OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE … · mundo ainda suscita ao debate e à reflexão temas...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
¹Professora de Artes Visuais da Rede Estadual de Educação do Paraná no Colégio Estadual Arthur de
Azevedo, em São João do Ivaí – PR, sob orientação do Professor do departamento de artes visuais
Juliano Siqueira - UEL
OFICINAS SOBRE ARTE E NATUREZA: POSSIBILIDADE DE INTERVEÇÃO NO ESPAÇO PÚBLICO
Edinéia Simões Rosa – Professora PDE – 2013¹
RESUMO: Este artigo é o resultado de um trabalho pesquisa-ação, desenvolvido através de
oficinas, sobre Arte e Natureza, no contra-turno, com um grupo de alunos do 6º ao 9º ano do
Ensino Fundamental. Esta proposta surgiu da necessidade de aprimorar a dimensão
estética e artística dos estudantes para que pudessem perceber e sentir a realidade com um
novo olhar e estar mais em contato com a natureza, numa atitude de respeito e
compromisso com o bem comum. Essas propostas foram embasadas em referências
teórico-metodológicas dos artistas plásticos: Vick Muniz e Joseph Beuys, Burle Marx, Frans
Krajcberg, que por meio das suas criações artísticas demonstraram questões relevantes da
sociedade. Em muitas de suas obras nota-se um pedido de socorro, uma denuncia aos
desmandos da ganância humana. Esta abordagem além de ampliar a visão de homem e de
mundo ainda suscita ao debate e à reflexão temas importantes e a busca de soluções.
Portanto, vários temas foram abordados devido a necessidade de conscientizar e
sensibilizar os adolescentes a respeito dos problemas presentes na sociedade e que
prejudicam a vida das pessoas. E também para desenvolver a percepção no que se
referente aos cuidados com o meio ambiente, a preservação da natureza, o compromisso
com a comunidade. E a arte tem o poder de mobilizar, interagir e transformar. Cabe a
educação inovar a prática pedagógica, indo além dos muros da escola, de modo a interagir
com a comunidade, através das artes visuais para a melhoria da qualidade de vida.
Palavras-chave: artes visuais, natureza, transformação, educação.
APRESENTAÇÃO
Este estudo sobre natureza e arte surgiu da necessidade de colocar as
expressões artísticas a serviço da comunidade de modo a sair da sala de aula para
o espaço público e assim dar mais sentido as essas expressões e também com o
intuito de sensibilizar os estudantes e aprimorar a sua dimensão estética e artística
para que possam estar mais em contato com a natureza para preserva-la e cuidar
do meio ambiente de maneira a se envolverem nas questões sociais e culturais, em
favor da qualidade de vida.
As propostas foram desenvolvidas a partir de um processo coletivo, do fazer
artístico, através de oficinas, numa constatação de que a arte, no espaço público,
contribui com a educação estética da comunidade.
O método para realização destas oficinas, pesquisa-ação, visa desenvolver a
sensibilidade e o senso crítico dos adolescentes, a novas possibilidades de
aprendizagem, desta maneira possam respeitar e ver a natureza como parte dela,
problematizar questões como a reciclagem do lixo, consumismo e alternativas para
mudanças de modo a melhorar a vida de uma comunidade. O método pesquisa-
ação, como afirma Kincheloe (1997), é um ato democrático pois tanto o educador
quanto os estudantes participam, expressam suas idéias, opiniões, numa ação
coletiva. Ainda sobre este método, Thiollent conceitua:
Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e
realizada em estreita associação com uma ação ou com a
resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e
os participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
(THIOLLENTE,2000. p. 14)
A arte de Krajcberg é uma referência, um exemplo para pessoas, educadores
e estudantes, tenha uma postura reflexiva e assuma o compromisso de lutar e zelar
pela vida, cuidando da natureza e respeitando seu semelhante. É um exemplo de
amor à terra, ao país, como ele mesmo diz.
[...] eu nasci neste mundo chamado natureza, mas foi no Brasil
que ela me provocou um grande impacto. Eu a compreendi. Aqui
eu nasci uma segunda vez, tomei consciência de ser homem e
participar da vida com minha sensibilidade, meu trabalho, meu
pensamento. Eu me sinto bem assim’’. (Ventrella e Bortolazza.
2007, p. 45).
O artista utiliza diversos elementos da natureza, como troncos queimados,
retorcidos, cortados, para fazer suas esculturas. E o contraste da natureza viva.
Estas esculturas são instrumentos de denúncias, de indignação. A arte a serviço da
vida.
E numa outra expressão quase desesperadora: ‘’como fazer gritar uma
escultura como se fosse a minha própria voz’’.
Burle Marx, além de suas diversas atividades, se destacou como paisagista
de reconhecimento mundial. Estudioso e apaixonado pelas plantas, criou ambientes
agradáveis e belíssimos ao olhar humano, aproximando-o da natureza. Dedicou-se
ao paisagismo dos ambientes públicos, transformando esses espaços para que as
pessoas pudessem se relacionar com a mãe terra, com o verde, sentindo o calor, o
aroma desses elementos, dos quais fazemos parte.
Esta rica experiência nos impulsiona, nos convoca a criar e construir em cada
pedaço de chão, da escola, do lar, das praças públicas, um pedaço do paraíso.
Dentro desta visão que os educandos, de maneira participativa, vão ser provocados
a criar e construir seu espaço no pátio do Colégio e/ou numa das praças da cidade,
procurando interagir, dialogar com a comunidade, como nos é demonstrada nas
experiências de intervenção do projeto de Silva (2005), Arqueologia da Memória,
com o envolvimento das comunidades.
Siron Franco (2006), também utiliza elementos da natureza em suas obras,
envolvendo questões sociais. Um de seus trabalhos aborda o trágico acontecimento
do césio 137, criado a partir de cenas deste acidente que ocorreu no ano de 1987
em Goiânia.
Como afirma Ferreira Gullar (1999), referindo-se ao artista: ‘’a ligação com a
vida é um traço da própria personalidade de Siron, sempre presente, sempre
atuante, buscando interferir no processo social e político’’. As atividades realizadas
na Escola deveriam ultrapassar o ambiente escolar para outros locais, envolvendo a
comunidade num processo dialógico, transformando a arte em expressão e desejo
do povo. Uma ponte que liga o mundo real em simbólico e reafirma o compromisso
com as mudanças sociais. Neste sentido a metodologia de Paulo Freire (1987) pode
ser dialogada com a comunidade. E ainda desenvolvendo a consciência crítica do
adolescente, construindo uma educação libertadora.
As obras voltadas para o espaço público são construídas de simbolismos que
nem sempre nascem da vontade popular. São apenas afirmações de ideologias.
A questão do encontro com as obras de arte é muito importante e deve ser
trabalhada com crianças e adolescentes. As referências citadas norteiam as
atividades artísticas dos educandos nas intervenções de reconstrução dos
ambientes públicos.
Para o desenvolvimento dessas propostas, os trabalhos teórico-
metodológicos foram organizados em oficinas, com a participação dos estudantes e
pessoas da comunidade. Uma experiência que mobilizou e encantou tanto os
participantes quanto aos observadores. Esses experimentos acrescentaram novos
conceitos e valores os conhecimentos do estudante, no ensino de arte. Um jeito
diferenciado de ver e sentir o mundo ao seu redor e apropriar-se dos espaços
públicos e urbanos e de se relacionar com as pessoas, numa atitude de valorizar o
coletivo.
[...] criar significa poder compreender e integrar em novo nível de
consciência [...] este fazer é acompanhado de um sentimento de
responsabilidade, pois se trata de um processo de
conscientização. (OSTROWER, 1990, p. 253)
Algumas oficinas trabalharam o paisagismo e as obras efêmeras, como
instalações, com a intenção de propiciar uma ampla visão ao vivenciar a arte seja
como expressão artística ou como meio de indignação e denúncia às questões que
envolvem a sociedade. Ou também como motivo de organização e transformação do
ambiente, numa relação íntima entre a natureza e ser humano. E deste modo tornar
os espaços públicos mais agradáveis. O estudante, ao trabalhar sua percepção e
sensibilidade, concebe uma maneira de compreender o mundo que o cerca com
inúmeras possibilidades de aprendizagem.
Um dos temas abordados sobre o meio ambiente envolveu a questão do lixo
e utilização de material reciclado, em criações artísticas, com o objetivo de melhorar
as condições de vida das pessoas que fazem parte desta realidade, como foi
apresentado pelo vídeo: Lixo Extraordinário de Vick Muniz. E na prática diária as
pequenas ações fazem a diferença, na conquista de uma sociedade melhor, com
menos violência e agressões.
Ao construir uma instalação em praça pública demonstrou-se uma
importância e responsabilidade dos estudantes em fazer leituras de textos visuais
mais aprofundados e entender melhor a realidade em que estão inseridos e uma
análise reflexiva sobre temas relevantes que além de desenvolver a dimensão
estética do ser humano ainda agrega valores e contribui com a educação de um
povo e também abrem caminhos aos demais conhecimentos.
[...] se a própria vida é biológicamente estética e seu próprio
cosmo é primariamente um evento estético, então a beleza não é
apenas um acessório cultural, uma categoria filosófica, um
domínio das artes, ou mesmo uma prerrogativa do espírito
humano. Ela sempre permaneceu indefinível porque é uma
testemunha sensorial daquilo que está fundamentalmente para
além da compreensão humana (HILLMAN, 2012, p. 55)
A ARTE SOB UM NOVO OLHAR
Não há como valorizar as obras artísticas se o estudante não for capaz de
olhar e sentir-se sensibilizado pelo que ele observa, se sua dimensão estética não
for trabalhada para poder perceber toda a grandeza da criação artística e toda a
riqueza dos detalhes. Como afirma Chauí (1984), “olhar é ao mesmo tempo, sair de
si e trazer o mundo para dentro de si”.
E segundo Carbonel (2012, p. 123) o olhar nasce do encontro com o mundo e
move todos os sentidos, numa íntima comunicação entre corpo e o mundo que se
fundem numa única coisa. E é por meio da percepção que se vivencia uma
experiência estética.
No mundo contemporâneo existe uma infinidade de imagens e cada vez mais
recebemos informações visuais: Tv (aberta, a cabo e digital), internet, cinema,
jornais, revistas e outros. Tudo isto torna difícil fazer uma leitura séria,
contextualizada, de maneira minuciosa e crítica sobre as imagens. Antes de tudo,
exige-se uma seleção criteriosa para evitar a superficialidade e a indiferença e
consequentemente não cair na banalidade. Pois ainda não se consegue assimilar a
dimensão desta realidade e nem se consegue analisar os impactos causados em
nossas vidas.
Vivemos na era da “democratização visual” como afirma Möndiger. O desafio
é a busca de um estudo, mediado pelo professor, pois o olhar do estudante é
inquietante e inquiridor, capaz de desvendar o que há além das aparências. É um
sentimento que transcende.
Os trabalhos e as experiências realizadas pelos estudantes demonstraram
essa nova visão da arte. Olhares curiosos diante das obras artísticas e grande
motivação para realizar as intervenções, além da sala de aula e dos muros da
escola, numa interação com o público, com a comunidade.
ARTES E QUALIDADE DE VIDA
[...] é preciso lembrar que saúde não é mera ausência de doenças, mas o
indicador de qualidade de vida. Pessini (2009).
Ao trabalhar as artes visuais e refletir sobre a importância de relacioná-las a
vida, a instituição de ensino tem inúmeras possibilidades de aprendizados ligados
aos cuidados com a natureza, a vivência harmoniosa com a mãe terra e seus
habitantes e o meio ambiente, em prol da saúde e qualidade de vida.
Vive-se mais intensamente quando se sabe valorizar a pessoa humana nas
suas diversas dimensões e assim foge da banalidade, do consumismo e das
atitudes agressivas, para assumir uma nova postura diante da realidade. No espaço
escolar os estudantes têm a oportunidade de realizar ações e atitudes educativas,
embasadas em valores como: respeito e solidariedade. Os resultados obtidos pelos
trabalhos das oficinas mostraram isto.
Essas experiências são parte de um processo cultural e retrata a vida de um
povo, e de uma comunidade. Para problematizar o conceito de arte, suas
expressões e significados, deve ser analisada dentro de um contexto histórico
cultural e social (Hernadez, 2000, p. 114).
E ainda considerando a importância da cultura, segundo Bourdieu (2003), a
função da escola consiste em desenvolver ou criar as disposições para a cultura, de
maneira duradoura e intensa. Pois nem todos que ingressam na escola tiveram as
mesmas oportunidades.
EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS
A colaboração do GTR (grupo de trabalho em rede) foi relevante e
significativa, pois contribuiu para a implementação das propostas do projeto. Além
de compartilhar experiências de sala de aula, o apoio e o incentivo também
fortaleceram a prática pedagógica. É animador quando a pessoa se sente
amparada, como parte dos mesmos anseios e dificuldades.
O tema agradou a todos. Os integrantes do grupo de trabalho em rede
dividiram suas experiências, angústias e contribuíram com sugestões. Esses
momentos se tornaram preciosos, onde cada um pôde se expressar e juntar forças
em prol da melhoria da educação e da valorização da disciplina de artes. Foi
bastante questionado o papel das artes visuais relacionadas à natureza e à vida
humana e a transformação da sociedade.
Uma das sugestões apresentadas foi a criação da galeria de fotos antigas e
atuais da cidade ou da escola, com opiniões e comentários. E um segundo trabalho,
a produção de um vídeo sobre o desrespeito e a conservação da natureza, na
própria localidade. Outro assunto abordado que chamou atenção, segundo uma das
participantes, foi a instalação em praça pública sobre o lixo, após ter refletido sobre
o vídeo de Vick Muniz: Lixo Extraordinário. Este trabalho despertou a curiosidade do
público.
A riqueza de argumentos demonstrou que o desejo de mudar e inovar é
unânime e as artes visuais são instrumentos eficazes para esta realização.
Algumas considerações reforçam a importância das atividades realizadas e
mostra o quanto ainda é preciso avançar. Como afirmam os participantes do curso:
Os estudantes vivem na era digital e estão sempre conectados ao mundo
virtual e se esquecem de olhar e observar ao seu redor e perdem o contato
com a natureza e assim afastam-se do mundo real, prejudicando assim sua
sensibilidade em relação à natureza e ao meio ambiente.
Devido à agitação da vida moderna, torna-se difícil a concentração e a
apreciação e isso prejudica a aprendizagem. Ou se perde totalmente o
interesse pela aquisição do conhecimento no ambiente escolar.
Os valores como respeito, amor ao próximo, à natureza, ficam esquecidos. É
urgente resgatá-los.
Trabalho com as artes desenvolve a consciência crítica, através da
observação e percepção do meio em que estão inseridos a criança, o
adolescente ou o jovem.
Através de ações educativas, pode-se criar uma nova mentalidade, mudança
de hábitos, e construção de valores e atitudes em favor da vida, onde cada
um assume sua responsabilidade e compromisso com o bem comum.
As empresas precisam honrar seus compromissos com a sustentabilidade e
dar o destino certo para as suas embalagens e seu lixo, além de conservar as
fontes naturais.
Percebe-se que as pessoas, de modo geral não estão preocupadas em
cuidar, reciclar, economizar. Muitos ainda não têm uma consciência formada
sobre os problemas que a sociedade enfrenta e quais as medidas a serem
tomadas.
O vídeo: Lixo Extraordinário, de Vick Muniz, ajudou os adolescentes, da
escola em que atuo, a perder a timidez e a vergonha de serem catadores de
papéis. Tiveram outra visão do uso de material reciclado.
Um dos conceitos de arte reafirma que ela leva à reflexão e mudança de
atitude e forma opinião.
Diante deste quadro, cabe uma reflexão e um replanejamento de ações
educativas para que através das artes visuais se busquem novas alternativas para
uma aprendizagem significativa, que possa contribuir mais com os estudantes e com
a comunidade.
OFICINAS
Para a realização das oficinas relacionando a arte ao ambiente e à natureza,
visando o desenvolvimento do senso crítico da sensibilidade e da percepção dos
educandos, a proposta metodológica priorizou o diálogo, a reflexão e o envolvimento
dos participantes no projeto. Para isso foi elaborado um planejamento de alguns
passos como sugestão:
Primeira ação realizada foi a participação na semana pedagógica para expor
o desenvolvimento do projeto e divulgação do mesmo para toda a
comunidade escolar. E participação de reuniões para organizar as ações a
serem desenvolvidas.
O projeto foi desenvolvido com os estudantes inscritos, num total de 20
alunos do Ensino Fundamental, no contra turno. Os assuntos trabalhados foram:
Conceito de natureza e a arte.
A arte e seu simbolismo. – Obra de Picasso – Guernica.
O paisagismo dos espaços públicos e a intervenção nesses ambientes para
transformá-los, e serem instrumentos de denúncia e indignação, além de
cumprir seu papel lúdico.
A reciclagem e a utilização do lixo, analisando e refletindo sobre as
contribuições do artista Vick Muniz, através do vídeo intitulado: Lixo
Extraordinário.
Conceito de arte pública e comunidades.
A arte vista como possibilidade de mudanças sociais, transformando a
realidade.
Para a realização da oficina sobre o lixo e a arte, no contra-turno, os
estudantes se reuniram numa sala para assistir o filme: Lixo Extraordinário de Vick
Muniz. Em seguida organizaram um debate sobre o que foi visto e como o lixo
transformou a vida da comunidade dos catadores de lixo. E o que esta abordagem
tem a ver com a realidade local, por isso foi questionado o destino do lixo da escola,
das famílias e da própria cidade. E o que é a reciclagem, e para finalizar apontaram
algumas sugestões para melhorar o ambiente escolar.
Filme – Lixo Extraordinário de Vick Muniz, filme sobre Frans Krajacberg
Este trabalho demonstrou que a questão do lixo deve ser tratada com
seriedade, pois está relacionada a qualidade de vida, saúde e ao consumismo. E no
espaço escolar se aprende a lidar com estas situações por meio de uma
conscientização e busca de soluções para problemas que atingem a todos. E
também para a construção de atitudes em favor da vida.
4º Oficina – Visita ao Lixão.
Num segundo momento os estudantes visitaram lugares onde o lixo é
depositado, por exemplo, a trituração dos galhos e folhas secas, recolhidos nas
ruas, para serem usados em jardins e hortas. Para maior compreensão
entrevistaram pessoas que trabalham no local.
Visita ao local onde é triturado os galhos Releitura da obra de Vick Muniz – O Beijo recolhidos nas ruas da cidade.
E para concluir as atividades, na feira noturna da cidade, construíram uma
instalação com materiais reciclados. Cada equipe se responsabilizou por uma tarefa:
separação do lixo, montagem de uma árvore com lixos pendurados nela,
acolhimento aos visitantes e conscientização sobre reciclagem e destino do lixo.
5º Oficina, instalação na praça
Na oficina que abordou a criação de um ambiente agradável no pátio da
escola, em primeiro lugar foi apresentado aos participantes um vídeo sobre a vida e
as criações de Burle Marx e seus jardins em espaços públicos em seguida,
organizaram uma discussão sobre a importância das plantas e flores e como
preparar um ambiente com elementos da natureza, como pedras, troncos de
arvores, plantas e flores. Cada grupo se responsabilizou por uma atividade: escolha
do espaço adequado, seleção de plantas ornamentais, construção de vasos com
pneus usados para o plantio de flores e plantas. Concluído os trabalhos, os
estudantes relataram suas impressões, tópicos da vida de Burle Marx e noções
sobre plantas e flores.
7º e 8º Oficina – Como criar um ambiente para o lazer.
O ambiente pronto.
Um outro trabalho semelhante foi realizado num espaço maior, chamado de
fundo de vale, onde a natureza é exuberante e encanta a todos. No centro, um lago,
rodeado de arvores e uma passarela para caminhada e também alguns animais. Os
estudantes visitaram o local para observar as plantas e animais e fotografaram as
espécies existentes. E ainda verificaram o que estava faltando para melhorar aquele
espaço. Sensibilizados e em contato com a natureza, com um olhar diferenciado
puderam perceber a necessidade de cultivar mais arvores e flores para
complementar a paisagem deste local.
Plantio de árvores.
Ainda no fundo de vale um trabalho que merece destaque foi a construção de
uma instalação sobre os barcos de papéis, após terem estudado sobre artes
efêmeras e analisado algumas obras de Joseph Beuys. Os estudantes juntamente
com a professora organizaram um lanche coletivo para passar à tarde neste espaço.
Arte efêmera
Foram feitos alguns questionamentos sobre o que ainda faltava naquele
ambiente. E a sugestão foi surpreendente, disseram que faltavam barcos no lago. E
a partir desta idéia com o uso de jornais foram construídos diversos barquinhos, de
todos os tamanhos e lançados na água. Foi uma verdadeira festa. As pessoas que
passavam por ali, admirados diziam que tudo aquilo lembrava a infância. Essa
experiência trás uma reflexão: nem sempre os espaços públicos são bem
aproveitados. Falta planejamento e participação da comunidade. Segundo Silva
(2005), conceitua sobre a arte relacionada aos espaços públicos:
Construção dos barquinhos
Instalações no fundo do Vale
O transeunte que usufrui da imagem de arte voltada para o
espaço público é indefinido e heterogêneo pertencente a variadas
camadas sociais e de formação cultural diversificada. Assim, um
dos principais objetivos da arte pública é estabelecer o diálogo
com a diversidade, fato desafiador para o artista que cria no
ambiente urbano. O artista, por sua vez, além dos cuidados
estéticos com o trabalho, deve estar atento às possibilidades de
comunicação que sua obra possa estabelecer com a pluralidade
dos olhares dos transeuntes urbanos. (SILVA, 2005. p.25)
Diversos recursos e instrumentos metodológicos foram empregados na
realização das oficinas, como: vídeos, música, elementos da natureza (troncos,
pedras, plantas). Para valorizar o trabalho em equipe, organizaram-se discussões e
debates. Pesquisas sobre os artistas e suas obras mencionadas. As oficinas
buscaram desenvolver a consciência crítica e sensibilizar para as questões sociais,
de respeito ao outro, à natureza e cuidado com o espaço na escola, na família e nos
ambientes públicos.
Vivemos rodeados de imagens que transmitem as mais variadas mensagens,
ideias e comportamentos, é importante que os estudantes exercitem a compreensão
sobre a realidade visual. E a escola tem esta responsabilidade de ajudar seus
educandos a ler e interpretar textos visuais. Maria Helena Rossi (2003) valoriza a
arte como possibilidade de refletir e aprender sobre a dimensão estética do ser
humano, sendo essencial para a educação de um povo.
A arte pública, segundo (Silva, 2005), tem sido tema de discussões a partir de
1960, aproximando as comunidades do fazer artístico.
Em seu trabalho realizado na comunidade de São Sebastião, em Minas
Gerais, denominado Arqueologia da Memória, relaciona-se história e arte e a
participação da comunidade. Esta experiência mostra que é possível transformar a
realidade, a vida de um povo (Silva, 2005).
A arte pública conquistou novos espaços, novas manifestações, envolvendo
diversas áreas do conhecimento e equipes multidisciplinares, como arquitetos,
arqueólogos e historiadores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir este trabalho e analisar os resultados e as experiências
vivenciadas pelos estudantes, percebe-se a importância de expandir os conceitos de
Artes Visuais, numa perspectiva inovadora, de maneira a propor diversas
possibilidades de aprendizagem. Como aconteceu nas criações das obras efêmeras
e paisagismo e interação com a comunidade, realizado pelos estudantes. Colocaram
a arte a serviços dos espaços públicos. Esta visão mais abrangente e significativa
deu maior sentido ao fazer artístico relacionado à vida.
Portanto essas práticas precisam ser ampliadas e democratizadas para que
todos possam estar em contato com a natureza, para preservá-la e também cuidar
do meio ambiente e evitar o consumismo exagerado. Pois tudo isto está relacionado
com a saúde e com a qualidade de vida e transformação do meio em que se vive.
De maneira geral os objetivos propostos foram alcançados, uma visão ampla
de mundo e de homem ao considerar a pessoa como parte desta natureza e não um
dominador que destrói a vida em troca dos próprios interesses. E pelas experiências
e construções artísticas produzidas nota-se uma maior sensibilidade, gosto estético
e interesse pelas aulas de Artes visuais. Isso se tornou notório pelas mensagens e
fotos enviadas à professora sobre fatos ocorridos, com questões problematizadoras.
Uma atitude louvável em que a professora conseguiu ligar a tecnologia em favor de
suas aulas, tornando-as mais dinâmicas e interessantes.
A realização deste projeto trouxe benefícios aos estudantes, com
experiências que agradaram a todos, tanto autores quanto observadores. E ajudou-
os a serem mais críticos, sensíveis e humanos. Mas acima de tudo a minha prática
pedagógica tornou-se mais significativa, com pesquisas, leituras, uso das redes
sociais, e interação com a comunidade. Tudo isto foi um aprendizado imensurável,
pois abriu caminhos para novas idéias e possibilidades de aprendizagem.
REFERÊNCIAS
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