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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A LITERATURA COMO INSTRUMENTO MOTIVADOR NOS CONTEÚDOS DEQUÍMICA
Izaura do Carmo Suero1
Luis Guilherme Sachs2
RESUMO
O presente artigo busca através de referências bibliográficas e das ações desenvolvidas no cadernopedagógico, mostrar a necessidade de outras formas metodológicas de conceber o ensino deQuímica, considerando, para tanto os caminhos a serem percorridos pelos professores paraefetivação da prática dessa metodologia. Dentro dos relatos será possível prever a possibilidade parao estudo da Química a partir da Literatura, bem como a sua problematização, principalmente em ummundo onde a violência o desrespeito ao próximo, ao meio ambiente, assim como problemas sociais,culturais e econômicos são cada vez maiores, onde a sociedade e os conflitos sociais de toda ordemsão alarmantes. As atividades desenvolvidas nos remetem à conclusão de que a Literatura comoabordagem de conhecimento químico dificilmente é incorporada nas estratégias de ensino maisrecomendadas, contudo, entendemos que ela se revela absolutamente útil na interpretação demensagens do cotidiano que têm significado científico, social e tecnológico. Ao se trabalhar aliteratura dentro da disciplina de química, pode-se levar o aluno a relacionar o saber de forma maisprazerosa e útil fazendo dos conteúdos químicos trabalhados em sala de aula mais perceptíveis aosmesmos uma vez que se é dada a devida importância, mediatizando e constextualizado de maneirainterdisciplinar o saber a ser construído na escola servirá de todas as maneiras para toda a vida doeducando, facilitando assim a resolução de problemas que possam surgir.
1 INTRODUÇÃO
As aproximações entre as Ciências e Literatura revelam-se muito ricas
quando olhadas dentro de uma concepção pedagógica. A criatividade e a
imaginação se unem interagindo com os diversos conceitos científicos e químicos
ampliando as fronteiras interdisciplinares.
Ao se trabalhar a literatura dentro da disciplina de química, pode-se levar o
aluno a relacionar o saber de forma mais prazerosa e útil fazendo dos conteúdos
químicos trabalhados em sala de aula mais perceptíveis aos mesmos uma vez que
se é dada a devida importância, mediatizando e constextualizado de maneira
interdisciplinar o saber a ser construído na escola servirá de todas as maneiras para
toda a vida do educando, facilitando assim a resolução de problemas que possam
surgir.
1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná. NRE Cornélio Procópio. E-mail: [email protected] Orientador no Programa de Desenvolvimento Educacional.2
Assim, implementação do projeto de intervenção procurou explorar o
conhecimento químico por meio da literatura e demonstrar como subsidiar o
aprendizado de maneira lúdica.
A necessidade de criar uma nova metodologia e motivação na aprendizagem
da química, levando os educandos a desenvolverem novas formas de pensar sobre
a importância da química no mundo entendendo-a cada vez mais, levou-se ao
seguinte questionamento: O uso da literatura na disciplina de química pode servir
como uma ferramenta motivadora que contribui para uma melhora na
aprendizagem?
O artigo apresenta como objetivo verificar se a literatura trabalhada como
motivadora contribui para uma melhora na aprendizagem de conteúdos da disciplina
de química.
2 A DISCIPLINA DE QUIMICA E A LITERATURA
O ensino de química, na grande maioria das escolas de ensino médio, está
sendo passado de forma fragmentada e sem interconexão com os outros ramos das
ciências. Essa metodologia tradicional de ensino na Educação Básica se destaca
pela utilização de regras, fórmulas e nomenclaturas, desmotivando os alunos.
Santos e Schnetzler (1996) apontaram que o estudo da Química exerce um
papel fundamental para o desenvolvimento do caráter crítico dos alunos, o qual pode
ser verificado na capacidade de tomada de decisões. Assim:
A Literatura através da Ciência possibilita problematizar, recriar o contextohistórico, adquirir a interdisciplinaridade, efetivando a cidadania, pois em ummundo onde a violência o desrespeito ao próximo, ao meio ambiente, assimcomo problemas sociais, culturais e econômicos são cada vez maiores,onde a sociedade e os conflitos sociais de toda ordem são alarmantes,assim como a sensação de impotência e falta de possibilidades para abusca de soluções, ou seja, uma sensação geral que a humanidade nãotem saída. No universo infinito da literatura sempre se abrem outroscaminhos a explorar, novíssimos ou bem antigos, estilos e formas quepodem mudar nossa imagem do mundo... Mas se a literatura não basta parame assegurar que não estou apenas perseguindo sonhos, então busco naCiência alimento para as minhas visões das quais todo pesadume tenhasido excluído. (CALVINO, 1990, p.20)
De acordo com Lajolo (2000), a literatura não é apenas transmissora de
conhecimentos, ela institui em cada ser aquilo que as percepções o levam a
interpretar. Por meio da leitura podemos vivenciar aquilo que lemos e criar dentro de
nós a imagem sugerida pelo texto. Tanto pode ser veraz como pode ser ficção. Os
personagens tanto podem ter vivido como podem ser criados pelo autor, na literatura
tudo é admissível, entretanto, mesmo na ficção existe um embasamento real, onde o
autor se apoiou para criar a ficção.
Escolhe-se a literatura por várias razões dentre elas, pelo fato de que nossa
cultura ocidental é marcada pela difusão da palavra escrita e dos dispositivos que
permitem sua fixação e circulação. Neste processo histórico, a literatura, enquanto
uma forma de expressão se constitui em um elemento que se faz presente em
nossas vidas e, de certo modo, transforma a nossa forma de ler e representar o
mundo. Pode-se também dizer que as letras, de uma forma mais geral, se
constituem em elemento de formação, chegando ao extremo, em alguns casos, de
ocuparem um lugar central, ou exclusivo, em alguns casos. (NETO, 2008)
Moreira (2008) salienta que a ciência não acontece numa torre de marfim,
mas sim no seio da sociedade. Numa aula é possível refletir, através de exemplos
tirados da literatura, sobre a visão que a sociedade tem do físico e da investigação e
que valor lhes atribui. Esta sensibilização é indispensável ao nosso próprio
conhecimento como físicos e ao nosso confronto crítico com a disciplina a que nos
dedicamos.
Ainda de acordo com o autor a ciência e poesia pertencem à mesma busca
imaginativa humana, embora ligadas a domínios diferentes de conhecimento e valor.
A visão poética cresce da intuição criativa, da experiência humana singular e do
conhecimento do poeta. A Ciência gira em torno do fazer concreto, da construção de
imagens comuns, da experiência compartilhada e da edificação do conhecimento
coletivo sobre o mundo circundante. Tem como vínculo restritivo, ao contrário da
poesia, o representar adequadamente o comportamento material; tem, mais
profundamente que a leitura poética do mundo, a capacidade de permitir a previsão
e a transformação direta do entorno material.
Moreira (2008) explica que as aproximações entre Ciência e poesia revelam-
se, no entanto, muito ricas, se olhadas dentro de um mesmo sentimento do mundo.
A criatividade e a imaginação são o húmus comum de que se nutrem. Na origem
desses dois movimentos, as incertezas de uma realidade complexa que demanda
várias faces que podem transformar-se em versos.
A Literatura através da Ciência possibilita problematizar, recriar o contexto
histórico, adquirir a interdisciplinaridade, efetivando a cidadania, pois em um mundo
onde a violência o desrespeito ao próximo, ao meio ambiente, assim como
problemas sociais, culturais e econômicos são cada vez maiores, onde a sociedade
e os conflitos sociais de toda ordem são alarmantes, assim como a sensação de
impotência e falta de possibilidades para a busca de soluções, ou seja, uma
sensação geral que a humanidade não tem saída. (LAJOLO, 2000)
Para Lajolo (2000) na literatura universal é possível encontrar obras que
focalizam os mais variados temas existenciais, políticos, românticos e históricos,
entre outros, que fornecem além de entretenimento conhecimento relacionados às
diferentes áreas do conhecimento, dependendo da formação e sensibilidade cultural
de cada escritor. Assim, um bom escritor apresenta-se como uma espécie de antena
que capta os mais diferentes sinais emitidos à sua época.
Zanetic (2006) discute com bastante profundidade as possíveis relações
entre literatura e ciência sinalizando duas vertentes diferentes sobre a temática: o
escritor cientista com veia literária e cita, por exemplo: Kepler, Galileu Galilei, Isaac
Newton, Charles Darwin, Ernst Mach, Albert Einstein.
O ensino de Química ainda não conta com muitos pesquisadores, que
utilizam a literatura para aplicabilidade, mas pode-se citar: Prof. Pedro da Cunha
Pinto Neto (FE/UNICAMP) – tese de doutorado nessa área, orientações de mestrado
(p. ex. sobre Monteiro Lobato) e artigos publicados; Prof. Paulo Porto (IQ/USP) –
Atua na área de História da Química, mas tem dois artigos publicados nessa linha:
um sobre o poema Psicologia de um Vencido (Augusto dos Anjos) e outro sobre o
livro Tabela Periódica de Primo Levi; O Prof. António Cachapuz (depto. de
Didática/Universidade de Aveiro) que recentemente publicou alguns artigos sobre
arte e ciência. Sobre o poema Psicologia de um vencido, Porto (2000) faz as
seguintes considerações:
A interdisciplinaridade no ensino tem sido recomendada nas mais recentesreformas educacionais – e parece ser um dos ideais mais difíceis de seremcolocados em prática. Este artigo pretende ser uma pequena contribuiçãopara a integração entre diferentes disciplinas. O ponto de partida é a obrade um importante poeta brasileiro. (Porto, 2000, p. 30). [...] Assim, a filosofia e a ciência evolucionista deram a forma intelectual e ossignos lingüísticos que Augusto dos Anjos precisava para expressar seussentimentos. O poeta acumulou conhecimentos num nível cognitivoconsciente – o da ciência – e foi capaz de transmutá-los para um planodiferente, o da expressão lírica, do efeito estético, da emoção. (PORTO,2000, p. 32)
Pode-se, então, imaginar diferentes níveis de leituras para os poemas de
Augusto dos Anjos, e para a Psicologia de um Vencido em particular.
Eu, filho do carbono e do amoníaco,Monstro de escuridão e rutilância,Sofro, desde a epigênese da infância,A influência má dos signos do zodíaco.Profundissimamente hipocondríaco,Este ambiente me causa repugnância...Sobe-me a boca uma ânsia análoga à ânsiaQue se escapa da boca de um cardíaco.Já o verme – este operário das ruínas – Que o sangue podre das carnificinasCome, e à vida em geral declara guerra,Anda a espreitar meus olhos para roê-los,E há de deixar-me apenas os cabelos,Na frialdade inorgânica da terra!
Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) Paraíba, 1909
De acordo com Neto (2008) um leitor pouco versado em ciências poderá não
entender muito bem porque o poeta se declara filho do carbono e do amoníaco; nem
por isso deixará de se impressionar com a sonoridade da palavra amoníaco, e com
suas rimas com zodíaco, etc. Este leitor não dever ter dificuldade em apreender o
tom pessimista do soneto, e a visão materialista em que a morte se resume a ter o
corpo roído pelos vermes – conforme os dois tercetos deixam bastante claro. Por
outro lado, um leitor que conheça um pouco de química e de biologia fará ainda
outras leituras.
A ciência não acontece numa torre de marfim, mas sim no seio da
sociedade. Numa aula é possível refletir, através de exemplos tirados da literatura,
sobre a visão que a sociedade tem do físico e da investigação e que valor lhes
atribui. Esta sensibilização é indispensável ao nosso próprio conhecimento como
físicos e ao nosso confronto crítico com a disciplina a que nos dedicamos. (MECKE,
sd)
De acordo com Moreira (2008) Ciência e poesia pertencem à mesma busca
imaginativa humana, embora ligadas a domínios diferentes de conhecimento e valor.
A visão poética cresce da intuição criativa, da experiência humana singular e do
conhecimento do poeta. A Ciência gira em torno do fazer concreto, da construção de
imagens comuns, da experiência compartilhada e da edificação do conhecimento
coletivo sobre o mundo circundante. Tem como vínculo restritivo, ao contrário da
poesia, o representar adequadamente o comportamento material; tem, mais
profundamente que a leitura poética do mundo, a capacidade de permitir a previsão
e a transformação direta do entorno material.
As aproximações entre Ciência e poesia revelam-se, no entanto, muito ricas,
se olhadas dentro de um mesmo sentimento do mundo. A criatividade e a
imaginação são o húmus comum de que se nutrem. Na origem desses dois
movimentos, as incertezas de uma realidade complexa que demanda várias faces
que podem transformar-se em versos. (MORERIA, 2008)
Como afirma Galvão (2006, p. 46): “Associada está toda uma mensagem
social que Antônio Gedeão quer fazer passar (“ nem “sinais de negro, nem vestígios
de ódio...”) num grito contra o racismo.”
De acordo com Galvão, 2008) arriscam-se nessa vereda, ainda pouco
conhecida, e trabalhando com diversos alunos do ensino médio, em escolas
públicas e particulares de São Paulo, propondo como uma das formas de avaliação
a produção cultural (expressão artística livre).
Ciência e literatura, apesar das suas linguagens específicas e de métodos
próprios, ganham quando postas em interação e ganha a humanidade quando se
apercebe das diferentes leituras que as duas abordagens lhe permitem fazer.
[...] Esta interacção, este diálogo de saberes aproxima de uma formabiunívoca as linguagens científica e literária, mas permite sobretudo trazer aciência aos cidadãos de outra maneira, sem a imposição da ciência em simesma, diluindo-a no romance, embora sem a desvirtuar. Sem se fazer aapologia da descaracterização da abordagem científica, indispensável aoaprofundamento e a compreensão da ciência na atualidade, estaaproximação permite o confronto de dois campos tradicionalmenteantagônicos, pelo menos em abordagens curriculares, valorizando um eoutro. (GALVÃO, 2006, p. 41)
Arte e ciência espelham o potencial criador do Homem como fazedor de
símbolos, quer seja uma obra prima de Chaga ou uma fórmula da mecânica
quântica. Ambas representam a luta do Homem contra a perda da sua finitude e em
ambos os casos ajudam a corrigir a estreiteza do senso comum. O que é diferente
são os modos como o fazem e os produtos a que chegam. (GALVÃO, 2006)
Não se tem a pretensão de achar que relacionar química e literatura irão
resolver os problemas relacionados ao ensino da química.
Assim como, não se pode pensar que seja possível estabelecer essa relação
com todos os conteúdos de química, mas pode se afirmar que a relação entre essas
diferentes áreas pode ser uma fonte de inspiração para pensar-se a ciência e o
ensino de forma diferente e mais livre, ou seja, pode ser um farol que aponta para
outros caminhos, para outras relações possíveis, normalmente não sinalizadas nas
discussões do ensino habitual que estrutura o pensamento científico nos bancos
escolares. Assim, é preciso abrir caminhos para o aluno mudar o foco de
observação e como afirma Calvino (1990, p.19) é
[...] preciso considerar o mundo sob uma outra ótica, outra lógica, outrosmeios de conhecimento e controle”. [...] No momento em que a Ciência desconfia das explicações gerais e dassoluções que não sejam setoriais e especialistas, o grande desafio para aliteratura é o de saber tecer em conjunto os diversos saberes e os diversoscódigos numa visão pluralística e multifacetada do mundo. (CALVINO,1990, p.127)
Considerando os aspectos acima, somente serão relevantes para a escola
pública, quando as mesmas ofertarem, mais aulas de ciências com menos alunos
em sala em sala de aula, laboratórios, biblioteca e os profissionais da escola
obtiverem uma formação de qualidade dentro de uma gestão democrática onde o
projeto político pedagógico seja construído coletivamente e receberem um salário
mais justo.
3 ESTRATÉGIAS DE AÇÃO:
Foi abordado a influencia da literatura nas diversas disciplinas,
demonstrando para os educandos que a interdisciplinariedade faz parte das
reformas que estão ocorrendo no campo educacional. Após a interação com os
alunos foram apresentados poemas, sonetos, prosas e vídeos para que os alunos as
relacionassem com os diversos conteúdos químicos.
Os alunos receberam no decorrer do projeto recortes de textos literários,
onde utilizaram a obra literária como referencia para o desenvolvimento dos
conteúdos ou conceitos químicos presentes no texto.
4 APLICAÇÃO E ANALISE DOS RESULTADOS
O caderno pedagógico foi dividido por ações onde se trabalhou,
individualmente na sala de aula, elencamos a seguir as ações e suas respectivas
atividades desenvolvidas
A ação um apresentava o objetivo de trabalhar uma nova metodologia de
ensino de Química no Colégio Estadual “Maria José Pegoraro de Souza” em
Leópolis e como contrapartida leva-los a entender que a leitura é peça fundamental
para expressão oral e escrita em todas as áreas do saber.
No primeiro momento quando foi comunicado o nome do projeto “A literatura
no ensino de química” e dada a explicação como seria desenvolvido o mesmo,
alguns alunos ficaram espantados com a nova forma de aprendizagem, outros
diziam que seria mais difícil aprender conteúdos químicos em forma de expressão
poética, outros ainda diziam não gostar da nova metodologia que seria melhor
aprender química de forma tradicional e outra parcela de alunos disseram gostar da
ideia e que seria maravilhoso mudar a maneira de ensinar química que muitas vezes
é rotulada como uma difícil e perigosa disciplina.
A partir desse diálogo estabeleci um plano de desenvolvimento do projeto,
tracei metas, de forma generalizada procurei entender as necessidades e
dificuldades de cada um e os desafiei para que participassem do mesmo e que ao
final dessa implementação eles mesmo pudessem estar avaliando essa nova
ferramenta de trabalho.
Dando continuidade a minha implementação, exibi um vídeo e a leitura de
algumas poesias, com a intenção de mostrar aos alunos que o projeto visa fornecer
conhecimentos relevantes através da literatura, proporcionando uma formação mais
ampla, ajudando-os a consolidar conceitos químicos e a desenvolver o raciocínio
lógico.
No segundo momento senti que os alunos estavam mais confiantes com a
nova metodologia, pois estavam ansiosos para iniciar a aula e curiosos para realizar
as atividades. Alguns alunos chegaram a comentar que depois da aula anterior
tiveram curiosidade em ler alguns textos literários tentando descobrir algo
relacionado a disciplina, que para mim foi muito motivador.
Ao desenvolver as atividades propostas baseada em textos poéticos, os
alunos tiveram a possibilidade de socialização, de trabalhar em grupo e até mesmo
os mais tímidos de arriscar uma pequena leitura. Sem sombra de dúvida foi um
grande passo, pois estava havendo troca de conhecimentos e de oportunidade para
cada aluno
De forma geral os alunos passaram a demonstrar em relação a aula anterior,
um maior interesse nas poesias apresentadas, participando ativamente das
atividades que foi caracterizada sobretudo pela presença da ciência, motivando-os a
reflexão, as implicações sociais da Química e das tecnologias em suas vidas,
desenvolvendo habilidades, valores e atitudes para uma ação social e ainda,
desenvolvendo seu senso de cidadania paralelamente do conhecimento químico
enriquecendo as atividades e justificando a implementação.
Dando continuidade nessa implementação no terceiro momento, observei
que o entusiasmo crescia a cada nova aula e trabalhar essa ação foi simplesmente
enriquecedor. Contribuir para o hábito da leitura e despertar nos alunos o desejo
para aprofundar seus conhecimentos através de uma nova metodologia, fazia
aumentar ainda mais a participação de cada aluno.
Para realizar essa ação distribui textos literários para cada aluno,
estimulando-os à leitura e levando-os a compreender os fenômenos abordados, bem
como discuti-los. A leitura foi feita em voz alta, com os alunos voluntários
intercalados, ajudando-os a desenvolver a expressão oral e sua atenção. Após a
leitura de cada parágrafo, foi exposto o que foi entendido, o que poderia ser
trabalhado como um conceito de química e as dúvidas que houveram, foram
sanadas. O intuito dessa atividade, foi fazer com que todos os alunos participassem,
por esse motivo todos foram incentivados e estimulados a participar respeitando a
individualidade de cada um.
A cada ação trabalhada, constatei a importância do projeto. A leitura de
textos poéticos não só se tornou significativa na disciplina de Química, como
também contribuiu para aprofundar conhecimentos em outras áreas de estudos,
como também foi peça fundamental para despertar em meus alunos o hábito
saudável da leitura.
Na ação quatro foi possível observar quão importante é o professor ele é
parte fundamental no processo educacional, nessa etapa de construção de
conhecimentos, eu estive mais próxima dos alunos pois eles apresentaram um
pouco de dificuldade, pois os textos agora trabalhados exigiam um pouco mais de
atenção. O desenvolvimento dessa ação valorizava o caráter interdisciplinar e
contextualizado, estabelecendo conexões e inter-relações entre os conteúdos
relevantes da Química, utilizando como ferramenta a literatura.
No decorrer da atividade, o que parecia complicado foi dando espaço ao
entendimento e a qualidade dessa ação pôde então ser gratificante, pois, a medida
em que a leitura poética era feita, passava a se tornar visível nos olhos dos alunos, a
relação que eles mesmos percebiam entre a poesia e alguns conceitos químicos,
ficando estimulados à aprendizagem e a descoberta de novos desafios relacionados
a literatura, a química e até mesmo a outras disciplinas.
Depoimentos de alunos me deixaram confiante em relação a minha nova
proposta de trabalho, pois diziam que nunca imaginaram que a química poderia ser
aprendida dessa forma, pois tinham a ideia que eles só apropriavam de
conhecimentos químicos através de aulas tradicionais e não de forma prazerosa,
incorporando de forma agradável saberes químicos e ainda despertando o interesse
pela leitura.
É importante ressaltar que nessa atividade da ação cinco que os alunos já
construíram um pouco mais de conhecimentos relacionados a literatura na química e
já se mostram mais confiantes para fazer seus julgamentos.
A implementação desse projeto através da literatura, proporcionou aos
alunos uma nova postura de leitura e aprendizagem, e muitos conseguiram quebrar
a barreira da timidez. Alguns declararam que adoraram essa forma de estudar
Química, pois além de se apropriarem de conceitos químicos, eles também foram
encorajados a participar de outras atividades, não só na disciplina de Química como
nas demais, facilitando assim sua aprendizagem.
A abertura que essa ação propôs através da literatura, de fazer julgamentos
de valores, reconhecendo a ciência em expressão poética, proporcionou aos alunos
um melhor entendimento do mundo a sua volta, tendo oportunidade assim, de
exercer de forma mais consciente o papel de cidadão na sociedade, reconhecendo
que está preparado para o mercado de trabalho e também para dar
prosseguimentos aos seus estudos.
Após trabalhar o vídeo e depois a poesia, a ação seis permitiu que os alunos
refletissem sobre a mensagem poética e que percebessem como e onde
poderíamos trabalhar o conteúdo, fazendo dessa forma uma investigação científica.
Muito motivador trabalhar esse projeto, e perceber que a cada ação
trabalhada o entusiasmo e a aprendizagem dos alunos estão em sintonia. Os alunos
despertaram pelo hábito da leitura, pois, não só faziam a leitura de textos poéticos,
como também procuravam outras fontes de leitura e tentavam reconhecer nessa
leitura conceitos não só de química mas também à outras disciplinas.
Trabalhar essa ação fez com que os alunos desenvolvessem seu seno de
cidadania juntamente a aquisição de conhecimento químicos e por que não dizer de
outras disciplinas também, enriquecendo as aulas e justificando o aprendizado.
Houve uma grande evolução e participação nas aulas de Química. Nessa
atividade proposta, trabalharam em grupo onde os alunos tiveram o momento de
discutir suas ideias e até confrontar situações contraditórias com seus colegas,
porém, com minha orientação foram desenvolvendo e aperfeiçoando seu senso
crítico e o respeito pelas ideias do outro.
Trabalhar a Química através dessa nova metodologia, explorando através da
poesia conceitos químicos e interpretando o avanço da ciência no mundo, a ação
sete foi para desenvolver nos alunos um método diferente de aprendizagem
passando pelo caminho da leitura, levando-os a compreender o conceito e não
simplesmente memorizar.
O progresso desse trabalho permitiu propor na poesia desenvolvida nessa
ação, que o aluno reconhecesse funções orgânicas e inorgânicas, suas
representações e números de átomos que participavam na formação dessas
mesmas funções, permitindo ao aluno utilizar a poesia e entende-la no contexto
químico. A leitura portanto, possibilitou ao aluno que ele fosse capaz de ir além da
poesia, pois o domínio, a confiança e o incentivo que foi sendo construído desde o
início da implementação com os alunos fez com que eles fossem capaz de
classificar e ainda mais, desenvolver ideias mais amplas sobre a Química presente
naquela poesia.
De forma geral, uma pequena minoria apresentou um grau de dificuldade,
sendo que a maioria conseguiram realizar a atividade individual, não tendo a
necessidade de um atendimento pessoal, o que gerou uma discussão, onde os
próprios alunos diziam ter uma maior facilidade de se apropriarem daquele conceito
químico através da leitura poética de maneira prazerosa e significativa.
É importante ressaltar que a leitura tem uma função critica e social muito
importante, e que na realização dessa ação, os alunos mostraram ter desenvolvido
uma postura crítica ao analisar a poesia buscando diferentes alternativas
relacionadas as funções químicas, sendo capazes de compreender o uso de muitas
dessas funções em nosso cotidiano através de medicamentos, alimentos,
cosméticos e tantos outros relacionados as funções ali abordados.
Essa ação despertou na maioria dos alunos a curiosidade em pesquisar,
exercitar o hábito da leitura e compreender a composição química dos produtos
buscando dessa forma informações e a partir da leitura construindo ainda mais seu
aprendizado.
Considerando o conhecimento adquirido do aluno, a atividade da ação oito
propõe a identificação de conceitos químicos relacionados a tabela periódica.
Ao propor essa tarefa aos alunos, houve uma certa dificuldade por parte
deles a entender o que estava sendo proposto, pois o conteúdo “tabela periódica”
apresentava alguns itens que ainda não haviam sido esclarecidos e por esse motivo
causaram uma certa insegurança.
Uma ferramenta versátil como é a literatura poética, sugeriu então
estabelecer relações químicas despertando o interesse e a curiosidade em explorar
ideias, palavras presentes na poesia fazendo conexões e até mesmo levando-os a
explicação da existência de uma relação entre a poesia e a tabela periódica,
acabando assim com a insegurança demonstrada no início da atividade. Muitos
alunos utilizaram a tabela periódica observando que ela continha informações que
até então eles desconheciam e verificaram que a aprendizagem adquirida através
dessa nova metodologia não foi de memorização, pois eles compreendiam o
significado dos símbolos, famílias, períodos subníveis, camadas, fórmulas, gráficos
e tantas outras informações ali representados.
Durante toda a realização dessa atividade estive presente sanando dúvidas
e orientando-os da melhor maneira, incentivando-os sempre no sucesso de sua
aprendizagem e desta forma foi possível constatar que os alunos adquiriram o
conhecimento sobre o conteúdo químico proposto, participando ativamente do
desenvolvimento da atividade e que o conhecimento adquirido passou a influenciar
de forma positiva não só nas aula de química,mas também em suas atitudes em seu
dia a dia.
Cada ação trabalhada nesse projeto, dentre os objetivos a serem atingidos,
um deles sem dúvida foi criar nos alunos o hábito pela leitura, acreditando que
através dela os alunos pudessem ter uma mudança comportamental incorporando
atitudes e valores.
Na atividade poética proposta, na ação nove o incentivo à leitura foi
fundamental, pois devido ao avanço que vem ocorrendo em todos os campos da
ciência, a cada dia têm mudado o cotidiano de todos nós. Por isso é de suma
importância que os alunos estejam preparados para que possam pensar, agir e
interagir com o mundo, como cidadãos atuantes que são.
Os alunos exploraram a poesia estimulados pela leitura e interpretação,
compreendendo os fenômenos químicos ali abordados, destacando conceitos que
os levaram a reflexão contribuindo para a sua formação de leitores críticos e
reflexivos.
O encadeamento da literatura com a química proporcionou aos alunos uma
maior segurança na leitura, rompendo a barreira da timidez, fazendo com que eles
acreditassem mais neles mesmo, sendo capaz de aplicar em seu dia a dia com
responsabilidade na construção de seu conhecimento.
Tornando a leitura significativa e motivadora, fui lendo juntamente com os
alunos e contextualizando a situação, explorando sua finalidade e os recursos que
ajudariam a compreender os principais conceitos químicos ou ideias relacionadas a
disciplina veiculadas no texto.
Visto que as aulas de Química geralmente, são vistas pelos alunos como
difícies, essa ação comprovou que eles estavam enganados. Muitos afirmavam que
as aulas estavam mais agradáveis, pois proporcionaram a eles uma atividade
positiva e através das poesias trabalhadas eles foram estimulados a leitura, as
observações, a criar hipóteses ,buscar soluções construindo seu conhecimento e
percebendo que a disciplina não é tão complicada como faziam ideia.
Mesmo que não tenha sido um trabalho integrado com outras disciplinas, o
tema desenvolvido nesse projeto abordou múltiplos aspectos e não apenas uma
visão restrita de conceitos químicos, pois como disse Paulo Freire “ Ensinar não é
transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou
a sua construção...”.
Ao retornar na atividade diagnóstica, na ação dez a preocupação era em
relação a apropriação de conhecimento dando de forma consciente ao aluno,
sentido de uma aprendizagem significativa. A concretização desse trabalho tendo a
literatura como ferramenta de medição do conhecimento, foi evidenciada com maior
clareza e precisão nos resultados das atividades realizadas pelos alunos.
Foi dando oportunidade para que todos os alunos pudessem falar da nova
forma de aprendizagem, que a prática escolar foi desenvolvida. Os próprios alunos
fizeram comparação como eram as aulas de química antes do projeto e concluíram
que a busca pela criatividade, diferentes estratégias, maneiras inovadoras de
explorar conteúdos e incentivo, fizeram a diferença ao explorar cada conteúdo
trabalhado em cada ação desse projeto, ampliando a compreensão e o
conhecimento. Nesse sentido os alunos foram capazes de atitudes relevantes
relacionadas à leitura, pois muitos não se sentiam à vontade quando se deparavam
a tal situação e conseguiram romper seus limites. Com esse propósito eles
mostraram ter despertado o gosto pela leitura não só pelo conhecimento químico,
mas também em relação a outros tipos de conhecimento.
O fundamental segundo os alunos, é que durante todo o desenvolvimento do
projeto, houve um crescimento não só em conceitos químicos, nem só na leitura ou
socialização, mas desenvolveu em cada um, a necessidade de buscar mais, de
ampliar suas ideias e seus conhecimentos o que lhes permitem desenvolver o
raciocínio lógico no exercício da cidadania.
Nesse sentido a elaboração desse projeto “literatura na química”, trabalhou
com diversos textos poéticos onde contextualizou e incorporou conceitos químicos
através de uma abordagem temática que contribuísse para uma melhor
aprendizagem e atendesse seus conhecimentos prévios e suas experiências
culturais, desenvolvendo valores e atitudes de um cidadão responsável.
“Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça
nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação de um mundo em que
seja menos difícil amar”. Paulo Freire
Se nada ficar destas páginas, algo, pelo menos, esperamos que permaneça: nossa confiança no povo. Nossa fé nos homens e na criação deum mundo em que seja menos difícil amar. Paulo Freire
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo buscou elucidar a importância de trabalhar sob a
perspectiva da interdisciplinaridade, focando para tanto o ensino de Química através
da Literatura. O avanço das discussões, das expectativas e dos interesses através
dessa abordagem, possibilita entender que é possível fazer outro caminho que não
seja apenas as aulas expositivas, e para tanto trás a tona a probabilidade de
aumento da sensibilidade e da criatividade em que se fazem as relações entre o
contexto literário e sua reflexão nas aulas de Química.
Consequentemente, a educação científica passa a se situar como parte da
realidade dos alunos, e não são mais as paginas que serão estudadas no livro
didático, pois acredita-se piamente que é fundamental para a educação
problematizar o mundo do trabalho, das obras, dos produtos, das ideias, das
convicções, das aspirações, dos mitos, da arte, da ciência, ou seja, do mundo como
um todo pela sua cultura e por sua história.
De outra forma, não pode-se apenas considerar a Literatura para o ensino de
Química, e que esta não deve ser utilizada apenas como um instrumento de
memorização, pois assim perderá seu potencial articulador que pode combinar
emoção, motivação e a aprendizagem dos variados conhecimentos que aproximam
os saberes do cotidiano, os saberes escolares e o conhecimento científico.
As atividades desenvolvidas nos remetem à conclusão de que a Literatura
como abordagem de conhecimento químico dificilmente é incorporada nas
estratégias de ensino mais recomendadas, contudo, entendemos que ela se revela
absolutamente útil na interpretação de mensagens do cotidiano que têm significado
científico, social e tecnológico.
Dessa forma, espera-se que o aluno, ao vivenciar uma experiência como essa
nas aulas, possa incorporar a ciência como uma parte integrante de sua cultura
geral e, no caso particular da Química, perceber que ela pode transcender a simples
memorização de fórmulas.
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