade de o professor

considerar o aluno, enquanto sujeito individual, com uma história vivida, e com

necessidades particulares que lhe interessam antes de serem tomadas decisões a

cerca do processo de instrução, e que este indivíduo é imaturo, não se encontra em

condições de entender e captar a instrução e muito menos ser capaz de construir

resoluções próprias frente as dificuldades que se apresentam, dependendo ainda da

intervenção do professor, que deve estar embasado para bem instruir, evitando más

interpretações e informações erradas e desprovidas de conhecimento tático

adequado, sem aprofundamento na compreensão do jogo ou do esporte trabalhado.

“A evolução do conhecimento e do nível de desempenho nos Jogos

Desportivos Coletivos no futebol de campo principalmente, decorre em grande parte,

da prática orientada, pelo que professores e treinadores devem ser chamados a

assumir um papel fundamental na formação e na preparação dos jovens jogadores.”

(Tavares, et al. p.296.2004). Geralmente os professores contam com uma gama

enorme de diferenças individuais, com grupos heterogêneos quanto ao tempo de

prática do esporte, alunos oriundos de várias partes, em defasagem escolar, com

vulnerabilidade social, diferenças biométricas, etc; e todos com vontade de executar

os fundamentos e regras, técnicas e táticas de um esporte com características e

requisitos de organização defensiva e ofensiva, com variações táticas coletivas e

individuais, sistemas de jogo e compreensão táticas que podem não ser bem

entendidas com apenas dois treinamentos semanais somando-se apenas quatro

horas, o que é pouco para um grupo heterogêneo. Face ao exposto, deveríamos

pensar quais os princípios diretores do processo de ensino-aprendizagem-treino do

Futebol de Campo a preconizar, de modo a contemplar as exigências necessárias

ao desenvolvimento do conhecimento tático-técnico e a possibilitar a concretização

dos comportamentos de sucesso almejados. (Tavares et AL,2004).

PROCESSOS DE ENSINO

Os processos de ensino da Educação Física Escolar devem ser inclusivos,

mas com oportunidades de aprendizagem de bom nível, procurando vencer

problemas tradicionais que o esporte apresenta, como não obter aproximação entre

os jogadores para executar jogadas mais elaboradas, não conseguem guardar

posição, não efetuam coberturas, há problemas no passe e na finalização,

comprometendo o jogo coletivo e a possível formação de uma equipe competitiva.

Poucas escolas possuem campos oficiais ou mesmo de futebol sete ou clubes que

absorvam esse projeto escolar. O calendário de jogos se resume as competições

escolares e no:

desporto de alto rendimento, a competição constitui o quadro de referênciapara a organização do treino, ao passo que no treino de jovens ela deveconstituir uma extensão e complemento do treino. Significa que: enquantono desporto de alto nível se treina para competir, no desporto de crianças ejovens deve-se competir para treinar. (Garganta,2006,p.313)

O ensino dos esportes nas escolas não deve ter uma visão de cunho

tecnicista voltada apenas para o desenvolvimento das habilidades ou valorização

dos melhores alunos, mas “devemos pautar o trabalho pedagógico na construção da

materialidade corporal, na organização dos fundamentos teóricos, da cultura

corporal e dos conteúdos estruturantes: jogos, esportes, danças, lutas e ginástica;

que tradicionalmente compõem os currículos escolares da Educação Física”. (SEED,

2006, p.10) Sobre as características e problemas da Metodologia Tradicional, Costa

e Nascimento em seu artigo sobre o Ensino da Técnica e da Tática: Novas

Abordagens Metodológicas (2004) abordam que:

A maioria das abordagens questiona a eficiência técnica e o rendimentoesportivo, evidenciados na abordagem tradicionalista. A crítica deveria seapoiar na perspectiva de proporcionar conhecimentos necessários quantoas metodologias mais adequadas ao ensino do esporte, para que osconteúdos esportivos efetivados possam favorecer o processo ensino-aprendizagem. A necessidade de contrapor a “tradição” a “inovação” requerdos profissionais da Educação Física, um pensamento crítico e reflexivo queexige esforço, dedicação e formação continuada(P.49)

Outro pilar que sustenta os fatores negativos do processo de ensino-

aprendizagem à nível escolar, é a aplicação da metodologia tradicional que é

esportivisada ,com materiais escolares direcionados para esse fim, que atende ao

gosto do aluno, é fundamentada no movimento humano mecanizado e tecnicista,

que sofre influência das políticas desportivas nacionais e regionais e é caracterizada

pela aplicação dos métodos global, parcial e misto; sem a presença de professores

especializados na Educação Infantil e com poucas aulas semanais no Ensino

Fundamental e Médio.

No século XX, a Educação Física Escolar sofreu influências de correntes

filosóficas, políticas, científicas e pedagógicas que enumeramos como: na década

de 50 com a área médica (Higienista) e pelo militarismo, onde eram importantes os

modelos de práticas corporais como o sistema alemão, sueco e francês. Na década

de 60, os processos de ensino e aprendizagem nem sempre acompanharam as

mudanças do pensamento pedagógico, porque a teoria se distanciou da prática real.

Na década de 70, a conquista do tri campeonato mundial de futebol serviu de

propaganda para o regime vigente formar um exercito jovem, sadio e forte. Surge o

modelo piramidal onde a escola serviria de base para o surgimento de novos

talentos. Os mais habilidosos eram valorizados. Na década de 80, a Educação

Física passou a ter um olhar para a faixa etária da pré-escola, valorizando os

Parâmetros Curriculares Nacionais e suas tendências pedagógicas que são:

psicomotora, Construtivista, crítica e desenvolvimentista. Essas quatro abordagens

influenciaram a construção da Lei de Diretrizes e Bases que orienta que a Educação

Física deve se integrar a proposta pedagógica da escola dando autonomia ao

professor e a escola na construção da ação educativa escolar. (Brasília, 1998).

De acordo com a figura 1, o modelo de ensino Teaching Games for

Understanding, pauta-se na criação de oportunidades de jogo, onde os participantes

encontrarão problemas de complexidade progressiva e gradual. Deste modo o

professor deve possibilitar o entendimento de todas as etapas do processo de

ensino-aprendizagem, promovendo situações de jogo inicialmente simplificadas, que

devem ser alteradas conforme o enfrentamento com situações problemas no jogo.

Figura 1.Modelo de ensino dos jogos para a compreensão(TGfU, Bunker e Thorpe,1982,p.6).

A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

De acordo com os pressupostos teóricos do TGfU que defende que a

iniciação esportiva se baseia de forma contextualizada em jogos reduzidos que

ajudam para a compreensão da lógica tática do jogo formal e que estes jogos podem

ter espaço reduzido, menos jogadores, equipamentos adaptados, tempo de jogo

reduzido e com regras adaptadas. Mas no entanto, a estrutura tática destes jogos

deve ser semelhante ao jogo formal. O aluno é levado a compreender a tática antes

da técnica e suas habilidades são construídas a partir do contexto do jogo, na

tomada de decisão e posterior reflexão das ações. Este estudo fundamenta-se

teoricamente em autores que utilizam do sistema de treinamento denominado

Teaching Games for Understanding (TGfU) e para realização desta pesquisa na

prática contou-se com a participação de 35 alunos do 7º,8º e 9º anos do Ensino

Fundamental da Escola Estadual Nossa Senhora das Graças.

De início, fizemos uma pesquisa prévia dos saberes anteriores dos alunos em

relação ao esporte Futebol de Campo, que é o objetivo do nosso estudo. Esta

pesquisa procurou saber de como se joga, aonde surgiu, como chegou ao Brasil,

quais suas regras, campeonatos nacionais e regionais e quem pratica: homens,

mulheres, faixa etária, etc. Também procuramos saber se os pais praticam ou

praticavam este esporte nas comunidades ou em período escolar. Esse

levantamento foi feito através do diálogo entre professor e alunos, onde abriu

espaço para contribuições e trocas de experiências, servindo de estímulo para a

construção dos aprendizados posteriores de forma mais elaborada. Assim foi

possível propor atividades mais adequadas ao nível dos alunos.

Nesta primeira etapa de trabalho, que corresponde ao processo inicial de

implementação do TGfU, foi possível observar que os alunos conhecem bem o jogo

de Futebol de Campo, mas não tem muitos espaços para pratica-lo. Mas no entanto,

poucos tiveram a oportunidade de jogar uma partida oficial pela escola ou por um

clube do bairro, mas conhecem a maioria das regras.

O passo seguinte, fizemos uma filmagem inicial de um jogo entre os alunos

em campo reduzido com 3 X 3, sem muita informação sobre ataque e defesa,

movimentação, troca de passes e posicionamento. Sabe-se que é de fundamental

importância que o processo de iniciação esportiva seja marcado pela variedade de

atividades realizadas durante os treinamentos e para contribuir com esse

aprendizado os alunos também assistiram um filme sobre a história do futebol, a fim

de contextualizar o conteúdo trabalhado. Dessa forma, através de uma dinâmica

específica, pode-se produzir formas de significação efetivas a respeito do Futebol de

Campo.

Posteriormente a iniciação do método deu-se através da prática do jogo 1 X 0

com condução de bola de várias maneiras sendo: com pé direito, esquerdo,

trocando os pés, lento e rápido, contornando cones, etc. Deste jogo também usamos

outras variações em outras aulas como os chutes a gol em sequencia , tentando

acertar alvos e o trabalho de passes entre cones. Logo em seguida aplicou-se o jogo

1 X 1 cujo o objetivo era defender o chute do adversário e logo em seguida arrumar

a bola para chutar. Para isso utilizou-se campo com metragem reduzida e passagem

de informações de forma crescente em relação de como, aonde, com que parte do

pé, com que força chutar e como defender. Ao término da aula os alunos fora

mobilizados a comentar e opinar sobre o jogo.

No início das atividades muitos alunos apresentaram dificuldades de assimilar

alguns jogos, com erros de passe e movimentação, cabeça baixa e preocupação em

conduzir demasiadamente a bola e sem noções de marcação. Através da

intervenção do professor, analisaram outras formas de atuar para melhoria na

eficácia da atividade. A partir dai a maioria dos alunos conseguiram compreender a

estratégia de ação aplicada para este exercício. Segundo Mesquita (2009) o modelo

de ensino do jogo para a compreensão coloca a tônica a compreensão tática do

jogo, quando o praticante é confrontado com problemas que desafiam a sua

capacidade de compreender e atuar.

Em seguida começamos a implantar as estruturas 1 X 1 + 1, 2 X 1, 2 X 1 +1 e

o jogo de passes 3 X 1 no quadrado com deslocamentos e 3 X 3 sempre em campos

reduzidos. Dentro destas estruturas um pouco mais complexas, podemos notar que

o uso do coringa e a maioridade e inferioridade numérica que estas estruturas

exigem, fizeram com que os alunos tivessem noções de deslocamento, saber

trabalhar com posse e sem posse de bola, a necessidade de posicionar-se

para receber e efetuar o passe, aprimorar este passe, noções de marcação e

arremate ao gol. A alta competitividade que existe entre eles e o nível de iniciação ao

esporte, por vezes leva a ocorrência de erros infantis e primários como erro de

passes, não saber trabalhar com o coringa e efetuar a marcação a frente do

adversário, uso de um só pé no contato com a bola, etc. Esses erros inicialmente

são corrigidos com conversa e demonstração, fazendo com que os alunos tenham a

oportunidade de vivenciar e praticar a correção.

Para Paes (2001) ao jogar, a criança aprende a lidar com os companheiros,

com os adversários, com situações de adversidade que requerem inteligência e

criatividade para serem solucionadas, aprende a importância das regras, a

necessidade de conviver com diferentes emoções que o jogo ocasiona. Enfim o jogo

proporciona o desenvolvimento integral do aluno.

Nas estruturas que foram aplicadas em seguida e de forma mais complexas

perante as anteriores, que são os exercícios passa 5 em dois campos, passes

através de círculos, passa 4- 4 X 4 e a defesa do cone, proporcionaram também

cobranças nos deslocamentos com e sem bola, o trabalho de superioridade e

inferioridade numérica, uma exigência mais aprimorada nos passes, uma noção de

marcação em grupo e não mais individual, coberturas, arremates ao gol e manter

posse de bola. Através da adaptação das regras e destes jogos de invasão,

procurou-se fazer com que o aluno vivencie a totalidade dos problemas técnicos e

táticos da atividade a eles expostas e possa tentar resolver pela compreensão das

dificuldades que se apresentam e que são discutidas sempre que precise uma

intervenção do professor ou do próprio aluno.

No jogo 7 X 7 com duplas de marcação onde exige-se desenvolvimento de

noções de marcação, trabalho de marcação individual e correção de

posicionamentos defensivos em relação ao gol. No jogo 8 X 8 de invasão com mais

alunos e com o uso do curinga e limitando o número de passes, tende a aproximar-

se do jogo real com mais disputas de bola, mais contato físico, tendo que resolver

problemas rápidos e em pouco espaço, definir com velocidade o passe e aumentar o

número de finalizações, além de noções de marcação, no 9 X 9 com apoio de

laterais procura-se limitar o número de toques na bola, dar agilidade ao jogo sem

cobranças de escanteios e reposições rápidas de bola, resolver problemas em

espaços curtos e com rapidez, aumentar o número de finalizações, praticar o passe

com pressão, usar o apoio dos laterais com treinamento de cruzamentos para a área

e no trabalho alemão com três times num esquema de revezamento de ataque e

defesa, procura-se corrigir posicionamento dos alunos tanto no ataque quanto na

defesa, efetuar passes em espaços curtos e com velocidade, aumentar o número de

arremates ao gol, treinar escanteios ofensivos e defensivos e efetuar dribles curtos.

Dentro desta gama de exercícios, procurando o preparo dos alunos para uma

construção de conhecimento sobre o futebol de campo a partir do método proposto,

o Teaching Games for Understanding, passou-se para a observação dos resultados

na prática das ações empreendidas, com uma competição interna e do jogo 3 X 3

quando observamos uma visível evolução dos alunos perante a primeira aplicação,

com melhora relevante na postura de jogo, bom entendimento de técnica e tática

em comparação ao antes e depois.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro das limitações do estudo, podemos citar a impossibilidade de

mantermos um grupo paralelo num processo de treinamento tecnicista que serviria

de comparação de resultados para o grupo que trabalhou com o TGfU e a falta de

filmagens desde a aplicação do teste 3 X 3 inicial até a aplicação dos exercícios

mais complexos, que também serviria como parâmetro de comparação no processo

de treinamento.

Portanto, o modelo de ensino proposto permitiu aos alunos exercer papel

ativo, independente, criativo, possibilitou aumento no nível de jogo e postura de

tentar resolver os problemas que se apresentavam durante este jogo, maior

movimentação, entendimento dos esquemas defensivos e ofensivos, alcançando

assim grande satisfação e motivação no processo educativo. Os resultados foram

satisfatórios em função de que qualquer grupo, passando por um processo de

treinamento inclusive o tecnicista, que está superado, teria melhoras. Mas com a

aplicação do TGfU essas melhoras foram ainda mais satisfatórias pelas qualidades

acima citadas e adquiridas pelo grupo.

O resultado foi o esperado. Percebeu-se que os alunos captaram o

aprendizado anteriormente adquiridos para melhorar sua atuação nos mini jogos e

jogo oficial. Inclusive alguns alunos que mostravam-se apáticos e desinteressados

e no trabalho alemão com três times num esquema de revezamento de ataque e

defesa, procura-se corrigir posicionamento dos alunos tanto no ataque quanto na

defesa, efetuar passes em espaços curtos e com velocidade, aumentar o número de

arremates ao gol, treinar escanteios ofensivos e defensivos e efetuar dribles curtos.

Dentro desta gama de exercícios, procurando o preparo dos alunos para uma

construção de conhecimento sobre o futebol de campo a partir do método proposto,

o Teaching Games for Understanding, passou-se para a observação dos resultados

na prática das ações empreendidas, com uma competição interna e do jogo 3 X 3

quando observamos uma visível evolução dos alunos perante a primeira aplicação,

com melhora relevante na postura de jogo, bom entendimento de técnica e tática

em comparação ao antes e depois.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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