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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO-SUED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL-PDE
SIMONE HEIDA
ARTIGO /PDE
BRINCANDO COM POEMAS DE PAULO LEMINSKI E AS IMAGENS DE
ZIRALDO
Trabalho de conclusão de atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional. PDE – 2014. Orientadora: Stela de Castro Bichuette
NOVA TEBAS - PARANÁ
2015
BRINCANDO COM POEMAS DE PAULO LEMINSKI E AS IMAGENS DE ZIRALDO
Autora: Simone Heida1
Orientadora: Stela de Castro Bichuette 2
RESUMO
Este artigo é resultado da aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica, intitulado “Brincando com poemas de Paulo Leminski e as imagens de Ziraldo”, aplicado com alunos do 6º Ano, do município de Nova Tebas, no Colégio Estadual Vinícius de Moraes, no ano de 2015. O trabalho realizado teve como objetivo trabalhar com o gênero textual poesias, visando o letramento literário e a construção do sentido, bem como aprimorar o uso da poesia em sala de aula, através do livro de Paulo Leminski, reconhecendo e fazendo uso de recursos da linguagem poética.Também traz o resultado da Produção Didática Pedagógica utilizada como material de apoio para o curso de formação, que subsidiou para que se efetivasse a implementação do Projeto, através das ações desenvolvidas.
PALAVRAS CHAVE: leitura, letramento literário, poemas.
1 INTRODUÇÃO
A leitura é um tema bastante debatido no meio acadêmico, pois é elemento
importante de aprendizagem, e necessita de uma grande intervenção do professor para
que de fato ela se torne possível. Dessa forma, ela não abrange somente o ato de ler, de
decodificar palavras, mas de compreender como os objetos simbólicos estão investidos
de significância.
Nesse sentido, espera-se que a adoção de aulas com textos literários não
privilegiem somente a prática de leitura, mas que enfoque a formação de novos leitores.
Percebe-se que a leitura de textos literários é fundamental para que haja uma
transformação na escola, pois leva o leitor a estabelecer diálogo com diversos livros,
contribuindo na sua formação crítica.
Segundo as Diretrizes Curriculares do Paraná (2008, p. 56), a leitura é
compreendida como: “Um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais,
1 Graduada em Letras, Professora PDE 2014. 2 Formada em Letras Português e Inglês – Universidade Federal de Uberlândia/Mestre e Doutora em Letras/ Letras e Estudos Literários/Universidade Estadual de Londrina – Pós Doutoranda em Teoria e História da Literatura/ Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento”.
Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos, prévios, a sua
formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem.
Este trabalho foi dividido três partes, que serão cada uma, sessão desse estudo.
Na primeira sessão temos o desenvolvimento, onde foi realizado o estudo sobre a
importância da literatura, seguido da literatura, a formação do leitor e da escola. Essa
sessão foi subdividida em alguns pontos importantes como: A história da formação do
gênero literário infantil, literatura na escola – textos: “ A situação da leitura e a formação
do leitor” e o trabalho com a literatura através do Letramento Literário.
Na segunda sessão, trazemos como foi desenvolvido o trabalho, mostrando as
estratégias de ação utilizadas para atingir o objetivo principal de trabalhar com o gênero
textual poesias, visando o letramento literário e a construção do sentido. E finalizamos
com a terceira sessão, relatando como procedeu a implementação do projeto na escola.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa destacam
que a literatura, como produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social. O
entendimento do que seja o produto literário está sujeito a modificações históricas,
portanto, não pode ser apreensível somente ter em sua constituição, mas em suas
relações dialógicas com outros textos e sua articulação com outros campos: o contexto de
produção, a crítica literária, a linguagem, a cultura, a história, a economia, entre outros.
Uma definição de literatura não é nada simples, por se tratar de arte feita de
palavras, e os sentidos que têm a palavra literária são tantos quantos são os sentidos e
os silêncios da vida. Mesmo sendo uma das tantas definições que existem, a creditada a
Cândido (1995) atende aos objetivos dessa discussão:
Chamarei de literatura, de maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático, em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, até as formas mais complexas e difíceis de produção das grandes civilizações (CÂNDIDO, 1995, p. 242).
Segundo Antônio Cândido (1995, p. 256),
A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e a visão do mundo, ela nos organiza, nos liberta do caos e portanto nos humaniza.Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade.
Esta ideia enfatiza que a escola deve permitir o espaço para leitura de texto
literário, sobretudo de poesia, pela essência na vida do educando e pelo fato dessa arte
propiciar o desenvolvimento não apenas comunicativo mas também desenvolvimento da
sensibilidade estética e, sobretudo, a capacidade de se humanizar.
Candido (1995) coloca que a literatura de forma mais ampla pode ser considerada
todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático, sendo encontrada desde
lendas e folclore até as formas mais difíceis de escrita.
Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro horas sem mergulhar no universo da ficção e da poesia, a literatura concebida no sentido amplo a que me referi parece corresponder a uma necessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfação constitui um direito. (CANDIDO, 1995, p.175)
Para o autor, a literatura tem sido importante na construção de uma sociedade, faz
parte de nossa cultura e expressa pensamentos da época, ela inclusive influencia a visão
que temos do mundo. Podemos afirmar que literatura é uma grande fonte conhecimentos,
pois ela confirma e nega, propõe e denúncia, apoia e combate.
Candido fala que a literatura é um direito de todos e para que estes tenham direito
a cultura é necessário uma sociedade igualitária, necessitamos determinar os problemas
sociais que são tão visíveis em nossa sociedade. Assim sendo, a cultura necessita ser
valorizada em todas as classes sociais e devemos lutar para que todas as pessoas
tenham acesso a literatura e a arte.
Portanto, a luta pelos direitos humanos abrange a luta por um estado de coisas em que todos possam ter acesso aos diferentes níveis da cultura. A distinção entre cultura popular e cultura erutida não deve servir para justificar e manter uma separação iníqua, como se do ponto de vista cultural a sociedade fosse dividida em esferas incomunicaveis, dando lugar a dois tipos imcomunicaveis de fruidores.
Uma sociedade justa pressupõe o respeito dos diretos humanos, e a fruição da arte e da literatura em todas modalidades em todos os níveis é um direito inalienável”. ( CANDIDO, 1995, p.191)
Segundo Cândido, a literatura tem função humanizadora no homem. Ele questiona
duas possíveis funções da literatura: a psicológica e a formadora. Conforme o autor, a
função psicológica se apresenta pela necessidade universal de ficção e fantasia que o
homem possui. Em todas idades, etnias e classes sociais essa necessidade de ficção
mostra-se fundamental na vida do ser humano. A função formadora, contradizendo a
pedagogia oficial, surge do princípio da literatura informativa e educativa. O autor por
meio de suas obras é capaz de influenciar o indivíduo de diversas maneiras, podendo
fazer com que a pessoa estabeleça valores, princípios e ideologias, ou seja, formando o
homem.
Cândido coloca que embora a função formadora da literatura seja extremamente
importante, ela também foi determinante de muitos atritos entre diferentes sociedades e
suas culturas, por esse motivo o caráter informativo da literatura sempre foi pouco
desejada pelos educadores. Porém, o autor sempre busca destacar a função
humanizadora da literatura, dizendo que a literatura não corrompe nem edifica, mas sim,
humaniza.
Outra função da literatura trazida por Cândido função da literatura social, resultante
da relação pelo o leitor entre e a realidade e ficção. Trata-se da função formativa de
conhecimento de mundo e do ser. O leitor participa de uma representação em que
procura conhecer seu mundo. Foca na interação com a obra literária, assim o leitor pode
adquirir novos conhecimentos.
2.2 A LITERATURA, A FORMAÇÃO DO LEITOR E DA ESCOLA
a) A história da formação do gênero literário infantil
A história da literatura infantil se confunde com as alterações vividas pelos contos
de fadas no século XIX. Havendo assim maior preocupação de dotar os jovens com textos
adequados à sua educação, deu-se a elaboração do acervo popular europeu,
destacando-se principalmente os Irmãos Grimm nesse processo.
Pelo progresso do gênero não conseguimos pensar a narrativa de fadas fora do
âmbito da literatura infantil. Sendo assim, visando a relação ao meio da nova classe social
ou a liberação e a criatividade, a literatura infantil sempre evidenciou a preocupação do
adulto com a criança. Trata-se de uma comunicação, na qual é presente a influência do
adulto sobre a criança, uma vez que contribui na configuração de seus valores
ideológicos.
Atualmente tem se pensado sobre a formação de leitores e como colocar a
literatura dentro da sala de aula, dentre os quais Zilbermam fala em seu livro “A Literatura
Infantil na escola”, são muitos os textos que abordam esse tema, mas mesmo assim no
âmbito escolar encontramos alunos com dificuldades em adquirir o hábito da leitura
segundo o livro de Zilbermam:
Preservar as relações entre a literatura e a escola, ou o uso do livro na sala de aula, decorre de ambas compartilharem um aspecto em comum: a natureza formativa. De fato, tanto a obra de ficção como a instituição de ensino estão voltadas à formação do individuo ao qual se dirigem. (Ziberman, 1987, p.18)
Assim podemos ver a importância da literatura na sala de aula, que essa é a
finalidade da educação, a escola também tem uma intenção, de transformar a realidade
viva nas distintas disciplinas ou áreas de conhecimentos apresentadas ao educando.
Assim a literatura infantil, nessa medida, é levada a realizar sua função formadora,
segundo Zilbermam.
No Brasil, as primeiras criações de literatura nacional advém da mesma
preocupação que norteou o início da literatura infantil no ocidente, a qual foi procedida
pelo europeu Carl Jansen, com início no Rio Grande do sul e mais tarde Rio de Janeiro,
estimulando assim o desenvolvimento de uma cultura nacional enquanto participou do
grupo “O Guaíba”, em Porto Alegre e mais tarde como mestre educador no Colégio Pedro
II. Ele traduziu e adaptou grande clássicos como: As Mil e Uma Noites, D.Quixote,
Viagens de Gulliver, dentre outros. No entanto, somente houve um aproveitamento da
tradição folclórica com Monteiro Lobato, construindo em sua obra uma realidade fictícia,
coincidente com a do leitor do seu tempo e com a invenção do Sitio do Pica Pau Amarelo.
b) Literatura na escola – textos: “ A situação da leitura e a formação do leitor”
A escola e a literatura são parceiras há muito tempo. Segundo Zilberman, pode-se
afirmar que a primeira nunca prescindiu da segunda, pois desde que o ensino leigo
começou a se organizar, entre os gregos da Antiguidade, professores valeram-se da
poesia a fim de preparar os estudantes para o acesso às primeiras letras. Desse modo,
escola e literatura, marcham juntas, cada qual seguindo seu caminho, concretizando a
parceria milenar.
Na escola a leitura serve não só para se aprender a ler, como para adquirir novos
conhecimentos. Pode-se dizer que ela tem a ocasião de estimular o gosto pela leitura, se
conseguir gerar de maneira lúdica o encontro da criança com a obra literária. Torna-se
indispensável criar no ambiente pedagógico um clima favorável à leitura, quando se lê por
obrigação, o leitor apenas exerce uma função mecânica que prejudica o real valor da
literatura como obra literária.
A esse respeito Zilberman (1987, p.16) descreve que:
a sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito menos desmentida sua utilidade. Por isso, o educador deve adotar uma postura criativa que estimule o desenvolvimento integral da criança.
A literatura tem sua importância no espaço escolar devido ao fornecimento de
condições que propicia à criança em formação. Essa literatura é um meio que representa
o mundo e a vida através das palavras, deixando criatividade, prazer e aprendizagem
emaranhados.
Existe uma compreensão equivocada ao ato de ler em relação à literatura, pelas
atividades desenvolvidas na escola, as quais visam, a acumular dados cujo domínio
passa a ser mensurado na avaliação dos professores.
Assim sendo, o posicionamento dos alunos denuncia a prática docente, revelando
um engano que fundamenta tanto a concepção de leitura e de sua finalidade quanto a
concepção e a finalidade da leitura.
Para Saraiva o enfoque sobre a formação de novos leitores permite verificar que os
argumentos com que a escola registra o atendimento dessa sua finalidade se
contrapõem, à prática que nela se desenvolve
Segundo a autora, os professores demonstram desconhecer a especifidade do
texto literário e a função formadora da literatura, atribuindo a razão da escolha dos textos
literários a aspectos que lhes são exteriores, como a ampliação do vocabulário, a
assimilação de regras de escrita. Muitas vezes o professor substitui a interação texto-
leitor, substituindo a leitura como prática significante por exercícios centrados no
reconhecimento de informações, deixando que os alunos participem da descoberta do
real que o poder da imaginação do texto desencadeia e do prazer da exploração dos
recursos da linguagem que todo texto estético mobiliza.
Conforme Saraiva (2006), é de fundamental importância durante o Ensino
Fundamental a relação inerente entre língua e literatura, diante do número de saberes e
de competências que a constitui. A exemplo disso, há a cognição léxica, o domínio de
normas gramaticais e de estruturas sintáticas, dentre outros saberes e competências que
a criança não precisa dominar plenamente para compreender a literatura.
Saraiva fala que sob o enfoque da aquisição de linguagem, o texto literário precisa
ter suas significações levadas em consideração, sem a necessidade de estudar o erudito
como sendo a virtude da língua. Ao mesmo tempo, a literatura deve ser levada em conta
como um dos meios de interpretação das significações cotidianas, e não um símbolo a ser
preservado.
c) O Trabalho com a literatura através do Letramento Literário
O letramento literário é diferente dos outros tipos de letramento porque a literatura
ocupa um lugar único em relação á linguagem, ou seja, cabe à literatura “tornar o mundo
compreensível transformando a sua materialidade em palavras de cores, odores, sabores
e formas intensamente humanas. (COSSON, 2009,p.17).
Na leitura e na escrita do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da
comunidade a que pertencemos. A literatura nos incentiva a desejar e expressar o mundo
por nós mesmos, bem como, nos diz o que somos. Ela é a incorporação do outro em mim
sem renúncia da minha própria identidade.3
Segundo Cosson, o processo de letramento literário é diferente da leitura literária
por fruição, além do mais, uma depende da outra. Para ele, a literatura deve ser ensinada
na escola :
Devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer e a esco larização sem descaracterizá-la, sem transformá-l a em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização. (COSSON, 2009, p.2 3 )
Cosson conclui dizendo que, desta forma, no letramento literário não podemos
simplesmente determinar que o aluno leia a obra e ao final faça uma prova, pois a leitura
é construída a partir dos mecanismos que a escola desenvolve para a habilidade da
leitura literária.
Ele também adverte para a escolha dos textos literários que, mesmo em nossos
momentos de prazer, quando a dizemos livre, não o é, pois é conduzida por vários
fatores, tais como: a forma de organização dos livros nos catálogos, nas estantes,
indicação de amigos, prestígio social dos autores, etc. E na escola não é diferente.
Cosson defende que o processo de letramento literário é diferente da leitura
literária por fruição, na verdade, esta depende daquela. Para ele, a literatura deve ser
ensinada na escola:
“[...] devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização.” (COSSON, 2009, p. 23)
Deste modo, no letramento literário não podemos simplesmente estabelecer que o
aluno leia a obra e ao final faça uma prova ou fichamento, pois a leitura é construída a
partir dos mecanismos que a escola desenvolve para a proficiência da leitura literária.
Cosson diz que a seleção de obras literárias tem seguido diversas direções e
explicita três:
3 Disponível em https://books.google.com.br/books?isbn=8566414659.
1. a que ignora as discussões atuais e mantém o cânone ileso;
2. a que defende a contemporaneidade dos textos como critério mais adequado
para a seleção da leitura escolar; e
3. a que defende as recomendações dos textos oficiais, apoiando a pluralidade dos
autores, obras e gêneros.
Mas, não basta apenas selecionar o livro. É necessário trabalhá-lo adequadamente
em sala de aula. O autor relata que, diante da leitura entendida como um fenômeno
simultaneamente cognitivo e social, podemos reunir as diversas teorias literárias em três
grandes grupos: um centrado no texto, um segundo que define o leitor como centro da
leitura e um terceiro grupo de teorias (chamadas conciliatórias) que colocam o leitor tão
importante quanto o texto, fazendo com que essa interação resulte na leitura.
Para entender estes três modos de compreensão da leitura, Cosson define três
etapas do processo de leitura que guiam toda a proposta de letramento literário por ele
descrita.
Antecipação – refere-se às várias operações que o leitor executa antes de penetrar
no texto propriamente dito.
Decifração – a entrada no texto através das letras e das palavras.
Interpretação – criação do sentido do texto em um diálogo que envolve o leitor,
autor e comunidade.
O autor nos apresenta também, duas formas sobre como desenvolver atividades
leitoras tendo como objeto a literatura: sequência básica e sequência expandida.
Após a breve apresentação teórica, Cosson mostra as quatro etapas da sequência
básica: A motivação é o primeiro passo do letramento literário com o objetivo de preparar
o educando para entrar no texto. Segundo Cosson, o sucesso inicial do encontro do leitor
com a obra depende de boa motivação.
A introdução é a apresentação do autor e da obra e, independentemente, da
estratégia utilizada para introduzir a obra, o professor não pode deixar de apresentá-la
fisicamente aos seus alunos.
Ele nos adverte que ao ensinarmos leitura, não podemos perder de vista nossos
objetivos, pois a leitura escolar necessita de acompanhamento.
Contudo, é a interpretação que nos traz uma importante visão a respeito dos
resultados daquela ação o letramento.
Conforme o autor, a interpretação se produz em dois momentos distintos: interior e
exterior. O momento interior compreende a decifração, é chamado de encontro do leitor
com a obra e não pode, de forma alguma, ser substituído por algum tipo de intermediação
como resumo do livro, filmes, minisséries. Já o momento exterior é a‚ materialização da
interpretação como ato de construção de sentido em uma determinada comunidade4.
A diferença nas sequências estão na complexidade do trabalho a ser desenvolvido,
sendo a básica mais próxima a alunos das séries iniciais do ensino fundamental e
expandida mais coerente nas séries finais do ensino fundamental, bem como, ensino
médio.
No que se refere a avaliação, Cosson aconselha que, antes de qualquer coisa, o
professor deve tomar a literatura como uma experiência e não como um conteúdo a ser
avaliado. Esta deve ser uma atividade constante que visa diagnosticar os avanços e as
dificuldades dos alunos. Para Cosson o maior objetivo é envolver o aluno na leitura
literária e dividir esse envolvimento com o professor e colegas e a comunidade de leitores.
Cosson traz três pontos importantes de apoio para a avaliação da leitura literária na
sequência básica. O primeiro deles está nos intervalos que acompanham a leitura da
obra. O segundo e terceiro pontos de apoio estão muito próximos são a discussão e o
registro da interpretação, pois na discussão podem-se fazer as correções da leitura,
entendendo que essas correções são apenas no momento da avaliação. Já o registro da
interpretação após a discussão permite verificar o balanço final, ou seja, se o objetivo da
leitura foi alcançado.
3. METODOLOGIA
Baseado no referencial teórico estudado, as atividades foram desenvolvidas no
Colégio Estadual Vinícius de Moraes – EFM, no distrito de Catuporanga, município de
Nova Tebas, com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, com o objetivo de ensinar a
leitura e letramento através de poesias.
4 Letramento Literário: teoria e prosa. (Cosson, 2009,p.65)
Foram utilizadas 32 aulas, as quais serviram para a implementação do projeto
“Brincando com poemas de Paulo Leminski e as imagens de Ziraldo”. Inicialmente foi feito
a apresentação do projeto na escola, junto à equipe pedagógica e, em seguida aos alunos
do 6º ano. A metodologia utilizada estava diretamente ligada á motivação, trabalhando
com atividades diversificadas, dinâmicas e prazerosas.
Foi utilizado três poemas do livro “O Bicho Alfabeto”, o qual possibilitou o contato
com a beleza se seus versos, som, imagem, significado e formas, através de leitura, bem
como, atividades de produção de textual.
O poemas trabalhados foram:
Morreu o piriquito
a gaiola vazia
esconde um grito
A palmeira estremece
palmas para ela
que ela merece
A estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão
Para finalizar o trabalho foi proposto aos alunos a criação de poesias pelos
mesmos, bem como, ilustrações com imagens relacionadas à poesia produzida.
A intenção principal era fazer com que os alunos se mobilizassem, e nessa
interação percebessem a importância desse gênero textual literário, bem como, o quanto
é gostoso uma leitura divertida, cheia de emoção, brincadeiras com palavras.
4 DISCUSSÕES E RESULTADOS
A implementação do projeto foi efetivada através de uma Produção Didática
pedagógica, distribuída em 32 aulas.
Na intenção de explorar o gênero textual literário poesias, nas primeiras aulas
foram trabalhados conhecimentos prévios com os alunos foi através de apresentação em
slides, explorando a capa do livro “O Bicho Alfabeto”, seguido de atividade de pesquisa na
internet, os autores Paulo Leminski e Ziraldo, sua biografia e obras. Os alunos adoraram e
queriam ir além das atividades propostas na aula.
A cada aula uma novidade, assim os alunos relatavam que as aulas estavam
sendo produtivas e ficavam ansiosos esperando o que iriam aprender na próxima aula.
Figura 1 – Capa do livro Bicho Alfabeto
Em seguida foi trabalhado com a imagem do poema estrela cadente, seguido de
discussões sobre o mesmo. Logo após os alunos fizeram as atividades propostas na
unidade II da Produção Didática Pedagógica, as quais gostaram muito e concluíram com
êxito.
Nas próximas 3 aulas foi trabalhado na TV pendrive com a música “brilha, brilha,
estrelinha!” Em seguida foi questionado aos alunos se conheciam poemas com a palavra
estrela. Os mesmos relataram que não, mas que gostariam de conhecer, pois estavam
totalmente envolvidos nas atividades. Posteriormente, foi apresentado poemas de Helena
Kolody, onde aparecia a palavra estrela, seguido de atividades. Os alunos adoraram os
haicais, pois por serem curtos não tiveram dificuldade na leitura.
Posteriormente foram distribuídas estrelas confeccionadas pela professora para
que os alunos demonstrassem o poeta que está dentro dele, onde os mesmos
escreveram seus poemas e exposto em seguida no varal de poemas. Esta atividade os
alunos se dedicaram muito para que a exposição dos poemas chamassem a atenção das
pessoas que iriam ver.
Nas próximas aulas foi apresentada uma gaiola com palavra AI, escrita dentro da
dela, seguido de questionamento, como: O que vocês estão vendo? O que representa
este objeto? Em seguida foi feita a apresentação do poema “Morreu o Periquito”, seguido
de atividades disponibilizadas na produção didática, as quais os alunos resolveram sem
dificuldades.
Em seguida os alunos receberam um folha de sulfite na qual manifestaram seu
grito de diferentes formas. Nessa atividade os alunos conseguiram entender melhor o
porque do grito dentro da gaiola.
Posteriormente foi apresentado na TV Pendrive a música “O sabiá lá na gaiola”,
para posteriormente compararem com o poema. Foi um momento de descontração entre
professor e alunos.
Na aula seguinte foi apresentada a figura da Palmeira em slide na TV Pendrive,
seguido de discussões como: Que árvore é esta? Você sabia que ela dá alimento? Vocês
conhecem esta árvore? Vocês conhecem este alimento? No nosso município há esta
árvore? Qual a árvore nativa do Paraná?
Em seguida foi realizada a apresentação do poema da Palmeira, seguido de
questionamento de por ela estremece, porque ela merece palmas, quando merecemos
palmas e elogios. Nesse momento os alunos participaram expondo o porquê de receber
palmas e elogios. Também fizeram a análise do significado da palavra estremecer, o qual
a professora disponibilizou. Nesse momento também receberam uma mudinha de
palmeira.
Figura 2 – Alunos com a palmeira
Foram trabalhadas várias atividades propostas na produção como atividades de
completar frases com adjetivos, dentre outras.
Na próxima aula no laboratório de informática foi pesquisado a variedade de
palmeiras existentes no Brasil, seguido de relato escrito dos alunos.
Figura 3 – Laboratório de informática
Também foi trabalhado com acróstico através do poema “Minha razão de viver” da
poetisa paranaense Santher, seguido de construção pelos alunos de um acróstico com a
palavra palmeira.
Para finalizar as ações desenvolvidas nas 32 aulas foi construído um mural com
poemas elaborados pelos alunos.
Figura 4 – Mural de Poesias
Todos os alunos participaram das atividades, as quais foram proveitosas. Pôde-se
perceber que os alunos estavam sentindo-se mais seguros na leitura e na escrita de
poesias. Durante a realização das atividades, a avaliação aconteceu de forma diagnóstica
e contínua, visando garantir a aprendizagem do educando.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste estudo foi discutida a importância de se trabalhar com o gênero
textual literário poesia na formação de leitores, através do seu uso frequente no cotidiano
escolar. Investigou-se qual a utilização desta literatura em sala de aula e com quais
intenções ela esteve presente nas situações estudadas.
Por meio de estudos bibliográficos realizados com importantes autores como
Cândido(2004), Cosson(2009) e Zilberman(1987), pode-se analisar os diferentes aspectos
da Literatura Infantil e seu diversos usos no ambiente escolar.
Compete ao professor sugerir os caminhos que conduzirão os futuros leitores ao
hábito de leitura, além de alimentar a imaginação e o prazer pelo ato de ler. Pode-se
ressaltar que o gênero textual literário colabora para a formação do leitor, estimulando a
curiosidade e instigando a produção de novos conhecimentos, averiguou-se que para que
isso se torne realidade muitos professores devem utilizar metodologias diversificadas e
muito criativas. Esse trabalho proporcionou diversas formas de ponderar sobre a leitura
na escola, gerando uma reflexão sobre o uso da Literatura Infantil e suas diferentes
abordagens.
Por fim, vive-se em uma sociedade em que a escrita e a leitura estão por toda a
parte. Na qual a língua é um elemento social, cultural e dinâmico que muda de acordo
com o contexto. Partindo-se da hipótese de que o trabalho com literatura estimula a
produção de um conhecimento, reconhece-se que este transforme a criança em um ser
atuante capaz de executar e compartilhar o conhecimento adquirido.
Trabalhar a temática foi encantador e enriquecedor, pois permitiu refletir sobre as
diferentes contribuições que o trabalho com esse gênero permite e sua influência na
valorização da cultura literária das crianças. As ponderações aqui apresentadas não são
finitas, pois expandem as possibilidades de aprofundamento deste estudo de forma a
especificar com mais detalhes o processo de desenvolvimento da utilização do gênero
textual literário na rotina escolar.
6 REFERÊNCIAS
CÂNDIDO, Antônio. O direito à literatura. In: Vários Escritos. Duas cidades: Ouro sobre azul. São Paulo; Rio de Janeiro. 4. ed. 2004. p.169-191. COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009 SECRETARIA DO ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. DCEs, Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Paraná, 2008. ZILBERMAN, R. A Literatura infantil na escola. 6. ed. São Paulo: Global, 1987.