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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO
EDUCACIONAL – PDE
USO PEDAGÓGICO DA HQ ON-LINE NAS AULAS DE ESPANHOL
Irani Santos¹
Drª Greice da Silva Castela²
(Professora Orientadora – IES)
RESUMO: Este estudo apresenta algumas considerações sobre o uso pedagógico da HQ on-line nas aulas de Espanhol e propõe encaminhamentos para a prática pedagógica de E/LE, na qual busca desenvolver um trabalho com atividades diversificadas, por meio do uso do gênero discursivo “história em quadrinhos” (HQ), a fim de despertar o gosto pela leitura e estimular a produção textual. A proposta embasa-se em autores como Bakhtin, Marcuschi e Solé, considerando a concepção interacionista de linguagem e em estudo sobre os gêneros discursivos, nesse caso, em especial, o gênero “história em quadrinhos” em suporte on-line como fonte de expressão e de comunicação. A utilização de HQ on-line é considerada como motivadora dos alunos que apresentam dificuldades na leitura e na produção textual, para proporcionar-lhes um ensino mais efetivo e significativo e poderem se apropriar do que leem e escrevem, transformando suas leituras e escritas em práticas sociais, contribuindo para a motivação e autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Dentro desse contexto, o projeto foi desenvolvido na área E/LE (CELEM) do 2º ano no Colégio Estadual Dario Vellozo, na cidade de Toledo, que teve como propósito desenvolver atividades do estudo realizado no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, proporcionada pela Secretaria de Estado da Educação – SEED, através do governo do Estado do Paraná. Palavras-chave: HQ On-line; Novas Tecnologias; Língua Espanhola; Gênero discursivo.
1 INTRODUÇÂO
A internet se tornou recentemente a principal ferramenta de informação e de
comunicação utilizada pela humanidade. As pessoas se comunicam por meio das
novas tecnologias virtuais independentemente da língua em uso e da cultura. Nesse
contexto, verifica-se a importância da utilização de recursos midiáticos no ensino de
línguas, uma vez que esses recursos estão inseridos na realidade dos estudantes e
a escola não pode ficar alheia a essas inovações tecnológicas. Nesse sentido, a
História em Quadrinhos on-line pode ser uma ferramenta inovadora e eficaz para o
ensino.
Analisa-se, nesse contexto, que o gênero discursivo HQ vem sendo fonte de
expressão, de produção literária e de comunicação, cuja utilização pode motivar os
alunos de uma turma de 2º ano de Espanhol de um Centro de Ensino de Línguas
Estrangeiras Modernas (CELEM), no caso o do Colégio Estadual Dario Vellozo, no
município de Toledo, que apresentam dificuldade na leitura e na produção de texto,
muitas vezes desmotivados para prosseguir os estudos, pois há outros atrativos
oferecidos por diferentes recursos midiáticos. Quando a HQ é utilizada como
estratégia pedagógica, os alunos passam de meros receptores a produtores de
conhecimento ao produzirem seus textos, e passam a fazer leitura e interpretação
de outros textos, contribuindo ainda para a motivação e autonomia no processo de
ensino-aprendizagem.
Assim, a HQ on-line interfere na constituição de nossa subjetividade por meio
de maneiras diversas de aprender e de representar a realidade, relacionadas ao
modo de ser, de pensar, de conhecer o mundo e de se relacionar com a vida. Esse
recurso das HQ representa um dos suportes da escrita, com atrativos e recursos
audiovisuais. Conforme apontam Lopes e Rojo (2004 apud DCE, 2008, p. 59),
vivemos “[...] um mundo de cores, sons, imagens e design que constroem
significados em textos orais/escritos e hipertextos”.
Nessa perspectiva, constatamos que o computador e suas ferramentas de
navegação on-line que estão inseridos na realidade escolar podem servir de
ferramenta didático-pedagógica auxiliar para fazer o aluno envolver-se em projetos
educativos nos quais o processo de conhecimento contempla não só a teoria, mas
também a prática, superando as práticas tradicionais do ensino da língua em foco.
Justifica-se, desse modo, a relevância deste estudo, uma vez que, com ele, a
proposta era e é desenvolver um trabalho diversificado em E/LE, por meio do uso de
HQ on-line, a fim de despertar o gosto e a necessidade da leitura, bem como
estimular a criatividade e a criticidade através da escrita.
Se pensarmos na dificuldade do aluno em assumir uma posição responsiva
durante a produção de textos escritos, ver-se-á que muitos poderiam ser os fatores
que motivaram o seu desânimo. Todavia, o que nos parece ser o mais decisivo são
as próprias circunstâncias em que se desenvolve o processo das práticas sociais de
escrita na sala de aula. Então, portanto, verificamos que a fonte da dificuldade era e
é o próprio modelo tradicional de ensino, que concebe uma prática pedagógica
inadequada e insuficiente para a apropriação da escrita.
Outro fator que contribui para a configuração do quadro dessa dificuldade de
escrita é o fenômeno da transformação dessa mesma escrita, impulsionado pelo
advento da tecnologia. Essas mudanças tecnológicas na escrita não ocorreram
apenas em sua natureza, mas também em suas funções, utilizações sociais, suporte
nos quais circulam os textos, que são não somente impressos, mas virtuais.
A partir do exposto, é preciso pensar e repensar na
modernização/transformação das circunstâncias em que se inserem as práticas de
escrita na escola e em como a escola se posiciona diante dessa nova modelagem
dos textos veiculados nesses suportes virtuais. Diante disso, surgiu como
indagação: ─Como as novas tecnologias podem contribuir, de maneira eficaz e
significativa, para o ensino de Espanhol no CELEM por meio do recurso midiático de
HQ on-line?
Nesse sentido, a HQ, como gênero discursivo, é fonte de expressão, de
comunicação e de produção literária, na qual o aluno poderá produzir textos (verbais
e não verbais), assumindo uma atitude responsiva, crítica e autônoma diante dos
textos produzidos por ele e por outros autores. De acordo com a DCE, “[...] a aula de
LEM deve ser um espaço em que se desenvolvam atividades significativas, as quais
explorem diferentes recursos e fontes a fim de que o aluno vincule o que é estudado
com o que o cerca” (PARANÁ, 2008, p. 64).
A seguir apresentamos a fundamentação teórica em que se baseou nossa
pesquisa.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Novas tecnologias no ensino-aprendizagem de E/LE
Com o fenômeno da globalização vieram também as transformações sociais,
culturais e econômicas. A escola pode adquirir novas configurações e, para isso,
deve ser repensada e compreendida a partir de uma nova dinâmica e estrutura. O
conhecimento se transforma constantemente numa infinidade de informações que
são assimiladas e logo substituídas por outras.
Essas mudanças não são alheias à escola e ao processo educativo e
interferem decisivamente no modo de conceber a aprendizagem, as práticas
didático-metodológicas e a postura do professor. O currículo escolar deve ser
reformulado, tendo agora a pressuposição das grandes mudanças em curso,
atendendo a novos conceitos, a novas demandas e a novos paradigmas.
Diante dessa nova sociedade que surge, estruturada pelas novas tecnologias
de informação e comunicação, as relações humanas passam a ser intensificadas
pela rede mundial de computadores (internet), por intermédio de meios eletrônicos, a
qualquer tempo e momento. A sensação de movimento é constante e a mídia
possibilita o repasse de informações num curto espaço de tempo e em alta
velocidade.
Formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a análise de textos e de imagens, a representação de redes, de procedimentos e estratégias de comunicação. (PERRENOUD, 2000, p. 128).
Com a incorporação das novas tecnologias no ambiente escolar, torna-se
necessária a utilização das diversas ferramentas proporcionadas pelos gêneros
digitais, mediados pelo computador.
O computador, em particular, permite novas formas de trabalho, possibilitando a criação de ambientes de aprendizagem em que os alunos possam pesquisar fazer antecipações e simulações, confirmar ideias prévias, experimentar, criar soluções e construir novas formas de representação mental. Além disso, permite a interação com outros indivíduos e comunidades, utilizando os sistemas interativos de comunicação: as redes de computadores (internet). (BRASIL, 1998, p. 141).
A exigência pela rapidez e amplitude de informações demanda o uso das
novas tecnologias, modificando a maneira de pensar e de agir em meio à sociedade.
No âmbito educacional não é diferente, pois os meios tecnológicos são cada vez
mais necessários. Mesmo assim, porém, para sua inserção efetiva, é necessário
saber utilizá-los, para que haja autonomia do aluno, pois o contexto social exige
cada vez mais esse domínio.
A presença da tecnologia da informação e comunicação nas escolas trouxe a
interação às aulas por meio da utilização dos gêneros digitais mediados pelo
computador. O gênero digital HQ, em suporte on-line, é uma das ferramentas que
possibilita ao aluno a capacidade de adaptar-se ao universo textual, oferecendo-lhe
a oportunidade de integrar imagens, sons, linguagens estilística (linguagem verbal e
não verbal) e muitos outros recursos atrativos e dinamizados que vão se agregando
ao texto, permitindo uma aprendizagem mais significativa para interação e produção
de conhecimentos, podendo aproveitar-se dessas competências para o
desenvolvimento do ensino de E/LE.
Conforme ressaltam os Parâmetros Curriculares Nacionais, há a necessidade
de a escola se adaptar às inovações da sociedade, pois:
O mundo vive um acelerado desenvolvimento, em que a tecnologia está presente direta ou indiretamente em atividades bastante comuns. A escola faz parte do mundo e, para cumprir sua função de contribuir para a formação de indivíduos que possam exercer plenamente sua cidadania, participando dos processos de transformações e construção da realidade, deve estar aberta a incorporar novos hábitos, comportamentos, percepções e demandas. (BRASIL, 1998, p. 138).
Ao inserir as tecnologias no ensino de E/LE, é preciso que se estimule no
aluno o despertar da atitude reflexiva e autônoma ao fazer o uso dos meios
midiáticos. Esses meios devem ser utilizados a fim de dar condições para que o
mesmo aluno reflita e adquira a habilidade de ser inovador e criativo.
Segundo Marcuschi (2004, p. 33), "[...] o gênero digital é todo o aparato
textual em que é possível, eletronicamente, utilizar-se da escrita de forma interativa
ou dinamizada”.
Os gêneros digitais são também gêneros do discurso que se caracterizam
como tipos relativamente estáveis de enunciados, utilizados em cada uma das
diferentes esferas da atividade humana.
O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos da língua – recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais –, mas também, e, sobretudo, por sua construção composicional. (BAKHTIN, 2000, p. 263).
Assim, portanto, o uso do gênero digital HQ on-line (como é a proposta deste
projeto) no processo de ensino-aprendizagem de E/LE poderá permitir ao aluno uma
aprendizagem mais efetiva e significativa, por meio dos recursos pedagógicos
mediados pelo computador no desenvolver das aulas.
2.2 O gênero HQ
Os gêneros textuais são ferramentas para o ensino, possibilitando o contato
com diferentes tipos de textos. Bakhtin (1994, p. 274) afirma que “[...] os gêneros
constituem formas relativamente estáveis de enunciado, disponíveis na cultura”.
Corroborando a informação de Bakhtin, Marcuschi (2005) coloca que os gêneros
textuais estão vinculados à vida cultural e social:
Os grandes suportes tecnológicos da comunicação, tais como o rádio, a televisão, o jornal, a revista e a internet, por terem uma presença marcante e grande centralidade nas atividades comunicativas da realidade social que ajudam a criar, vão por sua vez propiciando e abrigando gêneros novos bastante característicos. Daí surgem formas discursivas novas, tais como editoriais, artigos de fundo, notícias, telefonemas, telegramas, telemensagens, teleconferências, videoconferências, reportagens ao vivo, cartas telefônicas (e-mails), bate-papos virtuais (chats), aulas virtuais (aulas chats) e assim por diante. (MARCUSCHI, 2005, p. 2).
A HQ como gênero discursivo utiliza uma linguagem do cotidiano e, assim
sendo, torna-se atrativa e de fácil compreensão. Representa atualmente um gênero
capaz de despertar o gosto e o prazer pela leitura, enriquecendo o vocabulário e
ampliando a visão de mundo.
Os quadrinhos não podem passar despercebidos pela revolução tecnológica
do século XXI. A internet e os recursos da computação gráfica podem ser utilizados
na confecção da HQ, tornando-a esteticamente mais apresentável e trazendo novas
possibilidades para o seu uso. A sua veiculação por meio da internet leva a novas
formas de acesso e comunicação entre o público e a obra, transformando e dando
significação e valor ao conteúdo transmitido e recebido.
A história em quadrinhos (HQ) tem sido ao longo do último século, um meio
de comunicação midiático bastante difundido e influente nos veículos da indústria
cultural, podendo favorecer um processo de ensino-aprendizagem mais dinâmico,
lúdico e atrativo, mas sem perder o seu foco, que é a produção e transmissão do
saber e a formação de um sujeito crítico, criativo e ativo.
De acordo com Braga (2007), a HQ surgiu e foi difundida no final do século
XIX, período da Revolução Industrial. Ela era veiculada em jornais e representou
uma inovação cultural, tendo por objetivo o entretenimento e a distração das massas
operárias, porém sem a preocupação com a reflexão crítica. A interação entre os
quadrinhos e o leitor tornou-se mais direta, dinâmica e expressiva.
Conforme a mesma autora, a HQ é um gênero discursivo que permite novas
interações verbais, motivando a leitura, a produção escrita e artística. Em sala de
aula, contribui para a aprendizagem do discente por meio da exigência de um
envolvimento maior com o processo de ensino e da possibilidade de um trabalho
didático-pedagógico que desperta o interesse por considerar práticas sociais e
culturais, além de desenvolver e unir habilidades diversas, desde a leitura,
interpretação, oralidade e produção textual, até a compreensão, sensibilização,
imaginação, criatividade, interação e socialização.
Ainda conforme Braga (2007), a aprendizagem por meio da HQ é fundamental
para a disseminação de culturas, discursos e ideologias, expondo e compartilhando
conhecimentos diversos, sempre na intenção de favorecer uma aprendizagem
significativa aos estudantes. Por meio dela, o trabalho pedagógico assume um
compromisso com o ensino de Língua Estrangeira ao ser uma ferramenta de auxílio
das práticas de ensino, desenvolvendo no aluno a autonomia, a capacidade de
resolver problemas, a socialização dos saberes para construir conhecimentos e
aperfeiçoar habilidades e competências.
A HQ representa um suporte visual atrativo e eficiente para a leitura e a
escrita, pois o aluno é levado a visualizar e a identificar a reação dos personagens
para perceber a situacionalidade, a intencionalidade, a intertextualidade, a
aceitabilidade e a informatividade, tornando-se mais crítico e ativo, percebendo, por
trás do texto, as práticas sociais, ideológicas e culturais, ampliando sua visão de
mundo.
Não basta, portanto, que o aluno apenas decodifique os quadrinhos, mas se
faz necessário que os interprete à luz de seu contexto social e da sua realidade
histórica, a fim de que eles adquiram sentido e para usá-lo em situações do
cotidiano. Nesse intuito, Braga (2007, p. 24) afirma que “[...] as HQs podem ser
estudadas, enquanto objeto da cultura material e fenômeno sociocultural [...]. Do
ponto de vista da linguagem, as HQs também ganham uma dimensão sociocultural,
pois as coisas não existem no mundo independente da linguagem [...].” Assim, elas
podem se tornar eficientes meios para iniciar e motivar os jovens para o hábito da
leitura e da prática da escrita.
Os sujeitos leitores das HQ interagem e se confrontam com o texto dos
quadrinhos, dialogando com eles para dar-lhes sentido, desenvolvendo a autonomia
de pensamento.
Na web, a leitura da HQ é feita no monitor e por meio de um navegador [...] obedece à navegação predeterminada por múltiplas conexões e cada página pode conter textos, imagens, som, vídeo,
quadros com elementos em movimento e toda sorte de ideias que os quadrinhistas são capazes de imaginar. (BRAGA, 2007, p. 22).
A HQ associa-se com as linguagens verbal e visual para compor elementos
como personagens, tempo, espaço e acontecimentos sequenciais, estabelecendo
relações de causa e efeito. A expressão verbal comumente aparece em balões,
legendas ou letreiros. Já a linguagem visual é representada pelo uso de imagens
com diversidade de cores, personagens e gestos. As duas formas de linguagem são
essenciais para a criação de uma HQ como recurso pedagógico. Além de explorar
diversas linguagens, trata de múltiplos assuntos: política, ciência, sociedade,
esportes, humor, costumes, culturas, etc., sem deixar ainda de explorar a pluralidade
cultural presente nos mais significativos contextos.
A linguagem das HQs é específica e diferente para cada meio, pois a web proporcionou às HQs inovações expressivas, repletas de mensagens visuais estáticas ou em movimento e sons. Desta forma, há que se refletir sobre a adaptação da história do meio impresso para o meio on-line e o sentido da mensagem para o leitor. Outro aspecto a ressaltar é que os quadrinhistas devem fazer pesquisas no campo da ergonomia cognitiva e dos fundamentos da linguagem visual e do design de interface, para determinarem a melhor forma de apresentação da página eletrônica e dos quadros e obter uma leitura visual mais confortável no monitor. (BRAGA, 2007, p. 22).
Além disso, a HQ estimula o hábito da leitura, atua como instrumento
importante da aprendizagem e tem cada vez mais se incorporado nas instituições de
ensino por orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais.
2.3 Leitura e escrita na perspectiva interacional
A língua é caracterizada por ser um processo social, formada a partir da
interação estabelecida entre os indivíduos em contextos específicos e significativos
de comunicação:
[...] na concepção interacional (dialógica) da língua, na qual os sujeitos são vistos como atores/construtores sociais, o texto passa a ser considerado o próprio lugar da interação e os interlocutores, como sujeitos ativos que – dialogicamente – nele se constroem e são construídos. Desta forma há lugar, no texto, para toda uma gama de implícitos, dos mais variados tipos, somente detectáveis quando se tem, como pano de fundo, o contexto sociocognitivo dos participantes da interação. (KOCH, 2002, p. 17).
Segundo Solé (1998), a leitura é vista como objeto de conhecimento em si
mesmo e como instrumento necessário para a aprendizagem e que sempre envolve
a compreensão do texto escrito. O leitor não é neutro no processo da leitura, pois
dialoga com o texto para que haja a compreensão escrita. É fundamental que o leitor
se torne autônomo, crítico e reflexivo diante do texto, que não deve ser apenas
decodificado, mas lido e interpretado a partir de inúmeras práticas sociais e
contextos significativos:
Formar leitores autônomos também significa formar leitores capazes de aprender a partir de textos. Para isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua própria compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do seu acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo, estabelecer generalizações que permitam transferir o que foi aprendido para outros contextos diferentes [...]. (SOLÉ, 1998, p. 72).
Cabe destacar que a linguagem acontece numa perspectiva interacionista
entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, sujeitos esses
situados, inseridos e organizados em um determinado contexto histórico-social que
deve ser valorizado nas práticas de leitura e escrita. Nessa concepção, Rosa (2014,
p. 43) afirma que, “[...] sem interação, obviamente, não há linguagem. [...] os sujeitos
são vistos como construtores sociais, pois é por meio da interação verbal, de
diálogos entre os interlocutores, que ocorrem as trocas e a construção de
conhecimentos”.
Para tanto, a leitura passa a ser um dos meios mais importantes para a
aquisição de novas aprendizagens e, assim, à medida que o aluno avança na
escolaridade, aumenta a exigência de uma leitura mais ativa e independente, a fim
de que possa progredir nas habilidades de leitura e utilizá-la para acesso a novos
conhecimentos nas mais diversas áreas do currículo escolar, para tornar-se
proficiente e processar o texto na sua totalidade e significação:
Para ler é necessário dominar as habilidades de decodificação e aprender as distintas estratégias que levam à compreensão [...]. Também se supõe que o leitor seja um processador ativo do texto, e que a leitura seja um processo constante de emissão e verificação de hipóteses que levam à construção da compreensão do texto e do controle desta compreensão – de comprovação de que a compreensão realmente ocorre. [...] Ler é um processo de interação entre um leitor e um texto, antes da leitura (antes de saberem ler e antes de começarem a fazê-lo quando já sabem) podemos ensinar estratégias aos alunos para que essa interação seja o mais produtiva possível. (SOLÉ, 1998, p. 114).
As estratégias de leitura são fundamentais e, portanto, precisam ser
trabalhadas com os alunos para que eles adquiram a capacidade de ler e de
compreender o texto. Essas estratégias podem ser utilizadas nas mais diversas
situações e práticas didáticas para que se desenvolva a habilidade leitora. Castela
(2011), assim como Solé (1998), faz uma divisão didático-metodológica das etapas
de leitura. São elas: pré-leitura, leitura e pós-leitura.
Desse modo, faz-se necessário utilizar estratégias que tornem os alunos
leitores ativos, conhecedores do objetivo da leitura eficaz, empregando seu
conhecimento prévio. Essas estratégias utilizadas antes da leitura têm o intuito de
despertar nos alunos a necessidade de ler, de criar motivo de leitura, de mostrar a
utilidade dela no dia a dia.
Segundo Castela (2011), durante o ato de ler realizam-se as seguintes estratégias:
[...] controle da compreensão; verificação das hipóteses elaboradas antes da leitura: associação entre as informações do texto e os conhecimentos prévios do leitor; percepção de relações entre as partes do texto; estabelecimento das relações intertextuais; identificação de polifonia no texto; constatação da posição do autor; identificação dos conectores lógicos e suas funções; busca de informações que satisfaçam o objetivo de leitura; realização de inferências e utilização do contexto para deduzir o significado do léxico desconhecido [...]. Após a leitura, o leitor continua valendo-se de estratégias para organizar as informações e ideias do texto e relacioná-las ao seu conhecimento prévio para construir sua compreensão. (CASTELA, 2011, p. 7).
Como o ato da leitura não representa apenas a decodificação dos sinais
linguísticos, o processo de letramento é imprescindível para que ocorra a interação
entre o texto, o leitor e o contexto, num constante dialogismo entre esses elementos.
Eis o que afirmam os PCN:
Letramento, aqui é entendido como produto da participação em práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e tecnologia. São práticas discursivas que precisam da escrita para torná-las significativas. Ainda que às vezes não envolvam as atividades específicas de ler e escrever. Dessa concepção decorre o entendimento de que, nas sociedades urbanas, não existe zero de letramento, pois é impossível não participar, de alguma forma, de
algumas dessas práticas. (BRASIL, 1998, p. 19).
A finalidade primeira é a formação do leitor, haja vista que é necessário que o
aluno passe pelas fases de formação, lendo diferentes textos até alcançar o
desenvolvimento em leitura, momento em que se apropria daquilo que lê, trazendo à
sua realidade e fazendo inferências a fim de tornar-se proficiente e competente.
Para Castela (2011), a escrita tem por função acompanhar o desenvolvimento
das relações sociais em sua concretização pela linguagem, já que esta é uma
prática social condicionante. É dever da escola fazer com que os alunos aprendam a
dominar o exercício da escrita através de estratégias variadas de leitura textual que
permitam a interação constante entre leitor e texto, que leve o aluno a compreender
o que lê e a produzir textos de modo significativo. O aluno aprende a escrever
quando ele é desafiado a exercer e treinar a escrita em situações específicas e
distintas para que ela se torne um hábito.
O texto escrito representa a individualidade e a ideologia de seu autor, que
ora evidencia ideias de outros autores e ora contraria outras em constante
intertextualidade. Como afirma Castela (2011, p. 48), “[...] a linguagem escrita,
então, constitui-se como um importante instrumento de mediação entre locutor e
interlocutor, uma vez que serve, também, para transmitir uma mensagem entre os
participantes de uma situação comunicativa, colocando-se entre eles”.
A escrita não é um exercício mecânico, e deve ultrapassar as barreiras dos
muros escolares ao adquirir inúmeras finalidades, fazendo com que as produções
dos textos escolares tenham outros interlocutores, que não apenas os envolvidos no
processo de produção. Nessa perspectiva, Rosa (2014, p. 66) diz ser necessário
“[...] que o produtor de texto perceba a existência de uma função social para a
escrita. Além de minimizar a artificialidade do processo, isso poderia despertar, no
aprendiz, a vontade de escrever textos”. Cabe ressaltar que, para que esse
processo ocorra de maneira significativa e eficiente, é fundamental a mediação que
se estabelece na escrita, por meio dos encaminhamentos do professor que envolva
os alunos em situações reais de interação.
A seguir apresentamos os resultados da implementação do projeto e discutimos
seus resultados.
3 A IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO E A DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O Projeto teve respaldo e aceitação pela comunidade escolar no momento da
sua apresentação. Essa recepção se deu, uma vez que se reconhece a necessidade
de pensarmos e de repensarmos estratégias pedagógicas que envolvam e valorizem
o coletivo escolar. Para isso se fez necessária a apresentação do projeto para que
toda a comunidade escolar tomasse conhecimento do tema, da problemática, dos
objetivos e das estratégias de ações que seriam desenvolvidas durante o período de
aplicação dele, e assim valorizassem mais os sujeitos envolvidos no processo de
viabilização do projeto. O público-alvo foi o 2º Ano – CELEM – Espanhol, período
intermediário, com o total de 10 alunos, que acolheram a proposta do projeto com
entusiasmo, principalmente com relação às atividades práticas com uso das
tecnologias para a produção do gênero discursivo “história em quadrinhos” em
suporte on-line, relacionando-as com as estratégias de leitura ─ pré-leitura, leitura e
pós-leitura ─, a fim de despertar o interesse e o gosto pela leitura e estimular a
produção textual, proporcionando-lhes um ensino mais efetivo, significativo e
autônomo. A ênfase consiste em que as práticas de leitura e escrita sejam mais
reflexivas e críticas, realizadas e contextualizadas a partir das práticas sociais.
A Unidade Didática foi elaborada procurando relacionar a fundamentação
teórica com a prática que foi desenvolvida com os alunos. As ações foram
organizadas em 8 (oito) unidades, distribuídas e aplicadas em 2 horas/aula de 50
minutos a cada dia, totalizando 32 horas, realizadas nos meses de abril a agosto de
2015, dando, assim, unidade à proposta.
Unidade 1 ─ No primeiro dia foi apresentado o projeto, que teve sua
importância explicitada para que os alunos tomassem conhecimento dos objetivos e
das ações que seriam desenvolvidas durante o período da aplicação. Assim, eles se
sentiram motivados a participar das atividades propostas, seguindo com atividades
diagnósticas, com conceitos inerentes ao tema de estudo, com as estratégias de
leitura ─ pré-leitura ─, onde ativaram os seus conhecimentos sobre os tipos de HQs
─ HQ impressas e HQ on-line ─ e sobre a origem delas. Esses alunos relataram que
não tinham conhecimento sobre a origem das histórias em quadrinhos e não
conheciam sites de HQs on-line, mas citaram nomes de algumas HQs que já haviam
lido e de alguns de seus personagens mais conhecidos, como Turma da Mônica,
Cascão e Mafalda. Para se familiarizar com o tema, os alunos acessaram o site
<http://www.educarchile.cl/ech/pro/app/detalle?ID=188693>, tomando-o como
recurso digital para fazer atividade interativa de linguagem e comunicação de HQs.
Foram também disponibilizados dois links, quais sejam: <http://www.sitedecuriosida
des.com/curiosidade/qual-a-origem-das-historias-em-quadrinhos.html> e <http://mun
doestranho.abril.com.br/materia/quem-inventou-a-historias-em-quadrinhos>, para pesquisa
sobre a origem e criador da primeira HQ e, como atividade de pós-leitura,
apresentaram um resumo do trabalho oralmente.
Unidade 2 ─ O início da atividade se deu com a pré-leitura envolvendo
questões de opinião sobre o gênero HQ, considerando o conhecimento prévio dos
alunos, considerando a concepção interacionista de linguagem e considerando os
gêneros discursivos. Então foi feito um estudo da criação de Mafalda, por meio do
link seguinte: <http://www.infoescola.com/biografias/mafalda/>. Esse link trouxe
informações sobre a personagem, seus ideais, seu contexto histórico e cultural dos
países hispânicos e ainda um vídeo com histórias em quadrinhos dessa mesma
personagem. Ocorreu, porém, um erro ao acessá-lo, pois não aparecia mais como
disponível e, para suprir essa falha, envolvi os alunos na solução do problema,
incentivando-os a pesquisar outro vídeo com historietas en línea de Mafalda ─
<https://youtu.be/pe6yGNGaM3Q> ─ havendo, assim, uma interação maior entre
professor-aluno e vice-versa, envolvendo-os na prática da leitura e da oralidade,
encerrando-se, assim, a Unidade 2, com atividades de pós-leitura com questões de
compreensão leitora das características do gênero textual HQ e as histórias de
Mafalda, seu contexto histórico, aspectos culturais e em que tipo de sociedade se
inseria e contestava.
Unidade 3 ─ Seguiu-se com atividades de pré-leitura realizadas com
questões de compreensão leitora sobre a origem e a história de Mafalda e de seu
criador, atividades nas quais os alunos puderam refletir e comentar oralmente e, na
sequência, acessar o link <http://www.infoescola.com/biografias/mafalda/>, que traz
informações sobre a personagem que marcou os anos 1960 e se eternizou com os
ideais que representa, como também amplia os conhecimentos culturais sobre os
países hispânicos. Na sequência, foi apresentado um resumo impresso sobre as
personagens de Mafalda, suas características e a biografia do seu criador. Como
atividade de pós-leitura, algumas questões foram lançadas sobre o tema tratado e,
em seguida, apresentei as características de uma HQ por meio dos slides <http://
pt.slideshare.net/YeroldYCH/historieta-y-sus-elementos-equipo-3>, que abordou os
vários aspectos da produção de uma HQ, como roteiro, argumento, clímax,
apresentação, conflito e outros. As HQs se constituem por meio de uma linguagem
visual, plano e ângulos de visão, nas quais há um protagonista e personagens
secundários, figuras cinéticas, metáforas visuais, utilização de linguagem verbal,
balão de fala, legenda e onomatopeias, e que, geralmente, estão associadas às
linguagens verbal e visual, envolvendo elementos como personagens, tempo,
espaço e acontecimentos organizados em sequência. O uso de imagens e a
representação de gestos compõem a linguagem não verbal, enquanto que a
expressão verbal geralmente aparece nos balões, nas legendas, nas onomatopeias
e nas interjeições (RAMA et al. (2004)). Também foi apresentado o material com
exemplo de uma HQ e outro com os diferentes tipos de globos através de acesso a
links e, como atividade escrita, solicitei aos alunos que criassem vários tipos de
globos e de onomatopeias e que observassem que, em cada país, as onomatopeias
são diferentes, por causa dos fonemas que são condicionados conforme o contexto
que condiciona a nossa língua. Apresentei a definição de fonema e o acesso ao link
<https://www.esl-idiomas.com/es/curso-idiomas/coffee-break/voces-de-animales/in
dex.htm>.para ouvir as vozes de animais em diferentes países e perceber que os
sons se distinguem. E, para finalizar essa unidade, solicitei que criassem uma
vinheta observando os elementos constitutivos e as etapas de criação de uma HQ,
para isso utilizando os recursos digitais no laboratório de informática.
Unidade 4 – Foi iniciada com a pré-leitura com questões de opinião para ativar
os conhecimentos prévios sobre histórias em quadrinhos e o que as diferencia de
outros gêneros textuais e opinião sobre o tema “preconceito”. Questionei sobre se
conheciam casos de pessoas que sofriam prejuicio por isso. Em seguida foi
realizada uma leitura de texto com uma definição em espanhol da palavra prejuicio.
No material impresso e na sequência acessou-se o link <http://mafalda.dreamers.
com/tirasusanita/s02.gif>, que apresentou as personagens Susanita e Mafalda
fazendo uma crítica ao racismo. Houve, contudo, problemas quanto ao acesso ao
link, o que foi amenizado com cópias das tiras impressas. O segundo link ─
<https://demafaldaasusanita.files.wordpress.com/2014/05/tira-mafal da-1.jpg> ─
ressaltou a importância da amizade entre as pessoas e o respeito pelas diferenças
de pensamento, de comportamento e de como podemos nos relacionar
amigavelmente. Seguindo com as atividades de compreensão de leitura e
gramaticais, abordamos o pronome pessoal complemento “-lo”, trazendo sua
definição no material impresso. Também foram buscadas palavras adjetivas nas tiras
lidas e interpretadas. Finalizamos a unidade com atividades de pós-leitura (orais e
escritas) referentes ao tema analisado.
Unidade 5 ─ Iniciou-se com questões orais de pré-leitura para contextualizar
o aluno no tema, que é o Programa HagáQuê, seguindo com o tutorial para instalar
o software HagáQuê, por meio de um vídeo do Youtube, disponível em <http://www.
youtube.com/watch?v=oYJ4FV6sA80>. Está em formato de videoaula, mostrando o
passo a passo sobre o programa e os requisitos básicos para a instalação do
software. Após a instalação, foi acessado o link <http://www.nied.unicamp.br/?
q=content/hag%C3%A1qu%C3%AA> para instalar o programa HagáQuê e seguiu-
se com a definição do Programa HagáQuê escrita no material impresso e com
atividades práticas para familiarizar-se com alguns recursos do programa, utilizando
ícones e salvando-os em uma pasta para usar posteriormente. E, enfim, finalizou-se
essa unidade com questões de pós-leitura.
Unidade 6 – Nessa ação realizou-se atividade de pré-leitura sobre as
características do gênero HQ on-line, estratégias, criação de roteiro e recursos
específicos. Seguindo com as etapas de produção e os recursos disponíveis com o
uso do Software HagáQuê, executou-se a atividade leitora escrevendo um roteiro de
criação de uma HQ. Assim, desenvolveu-se o plano de criação de uma HQ em
suporte on-line. Finalizando com atividades de pós-leitura relacionadas à criação de
HQs, observou-se que não foram inseridos alguns recursos nas HQs em suporte on-
line, como: links, gifs, bem como também houve um problema ao salvar as
produções em alguns computadores.
Unidade 7 ─ Nessa ação, após a elaboração das HQs on-line, realizou-se a
refacção para análise dos aspectos e das condições de produção no processo de
autocorreção e de reflexão conjunta sobre a experiência que os alunos tiveram com
as atividades propostas, bem quanto ao uso das ferramentas midiáticas. Quanto à
avaliação, foi realizada de acordo com a participação individual e em grupo,
envolvendo atividades desde o início, durante o processo e finalizou-se com a
produção de uma HQ on-line. Observou-se que, no final das atividades propostas,
os participantes já estavam um pouco exaustos, culminando com a diminuição da
frequência.
Unidade 8 -- Nessa ação realizou-se a publicação das atividades produzidas
em ambiente virtual, com a criação de um grupo em rede social, objetivando a
socialização dos trabalhos, além de propiciar práticas de leitura e de escrita.
Finalizou-se o trabalho com atividade de pós-leitura com feedback do grupo,
momentos em que relataram sobre as novas experiências e que lhes despertou o
gosto pela pesquisa, leitura e escrita, principalmente de HQs.
A produção didático-pedagógica realizada teve a sua relevância porque se
propôs a desenvolver um trabalho com atividades diversificadas, por meio do gênero
discursivo “história em quadrinhos” on-line, despertando o gosto pela leitura e pela
escrita, estimulando a produção textual. Favoreceu e proporcionou, ainda, um
ensino mais efetivo e significativo, fazendo com que os alunos se apropriassem do
que liam e escrevessem com autonomia, transformando leitura e escrita em práticas
sociais.
4 GTR – Grupo de Trabalho em Rede
O Grupo de Trabalho em Rede ─ GTR é um curso de capacitação para
professores, tendo sido realizado de forma on-line proporcionada pela Secretaria de
Estado de Educação do Paraná ─ SEED/PR e desenvolvido pelos professores do
Programa de Desenvolvimento Educacional ─ PDE.
Inicialmente se inscreveram no GTR vinte (20) professores, porém apenas
quinze (15) concluíram o curso e cinco (5) cursistas foram considerados desistentes
e não concluintes, por não realizarem todas as atividades no decorrer de cada
módulo, que era dividido em três etapas, sendo que cada módulo teve suas
atividades específicas ─ como glossário, fóruns, diários e autoavaliações ─, assim
contemplando a temática desenvolvida no decorrer da formação e que teve como
finalidade abordar o uso pedagógico da HQ on-line nas aulas de Espanhol.
As contribuições e interações através de fóruns, diários, glossários e
autoavaliações foram significativas, possibilitando a troca de experiências entre os
cursistas, pois cada professor vivenciou realidades diferentes e isso enriqueceu as
atividades realizadas, que contemplou a fundamentação teórica através de leituras
de materiais de estudo e complementares, a análise do Projeto de Intervenção
Pedagógica e da Produção Didático-Pedagógica.
Algumas considerações obtidas no momento das interações e contribuições
de alguns cursistas referentes ao tema da proposta pedagógica foram que:
“Atualmente é possível se trabalhar com a tecnologia sem rotulá-la de inimiga. Através das HQs on-line os alunos se sentirão em território conhecido e isso contribuirá em muito com o trabalho do professor de língua estrangeira.” (M. E. CARVALHO DA SILVEIRA)
“A introdução de novos recursos tecnológicos nas práticas de aprendizagem de línguas estrangeiras, como HQs on-line, provoca mudanças na relação ensino e
aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia dos aprendizes, uma vez que promove oportunidades de interação, cooperação e colaboração.” (B. REIS CHAVES ALVIM)
“Com o gênero textual História em Quadrinhos, o professor consegue explorar e levar o aluno a refletir criticamente sobre a linguagem, cultura e sociedade, pois muitas destas HQs trazem temas relevantes e ao mesmo tempo divertem.” (R. A. DE SOUZA)
“As HQs são recursos didáticos atraentes, possuem uma linguagem clara, informações atualizadas e abordagem interdisciplinar.” (L. C. GARCIA COLACO)
Assim, portanto, com base nessas colocações dos docentes, ressalto que foi
muito positivo e gratificante participar desse GTR e que me oportunizou fazer
algumas reflexões referentes à minha prática pedagógica e entender que as novas
tecnologias podem e devem ser utilizadas para o processo de ensino-aprendizagem.
Constatou-se que o computador e suas ferramentas de navegação on-line podem
servir como ferramenta didático-pedagógica auxiliar que permite ao aluno envolver-
se em projetos educativos nos quais o processo de conhecimento contempla não só
a teoria, mas também a prática, superando as práticas tradicionais do ensino de
línguas, onde podemos desenvolver um trabalho diversificado em E/LE por meio do
uso de HQs on-line, a fim de despertar o gosto e a necessidade de leitura, bem
como estimular a criatividade através da escrita.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vivemos num mundo multissemiótico, num mundo em que ensinar não mais
se restringe ao uso do giz e do livro didático. Na era digital, onde o modelo
tradicional de ensino não faz mais parte da realidade vivenciada pelo aluno, em que
a imagem cada vez mais compete com as palavras, quanto mais a escola estiver
alheia a essa concepção, menos interessante, menos motivadora e menos eficiente
será o processo educativo.
Nesse sentido, os professores e toda a comunidade escolar não podem
continuar apenas com a metodologia tradicional, pois precisam dominar os recursos
midiáticos e se inserir no contexto de socialização e de atuação dentro da sociedade
do conhecimento. É necessário que realmente ultrapassem as barreiras daquela
leitura de decodificação e que promovam a leitura crítica, reflexiva.
A introdução de novos recursos tecnológicos nas práticas de aprendizagem,
como HQs on-line, provoca mudanças na relação entre ensino e aprendizagem e
contribui para o desenvolvimento da autonomia dos alunos, uma vez que essas
ferramentas oportunizam a interação, a cooperação e a colaboração. Com a
utilização dessas ferramentas midiáticas na escola, é possível que o aluno interaja
com os novos gêneros textuais e aprenda a ler e a se fazer entender utilizando
outras esferas.
A disciplina de Língua Estrangeira também deve atender à chamada função
social e não pode mais ficar descontextualizada. Para tanto, as aulas de E/LE
devem proporcionar o desenvolvimento de atividades significativas, para que o aluno
relacione a teoria com a sua realidade. Assim, cabe ao professor buscar novas
formas de tornar esse ensino mais prazeroso e, ao mesmo tempo, eficaz, seja
utilizando recursos tecnológicos, histórias em quadrinhos e outros recursos que
promovam a discussão e o desenvolvimento de reflexões diversas.
Assim, o Projeto de “Intervenção Pedagógica na Escola” sugeriu um
interessante viés ao trabalhar com HQs on-line, em especial pelo fato de abordar e
focar atenção em atividades reflexivas. Sua realização contribuiu e possibilitou a
compreensão do surgimento das histórias em quadrinhos e sua importância no
processo de ensino-aprendizagem de E/LE, pois, através da utilização dessas HQs,
as aulas se tornaram mais dinâmicas, tornando o conteúdo significativo e a
aprendizagem prazerosa.
As atividades com Histórias em Quadrinhos possibilitou ao aluno ampliar o
seu leque de meios de comunicação, incorporando-os nas habilidades de escrita,
oral, gráfica, além de auxiliar no desenvolvimento do hábito de leitura, bem como,
enriquecer o vocabulário. Outro fator significativo foi que as HQs instigaram o aluno
a pensar, a criar, a imaginar e a promover atividades de leitura e escrita por meio do
uso do site HagáQuê, que é voltado à criação de HQs. Ao trabalhar com as HQs on-
line, o docente favoreceu o fomento do letramento pela leitura, pela escrita e
oportunizou a publicação na Internet, além de incentivar a autonomia do aprendiz, já
que o domínio dos recursos da web favorece uma postura mais independente e
autônoma para futuros aprendizados.
Com a finalidade de promover um ambiente que facilite a aquisição da Língua
Espanhola, o uso das HQs on-line como um material de apoio no momento do
ensino, somado ao conteúdo programático, proporcionará maior contato com o uso
efetivo da Língua Espanhola, de forma mais agradável e divertida, ajudará o
educando a contextualizar a história refletindo sobre a situação apresentada de
maneira lúdica, tornando as aulas do CELEM - E/LE mais interessantes para esse
público, tão misto no que se refere à faixa etária.
Ressalta-se, portanto, que o uso pedagógico de HQs on-line nas aulas de
Espanhol, com o objetivo de verificar aspectos didáticos do gênero discursivo HQ
on-line, mostrou-se um recurso eficaz para a formação de leitores críticos e
competentes, pois esses alunos, durante as atividades, demonstraram efetivo
empenho em se apropriarem da leitura e da escrita nos termos propostos.
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