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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O ENSINO DA MATEMÁTICA DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
NO CURSO DE FORMAÇÃO DE DOCENTES
Autor: Marines Minto1
Orientador: Profª. Dra. Clélia Maria Ignatius Nogueira2
Resumo
Grandes são os desafios enfrentados pelos professores que trabalham na formação de futuros professores no Curso de Formação de Docentes, em nível médio. Em relação à Matemática, a defasagem de conteúdo, a aversão à disciplina e a pouca carga horária compromete o aprendizado e futuramente a atuação dos futuros docentes. Nesse sentido, é necessário que haja um esforço por parte dos professores formadores para que os alunos possam estar bem preparados para atuarem em sala de aula, visto que se estes não sabem o que vão ensinar, como vão ensinar e para que vão ensinar, provavelmente não terão uma ação pedagógica que favoreça o ensino e a aprendizagem do conhecimento matemático, ou seja, poderão provocar “dificuldades” de aprendizagem ou mesmo aversão a estes conteúdos. Esta experiência teve por objetivo a apresentação, unindo teoria e prática, dos conteúdos relativos ao sistema de numeração decimal e às quatro operações básicas para verificar se há possibilidade de os alunos sanarem suas dificuldades em relação ao conhecimento do conteúdo e suas metodologias, desmistificando o processo de ensino e aprendizagem da Matemática, ao mesmo tempo em que busca ganhar tempo para trabalhar outros assuntos relacionados com a formação matemática dos mesmos. A experiência relatada foi realizada com alunos da 3ª série A do Curso de Formação de Docentes Integrado e do 3º Semestre A do Curso de Formação de Docentes com aproveitamento de estudos do Colégio Estadual Santos Dumont - EMN de São Tomé – Pr.
Palavras chave: professor polivalente, aprendizagem, matemática, crenças, metodologias
_________
1 Professora da Rede Pública Estadual/ Núcleo Regional de Educação de Cianorte-PR. Professora
do Programa de Desenvolvimento Educação – PDE. [email protected]
2 Professor Orientador do PDE e docente da Universidade Estadual de Maringá – UEM.
1 INTRODUÇÃO
Muito se tem falado a respeito da qualidade do ensino nas escolas públicas.
Várias tentativas foram (e são) feitas, tanto pela comunidade escolar como pela
Secretaria de Estado da Educação do Paraná, visando melhores resultados nos
processos de ensino e de aprendizagem. É sabido, também, que todos os membros
envolvidos no processo educacional têm sua parcela de contribuição, mas é na
escola, principalmente na sala de aula, que esse trabalho se efetiva.
Ao expressar suas considerações em reuniões pedagógicas e Conselho de
Classe, os professores revelam angústias e anseios na busca de estratégias
inovadoras para melhorar a aprendizagem dos alunos. Mas esta tarefa não é fácil,
pois são muitos os fatores que interferem nesse processo.
Durante vários anos trabalhando com os alunos no Curso de Formação de
Docentes a professora PDE observou quanta dificuldade eles apresentam quando
chegam ao Ensino Médio em relação aos conhecimentos matemáticos. Muitas
vezes, foi necessário retomar os conteúdos básicos dos Anos Iniciais para avançar
nos conteúdos próprios das Diretrizes Curriculares do Curso. Além disso, as crenças
e as concepções que os alunos normalmente trazem a respeito do ensino e
aprendizagem dessa disciplina muitas vezes causam bloqueio e rejeição ao
conteúdo a ser estudado.
Sabemos da importância do aprofundamento dos conhecimentos referentes
ao Ensino Médio por parte dos alunos, visto que futuramente estarão concorrendo a
vagas nas universidades, mas, também é necessário que aprendam os conteúdos
básicos que irão ensinar, para exercerem bem seu papel no magistério porque,
como afirma Tardif, “[...] os saberes constituídos pelo futuro professor, em sua
trajetória pré-profissional, vão influenciar a sua atuação docente” (TARDIF, 2002 e
SCHÖN, 2000 apud CURY, 2005, p.21) e “[...] esse legado de socialização escolar
permanece forte e estável por muito tempo” (TARDIF, 2002 apud CURY, 2005,
p.21). Isso se dá de forma precária nas aulas de Metodologia do Ensino da
Matemática, pois a carga horária é muito pequena para tanto conteúdo: 80h/a
distribuídas em duas aulas semanais em apenas um ano do curso.
Não se trata, porém, de reduzir os conteúdos da proposta curricular ou
suprimir um em detrimento do outro na prática pedagógica, pois todos são
importantes para a formação do futuro professor, como afirma Shulman (1992) apud
Cury (2005) quando afirma que há:
[...] três vertentes no conhecimento do professor quando se refere ao conhecimento da disciplina para ensiná-la: o conhecimento do conteúdo da disciplina, o conhecimento didático do conteúdo da disciplina e o conhecimento do currículo (CURY, 2005, p. 23).
O ideal é que a carga horária da disciplina de Metodologia do Ensino da
Matemática seja ampliada para garantir a qualidade na formação desses alunos que
se preparam para atuarem em sala de aula. Mas, enquanto isso não ocorre, como
poderemos resolver este problema, garantindo a qualidade na formação dos futuros
profissionais? É possível trabalhar todo o conteúdo necessário nesta carga horária?
Como romper com as crenças e concepções em relação ao ensino e aprendizagem
de Matemática que atrapalham o desenvolvimento do educando e estimular o gosto
pela mesma?
Tentando responder a estas questões, propusemos uma intervenção
pedagógica com alguns dos conteúdos programáticos da disciplina Metodologia do
Ensino da Matemática: Sistema de Numeração Decimal; Adição, Subtração,
Multiplicação e Divisão de Números Naturais. A proposta foi apresentá-los
conjugando conhecimentos teóricos, didáticos e pedagógicos a fim de que os futuros
professores aprendessem utilizando-se dos recursos que poderão ser aplicados em
sala de aula, ou seja, os alunos aprenderam a fazer, fazendo; estudaram o conteúdo
junto com a prática na tentativa de ganhar tempo para aprofundar outros conteúdos
pertinentes à formação matemática dos mesmos.
2 DESENVOLVIMENTO
A princípio, como especificação do PDE, foi elaborado um Projeto de
Intervenção Pedagógica. Nesta etapa, buscando aprofundar os conhecimentos a
respeito da formação do professor polivalente e a influência das crenças e
concepções no ensino e aprendizagem de Matemática realizou-se uma pesquisa
bibliográfica para, em seguida, realizar o planejamento das atividades que foram
especificadas, assim como a fundamentação teórica dos conteúdos trabalhados, na
Produção Didática Pedagógica.
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR POLIVALENTE
A formação do professor polivalente é muito complexa, pois o aluno necessita
apropriar-se dos saberes necessários para ensinar várias disciplinas e nem sempre
a carga horária é suficiente para que haja um aprofundamento em todos eles.
Cury (2009), após analisar vários documentos, ementas dos cursos
oferecidos e manuais didáticos, desde à criação do Curso Normal até os dias de
hoje, buscou perceber como a “[...] formação de professores polivalentes
contemplou a preparação para ensinar matemática”, desde “[...] como eram tratados
os conhecimentos de conteúdos matemáticos, os conhecimentos didáticos desses
conteúdos e os conhecimentos relativos aos currículos de matemática” (CURY,
2009, p.39) e percebeu que desde a primeira Lei da Educação do Brasil (1827) a
formação do professor, assim como os conhecimentos matemáticos necessários na
formação do educador, eram defasados. A princípio, bastava a pessoa ter boa
caligrafia, saber ler e escrever e resolver as quatro operações que já podia ser
admitido como professor. Aos poucos, foi-se aprimorando a legislação em relação a
formação do professor e incluindo alguns conteúdos e metodologias a fim de auxiliar
o trabalho docente, mas sempre dando ênfase a Aritmética. Vemos então, outra
constatação importante a respeito do ensino de Matemática que perpetua até hoje,
principalmente nos Anos Iniciais: a prioridade do ensino da Álgebra em detrimento
dos demais conteúdos.
A partir do início do século XX foram lançadas algumas revistas que discutiam
as metodologias de ensino em caráter geral sobre fundamentos da educação, com
pouca ênfase ao conhecimento das áreas específicas, apesar de trazerem algumas
sugestões de atividades de sala de aula. Segundo Cury (2009) as revistas que
traziam alguma discussão sobre o ensino da Matemática, focavam apenas
atividades de Aritmética, mesmo com os programas do Curso Primário apresentando
grande quantidade de conteúdos de Geometria. Mas, em 1931, apareceu pela
primeira vez no Curso Normal, uma disciplina chamada Matemática, unificando
Aritmética e Geometria.
Segundo Shulman (1992) apud Cury (2005) a partir de 1920, com a
contribuição da Psicologia na educação, iniciou-se o fenômeno denominado por ele
de ‘paradigma perdido’ que corresponde à atenção exclusiva, tanto de pesquisas
como na própria formação do professor, nos procedimentos de ensino (como
ensinar) em detrimento do conhecimento do objeto (o que ensinar). Os livros
didáticos destinados ao ensino de professores abordavam vários “[...] temas dos
currículos escolares como Psicologia da Aritmética, da Leitura, da Aprendizagem da
Ciência, etc.”. Estes livros foram perdendo lugar para outros, a partir de 1930, que
“enfocavam tópicos gerais da Psicologia da Educação como memória,
aprendizagem, motivação, desenvolvimento” (CURY, 2005, p. 52) que faz parte dos
conteúdos curriculares até hoje. Nesta época, também, surgiu a preocupação dos
autores dos livros didáticos de apresentar no final do livro as resoluções dos
exercícios propostos, como afirma Cury (2003) apud Cury (2005):
Os autores de livros didáticos para o Curso Primário chamavam a atenção dos professores para esse fato e salientavam que as soluções dos exercícios facilitavam o trabalho do professor, o que possibilita conjecturar que os professores necessitavam dessas respostas para verificar se os exercícios que resolviam estavam corretos (CURY, 2005, p. 51)
Segundo Cury (2005), com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional 5692/71 houve uma regulamentação sobre os estudos
profissionalizantes, incluindo a Habilitação Específica de 2º grau para o Magistério.
Segundo o parecer CFE 349/72, eram obrigatórias as disciplinas de Fundamentos
da Educação que envolvia aspectos biológicos, psicológicos, sociológicos, históricos
e filosóficos da Educação, Estrutura e Funcionamento do Ensino de Primeiro Grau
que focalizava os aspectos legais, técnicos e administrativos do nível escolar em
que o futuro professor atuaria, Didática que englobava o planejamento, a execução e
a verificação da aprendizagem e Prática de Ensino que deveria ser desenvolvida sob
a forma de Estágio Supervisionado, havendo necessidade de estabelecer relações
entre a ‘Metodologia’ e a ‘Prática de Ensino’. O núcleo comum, de âmbito nacional,
era composto por três áreas do conhecimento: Comunicação e Expressão, Estudos
Sociais e Ciências (incluía-se aqui a Matemática). Esta lei também unificou os
currículos da 1ª série do 2º grau. As disciplinas de Didática da Língua Portuguesa e
Didática da Matemática só eram estudadas no 3º ano e o aluno deveria escolher,
segundo a especialização desejada, se aprofundaria os estudos específicos
referentes aos conteúdos de 1ª e 2ª séries ou de 3ª e 4ª séries, fragmentando ainda
mais a formação do futuro professor que acabava atuando em todas as séries e não
apenas naquelas que tinha sido habilitado. Por conta dessas mudanças, esse
modelo de formação teve muitas críticas e o próprio Ministério da Educação solicitou
um estudo sobre esses cursos, realizado em 1986. Segundo Cavalcanti (1994) apud
Cury (2005, p.55-56) esse estudo revelou que os conteúdos inerentes ao curso não
supriam as necessidades para uma boa formação do professor que teria Habilitação
no Magistério e que as disciplinas do núcleo comum não se articulavam com as
específicas. Além disso, foi constatado que os conteúdos estudados nas
metodologias de ensino eram pouco aprofundados, além de não haver articulação
com os programas desenvolvidos nas séries que iriam atuar. O estágio, por sua vez,
era voltado para o preenchimento das fichas com pouco tempo de realização da
prática e as escolas em que os alunos realizavam as práticas estavam
desarticuladas dos cursos de formação. Segundo Fusari (1992b) apud Cury (2005):
A partir de meados dos anos 70, a formação dos educadores para a Pré-escola e para as quatro primeiras séries da Escola fundamental entrou em decadência absoluta, na medida em que não conseguiu formar, de maneira competente, profissionais para trabalharem bem com a realidade das escolas públicas em geral (CURY, 2005, p. 56).
Conforme afirma Cavalcanti (1994) apud Cury (2005), o MEC então solicitou
um seminário entre várias instituições de ensino superior e órgãos do sistema de
ensino para discutir e propor alternativas para a formação de professores. Criou-se
então o CEFAM (Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério)
a fim de redimensionar a Escola Normal, voltando-se para o professor em formação,
o professor em exercício (leigo ou formado) e para a comunidade, estreitando assim
os laços entre as escolas do 1º grau, a pré-escola e a instituição superior de ensino.
Mas esta tentativa também não deu certo, pois os mesmos problemas apresentados
anteriormente ainda se faziam presentes por obedecerem a organização curricular
proposta pela Lei 5692/71. A partir de 2003, os CEFAMs foram extintos, pois a
formação do professor no Curso Normal seria ofertada pelas escolas estaduais em
2004.
No Paraná, em 2003, criou-se então uma comissão formada por professores
da rede estadual de ensino, junto com representantes dos Núcleos Regionais de
Educação e técnicos da Secretaria de Estado da Educação para, a partir das
decisões do Encontro sobre formação de professores na rede estadual, que teve por
objetivo, entre outros, discutir a viabilidade de retornar e ampliar o Curso de
Formação de Docentes nas escolas de nível médio, formular uma versão-teste da
Proposta Curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos
Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade Normal
incorporando as disciplinas da Base Nacional Comum do Ensino Médio com as
disciplinas específicas da formação de professores.
Assim, em 2004, 14 escolas permaneceram com o Curso de Formação de
Docentes e a SEED/DEP autorizou o funcionamento de mais 31 novos cursos, que
foi aumentando gradativamente a cada ano.
No que se refere à Proposta Curricular do Curso de Formação de Docentes,
aconteceram algumas alterações quanto ao número de aulas de cada disciplina e a
série em que seriam estudadas. No entanto, desde a primeira proposta até a atual, a
disciplina de Metodologia do Ensino de Matemática, é composta por duas aulas
semanais na 3ª série do Curso com o seguinte programa:
Concepções de ciência e de conhecimento matemático das Escolas
Tradicional, Nova, Tecnicista;
Construtivismo e Pedagogia Histórico-crítica;
Pressupostos teórico-metodológicos do ensino e aprendizagem de
Matemática e/ou tendências em Educação Matemática;
Conceitos matemáticos, linguagem matemática e suas representações;
Cálculo e/ou algoritmos;
Resolução de problemas;
Etnomatemática;
Modelagem matemática;
Alfabetização tecnológica;
História da Matemática;
Jogos e desafios;
Pressupostos teórico-metodológicos da alfabetização matemática.
No entanto, o que percebemos dos estudos realizados, é que infelizmente,
mesmo depois de tanta mudança no sistema educacional, há ainda a fragmentação
de conteúdo e o despreparo dos professores para ensinar com qualidade, tanto
daqueles que estão sendo formados como dos que já exercem a profissão, com
raras exceções.
No Curso de Formação de Docentes os alunos normalmente, não têm
experiência de prática em sala de aula, a não ser aquela realizada por meio da
Prática de Formação, antigo Estágio Supervisionado. Assim, segundo afirma Cury
(2005), é necessário que haja uma análise a respeito da organização tanto das
disciplinas de metodologias do ensino como do próprio estágio supervisionado para
que o aluno tenha a oportunidade de se inserir no contexto da escola e na realização
das tarefas profissionais (e experienciais) a fim de que este possa refletir e elaborar
sua futura prática pedagógica.
Segundo Azcárate (1999), citado por Cury (2005):
[...] um dos princípios didáticos que devem sustentar as ações de formação é o reconhecimento do papel do aluno, futuro professor, no seu processo de aprendizagem; suas ideias, seu nível de implicação e sua participação ativa nas ações de formação são fatores importantes para seu desenvolvimento profissional [...](CURY, 2005, p.162).
Os alunos precisam estar bem formados em relação aos conhecimentos
inerentes aos conteúdos necessários para subsidiar sua futura prática pedagógica,
principalmente quando está relacionado com o início da construção do
conhecimento no processo de escolarização, pois uma prática pedagógica
inadequada pode comprometer o aprendizado da criança, especialmente com
relação aos conhecimentos matemáticos, como afirmam Nogueira e Andrade (2009):
Embora diversas variáveis possam estar associadas – e mesmo produzirem – dificuldades escolares de muitos alunos em relação à Matemática, nenhuma é mais abrangente do que a formação do professor, pois grande
parte dos problemas referentes aos processos de ensinar e de aprender Matemática pode ser superada pela mediação docente. E isto é mais evidente ainda nos anos iniciais de escolarização (NOGUEIRA E ANDRADE, 2009, p.11).
Os autores ainda acrescentam:
[...] Se os professores não compreendem porque realizam determinadas atividades em sala de aula, se não têm clareza de seus objetivos, das possíveis contribuições ou limitações que estas possuem, podem conduzir de maneira inadequada suas ações. Como consequência desse fato, os próprios professores poderão diminuir as possibilidades de uma intervenção pedagógica que contribua para o desenvolvimento do pensamento lógico-matemático da criança (NOGUEIRA e ANDRADE, 2009, p. 36).
A formação inadequada do professor não interfere só no ensino e
aprendizagem dos educandos, mas causa bloqueios para o próprio professor como
afirma Cury (2005), comentando Blanco & Contreras (2002) quando afirma que:
[...] quando professores têm pouco conhecimento dos conteúdos que devem ensinar, despontam dificuldades para realizar situações didáticas, eles evitam ensinar temas que não dominam, mostram insegurança e falta de confiança perante circunstâncias não previstas, reforçam erros conceituais, têm maior dependência de livros didáticos, tanto no ensino como na avaliação, e se apoiam na memorização de informações para atuar (CURY, 2005, p.145).
Mas quais seriam os saberes necessários para o professor atuar?
Segundo Shulman (1992) apud Cury (2005) há três vertentes que se refere ao
conhecimento necessário da disciplina para ensiná-la: o conhecimento do conteúdo
da disciplina, o conhecimento didático do conteúdo da disciplina e o conhecimento
do currículo. Para ele, embora essas categorias apareçam relacionadas na prática
pedagógica, se entendidas separadamente pode ajudar na seleção e organização
dos conteúdos a ensinar, tanto os conceituais, como os procedimentais e atitudinais.
Mas nem sempre estas vertentes são contempladas nos cursos de formação de
professores com a mesma proporção e isso precisa ser repensado como afirma
Cury (2005):
Apontamos a necessidade de aprofundar essa discussão nos cursos de formação de professores polivalentes, em vista do que mostram as ementas propostas que, de forma genérica, focalizam apenas uma dessas vertentes, trazendo prejuízos à formação mais global dos alunos, futuros professores (CURY, 2005, p.18).
Corroborando com a ideia de que a formação do professor polivalente deve
ser repensada a fim de que os alunos tenham não só os conhecimentos para
ensinar determinados conteúdos, mas que sejam reflexivos diante do contexto
histórico e atual influentes na prática pedagógica, Fiorentini (1999) apud Cury (2005)
afirma:
[...] os saberes práticos são ligados à ação e mesclam aspectos cognitivos, éticos e emocionais ou afetivos. [...] o saber experiencial, quando mediado por leituras teóricas, e por reflexões coletivas de professores, é ressignificado ou mesmo validado e conclui que nesse contexto pode ocorrer produção de novos saberes docentes ou mesmo de novos sentidos para a prática pedagógica dos professores (CURY, 2005, p.161).
A INFLUÊNCIA DAS CRENÇAS E CONCEPÇÕES NO ENSINO E
APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA
Antes de tratarmos sobre a influência das crenças e concepções no ensino e
aprendizagem de Matemática é necessário conceituar o que seja cada uma delas.
Segundo Rico et al (2002) e Pajares (1992) apud Cury (2005, p.31) as
crenças são verdades que cada um sustenta e são adquiridas pela experiência ou
da fantasia criada sobre determinado assunto e podem ser manifestadas por ações
ou por palavras.
Em consonância com Ponte (1994), Rico et al (2002) apud Cury (2005, p.32)
afirma que as concepções são “[...] marcos organizadores implícitos de conceitos,
com natureza essencialmente cognitiva e que condicionam a forma como
afrontamos as tarefas”.
Muitos alunos, até o dia de hoje, sentem alguma aversão à disciplina de
matemática, assim como ao processo ensino e aprendizagem da mesma. Muitas
vezes, os alunos que estão se preparando para serem professores das séries
iniciais trazem consigo um sentimento ruim em relação à matemática que pode
influenciar em sua ação docente, como afirmam Nogueira e Andrade (2009):
A maioria absoluta dos alunos que pretendem ser professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental manifesta um profundo desgosto em relação à matemática. Esse desgosto é transmitido às crianças, muitas vezes inconscientemente, pelo professor (NOGUEIRA E ANDRADE, 2009, p.14).
Segundo Gómez-Chacón (2002) apud Cury (2005) os estudantes sentem-se
menos inteligentes e incapazes de aprender Matemática porque acreditam que ela
foi criada por pessoas super inteligentes e criativas e ela é tão difícil que para
aprendê-la precisa-se do auxílio de livros e de outra pessoa que seja inteligente
também, no caso o professor. A autora ainda afirma que os estudantes creem que
quase todos os problemas são resolvidos por fórmulas, regras, explicações do
professor e do livro-texto. Assumem a ideia, então, de que “ser bom” em matemática
consiste em aprender, recordar e aplicar tais fórmulas, regras e procedimentos.
Assim, acreditam que os exercícios podem ser resolvidos somente pela maneira
apresentada pelo próprio livro e para aprender é preciso gastar tempo para recordar
tais métodos. Neste aspecto, a metodologia, a organização dos conteúdos, a relação
do professor com a matemática e a postura adotada em sala de aula interfere nesse
processo, como afirmam Nogueira e Andrade, 2009:
Existem dificuldades no ensino de matemática que se referem à própria natureza do conhecimento matemático, mas existem também, dificuldades decorrentes de uma visão um tanto irreal ou distorcida da disciplina, uma espécie de preconceito que surge logo a partir dos primeiros contatos da criança com a matemática, atitude esta que o professor deve evitar (NOGUEIRA E ANDRADE, 2009, p.14).
Estudos revelam que professores muito “bravos”, “exigentes” dificultam a
aquisição do conhecimento pelos alunos que se sentem reprimidos e cada vez mais
inferiorizados em relação à sua capacidade de aprender Matemática. Quando o
professor tem uma relação de diálogo com os alunos, estes se sentem mais seguros
para apresentar suas dificuldades, sentem-se capazes de aprender e inicia o
processo em busca do aprofundamento daquilo que estão estudando.
Esta confirmação ocorre quando os futuros professores pensam a ação
pedagógica que irão adotar em sala de aula. Muitas vezes, repetem aquilo que
aprenderam e como aprenderam. Em outras situações, buscam maneiras
inovadoras e concretas de aplicar os conteúdos na tentativa de tornar o processo
ensino aprendizagem mais prazeroso do que o que viveu, buscando trabalhar aquilo
que considera prático e útil para a vida de seus alunos. Outros ainda, por não terem
domínio do conteúdo e/ou das sequências didáticas necessárias, acabam por
trabalhar o conteúdo de forma mecânica, repetitiva, fazendo novamente o caminho
feito por seus professores, mesmo sem perceber.
É função, então, dos formadores dar oportunidade para que os alunos sejam
autores da sua própria formação, reflitam sobre sua relação com a matemática,
superem os sentimentos de incapacidade em aprender e ensinar, buscando
melhorar a qualidade da ação do futuro professor, como afirma Cury (2005):
Se as escolas de formação de professores não trabalharem as crenças dos futuros professores, elas poderão se tornar obstáculos ao desenvolvimento de propostas curriculares mais avançadas do que aquelas que os estudantes para professor vivenciaram em seu tempo de estudante (CURY, 2005, p.149).
Cury, comentando Azcárate (1999), continua:
[...] se quisermos que os futuros professores alterem suas crenças sobre seu conhecimento matemático teremos que proporcionar situações formativas que apresentem investigações de problemas práticos profissionais e o contraste com diferentes fontes de informação (CURY, 2005, p.104).
Corroborando com essa ideia Tardif (2000, 2002) e Schön (2000), também
citado por Cury (2005), ao estudar sobre os saberes construídos anteriormente ao
ingresso no curso de formação de professores afirmam que:
[...] os saberes construídos na escolarização básica e no próprio ambiente social e cultural determinam crenças e atitudes que, se não forem modificadas durante o curso de formação para o exercício do magistério, provocarão interferências na atuação profissional dos professores (CURY, 2005, p. 32).
Desta forma, se não houver uma interferência no processo formativo dos
futuros professores, estamos auxiliando para que a influência das crenças e
concepções continue sendo um processo cíclico: as crenças interferem na
aprendizagem e as experiências de aprendizagem, às vezes mal sucedidas,
interferem nas crenças, como afirma Gómez Chacón (2003) apud Cury (2010):
A relação que se estabelece entre afetos - emoções, atitudes e crenças - e aprendizagem é cíclica; por um lado, a experiência do estudante ao aprender Matemática provoca diferentes reações e influi na formação de suas crenças. Por outro lado, as crenças defendidas pelo sujeito têm uma consequência direta em seu comportamento em situações de aprendizagem e em sua capacidade de aprender (CURY, 2010, p.77).
A IMPLEMENTAÇÃO
A implementação do projeto aconteceu com duas turmas na disciplina
de Metodologia do Ensino da Matemática do Curso de Formação de Docentes do
Colégio Estadual Santos Dumont – EMN de São Tomé: na 3ª série A do Curso de
Formação de Docentes Integrado com 6 alunos, sendo duas aulas geminadas no
período da tarde e 14 alunos do 3º semestre do Curso de Formação de Docentes
com Aproveitamento de Estudos no período da noite, sendo a última aula num dia e
a primeira no outro.
A princípio o projeto seria desenvolvido apenas com a 3ª série A (Integrado),
visto que a professora PDE havia ministrado a disciplina de Matemática aos mesmos
alunos na 1ª série, quando percebeu a grande dificuldade dos mesmos com os
conteúdos matemáticos.
A opção pelo desenvolvimento do projeto nas duas turmas se deu com o
objetivo de cotejar o interesse delas em relação aos conteúdos e metodologias
aplicados. A hipótese era de que os alunos que cursam o 3º semestre com
aproveitamento de estudos, por serem mais velhos e já terem cursado o Ensino
Médio, embora alguns há muito tempo atrás, e escolherem o curso porque
realmente queriam ser professores (alguns já atuavam em escolas como
estagiários), aproveitariam melhor o que estava sendo proposto e se mostrariam
mais interessados.
OS RESULTADOS
Para entender melhor os resultados obtidos, considera-se: aluno 1,2,3,4,5 os
estudantes da 3ª Série A do Curso de Formação de Docentes Integrado e aluno
A,B,C,D,E,F,G,H,I,J,K,L,M,N os alunos do 3º Semestre A do Curso de Formação de
Docentes com aproveitamento de estudos.
A princípio foi aplicado um questionário “Relato de Experiência” a fim de
verificar a relação dos alunos com a Matemática nos primeiros anos de
escolarização, assim como o relacionamento destes com seus professores e
metodologia de aprendizagem. Em sua maioria, os alunos apresentaram certa
aversão à disciplina desde os primeiros anos de escolarização e apontaram como
predominante a metodologia tradicional do professor, assim como a rigidez com que
se relacionava com os mesmos. Apenas dois dos alunos da 3ª Série A apontaram
atividades diferenciadas no processo de ensino e aprendizagem, como o uso de
jogos e material manipulável.
As respostas revelaram também, que os alunos do 3º Semestre A, em sua
maioria passaram pelo ensino tradicional, fato que se confirmou ao ser apresentado
os materiais manipuláveis. Muitos não conheciam o material dourado e o ábaco que,
dentre os apresentados na intervenção pedagógica, são os mais comuns no ensino
de matemática. Já os alunos da 3ª série A tinham melhor afinidade com o material
dourado, pois muitos já o usaram em seu processo de escolarização.
Não foi realizada uma sondagem a respeito do conhecimento dos alunos em
relação aos conteúdos propostos e, portanto, percebe-se falha nessa etapa da
aplicação. Seria necessário elaborar uma sequencia de atividade referente aos
conteúdos a serem trabalhados e, ao concluir a intervenção pedagógica, realizar
uma avaliação para verificar o avanço, ou não, no processo de ensino e
aprendizagem. Dessa forma, a falta de pré-requisitos e a defasagem de conteúdo
foram observadas ao longo da aplicação das atividades.
As primeiras atividades aplicadas referem-se a construção do Sistema de
Numeração Decimal, passando desde os primórdios da construção do pensamento
matemático até chegar aos dias atuais. Na primeira atividade, em que se discutiam
os vários sistemas de numeração elaborados ao longo da história, os alunos
demonstraram pouco interesse e necessitaram de mediação do professor para
concluir a mesma. Ao avaliar a atividade, o aluno 1 disse: “[...] é muito difícil e
confuso esse negócio de outros sistemas de numeração, só aprender o nosso já tá
bom”. Isso se refletiu também no momento de identificar as características do
Sistema de Numeração Decimal, quando apenas o aluno 1 conseguiu realizar com
êxito. Esse desinteresse ainda se fez presente quando os alunos foram desafiados a
construírem um sistema de numeração na base 5 e realizar alguns cálculos com ele.
Eles tiveram bastante dificuldade e precisaram de auxílio do professor para concluir
a atividade, mas o objetivo foi alcançado, pois todos perceberam como é difícil para
a criança entender o SND. O aluno A comentou: “[...] parece tão fácil quando a gente
já sabe que a gente até esquece de como foi complicado aprender isso”. A aluna B
complementou: “[...] todos os professores deveriam fazer essa atividade pra ver
como é difícil pra criança aprender”. Nas demais atividades os alunos demonstraram
mais interesse no desenvolvimento das mesmas e as realizaram com êxito
apropriando-se dos conteúdos aplicados.
Os alunos do 3º semestre A apresentaram dificuldades em relação ao valor
posicional dos números e a utilização dos materiais para construção do SND, o que
não ocorreu com os alunos da 3ª série A. Ao trabalhar a operação de adição com a
3ª série A, um aluno apresentou dificuldades em fazer as trocas (“vai um”) com o
ábaco. Eles utilizaram todos os materiais manipuláveis citados na unidade didática
para compreensão do conteúdo, mas, segundo eles, “[...] o mais legal e mais fácil de
entender o vai um é o material dourado e depois o ábaco”. Constatou-se também a
surpresa deles ao saber que o algoritmo é apenas a representação daquilo que
estão fazendo com os materiais manipuláveis e que, na verdade, existem várias
maneiras de se fazer isso. Estes revelaram que, apesar de usarem o material
dourado, o algoritmo foi “imposto” e o aprenderam mecanicamente.
As atividades de multiplicação e construção da tabuada foram trabalhadas
também na 4ª série A do Curso de Formação de Docentes Integrado na disciplina de
Prática de Formação e, ao contrário do que se esperava, estes demonstraram pouco
interesse em relação a elas, especialmente quanto ao jogo de “Batalha Naval da
Multiplicação” e “Mosaico da Multiplicação”, pois disseram ser muito complexo para
as crianças. A fim de constatar a veracidade da afirmação feita, a pedido da
professora PDE, os futuros professores aplicaram o jogo “Mosaico da Multiplicação”
na regência numa sala de 5º Ano do Ensino Fundamental, com o objetivo de fixar a
tabuada. Como resultado, obteve-se não só a aprovação dos alunos como também
da professora regente que pediu para que estes fossem doados para a escola a fim
de que pudessem jogar mais vezes e socializassem com as outras turmas. Percebe-
se nesse caso, que o jogo parecia complexo para os futuros professores devido as
suas próprias dificuldades em relação a tabuada e também pelo despreparo dos
mesmos em saber avaliar e selecionar uma determinada atividade segundo a
necessidade do educando.
De todas as atividades constantes na Produção Didática Pedagógica, a
atividade “Pintando ordens” foi a que os alunos mais gostaram. Os mesmos não
apresentaram dificuldade em identificar o valor posicional do número. Ela foi
aplicada também em uma sala de 3º Ano do Ensino Fundamental, como atividade de
regência, apenas utilizando a classe simples (unidade, dezena e centena). O
resultado se repetiu: os alunos gostaram tanto que não queriam parar de jogar para
fazer outra atividade. Mesmo os que não sabiam ainda o valor posicional dos
números, eram auxiliados por seus colegas e em nenhum momento realizaram a
atividade como competição, mas com cooperação.
Ao contrário do previsto em nossa hipótese os alunos da 3ª série A
(Integrado) demonstraram mais interesse pelos conteúdos apresentados do que os
mais velhos que faziam somente as matérias específicas. Mas pôde-se ainda
observar que algumas alunas que são mães e voltaram a estudar para ter uma
profissão e melhorar sua renda, apesar de serem as que mais apresentavam
dificuldades em relação aos conteúdos, eram as que demonstravam um brilho nos
olhos quando entendiam aquilo que estava sendo explanado. A maioria desses
alunos cursava faculdade a distância e pelos comportamentos e comentários,
percebemos que estavam apenas visando o diploma, visto que acreditavam que
apenas o que era estudado no Ensino Superior iria dar a formação necessária para
atuarem em sala. Mas, como já foi afirmado anteriormente, esta afirmativa não
procede, visto que o ensino da matemática ainda apresenta falhas em todos os
segmentos.
Quanto aos materiais utilizados na aplicação das atividades, foi
surpreendente perceber que alguns alunos não conheciam o material dourado e,
principalmente, suas reações ao aprender como utilizá-lo. Os alunos do 3º semestre
A, como são mais velhos, não conheciam o material. A aluna F comentou: “[...] É de
madeira? Eu achei que era dourado quando a professora falou”. Após a realização
da atividade o aluno G pontuou: “[...]Por que minha professora não ensinou assim?
Eu tinha sofrido menos pra aprender isso”. O aluno D disse: “[...]Mas quanto tempo
faz que inventaram esse material, que os professores não usam pra ensinar?” O
aluno L complementou: “[...]Queria ser criança de novo. Hoje é mais fácil aprender
com essas coisas diferentes, a gente aprende brincando, não aquela coisa chata de
ficar copiando, copiando, copiando”. A maioria dos alunos da 3ª Série A já conhecia
o material e utilizaram nos anos finais do Ensino Fundamental para realizar as
operações básicas como revisão do conteúdo. Apenas a aluna 4 já tinha visto o
material, mas não sabia como usá-lo, pois estudava em outra escola e nunca
utilizou-se desse recurso pedagógico. O ábaco foi o material que mais gostaram de
utilizar, inclusive quando questionados a respeito de qual material seria mais
interessante para ensinar o aluno o sistema de trocas, os mesmos apresentaram o
ábaco como sugestão, embora este deva ser usado apenas quando o aluno já
estiver estabelecido essa relação, pois o mesmo canudinho tem valor diferente
dependendo do lugar em que se encontra e o material dourado, nesse caso facilita a
visualização da troca efetuada. Mas todos concordaram a respeito da importância do
uso dos materiais utilizados no processo de construção do pensamento matemático
da criança.
Ao final da intervenção pedagógica os alunos fizeram uma avaliação de todo
o trabalho desenvolvido e, em sua totalidade, disseram que todas as metodologias e
não só do Ensino da Matemática, deveriam ser ensinadas unindo teoria e prática
como foi a proposta realizada. Afirmaram também, estar mais preparados para
assumirem uma sala de aula porque entenderam os conteúdos e não acham a
matemática tão difícil e desmotivadora como antes. Todos reconheceram ser
possível entender matemática e que, “[...]pode ser divertido aprender matemática”,
como afirmou o aluno C.
No GTR, espaço em que o professor PDE pode apresentar seu Projeto de
Intervenção Pedagógica, sua Produção Didático-Pedagógica e discutir os resultados
da Implementação enquanto realiza a mesma, os cursistas colaboraram de forma
significativa em relação ao projeto, opinando, concordando e sugerindo atividades e
materiais que poderiam ser utilizados no decorrer do processo de implementação.
Uma das sugestões apresentadas foi o uso da escala Cuisenaire no processo de
construção do Sistema de Numeração Decimal e a elaboração de outros tipos de
jogos que envolvesse os conteúdos trabalhados, criados pelos futuros professores.
A maioria dos cursistas considerou a Produção Didático-Pedagógica bem elaborada
e completa, pontuando que isso facilita o trabalho do professor ao utilizá-la, como
demonstra as citações:
A produção elaborada pela professora vem de encontro a essas dificuldades, usando uma linguagem clara e prática com facilidade de compreensão, tendo em mãos um material rico, com diversidades de metodologias, incorporando às aulas materiais manipuláveis, jogos diversificados, o material dourado, ábaco, entre outros; mostrando sempre seu significado, variando as atividades e buscando o envolvimento dos alunos na participação colaborativa dos mesmos, pois, esses devem além de jogar ou manusear os materiais, participar das aulas com suas opiniões, indagações e curiosidades à despertar sobre o assunto.(D.E.F.)
Acredito que esta intervenção vem a facilitar a compreensão e a aprendizagem, principalmente devido a dois pontos principais: primeiro de fazer com que o futuro professor vivencie a construção do conhecimento matemático pela criança, e em segundo pela aplicação de atividades
diferenciadas com uso de materiais concretos, assim será mais fácil refletir sobre a postura do professor e sobre as intervenções necessárias para favorecer a aprendizagem. (E.M.)
Eles também apresentaram a preocupação com o bom desenvolvimento do
aluno no processo de ensino e de aprendizagem nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental como escreve a Cursista E.N.S. comentando o Projeto de Intervenção
Pedagógica:
O seu projeto é instigante e proveitoso, principalmente para os futuros professores das séries iniciais do ensino fundamental. Sabemos que nessas séries os professores são responsáveis pra ministrar todas as disciplinas, o que acaba sobrecarregando esses profissionais. Quando eles não têm o domínio e o gosto pela matemática acabam dando maior ênfase aos conteúdos das demais disciplinas prejudicando o desenvolvimento dos educandos nessa área do conhecimento (E.N.S.)
Outra cursista ainda escreve a respeito da importância das aulas de
metodologia associar teoria e prática e como isso interfere na formação e atuação
do professor em sala de aula. Diz ela:
Em primeiro lugar a metodologia deveria andar de mãos dadas com a didática, e assim, juntas buscarem oferecer métodos realmente eficientes ao ensino de matemática. Saímos da faculdade com uma bagagem grande de desenvolvimento de cálculos, porém sem métodos didáticos claros para a efetivação do ensino, que eu chamo de "arte de ensinar" (E.M).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do trabalho realizado, percebe-se a grande importância do professor
formador na vida acadêmica dos futuros docentes. Nossos alunos, em sua maioria,
não sabem e não gostam de Matemática. Sendo professores, muito provavelmente,
repetirão aquilo que aprenderam em sua formação. Assim, verifica-se a urgência na
ampliação da carga horária da disciplina de Metodologia do Ensino da Matemática,
para que realmente os conteúdos possam ser estudados profundamente como se
faz necessário. Um dos objetivos do trabalho era investigar se quando trabalhamos
teoria e prática juntas podemos ganhar tempo em relação a esses conteúdos
ensinados separadamente. Objetivo não alcançado, pois foram necessárias mais
aulas que o previsto para se concluir a experiência contando que até o mês de abril
quando as aulas do 3º Semestre A estavam sendo ministradas separadas, a
aplicação do projeto ficou atrasada em relação a 3ª Série A que tinha as duas aulas
geminadas. Quando o horário foi alterado, percebeu-se significativamente a melhora
no desempenho dos alunos. Assim, percebe-se que é importante para o bom
desempenho dos alunos no processo de ensino e aprendizagem a adequação do
horário em que essas aulas são ministradas.
No entanto, ao término da aplicação percebeu-se que os alunos já iniciaram
um processo de desconstrução das crenças e concepções que atrapalham o
processo de ensino e aprendizagem, ou seja, não veem a Matemática como algo
assustador e tão difícil. Conseguem perceber, pelo menos a Matemática básica,
como algo compreensível e que pode ser prazeroso, dependendo da metodologia
utilizada pelo professor.
Desta forma, participar do PDE, contribuiu significativamente na formação da
professora que considerou uma experiência nova e instigante voltar aos bancos
escolares e se aventurar num trabalho de pesquisa, nunca antes por ela realizado. O
crescimento alcançado nesse processo é inigualável, mesmo diante da dificuldade
de ler, estudar e elaborar todo o material necessário. Com certeza, o professor que
participa do PDE nunca será o mesmo em sua atuação docente, sempre verá em
cada situação uma oportunidade de investigar e acrescentar qualidade na “arte de
ensinar”.
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