OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE … · mundo ainda suscita ao debate e à reflexão temas...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

¹Professora de Artes Visuais da Rede Estadual de Educação do Paraná no Colégio Estadual Arthur de

Azevedo, em São João do Ivaí – PR, sob orientação do Professor do departamento de artes visuais

Juliano Siqueira - UEL

OFICINAS SOBRE ARTE E NATUREZA: POSSIBILIDADE DE INTERVEÇÃO NO ESPAÇO PÚBLICO

Edinéia Simões Rosa – Professora PDE – 2013¹

RESUMO: Este artigo é o resultado de um trabalho pesquisa-ação, desenvolvido através de

oficinas, sobre Arte e Natureza, no contra-turno, com um grupo de alunos do 6º ao 9º ano do

Ensino Fundamental. Esta proposta surgiu da necessidade de aprimorar a dimensão

estética e artística dos estudantes para que pudessem perceber e sentir a realidade com um

novo olhar e estar mais em contato com a natureza, numa atitude de respeito e

compromisso com o bem comum. Essas propostas foram embasadas em referências

teórico-metodológicas dos artistas plásticos: Vick Muniz e Joseph Beuys, Burle Marx, Frans

Krajcberg, que por meio das suas criações artísticas demonstraram questões relevantes da

sociedade. Em muitas de suas obras nota-se um pedido de socorro, uma denuncia aos

desmandos da ganância humana. Esta abordagem além de ampliar a visão de homem e de

mundo ainda suscita ao debate e à reflexão temas importantes e a busca de soluções.

Portanto, vários temas foram abordados devido a necessidade de conscientizar e

sensibilizar os adolescentes a respeito dos problemas presentes na sociedade e que

prejudicam a vida das pessoas. E também para desenvolver a percepção no que se

referente aos cuidados com o meio ambiente, a preservação da natureza, o compromisso

com a comunidade. E a arte tem o poder de mobilizar, interagir e transformar. Cabe a

educação inovar a prática pedagógica, indo além dos muros da escola, de modo a interagir

com a comunidade, através das artes visuais para a melhoria da qualidade de vida.

Palavras-chave: artes visuais, natureza, transformação, educação.

APRESENTAÇÃO

Este estudo sobre natureza e arte surgiu da necessidade de colocar as

expressões artísticas a serviço da comunidade de modo a sair da sala de aula para

o espaço público e assim dar mais sentido as essas expressões e também com o

intuito de sensibilizar os estudantes e aprimorar a sua dimensão estética e artística

para que possam estar mais em contato com a natureza para preserva-la e cuidar

do meio ambiente de maneira a se envolverem nas questões sociais e culturais, em

favor da qualidade de vida.

As propostas foram desenvolvidas a partir de um processo coletivo, do fazer

artístico, através de oficinas, numa constatação de que a arte, no espaço público,

contribui com a educação estética da comunidade.

O método para realização destas oficinas, pesquisa-ação, visa desenvolver a

sensibilidade e o senso crítico dos adolescentes, a novas possibilidades de

aprendizagem, desta maneira possam respeitar e ver a natureza como parte dela,

problematizar questões como a reciclagem do lixo, consumismo e alternativas para

mudanças de modo a melhorar a vida de uma comunidade. O método pesquisa-

ação, como afirma Kincheloe (1997), é um ato democrático pois tanto o educador

quanto os estudantes participam, expressam suas idéias, opiniões, numa ação

coletiva. Ainda sobre este método, Thiollent conceitua:

Um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e

realizada em estreita associação com uma ação ou com a

resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e

os participantes representativos da situação ou do problema estão

envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

(THIOLLENTE,2000. p. 14)

A arte de Krajcberg é uma referência, um exemplo para pessoas, educadores

e estudantes, tenha uma postura reflexiva e assuma o compromisso de lutar e zelar

pela vida, cuidando da natureza e respeitando seu semelhante. É um exemplo de

amor à terra, ao país, como ele mesmo diz.

[...] eu nasci neste mundo chamado natureza, mas foi no Brasil

que ela me provocou um grande impacto. Eu a compreendi. Aqui

eu nasci uma segunda vez, tomei consciência de ser homem e

participar da vida com minha sensibilidade, meu trabalho, meu

pensamento. Eu me sinto bem assim’’. (Ventrella e Bortolazza.

2007, p. 45).

O artista utiliza diversos elementos da natureza, como troncos queimados,

retorcidos, cortados, para fazer suas esculturas. E o contraste da natureza viva.

Estas esculturas são instrumentos de denúncias, de indignação. A arte a serviço da

vida.

E numa outra expressão quase desesperadora: ‘’como fazer gritar uma

escultura como se fosse a minha própria voz’’.

Burle Marx, além de suas diversas atividades, se destacou como paisagista

de reconhecimento mundial. Estudioso e apaixonado pelas plantas, criou ambientes

agradáveis e belíssimos ao olhar humano, aproximando-o da natureza. Dedicou-se

ao paisagismo dos ambientes públicos, transformando esses espaços para que as

pessoas pudessem se relacionar com a mãe terra, com o verde, sentindo o calor, o

aroma desses elementos, dos quais fazemos parte.

Esta rica experiência nos impulsiona, nos convoca a criar e construir em cada

pedaço de chão, da escola, do lar, das praças públicas, um pedaço do paraíso.

Dentro desta visão que os educandos, de maneira participativa, vão ser provocados

a criar e construir seu espaço no pátio do Colégio e/ou numa das praças da cidade,

procurando interagir, dialogar com a comunidade, como nos é demonstrada nas

experiências de intervenção do projeto de Silva (2005), Arqueologia da Memória,

com o envolvimento das comunidades.

Siron Franco (2006), também utiliza elementos da natureza em suas obras,

envolvendo questões sociais. Um de seus trabalhos aborda o trágico acontecimento

do césio 137, criado a partir de cenas deste acidente que ocorreu no ano de 1987

em Goiânia.

Como afirma Ferreira Gullar (1999), referindo-se ao artista: ‘’a ligação com a

vida é um traço da própria personalidade de Siron, sempre presente, sempre

atuante, buscando interferir no processo social e político’’. As atividades realizadas

na Escola deveriam ultrapassar o ambiente escolar para outros locais, envolvendo a

comunidade num processo dialógico, transformando a arte em expressão e desejo

do povo. Uma ponte que liga o mundo real em simbólico e reafirma o compromisso

com as mudanças sociais. Neste sentido a metodologia de Paulo Freire (1987) pode

ser dialogada com a comunidade. E ainda desenvolvendo a consciência crítica do

adolescente, construindo uma educação libertadora.

As obras voltadas para o espaço público são construídas de simbolismos que

nem sempre nascem da vontade popular. São apenas afirmações de ideologias.

A questão do encontro com as obras de arte é muito importante e deve ser

trabalhada com crianças e adolescentes. As referências citadas norteiam as

atividades artísticas dos educandos nas intervenções de reconstrução dos

ambientes públicos.

Para o desenvolvimento dessas propostas, os trabalhos teórico-

metodológicos foram organizados em oficinas, com a participação dos estudantes e

pessoas da comunidade. Uma experiência que mobilizou e encantou tanto os

participantes quanto aos observadores. Esses experimentos acrescentaram novos

conceitos e valores os conhecimentos do estudante, no ensino de arte. Um jeito

diferenciado de ver e sentir o mundo ao seu redor e apropriar-se dos espaços

públicos e urbanos e de se relacionar com as pessoas, numa atitude de valorizar o

coletivo.

[...] criar significa poder compreender e integrar em novo nível de

consciência [...] este fazer é acompanhado de um sentimento de

responsabilidade, pois se trata de um processo de

conscientização. (OSTROWER, 1990, p. 253)

Algumas oficinas trabalharam o paisagismo e as obras efêmeras, como

instalações, com a intenção de propiciar uma ampla visão ao vivenciar a arte seja

como expressão artística ou como meio de indignação e denúncia às questões que

envolvem a sociedade. Ou também como motivo de organização e transformação do

ambiente, numa relação íntima entre a natureza e ser humano. E deste modo tornar

os espaços públicos mais agradáveis. O estudante, ao trabalhar sua percepção e

sensibilidade, concebe uma maneira de compreender o mundo que o cerca com

inúmeras possibilidades de aprendizagem.

Um dos temas abordados sobre o meio ambiente envolveu a questão do lixo

e utilização de material reciclado, em criações artísticas, com o objetivo de melhorar

as condições de vida das pessoas que fazem parte desta realidade, como foi

apresentado pelo vídeo: Lixo Extraordinário de Vick Muniz. E na prática diária as

pequenas ações fazem a diferença, na conquista de uma sociedade melhor, com

menos violência e agressões.

Ao construir uma instalação em praça pública demonstrou-se uma

importância e responsabilidade dos estudantes em fazer leituras de textos visuais

mais aprofundados e entender melhor a realidade em que estão inseridos e uma

análise reflexiva sobre temas relevantes que além de desenvolver a dimensão

estética do ser humano ainda agrega valores e contribui com a educação de um

povo e também abrem caminhos aos demais conhecimentos.

[...] se a própria vida é biológicamente estética e seu próprio

cosmo é primariamente um evento estético, então a beleza não é

apenas um acessório cultural, uma categoria filosófica, um

domínio das artes, ou mesmo uma prerrogativa do espírito

humano. Ela sempre permaneceu indefinível porque é uma

testemunha sensorial daquilo que está fundamentalmente para

além da compreensão humana (HILLMAN, 2012, p. 55)

A ARTE SOB UM NOVO OLHAR

Não há como valorizar as obras artísticas se o estudante não for capaz de

olhar e sentir-se sensibilizado pelo que ele observa, se sua dimensão estética não

for trabalhada para poder perceber toda a grandeza da criação artística e toda a

riqueza dos detalhes. Como afirma Chauí (1984), “olhar é ao mesmo tempo, sair de

si e trazer o mundo para dentro de si”.

E segundo Carbonel (2012, p. 123) o olhar nasce do encontro com o mundo e

move todos os sentidos, numa íntima comunicação entre corpo e o mundo que se

fundem numa única coisa. E é por meio da percepção que se vivencia uma

experiência estética.

No mundo contemporâneo existe uma infinidade de imagens e cada vez mais

recebemos informações visuais: Tv (aberta, a cabo e digital), internet, cinema,

jornais, revistas e outros. Tudo isto torna difícil fazer uma leitura séria,

contextualizada, de maneira minuciosa e crítica sobre as imagens. Antes de tudo,

exige-se uma seleção criteriosa para evitar a superficialidade e a indiferença e

consequentemente não cair na banalidade. Pois ainda não se consegue assimilar a

dimensão desta realidade e nem se consegue analisar os impactos causados em

nossas vidas.

Vivemos na era da “democratização visual” como afirma Möndiger. O desafio

é a busca de um estudo, mediado pelo professor, pois o olhar do estudante é

inquietante e inquiridor, capaz de desvendar o que há além das aparências. É um

sentimento que transcende.

Os trabalhos e as experiências realizadas pelos estudantes demonstraram

essa nova visão da arte. Olhares curiosos diante das obras artísticas e grande

motivação para realizar as intervenções, além da sala de aula e dos muros da

escola, numa interação com o público, com a comunidade.

ARTES E QUALIDADE DE VIDA

[...] é preciso lembrar que saúde não é mera ausência de doenças, mas o

indicador de qualidade de vida. Pessini (2009).

Ao trabalhar as artes visuais e refletir sobre a importância de relacioná-las a

vida, a instituição de ensino tem inúmeras possibilidades de aprendizados ligados

aos cuidados com a natureza, a vivência harmoniosa com a mãe terra e seus

habitantes e o meio ambiente, em prol da saúde e qualidade de vida.

Vive-se mais intensamente quando se sabe valorizar a pessoa humana nas

suas diversas dimensões e assim foge da banalidade, do consumismo e das

atitudes agressivas, para assumir uma nova postura diante da realidade. No espaço

escolar os estudantes têm a oportunidade de realizar ações e atitudes educativas,

embasadas em valores como: respeito e solidariedade. Os resultados obtidos pelos

trabalhos das oficinas mostraram isto.

Essas experiências são parte de um processo cultural e retrata a vida de um

povo, e de uma comunidade. Para problematizar o conceito de arte, suas

expressões e significados, deve ser analisada dentro de um contexto histórico

cultural e social (Hernadez, 2000, p. 114).

E ainda considerando a importância da cultura, segundo Bourdieu (2003), a

função da escola consiste em desenvolver ou criar as disposições para a cultura, de

maneira duradoura e intensa. Pois nem todos que ingressam na escola tiveram as

mesmas oportunidades.

EXPERIÊNCIAS COMPARTILHADAS

A colaboração do GTR (grupo de trabalho em rede) foi relevante e

significativa, pois contribuiu para a implementação das propostas do projeto. Além

de compartilhar experiências de sala de aula, o apoio e o incentivo também

fortaleceram a prática pedagógica. É animador quando a pessoa se sente

amparada, como parte dos mesmos anseios e dificuldades.

O tema agradou a todos. Os integrantes do grupo de trabalho em rede

dividiram suas experiências, angústias e contribuíram com sugestões. Esses

momentos se tornaram preciosos, onde cada um pôde se expressar e juntar forças

em prol da melhoria da educação e da valorização da disciplina de artes. Foi

bastante questionado o papel das artes visuais relacionadas à natureza e à vida

humana e a transformação da sociedade.

Uma das sugestões apresentadas foi a criação da galeria de fotos antigas e

atuais da cidade ou da escola, com opiniões e comentários. E um segundo trabalho,

a produção de um vídeo sobre o desrespeito e a conservação da natureza, na

própria localidade. Outro assunto abordado que chamou atenção, segundo uma das

participantes, foi a instalação em praça pública sobre o lixo, após ter refletido sobre

o vídeo de Vick Muniz: Lixo Extraordinário. Este trabalho despertou a curiosidade do

público.

A riqueza de argumentos demonstrou que o desejo de mudar e inovar é

unânime e as artes visuais são instrumentos eficazes para esta realização.

Algumas considerações reforçam a importância das atividades realizadas e

mostra o quanto ainda é preciso avançar. Como afirmam os participantes do curso:

Os estudantes vivem na era digital e estão sempre conectados ao mundo

virtual e se esquecem de olhar e observar ao seu redor e perdem o contato

com a natureza e assim afastam-se do mundo real, prejudicando assim sua

sensibilidade em relação à natureza e ao meio ambiente.

Devido à agitação da vida moderna, torna-se difícil a concentração e a

apreciação e isso prejudica a aprendizagem. Ou se perde totalmente o

interesse pela aquisição do conhecimento no ambiente escolar.

Os valores como respeito, amor ao próximo, à natureza, ficam esquecidos. É

urgente resgatá-los.

Trabalho com as artes desenvolve a consciência crítica, através da

observação e percepção do meio em que estão inseridos a criança, o

adolescente ou o jovem.

Através de ações educativas, pode-se criar uma nova mentalidade, mudança

de hábitos, e construção de valores e atitudes em favor da vida, onde cada

um assume sua responsabilidade e compromisso com o bem comum.

As empresas precisam honrar seus compromissos com a sustentabilidade e

dar o destino certo para as suas embalagens e seu lixo, além de conservar as

fontes naturais.

Percebe-se que as pessoas, de modo geral não estão preocupadas em

cuidar, reciclar, economizar. Muitos ainda não têm uma consciência formada

sobre os problemas que a sociedade enfrenta e quais as medidas a serem

tomadas.

O vídeo: Lixo Extraordinário, de Vick Muniz, ajudou os adolescentes, da

escola em que atuo, a perder a timidez e a vergonha de serem catadores de

papéis. Tiveram outra visão do uso de material reciclado.

Um dos conceitos de arte reafirma que ela leva à reflexão e mudança de

atitude e forma opinião.

Diante deste quadro, cabe uma reflexão e um replanejamento de ações

educativas para que através das artes visuais se busquem novas alternativas para

uma aprendizagem significativa, que possa contribuir mais com os estudantes e com

a comunidade.

OFICINAS

Para a realização das oficinas relacionando a arte ao ambiente e à natureza,

visando o desenvolvimento do senso crítico da sensibilidade e da percepção dos

educandos, a proposta metodológica priorizou o diálogo, a reflexão e o envolvimento

dos participantes no projeto. Para isso foi elaborado um planejamento de alguns

passos como sugestão:

Primeira ação realizada foi a participação na semana pedagógica para expor

o desenvolvimento do projeto e divulgação do mesmo para toda a

comunidade escolar. E participação de reuniões para organizar as ações a

serem desenvolvidas.

O projeto foi desenvolvido com os estudantes inscritos, num total de 20

alunos do Ensino Fundamental, no contra turno. Os assuntos trabalhados foram:

Conceito de natureza e a arte.

A arte e seu simbolismo. – Obra de Picasso – Guernica.

O paisagismo dos espaços públicos e a intervenção nesses ambientes para

transformá-los, e serem instrumentos de denúncia e indignação, além de

cumprir seu papel lúdico.

A reciclagem e a utilização do lixo, analisando e refletindo sobre as

contribuições do artista Vick Muniz, através do vídeo intitulado: Lixo

Extraordinário.

Conceito de arte pública e comunidades.

A arte vista como possibilidade de mudanças sociais, transformando a

realidade.

Para a realização da oficina sobre o lixo e a arte, no contra-turno, os

estudantes se reuniram numa sala para assistir o filme: Lixo Extraordinário de Vick

Muniz. Em seguida organizaram um debate sobre o que foi visto e como o lixo

transformou a vida da comunidade dos catadores de lixo. E o que esta abordagem

tem a ver com a realidade local, por isso foi questionado o destino do lixo da escola,

das famílias e da própria cidade. E o que é a reciclagem, e para finalizar apontaram

algumas sugestões para melhorar o ambiente escolar.

Filme – Lixo Extraordinário de Vick Muniz, filme sobre Frans Krajacberg

Este trabalho demonstrou que a questão do lixo deve ser tratada com

seriedade, pois está relacionada a qualidade de vida, saúde e ao consumismo. E no

espaço escolar se aprende a lidar com estas situações por meio de uma

conscientização e busca de soluções para problemas que atingem a todos. E

também para a construção de atitudes em favor da vida.

4º Oficina – Visita ao Lixão.

Num segundo momento os estudantes visitaram lugares onde o lixo é

depositado, por exemplo, a trituração dos galhos e folhas secas, recolhidos nas

ruas, para serem usados em jardins e hortas. Para maior compreensão

entrevistaram pessoas que trabalham no local.

Visita ao local onde é triturado os galhos Releitura da obra de Vick Muniz – O Beijo recolhidos nas ruas da cidade.

E para concluir as atividades, na feira noturna da cidade, construíram uma

instalação com materiais reciclados. Cada equipe se responsabilizou por uma tarefa:

separação do lixo, montagem de uma árvore com lixos pendurados nela,

acolhimento aos visitantes e conscientização sobre reciclagem e destino do lixo.

5º Oficina, instalação na praça

Na oficina que abordou a criação de um ambiente agradável no pátio da

escola, em primeiro lugar foi apresentado aos participantes um vídeo sobre a vida e

as criações de Burle Marx e seus jardins em espaços públicos em seguida,

organizaram uma discussão sobre a importância das plantas e flores e como

preparar um ambiente com elementos da natureza, como pedras, troncos de

arvores, plantas e flores. Cada grupo se responsabilizou por uma atividade: escolha

do espaço adequado, seleção de plantas ornamentais, construção de vasos com

pneus usados para o plantio de flores e plantas. Concluído os trabalhos, os

estudantes relataram suas impressões, tópicos da vida de Burle Marx e noções

sobre plantas e flores.

7º e 8º Oficina – Como criar um ambiente para o lazer.

O ambiente pronto.

Um outro trabalho semelhante foi realizado num espaço maior, chamado de

fundo de vale, onde a natureza é exuberante e encanta a todos. No centro, um lago,

rodeado de arvores e uma passarela para caminhada e também alguns animais. Os

estudantes visitaram o local para observar as plantas e animais e fotografaram as

espécies existentes. E ainda verificaram o que estava faltando para melhorar aquele

espaço. Sensibilizados e em contato com a natureza, com um olhar diferenciado

puderam perceber a necessidade de cultivar mais arvores e flores para

complementar a paisagem deste local.

Plantio de árvores.

Ainda no fundo de vale um trabalho que merece destaque foi a construção de

uma instalação sobre os barcos de papéis, após terem estudado sobre artes

efêmeras e analisado algumas obras de Joseph Beuys. Os estudantes juntamente

com a professora organizaram um lanche coletivo para passar à tarde neste espaço.

Arte efêmera

Foram feitos alguns questionamentos sobre o que ainda faltava naquele

ambiente. E a sugestão foi surpreendente, disseram que faltavam barcos no lago. E

a partir desta idéia com o uso de jornais foram construídos diversos barquinhos, de

todos os tamanhos e lançados na água. Foi uma verdadeira festa. As pessoas que

passavam por ali, admirados diziam que tudo aquilo lembrava a infância. Essa

experiência trás uma reflexão: nem sempre os espaços públicos são bem

aproveitados. Falta planejamento e participação da comunidade. Segundo Silva

(2005), conceitua sobre a arte relacionada aos espaços públicos:

Construção dos barquinhos

Instalações no fundo do Vale

O transeunte que usufrui da imagem de arte voltada para o

espaço público é indefinido e heterogêneo pertencente a variadas

camadas sociais e de formação cultural diversificada. Assim, um

dos principais objetivos da arte pública é estabelecer o diálogo

com a diversidade, fato desafiador para o artista que cria no

ambiente urbano. O artista, por sua vez, além dos cuidados

estéticos com o trabalho, deve estar atento às possibilidades de

comunicação que sua obra possa estabelecer com a pluralidade

dos olhares dos transeuntes urbanos. (SILVA, 2005. p.25)

Diversos recursos e instrumentos metodológicos foram empregados na

realização das oficinas, como: vídeos, música, elementos da natureza (troncos,

pedras, plantas). Para valorizar o trabalho em equipe, organizaram-se discussões e

debates. Pesquisas sobre os artistas e suas obras mencionadas. As oficinas

buscaram desenvolver a consciência crítica e sensibilizar para as questões sociais,

de respeito ao outro, à natureza e cuidado com o espaço na escola, na família e nos

ambientes públicos.

Vivemos rodeados de imagens que transmitem as mais variadas mensagens,

ideias e comportamentos, é importante que os estudantes exercitem a compreensão

sobre a realidade visual. E a escola tem esta responsabilidade de ajudar seus

educandos a ler e interpretar textos visuais. Maria Helena Rossi (2003) valoriza a

arte como possibilidade de refletir e aprender sobre a dimensão estética do ser

humano, sendo essencial para a educação de um povo.

A arte pública, segundo (Silva, 2005), tem sido tema de discussões a partir de

1960, aproximando as comunidades do fazer artístico.

Em seu trabalho realizado na comunidade de São Sebastião, em Minas

Gerais, denominado Arqueologia da Memória, relaciona-se história e arte e a

participação da comunidade. Esta experiência mostra que é possível transformar a

realidade, a vida de um povo (Silva, 2005).

A arte pública conquistou novos espaços, novas manifestações, envolvendo

diversas áreas do conhecimento e equipes multidisciplinares, como arquitetos,

arqueólogos e historiadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir este trabalho e analisar os resultados e as experiências

vivenciadas pelos estudantes, percebe-se a importância de expandir os conceitos de

Artes Visuais, numa perspectiva inovadora, de maneira a propor diversas

possibilidades de aprendizagem. Como aconteceu nas criações das obras efêmeras

e paisagismo e interação com a comunidade, realizado pelos estudantes. Colocaram

a arte a serviços dos espaços públicos. Esta visão mais abrangente e significativa

deu maior sentido ao fazer artístico relacionado à vida.

Portanto essas práticas precisam ser ampliadas e democratizadas para que

todos possam estar em contato com a natureza, para preservá-la e também cuidar

do meio ambiente e evitar o consumismo exagerado. Pois tudo isto está relacionado

com a saúde e com a qualidade de vida e transformação do meio em que se vive.

De maneira geral os objetivos propostos foram alcançados, uma visão ampla

de mundo e de homem ao considerar a pessoa como parte desta natureza e não um

dominador que destrói a vida em troca dos próprios interesses. E pelas experiências

e construções artísticas produzidas nota-se uma maior sensibilidade, gosto estético

e interesse pelas aulas de Artes visuais. Isso se tornou notório pelas mensagens e

fotos enviadas à professora sobre fatos ocorridos, com questões problematizadoras.

Uma atitude louvável em que a professora conseguiu ligar a tecnologia em favor de

suas aulas, tornando-as mais dinâmicas e interessantes.

A realização deste projeto trouxe benefícios aos estudantes, com

experiências que agradaram a todos, tanto autores quanto observadores. E ajudou-

os a serem mais críticos, sensíveis e humanos. Mas acima de tudo a minha prática

pedagógica tornou-se mais significativa, com pesquisas, leituras, uso das redes

sociais, e interação com a comunidade. Tudo isto foi um aprendizado imensurável,

pois abriu caminhos para novas idéias e possibilidades de aprendizagem.

REFERÊNCIAS

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novos tempos. São Paulo: Perspectiva, 2012.

CÂNDIDO, Márcia Cristina de Lima. As Artes Visuais e o meio ambiente no

Ensino Básico: da teoria à prática. Itapetininga, SP, 2011.

CARBONELL, Sonia Alvares: Educação Estética na Eja: a beleza de ensinar e

aprender com jovens e adultos / Sonia Carbonell Álvares. – São Paulo: Telos,

2012

SILVA, Fernando Pedro da. Arte Pública: diálogo com as comunidades. Belo

Horizonte, MG: Editora C/ Arte, 2005.

SUERTEGARAY, Dirce Maria Antunes. Avaliação Nacional dos Livros Didáticos

de 5ª a 8ª Séries: PNLD. Área de Geografia. Brasília: Trabalho técnico, 2005.

VENTRELLA, Roseli. Frans Krajcberg: arte e meio ambiente. São Paulo: Moderna,

2006.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2000.

OSTROWER, Fayga. Acasos e Criação artística. Rio de Janeiro: Editora Campos,

1990.

HILLMAN, J. Cidade e Alma. São Paulo: Studio Nobel, 1993.

HERNANDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: projetos de

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