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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013
Título: As Políticas Educacionais e os usos da Informação e Comunicação Como Promotores da Gestão Democrática
Autora: Eloni dos Santos Perin
Disciplina/Área: Gestão Escolar
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Polivalente –Rua Padre João Antonio S/N
Município da escola: Ponta Grossa PR
Núcleo Regional de Educação: Ponta Grossa PR
Professor Orientador: Zelia Maria Lopes Marochi
Instituição de Ensino Superior: UEPG
Relação Interdisciplinar:
Políticas Educacionais, Gestão Escolar Democrática, Ambientes Virtuais, Gestão do Conhecimento e da Informação.
Resumo:
Na atualidade as políticas educacionais incentivam na escola a gestão democrática e participativa. No entanto, a autonomia da escola é relativa, pois é limitada pelas políticas públicas e precisa dar conta das demandas sociais e educacionais, considerando a pouca participação da comunidade escolar e o avanço tecnológico, que exigem mudanças na forma de gestão. Neste contexto, este trabalho (PDE) tem o objetivo de investigar os usos da informação e comunicação, a partir de ambientes virtuais colaborativos e, identificar nestes ambientes, ações que favoreçam a comunicação interna, promovam a participação da comunidade na gestão escolar e propiciem conhecimento e discussões sobre as políticas públicas externas e os problemas que permeiam o cotidiano escolar. Por isso, ambientes virtuais contribuem para melhorar a interação e participação da comunidade escolar. Para tal, será proposto uso de ambiente virtual colaborativo na escola, onde as informações e experiências possam ser socializadas, por meio de cursos e atividades permanentes. Como resultados, espera-se favorecer a comunicação interna da instituição escolar, propiciando engajamento da comunidade na luta social pela evolução das políticas educacionais e auxiliando a escola a cumprir sua função social com a qualidade social demandada pela sociedade e pelas políticas públicas.
Palavras-chave:
(3 a 5 palavras)
Políticas Educacionais, Gestão Escolar Democrática, Ambientes Virtuais, Gestão do Conhecimento e da Informação.
Formato do Material Didático: Caderno Pedagógico
Público: Equipe Gestora, Professores, Agentes Educacionais I e II
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ – SEED
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA – UEPG
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
ÁREA: GESTÃO ESCOLAR
ELONI DOS SANTOS PERIN
AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E OS USOS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO COMO PROMOTORES DA GESTÃO DEMOCRÁTICA
PONTA GROSSA
2013
ELONI DOS SANTOS PERIN
AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E OS USOS DA INFORMAÇÃO E
COMUNICAÇÃO COMO PROMOTORES DA GESTÃO DEMOCRÁTICA
Produção didático-pedagógica desenvolvida para o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), Secretaria de Estado da Educação (SEED) em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Orientadora: Drª Zelia Maria Lopes Marochi
PONTA GROSSA 2013
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................................................................... 2
Unidade 1 - INRODUÇÃO ...................................................................................................... 2
Unidade 2 – CONTEXTO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL .................. 2
Unidade 3 – GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E A PROMOÇÃO DA ESCOLA DE QUALIDADE PRA TODOS .............................................................................................. 2
Unidade 4 – AÇÕES DE COMUNICAÇÃO E GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INFORMAÇÃO NA ESCOLA ................................................................................................. 2
Unidade 5 – SÍNTESE E AVALIAÇÃO .................................................................................. 2
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ste caderno pedagógico está organizado em cinco unidades
temáticas, que serão analisadas, discutidas e implementadas com a
comunidade escolar.
A primeira unidade apresenta a introdução geral da proposta de intervenção,
abordando os principais temas do caderno pedagógico, que servirão como
referência no processo de formação a serem deflagrados para equipe técnica,
professores e funcionários em geral.
A segunda unidade abordará as políticas educacionais no Brasil, no seu
contexto histórico, de acordo com os ciclos de políticas, para favorecer o debate no
contexto da prática.
Na terceira unidade os debates estarão centrados na questão da gestão
democrática e participação social, com foco na qualidade da educação.
Na quarta unidade, discute-se a gestão do conhecimento e da informação
como suporte para a troca de informações e experiências no contexto escolar, como
forma de potencializar a comunicação institucional interna, bem como poderá servir
como ambiente favorecedor da socialização dos projetos e trabalhos de
enriquecimento curricular desenvolvidos na escola, em busca do necessário apoio
de todos.
E por fim, na quinta e última unidade, será feita uma retomada geral sobre os
temas estudados, com a proposta de um curso para implementação do projeto PDE
na escola. Como forma de avaliação, será proposta a elaboração de um paper1
sobre um dos assuntos abordados neste caderno pedagógico, como forma de
avaliação do sistema implementado, desenvolvido por equipes de discussão
formadas por áreas de formação/conhecimento.
1 O paper é um pequeno artigo científico com um tema pré-determinado. Mais informações acesse:
<http://pt.scribd.com/doc/6874861/PAPER-como-fazer>.
E
APRESENTAÇÃO
6
ambiente escolar é um espaço marcado por contínua tensão entre o
proposto pelas políticas educacionais e a prática real, desafiadora, do
cotidiano. As políticas públicas desenvolvidas no Brasil a partir da década
de 1990, norteiam as ações das instituições educacionais através das concepções
de gestão democrática, resultantes do gerencialismo2.
No entanto, a democracia não pode se
resumir às decisões do contexto da prática da
instituição, mas deve ser capaz de influenciar o
contexto da elaboração das políticas.
Por isso, faz-se necessário conhecer as
políticas educacionais e as suas interferências no
cotidiano da escola, na cultura organizacional e
no seu contexto social. É também necessário
que o trabalho do gestor escolar, embora tenha
atribuições, compromissos e responsabilidades
diante do Estado, não esteja apenas atrelado ao
este poder, mas seja o profissional de gestão não
somente envolvido, mas comprometido com a
comunidade na qual a escola está inserida.
A gestão participativa ou democrática
incentivada pelas atuais políticas educacionais
deve levar em consideração que o gestor escolar
possui autonomia relativa para fazer alterações e ponderações sobre as políticas
educacionais ou a cultura organizacional do sistema a que pertence. Ao mesmo
tempo, precisa dar conta das demandas sociais e educacionais, levando em conta o
avanço tecnológico que exige mudanças na forma de gestão. Conforme comentam
Minioli e Silva (2013, p. 180):
2 O gerencialismo é um conceito que caracteriza-se por uma reforma na Administração Pública
ocorrida no Brasil na década de 1990 e que foi pautada nas concepções do neoliberalismo, contrapondo-se a Administração Pública Burocrática (PAULA, 2005).
O
A gestão da escola pública pode ser entendida como um processo democrático, no qual a democracia é compreendida como princípio, posto que se tem em conta que essa é a escola financiada por todos e para atender ao interesse que é de todos; e também como método, como um processo democratizante, uma vez que a democracia é também uma ação educativa, no sentido da conformação de práticas coletivas na educação política dos sujeitos (SOUZA, 2009).
Unidade 1 - INRODUÇÃO
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A escola tendo em vista as mudanças provenientes dos avanços tecnológicos, neste início de século e as lacunas deixadas pela não incorporação dos conhecimentos provenientes da cultura da informação no espaço escolar, necessita incorporar em suas práticas, um modelo ecológico de gerenciamento da informação.
Além destas questões, há ainda grande quantidade de informações que
chegam à escola e que necessitam ser compartilhadas pelo coletivo de profissionais
que atuam nas instituições. No entanto, muitos dos profissionais trabalham em mais
de uma instituição e, com isso, a participação em reuniões e debates coletivos pode
ser prejudicada, como também a participação democrática nas decisões ou até
mesmo nos processos de mudança.
Lück (2011) identifica aspectos de mudança nas organizações a partir da
cultura organizacional, dinâmica e mutável, como resultado da aprendizagem
coletiva. Essa aprendizagem pode ser considerada como uma participação
responsável nas decisões e execução de ações da escola, em busca de resultados
educacionais efetivos e significativos.
As novas experiências, derivadas de
novos eventos e circunstâncias, se bem
direcionados podem promover um clima
organizacional voltado à proatividade. O gestor
pode aproveitar este clima para “reforçar a
autoimagem de todos os participantes da
dinâmica escolar e levá-los a incorporar, como
seu modo de ser e de fazer (sua cultura) as
novas práticas e atitudes, os sentimentos e
emoções favoráveis” (Ibid, p. 96).
A pouca participação social dos pais e responsáveis pelos estudantes é outra
questão a ser discutida, pois numa sociedade que prioriza o consumo, concebido
como “apropriação coletiva” (CANCLINI, apud LYRA, 2001), em que só interessa
aquilo que trouxer vantagem imediata ao indivíduo, há de se esperar que a
participação da comunidade nas questões educacionais seja restrita a uma condição
minimista.
O clima organizacional é visto por Lück (2011, p. 66) como a maneira que as pessoas reagem à organização, a normas formais e a comportamentos e costumes no interior da escola. O clima faz parte da cultura organizacional
8
Além disso, as mudanças das políticas públicas também afetam a rotina e
ações desenvolvidas na escola, uma vez que limitam as decisões da gestão escolar
de acordo com as verbas liberadas e os programas de cada governo.
Para o auxílio à gestão na discussão de propostas, elaboração de planos e
projetos, bem como à formação continuada de professores e como ferramenta de
apoio ao ensino e aprendizagem, uma opção são os ambientes virtuais, que são
cada vez mais difundidos e assumem com a disseminação de informações, ampla
função social no espaço escolar. Assim, poderá contribuir à gestão escolar a criação
de mais um espaço de comunicação na escola, democratizando o acesso às
informações e promovendo a participação social através de ambientes virtuais, como
o moodle e as redes de comunicação (internet). Quanto mais esclarecida, educada e
informada for a sociedade, mais cresce a demanda por serviços públicos em
quantidade e qualidade, conforme conceito de governabilidade discutido por Préve,
et at (2010, p.153).
Na sociedade da informação, o povo sabe muito bem o que quer e do que
precisa, passando a exigir com naturalidade que instituições burocráticas e
obsoletas sejam substituídas por organizações ágeis e flexíveis. Nesse contexto, as
novas instituições devem centrar-se nas necessidades dos usuários e, por isso,
encontram-se em constante transformação. A gestão coerente está, portanto, mais
próxima da mudança do que da estabilidade.
A gestão democrática, neste aspecto, considera que a sociedade precisa
conhecer as políticas públicas que norteiam as ações escolares, participar
efetivamente dessas ações e perceber o resultado do trabalho coletivo. Da mesma
forma, os ambientes virtuais devem ser usados para agilizar as trocas de
informações entre indivíduos e organizações e entre estas.
UNIDADE 1A - PARA REFLETIR:
1. As situações apresentadas podem acarretar falhas na comunicação
interna da instituição?
9
Uma das vantagens da comunicação eficaz numa instituição é contribuir para
melhorar o clima da organização.
Também é possível transformar o sistema de comunicação informal em um
sistema formal. O sistema de comunicação formal é uma parte da estrutura
organizacional e inclui as relações de supervisão, grupos de trabalho, comitês
permanentes e sistemas de informação da administração. Já o sistema informal
surge da interação diária dos membros de uma organização e baseia-se em
proximidade, amizade, interesses comuns e benefícios políticos, mais do que em
deveres formais do cargo (PRÉVE, et al., 2010, p. 134).
Portanto, é importante que a escola tenha uma proposta de gestão do
conhecimento, que busque compreender e desenvolver técnicas e metodologias que
possam ampliar as experiências, as habilidades e as competências da sociedade e
dos envolvidos com os sistemas de ensino (ALBUQUERQUE, 2011, p104).
Também é importante observar que o gestor escolar precisa atuar de acordo
com os princípios da Administração Pública: a legalidade, a impessoalidade, a
moralidade, a publicidade e a eficiência (art. 37, CF, 1988).
A partir de uma gestão democrática, baseada nestes princípios
constitucionais, nas políticas educacionais, na gestão do conhecimento e da
informação e com auxílio dos ambientes virtuais, esta proposta de intervenção
pretende disseminar informações, discutir questões da realidade escolar para
auxiliar o desenvolvimento de ações estratégicas que visam fortalecer a gestão
democrática na escola.
UNIDADE 1B - PARA REFLETIR:
1. Qual tema da prática escolar dos abordados no texto considera
importante ser aprofundado? Sugira temas para serem estudados em
ambientes virtuais.
2. Como a participação por meio de ambientes virtuais pode contribuir
com o trabalho da gestão escolar?
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Referências
ALBUQUERQUE, J. C. M. de Sistemas de Informação e Comunicação no Setor Público. Florianópolis: UFSC; Brasília: CAPES: UAB. 2011.
BALL, S. J. Diretrizes Políticas Globais e Relações Políticas Locais em Educação. Currículo sem Fronteiras, v.1, n.2, pp.99-116, Jul/Dez 2001.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 28 set 2013.
FREITAS, M. E. de. Cultura Organizacional: evolução e crítica. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
LYRA, R. M. da S. Consumo, comunicação e cidadania. Ciberlegenda n. 6, 2001. Disponível em: <http://www.uff.br/mestcii/renata2.htm>. Acesso em: 28 mai 2013.
LÜCK, H. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011
MINIOLI, C. S. SILVA, H. de F. N. Gestão do conhecimento no espaço escolar: a memória organizacional como estratégia do trabalho pedagógico. Curitiba, PR: CRV, 2013.
MORAN, J. M. Desafios na comunicação pessoal. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2007.
PAULA, A. P. P. de Administração pública brasileira entre o gerencialismo e a gestão social. Revista de Administração de Empresas. vol. 45 n.1 São Paulo: Jan./Mar. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75902005000100005>. Acesso em: 20 jun 2013.
PRÉVE, A. D. et. al. Organização, Processos e Tomada de Decisão. Florianópolis: UFSC; Brasília: CAPES:UAB. 2010.
SOUZA, A. R. de. Explorando e construindo um conceito de Gestão escolar democrática. Educação em Revista. Belo Horizonte. v.25. n.03. p.123-140 | dez. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/edur/v25n3/07.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2013.
SOUZA, T. R. de, A relação política entre o Brasil e a organização para cooperação e desenvolvimento econômico (OCDE). UFF-NEIC. 33ª ANPED: Educação no Brasil:o balanço de uma década. GT05, Estado e Política Educacional. Caxambu/MG: 2010. Disponível em: http://www.anped.org.br/33encontro/internas/ver/trabalhos-gt05. Acesso em: 25 set. 2013.
11
o contexto das políticas públicas brasileiras instituídas a partir da
década de 1990, evidencia-se o crescimento das instituições
democráticas, decorrentes da Administração Pública Gerencial. Esta
é um modelo de administração do serviço público, resultado de políticas de ideologia
neoliberal, em que o Estado destitui-se de sua responsabilidade financeira,
passando-a para a sociedade civil. No entanto, o Estado mantém seu controle nas
questões administrativas e estruturais, conservando sua ideologia.
Segundo Souza (2010, p. 5), na década de 1990, pacotes de “reformas”
atreladas ao liberalismo que favoreceriam empresários da educação e da indústria,
elaboradas por organismos internacionais, como a Organização de Cooperação e
Desenvolvimento Econômico – OCDE, foram propostas para serem implantadas
pelos ministérios de educação de diversos países que, em troca, obtinham
financiamento para a Educação.
Foram sugeridos para discussão os seguintes temas: o desenvolvimento
humano tomado por políticas de contenção à pobreza; a formação contínua ou
educação ao longo da vida garantindo espaços para a reprodução do capital,
especialmente através da educação à distância (EaD); tecnologias da informação e
comunicação (TICs) para justificar o desemprego; a democracia significando
liberdade de acordos entre diferentes esferas do poder e frações burguesas, de
modo que os termos cidadania e sociedade civil fossem, também, ressignificados a
partir da economia corporativa; e, por fim, a avaliação dos sistemas de ensino como
a nova estratégia de gestão.
No Brasil, reformas educacionais3 estão sendo propostas a partir do Todos
Pela Educação4, que tem como membros do Conselho de Governança do
movimento, megaempresários que são também assessores do governo e
comandam a Secretaria de Educação Básica do MEC.
3 Freitas (2012), faz uma análise crítica das políticas educacionais brasileiras, que tem base no modelo norte-
americano e as quais envolvem uma combinação de responsabilização, meritocracia e privatização. 4 Para saber mais sobre o Movimento acesse o site: http://www.todospelaeducacao.org.br/institucional/.
N
Unidade 2 – CONTEXTO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL
12
Os sistemas de avaliação de larga escala como ENEM, IDEB, Prova Brasil,
são consequências das políticas educacionais fortemente influenciadas pelos
interesses dos organismos internacionais e que tem apoio direto do governo.
Em discussões sobre as políticas públicas de articulação e fortalecimento dos
sistemas de ensino através do “Seminário Internacional Gestão Democrática da
Educação e Pedagogias Participativas”, promovido pelo Ministério da Educação –
MEC, em 2006, convencionou-se que essas políticas têm como princípio e como
preceito legal a Gestão Democrática da Educação, que possibilitam a participação
da sociedade civil na formulação, avaliação, definição e fiscalização das políticas
educacionais, implementadas pelos diversos sistemas de ensino do País. As
discussões sobre as políticas educacionais abordam as políticas neoliberais que
predominam no Brasil e no mundo.
Vieira (2001, p. 61) refere-se ao endividamento externo no cenário econômico
brasileiro como razão para a entrada de ideias e capital internacional, influenciando
fortemente a educação com os acordos estabelecidos. Cita três variáveis de
investimentos externos que influenciam a educação não somente no Brasil, como
em diversos outros países.
A primeira se refere à definição de uma agenda internacional para a
educação, em eventos internacionais ocorridos desde 1990, onde foram elaboradas
intenções e recomendações em que os países signatários se comprometem com os
acordos firmados. A segunda expressa as políticas internacionais para a educação,
com propostas que articulam a educação ao desenvolvimento do país, seguindo a
tendência da época conhecida como revolução do conhecimento. A terceira diz
respeito a projetos de educação desenvolvidos por organizações como Unicef e
Banco Mundial.
Segundo a autora, a influência internacional só acontece se estiver alinhada
aos governos e às políticas públicas do país. Neste aspecto, as políticas públicas
foram elaboradas de acordo com as concepções e ideologias neoliberais.
Afirma Sader, (2006) que “é sabido que o neoliberalismo é forte, não pela
economia, é forte pela ideologia que ele propaga”, ao se referir as políticas
brasileiras que privilegiam uma pequena parcela da população em detrimento das
massas populares, resultando em aumento da desigualdade social e tirando o direito
das pessoas nas decisões políticas que afetarão suas vidas.
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O autor afirma que as políticas públicas de apoio à economia das exportações
de produtos e das grandes corporações ou bancos, que exploram a economia de
forma especulativa e que visam somente a acumulação de capital, são formas de
aumentar a desigualdade social e levar milhões de pessoas à margem da
sociedade, resultando em indivíduos sem direitos, até mesmo destituindo-se o
próprio conceito de sociedade. Em contrapartida, as pessoas destituídas de seus
direitos são reféns da mídia que propaga a ideologia dominante, fazendo-as
acreditarem no que a política neoliberal concebe como sendo uma “sociedade
democrática”.
Democracia esta a qual o autor afirma não existir, já que os indivíduos estão
destituídos dos seus direitos fundamentais, como ter emprego, moradia, decidir o
quanto vai ser cobrado de imposto e onde esse imposto será aplicado.
A participação da sociedade nas políticas públicas, desde sua concepção,
formulação, implementação e avaliação seria o ideal de uma sociedade democrática.
Neste aspecto, Mainardes (2006) a partir dos nos estudos de Ball (2001) faz
uma análise das políticas públicas nos contextos da influência, da produção de texto,
da prática, dos resultados/efeitos e da estratégia política.
O contexto da influência é onde ocorre a disputa dos grupos de interesse para
a formulação de políticas e estas são formuladas com base em influências globais e
internacionais por meio da circulação de ideias, ou são modelos de políticas de
outros países (empréstimos de políticas), ou ainda derivam de estudos acadêmicos.
Nesse contexto atuam os partidos políticos que representam interesses sociais, o
governo e o legislativo.
O contexto da produção de texto é a fase da elaboração de textos oficiais no
processo de formulação da política. Nesse contexto acontecem as disputas e
acordos políticos dos grupos de interesse e por isso os textos possuem limitações
materiais e possibilidades .
As respostas a esses textos acontecem no contexto da prática, na
implementação da política, e tem consequências reais, que podem significar
mudanças na política originalmente traçada. Considera-se que um texto pode ser
interpretado de formas diferentes, conforme interesses, experiências, valores de
quem o lê:
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Os professores e demais profissionais exercem um papel ativo no processo de interpretação e reinterpretação das políticas educacionais e, dessa forma, o que eles pensam ou acreditam têm implicações para o processo de implementação das políticas (MAINARDES, 2006, p.5).
É no contexto da prática que a política se efetiva e pode ser recriada,
produzindo efeitos e consequências que representam mudanças na prática ou na
estrutura e impactos dessas mudanças nos padrões de acesso social, oportunidade
e justiça social. O contexto dos resultados/efeitos se insere no contexto da prática.
Já o contexto da estratégia política procura identificar as atividades sociais e
políticas necessárias para trabalhar com as desigualdades criadas ou reproduzidas
pela política investigada.
As políticas públicas elaboradas na concepção do Estado gerencialista ou
Estado mínimo, tem como característica a descentralização, pois estimulam a
participação dos cidadãos nas decisões tomadas no interior da escola e propagam a
ideia de gestão democrática, numa visão parcial e fragmentada de sociedade.
Santos (2010, p. 8) afirma que a gestão educacional no Brasil é mais uma
transferência de responsabilidades para níveis mais micros do que uma
descentralização. A autora a caracteriza como ‘economicista instrumental’ ou
desconcentração. A descentralização teria aspecto ‘democrático-participativa’, se
houvesse coerência entre democracia e gestão, ao partilhar o poder nas decisões
sobre os processos educativos, na esfera política.
Foi no contexto da influência (Mainardes, 2006) que as políticas públicas
brasileiras efetivadas pela Constituição Federal de 1998 trouxeram propostas de
participação da sociedade civil em diversas instâncias da administração pública. Os
conselhos de educação como representação da sociedade foram constituídos
baseando-se nos princípios da gestão democrática do ensino público e da garantia
de qualidade (art. 206, inc. VI e VII), na afirmação da educação como direito público
e subjetivo (art. 208, § 1º) e na descentralização administrativa do ensino (art. 211).
Aos conselhos compete estabelecer a relação entre a sociedade e o Estado,
conforme Teixeira (2004, p.702):
Como órgãos da esfera pública, os conselhos possuem uma estrutura mista, que conta com a presença da sociedade civil, vinculada ao Estado. Essa composição cria a possibilidade de uma ação mais articulada e global das organizações e define as bases para uma ação política sobre as esferas de decisão do poder.
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Neste aspecto, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação nº 9.394/96 cita
como um dos princípios para assegurar a gestão democrática, a “participação das
comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes” (Art 14, II).
De certa forma, é através da participação social que a democracia se efetiva e
é na escola que o processo democrático se inicia. No entanto, as decisões tomadas
pelo coletivo da escola através dos conselhos escolares, de forma democrática, não
necessariamente influenciam as políticas públicas educacionais, as quais são
elaboradas e decididas em outros contextos. Ficam assim, decisões restritas ao
campo das ações de implementação destas políticas, o contexto da prática conforme
analisa Mainardes (2006). Ou seja, não integram questões técnicas e políticas, o
que confirma uma das características do gerencialismo (JUNQUILHO, 2010, p.158).
No discurso das políticas neoliberais, quanto maior for a participação da
comunidade, melhores os resultados educacionais. No entanto, a gestão
democrática está presente no discurso, mas não acontece no cotidiano da escola,
pois esta, na maioria dos casos, funciona mecanicamente, apenas reproduzindo os
interesses dominantes e não contempla as contradições dos interesses de classes.
(ARAÚJO E MORAES, 2009, p. 13).
Apesar disso, a escola que está inserida no contexto da prática das políticas
públicas, encontra-se em constante busca da superação de desafios no seu sistema
de ensino e na sua transformação. O gestor escolar assume um papel de
fundamental importância para que essa transformação ocorra, atuando como
norteador das ideias a fim de alcançar mudanças, instigando a participação mais
efetiva por parte de pedagogos, professores, funcionários, alunos, pais e
comunidade. Como afirma Ball (2001):
O trabalho do gestor envolve a infusão de atitudes e culturas nas quais os/as trabalhadores/as se sentem, eles/as próprios/as, responsabilizados/as e, simultaneamente, comprometidos/as ou pessoalmente envolvidos/as na organização.
Para o alcance deste comprometimento, é preciso considerar que os
indivíduos possuem comportamentos diante de outros indivíduos em um processo
de interação recíproca, que se produz quando as pessoas realizam juntas seus
papeis sociais, sendo estes resultantes de uma construção cultural (SILVA, 2010, p.
83).
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No entanto, a cultura de construção do trabalho coletivo se contrapõe a
cultura do individualismo, próprio da sociedade capitalista, que privilegia as questões
econômicas em detrimento das questões sociais.
A tecnologia de redes de comunicação veio contribuir para a participação
social, principalmente na fiscalização e acompanhamento da implementação de
políticas. Faça uma pesquisa nos sites dos governos Federal e Estadual e
identifique pelo menos três ações de implementação de políticas educacionais no
nível de Ensino em que atua. Comente sobre essas políticas, explicitando seu
posicionamento sobre a implementação destas e como elas podem ser socializadas
e conhecidas pela comunidade escolar.
UNIDADE 2A - PARA REFLETIR:
1. Discuta com sua equipe de trabalho sobre a importância da
participação social na elaboração e implementação das políticas
educacionais.
2. Você considera importante participar da formulação de políticas?
De que maneira a população pode participar na elaboração e
controle das políticas educacionais?
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Referências
ARAÚJO, R. H. P. de, MORAES, R. de A. Informática educativa e gestão democrática – uma história de incongruências. VIII Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas: História, Sociedade e Educação no Brasil. UNICAMP, 2009. Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario8/trabalhos.html. Acesso em: 20 mai 2013.
BALL, S. J. Diretrizes Políticas Globais e Relações Políticas Locais em Educação. Currículo sem Fronteiras, v.1, n.2, pp.99-116, Jul/Dez 2001.
FREITAS, L. C. de. Os Reformadores Empresariais da Educação: da desmoralização do magistério à destruição do sistema público de educação. Revista Educação e Sociedade. Campinas, v. 33, n. 119, p. 379-404, abr.-jun. 2012. Disponível em: <http://www.cedesunicamp.br>. Acesso em 30 out. 2013.
FREITAS, M. E. de. Cultura Organizacional: evolução e crítica. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
JUNQUILHO, G. S. Teorias da Administração Pública. Florianópolis: UFSC; Brasília: CAPES:UAB. 2010.
MAINARDES, Jefferson. ABORDAGEM DO CICLO DE POLÍTICAS: uma contribuição para a análise de políticas educacionais. Educação e Sociedade. Campinas, vol. 27, n. 94, p. 47-69, jan./abr. 2006. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 29 jul. 2012.
SADER, E. Anais do Seminário Internacional Gestão Democrática na Educação e Pedagogias Participativas. Brasília: MEC, 2006.
SILVA, G. Sociologia organizacional. Florianópolis: UFSC; Brasília: CAPES:UAB. 2010.
PARA REFLETIR:
Discuta com sua equipe de trabalho sobre a importância da participação
social na elaboração e implementação das políticas educacionais.
Você considera importante participar da formulação de políticas? De que
maneira a população pode participar na elaboração e controle das
políticas educacionais?
Sugestão de pesquisa:
Ações e Programas do MEC: http://portal.mec.gov.br/index.php
Programas e Projetos SEED-PR: http://www.educacao.pr.gov.br/index.php
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SOUZA, T. R. de, A relação política entre o Brasil e a organização para cooperação e desenvolvimento econômico (OCDE). UFF-NEIC. 33ª ANPEd: Educação no Brasil:o balanço de uma década. GT05, Estado e Política Educacional. Caxambu/MG: 2010. Disponível em: http://www.anped.org.br/33encontro/internas/ver/trabalhos-gt05. Acesso em: 25 abr 2013.
TEIXEIRA, L. H. G. Cultura Organizacional e projeto de mudança em escolas públicas. Campinas, SP: UMESP: ANPAE, 2002.
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Educação no Brasil passa por um processo de (re)democratização,
que exige luta constante por inclusão, inclusive política, de
participação da comunidade nas decisões e ações do coletivo da
escola.
Conselho Escolar, Associação de Pais,
Mestres e Funcionários (APMF) e Grêmios
Estudantis se constituem em espaços de
representação da comunidade escolar e de
expressão da gestão democrática. É neles que
se legitimam as proposições do coletivo escolar
e a garantia do cumprimento efetivo de ações
voltadas às necessidades da comunidade de
acordo com o Projeto Político Pedagógico de
cada instituição.
A gestão democrática depende dos
encaminhamentos tomados para a participação
do coletivo escolar, por suas Instâncias
Colegiadas na elaboração do Projeto Político
Pedagógico voltado à realidade da escola e que
busca orientar ações autônomas para sua
gestão.
O Conselho Escolar é, neste sentido, o
principal espaço de decisão e deliberação das
questões pedagógicas, administrativas,
financeiras e políticas da escola. As decisões do
Conselho Escolar resultam em ações de gestão,
identificadas por meio do regimento escolar e do
Projeto Político Pedagógico (PPP).
O Regimento escolar é o primeiro
A
Unidade 3 – GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E A PROMOÇÃO DA ESCOLA DE QUALIDADE PRA TODOS
A gestão escolar democrática é compreendida como um processo político no qual as pessoas que atuam na escola identificam problemas, discutem, planejam, encaminham, acompanham, controlam e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola na busca da solução daqueles problemas. Esse processo sustentado no diálogo, na alteridade e no reconhecimento às especificidades técnicas das diversas funções presentes na escola, tem como base a participação ativa dos sujeitos do universo escolar, o respeito às normas coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e na constituição de canais de comunicação, como forma de ampliar o domínio das informações a todas as pessoas que atuam na escola (SOUZA, 2009).
20
documento a que deve ser conhecido por toda a comunidade escolar, pois é o
documento que sistematiza toda a organização pedagógica e administrativa da
escola.
Para sua elaboração é necessária a participação de todos os envolvidos,
sejam pais, alunos, professores, funcionários, equipe pedagógica e direção da
escola, abordando os aspectos de todos os segmentos da escola.
O regimento escolar orienta as ações de gestão da escola, sendo este o
documento que dá o suporte legal para as decisões em relação à sua estrutura e
funcionamento ou as propostas do sistema de ensino. Também propicia
embasamento legal à Proposta Pedagógica Curricular e ao Projeto Político
Pedagógico.
A Associação de Pais, Mestres e Funcionários – APMF caracteriza-se como a
participação dos pais e responsáveis pelos alunos, bem como dos docentes e
agentes educacionais. E por ela passam os recursos públicos oriundos da
comunidade, seja de forma voluntária ou por meio de parcerias5. Por isso, quanto
maior for a participação da comunidade, maior será a eficiência6 da atuação da
APMF na escola.
O Grêmio Estudantil pode despertar os jovens estudantes para a política e
favorecer o sentimento de valorização destes enquanto sujeitos ativos e
participativos. A participação dos alunos para as questões sociais constitui um dos
maiores desafios da escola hoje, por conta do modelo de sociedade onde está
presente o individualismo, o consumismo e a desigualdade social.
Neste sentido, há necessidade de ações articuladas das instâncias colegiadas
da escola com a comunidade, que visem a proteção dos direitos e deveres das
crianças e dos adolescentes, tendo a escola como espaço para discussão e para
transformação social.
Para tal, foi proposto o fortalecimento dos conselhos escolares. Segundo
Dourado (2007, p. 934) “os conselhos escolares configuram- se, historicamente,
5 As parcerias são formas de gestão pública incentivadas pelas políticas neoliberais e neste caso, podem ser
compreendidas como parcerias entre a escola e a sociedade civil ou o Estado, por meio de programas e projetos
que financiam a educação. 6 O conceito de eficiência refere-se ao máximo de resultados com o mínimo de recursos e tempo. A esse respeito,
Flach (2012) faz referência a política neoliberal da década de 1990, em que “inúmeros governos estaduais, sem
contar a própria organização da rede privada, investiram em uma organização escolar gerencial em que a
eficiência e produtividade passaram a ser as palavras de ordem”, pois a educação representava um problema
gerencial, pela baixa qualidade e falta de eficiência.
21
como espaços de participação de professores, funcionários, pais, alunos, diretores e
comunidade nas unidades escolares”. São espaços coletivos de deliberação e
atuam como co-responsáveis pela gestão administrativa e pedagógica das escolas.
A participação da sociedade por meio de conselhos escolares é
regulamentada pelas políticas públicas, que disponibilizam apoio técnico,
pedagógico e financeiro às escolas, através do Ministério da Educação e Cultura
(MEC). O programa “Fortalecimento dos Conselhos Escolares” foi criado pela
Secretaria de Educação Básica do MEC, mediante a Portaria Ministerial n.
2.896/2004 e apresenta-se organizado a partir de cinco eixos iniciais, conforme
comenta Dourado (2007, p. 935):
Conselhos escolares, democratização da escola e construção da cidadania; conselho escolar e o respeito e valorização do saber e da cultura do estudante e da comunidade; conselho escolar e o aproveitamento significativo do tempo pedagógico; conselho escolar e a aprendizagem na escola; conselho escolar, gestão democrática da educação e escolha do diretor. Em seguida, o Programa ampliou tais eixos com as seguintes temáticas: conselho escolar como espaço de formação humana; conselho escolar e o financiamento da educação; conselho escolar e a educação no campo; conselho escolar e a relação entre a escola e o desenvolvimento com igualdade social. Além desses núcleos temáticos, contemplou-se a discussão sobre os indicadores de qualidade da educação e os conselhos escolares como estratégia de gestão democrática da educação pública.
A autonomia da escola está, portanto, vinculada à política educacional do
Estado, por meio de programas e projetos. O Conselho Escolar, APMF, Grêmio e o
PPP são formas democráticas de administrar a escola, pela participação coletiva.
UNIDADE 3A - PARA REFLETIR:
1. Como entendemos o papel das instâncias colegiadas na gestão da
escola?
2. De que maneira podemos incentivar a participação da comunidade nas
ações da escola, de forma a favorecer a gestão democrática? Reflita sobre
como acontece a participação coletiva na gestão de sua escola.
22
Sem a participação da comunidade - alunos, professores, pais, funcionários,
gestores – inclusive no contexto da elaboração de políticas, não há processo
democrático.
Entretanto, a participação regulamentada pelas instâncias colegiadas pode
servir de instrumento de controle do Estado na medida em que se estabelecem
normas e obrigatoriedade de instituição destas, atreladas à escola. Santos (2009)
entende que:
A participação política ativa, ainda que garantida pelos instrumentos organizacionais e legais escolares e dos sistemas de ensino, não se efetiva apenas pela existência desses instrumentos, uma vez que estes (conselhos, eleições, associações de pais, grêmios estudantis), isoladamente, não se fazem suficientes para a implementação da gestão democrática. Eles a auxiliam, seguramente, mas podem mesmo se tornar aparelhos burocratizantes e pouco democráticos.
Para o autor, tão importante quanto a participação da comunidade na escola é
o envolvimento desta com o enfrentamento dos problemas sociais, pautando-se no
diálogo como princípio e como um fundamento da vida.
Segundo Paro (2005, p. 11) “o que nós temos hoje é um sistema hierárquico
que pretensamente coloca todo o poder nas mãos do diretor”. Esse poder centrado
no Diretor ou Diretora da escola lhe impõe também a responsabilidade pela
efetivação da gestão democrática, para assegurar o alcance dos objetivos
educacionais definidos no Projeto Político Pedagógico;
No entanto a falta de autonomia do gestor escolar em relação à subordinação
aos planos de Governo e às políticas educacionais, bem como a precariedade das
condições concretas de ação geradas pela escassez de recursos a que se
submetem as escolas públicas, gera um sentimento de “impotência” e forma uma
imagem negativa do gestor, a qual é confundida com o próprio cargo (Ibid).
“A democracia também prometia acabar com o poder invisível e instituir um regime de publicização das ações governamentais, com o intuito de controlá-las. Ao que parece, atualmente, o que se tem é o oposto: em vez de a população controlar o governo, na democracia moderna é o governo quem tem o poder de controlar o povo” (SOUZA, 2009, p. 130).
Neste aspecto, a democracia é relativa, pois sua autonomia existe apenas no
contexto da prática, sem considerar outros contextos mais amplos da sociedade, do
Estado e seus governos, como a influência na elaboração de políticas por exemplo.
A autonomia relativamente concedida ao gestor sintetiza a pouca autonomia
23
da escola, desprovendo-a da sua função de transformação social. Conforme Paro
(2005, p. 12):
A escola só poderá desempenhar um papel transformador se estiver junto com os interessados, se se organizar para atender aos interesses (embora nem sempre conscientes) das camadas às quais essa transformação favorece, ou seja, das camadas trabalhadoras.
Ao mesmo tempo em que se confere à gestão escolar a autonomia
relativamente subordinada ao controle do Estado, por meio das políticas
educacionais expressas em Programas e Projetos, há uma pressão social
estimulada por essas mesmas políticas, por resultados baseados na qualidade.
Segundo o artigo 4º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
9394/96), é dever do Estado, oferecer educação escolar pública que garanta, entre
outros, “padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e
quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do
processo de ensino aprendizagem.”
O Decreto nº 6.094/2007, documento que regulamenta a implementação do
Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, determina que:
Art. 3o A qualidade da educação básica será aferida, objetivamente, com base no IDEB, calculado e divulgado periodicamente pelo INEP, a partir dos dados sobre rendimento escolar, combinados com o desempenho dos alunos, constantes do censo escolar e do Sistema de Avaliação da Educação Básica - SAEB, composto pela Avaliação Nacional da Educação Básica - ANEB e a Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Prova Brasil).
O plano evidencia a busca de resultados na educação, que são verificados
pelos exames nacionais de larga escala, centralizados no Estado avaliador
(AFONSO, 2000) e que não levam em conta as realidades locais.
Por outro lado, a qualidade proposta no Plano tem mais relação com a
qualidade total, originada do gerencialismo e sujeita às regras mercadológicas, do
que com a qualidade social, buscada pela sociedade democrática.
A concepção de qualidade total na educação refere-se a racionalidade
técnica, onde a educação aparece como mercadoria e os alunos são clientes, os
resultados devem ser medidos pelo investimento do governo em ‘insumos’ e por
testes de avaliação (quantitativos), medindo a eficiência, eficácia e efetividade,
conceitos que influenciam as políticas no Brasil a partir da LDB.
24
Já a qualidade social é citada nas Diretrizes Curriculares Nacionais, no art. 8º
da Resolução nº 4/2010:
A garantia de padrão de qualidade, com pleno acesso, inclusão e permanência dos sujeitos das aprendizagens na escola e seu sucesso, com redução da evasão, da retenção e da distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da educação, que é uma conquista coletiva de todos os sujeitos do processo educativo.
O tema qualidade social aponta a participação dos sujeitos na construção de
uma escola de qualidade, com elementos que promovem desenvolvimento social e
humano. A mesma resolução no art. 9º refere-se à qualidade social como
centralidade o estudante e a aprendizagem.
No entanto, a qualidade social envolve aspectos mais amplos, como comenta
Silva (2009, p. 225):
A escola de qualidade social é aquela que atenta para um conjunto de elementos e dimensões socioeconômicas e culturais que circundam o modo de viver e as expectativas das famílias e de estudantes em relação à educação; que busca compreender as políticas governamentais, os projetos sociais e ambientais em seu sentido político, voltados para o bem comum; que luta por financiamento adequado, pelo reconhecimento social e valorização dos trabalhadores em educação; que transforma todos os espaços físicos em lugar de aprendizagens significativas e de vivências efetivamente democráticas.
Em termos de qualidade, portanto, a
educação terá resultados socialmente adequados
quando houver a participação dos diversos atores
sociais na construção de políticas educacionais
voltadas às necessidades reais da sociedade.
Escolas autônomas só conseguem
gerenciar e organizar seus recursos e seu espaço
de forma democrática se houver a participação da
comunidade na execução, mas principalmente na
tomada de decisões da gestão e na elaboração
das políticas.
A dificuldade de participação da
comunidade em parte é consequência de
diferentes classes sociais inseridas num mesmo
contexto, as quais podem divergir ideias e
Como a qualidade social se efetiva pela prática da democracia, a gestão educacional precisa ser democrática, possibilitando a participação real da população nas decisões sobre os assuntos da educação, seja por meio de conselhos escolares atuantes, eleições democráticas para dirigentes escolares, ou até mecanismos de controle social. A qualidade social, nesta perspectiva, extrapola a própria escola para envolver toda a sociedade na formação de cidadãos democráticos. (FLACH, 2012, p. 10)
25
interesses. Conforme Flach (2012, p. 19), “sendo contraditório e difícil, o processo
participativo se fundamenta no exercício do diálogo entre as partes, pelo qual elas
procuram alcançar um consenso sobre ideias pró e contra”.
Ou seja, a garantia de uma sociedade democrática é a participação e o
controle da sociedade nas políticas educacionais. Para garantir a qualidade da
educação, é preciso mais que democratizar o acesso e a permanência em uma
escola para todos, gratuita e laica, mas também garantir que a escola cumpra sua
função social, pela participação da sociedade nas decisões e na gestão.
Referências
AFONSO, Almerindo Janela. Avaliação educacional: Regulação e emancipação: para uma sociologia das políticas avaliativas contemporâneas. São Paulo: Cortez, 2000.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei 9394/96. Brasília, 1996.
_______. Plano De Metas Compromisso Todos Pela Educação: Decreto nº 6.094/2007. Brasília, 2007. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6094.htm>. Acesso em: 15 nov. 2013.
UNIDADE 3B - PARA REFLETIR:
1. Reflita sobre as formas de participação social nos processos de gestão
e no controle da qualidade, propostos pelas políticas educacionais, de
forma a democratizar o acesso à informação e ao conhecimento.
2. De que forma as tecnologias podem auxiliar no processo de
democratização da escola e da sociedade?
26
DOURADO, L. F. Políticas e gestão da educação básica no Brasil: Limites e perspectivas. Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 921-946, out. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a1428100.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2013.
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LÜCK, H. Gestão da cultura e do clima organizacional da escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
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SOUZA, A. R. de. Explorando e construindo um conceito de Gestão escolar democrática. Educação em Revista. Belo Horizonte. v.25. n.03. p.123-140 | dez. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/edur/v25n3/07.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2013.
SOUZA, T. R. de, A relação política entre o Brasil e a organização para cooperação e desenvolvimento econômico (OCDE). UFF-NEIC. 33ª ANPED: Educação no Brasil:o balanço de uma década. GT05, Estado e Política Educacional. Caxambu/MG: 2010. Disponível em: http://www.anped.org.br/33encontro/internas/ver/trabalhos-gt05. Acesso em: 25 set. 2013.
27
s organizações públicas, inclusive a escola, em sua maioria possuem
culturas diferentes, de acordo com o clima organizacional, que está
em constante mudança, devido à influência dos vários atores sociais7
(indivíduos, coletividade), que passam pela organização.
Segundo as teorias de Vygotsky citadas por Minioli e Silva (2013, p.43), a
relação indivíduo/sociedade se constrói a partir da interação dialética do homem
com o seu meio sociocultural. A consciência humana se forma pela internalização de
modos historicamente construídos, de operacionalizar as informações.
Essa operacionalização é o processo mais complexo de desenvolvimento
humano e se expressa pela linguagem, um sistema simbólico que constitui o
principal instrumento de representação da realidade e de mediação dos seres
humanos entre si e deles com o mundo. É responsável, portanto, pela construção do
pensamento e pela formação da cultura8.
Assim, a comunicação constitui a ferramenta de desenvolvimento da cultura
e a comunicação estratégica é a forma pela qual as pessoas se relacionam, criando
valores9 para a organização (MARCHIORI, 2006, p. 81).
Para Teixeira (2002, p. 30), existem forças que tendem para a mudança e
forças que tendem para a estabilidade e o equilíbrio, contrapondo-se. As
organizações que experimentam alternativas de mudanças de seus sistemas
culturais possuem mais chance de se transformarem e de consolidarem como
instituição.
Conhecer e compreender a cultura no seu contexto, portanto, permite que as
mudanças estruturais de uma organização sejam efetivas por longo tempo.
Conforme Silva (2010, p. 53), “as pessoas em sua sociedade ou em seu local de
7 Ator social, segundo Matus (1993) apud Misoczky e Guedes (2011, p. 21) “é uma personalidade,
uma organização ou agrupamento humano que, de forma estável ou transitória, tem capacidade de acumular força, desenvolver interesses e necessidades e atuar produzindo fatos na situação”. 8 Segundo Pires e Macêdo (2006), a cultura expressa os valores e as crenças que os membros de
um determinado grupo partilham. É o resultado de ações cujos componentes e determinantes são
compartilhados e transmitidos pelos membros de um dado grupo. 9 Os valores representam o fazer da escola e podem ser humanos, sociais, educacionais ou
individualistas, corporativistas, em relação às decisões no cotidiano escolar (Lück, 2011, p. 132).
A
Unidade 4 – AÇÕES DE COMUNICAÇÃO E GESTÃO DO CONHECIMENTO E DA INFORMAÇÃO NA ESCOLA
28
trabalho estão sujeitas à inércia social”. O autor considera inércia social a
característica das estruturas sociais, que ocorre quando um conjunto social estável
tende a rejeitar alterações que possam modificar sua situação.
A escola, “ao ignorar a existência e o papel do clima e da cultura
organizacional da escola” tende a preservar essa inércia (Lück, 2011, p. 160). Uma
vez que a cultura é resultado de aprendizagem a partir das experiências de um dado
grupo e para transformá-la, as aprendizagens não podem ser “espontâneas,
aleatórias e desorganizadas”, mas necessitam de uma sistemática, com orientação
específica e ação intencional ordenada, a partir do pensar coletivo da organização.
Essa sistematização constitui o que se conhece por Gestão do
Conhecimento, que pode ser expresso também como a maneira com que as
instituições escolares gerenciam e usam as informações e conhecimentos
construídos no seu interior, sejam individuais ou coletivos, sobre problemas ou
decisões tomadas, e que repercutem nas ações do cotidiano escolar.
Ao refletir sobre a realidade da escola, o conhecimento10 se constrói e gera
inovações que podem ampliar as opções para tomada de decisões e que podem
levar ao crescimento da instituição e a transformações da cultura da escola.
Para Minioli e Silva (2013, p. 58-96), o conhecimento organizacional começa
pela socialização11 e está ligado ao fazer coletivo, que utiliza recursos mentais,
materiais e sociais, em ciclos contínuos de interpretação, inovação e ação. Para a
autora, a reflexão, a socialização e o compartilhamento de informações constituem
estratégias para compreender e interpretar a realidade, criar novos conhecimentos e
tomar decisões.
A ação acontece quando se toma uma decisão baseada no conhecimento
organizacional. Com isso, se muda o ambiente e se produzem novas experiências,
criando outras informações que são novamente interpretadas, construindo outros
conhecimentos e gerando um novo ciclo.
A comunicação é responsável pelas interações, trocas e compartilhamentos.
Sua função está relacionada à “Memória Organizacional e ao trabalho de captura,
10
Na visão de Polanyi (1966) apud Minioli e Silva (2013), o conhecimento numa visão epistemológica, pode ser tácito ou explícito. O tácito é pessoal, subjetivo e difícil de ser formulado e comunicado. Já o explícito pode ser transmissível em linguagem formal e sistemática (códigos). 11
A socialização é o processo de conversão do novo conhecimento tácito a partir do compartilhamento de experiências e informações. (Minioli e Silva, 2013, P. 94).
29
organização, disseminação, compartilhamento e reuso das informações construídas
no espaço escolar e de seu registro” (MINIOLI E SILVA, 2013).
As autoras também citam Davenport e Prusak (1998) que consideram que a
Gestão do Conhecimento deve atender aos seguintes objetivos: 1. Criar um
repositório de conhecimento constituído de: conhecimento externo (inteligência
competitiva); conhecimento interno estruturado e conhecimento interno informal. 2.
Melhorar o acesso ao conhecimento. 3. Desenvolver um ambiente e uma cultura
organizacional que estimulem a criação, a transferência e o uso do conhecimento. 4.
Gerenciar o conhecimento como um recurso mensurável por meio de auditorias
internas, buscando o conhecimento (capital intelectual) disperso pela organização.
A Gestão do Conhecimento nas organizações, segundo Albuquerque (2011),
é tarefa de todos e contempla três etapas: 1. Aquisição e criação do conhecimento;
2. Compartilhamento do conhecimento; 3. Registro do conhecimento.
Assim, a Memória Organizacional é uma das práticas da Gestão do
Conhecimento, voltada à organização e sistematização do conhecimento construído
no dia a dia. E as tecnologias da informação são fundamentais para captar e
disseminar a informação, de modo que auxiliem na construção do conhecimento
organizacional.
Neste sentido, Moran (2007), se refere ao desenvolvimento da tecnologia na
sociedade:
A cultura implica padrões, repetição, consolidação. A cultura comunicacional e educacional, também. As tecnologias permitem mudanças profundas já, hoje, que praticamente permanecem inexploradas pela inércia da cultura tradicional, pelo medo, pelos valores consolidados. Por isso sempre haverá um distanciamento entre as possibilidades e a realidade.
Para o autor, as tecnologias se desenvolvem e evoluem mais rapidamente
que a sociedade e sua cultura. A tecnologia embora já presente na escola, ainda
não é amplamente utilizada, em todas as todas as suas potencialidades.
A ineficácia quando se trata de incorporação das tecnologias, segundo Lück
(2011, p. 161) é a tendência de comportamentos reativos dos atores das escolas,
pela tendência de pensar “sobre a escola e não com a escola” e por desconsiderar
os princípios da gestão democrática nos processos de descentralização na tomada
de decisões e também ao ignorar o clima e a cultura das escolas.
Neste aspecto, as alternativas que se apresentam para as organizações
públicas carentes de mudanças e inovações em suas estruturas e sistemas,
30
perpassam pela cultura, que se modifica a medida que crescem os usos da
informação e comunicação.
A interação proporcionada pela tecnologia promove a transformação social e
cultural e pode se estabelecer mais facilmente através dos ambientes virtuais.
...em uma comunicação em ambientes virtuais, a interação não está na máquina como tal, mas no sujeito que se comunica ao usá-la. O computador por si só não é interativo, não comunica, mas é um recurso que possibilita a comunicação entre os habitantes dos espaços virtuais (SCHERER, 2005, p.62).
A tecnologia se faz presente em praticamente todos os ambientes, seja em
casa, no trabalho, na escola. E em grande parte a tecnologia das redes (internet) e
dos ambientes virtuais passa a ter um significado maior quando promove a interação
entre as pessoas, que não precisam se
deslocar de seus ambientes para se
comunicarem com outras, em outros locais.
Essa praticidade de comunicação, em
se tratando de internet, onde a interação é
mais complexa e mais rápida, traz mudanças
significativas também para a gestão das
instituições. A gestão depende do
gerenciamento da informação, justamente
porque este agrega conhecimento e favorece
os processos de mudança da cultura.
Os ambientes virtuais constituem
uma ferramenta valiosa para formação
profissional e para o necessário
gerenciamento de informações.
Para Almeida (2003), cada integrante
de um curso ou ambiente virtual pode
compartilhar com o outro, por meio da escrita,
suas experiências, reflexões,
questionamentos, dúvidas, sentimentos,
expectativas, dificuldades e conquistas. A
partir do uso dos diferentes recursos do
Ambientes Virtuais são sistemas computacionais disponíveis na Internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos. As atividades se desenvolvem no tempo, ritmo de trabalho e espaço em que cada participante se localiza, de acordo com uma
intencionalidade explícita e um planejamento prévio denominado design educacional, o qual constitui a espinha dorsal das atividades a realizar, sendo revisto e reelaborado continuamente no andamento da atividade (Almeida, 2003).
31
ambiente virtual “a rede humana e dinâmica se forma, permitindo que cada
participante seja, ao mesmo tempo, aprendente e ensinante do outro”.
Para a autora, ambientes virtuais são sistemas computacionais disponíveis na
internet que possibilitam integrar diferentes mídias, linguagens e recursos, promover
interações, produzir, apresentar e socializar informações, com as pessoas mesmo
que separadas em tempos e espaços.
Em um ambiente virtual todos podem expressar suas opiniões, pois o tempo
pode ser organizado de acordo com a disponibilidade das pessoas, diferentemente
de uma reunião ou de uma aula, em que o tempo é restrito ao momento de encontro
das pessoas presentes. Além disso, podem ser criados e armazenados vários tipos
de textos, ao mesmo tempo ou em tempos diferentes, que propiciam uma
aprendizagem individual ou coletiva.
Para Sherer, 2005, p. 55:
O ambiente virtual possibilita a busca de informações, a pesquisa, a organização de ideias, o registro de diferentes maneiras, a reflexão pela entrada de colegas no ambiente, enquanto se produz, cria... A estética do ambiente presencial muitas vezes é apenas textual, linear, sem links para outros espaços e textos, numa comunicação unidirecional entre professor(a) e aluno(a), dificultando outras direções – comunicações entre alunos, entre grupos,... Por isso esses dois espaços se complementam. O espaço virtual, ou ciberespaço favorece a comunicação multidirecional: de um para todos, de um para um (possibilitando o atendimento individualizado em alguns momentos) e de todos para todos (a possibilidade de troca com várias outras comunidades).
Desta forma, ao se propor o uso de ambiente virtual em uma instituição, para
auxílio à comunicação interna, o que se espera é que a comunidade escolar e a
equipe gestora tenham mais um espaço para discussões coletivas, abrindo canais
de comunicação entre os envolvidos, sem deixar de lado os momentos presenciais e
as interações face a face, que são de grande importância em um ambiente
democrático.
UNIDADE 4A - PARA REFLETIR:
Os ambientes virtuais podem favorecer a cultura de socialização de
informações e a comunicação interna e externa de uma instituição?
Justifique sua opinião.
32
Referências
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s questões apontadas em cada unidade desse caderno trazem para
o debate com a equipe escolar, temas que permeiam a gestão
escolar, a partir de um sistema virtual utilizado como disseminador
das discussões sobre as políticas e para formação continuada, como forma de
interação e comunicação interna da instituição e auxílio à gestão escolar
democrática.
Ao abordar as políticas educacionais, pretendia-se discutir temas como a
participação social, não somente na execução destas na escola, em nível micro,
mas também nas possibilidades de discussão das políticas a nível macro, com a
possibilidade de analisar a elaboração e a avaliação do texto político.
Entender o contexto das políticas públicas propicia a compreensão da própria
prática pedagógica, bem como o papel social da escola enquanto instituição
pertencente a um amplo sistema educacional.
A implementação de políticas acontece por meio de programas e projetos e
sua efetividade depende dos recursos e condições empreendidas para sua
execução, mas também da adesão da comunidade escolar e de seus atores sociais.
O resultado de uma política pública pode ter resultados de qualidade social,
dependendo de como elas são interpretadas e executadas, sendo que sua execução
requer os cidadãos envolvidos e comprometidos com a escola.
Devemos ser capazes de analisar criticamente e influenciar a elaboração de
políticas, bem como avaliar e interferir no contexto da prática, como também na
produção do texto político, a partir da participação democrática.
Neste aspecto, é de grande relevância o trabalho da gestão escolar, na
mobilização da comunidade para as discussões e na tomada de decisões no
contexto da prática educacional.
Assim, a gestão participativa e democrática se faz necessária, em face às
condições em que a escola se encontra, imersa em uma sociedade capitalista e
permeada de ideologia predominantemente neoliberal, verificada através da prática
do Gerencialismo na Educação Brasileira. Ou como diz Flach (p. 11) “neste contexto
nebuloso de contradições crescentes, a escola adentra num gerenciamento
A
Unidade 5 – SÍNTESE E AVALIAÇÃO
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transplantado do modelo empresarial”, onde as palavras de ordem são “eficiência e
produtividade”, em que o Estado propõe políticas de descentralização e incute a
ideia de responsabilização dos sujeitos pelos problemas sociais, incentivando a
participação.
Ainda conforme Flach (p. 13) “como a qualidade social se efetiva através da
prática da democracia, a Gestão Educacional precisa ser democrática possibilitando
a participação real da população nas decisões sobre os assuntos da educação”.
A participação popular na gestão constitui um dos eixos indicadores de
qualidade social. Essa participação deve ser entendida como um exercício
democrático, onde as pessoas aprendem no próprio processo de participação
(FLACH, 2012).
Por isso, a discussão destes temas tem o intuito de mobilizar para a
participação da comunidade na discussão das políticas educacionais e na gestão
escolar, por meio de suas instâncias colegiadas e dos seus atores sociais, mas
principalmente, quebrar mitos e promover a cultura da comunicação virtual. A
possibilidade de participação social através de
ambientes virtuais é crescente e necessária.
Uma das alternativas é utilizar a
tecnologia como ferramenta para
transformação do status quo vigente,
representado pela cultura da escola. A proposta
deste trabalho é a utilização de um ambiente
virtual, que oportunize a comunicação em
dupla via, tanto para repasse das informações
de normas, leis e regulamentos do sistema
educacional para a comunidade escolar, como
da participação dos seus atores sociais na
elaboração e produção do conhecimento
organizacional e educacional12, bem como das
ações de gestão e das políticas educacionais.
12 Sugestão de leitura sobre o tema a Unidade IV do livro: LÜCK, H. Gestão da cultura e do clima
organizacional da escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
Um Ambiente Virtual não é um espaço físico, mas é um espaço de encontro, um espaço que comporta a entrada de muitas pessoas, que é democrático ao possibilitar o acesso a todos, mesmo que ainda tenhamos problemas com a via tecnológica de acesso a ele, sendo limitada a poucos. O ambiente virtual é real, pois estamos presentes nele, sentindo, aprendendo, comunicando, habitando...
(SHERER, 2005)
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Esses espaços virtuais de aprendizagem oferecem condições para a interação (síncrona e assíncrona) permanente entre os seus usuários. A hipertextualidade facilita a propagação de atitudes de cooperação entre os seus participantes, para fins de aprendizagem. A conectividade garante o acesso rápido à informação e à comunicação interpessoal, em qualquer tempo e lugar, sustentando o desenvolvimento de projetos em colaboração e a coordenação das atividades. Essas três características - interatividade, hipertextualidade e conectividade - já garantem o diferencial dos ambientes virtuais para a aprendizagem individual e grupal (KENSKI, 2005, p. 76).
Ao analisar a utilização de um ambiente virtual (moodle) como ferramenta de
gestão escolar, faz-se importante a avaliação do processo de participação e do uso
da informação como processo de construção de conhecimento coletivo. Poderá ser
observado a partir da participação da comunidade nas discussões propostas neste
caderno pedagógico.
Sugerimos um curso ofertado em ambiente virtual onde cada módulo
compreende o estudo de uma unidade do caderno, de forma bimodal que conforme
Almeida e Prado (2005) compreende encontros presenciais e a distância.
O curso para a equipe gestora, professores e agentes educacionais, pode se
desenvolver em módulos, conforme a tabela abaixo:
Módulos Carga horária
Modalidade Duração Desenvolvimento
Módulo 1 4h Presencial 1 dia Familiarização com o ambiente virtual de suporte ao curso; Elaboração de proposta de ação de uso de tecnologias a realizar no espaço de trabalho do aluno/participante.
Módulo 2 8h A distância 1 semana Debates coletivos e produções sobre a Unidade 1 do caderno pedagógico.
Módulo 3 8h A distância 1 semana Debates coletivos e produções sobre a Unidade 2 do caderno pedagógico.
Módulo 4 8h A distância 1 semana Debates coletivos e produções sobre a Unidade 3 do caderno pedagógico.
Módulo 5 8h A distância 1 semana Debates coletivos e produções sobre a Unidade 4 do caderno pedagógico.
Módulo 6 8h A distância 1 semana Debates coletivos e produções sobre a Unidade 5 do caderno pedagógico.
Módulo 7 4h Presencial 1 dia Sistematização das discussões desenvolvidas nos módulos anteriores.
Modulo 8 16h A distância 2
semanas
Elaboração de um plano de ação a ser entregue em forma de paper sobre um dos temas dos módulos anteriores; ou projeto, seja uma aula, um curso, uma proposta de discussão coletiva com a comunidade escolar, ou outra produção do aluno/cursista.
Tabela 1. Curso a ser desenvolvido em um ambiente virtual, baseado em Almeida e Prado (2005).
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Para a execução do curso é recomendado a utilização de um software livre,
sem custos, como o Moodle13 que pode ser instalado e gerenciado na própria
instituição, pela equipe de gestão.
13
Tutorial de instalação do moodle: https://moodle.org/
UNIDADE 5A - PARA REFLETIR:
1. Discuta sobre a importância do uso da informação e da
comunicação a partir de ambientes virtuais, para o trabalho
pedagógico e de gestão.
2. Atividade de conclusão:
a) Escolha um dos temas abordados neste caderno e elabore um
paper sobre o tema. A atividade pode ser realizada em equipes
de até 4 pessoas de áreas afins, através da ferramenta wiki
ou
b) Proponha um curso na sua área de atuação, para que possa ser
realizado em ambiente virtual. O curso deve ser elaborado e
apresentado ao final do curso.
ou
c) Organize um texto de um trabalho que tenha realizado na
escola, para ser socializado com toda a equipe escolar, em um
ambiente virtual.
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Referências
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