OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · analisar a função da atividade de pesquisa na...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
PESQUISA NAS AULAS DE GEOGRAFIA: COMO FAZER?
DONATTI, Fabiane Aparecida1
MOURA, Jeani Delgado Paschoal2
RESUMO
Este artigo intitulado “A Pesquisa nas aulas de Geografia” tem como propósito analisar a função da atividade de pesquisa na Educação Básica, voltada para alunos do segundo ano do Ensino Médio. Tem como eixo principal a concepção de aprendizagem significativa, em que o aluno é o autor do seu processo de construção do conhecimento e o professor, o mediador. Aprender a pesquisar é importante para todas as áreas do conhecimento, para encontrar soluções próprias na vida escolar e na sociedade, para a permanência numa universidade e na vida profissional cidadã. Os encaminhamentos metodológicos visaram oferecer, ao aluno, assistência na realização da atividade de pesquisa, favorecendo o desenvolvimento de aptidões e habilidades como, por exemplo, estar apto a argumentar, aceitar e questionar diferentes pontos de vista, contestar informações de diversas fontes, aprender a pesquisar saber pensar criticamente, utilizar com autonomia os recursos tecnológicos e entender como o conhecimento científico está organizado. Como parte da metodologia foram apresentados, aos alunos, os diferentes tipos e métodos de pesquisa, levando-os a conhecerem fontes variadas disponíveis dentro e fora do ambiente escolar, oportunizando aprendizagem através da pesquisa escolar mediada passo a passo. Como resultado, os alunos aprenderam a reconhecerem os itens estruturais da atividade de pesquisa, a analisarem os dados coletados através de leitura e releitura e, ao final do processo, a produzirem uma síntese, com o objetivo de acrescentarem novas informações descobertas durante a pesquisa. É fundamental ressaltar que a curiosidade pode contribuir para despertar o gosto pela investigação, tornando os trabalhos de pesquisa uma atividade prazerosa. Palavras-chaves: Ciência. Pesquisa. Mediação. Aprendizagem Significativa.
INTRODUÇÃO
Foram rápidas e sucessivas as transformações ocorridas no mundo atual.
Esta evolução que vivenciamos hoje, principalmente na área da comunicação em
que tudo pode ser colocado em linguagem digital e transmitido em tempo real e em
1 Professora do Colégio Estadual Cristóvão Colombo Ensino Médio, Normal e profissionalizante.
aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE, 2013. E-mail: [email protected] 2 Professora do Curso de Geografia, Departamento de Geociências, Universidade Estadual de
Londrina/UEL. E-mail: [email protected]
grandes quantidades, contribui para a disseminação das informações. Os jovens de
hoje têm todas estas informações na „ponta dos dedos‟ e o grande desafio é como
acompanhar tal evolução e ainda tornar a escola atrativa aos olhos desta “geração
digital”.
As diferentes linguagens podem contribuir como meios para o processo de
construção do conhecimento em sala de aula, favorecendo e despertando o
interesse pelo aprender. Observa-se que o comportamento dos alunos se alterou
diante desta diversidade de informações, e à escola e aos professores coube à
tarefa de ir além da transmissão de conteúdos, das “lições” e do livro didático,
gerenciando o aprendizado dos mesmos e facilitando o acesso às informações para
que estes construam o seu próprio conhecimento.
A pesquisa é parte fundamental da construção do conhecimento científico.
Portanto, aprender a pesquisar é importante para todas as áreas do conhecimento,
para encontrar soluções próprias na vida escolar e na sociedade, para a
permanência numa universidade e na vida profissional cidadã. A Geografia pode ser
essencial para esta realização por se tratar de uma disciplina abrangente, que
interpreta a relação das pessoas com o lugar, costumes, identidade cultural,
relações de produção entre outras expressões, favorecendo o desenvolvimento da
autonomia intelectual a partir da relação existente entre os conteúdos, a sociedade e
o cotidiano.
Este artigo objetiva analisar a utilização da pesquisa como recurso para o
Ensino Médio, em que a curiosidade procurou contribuir para despertar o gosto pela
investigação, tornando os trabalhos de pesquisa uma atividade agradável, levando o
aluno a refletir sobre as suas descobertas, através de sua criticidade e criatividade.
O trabalho com o material didático em sala de aula teve como propósito criar
atividades para o aluno aprender a realizar um projeto de pesquisa em nível escolar,
na modalidade do Ensino Médio. Tendo como eixo principal a concepção de
aprendizagem significativa, em que o aluno é o autor do seu processo de construção
do conhecimento e o professor, o mediador.
As maiores dificuldades encontradas na sala de aula, atualmente, estão
ligadas à leitura, compreensão e interpretação do que foi lido. Uma das causas é
decorrente do ensino por meio da “transmissão” de conhecimentos, o que não leva o
aluno a opinar, questionar, daí não ocorrem erros, e sem estes, não há
problematizarão, pois é „errando que se aprende‟. A fixação pelo mundo digital, a
carência familiar, o desinteresse e a falta de incentivo e curiosidade pela leitura
deixam o aluno desprovido de recursos e motivação para desenvolver o hábito e
gosto pela leitura, contribuindo para que se torne descomprometido com o aprender.
As atividades foram desenvolvidas com conteúdos de Geografia e os temas
escolhidos para o desenvolvimento do projeto de pesquisa foram sugeridos pelos
próprios alunos, movidos pela curiosidade e interesse por questões da atualidade.
O projeto foi aplicado no Colégio Estadual Cristóvão Colombo numa turma
de 2º ano do Ensino Médio, alunos que estão se preparando para o mercado de
trabalho e para fazer um curso superior. Para iniciar as atividades, foi realizada a
apresentação do projeto de intervenção pedagógica à turma selecionada, bem como
seus objetivos, conscientizando os alunos da importância de sua participação, e da
necessidade de construção de um diário de pesquisa, no qual foram realizadas
algumas das atividades propostas no material didático.
A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Aprendizagem significativa é o conceito central da teoria da aprendizagem
formulada pelo psicólogo norte-americano David Paul Ausubel, cujas formulações
iniciais datam dos anos 1960. É um processo por meio do qual uma nova informação
relaciona-se, de maneira relevante e não autoritária, a um aspecto fundamental da
estrutura de conhecimento do indivíduo, o qual Ausubel chama de conceito
“subsunçor”. Nesse sentido, pode-se dizer que, os novos conhecimentos que se
obtém interagem com o conhecimento preliminar do aluno. Quando o conteúdo
escolar a ser estudado não consegue relacionar-se a algo familiar, ocorre o que
Ausubel chama de aprendizagem mecânica, isto é, quando as novas informações
são assimiladas sem agir com conceitos importantes localizados na estrutura
cognitiva. Assim, a pessoa decora macetes, atalhos, mas esquece após a avaliação.
[...] do aluno exige-se somente internalizar ou incorporar o material (uma lista de sílabas sem sentido ou adjetivos emparelhados; um poema ou um teorema geométrico) que é apresentado de forma a tornar-se acessível ou reproduzível em alguma ocasião futura [...] (AUSUBEL; NOVAK; HANESIAN, 1980, p.20)
Vale lembrar que a aprendizagem significativa acontece a partir de duas
condições: primeiro, o aluno tem que estar disposto a aprender, “se ele apenas
quiser memorizar os conteúdos, a aprendizagem será mecânica”; segundo, o
assunto a ser estudado tem que ser lógico e psicologicamente significativo, ou seja,
“lógico porque depende apenas da natureza do conteúdo e psicológico porque
valoriza a experiência que cada indivíduo tem” (PELLIZARI, 2001, p. 38), cabendo a
cada um fazer a filtragem dos temas e assuntos que têm significado ou não para si
próprio.
A escola, via de regra, reproduz e transmite conteúdos, o que gera nos
alunos uma sensação de que tudo parece ser passageiro e superficial, ou seja, o
trabalho com os conteúdos através de questionários e fórmulas leva a uma
aprendizagem temporária, que se encerra com a avaliação, sendo recapitulado
quando se necessita novamente do conteúdo como pré-requisito para a
compreensão de outro assunto. Como se não bastasse, existe ainda a questão do
condicionamento por parte dos alunos, o que contribui para o desinteresse em
buscar estratégias para interpretar e tentar compreender o conteúdo.
O conhecimento não é "transferido" ou "depositado" pelo outro (conforme a concepção tradicional), nem é "inventado" pelo sujeito (concepção espontaneísta), mas sim que o conhecimento é construído pelo sujeito na sua relação com os outros e com o mundo. Isto significa que o conteúdo que o professor apresenta precisa ser trabalhado, refletido, reelaborado, pelo aluno, para se constituir em conhecimento dele. Caso contrário, o educando não aprende, podendo, quando muito, apresentar um comportamento condicionado, baseado na memória superficial. (VASCONCELLOS, 1992, p.2)
O contexto de ensino e aprendizagem nas escolas revela que a educação
formal não tem a função de simplesmente ensinar e reproduzir algo pronto e
acabado, é muito mais ampla, pois o seu objetivo é levar a construir, a incorporar e a
contextualizar a realidade vivida. Entendemos então o quanto a escola pública
básica é importante, pois a simples reprodução de conhecimento impede a
interpretação dos fatos, facilitando a manipulação do sujeito. Sendo assim, antes de
somente dominar conteúdos o professor precisa motivar o aluno a pensar, porque
este ensinamento ele levará para vida. “Toda influência que exerce sobre o aluno
precisa frutificar em autonomia” (DEMO, 2009, p.31).
Simultaneamente é necessário desenvolver no aluno a responsabilidade pela construção autônoma do seu conhecimento. Essa autonomia é uma das importantes metas do trabalho educativo. Ou será que o aluno vai precisar ter sempre alguém lhe dizendo: "olhe, isto é importante, preste atenção!"? Na medida em que essa necessidade é captada e assumida pelo aluno, ele se ajuda, ajuda o professor e o coletivo da classe. A responsabilidade atribuída exclusivamente ao professor de motivar ao aluno esconde a responsabilidade deste no seu querer saber. (VASCONCELLOS, 1992, p. 9)
É preciso ter clareza das respectivas responsabilidades de cada um durante
o processo de construção do conhecimento, e para isso tanto professor quanto
aluno devem estar ciente do seu papel. O educador vai provocar o interesse para o
conteúdo a ser estudado, mas o aluno tem que ter consciência de que é o sujeito
ativo responsável pela elaboração do conhecimento, ou seja, deve demonstrar
interesse e desejo pelo aprender. A partir do momento em que o aluno adquire esta
noção participativa da aprendizagem, passa a ajudar a si próprio, ao professor e a
classe.
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná
apontam que “ao invés de simplesmente apresentar o conteúdo que será trabalhado,
recomenda-se que o professor crie uma situação problema, instigante e provocativa”
(PARANÁ, 2008, p.75). A princípio essa problematização tem a intenção de
encaminhar o aluno para o conhecimento. Por isso, é preciso que as questões
contemplem o raciocínio, a reflexão e a crítica, levando o mesmo a se tornar autor
no processo de aprendizagem (VASCONCELLOS, 1993 apud PARANÁ, 2008,
p.75).
Cabe ao professor envolver ao máximo o aluno para que sinta curiosidade e
atração pelo que vai estudar. Entretanto, podemos dizer que a “função do professor
é fazer dúvidas e não tirar dúvidas” (DEMO, 2009, p. 20). Em outras palavras, o
aluno precisa ser envolvido e, ao mesmo tempo, desafiado a participar do processo
de construção da aprendizagem. Nessa perspectiva, a “pesquisa escolar”, é um
recurso que pode contribuir para a concretização desta construção. Articulada e
mediada entre sujeitos, pautada em instrumentos que favoreçam o desenvolvimento
da autonomia, através de ações que levem a reflexão crítica, que induz a
descobertas, questionamentos, análises, comparações, capacidade para sintetizar,
argumentar, criar etc.
Vale lembrar que o aluno vê o conhecimento como algo distante da sua
realidade, pouco aplicável ou significativo para o seu cotidiano. Na sua teoria
Ausubel apresenta uma aprendizagem que se comunica com o aluno, a
aprendizagem por descoberta, em que os conteúdos a serem aprendidos devem ser
descobertos pelo aluno antes de serem significativamente incorporados a sua
estrutura cognitiva, encaminhando-o de maneira a se sentir parte do conhecimento
novo adquirido, reduzindo a distância entre teoria e prática (AUSUBEL; NOVAK;
HANESIAN, 1980).
Neste sentido, pode-se afirmar que o “instrucionismo” se trata de uma
prática ultrapassada que não funciona mais diante das mudanças atuais vivenciadas
em sala de aula. Segundo Demo (2009, p. 35) a “aula apropriada é aquela que faz
aprender, elaborada e estudada, reconstruída, curta, leve, envolvente, que respeita
os limites da atenção do aluno, que lança dúvidas e leva à pesquisa”. Nessa direção,
vale ressaltar o que afirma Vasconcellos (2004, p.135) sobre pesquisa na escola:
Fundamentalmente, o compromisso do educador é ajudar a que os educandos aprendam a pensar, a refletir, adquiram estruturas mentais e aprendam os conceitos básicos daquela área do conhecimento, até porque, como sabemos, os conhecimentos se desenvolvem cada dia, sendo impossível a apreensão de todo saber na escola, o que reforça a perspectiva de capacitação em estruturas de pensamento que permitirá a aprendizagem autônoma, a pesquisa.
Constata-se assim que, o professor é importante porque tem a missão
de ensinar o aluno a pensar, mas não o de pensar, pesquisar, questionar ou ler por
este. Educar é um processo de dentro para fora, o aluno em primeiro lugar tem que
querer ter perspectivas e metas para o futuro (DEMO, 2009). “A aprendizagem é um
processo reconstrutivo, o conhecimento e não o simples dado digitalizado é e será o
recurso humano, econômico e sociocultural mais determinante na nova fase da
história humana que já se iniciou” (ASSMANN, 2012, p.19). Por tais razões a escola
sozinha não dará conta de levar o aluno a assimilar os conceitos de todas as áreas,
cabendo a este o compromisso de continuar estudando para complementar os
conhecimentos fora da sala de aula, sendo a atividade de pesquisa um excelente
instrumento de aprendizagem.
A ATIVIDADE DE PESQUISA
De acordo com o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2008, p.627), a palavra
„pesquisa‟ tem origem no latim perquiro “procurar cuidadosamente”, que significa ato
ou efeito de pesquisar, investigação e estudo minucioso e sistemático com o fim de
descobrir fatos relativos a um campo do conhecimento. Para Junqueira (1999, p.6)
“quem pesquisa está procurando, conhecer a verdade, adquirir e ampliar as
informações que possui enriquecer-se do ponto de vista intelectual e cultural”. Na
realidade o objetivo da pesquisa é gerar novos conhecimentos, e/ou constatar ou
contestar algum conhecimento pré-existente. É simplesmente um processo de
aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual se
desenvolve. A pesquisa como atividade constante também pode ser entendida como
o conjunto de atividades orientadas e planejadas pela busca de um conhecimento.
Segundo Rocha (1996, p.7), a “pesquisa é como um jogo de perguntas e nós
mesmos temos que dar respostas”, isto é, investigar por conta.
Segundo Bagno (2012, p.16), “Pesquisa, embora não pareça, está presente
em diversos momentos do quotidiano. Ler a bula de um remédio antes de tomá-lo é
pesquisar. Recorrer a um manual de instruções de um aparelho também”. A
pesquisa faz parte de nosso cotidiano, daí a importância de saber pesquisar
corretamente, seja para inventar soluções práticas, realizar trabalhos escolares, para
entender os problemas da comunidade em que se vive, ir para universidade ou na
vida profissional. Assim, conforme analisa Demo (2007, p.10):
A pesquisa precisa ser internalizada como atitude cotidiana, não apenas como atividade especial, de gente especial, para momentos e salários especiais. Ao contrário, representa, sobretudo a maneira consciente e contributiva de andar na vida, todo dia, toda hora. Pesquisa não é qualquer coisa, papo furado, conversa solta, atividade largada. Seu distintivo mais
próximo é o questionamento reconstrutivo.
Diante de tal afirmação, engana-se quem pensa que pesquisa não é coisa
para ser feita na escola, que é uma atividade que somente os doutores e cientistas
podem fazer. Ao contrário a diferença entre a pesquisa praticada pelo doutor e pela
criança não está nos resultados lógicos, mas na qualidade, no questionamento
reconstrutivo, cada um dentro do seu próprio horizonte (DEMO, 2007).
Proveitoso é, ainda, recomendar ao professor a necessidade de esclarecer
ao aluno que há uma grande diferença entre nossas certezas cotidianas
(características do senso comum) e o conhecimento científico (atitude científica). O
aluno precisa entender que nossas certezas por serem subjetivas, generalizadoras,
qualitativas e carregadas de sentimentos como o medo, angústias e superstições
nos levam a criar preconceitos e a interpretar a realidade que nos cerca e todos os
acontecimentos sem levar em consideração o trabalho científico sistemático, isto é,
baseado num conjunto de princípios, cuja finalidade é desconfiar das nossas
certezas, da nossa falta de crítica e curiosidade, descrevendo, explicando e
prevendo de modo mais complexo possível um conjunto de fenômenos, oferecendo
suas leis necessárias (CHAUÍ, 2006). Sendo assim, cabe ao professor ensinar a
organização do conhecimento científico durante o ato de pesquisar.
A IMPORTANCIA DA ATIVIDADE DE PESQUISA NA ESCOLA
A atividade de pesquisa possibilita ao aluno trabalhar com seus
questionamentos pessoais e a desenvolver opiniões próprias e embasadas, a
respeito dos temas pesquisados. A pesquisa pode ser compreendida como uma
ferramenta problematizadora que, se for bem organizada e orientada pelo professor,
faz do aluno-copiador um aluno-pesquisador. “Estimulando a investigação sobre um
tema que interesse aos alunos, estaremos contribuindo para despertar neles o gosto
pela pesquisa, o que deixará de ser uma obrigação aborrecida para se tornar uma
atividade prazerosa”, como afirma Bagno (2012, p. 25). Ao solicitar uma atividade de
pesquisa o professor poderá avançar no tradicional procedimento de exigir um tema,
uma data e a indicação das partes do trabalho como capa, introdução, objetivos,
desenvolvimento e conclusão. Assim conduzida, a pesquisa não pode ser
considerada como desencadeadora do pensamento crítico dos alunos, vez que
pouco ou nada explora seus pontos de vista e, menos ainda, propicia ambientes
para que a argumentação seja exercitada (NININ, 2008).
Essa visão da atividade de pesquisa, também não permite que o professor
pratique a função de mediador na construção do conhecimento de seus alunos,
transformando a atividade em mera avaliação. Desse modo, é preciso ir além, o
professor deve estimular a investigação a partir da curiosidade sobre um
determinado tema, por meio da sondagem com os alunos para em conjunto
decidirem, democraticamente, as abordagens para a realização da pesquisa.
Na perspectiva do Ensino de Geografia, pode-se considerar a atividade de
pesquisa como uma atividade favorável, uma vez que, a abrangência da disciplina
conduz o aluno não só a buscar dados sobre um tema, mas a ir além, exigindo deste
habilidade para relacionar, analisar, questionar, expressar pontos de vista, entre
outras competências capazes de transformá-lo em um sujeito crítico.
Conforme analisa Demo (2009), não se deve usar a atividade de pesquisa
como mais um instrumento de avaliação, uma técnica de se fazer conhecimento.
O “fazer pesquisa” causa alterações no aluno, em direção a construção da autonomia para pensar. Quando o aluno aprende a pesquisar, ele começa a duvidar, questionar, argumentar, fundamentar, a ouvir o outro com atenção e responder, convencer sem vencer, não só faz conhecimento como o constrói. (DEMO, 2009, p.18)
Entretanto, para que este processo se transforme em aprendizagem
significativa, é preciso que o professor incentive o aluno a duvidar do que encontra
na internet, que responda perguntas com outras perguntas, que discuta o “como
fazer” durante o fazer e não quando a atividade estiver concluída. Ao fim do
processo é preciso elogiar os acertos, apontar os erros, para corrigi-los a fim de que
o aluno melhore a cada atividade solicitada. Essa dimensão leva ao diálogo sobre os
procedimentos usados para se fazer pesquisa em sala de aula.
Demo (2011) mostra o avesso da pesquisa: “ensinar a aprender se dignifica
na pesquisa, que reduz e/ou elimina a marca imitativa”. Se o aluno pratica nas
atividades de pesquisa a reprodução do conteúdo por simples cópia e não se dá
conta do prejuízo a sua vida acadêmica e social, principalmente quanto a sua
autonomia como sujeito, podemos concluir que não sabe pesquisar,
independentemente do nível de ensino em que está. Se ele não sabe, significa que
não aprendeu. Temos de retomar o trabalho e superar esse problema, sem procurar
culpados. O professor como mediador/motivador nesta atividade pedagógica, a
pesquisa, deve se adequar, aperfeiçoar metodologicamente na busca por
estratégias que possibilitem superar as dificuldades e fragilidades diagnosticadas em
anos de trabalho, deixando de se sentir incapaz de atuar frente a elas.
Ainda segundo Demo (2009), “pesquisa constitui-se em expediente formativo
por excelência, porque cultiva a autonomia e o saber pensar crítico e criativo”. Por
esta razão, não pode ser tratada como uma ação solitária, deve ser primordial,
constante, questionadora, crítica, frutificando em produções coerentes, significativas,
potencializando a autonomia.
Apesar dos problemas enfrentados desde a nossa formação como
educadores, das políticas públicas educacionais controversas, dos problemas
sociais que interferem na escola, da desestruturação das famílias, do desinteresse
dos alunos pela aprendizagem, somos professores de Geografia e não podemos nos
furtar do compromisso de formar sujeitos capazes de agir na sociedade com
perspectivas de melhorias das situações que estão postas historicamente, “sem
perder a doçura”. Devemos nos preocupar em tornar nossos alunos produtores do
seu conhecimento através da orientação, mediação, pois ninguém se torna
autônomo se não for ensinado.
Bagno (2012) afirma que, ”a pesquisa é, mesmo, uma coisa muito séria. Não
pode ser tratada com indiferença, menosprezo ou pouco caso na escola. È
fundamental e indispensável que os alunos aprendam a pesquisar”. Mas para que os
alunos aprendam a pesquisar é preciso que o professor saiba ensinar, ele tem que
dominar e conhecer bem quais são os métodos, as técnicas, os tipos de pesquisa e
as fontes confiáveis para indicar aos alunos. Pois só assim nossos alunos terão
realmente sucesso nas atividades futuras que irão exercer. Para Cortella (2014,
p.64), “a escola precisa introduzir não a desconfiança, mas a visão critica em relação
a qualquer fonte de conhecimento. Seja plataforma papel, seja digital”. Ter uma
visão crítica não significa ser “do contra” o tempo todo, mas sim ter autonomia para
capturar os erros com facilidade. As pessoas que lêem bastante e gostam de
pesquisar, por exemplo, apresentam esta característica.
Cortella (2014, p. 46 - 47) em suas reflexões faz inúmeros questionamentos
a nós educadores sobre o conhecimento. “Serve para quê? Qual o poder do saber?
Servir à vida, a uma comunidade, às pessoas... Conhecimento, e dentro dele a
informação, tem a finalidade de servir à vida. Mas a vida de quem? À vida de todos e
todas. À vida coletiva”. Numa sociedade como a nossa em que a desigualdade
social e cultural é tão grande, saber ler, escrever e interpretar já representa ter
poder. Na realidade significa ter autonomia para saber interpretar um noticiário
jornalístico, saber escolher um livro para ler, filtrar informações nas variadas fontes
de pesquisa disponíveis na atualidade.
A pesquisa objetivando o desenvolvimento do pensamento e a construção
do conhecimento precisa ser apresentada ao aluno de forma problematizadora,
desafiadora partindo das interações que estabelecem em sua vivência pessoal e
social, do empírico ao científico, e ao professor para que este assuma o seu papel
de mediador da aprendizagem de forma crítica buscando a autonomia e formação
do “ser humano” e não do reprodutor do conhecimento historicamente construído.
Trabalhar a pesquisa na escola em seu real contexto, conforme proposto nesse
artigo, é o caminho para uma transformação no processo ensino-aprendizagem,
tanto na prática do professor, quanto na perspectiva e compreensão do aluno em
seu papel ativo no processo educacional e na busca pela construção do
conhecimento autônomo pela descoberta.
PESQUISA: APRENDER FAZENDO
Os conceitos teóricos permitem ao professor conhecer o processo de
pesquisa e sua relação com a aprendizagem dos alunos, o que será constatado a
seguir nos resultados obtidos durante o desenvolvimento das atividades propostas
no material didático e aplicadas junto aos alunos.
Assim, o primeiro passo foi investigar, com a turma, os conhecimentos
prévios a respeito da atividade de pesquisa, registrando no quadro as palavras que
definem pesquisa para os alunos. Na sequência foi apresentado um texto retirado do
livro, Pesquisa na Escola o que é, como se faz? (2012, p.19-21) que reforçava a
importância da pesquisa na escola e no cotidiano. Foi solicitado aos alunos que
providenciassem um caderno pequeno, para criar ao longo da implementação um
“diário de pesquisa”. Foram propostas questões para reflexão e debate, em que
todos participaram tirando dúvidas e apresentando exemplos diferentes dos
discutidos em sala de aula durante a leitura do texto.
Figura 1: “Diários de Pesquisa” – registros das atividades realizadas.
Fonte: Fabiane Donatti (2014).
Uma vez entendido o significado e a importância da atividade de pesquisa,
foi apresentado os tipos e os métodos de pesquisa, momento em que os alunos
mantiveram-se interessados, colaborando com exemplos e questionamentos.
Durante a exibição de alguns vídeos retratando descobertas após um persistente
trabalho de pesquisa, todos se mostraram bem curiosos e apenas um aluno
comentou ter conhecimento dos vídeos educativos do blog escolhido. Na atividade
seguinte os alunos participaram de uma dinâmica de leitura para compreenderem as
“Técnicas de Pesquisa”. Quando se depararam com a técnica do questionário,
solicitaram para que usássemos como exemplo um tema do trabalho de Português
que a professora havia pedido. Como finalização da atividade, foi proposta a
construção de mapas conceituais para recordar os tipos, as técnicas e os métodos
de pesquisa.
Figura 2: Organograma para apresentação do projeto PDE.
Fonte: Fabiane Donatti (2014).
A maioria da turma apresentou dificuldades para sintetizar as ideias na
hora da elaboração dos conceitos relacionados nos organogramas, por ser a
primeira vez que realizavam este tipo de atividade. O progresso da atividade só foi
visível após a construção de um modelo usando o quadro e a TV multimídia. Depois
de trabalhados os conceitos referentes aos tipos e métodos de pesquisa, este
momento foi reservado para acrescentar informações adquiridas a partir da
observação direta, isto é, da coleta de dados empíricos através do Trabalho de
Campo no Jardim Botânico e na Universidade Estadual de Londrina/UEL3.
A escolha do Jardim Botânico ocorreu devido às pesquisas que são
realizadas no local para preservação e conservação de espécies de plantas exóticas
e reserva de espécies nativas do Paraná e de outras partes do mundo. Além das
espécies silvestres raras, ameaçadas de extinção ou economicamente importantes
para reabilitação de ecossistemas. O Jardim Botânico também oferece um espaço
de contato direto com a natureza como trilhas ecológicas, arboreto, pista de
caminhada e centro de visitante, espaço voltado à educação ambiental dotado de
equipamentos de audiovisual sobre o histórico ambiental regional.
Já a visita a universidade ocorreu pelo fato de ser uma instituição
pluridisciplinar que oferece formação aos profissionais de nível superior, de pesquisa
e extensão. A UEL é uma das maiores e principais universidades estaduais do
Brasil, trazendo estudantes de todo o país para a cidade de Londrina, onde está
localizada. A universidade apresenta mais de 40 anos de atuação, com tradição e
uma reconhecida trajetória de excelência em ensino. Em uma área construída com
mais de 210 mil metros quadrados entre salas de aula e outras estruturas de ensino,
a instituição proporciona aos estudantes um ambiente acadêmico produtivo,
confortável, crítico e prazeroso, que possibilita a formação de futuros profissionais
de sucesso e cidadãos competentes e éticos. Entre os objetivos da visita a
instituição pelos alunos do Ensino Médio destacam-se: a integração do aluno no
meio acadêmico e cientifico; despertar perspectivas quanto as escolhas futuras;
interagir socialmente; coletar dados empíricos baseados no contato e observação
direta no local; motivar os estudos no presente em função do futuro.
3 Este trabalho foi realizado em parceria com o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência, com bolsistas do subprojeto do curso de Geografia, da Universidade Estadual de Londrina/UEL.
O trabalho foi dividido em três etapas: pré-campo, campo e pós-campo. No
pré-campo foi realizada uma conversa com a direção e supervisão para agendar a
atividade. Depois foram organizadas e entregues às autorizações. Para a turma foi
colocada a importância do trabalho de campo, os objetivos, as regras de conduta,
trajeto, horário de saída e vestimentas. Na aula que antecedeu a viagem, durante o
pré-campo, a ansiedade tomou conta da turma que aderiu em 100% a viagem, e
todos participaram desta atividade para conhecer os locais determinados.
Durante a atividade de campo, os alunos foram orientados a contextualizar
os conhecimentos adquiridos em sala de aula com as informações novas aprendidas
durante o campo, na universidade e no Jardim Botânico. Durante a atividade de
campo os alunos se mostraram bem interessados pelo cotidiano e pelo vestibular da
universidade, gostaram do passeio, alguns inclusive afirmaram que a viagem
ajudou-os a ter certeza das escolhas profissionais futuras, conforme relatos escritos
e entregues no pós-campo.
Figura 5: Trabalho de Campo na Universidade Estadual de Londrina/ UEL Fonte: Fabiane Donatti (2014).
Concluída esta atividade, para o pós-campo, os alunos tiveram que produzir
um relatório sistematizando e organizando os conhecimentos construídos
contemplando os seguintes pontos: tema, local da atividade de campo, objetivos,
descobertas e observações feitas no local, considerações finais com base nas
informações adquiridas ao longo da atividade.
Para colocar em prática os conteúdos estudados, os alunos realizaram uma
atividade de pesquisa, em que foram orientados a escolherem uma técnica de
pesquisa e criarem uma biografia a partir de um roteiro sugerido. Alguns ficaram em
dúvida e pediram sugestões, outros optaram por pessoas que se destacaram em
carreiras, cujas profissões eram de interesse desses. Esta atividade ocorreu na
biblioteca da escola, onde há computadores disponíveis com acesso a rede. Como
complemento da atividade, os alunos produziram uma fotonovela usando um
programa específico para fazer HQs, o qual foi bastante apreciado, inclusive alguns
baixaram o mesmo em suas residências.
A “fotonovela” é uma colagem de fotografias, desenhos e recortes de
revistas, criando cenas ou situações entre pessoas, a ideia é redigir textos com
roteiros engraçados, românticos e diversificados, usando as imagens encontradas
do biografado. Inspiradas nas HQs (histórias em quadrinhos) apresentam caráter
lúdico e artístico, entretendo e ensinando e, ao mesmo tempo, contribuindo para o
processo de ensino-aprendizagem de qualquer conteúdo ou disciplina.
Figura 6: Fotonovela - história em quadrinhos criada por aluna do 2º ano A Ensino médio
Fonte: Fabiane Donatti (2014).
Figura 7: Fotonovela - história em quadrinhos criada por aluna do 2º ano A Ensino médio
Fonte: Fabiane Donatti (2014).
Compreendidas as técnicas, os tipos e os métodos de pesquisa, foram
realizadas aulas para ensinar os alunos a organizarem o trabalho de pesquisa
através da análise da estrutura do trabalho de pesquisa escolar, que são básicos, de
acordo com a ABNT, mas que podem sofrer variações dependendo das exigências
internas da instituição onde se estuda. Para isto, foi montado um roteiro contendo
itens como: capa, título, objetivo, introdução, justificativa, metodologia, conclusão e
referências. Durante as aulas surgiram inúmeras dúvidas, questionamentos,
polêmicas sobre os itens que devem ser contemplados ou não na finalização do
relatório final de uma atividade de pesquisa.
Após a compreensão dos itens que compõem a atividade de pesquisa
escolar, os conhecimentos adquiridos foram testados a partir de uma dinâmica,
chamada, “Dê um texto ao título” cujos objetivos além de trabalhar a interpretação e
a habilidade de síntese dos alunos através da produção de textos, tiveram a
oportunidade para aprender a fazer justificativa, objetivo e conclusão. Durante a
realização e após a entrega das produções, observou-se que os alunos
apresentaram dificuldades para escrever a justificativa, o objetivo, a conclusão e
para organizar, numa sequência, os itens da atividade de pesquisa. A causa do
problema, conforme mencionado no início deste artigo se justifica pela falta de
leitura, desinteresse pela pesquisa e hábito de copiar e colar da internet sem a
devida leitura e reflexão do material consultado.
Uma vez resolvida esta etapa, os alunos foram orientados quanto às fontes
de pesquisa, tão variadas quanto às metodologias e dependem do objetivo visado.
Para a realização desta atividade foram necessárias quatro aulas divididas em
quatro momentos distintos, mas inter-relacionados:
1º) Planejamento da visita a biblioteca municipal: os alunos foram
informados da visita à biblioteca e orientados a preencher as fichas de
cadastramento para aquisição da carteirinha que permite o empréstimo dos
materiais do acervo.
2º) Segundo Momento: os alunos foram levados à biblioteca do município,
porém nenhum levou a ficha preenchida para fazer a carteirinha, fato que chamou a
atenção, inclusive com o depoimento de alguns que nunca haviam entrado na
biblioteca, antes desta atividade. Durante essa atividade, os alunos se mostraram
participativos, fazendo perguntas à bibliotecária sobre os horários e os dias de
funcionamento, mas nem todos quiseram participar da dinâmica um livro
inesquecível por não demonstrarem gosto e interesse pela leitura.
3º) Terceiro Momento: na biblioteca do próprio colégio, foram reunidos
alguns exemplares de diferentes fontes de pesquisa. Os alunos ficaram
impressionados com os dicionários, revistas, jornais, atlas e as enciclopédias
existentes naquele espaço. Alguns inclusive afirmaram não conhecer uma
enciclopédia. Foi uma aula produtiva, pois os alunos manusearam as obras, fizeram
perguntas à bibliotecária, anotaram dicas e leram obras literárias em quadrinhos. Um
fato interessante nessa aula foi constatar a presença de alunos de outras séries que
entraram silenciosamente e sentaram-se para acompanhar a aula, fato que motivou
ainda mais o andamento dessa atividade que atraiu um público habituado a buscar
na internet a única fonte de pesquisa.
Entretanto, não basta mostrar os caminhos seguros, é preciso guiar o aluno
por estes caminhos, a desenvolver um senso crítico capaz de filtrar com confiança
as informações disponíveis em todas as fontes de pesquisa. Para isto, os alunos
foram levados ao laboratório de informática onde ocorreu o “Quarto Momento”,
previsto para encerrar as atividades relacionadas às fontes de pesquisa. Durante a
aula foram passadas as terminologias dos sites, foram realizadas simulações em
sites de busca e visitas a sites de universidades, portais de governos e órgãos
oficiais. Os alunos procuraram explorar as dicas para o Enem, vestibular e os
joguinhos que exigem conhecimentos de Geografia. O trabalho no laboratório de
informática, assim como a visita às bibliotecas demonstraram o potencial didático e
educativo que esses ambientes carregam, mas que precisam da mediação do
professor para que realmente cumpram o seu papel na formação intelectual dos
alunos.
Para refletir sobre os conhecimentos adquiridos nos momentos relatados
anteriormente, foi sugerida aos alunos uma atividade com o objetivo de colocar em
prática as orientações passadas, referentes aos cuidados que se devem ter ao
escolher uma fonte de pesquisa. Os alunos produziram uma síntese a partir de um
livro ou filme escolhido, orientados a partir de um roteiro que serviu de apoio na
construção do texto. A dificuldade maior de todos foi entender que o roteiro sugerido
servia apenas para nortear a síntese, já que eles realizaram a síntese em forma de
questionário, como se respondessem as questões. Após novas orientações e
mediações, a partir de modelos e exemplos, os alunos, finalmente, conseguiram
fazer as suas produções. Todos fizeram a atividade, a maioria optou pelo filme e
lamentavelmente muitos procuraram copiar a sinopse da internet. Apenas três
alunos procuraram seguir as orientações e escrever sua própria síntese, sem plágio.
Enfim, chega-se ao último passo da atividade de pesquisa, criado para que
o aluno contextualizasse os conhecimentos adquiridos sobre a atividade de pesquisa
escolar. Os alunos foram orientados a fazer um projeto de pesquisa simplificado. Foi
necessária muita mediação, muitas conversas, retomadas aos conteúdos para
realização do trabalho final. Em princípio foi realizada uma investigação com a turma
sobre os temas que gostariam de pesquisar dentro dos conteúdos de Geografia.
Entre os temas escolhidos pelos alunos, destacam-se: água e crise no sistema
hídrico; a crise energética; problemas urbanos e sistemas modais; consciência
ambiental; consumismo e ostentação. Segundo os alunos, o interesse por estes
temas está relacionado a uma possível cobrança no Enem deste ano, já que estão
em plena discussão na atualidade. As equipes foram divididas, foi montado um
cronograma com as etapas do trabalho e prazo de entrega, definida a estrutura,
tipos, técnicas e os métodos do trabalho. Nas aulas seguintes, dúvidas foram
surgindo, deixando evidentes as dificuldades para contextualizar o conhecimento
científico e resgatar os conhecimentos adquiridos paras iniciar o seu projeto de
pesquisa.
Todos optaram pela pesquisa bibliográfica em livros e na internet, usando
como métodos o questionário e o fichamento das informações levantadas. Mais uma
vez ficou comprovada a ausência da leitura nas produções, a dificuldade para
coletar e analisar dados e o “vício” em copiar da internet informações não confiáveis
e sem referenciar. As equipes só conseguiram produzir a partir de um modelo de
projeto e muita mediação direta realizada grupo a grupo. Por fim, foram
confeccionados cartazes contendo informações do projeto de cada grupo e
socializada para sala através de apresentações e mediante exposição nos murais da
escola para que os demais alunos de outras séries tomassem conhecimento de suas
produções.
Em última análise percebeu-se que as atividades propostas foram
significativas para que os alunos refletissem sobre a realização da atividade de
pesquisa na escola e no cotidiano. Ressaltando o peso e o significado que o
professor teve em cada passo durante a realização do trabalho de pesquisa que foi
fundamental para motivar o aluno a estudar e a reconstruir o conhecimento com as
próprias mãos. Ressalta-se que a atividade de pesquisa como instrumento na sala
de aula visou oportunizar uma aprendizagem significativa, contribuindo para formar
sujeitos críticos e criativos, capazes de fazer questionamentos, argumentar em favor
de seus ideais e agir ativamente embasados na crítica que construíram para
defender e intervir em situações que exigem atitudes e posicionamentos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse trabalho teve a intenção de averiguar a importância da atividade de
pesquisa escolar como recurso de ensino nas aulas de Geografia. Como se observa
nos resultados obtidos há muito que melhorar em relação ao ensino na escola
pública. A dificuldade em contextualizar o conhecimento científico adquirido durante
cada aula, preparado cuidadosamente com o objetivo de levar o aluno a aprender e
pesquisar não foram suficientes para que eles compreendessem que pesquisa se
aprende fazendo. Acrescenta-se que durante e depois da realização deste trabalho,
a falta de leitura e a educação baseada na transmissão de conhecimentos agravam
a dependência dos alunos e mantém baixa a autonomia dos mesmos em relação ao
saber-fazer.
Por tais razões, nas aulas de Geografia, a pesquisa é considerada uma
temática fundamental a ser discutida, que por sua abrangência colabora para que
aluno compreenda o espaço geográfico em que vive incentivando-o no
desenvolvimento da autonomia intelectual a partir da relação existente entre os
conteúdos, a relação social e o seu cotidiano.
A princípio os alunos envolvidos no trabalho proposto pareciam bem
interessados e motivados a aprender pela pesquisa. Entretanto, no decorrer do
tempo e das atividades os alunos foram perdendo o interesse, em especial quando
se tratava das aulas mais teóricas, indispensáveis para que em outro momento
colocassem em prática os conhecimentos adquiridos.
Importante se faz realçar que a “ideia” de pesquisa escolar que os alunos
apresentaram é bem equivocada, o que acabou dificultando a contextualização das
orientações e conhecimentos passados. Ao término de cada atividade que forçava o
aluno a colocar em prática o que aprendeu, eles insistiam no velho vício de “copiar”
e “colar”, usando como fonte única a internet.
Convém ressaltar que nem todos os alunos que participaram da
implementação desse projeto pensam da mesma forma, alguns tentavam produzir
conhecimento a partir de suas descobertas, opiniões, valores e experiências
individuais, demonstrando reconhecer a importância do trabalho na disciplina de
Geografia e a necessidade de aprender a pesquisar diante das transformações
tecnológicas dos últimos anos, na expectativa de desenvolver um olhar crítico e
construir a sua autonomia.
Em virtude dessas considerações, esse trabalho procurou atingir seu objetivo
maior de deixar um legado na aprendizagem do aluno, levando-o a refletir que
pesquisa é um processo permanente, e que é preciso ter opinião própria para saber
filtrar as informações que circulam, atualmente, em variadas fontes de pesquisa,
saber escolher um método, um tipo e uma técnica de pesquisa.
Nunca é demais lembrar que a pesquisa escolar é uma forma diferente e
inteligente de se estudar e assimilar conhecimentos. Isto significa que não basta
apenas copiar e colar e entregar ao professor, sem ter lido o que “copiou”. O uso da
atividade de pesquisa como instrumento que propicia a aprendizagem entre outras
habilidades citadas se faz necessário também devido às dificuldades que os alunos
apresentam quando se deparam com este tipo de atividade sistematizada.
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