OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Pedagogia e Diversidade na perspectiva da...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO
PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA
TURMA-PDE/2013
Título: Pedagogia da Alternância: articulação entre o trabalho agrícola e a educação escolar.
Autora: Maria Zelita Przywitowski da Silveira
Disciplina/Área: Pedagogia
Escola de Implementação do Projeto Colégio Estadual Duque de Caxias
Município da Escola São Mateus do Sul – Paraná.
Núcleo Regional de Educação União da Vitória
Professora Orientadora Edilene Hatschbach Graupmann
Instituição de Ensino Superior Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória FAFIUV
Resumo
O movimento das Casas Familiares Rurais vem se expandindo há 78 anos no mundo, para trazer uma resposta educativa apropriada aos problemas de uma idade específica do ser humano: a adolescência. Nesse sentido, as Casas Familiares Rurais vêm demonstrando eficácia, através da alternância, que consiste na formação das pessoas, utilizando espaços e tempos diferentes, divididos entre o meio profissional e o meio escolar em internato, guiados por uma proposta que visa à formação integral do educando e o desenvolvimento do meio em que está inserido. Neste contexto, esse estudo tem como objetivo compreender com profundidade a educação do campo, na perspectiva da Pedagogia da Alternância, praticadas pelas Casas Familiares Rurais, de maneira a identificar os avanços e desafios enfrentados, envolvendo a comunidade escolar. A pesquisa é qualitativa, utilizando-se de procedimentos metodológicos pautados em obras de Arroyo, Freire, Mânfrio, Paro, Sacristan, entre outros, que contemplam tal discussão, e das ações vivenciadas nas instituições escolares. A evasão escolar no Brasil, se constitui como um problema que cresce cada vez mais, afetando principalmente as escolas públicas. Através da interação entre família e escola, visando encontrar a responsabilidade de cada uma, faz-se necessário encontrar medidas para amenizar a evasão escolar dos alunos matriculados no primeiro ano, nas Casas Familiares Rurais.
Palavras-chave: Evasão Escolar;Pedagogia da Alternância;Família e Escola.
Formato do Material Didático Unidade Didática
Público Alvo Alunos do 1º ano do Curso Técnico em Agro ecologia
UNIDADE DIDÁTICA
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professora PDE: Maria Zelita Przywitowski da Silveira
Área/Disciplina PDE: Pedagogia.
NRE: União da Vitória.
Professora Orientadora IES: Edilene Hatschbach Graupmann
IES vinculada: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras União da Vitória –
FAFIUV
Escola de Implementação: Colégio Estadual Duque de Caxias.
Público objeto da intervenção: 1º ano do Curso Técnico em Agroecologia.
TEMA DO PROJETO
Pedagogia e Diversidade na perspectiva da Educação do Campo.
TÍTULO
Pedagogia da Alternância: articulação entre o trabalho agrícola e a educação
escolar.
1 APRESENTAÇÃO
Pedagogia da Alternância; Articulação da Família e Casa Familiar Rural;
Formação Integral; Evasão escolar.
Esta Produção Didático-Pedagógica tem por finalidade organizar o material
didático e suas estratégias metodológicas, visando atingir os objetivos do Projeto
de Intervenção Pedagógica cujo título é Pedagogia da Alternância: articulação entre
o trabalho agrícola e a educação escolar. Está apresentada como uma Unidade
Didática em que o material didático e as orientações metodológicas estão
contemplados de forma concomitante. O material elaborado nesta produção foi
desenvolvido para ser trabalhado com os alunos do 1º ano do Curso Técnico em
Agroecologia e Comunidade Escolar.
O tema foi escolhido considerando-se a seguinte temática: apontar o número
de alunos matriculados e evadidos do 1º ano do Curso Técnico em Agroecologia,
na Pedagogia da Alternância, desde a implantação do curso em questão, até a
atualidade, ano a ano, para fazer comparativos e propor práticas cotidianas com o
objetivo de combater a evasão escolar.
Na Pedagogia da Alternância, a família constitui-se parte fundamental do
processo educacional, pois é ela quem oferece o primeiro espaço de socialização
de valores e conduta, da mesma forma, se faz imprescindível seu envolvimento.
Nesse sentido, seu auxílio e participação, é referência para a formação íntegra,
com perspectiva de emancipação humana. As Casas Familiares Rurais revelam
certa fragmentação entre família e escola, devido a ausência de uma efetiva
articulação do trabalho nas propriedades e a educação escolar. Este trabalho
apresenta como objetivo geral: Compreender com profundidade a educação do
campo, na perspectiva da Pedagogia da Alternância, praticadas pelas Casas
Familiares Rurais, de maneira a identificar os avanços e desafios enfrentados,
envolvendo a comunidade escolar. Visa também desenvolver ações para melhorar
a qualidade de vida e de ensino, a fim de reduzir a evasão escolar, buscando a
permanência das pessoas no campo.
Dessa forma a Pedagogia da Alternância propõe uma Formação Integral que
leve em conta todas as dimensões da pessoa, formando cidadãos autônomos, com
consciência crítica e solidária que constitui base do desenvolvimento pessoal e
comunitário.
Quanto à metodologia, a formação em alternância requer uma organização,
atividades e instrumentos pedagógicos específicos para articular os tempos e
espaços a fim de associar e colocar em sinergia as dimensões profissionais e
gerais, e para otimizar as aprendizagens.
A formação integral acontece num todo que se entrelaça, onde numa
dimensão começa e outra termina. Compreendemos com isso que a formação
integral é uma formação vista em todos os seus aspectos pessoais, profissionais,
culturais, políticos/éticos que perpassa todas as nossas ações, nos proporcionando
inúmeros aprendizados e experiências.
Promover uma educação integral é tarefa difícil, pois demanda ação
contínua, coordenada por várias equipes e assumida por toda a escola. Porém,
como afirma Freire (2000 p.24):
Não há uma escola que ensine tudo e para toda vida. A educação na escola constitui apenas uma parte de todo esse processo que é a educação. É preciso - “Que o jovem na sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar possibilidades para sua produção ou sua construção”.
A afirmação de Freire nos remete à ideia de autoformação que deve ser
assumida pelo sujeito para complementar sua formação global.
As Casas Familiares Rurais praticando a Pedagogia da Alternância como
sistema educativo, hoje reconhecidas pelo Ministério da Educação (SECAD), pelo
Conselho Nacional de Educação e pelos Sistemas Educacionais de Educação, têm
respondido positivamente aos desafios da formação pessoal e profissional dos
jovens do meio rural a que eles têm acesso. É importante assinalar como as Casas
Familiares Rurais têm conseguido associar teoria e prática e responder
adequadamente às questões pedagógicas relacionadas aos espaços e aos tempos
de formação.
A LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação , nº 9394/96, determina em
seu artigo 22 que:
A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
Ao refletir sobre o trabalho educativo, defendendo a necessidade de
combater a evasão, por meio do efetivo envolvimento de todos que fazem parte
deste trabalho, faz-se necessário encontrar maneiras na escola, solucionar
problemas, encontrando possibilidades, para que o aluno permaneça na escola.
A evasão escolar pode se dar em razão da somatória de vários fatores e não
necessariamente de um problema específico. O importante é detectar e
diagnosticar o problema da evasão para buscar as possíveis soluções com o intuito
de proporcionar a permanência dos alunos na escola.
Apesar do apoio às famílias nas situações conflituosas, alguns professores
resistem às interferências familiares, quando estes se direcionam aos temas que
ensinam, ao seu fazer pedagógico e, especialmente, se a interação é iniciada pelos
pais.
A Pedagogia da Alternância tem muito a nos ensinar na perspectiva de
organização dos tempos e espaços educativos, para a formação integral dos
educandos numa articulação permanente entre o meio sócio profissional (família,
comunidade, trabalho) e o meio escolar em um internato no qual os(as)
educando(as) convivem entre si, como os(as) educadores(as), com outros
formadores(as) que são chamados a contribuir com o processo de formação , e
principalmente estabelecem um diálogo entre os saberes que foram construídos na
sua formação no contexto familiar e social e que vivem com os saberes das
diferentes áreas do conhecimento.
Efetivamente estamos diante de uma proposta de desenvolvimento rural
integrado , voltado para a agricultura familiar, que oferece aos adolescentes desse
modo rural a oportunidade de uma educação integral associada à formação técnica
para o mundo do trabalho , tornando-os verdadeiramente atores do processo de
crescimento sustentável pessoal e coletivo.
As associações mantenedoras, a gestão democrática, os professores, os
monitores, os jovens e suas famílias apresentam-se todos reunidos na busca do
objetivo comum: o de o homem no seu espaço e no seu tempo, capaz de
desenvolver uma visão de mundo que responda ao maior desafio da educação do
século XXI: formar o cidadão.
A educação integral supera muito a noção de tempo integral com que ela
não se confunde: trata-se de assistir o educando em sua totalidade, a vivência real
de problemas e educação, permitindo, pela alternância entre o espaço escolar e o
espaço familiar, a vivência real de problemas e aplicação do aprendido em proveito
da melhoria das condições de vida comunitária no desenvolvimento de
aprendizagens significativas.
Ao estudar a Legislação Brasileira podemos perceber que a escola tem
liberdade e autonomia para sua organização, como também para a construção de
sua identidade junto à comunidade em que está inserida, de acordo com a LDB
9394/96.
O presente texto tem por finalidade colaborar com a discussão e reflexão
sobre a necessidade da relação família/escola, pois,
Participação significa a atuação dos profissionais da educação e dos
usuários (alunos e pais) na gestão da escola. Há dois sentidos de participação articulados entre si. Há a participação como meio de conquista da autonomia da escola, dos professores, dos alunos, constituindo–se como prática formativa, como elemento pedagógico, metodológico e curricular. Há a participação como processo organizacional em que os profissionais e usuários da escola compartilham institucionalmente, certos processos de tomada de decisão (LIBÂNEO, 2004, p. 139).
Procurar entender essas realidades para buscar ações que possam
fortalecer essa relação, diminuindo assim essa distância observada entre essas
duas instituições educacionais. A escola e a família têm passado por profundas
transformações ao longo da história, interferindo assim na estrutura e na dinâmica
escolar, de forma que a família, em vista das circunstâncias, vem transferindo para
a escola funções que deveriam ser sua. Conforme menciona Paro,
Assim, a escola que torna como objetivo de preocupação, levar o aluno a querer aprender precisa ter presente a continuidade entre a educação familiar e a escolar, buscando formas de conseguir a adesão da família para sua tarefa de desenvolver nos educandos atitudes positivas educadoras com relação ao aprender e ao estudar (PARO 2007, p. 16).
Portanto uma boa relação entre a família e a escola deve estar presente em
qualquer trabalho educativo que tenha como principal alvo o aluno. A escola deve
também exercer a sua função educativa junto aos pais, discutindo, informando,
orientando sobre os mais variados assuntos, para que em reciprocidade, escola e
família possam proporcionar um bom desempenho escolar e social. É importante
que a família esteja engajada no processo ensino aprendizagem para que o
educando seja protegido dentro do âmbito escolar.
A família, em parceria com a escola e vice - versa, são peças fundamentais
ao desenvolvimento dos jovens e adolescentes. Entretanto para conhecer a família
é necessário que as escolas abram suas portas intensificando e garantindo sua
permanência através de reuniões mais interessantes e motivadoras. À medida que
a escola abrir espaços e criar mecanismos para atrair a família para o ambiente
escolar, novas oportunidades com certeza irão surgir para que seja desenvolvida
uma educação de qualidade sustentada justamente por esta relação.
Segundo Paro (2007), educador brasileiro dedica estudos e pesquisas sobre
a gestão democrática na escola, defende a educação inserida em uma sociedade
globalizada e centrada no conhecimento , é um dos fatores importantes para o
desenvolvimento social, bem como condição primordial para a melhoria da
qualidade de vida das pessoas.
Para além das questões do papel que cabe à escola e à família, embora seja
imprescindível, a realidade tem revelado a existência da evasão escolar pelos
estudantes matriculados nas Casas Familiares Rurais, pela Pedagogia da
Alternância, precisando avançar para que nesta relação família/escola, a instituição
escolar se torne um local aberto onde os seres humanos possam, de fato, dialogar
em contraposição a uma postura às vezes ainda encontrada e exemplificada pelo
mesmo Paro quando diz:
A timidez diante dos professores, o medo da reprovação dos filhos, e a distância que sentem da “cultura” da escola os levam a ver a escola não como uma continuidade em suas vidas, mas como lago separado de suas experiências (PARO, 2.000, p. 33).
Para discutir estas e outras questões diante da instituição familiar e suas
aplicações com a vida escolar de seus membros, visando melhor preparo dos
educadores para atuar frente às situações com que se deparam em seu trabalho,
se faz necessário elaborar materiais para o trabalho de intervenção na escola.
Visando encontrar as possibilidades de intervenção na realidade, buscando a
transformação da mesma, faz-se necessário a participação de todos os sujeitos no
processo educativo: professores, funcionários, pais e alunos.
Assim, busca-se contribuir na construção de uma visão global da realidade e
dos compromissos coletivos. O enfrentamento dos problemas vividos no cotidiano
escolar exige reflexão, análise, fundamentação teórica e troca de experiências.
Esse trabalho pode ser realizado periodicamente através de estudos nos espaços
coletivos, que podem ser conquistados pela escola.
A Pedagogia da Alternância tem tido lugar especial, pois essa pedagogia
muito se aproxima da concepção de educação como processo de formação
humana. É uma proposta onde os conteúdos, prioridades e necessidades são
definidos nas bases, como um processo de discussão e participação. Não é uma
proposta acabada, ela se faz na interação do grupo com o meio, famílias e
comunidades.
Reforçando essas considerações, salientamos a relevância do
desenvolvimento do ensino, partindo de observações realizadas pelos jovens e do
interesse suscitado na estadia do meio sócio profissional durante a qual pesquisas
e estudos são propostos. Assim, o aluno “apropria-se” mais da aula, tornando-se
mais pesquisador do que sábio. Percebemos com isso, que a educação em
alternância privilegia a ação do aprendiz e a aprendizagem por produção de
saberes.
Na estrutura das Casas Familiares Rurais, a alternância tem chamado de
formador, o que denominamos monitor, aquele cujo perfil enquanto educador deve
incorporar ao exercício de sua função a capacidade de promover a educação, o
domínio da técnica, saber ensinar e animar as alternâncias junto ao grupo de
alunos. Ele não pode ser um docente na sua compreensão tradicional, mas um
formador que tem uma função global e papéis múltiplos.
A alternância pode ser considerada como uma modalidade de educação e de
formação, uma pedagogia para a adolescência, porque responde às necessidades
essenciais dessa idade, porque favorece condições de passagem. A saber: tem um
lugar a conquistar, um estatuto, agir, ser reconhecido, crescer.
A alternância permite ao adolescente adentrar nos espaços dos grandes, ou
seja, no mundo dos adultos. Ela lhe dá possibilidades de encontrar uma utilidade,
uma consideração, um reconhecimento.
O adolescente precisa fundamentalmente de ação porque está cheio de
energia e de vontade de empreender. Nisso a alternância corresponde porque ela o
coloca em ação. É uma pedagogia da ação, ela confere desse fato, um estatuto
profissional que, por sua vez, estabelece com o trabalho e com a profissão uma
relação incluindo aí, as exigências, os valores e as aprendizagens
correspondentes. Visto de maneira mais global, o processo pedagógico baseado na
alternância torna o jovem ator de sua formação, sujeito ativo.
A alternância é uma sucessão permanente de rupturas e de relações que
obrigam, a cada vez mais, o adolescente a reinvestir-se numa nova situação.
Desse jeito, talvez consiga contribuir para o desenvolvimento da adaptabilidade. A
alternância pode agir nesse sentido porque favorece e diversifica os lugares e os
espaços para experimentar, manifestar-se, realizar-se. Ela torna experiências
possíveis tanto no plano familiar quanto profissional ou social. Ela permite ao
adolescente exercitar-se em diferentes níveis: manual, intelectual, afetivo e
relacional.
O sucesso escolar faz a parte de tudo isso. Um sucesso que numerosos
jovens talvez nunca experimentaram e que toma, assim uma importância maior. A
organização pedagógica se torna responsável, nesse caso, para que os conteúdos
e as atividades sejam interessantes, tenham sentido, permitam aprender.
A adolescência corresponde à fase da vida na qual a identidade se afirma e
se constrói, na qual a pessoa que já existe em cada um, acredita, cresce e se
desenvolve em todos os planos. A alternância pode ser facilitadora desse
desenvolvimento pessoal, provocando processos de relações e de distanciamento,
de encontros e de enfrentamentos com os outros e com as realidades, em outras
palavras, de personalização e de socialização.
Em primeiro lugar, em relação ao país, deve-se vivenciar um duplo processo
de ligação, de relação e distinção- distanciação. As relações são ambivalentes, mas
o essencial é o diálogo. A alternância pode contribuir para isso, diversificando os
campos de experiência do jovem, permitindo-lhe viver situações de trabalho. Estas
constituem mediadores de discussão, suportes concretos para a conversa no seio
da família a respeito das atividades, das dificuldades, dos sucessos, do
relacionamento. Mas ao mesmo tempo em que as relações com a família se
desenvolvem, impõe-se a distanciação. Esta é favorecida pelos tempos sucessivos
de vida profissional e dos tempos escolares.
Além da família, a alternância oferece ao adolescente possibilidades de
encontros, de diálogo com outros adultos e, consequentemente, de confronto das
gerações entre a experiência existente e aquela a ser feita. A ligação entre o
passado, o presente e o futuro, ou seja, a situação no tempo como no espaço
representam dimensões essenciais na construção da pessoa.
Esta é favorecida pela multiplicidade de encontros. O encontro com os
outros, os modelos de identificação é uma condição importante de construção da
identidade, da educação e da orientação.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A educação do campo é uma forma de reconhecimento de direito das
pessoas que vivem no campo, no sentido de terem uma educação diferenciada
daquela que é oferecida aos habitantes das áreas urbanas. Surge assim de forma
“repensada e desafiante” buscando a construção de uma nova base conceitual
sobre o campo, e sobre a educação do campo, como norteadora de políticas
publicas que contemplem a diversidade cultural. (Arroyo, 2006, p. 9),
Entender o campo como um modo de vida social contribui para auto-afirmar
a identidade dos povos do campo, para valorizar o seu trabalho, a sua história, o
seu jeito de ser, os seus conhecimentos, a sua relação com a natureza.
No âmbito da educação do campo, os conhecimentos dos povos do campo,
devem se fazer presentes na escola, constituindo ponto de partida das práticas
pedagógicas.
Trata-se de uma educação que deve ser no e do campo - no porque
[...] o povo tem o direito de ser educado no lugar onde vive; [Do, pois] “o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com a sua participação, vinculada à sua cultura e as suas necessidades humanas e sociais” (CALDART, 2002, p. 26).
Uma escola que pense a educação, a partir do indivíduo, precisa ser uma
escola reflexiva, concebida como uma organização que continuamente pensa em
preparar indivíduos para atuar na sociedade. Que ela também forme o indivíduo
reflexivo, organizando contextos de aprendizagem exigentes e estimulantes, isto é,
ambientes formativos que favoreçam o cultivo de atividades saudáveis e o
desabrochar das capacidades de cada um com vistas ao desenvolvimento integral
da pessoa.
Preparar os alunos para a cidadania demanda compreensão da realidade, no
exercício da liberdade e da responsabilidade, na atenção e no interesse pelo outro,
no respeito pela diversidade, na correta tomada de decisões, no comprometimento
com as condições de desenvolvimento humano, social e ambiental.
Através da Pedagogia da Alternância, nas Casas Familiares Rurais, há
possibilidades de efetivar um processo democrático da participação da comunidade
escolar, na formação integral de jovens e adolescentes.
Atualmente, são inúmeros os fatores que influenciam a permanência ou não
dos alunos nas Casas Familiares Rurais. Dentre esses fatores, um pode ser
considerado como central: a participação ou não da família na escola. Nesse
sentido, diversas formas de participação dos pais ou responsáveis no processo
escolar, assumem lugar central na discussão, pois junto com a instituição escolar
compartilha interesses comuns na busca por uma educação de qualidade.
Para conseguir a adesão da família, faz-se necessário que as Casas
Familiares Rurais abram suas portas e criem mecanismos, intensificando e
garantindo sua permanência através de atividades mais interessantes e
motivadoras.
A relação de parceria deve ter como ponto de partida a própria escola, visto
que os pais pouco sabem sobre suas características de aprendizagem, por isso a
dificuldade em interagir com a escola. Portanto, o papel da instituição escolar na
construção dessa parceria é fundamental, devendo considerar a necessidade da
família, levando-as a vivenciar situações que possibilitem se sentirem participantes
ativos nessa parceria e não meros espectadores, pois, como diz Paro, 2007,
[...] é possível imaginar um tipo de relação entre pais e escola que não esteja fundada na exploração dos primeiros pela segunda. É possível imaginar um tipo de relação que não consista simplesmente de uma “ajuda” gratuita dos pais à escola. Pode-se pensar em uma integração dos pais com a escola, em que ambos se apropriem de uma concepção elaborada de educação que, por um lado, é um bem cultural para ambos, por outro, pode favorecer a educação escolar e, ipso facto, reverter-se em beneficio dos pais, na forma da melhoria da educação dos seus filhos.
Algumas formas usadas para chamar os pais à escola são as reuniões com
metas planejadas, para um trabalho coletivo. A escola deve construir com a família,
espaços educativos significativos para todos os envolvidos, pois a educação é um
processo vital de desenvolvimento e formação da personalidade que começa na
família, continua na escola e prolonga-se por toda a existência humana. Nesta
perspectiva de ação conjunta com a escola e a família/comunidade, propõem-se
dimensões significativas de sua realidade, promovendo o desenvolvimento
permanente do meio em que vive. Quando os pais interagem no processo e suas
experiências são valorizadas, tornam-se sujeitos e, por sua vez, seus filhos sentir-
se-ão protagonistas para ajudar na transformação de sua localidade.
A educação campesina, em todos os níveis de escolaridade, vem
trabalhando no apoio à permanência de jovens e adultos no campo, desenvolvendo
suas potencialidades locais e existenciais. Sua formação para o trabalho de
existência técnica e extensão está no âmbito das necessidades formativas em prol
de uma sociedade contra a hegemonia estandardizadora, que lide com a natureza
da agricultura familiar não somente na linha produtivista, mas também na
perspectiva da pluriatividade e multidimensionalidade. A educação do campo que
tenha uma relação entre projeto societário e educativo: educação para o campo, no
campo e do campo.
Essa visão acarreta uma compreensão da educação do campo interligada à
temática do desenvolvimento local, das políticas públicas para o desenvolvimento
agrário e as estratégias de comunicação que considerem o agricultor como sujeito
capaz de intervir e opinar na tomada de decisões e definição de políticas.
Freire (1983) acredita que qualquer esforço de educação popular, seja no
campo ou contextos urbanos, deve se estabelecer a partir da comunicação de um
sujeito com outro, em torno do significado significante, de modo que se possa
aprofundar a tomada de consciência da realidade. Para o estudioso, o mundo dos
seres humanos se configura essencialmente num mundo de comunicação, onde
não existem sujeitos passivos. “O que caracteriza a comunicação é que ela é
diálogo, assim como diálogo é comunicativo!” (FREIRE, 1983, p. 45).
Para o educador Paulo Freire (1987, p. 83) a verdadeira educação só é
possível através de uma boa comunicação. Ele desenvolveu uma teoria da
comunicação com base na práxis e no diálogo e explica que “somente o diálogo,
que implica um pensar crítico, é capaz, também de gerá-lo. Sem ele não há
comunicação e sem esta não há verdadeira educação.” Para Freire, a palavra é
práxis, mas quando sacrifica a ação ela fica oca, quando sacrificam a reflexão ela
se converte em puro ativismo. A práxis possibilita o diálogo, base da comunicação.
De acordo com Freire (2002, p. 158),
Separada da prática, a teoria é puro verbalismo impotente, desvinculada da teoria, a prática é ativismo cego. Por isso mesmo é que não há práxis autêntica fora da realidade dialética ação-reflexão, prática-teoria. Da mesma forma, não há contexto teórico “verdadeiro a não ser em unidade dialética com o contexto concreto.” Neste contexto, onde os fatos se dão, nos encontramos envolvidos pelo real “molhados” dele, mas não necessariamente percebendo a razão de ser dos mesmos fatos, de forma critica. No “contexto teórico”, “tomando distância” do concreto, buscamos a razão de ser dos fatos. Em outras palavras, procuramos superar a mera opinião que deles temos e, que a tomada de consciência dos mesmos nos proporciona, por um conhecimento cabal, cada vez mais científico em torno deles. No “contexto concreto” somos sujeitos e objetos em relação dialética com o objeto; no “contexto teórico” assumimos o papel de sujeitos cognoscentes da relação sujeito-objeto que se dá no “concreto para, voltando a este, melhor atuar como sujeitos em relação ao objeto".
O programa das Casas Familiares Rurais desenvolve uma proposta
pedagógica que se identifica com os anseios dos agricultores familiares, pois, a
partir da Pedagogia da Alternância, abre possibilidade de o jovem seguir seus
estudos, profissionalizar-se e, ao mesmo tempo, contribuir com sua mão de obra,
indispensável na propriedade familiar, para o pleno desenvolvimento das atividades
econômicas.
A extensão rural, considerada no sentido de prática de educação –
comunicação com produtores e moradores do campo (FREIRE, 1983), constitui-se
como elemento fundamental e de diálogo entre instituições, empresas e moradores
trabalhadores de comunidades inseridas no contexto rural.
Conhecer a nova dinâmica do campo é fundamental, no intuito de perceber
se esses movimentos e essa dinâmica estariam superando ou acentuando essas
desigualdades, no caso da educação, em que medida essa dinâmica, esses
movimentos estão pressionando para mudar o sistema educativo, as políticas
educativas, a escola e os educadores. Neste sentido Arroyo, (2006, p. 106) destaca
que “os movimentos do campo poderão contribuir para dinamizar a escola”, tendo
em vista que “trazem a ideia de direitos. Colocam a educação no campo dos
direitos”.
O conhecimento e os modos de agir, pertencem à todos, considerando que,
para enfrentar os desafios, a escola e a família precisam assumir o compromisso
de trabalhar unidas. Como aponta Paro (2007, p. 16),
É aqui que entra a questão da participação da população na escola, pois dificilmente será conseguida alguma mudança senão a partir de uma postura positiva da instituição com relação aos usuários, em especial pais e responsáveis pelos estudantes, oferecendo ocasiões de diálogo, de convivência verdadeiramente humana, numa palavra, de participação na vida da escola.
A importância das Casas Familiares Rurais no trabalho pedagógico consiste
na formação integral do educando, oportunizando capacitar-se para desenvolver
atividades e vencer desafios encontrados na realidade do campo, possibilitando um
trabalho com qualidade de vida e renda.
Dessa forma, é possível perceber uma melhoria de vida nas famílias e nas
comunidades, nas quais as Casas Familiares Rurais estão inseridas. O objetivo das
Casas Familiares Rurais é fazer com que as pessoas do meio rural tenham uma
educação condizente com a realidade vivenciada por eles.
É necessário também, valorizar a cultura como um todo, para que haja
mudanças e inovações significativas, resultantes da interação dos sujeitos
envolvidos na Instituição Escolar e do comprometimento com a educação.
3 MATERIAL DIDÁTICO / ORIENTAÇÃO METODOLÓGICA
3.1 MOMENTO 01
CRONOGRAMA
ATIVIDADE HORÁRIO
Café 8h às 9h
Reunião 9h às 10h 30min. Dinâmica 10h30min às 11h30min. Relatos 11h30min às 12h Almoço 12h às 13h Registro 13h às 14h 30min Leitura 14h30min às 15h Visita 15h às 16h
Total 8 horas.
O primeiro momento dar-se-à de forma bastante receptiva, num ambiente
agradável, iniciando pelo café da manhã, e, na sequência uma reunião com os
alunos do primeiro ano do Curso Técnico em Agroecologia, pais dos alunos e
comunidade escolar. Esta visa informar sobre a importância do trabalho coletivo e
contínuo, possibilitando o diálogo e a participação. Neste contexto, criar condições
efetivas para o envolvimento da comunidade escolar, na perspectiva de refletir de
forma mais aprofundada sobre a relevância da interação entre família e escola,
espaço e tempo, como componentes no processo educativo, é imprescindível.
Também valorizar a participação de todos, através de grupos de estudos,
mesclados por pais, professores, alunos e funcionários, a partir de uma dinâmica,
com distribuição de bombons, embalados com papéis de diferentes cores, sendo
que em cada um terá uma palavra estimulante, conforme a tabela abaixo:
ALUNOS PAIS PROFESSORES FUNCIONÁRIOS
AZUL VERDE AMARELO ROSA
Solicitar que formem grupos, de maneira que cada um contemple todas as
cores. Após propor que cada componente fale, partindo do que sente no momento,
de acordo com a palavra recebida, abrindo espaço para troca de ideias, vivências e
experiências, anseios e sugestões. Em cada grupo, deve ser eleito um
representante para registrar os relatos. Após esta atividade será servido o almoço,
em seguida realizar-se-ão as leituras, oportunizando novas reflexões, análises e
discussões entre os diferentes grupos.
Ao término das atividades propostas, possibilitar que a comunidade escolar
explore o espaço escolar, para conhecê-lo, e, ao mesmo tempo, proporcione
momento de descontração, seguido de agradecimento pela presença e convite para
o próximo encontro.
3.2 MOMENTO 02
CRONOGRAMA
ATIVIDADE HORÁRIO
Café 8h às 9h
Dinâmica 9h às 10h. Reflexão 10h às 11h Leitura 11h às 12 h
Almoço 12h às 13h Registro 13h às 15h Diálogo 15h às 16h
Total 8 horas.
O encontro entre as famílias, educadores, funcionários e alunos do primeiro
ano, terá início no café da manhã, com uma conversa informal, com vistas à
socialização.
Para dinamizar, será entregue um cartão para cada pessoa, contemplando
as cores, de acordo com os lugares que ocuparão nos grupos. Pedir que formem
cinco grupos, mesclados pelos participantes, conforme as cores dos cartões que
receberam.
PAIS ALUNOS PROFESSORES FUNCIONÁRIOS
AZUL VERDE AMARELO BRANCO
Sugerir que permaneçam nos mesmos lugares, para ouvirem a leitura dos
títulos dos textos abaixo e de um breve comentário. Um representante de cada
grupo deverá registrar os pontos significativos.
Texto 01 – Formação integral
Texto 02 – A origem e a evolução da agricultura.
Texto 03 – A orientação profissional.
Texto 04 – O papel da família na educação.
Texto 05 – Desenvolvimento sustentável.
Distribuir um texto para cada grupo e, a partir da leitura dos mesmos, o
representante fará o registro dos principais pontos elencados, sendo estes,
significativos para inovar a prática pedagógica e a permanência dos jovens e
adolescentes na escola, permitindo oportunidades para o diálogo, troca de ideias e
sugestões. Finalmente fazer o convite para o próximo encontro, reforçando a
importância do comparecimento de todos para dar sequência às atividades.
3.3 MOMENTO 03
CRONOGRAMA
ATIVIDADE HORÁRIO
Café 8h às 9h
Sorteio 9h às 10h. Apresentação de tabelas 10h às 11h Discussão 11h às12 h
Almoço 12h às 13h Reflexão 13h às 14h Registro 14h às 16h
Total 8 horas.
Neste momento, preparado inicialmente pelo café, seguido de um sorteio de
brindes, farão parte os professores, funcionários, pais e alunos do primeiro,
segundo e terceiro anos do curso Técnico em Agroecologia. Realizar um grande
grupo e apresentar as contribuições do encontro anterior. Na sequência, como
forma de respaldo para a Unidade Didática, o estabelecimento de ensino,
apresentará como dados reais de pesquisa e levantamento, as tabelas
comparativas, desde a implantação até a atualidade, os índices de matrícula e
desistência do primeiro, segundo e terceiros anos do curso em questão, conforme
tabelas abaixo, visando solucionar ou minimizar a evasão escolar, por meio de
ações significativas.
CURSO TÉCNICO EM AGROECOLOGIA
ANO N° DE ALUNOS MATRICULADOS
1° ANO
N° DE ALUNOS DESISTENTES
1° ANO
2009
2010
2011
2012
2013
ANO N° DE ALUNOS MATRICULADOS
2° ANO
N° DE ALUNOS DESISTENTES
2° ANO
2009
2010
2011
2012
2013
ANO N° DE ALUNOS MATRICULADOS
3° ANO
N° DE ALUNOS DESISTENTES
3° ANO
2009
2010
2011
2012
2013
Propor que se formem três grupos, sendo um de pais e professores, um de
alunos e um de funcionários.
Para discutir:
a) O que pode ter causado esta evasão?
b) Como podemos contribuir para a melhoria da qualidade de ensino neste
estabelecimento efetivamente?
c) Qual a importância de saber o seu papel na escola, sua função e de como
executá-la?
d) Os resultados obtidos pela instituição escolar poderia ser reflexo da
prática educativa? E das atividades dos alunos?
Para refletir e registrar:
a) Quais os pontos positivos e negativos da prática pedagógica que se
destacaram?
b) O que se sugere, levando em consideração os problemas apresentados,
como relevantes para melhorar o desempenho dos alunos?
Todos os relatos e contribuições serão registrados e apresentados ao
coletivo escolar, os quais servirão para auxiliar na construção do Regulamento
Interno.
3.4 MOMENTO 04
CRONOGRAMA
ATIVIDADE HORÁRIO
Café 8h às 9h
Apresentação dos registros 9h às 12h Almoço 12h às 13h Construção do Regulamento Interno 13h às 15h 30min. Confraternização 15h30min às 16h
Total 8 horas.
Oportunizar o café da manhã a todos os que fizerem parte dos encontros
anteriores. Em seguida, levar ao seu conhecimento, o Regimento Escolar e deixar
disponível para acesso. Sugerir que formem um grande grupo, em forma de círculo,
onde serão divulgados e entregues por escrito a cada um dos participantes os
registros, em forma de tópicos, item por item, de todos os encontros. Então
almoçam e prosseguem as atividades, com a construção do Regulamento Interno,
em consonância com o Regimento Escolar, visando ordem, disciplina e
aproveitamento educacional, buscando através desse, contribuir para a formação
integral dos educandos, tanto no cumprimento dos deveres quanto dos direitos.
Concluído, o documento será assinado pelos participantes e aprovado em forma de
registro em ata. Convidar todos para registrar em forma de fotografia, sendo neste
momento entregue a cada participante um balão e, no interior de alguns deles, terá
uma mensagem. Os que forem contemplados com a mensagem podem ler e relatar
o que foi produtivo profissionalmente e pessoalmente, durante os encontros, sendo
acompanhado por uma música.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel. A escola do Campo e a Pesquisa do Campo: Metas. In: Molina, Mônica C. Educação do Campo e Pesquisa: Questões para Reflexão. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2006. CALDART, Roselis. Por uma Educação do Campo: traços de uma identidade em construção. In: Educação do Campo: Identidade e Politicas Públicas – Caderno 4. Brasília: Articulação Nacional “Por uma educação do Campo”, 2002 FREIRA, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação do Campo. Paraná: 2006. PARO. Vítor Henrique. Qualidade de Ensino: A Contribuição dos Pais. 3. ed. São Paulo: Xamã, 2007. Revista da Formação por Alternância. ano 1. n. 1, setembro 2005. Revista da Formação por Alternância. ano 3. n. 5, dezembro 2007. Revista da Formação por Alternância. ano 4. n. 7, dezembro 2008.