OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA … ensino-aprendizagem, como parceiros e colaboradores, estimulando...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Ficha de Identificação - Artigo Final - Professor PDE/2013

Título: Escola de pais e a tríplice relação Escola - Família - Sociedade: Estratégias para a construção de um sujeito independente

Autor: Elaine Cristina Cézar Fukuda

Disciplina/Área: Pedagogia

Escola de Implementação: Colégio Estadual Antonio Diniz Pereira - E. F. M.

Município da escola: Ivaiporã

Núcleo Regional de Educação: Ivaiporã

Professor Orientador: Eliacir Neves França

Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Londrina

Relação Interdisciplinar: História, Ensino Religioso

Público: Corpo docente, pais/responsáveis e comunidade escolar

Formato do Material Didático: Caderno Temático

Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar a importância da relação escola-família-

sociedade, considerando os vários fatores implicados nessa analogia, como parte da pesquisa do Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria do Estado do Paraná, PDE/2013. Neste artigo, ressalta-se a relevância de refletir o quanto a educação e os costumes transmitidos pela família, influenciam à conduta e o comportamento apresentado pelo indivíduo. A relação da família/escola/sociedade deve ser adjacente e indissociável. Não se pode pensar em educação sem essa sintonia. Na família é onde acontece o desenvolvimento das primeiras habilidades, os primeiros ensinamentos. Nesse sentido caberia a escola, por seus conteúdos, suas formas e sistemas de organização, introduzir progressivamente a criança no mundo adulto, sem contudo, assumir para si o papel da família. A implementação do projeto foi realizada sobre o pensamento dos benefícios que a participação dos pais traz a educação, pois que aumentando as informações que os pais possuem sobre educação, família e sobre o relacionamento pai/filho, consegue-se uma melhora considerável no papel dos como educadores. Embasada nesta afirmação, justifica-se a implementação dar-se com pais e comunidade, já que os encontros além de fazerem a ponte entre pais, comunidade, professores e sociedade, forneceria a oportunidade de discutirem-se as questões acerca da educação. Como resultado, observou-se que o envolvimento das famílias melhora o sentimento de ligação à comunidade, e, portanto se faz necessário tal momento de discussão e reflexão, uma vez que, como demonstrado através da revisão de literatura esses encontros seriam uma oportunidade para a família valorizar e aproximar-se da instituição escolar de modo livre e espontâneo.

Palavras-chave: Família - Escola - Sociedade - Educação - Participação

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

Superintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas Educacionais

Programa de Desenvolvimento Educacional

ESCOLA DE PAIS E A TRÍPLICE RELAÇÃO ESCOLA - FAMÍLIA - SOCIEDADE: ESTRATÉGIAS PARA A

CONSTRUÇÃO DE UM SUJEITO INDEPENDENTE

Elaine Cristina Cézar Fukuda1 Eliacir Neves França2

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar a importância da relação escola-família-sociedade, considerando os vários fatores implicados nessa analogia, como parte da pesquisa do Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria do Estado do Paraná, PDE/2013. Neste artigo, ressalta-se a relevância de refletir o quanto a educação e os costumes transmitidos pela família, influenciam à conduta e o comportamento apresentado pelo indivíduo. A relação da família/escola/sociedade deve ser adjacente e indissociável. Não se pode pensar em educação sem essa sintonia. Na família é onde acontece o desenvolvimento das primeiras habilidades, os primeiros ensinamentos. Nesse sentido caberia a escola, por seus conteúdos, suas formas e sistemas de organização, introduzir progressivamente a criança no mundo adulto, sem contudo, assumir para si o papel da família. A implementação do projeto foi realizada sobre o pensamento dos benefícios que a participação dos pais traz a educação, pois que aumentando as informações que os pais possuem sobre educação, família e sobre o relacionamento pai/filho, consegue-se uma melhora considerável no papel dos como educadores. Embasada nesta afirmação, justifica-se a implementação dar-se com pais e comunidade, já que os encontros além de fazerem a ponte entre pais, comunidade, professores e sociedade, forneceria a oportunidade de discutirem-se as questões acerca da educação. Como resultado, observou-se que o envolvimento das famílias melhora o sentimento de ligação à comunidade, e, portanto se faz necessário tal momento de discussão e reflexão, uma vez que, como demonstrado através da revisão de literatura esses encontros seriam uma oportunidade para a família valorizar e aproximar-se da instituição escolar de modo livre e espontâneo.

Palavras-chaves: Família. Escola. Sociedade. Educação. Participação.

1 Pedagoga do Ensino Fundamental e Ensino Médio da rede pública do Estado do Paraná. Graduada

em Pedagogia, habilitação em pedagogia pela Univale/PR. Aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional, da Secretaria do Estado do Paraná, PDE/2014 2 Orientadora/ Professora Adjunta da Universidade Estadual de Londrina/UEL.

1. INTRODUÇÃO

O programa de Desenvolvimento Educacional – PDE é uma política pública

do Estado do Paraná, que estabelece o diálogo entre os professores do Ensino

Superior e os da Educação Básica, através de atividades teóricas-práticas

orientadas, tendo como resultado a produção de conhecimento e mudanças

qualitativas na prática escolar da escola pública paranaense. O referido programa

tem como objetivo proporcionar aos professores da rede pública estadual subsídios

teórico-metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais

sistematizadas, e que resultem em redimensionamento de sua prática.

Dentro do referido programa, nosso projeto teve a intenção de subsidiar

discussões de maneira dialógica e reflexiva, através de encontros com as famílias

em grupos de estudo, que serviram de base para a implementação do projeto de

intervenção pedagógica na unidade de ensino, acerca da importância do

relacionamento e cooperação entre família e escola para um efetivo

desenvolvimento integral do educando instigando a reflexão sobre os temas

apresentados de forma que a comunidade escolar possa conjeturar sua postura em

relação ao ato de educar.

Este artigo tem como principal objetivo investigar junto à teoria qual é o papel

da família e escola no desempenho escolar, pretendendo ainda, debater sobre a

importância da presença da família no processo de escolarização de maneira a

favorecer a construção de parceria no desenvolvimento das ações que propiciem o

sucesso escolar e social dos educandos atendidos nas séries finais do Ensino

Fundamental do Colégio Estadual Antonio Diniz Pereira - Ensino Fundamental e

Médio.

Após a investigação será necessário sintetizar a interação com pais,

professores, e comunidade escolar, visando oportunizar vivências que possibilitem

refletir sobre o processo de desenvolvimento do indivíduo, e propor ações para a

integração escola-comunidade, como processo fundamental para fortalecer as

lideranças escolares e a gestão democrática e participativa na referida unidade de

ensino.

O Colégio Antonio Diniz Pereira encontra-se situado na periferia da cidade de

Ivaiporã, contando com alunos oriundos da sua proximidade, filhos de trabalhadores

urbanos. Em relação às condições socioeconômicas e culturais podemos afirmar

que a maioria das famílias é de baixa renda, sobrevivendo de serviços informais que

não geram uma renda fixa ou a garantia dos direitos trabalhistas. Um dado que

demonstra a renda desta comunidade é o número considerável de famílias

atendidas por programas sociais, relatados na ficha de matrícula como: Bolsa

Família, Leite das Crianças, PETI, dentre outros. Outra realidade preocupante que

vem instalando-se não somente na escola, mas na comunidade, é o uso indevido de

drogas psicoativas, entre os jovens. Vemos que esta realidade e muitos dos

problemas de indisciplina em sala são ocasionados pela falta de um adulto que

acompanhe e oriente este aluno na sua formação.

Nesse contexto, se têm discutido, constantemente, sobre a tríplice relação

escola, família e sociedade. Eis a grande pergunta: Afinal de contas, por que tanto

interesse pelo assunto?

Compreender essa criança que chega à escola e se torna nela adulto3 passa

por compreender seus pares. Por isso, é importante que família e escola atuem em

parceria, onde seus papéis fiquem bem delimitados quanto à educação da criança.

Partindo dessa ideia, esse projeto propõe-se a uma reflexão sobre a relação

família/escola. Não há como pensarmos em educação sem o envolvimento da

família nesse processo.

Para a educação de uma criança, é necessário que esta se relacione com outro. O educar só é possível na convivência. Ninguém se educa sozinho. A criança começa a ser educada desde o momento em que é cuidada por alguém (arrisca-se dizer que desde sua concepção). A qualidade de tal educação dependerá das condições ambientais, do contexto em que se insere; mas, dependerá principalmente das condições do(s) adulto(s) que a educa(m) e, sem amor, não haverá disponibilidade deste(s) em dispensar cuidados e educar. (CUNHA, GUIMARÃES & MOURÃO, In: MACEDO, 2008, p. 143)

Escola e família são instituições sociais muito presentes na vida escolar do

aluno, de forma que só se pode pensar em sucesso educativo sem pensarmos

também em trabalho conjunto.

Educar4 é sem dúvida um papel que recai sobre a família e a escola.

3 Estou considerando o tempo de escolarização que abrange a Educação Infantil à Educação

Superior, visto que, na literatura específica encontramos que a fase adulta se inicia aos vinte e um anos de idade. 4 Educar é uma função de todos, tanto dos pais quanto dos educadores. O significado desse conceito

vai muito além do ato de transmitir conhecimento, é estimular o raciocínio, é aprimorar o senso crítico, as faculdades intelectuais, físicas e morais.

Por isso, quanto mais estreita for à relação entre família e escola, melhor será

o resultado.

Pais e professores têm objetivos comuns e precisam ser responsáveis nesse

processo.

Esse trabalho tem a finalidade de explorar o universo da família e sua

estreita relação com a escola e sua função de transmissora do conhecimento e

primeira mediadora do privado e do coletivo na formação do indivíduo.

Silva (2008, p. 70) aponta a escola "[...] como espaço social responsável por

colocar a criança diante do coletivo, transmitindo-lhe o legado humano".

Nesse contexto, uma série de estudos mostram que um bom desempenho

escolar está diretamente relacionado à participação dos pais na vida acadêmica dos

filhos. Por isso, é importante que família e escola atuem em parceria, onde seus

papéis fiquem bem delimitados quanto à educação.

Considerando os vários fatores implicados no desenvolvimento escolar das

crianças no ensino fundamental, entre eles, o papel da família nesse processo,

percebe-se que esta tem delegado à escola inúmeras incumbências, dentre as

quais, o papel de providenciar a educação moral do aluno. O não comparecimento

da família às reuniões pedagógicas e o não atendimento aos convites para entrega

de boletins foram algumas das questões motivadoras para a realização desse

projeto.

A escola de Pais que pretendemos estabelecer tem como objetivo

estabelecer um espaço para reflexões, subsidiando a família, levantando discussões

sobre princípios, para a promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos

humanos, da democracia e demais valores universais, proporcionando-lhes

condições de repensar maneiras de ajudar a família a desempenhar bem o seu

papel, sem a pretensão de solucionar ou oferecer receitas mágicas, mas valorizando

a instituição familiar e aproximando o adulto da realidade dos jovens.

Tendo, ainda, a finalidade de contribuir para a formação dos pais, e

educadores, através da transmissão de conhecimentos básicos de psicopedagogia e

de técnicas educativas que favoreçam o relacionamento entre pais e filhos, como

meio de valorizar, fortalecer e defender a família e indiretamente auxiliar os alunos

em suas relações familiares.

O objetivo geral poderia ser sintetizado através da seguinte forma:

desenvolver um trabalho coletivo no ambiente escolar incluindo a família no

processo ensino-aprendizagem, como parceiros e colaboradores, estimulando o

crescimento do aluno, resgatando o fortalecimento da autoestima a fim de aproximá-

los dos princípios desenvolvidos na escola como solidariedade humana, respeito,

democracia, inclusão, entre outros.

2. ESCOLA DE PAIS E A TRÍPLICE RELAÇÃO ESCOLA - FAMÍLIA - SOCIEDADE

2.1 Conceituando Família

A família é um fenômeno fundado na própria natureza do homem, sendo

essencial para sua sobrevivência. Prado (1981) afirma que a família é uma

instituição social, não é um simples fenômeno natural e estático, sendo que sofre

variações através do tempo e apresenta formas e finalidades diferentes dependendo

do grupo social e do lugar onde se encontra inserida.

Historicamente, o termo família origina-se do latim “famulus” que significa: conjunto de servos e dependentes, de um chefe ou senhor, que vivem sob um mesmo teto. Entre os chamados dependentes inclui-se a esposa e os filhos. Assim, a família greco-romana compunha-se de um patriarca e seus “fâmulos”: esposa, filhos, servos livres e escravos. (PRADO, 1981, p. 51)

De acordo com estudos em Ferrari e Kaloustian (1994), a família desempenha

papel decisivo na educação formal e informal. Em seu espaço são absorvidos os

valores éticos e humanitários, aprofundam-se os laços de solidariedade, constroem-

se as marcas entre as gerações e são observados valores culturais.

A primeira expressão da natureza social do homem é construída na família,

que se apresenta como o instrumento mais eficaz da sociedade. O futuro da

sociedade passa por ela, por isso mesmo diante dos inúmeros desafios e das mais

diversas ameaças, ela representa um porto seguro, o lócus da afetividade, o local

onde as relações devem ser baseadas em códigos de afeto e verdade.

As relações estabelecidas com a família de origem são as mais importantes da vida e vão representar a base do comportamento futuro. Os valores transmitidos pelas famílias tanto podem nortear com clareza a vida do sujeito, quanto impedir o desenvolvimento de relações familiares saudáveis, se os modelos transmitidos forem de dominação, abandono, injustiça ou desrespeito. Assim, a possibilidade da qualidade emocional do indivíduo está em sua capacidade de se tornar responsável por sua história futura elaborando seus traumas, a fim de se tornar um adulto enriquecido por sua história passada, independentemente de como ela tenha sido formada. (CUNHA, GUIMARÃES & MOURÃO, 2008, p. 142-156)

A família é um espaço de conflito e ao mesmo tempo, espaço de bem-estar,

passando muitas vezes a refletir diretamente sobre as aspirações e questões

pessoais do adulto que se pretende criar, é onde acontecem os primeiros

relacionamentos e trocas de experiência. Nela os filhos e demais membros

encontram o espaço que lhes garantem a sobrevivência, desenvolvimento, bem-

estar e proteção integral através de subsídios afetivos e, sobretudo, materiais.

Através dessa convivência, seus participantes elaboram e determinam suas relações

sociais, sua identidade e seus valores.

Vários são os tipos de famílias que têm acontecido ao longo da história, e que determina as diferentes fases que caracterizam a evolução da instituição familiar. A família não é a mesma de séculos atrás, a sua forma e estrutura foi alterada, as características do mundo capitalista repercutiu na organização familiar. Os tipos de família variam muito, embora a forma mais conhecida e valorizada de nossos dias seja a família composta de pai, mãe e filhos, chamada família "nuclear", "normal" etc. (PRADO, 1981, p.8)

Hoje em dia não podemos mais falar de família de forma generalizada, pois,

existem vários tipos de formação familiar, tendo cada uma delas suas características

e não mais seguindo padrões antigos. Nos dias atuais existem organizações

familiares de pais separados, chefiadas por mulheres, chefiadas por homens sem a

companheira, a extensa, a homossexual, e ainda a nuclear que seria a formação

familiar do início dos tempos formada de pai, mãe e filhos, mas não seguindo os

padrões antiquados de antigamente.

"A palavra FAMÍLIA, no sentido popular e nos dicionários, significa pessoas

aparentadas que vivem em geral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os

filhos. Ou ainda, pessoas de mesmo sangue, ascendência, linhagem, estirpe ou

admitidos por adoção". (PRADO, 1981, p 7).

Mesmo com toda essa diversidade podemos citar algumas características que

esses grupos vêm apresentando em comum como, a diminuição do número de

membros e de casamentos religiosos, aumento na participação feminina no mercado

de trabalho, participação de vários de seus membros na sua economia, o chefe

tende a ser mais velho quanto mais rica mais chefes responsáveis por ela, quanto

mais pobre mais os filhos contribuem na renda doméstica.

A respeito dessa geração alternativa, Danda Prado (1981), já apontava quatro

formas diferentes, cujas principais características são:

a) A família criada em torno a um casamento dito “de participação” – trata-se aí de ultrapassar os papéis sexuais tradicionais. b) O casamento dito “experimental” – que consiste na coabitação durante algum tempo, só legalizando essa situação após o nascimento do primeiro filho. c) Outra forma de família seria aquela baseada na “união livre”. d) A família homossexual, quando duas pessoas de mesmo sexo vivem juntas, com crianças adotivas ou resultantes de uniões anteriores, ou, no caso de duas mulheres, com filhos por inseminação artificial. (PRADO, 1981, p. 19-22)

A construção de uma sociedade mais solidária e humanitária é um grande

desafio, pois, por ser capitalista, ela impõe ao indivíduo novos modos de ser, fazer e

ter, e isto fazem com que o ser humano se torne cada vez mais egocêntrico e sem

domínio de si.

Sendo assim, concordo, quando Gueiros (2002) afirma que:

Conhecer a família da qual se fala e para a qual muitas vezes dirigimos nossa prática profissional é muito importante; também é imprescindível compreender sua inserção social e o papel que a ela está sendo atualmente destinado; e, da mesma forma, é necessária a mobilização de recursos da esfera pública, visando implementação de políticas públicas de caráter universalista que assegurem proteção social; entretanto, o mais fundamental é que o indivíduo e sua família tenham efetivas condições para prover sua autonomia, sejam respeitados em seus direitos civis e sociais (acesso à educação, à saúde, à justiça e ao trabalho) e contem com a possibilidade de elevação do nível de qualidade de vida, aspectos estes inerentes à construção da cidadania. (GUEIROS, 2002, p. 119-120)

Várias e rápidas modificações têm acontecido na sociedade, que vem

experimentando mudanças dramáticas, sendo submetida constantemente a novos

desafios, desde transformações legislativas e políticas até sociais.

2.2 A Família Brasileira

A nação brasileira surgiu da miscigenação entre índios e africanos

colonizados, e europeus colonizadores. A família brasileira sofreu durante a sua

colonização, indiscutível influência da família do tipo burguesa. Nesse contexto, o

pai era apresentado como a figura mais importante da família: “Esse modelo

genérico de estrutura familiar, denominado comumente de "patriarcal", serviu de

base para se caracterizar a família brasileira”. (SAMARA, 1986, p. 8)

A figura da mulher era aquela que se apresentava submissa e obediente.

Ainda em Samara (1986) lê-se,

Em Mulheres e Costumes do Brasil, Charles Expilly (1935) conclui que a "desconfiança", a inveja e a opressão resultantes prejudicavam todos os direitos e toda a graça da mulher, que não era, para dizer a verdade senão a maior escrava do seu lar. Os bordados, os doces, a conversa com as negras, o cafuné, o manejo do chicote, e aos domingos uma visita à igreja eram todas as distrações que o despotismo paternal e a política conjugal permitiam às moças e às inquietas esposas". (EXPILLY, Apud SAMARA, 1986, p 60-61)

A escravidão, tanto de índios quanto de negros, afetou diretamente a

formação da família brasileira. Não se pode deixar de mencionar a participação dos

africanos no desenvolvimento da sociedade brasileira, que mesmo tendo que se

adaptar a novos valores, crenças e culturas, trouxe consigo um profundo senso de

valor à família, forte sentimento de afetividade e respeito em relação as tradições e

aos laços sanguíneos.

Cabe destacar que os africanos, aqui no Brasil, eram considerados inferiores,

por isso não eram vistos como cidadãos que pudessem gozar de seus direitos. Essa

prática gerava a perda de vínculos afetivos e sanguíneos do negro. Muitas das

raízes africanas influenciaram na formação da nação brasileira e muitas de suas

práticas e valores se fazem presentes até os dias atuais.

A presença indígena, sem dúvida alguma foi, e ainda é, de fundamental

importância na constituição, organização e desenvolvimento da nação brasileira.

Os indígenas foram os primeiros habitantes do Brasil, e por isso, podem ser

considerados os legítimos brasileiros. A cultura indígena nos deixou como herança

desde nossos hábitos de higiene, até a maneira como educamos nossas crianças.

Os índios são extremamente afetuosos com as crianças, foi com os índios que

aprendemos a nos abaixarmos pra falar com as crianças, para olharmos nos olhos

delas e lhes transmitir firmeza, sem precisar de castigos físicos, além de profundo

respeito às normas e as leis da etnia a qual pertença. Com os autóctones, nos

tornamos um povo sensível, solidário, afetivo e com profundo sentimento de

abnegação e desprendimento.

Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, da do conquistador com a do conquistado. Organizou-se uma sociedade cristã na superestrutura, com a mulher indígena, recém-batizada, por esposa e mãe de família; e servindo-se em sua economia e vida doméstica de muitas das tradições, experiências e utensílios da gente autóctone. (FREYRE, 1992, p 160)

Nos capítulos 4 e 5, Freyre (1992) fala como nossa sociedade se desenvolveu

a partir do escravo africano, e nos mostra que foi no norte e nordeste do Brasil que

essa fusão cultural e racial entre brancos e negros se tornou mais acentuada.

Assim como o branco português, o negro africano, também foi apresentado

como colonizador, principalmente, o escravo doméstico, por sua ligação “intima” com

a casa-grande, sendo a negra, o elemento direto da colonização, através do sexo

forçado pelo senhor à mucama, resultando no filho mulato.

A sexualidade por parte da mulher branca era proibida, à mulher só cabia

uma função: ser mãe, qualquer comportamento liberal com relação ao sexo era visto

como objeto de apreensão entre os membros da sociedade.

Durante o século XVIII, pais e filhos homens, principalmente o primogênito,

eram vistos como o centro da família, objeto de investimentos afetivos, econômicos

e educativos, sendo que a afetividade entre pais e filhos variava da cidade para o

campo.

A família do século XIX era vista não apenas como um conjunto de

patrimônio, mas também como um capital simbólico de honra. A honra era percebida

de forma mais econômica que moral. Tudo que desqualificava o nome ou a

reputação era considerado uma ameaça a família. Filhos ilegítimos, ou com alguma

deficiência, eram objetos de uma censura muito maior do que a falência, por

exemplo.

O Brasil que se pretendia formar era livre e de cidadãos brancos. Os

nacionais - mestiços, negros, índios e brancos pobres - eram desqualificados como

cidadãos. Os imigrantes europeus já conheciam e aceitavam a cultura burguesa,

principalmente no se referia a família, porém, não dentro dos padrões rígidos da

burguesia. A família era vista como produtora e o Estado acreditavam e investiam na

sua capacidade de preparar cidadãos patriotas para servir ao país.

Na contemporaneidade este modelo é adotado como o ideal de família.

Segundo Samara (1986, p. 7) "a família brasileira seria o resultado da

transplantação e adaptação da família portuguesa ao nosso ambiente colonial, onde

prevalecem características patriarcais e tendências conservadoras em sua

essência".

Nas últimas décadas aconteceram modificações estruturais na família,

modificações essas que deixaram marcas na formação e nos relacionamentos intra-

familiares. A vida familiar se modificou para todos os segmentos da população

brasileira.

Esse é um fenômeno marcante que pode ser visualizado estatisticamente

desde o primeiro Censo, realizado em 1872, desde então, podem ser observadas

mudanças nas condições de reprodução da população; na diminuição da

fecundidade e mortalidade; no aumento da longevidade; nos padrões de

relacionamento entre os membros da família; no papel da mulher dentro e fora do

espaço doméstico; no aumento de uniões consensuais; etc. Hoje, os números cada

vez mais precisos e as informações amplamente detalhadas nos ajudam a entender

um país que vem se transformando a cada Censo, a conhecer a evolução da

população brasileira, e os caminhos percorridos pela família.

Apesar e também por toda esta variedade, segundo Szymanski (2003), o

importante é a vivência da família, suas inter-relações pessoais, seus valores,

crenças e normas.

As experiências vividas, devem ser consideradas, antes de tudo, e o individuo

que compõe a família precisa reconhecer-se no próximo. A família deve, seja qual

for sua formação assumir um compromisso afetivo com os membros que a

compõem.

À família cabe o papel de transmitir a ideia de princípios, valores morais,

respeito, senso de responsabilidade e ética. O papel da família também inclui a

atenção especial com a educação formal das crianças. Se interessar pelo

desempenho do filho na escola, bem como a forma que ele se relaciona com as

pessoas de seu convívio, e fora dele, auxilia na formação da criança como pessoa.

Então, se a família é a base, chegamos à pergunta norte desse estudo:

Porque o processo de integração família-escola é necessário?

2.3 A Relação Família/Escolar na Construção da Sociedade

O primeiro suporte teórico para a sustentação desse trabalho pode ser

embasado diretamente na lei. De acordo com o artigo 205 da Constituição Federal,

[...] a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).

A participação dos pais ou responsáveis tem-se mostrado de fundamental

importância para o desempenho escolar e social das crianças. O Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA), no seu artigo 4º discorre,

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 1990)

O dever da família com o processo de escolaridade e a importância de sua

presença no contexto escolar também é reconhecida publicamente através da Lei de

Diretrizes e Bases da Educação, que traz em seu artigo 1º o seguinte discurso,

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e

pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (BRASIL, 1996.)

Embora a legislação seja ampla no que tange à inclusão familiar no contexto

escolar, estas não têm sido suficientes para superar o grande atraso nessa relação.

Cunha, Guimarães e Mourão (2008) afirmam que somos preparados biologicamente

para sermos pais e mães, mas nosso intelecto não apresenta o mesmo crescimento,

portanto, sofremos nessa tarefa, influência da mídia, sociedade e afins.

A pergunta seguinte, mas não menos importante é: existe uma maneira de se

preparar para exercer o papel de pai ou mãe? De acordo com especialistas a

resposta é não. Mas podemos atenuar tal problemática com estudos em grupo,

ajuda de profissionais da saúde, etc. Outra forma de apoio é juntar esforços para a

orientação familiar através de debates, reflexões sobre o papel educativo dos pais,

trocando conhecimentos psicopedagógicos e experiências pessoais em palestras e

debates com profissionais qualificados. "A conquista da autonomia e a saúde da

família dependem dos padrões de interação dos pais com os filhos em diversas

situações e das práticas educativas utilizadas". (CUNHA, GUIMARÃES & MOURÃO,

2008, p. 143)

Com a participação da família, no cumprimento de sua função de educadora e

formadora, a escola poderá assumir a sua função social, sendo a unidade dinâmica

das relações de cunho histórico e cultural.

Através de Dessem (2005), conclui-se que o grupo familiar, tem como

obrigação, assumir-se como formador, onde a sua função primária é educar e criar.

Se a socialização da criança for assumida pela família, como um de seus principais

papéis, com a inclusão desse sujeito no mundo cultural mediante o ensino da língua

materna, dos símbolos e das regras de convivência em sociedade, de maneira a não

deixar todas essas ações para a escola, esta pode dedicar-se a tarefa de constituir-

se ponto estratégico para o desenvolvimento econômico e social do indivíduo, de

modo que o sujeito possa desenvolver todos os aspectos da vida acadêmica e

pessoal, tendo em vista a emancipação desses indivíduos e a democratização da

sociedade.

A necessidade da relação entre família e escola, recai principalmente na

possibilidade de compartilhar critérios educativos para que possam minimizar as

possíveis diferenças entre os dois ambientes. As ideias sobre educação destas duas

instituições devem ser o mais próximo possível, pois disso depende o crescimento

harmonioso do aluno, tanto como cidadão como estudante, passível de crescimento

e sucesso acadêmico. A sociedade deve permear a colaboração entre as duas

instâncias, família e escola, de forma que possa contribuir para a base do indivíduo.

Em relação ao sistema escolar, a sociedade é um superestima. "A escola recebe da

sociedade uma multiplicidade de elementos e devolve à sociedade os produtos de

sua atuação". (DIAS,1998, p. 130)

O diálogo é um fator importante na relação família/escola. A família tem um

papel imprescindível na vida de seus filhos; é onde acontece o desenvolvimento das

primeiras habilidades, os primeiros ensinamentos através dessa educação o

indivíduo aprende a respeitar os outros, a conviver com regras e respeitar a

sociedade onde está inserido. A escola deve, outrossim, reforçar esses primeiros

valores, de maneira a acrescentar formas de conduta, mas não assumindo para si o

papel da família. Teoricamente, pode-se afirmar que, a família teria a

responsabilidade pela formação do indivíduo, e a escola, por sua informação.

[...] O sistema escolar é um sistema aberto, que tem por objetivo proporcionar educação. A rigor, ele cuida de um aspecto especial da educação, a que se poderia chamar de escolarização. A educação proporcionada pela escola assume um caráter intencional e sistemático, que dá especial relevo ao desenvolvimento intelectual, sem contudo descuidar de outros aspectos, tais como o físico, o emocional, o moral, o social.[...] [...]Originariamente a escola foi criada para cuidar do desenvolvimento intelectual, vendo-se forçada a atender aos demais aspectos da educação por razões de ordem social - a sociedade vem exigindo sempre mais da escola - e por razões de ordem lógica. A educação é um processo integral, não podendo desenvolver-se em setores isolados. A educação entendida em seu sentido pleno realiza-se através de uma multiplicidade de agências sociais e não apenas através da escola. [...]. (DIAS, 1998, p. 127-136)

Quanto maior a relação dialógica entre família e escola, que são pontos de

concepção e sustentação do indivíduo, e podemos porque não, ousar dizer que são

marcos de referência existencial deste indivíduo, quanto melhor serão os resultados

obtidos na formação deste sujeito. A participação dos pais na educação formal dos

filhos deve ser constante e consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas

e complementares e é importante que pais, professores, e filhos/alunos

compartilhem experiências, e trabalhem as questões envolvidas no seu cotidiano.

Dias (1998), nos lembra que a escola, como instituição do saber

historicamente constituído deve priorizar o conhecimento e a educação.

O sistema escolar tem como objetivo proporcionar educação, considerando, porém, a educação como um aspecto específico, sinônimo de escolarização, com caráter intencional e sistemático, enfatizando o desenvolvimento intelectual assim como o físico, emocional, moral e social. Intencional porque o sistema escolar tem como objetivo a transmissão dos conhecimentos e da cultura historicamente construídos, a formação humana etc.; e sistemático porque está organizado em níveis de ensino, em séries (ou anos) e em disciplinas distintas, isto é, organizado. Por outro lado, a educação proporcionada pelos demais agentes sociais (aquela que o indivíduo geralmente obtém fora da escola) é quase sempre informal e assistemática. (DIAS, 1998, p. 130)

Cabe considerar que o sistema escolar, sendo um sistema imerso em um

sistema maior, a sociedade, deve ser compreendido como parte dessa sociedade e

com objetivo de formação integral do homem (que vive nesta sociedade). Todo

sistema escolar é montado para cumprir uma função social. Desse modo os seus

objetivos devem, necessariamente, expressar os anseios, as aspirações, os valores,

os conceitos e as tradições da própria sociedade.

De acordo com Dias (1998), a sociedade contribui com a escola através de

cinco elementos:

1) Conteúdo cultural: A sociedade conhecimentos adquiridos no transcorrer de sua história, incluindo sua cultura, suas descobertas científicas, seu patrimônio histórico-social e suas conquistas tecnológicas, que transformam continuamente o mundo. É dessa massa de conhecimentos que a escola retira o conteúdo de seus currículos e programas.

2) Recursos humanos: O funcionamento do sistema escolar depende de pessoas com diferentes graus e tipos de qualificação: administradores escolares, professores, técnicos, pessoal auxiliar). É da sociedade que o sistema escolar retira estes recursos humanos.Recursos financeiros: No mundo moderno os sistemas escolares são organizações de enormes proporções, absorvendo considerável parcela dos orçamentos públicos e particulares.

3) Os recursos financeiros injetados no sistema escolar constituem elemento indispensável a seu funcionamento e tendem a crescer, mesmo em termos percentuais, pois os sistemas escolares, principalmente nos países em desenvolvimento, ainda não alcançaram o pleno atendimento da população, quer do ponto de vista quantitativo, quer do qualitativo.

4) Recursos materiais: A indústria produz uma multiplicidade de artigos que são necessários ao sistema escolar: material didático, mobiliário, artigos de escritório, artigos para manutenção e limpeza.

5) Alunos: Os sistemas escolares existem porque existem alunos. (DIAS, 1998, p. 133-135)

De acordo com especialistas, o papel da escola além de proporcionar a

aquisição do conhecimento, é educar para o convívio com várias pessoas,

devolvendo assim para a sociedade um indivíduo capaz de agir e influenciar esta

mesma sociedade de onde ele veio.

Segundo Sacristán & Goméz (2000) sobre o objetivo básico da escola e as

suas funções sociais, podemos levantar algumas questões,

A escola deve prover os indivíduos "não só, nem principalmente, de conhecimentos, ideias, habilidades e capacidades formais, mas também, de disposições, atitudes, interesses e pautas de comportamento". Assim, tem como objetivo básico a socialização dos alunos para: "prepará-los para sua incorporação no mundo do trabalho" (p. 14) - indivíduos produtivos; "que se incorporem à vida adulta e pública..." (p.15) - cidadãos. (SACRISTÁN & GOMÉS, 2000)

Analisamos segundo os referidos autores quatro funções básicas da escola:

1) Função reprodutora (socialização do indivíduo): garantir a reprodução social e cultural como requisito para sobrevivência da sociedade; (p. 14)

2) Função educativa 1 (compreensiva): utilizar o conhecimento para compreender as origens das influências, seus mecanismos, intenções e consequências, e oferecer para debate público e aberto as características e efeitos para o indivíduo e a sociedade desse tipo de processo de reprodução; (p. 22)

3) Função educativa 2 (transformadora): provocar e facilitar a reconstrução de conhecimentos, atitudes e formas de conduta que os(as) alunos(as) assimilam direta e acriticamente nas práticas sociais de sua vida anterior e paralela à escola; (p. 25)

4) Função compensatória: atenuar, os efeitos da desigualdade e preparar o indivíduo para lutar e se defender nas melhores condições possíveis, no cenário social. (p. 24) (SACRISTÁN & GOMÉS, 2000)

Se a escola cumprir seu papel frente a estas funções básicas, ela estaria

devolvendo em "produto" o que recebe da sociedade em direito e autonomia. Mas

para que ela possa cumprir seu papel, faz-se necessário que a família assuma

também o seu papel de direito que é segundo Freire (2000), o da formação da

personalidade e do caráter do indivíduo que dela é dependente.

Partindo da ideia que a família é a base para qualquer ser humano, o autor

não faz aqui, é lógico, referência somente à família com laços de sangue, mas

também as famílias constituídas através de laços afetivos, como um conjunto de

pessoas que se unem pelo desejo de estarem juntas, de construírem algo e de se

complementarem. Educar uma criança significa ensiná-la a se tornar um ser

civilizado. Isso pressupõe no que diz respeito aos pais, usar de firmeza, constância

e, sobretudo, a convicção de que essa autoridade é legítima porque sem ela não é

possível uma construção correta da criança.

Em Freire (2000), vemos que os valores, princípios e normas morais são

construídos a partir da interação do sujeito com os diversos ambientes sociais, na

convivência diária, principalmente com o adulto, e primeiramente na família.

A mim me dá pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a “tirania da liberdade” em que as crianças podem tudo: gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade. (FREIRE, 2000, p. 29.)

Também Gokhale (1980) relata que a família não é apenas o berço da cultura

e a base para o indivíduo, também é o centro da vida social. A educação bem

sucedida da criança no ambiente familiar é que vai servir de apoio à sua criatividade

e ao seu comportamento produtivo quando adulto. A família tem sido, é e sempre

será a influência mais poderosa para o desenvolvimento da personalidade e do

caráter das pessoas.

Faz-se importante ressaltar que, as famílias vivem um período de transição e

conflito, em que pais ficam entre os modelos de educação de acordo com os quais

foram criados e os modelos, que querem adotar para educar seus filhos. É

necessário ressaltar que a mudança da educação baseada no autoritarismo, como

poder total e irrestrito dos pais para outro em que predomina o individualismo e a

igualdade de relações, tem transformado a relação entre pais e filhos em uma

disputa de território, onde os pais perdem a visão de seu papel social como

responsável, e acabam criando indivíduos egoístas, sem equilíbrio emocional e

afetivo, e sem condições de suportar frustrações e decepções.

Cabe dizer que a construção da autonomia moral na criança, não se faz com

autoritarismo, nem com permissividade, mas, ela só é possível em um ambiente

democrático, constituído por relações de cooperação e respeito mútuo, possibilitado

pelas trocas sociais. Vive-se um tempo em que se faz necessário repensar o que

certos valores representam no núcleo familiar, resgatar valores perdidos e eliminar

ações negativas.

Acreditar que a autoridade não pode estar vinculada ao amor familiar traz

grandes prejuízos ao papel de educador dos pais.

A disciplina indutiva leva a criança a modificar voluntariamente seu comportamento atentando para as conseqüências dos seus atos. Já a coercitiva se caracteriza pelas práticas que usam da aplicação direta da

força e do poder dos pais, incluindo punição física, privação de privilégios e ameaças, o que impede o desenvolvimento de habilidades como auto-estima e autonomia. A diferença básica entre as duas é que, ao passo que na disciplina coercitiva, a percepção dos valores morais não é internalizada, na indutiva, ocorre a internalização das regras e da moralidade. (CUNHA, GUIMARÃES & MOURÃO, 2008, p. 149)

O Parágrafo único do Capítulo IV do Estatuto da Criança e do Adolescente

(BRASIL, 1990), diz que "é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo

pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais", ou seja,

trazer as famílias para o convívio escolar já está prescrito no Estatuto da Criança e

do Adolescente o que esta faltando é trazer esta lei à vida. Família e escola são

pontos de apoio ao ser humano; são sinais de referência existencial. Quanto melhor

for a parceria entre ambas, mais significativos serão os resultados na formação do

educando/filho. A participação dos pais na educação formal dos filhos deve ser

constante e consciente.

É preciso que pais e educadores trabalhem juntos em busca dos mesmos

objetivos. Uma educação harmoniosa e coerente, com uma perfeita integração

família-escola poderá produzir uma relação satisfatória, além de propiciar

segurança, tranquilidade e confiança ao sujeito.

Escola e família necessitam caminhar juntas, em busca de uma educação de

qualidade, transmitindo assim os primeiros conceitos de civilidade e regras da vida

social.

Ainda existem muitas dificuldades nesta relação. Se por um lado os pais

ainda não têm uma perfeita compreensão do que seja a atividade da escola, por

outro lado, a escola ainda não conseguiu conquistar a família para contribuir com o

trabalho da escola. Neste ambiente normalmente os pais só frequentam a escola

quando convidadas para as reuniões, nem sempre periódicas, ou para eventos ou

festas comemorativas realizadas no ambiente escolar. Outra coisa que se faz

necessária, tanto na família quanto na escola, é a atitude democrática na esfera de

todas as relações envolvidas. Ou seja, a relação da criança com a família deve ser

democrática, assim como a relação da criança com a escola e da escola com a

família. Tudo isso só faz sentido se pensarmos no desenvolvimento da criança.

Quando falamos em desenvolvimento, estamos falando de indivíduos, que

deverão atuar numa sociedade participativa, e de acordo com uma educação

socializada e igualitária a todos os cidadãos. Assim, compreender a relação escola-

família-sociedade, e fazer dela funcional, é compreender como o ser humano se

relaciona com o ambiente, com a natureza, em suma, com a vida, de maneira a

torna-se sujeito independente, crítico e político.

Com isto, a relação família-escola torna-se essencial, pois esta é ponto de

apoio e sustentação ao ser humano e marco de referência na consciência coletiva,

como fortalecimento das consciências particulares, não com a ruptura dos laços

sociais, mas, ao contrário, com a intenção de promover a transformação da

sociedade. Quanto melhor for a relação entre ambas, mais positivas e significativas

serão os resultados na formação do sujeito.

A participação dos pais na educação dos filhos deve ser constante. Vida

familiar e vida escolar são complementares. É importante que educadores, pais e

filhos/alunos dividam experiências, entendam e trabalhem as questões envolvidas

no seu cotidiano, buscando compreender as nuances das relações entre a vida

familiar e escolar. Uma gestão que priorize o aperfeiçoamento da democracia e da

autonomia se dá através do exercício diário de suas ações. É mister, no atual

momento a participação organizada da "comunidade escolar" na vida da instituição

escolar. Os pais devem, cada vez mais, interferir nos destinos da escola, para

assegurar que o ensino, por ela ministrado a seus filhos, seja de qualidade.

Contribuindo, acima de tudo, para a formação integral do indivíduo que deixa a

condição de objeto, tornando-se sujeito de suas próprias ações no processo

educativo e em sua formação ao longo da vida.

É necessário que as famílias criem o hábito de participar da vida escolar das

crianças, que perceba a importância de se relacionar com a escola na busca de um

objetivo em comum: "educação de qualidade" para este "sujeito social". Por outro

lado, a escola deve ser a responsável por criar meios de aproximação com as

famílias e a comunidade, orientando e mostrando que educar não é papel exclusivo

das escolas, é papel de todos.

3. METODOLOGIA

O presente projeto será desenvolvido no Colégio Estadual Antonio Diniz

Pereira. Ensino Fundamental e Médio.

O público alvo será o corpo docente, pais/responsáveis e comunidade

escolar.

Buscará promover um aprofundamento teórico sobre a relação escola-família-

sociedade, e a função da escola através de grupo de estudo e formação para

encontro com pais, professores e equipe pedagógica, buscando refletir sobre essas

temáticas e a sua articulação com o trabalho docente, colaborando para uma

mudança nas atitudes dos pais e professores.

Devendo incentivar ainda, a aproximação entre família e escola, reorientando

as atividades da escola, de maneira a construir um trabalho de parceria em prol da

educação, através de um grupo, aqui denominado "Escola de Pais".

Pretende-se fazer desses grupos de estudo, um encontro periódico da Escola

de Pais, onde possam ser discutidas temáticas referentes a tarefa de educar,

abordando temas que vão ao encontro dos interesses e possíveis dificuldades no

processo de educar. Trabalhando com os pais a necessidade de serem pais

educadores, proporcionando um espaço para informação, troca de experiências e

conhecimento sobre educação, de forma a incentivar a participação ativa da família

na escola, valorizando e fortalecendo os vínculos afetivos entre

pais/alunos/educadores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do estudo foi possível algumas observações quanto ao papel da

família e da escola como duas instituições corresponsáveis na formação do

educando. Assim, nada melhor de que trabalharem juntas para que o processo de

formação seja satisfatório.

Verificou-se junto à teoria consultada que tanto família quanto escola

possuem algumas características que lhes são peculiares como à formação de

valores, por exemplo. Ambas trazem como “função principal” o papel de educar o

cidadão mediante princípios morais, cabendo considerar que, sem a parceria entre

escola e família a educação desses valores e preceitos, se realizam de forma muito

mais custosa.

Para que isso aconteça cabe a escola proporcionar, além de reuniões

interativas, formativas e dinâmicas, momentos democráticos de aproximação e

interação com a família para que ambas consigam formar seus filhos e alunos.

Nos encontros, com base nos depoimentos de pais e professores acreditamos

que o desempenho escolar das crianças melhorará a partir do bom relacionamento

entre família e escola. Evidenciou-se após cada encontro como é benéfica à relação

Família/Escola no processo educativo da criança. Quanto melhor for o

relacionamento entre estas duas instituições mais positivo será esse desempenho

escolar e pessoal do indivíduo, pois vida familiar e vida escolar se complementam.

A principal proposta da ação do grupo de estudo aqui denominado "Escola de

Pais" é a formação de um grupo de estudo com pais, professores e equipe

pedagógica, que busque refletir sobre a e a sua articulação com o trabalho docente,

colaborando assim para uma mudança nas atitudes dos pais e professores, que

enfoque no incentivo e aproximação da família com a escola, reorientando as

atividades da escola de forma a construir um trabalho de parceria em prol da

educação.

Ampliar a participação dos pais na formação dos educandos, não consiste

simplesmente em trazer os pais para escola, mais sim fazê-los participarem

ativamente do desenvolvimento de seus filhos, principalmente no tocante aos limites,

e a formação de princípios morais. Sendo assim, o pai deve estar presente no

cotidiano escolar, valorizando todos os acontecimentos diários, incentivando no

desenvolvimento intelectual da criança de modo a sempre incentivar seu

crescimento pessoal, respeitando os limites e adquirindo responsabilidade em sua

vida.

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