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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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LEITURA E CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS:

Uma proposta de sujeito leitor

Autora: Janinha Fagundes1

Orientadora: Ana Josefina Ferrari2

RESUMO Este artigo tem como objetivo relatar as atividades desenvolvidas como parte integrante da conclusão do curso de formação continuada dos professores da rede pública de ensino proporcionado pelo Governo do Estado do Paraná, por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional/PDE 2013. O artigo apresenta uma proposta de ensino-aprendizagem da leitura na perspectiva da leitura como construtora de sentidos através da interação autor/texto/leitor. Apresenta a metodologia utilizada para a construção do material didático, que tem como base textos diversos que circulam socialmente, o professor sendo mediador das interações no processo ensino-aprendizagem e o leitor como sujeito de suas leituras e releituras. Apresenta também as reflexões da implementação na escola deste material didático e as discussões do Grupo em Trabalho em Rede (GTR). Palavras-chave: Leitura.Construção de Sentidos.Escola

INTRODUÇÃO

Esta proposta de estudo teve como objetivo a reflexão sobre a leitura e

construção de sentidos no espaço escolar. A Leitura está no centro das atenções, é

uma cobrança diária para que os alunos saibam ler, que esta leitura possibilite

interpretar textos e enunciados das avaliações, nas diversas disciplinas escolares. A

cobrança é feita sistematicamente ao professor de língua portuguesa, por ser objeto

da disciplina o estudo da linguagem.

1Professora de Língua Portuguesa da Rede Pública Estadual do Paraná, no Município de

Piraquara/PR. Graduada em Letras Português pela PUC/Pr. Pós Graduada em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e em Proeja. 2Doutora em Lingüística na área de Análise do Discurso na Universidade Estadual de Campinas. Professora do curso de Linguagem e Comunicação e Educação do Campo da Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral.

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A leitura como propulsora de interpretações pode ocorrer em vários

momentos da vida escolar e social, assim é sempre motivo para muitas conversas e

questionamentos sobre sua importância dentro e fora do espaço escolar.

No ambiente escolar tem-se observado que as aulas de língua portuguesa

baseiam-se em atividades de leitura que privilegiam um único sentido dos textos

lidos, não considerando os diversos fatores que contribuem para sua significação.

“Na escola não se leem textos, fazem-se exercícios de interpretação e análise de

textos. E isso nada mais é do que simular leituras” (GERALDI, 2002, p. 90). Assim

percebe-se que os alunos têm muitas dificuldades com a leitura em diversos níveis

do ensino e como consequência não veem sentido nas leituras que realizam nas

diferentes áreas do conhecimento.

As leituras realizadas pelos alunos, mediadas pelo professor, não trazem

reflexão das condições de produção: quem é o autor, como é sua escrita, as ideias

do tempo em que foi escrita, a intertextualidade presente, os efeitos de sentidos, as

marcas da enunciação, “as inferências (hipóteses coesivas para o leitor processar o

texto)” (MARCUSCHI 2008, p. 249), deixam de ser analisadas e não possibilitam aos

alunos a construção de sentidos.

Este projeto elaborado como parte do PDE (Programa de Desenvolvimento

Educacional)3 procurou identificar as concepções de leitura, de texto, qual o papel do

sujeito enquanto construtor do seu aprendizado, a função do professor como

mediador do processo de ensino-aprendizado. Foi elaborada uma proposta

metodológica do ensino da leitura, para que os alunos possam ler com criticidade,

sendo sujeitos ativos nas leituras e possibilitando a construção de sentidos nas

leituras dos diversos textos que circulam socialmente.

O Projeto de Intervenção Pedagógica4 teve como base as Diretrizes

Curriculares de Língua Portuguesa (2008) que propõe que a leitura seja significativa

3O Programa de Desenvolvimento Educacional é um programa de Política Pública do Governo do

Estado do Paraná que objetiva aos professores da rede pública estadual subsídios teórico-metodológico para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas e que resultem em redimensionamento de sua prática profissional buscando superar as dificuldades com que se defronta a Educação Básica. 4 A partir da análise das dificuldades encontradas no processo ensino-aprendizagem o professor PDE

deve elaborar este projeto fazendo a delimitação clara da situação problema, seguida da justificativa, dos objetivos, da fundamentação teórica, das estratégias de ação, do cronograma e das referências.

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e crítica, sendo o professor mediador, aquele que possibilita e dá oportunidade para

que o aluno/a consiga realizar suas leituras atribuindo os sentidos ao que lê.

A Produção Didático-pedagógica5 foi elaborada tendo como público alvo os

alunos do 6º ano do ensino fundamental e a implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica6 foi realizada no Colégio Estadual Ivanete Martins de

Souza, no Município de Piraquara, região Metropolitana de Curitiba. A proposta de

trabalho e algumas considerações da implementação foram discutidas com os

profissionais da rede pública estadual no Grupo de Trabalho em Rede(GTR)7.

REVISÃO DA LITERATURA

Buscando a reflexão sobre a construção de significação dos textos e que

encaminhem para a leitura como construção de sentidos pelos alunos/leitores,

Matencio (2002) afirma que o leitor não é passivo diante do texto, apesar da escola

levá-lo a passividade. Através da implementação foi possível constatar que o aluno

pode construir sentidos do texto, mas que muitas vezes lhe falta a autonomia, pois

deseja uma resposta pronta ou que o professor afirme qual é a resposta correta.

Paulo Freire (2006) afirma que a curiosidade deve estar presente na vida. Neste

sentido, quanto mais pomos em prática de forma metódica a nossa capacidade de

5 Esta atividade é a elaboração intencional do professor PDE ao organizar um material didático,

enquanto estratégia metodológica, que sirva aos propósitos de seu Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola. Está prevista para o segundo período do Programa, com acompanhamento do orientador e tem correlação direta com a implementação na escola. 6 Uma das etapas do Programa do PDE em que o docente aplica, com o público alvo, a produção

didático pedagógica. A implementação visa principalmente enfrentar e contribuir para a superação das fragilidades e problemas apontados pelo Professor PDE no ensino de sua disciplina/área, na escola, para ser investigada no seu tema de estudo, com a finalidade de promover a melhoria qualitativa do ensino e da aprendizagem na escola de execução do Projeto. 7 Desenvolvido no terceiro período do Programa, possibilita a interação entre professores PDE e

professores da rede estadual de ensino por meio do Ambiente Virtual da Secretaria de Estado da Educação (SEED). O GTR tem o intuito de socializar as produções realizadas pelo Professor PDE durante o Programa, a saber: Projeto de Intervenção Pedagógica, Produção Didático-pedagógica, bem como questões específicas sobre a Implementação Pedagógica na Escola. Essa ação visa a democratização do acesso aos conhecimentos teórico-práticos específicos das áreas/disciplinas do Programa escolhidas pelo Professor PDE.

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indagar, de comparar, de duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos nós

podemos nos tornar.

Ao fazer a “leitura do mundo” como propunha Paulo Freire, constata-se que

as palavras e as leituras significativas que são feitas podem proporcionar

conhecimento, prazer, porque a leitura não é mera decodificação, não é somente

informação, mas é a releitura do mundo e posicionamento perante as situações da

vida. Segundo Matencio (2002), o leitor não deve ser passivo diante do texto e as

atribuições de sentido devem ocorrer mediante um posicionamento do sujeito leitor

perante o lido. Assim as atividades de leitura e interpretação devem proporcionar

releitura, a apropriação crítica e a interação com o lido.

Na escola é comum os professores das diversas disciplinas atribuírem o

fracasso dos alunos em sua disciplina ao fato de “não saberem ler”. A dificuldade de

construção de sentidos àquilo que lê, afeta diretamente seu desempenho, não só no

que diz respeito à linguagem, mas em todas as áreas do conhecimento e durante

toda a sua escolaridade, pois convivemos com diversos textos e práticas discursivas.

Conforme Costa (2009) o ato de ler pressupõe interpretar. Por isso a importância da

reflexão sobre a leitura como construtora de sentidos e não somente como busca de

um único sentido, em todas as leituras que fazemos, sejam das palavras, do mundo,

das pessoas, das situações que vivenciamos, enfim de nossa pratica social e de

nosso estar no mundo. A leitura pode contribuir para o desenvolvimento de qualquer

área de estudo, pois através dela pode- se pensar sobre o fato estudado, relacionar

ideias e atribuir sentidos significativos para as leituras realizadas. O ato de ler é

também fundamental para o acesso ao material cultural escrito, possibilitando a

interação do indivíduo em seu meio social.

A diversidade de conhecimentos e vivências dentro de uma turma do 6º ano

da educação fundamental, de uma escola da região metropolitana de Curitiba,

possibilitou uma troca de experiências realmente significativas para todos os

envolvidos no processo ensino/aprendizagem. Lidar com a diversidade é trabalhoso,

exige da escola muito mais que livros, exigindo uma postura e uma prática

pedagógica que debata e reflita sobre seu papel dentro da sociedade letrada e

discuta como e qual o objetivo do ensino de leitura na escola. A escola deve

propiciar aos seus alunos a possibilidade de uma leitura que ultrapasse os muros

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escolares, de tal maneira que os alunos percebam a sua aprendizagem como uma

prática social e não como mero conteúdo da escola e para a escola.

A noção de leitura pode ser apresentada sob diferentes aspectos, uns a

concebem como decodificação do texto, mesmo que o leitor não consiga atribuir

significados para o que lê, outros concebem que leitura é uma construção de

significado. Quando se fala em leitura no sentido amplo, como atribuições de

sentidos, As manifestações de linguagem podem então serem “lidas” e/ou

apreendidas como, por exemplo, quando visualizamos um quadro. “Lemos” ou

apreendemos os possíveis significados da tela, buscando informações e

experiências de mundo que já possuímos. E quando lemos um texto escrito também

fazemos a leitura no sentido amplo, buscando no nosso “banco de dados” alguma

conexão com aquilo que está a nossa frente, a leitura então transborda, vai além

daquilo que está no papel, fazemos diversas conexões: pessoais, sociais, de outras

leituras dos diversos escritos que já passaram em nossa vida. De um único texto,

podem emergir diversos “sentidos”, conforme a vivência de cada leitor e a

circunstância que está sendo produzido. O leitor transforma a leitura, enquanto a

leitura transforma o leitor, e desta interação entre texto e leitor/leitor e texto, surge o

leitor atuante no processo de leitura.

Em Marcuschi “o contexto é algo mais do que um simples entorno e não se

pode separar de forma rigorosa o texto de seu contexto discursivo. Contexto é fonte

de sentido” (2008, p. 82). No processo de leitura e construção de sentidos o contexto

diz respeito ao momento da produção textual e o momento de uso, pois o leitor deve

trazer toda a informação explicita e implícita para o entendimento do texto.

Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Língua Portuguesa, do

Estado do Paraná, tem a seguinte concepção de leitura:

Compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem. ( Paraná, 2008, p. 56)

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Assim as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa nos fornecem um

encaminhamento, pois o ensino-aprendizagem da leitura envolve muitas questões e

o professor não deve se ater apenas a alguns fatores, mas deve estar atento e

planejar suas atividades levando em conta todos esses determinantes no processo

da leitura, objetivando a reflexão sobre a importância da leitura que constrói

sentidos.

Observando as diferentes concepções sobre leitura pode-se refletir e tomar

posições críticas perante essas concepções sobre leitura, quais são os objetivos da

leitura e qual caminho seguir no processo de ensino/aprendizagem. Utilizando

metodologias que priorizem os domínios e práticas discursivas através dos

diferentes gêneros textuais que circulam socialmente.

O texto nesta proposta metodológica é considerado conforme Marcuschi

como “unidades de sentidos” (2008, p. 73).Os aspectos linguísticos, tais como a

fonologia, a morfologia, a sintaxe e a semântica são importantes para que o texto

possa existir e devem ser levados em conta quando lemos e analisamos um

determinado texto, pois assim os estudantes podem fazer a reflexão e entender

como, por exemplo, uma determinada ironia foi construída e como ela constrói o

sentido ao que está sendo lido.

A concepção que adotamos neste trabalho vê o texto segundo Koch & Elias

como “o próprio lugar da interação e da constituição dos interlocutores” enquanto

que “o sentido não está no texto, mas se constrói a partir dele, no curso de sua

interação” (2012, p. 10 e p. 30). Através desta interação que é possível ao leitor

construir o sentido nos textos lidos, sendo também sujeito ativo neste processo, mas

ao mesmo tempo ele é condicionado socialmente e historicamente.

O leitor/escritor pode ser o sujeito ativo responsável pela construção do

conhecimento sobre os objetos que o cercam. A criança, o aprendiz de escrita e

leitura é “singular”, isto é, único que aprende que reelabora o aprendido e que tem

suas características únicas, verificadas as variações ocorridas no transcorrer do

processo de aquisição da linguagem e da escrita. Geralmente buscamos aquilo que

é comum entre todos, os erros, os acertos, as dúvidas, mas o singular o modo como

cada um aprende, o percurso por ele traçado, suas escolhas deixamos de lado e

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queremos, geralmente, que todos leiam e escrevam de forma uniforme. Os

apagamentos, refacções e reescritas dos textos da criança ou de sujeitos em

diversas fases de escolarização, são indícios de sua história de sua relação com a

linguagem. Assim podemos também perceber o percurso dos alunos em relação à

leitura, verificando sua singularidade, seus conhecimentos, suas escolhas, sua

história de leituras e de vida, para que o processo de leitura seja significativo e o

leitor sujeito de seu conhecimento.

Orlandi (1984) discute a contribuição da teoria do discurso que trata da

determinação histórica dos processos de significação, conforme o autor Pêcheux.

Essa teoria trabalha com os processos de constituição do fenômeno linguístico,

procurando estabelecer as condições em que os sentidos são produzidos:

essas condições abrangem o contexto histórico-social, ideológico, a situação, os interlocutores e o objeto de discurso, de tal forma que aquilo que se diz significa em relação ao que não se diz, ao lugar social do qual se diz, para quem se diz, em relação aos outros discursos,etc. (ORLANDI,1984, p. 37)

Os sentidos do discurso podem ser múltiplos devido a sua exterioridade e

ao mesmo tempo há a sedimentação histórica dos sentidos. Estes dois processos

estão em tensão e manifestam-se de várias maneiras: na existência da regra e da

exceção, do previsível e do imprevisível, do certo e do indeterminado, do legítimo e

daquilo que tem de se legitimar, do que já é e do que pode ser, do estabelecido e do

que muda.

Em relação ao aspecto histórico da leitura dentro da previsibilidade,

considera-se ainda que todo o leitor tem sua história de leitura, isto pode alargar ou

restringir a compressão de cada leitor, sendo que há leituras já feitas de um texto e

as leituras já feitas por um leitor. Dentro da história há ainda a imprevisibilidade da

leitura, que possibilita a pluralidade das leituras, que pode ser a leitura de um

mesmo texto de várias maneiras e a leitura de vários textos. A produção escrita do

aluno é o meio de se ter acesso à leitura do aluno, verificando a sua história de leitor

em relação as significações, aos modelos que ele tem domínio. É necessário

observar a relação entre a leitura e escrita para distinguir esses processos, que

necessariamente andam juntos no aluno.

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Assim ao analisar a leitura não devemos levar em conta somente o leitor,

mas o texto, o autor, sobre o mesmo ponto de vista. Temos que analisar a leitura

sobre o ponto de vista discursivo, estrutural, histórico, as condições de leitura e de

produção. Quando analisamos a competência leitora do aluno, deve-se levar em

conta que eles têm repertórios diferentes, com conhecimentos prévios que lhe

permitem ler corretamente ou equivocamente determinados texto. A função do

professor como mediador de leituras é de suma importância, pois o mesmo poderá

ajudar os alunos em formação possibilitando uma aprendizagem efetiva da leitura

crítica construtora de sentidos.

A CONSTRUÇÃO DA METODOLOGIA

O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) tem como proposta a

elaboração de um material didático, que deve ser implementado na escola básica, a

partir de uma proposta de intervenção pedagógica que o professor PDE deve

elaborar a partir de seu público alvo.Este material didático foi elaborado para os

alunos do 6º ano do ensino fundamental, que pode ser adaptado para outras séries

dependendo do objetivo pretendido.

O material didático foi ilustrado pelo aluno Samuel de Almeida, do ensino

médio, do Colégio Estadual Ivanete Martins de Souza. Seu trabalho ficou muito

bonito, com seu olhar e leitura ele enriqueceu, embelezou com suas cores, seus

traços, seus desenhos e sua criatividade colaborando de forma significativa para que

este material didático também fosse significativo para ele.

Os alunos do 6º ano onde foi realizada a implementação ficaram admirados

com os desenhos e super alegres pôr ter sido um colega da escola que fez as

ilustrações do material didático. Os alunos do Colégio Ivanete precisam de espaços

de divulgação de seus trabalhos, pois são muito criativos e tem muita vontade de

que a escola tenha uma história mais bonita, que os alunos/as e professores sejam

valorizados pela comunidade, pois a escola enfrenta muitas dificuldades devido ao

entorno violento e com problemas sociais.

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Conhecendo a realidade e pensando nos alunos que chegam na escola no

6º ano e que precisam de incentivos, de cooperação para fortalecer os vínculos com

a escola e aproveitando que tem uma disponibilidade maior para o estudo e que foi

elaborado o material didático, que contém atividades de leitura e interpretação que

englobavam textos verbais e não verbais dentre os diversos gêneros que circulam

socialmente. Não foi utilizado um único gênero, nem discutido as características

deles, pois “Toda a manifestação verbal se dá sempre por meio de textos realizados

em algum gênero” (MARCUSCHi, 2008, p. 154). Desta forma o aluno/a pode

conhecer e entender a composição, os elementos lingüísticos que formam o estilo, o

objetivo e os efeitos de sentidos de cada texto. As questões propostas analisavam o

texto em todas essas vertentes.

O material didático foi elaborado ficando dividido em duas unidades. A

primeira tem como tema motivador água e meio ambiente, a segunda o futebol. A

motivação da leitura deve ser levada em consideração na escolha dos textos a

serem lidos em sala de aula, pois a leitura tem um significado que será explorado

em diversos contextos, tanto os conhecidos como os desconhecidos pelo leitor. Os

temas de interesse é uma forma de suscitar o interesse pela leitura. A junção de

temas atuais que fazem parte da realidade do aluno, com o conhecimento científico

e que possibilitarão ao aluno interagir tanto na escola como na sociedade.

Os temas citados foram escolhidos por fazerem parte da vida cotidiana dos

alunos e alunas, que moram em um Município com centenas de nascentes do Rio

Iguaçu, sendo seu território composto por dezenas de bacias hidrográficas,

represando e fornecendo água para Curitiba e Região Metropolitana. Muitos

desconhecem a história e a importância do Município de Piraquara, pois vivem em

uma área de ocupação, na periferia do Município, que sofre com problemas sociais e

de violência. Muitas famílias são egressas de outras regiões do Estado do Paraná e

do Brasil.

O tema futebol foi motivado pela Copa do Mundo de Futebol que iria

acontecer no Brasil no ano de 2014 e também por fazer parte da vida dos

brasileiros. Esta atividade esportiva está inscrita em diversos textos, sendo um

material rico e dinâmico.

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Os textos foram selecionados buscando sempre estar vinculados à temática

proposta (água/meio ambiente e futebol), mas o objetivo prioritário não foi discutir o

tema e sim possibilitar aos alunos o entendimento global do texto, fazendo as

interpretações e construindo os sentidos, analisando as construções, verificando o

significado das palavras dentro do contexto. As questões finais elaboradas para

cada texto propõem uma análise do conteúdo vinculando o tema com a realidade

individual e social do aluno através de questões pessoais possibilitando sua

interação na produção oral e escrita.

O papel do professor neste processo foi de mediador, tanto das leituras

realizadas, como na resolução das questões e depois na correção e análise dos

trabalhos produzidos. “A passagem do autoritarismo e da imposição do “mandar ler”

para o compartilhamento das decisões e para o esclarecimento das razões e da

importância da leitura desloca a ênfase do trabalho docente da perspectiva do

ensino para a da aprendizagem” (COSTA,2009, p. 63). Assim nesta proposta

metodológica é necessário sempre possibilitar um diálogo com o aluno/a, o

professor(a) não tem as respostas corretas,prontas ou únicas, pois o leitor deve ser

o sujeito de suas leituras e releituras.

Nesta proposta de leitura os alunos/as foram instigados a ler mais de uma

vez, a buscar sua autonomia de leitor e produtor de seu conhecimento, pois o

aprendizado não acontece de forma única, todos tem sua história de leitores, por

isso o professor/a deve ficar atento as individualidades, dificuldades, propondo

caminhos para solucionar os problemas e dificuldades que for percebido no

processo do ensino-aprendizagem

Consideramos que este processo foi muito significativo, pois a intervenção e

a mediação foi um momento de auto-reflexão, pois foi possível perceber que

precisamos a cada dia enfrentar os desafios do ensino-aprendizagem, que temos

que olhar nosso aluno e aluna em suas diferenças de formação, de vontades, de

histórico de leitor e em suas potencialidades.

A avaliação ocorreu durante o processo de aplicação do material didático,

através da participação dos alunos (individualmente e coletivamente) nos debates

realizados, nas correções orais e através das produções textuais.

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Assim o objetivo desta metodologia para o ensino/aprendizagem de leitura é

que possibilite a formação de um leitor que se constrói enquanto sujeito de suas

leituras nas interações com o texto, com o professor, com os colegas e que estas

interações possibilitem sua formação intelectual de forma significativa no espaço

escolar e na vida social.

IMPLEMENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO

A turma do 6º ano onde foi realizada a implementação do projeto e utilizado

o material didático é bem heterogênea, os alunos têm saberes e dificuldades em

graus diferentes e no entendimento da leitura básica. A turma está em idade/série

compatíveis. A maioria é oriunda das escolas municipais de Piraquara e moram no

Bairro Guarituba, com a maior população de Piraquara e com diversos problemas

sociais e de violência urbana.

No primeiro dia da implementação foi explicado aos alunos/as sobre o

material e quais objetivos a serem atingidos. Foi entregue o texto 1 que tinha como

título “O desperdício da água” . Neste momento não foi feita nenhuma intervenção,

os alunos leram o texto e responderam as atividades propostas. As dúvidas mais

freqüentes verificadas na correção e solicitação de explicação foram: a) o que é

finalidade do texto, b) o que é argumento, c) pesquisa com dicionário. Na correção

oral houve o momento de intervenção pedagógica e encaminhamentos para

soluções das dificuldades percebidas.

.A partir desta primeira experiência, em outros momentos foi lido o texto e

discutido oralmente. Muitos não liam novamente e queriam “pescar” as respostas

olhando superficialmente o texto, não conseguindo identificar inclusive as

informações explícitas.

Outra dificuldade encontrada foi em relação a autonomia do aluno ao ler as

questões para interpretação. Sempre queriam que o professor desse a resposta

certa ou explicasse verbalmente o que estava sendo pedido na questão. Neste

momento notei que em muitos momento queriam a ajuda da professora, muitos leem

a questão rapidamente e não conseguem dizer o que não entenderam. No GTR

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(Grupo de trabalho em rede) muitos professores também comentaram sobre esse

fato, eles acabavam dando a resposta às questões, pois consideravam mais fácil e

dava menos trabalho. Este foi um item bastante polêmico, pois muitos professores

afirmaram que trabalham com a leitura em diversas situações, mas muitos utilizam a

leitura para a decodificação, para outros objetivos de aprendizagem, mas não

especificamente com o aprendizado da leitura como construtora de sentidos.

Alguns alunos disseram que o assunto tratado no texto era o "título" que não

está de todo errado, mas alguns não conseguiram neste primeiro momento ampliar a

resposta, utilizando de sua própria escrita, a resposta era uma frase do texto. Outra

dificuldade foi diferenciar uma informação de uma opinião. As questões para

interpretação não devem priorizar as questões formais ou somente identificação ou

extração de conteúdos. A partir do título é possível, por exemplo, analisar as

condições de construção do texto, ou quando o autor utiliza uma determinada

palavra qual o efeito de sentido dela para o contexto do texto.

Houve uma dificuldade maior em questões que solicitam uma leitura do texto

poético ou com que utilizam o sentido figurado. Provavelmente por serem bem

jovens e ainda não tem uma vivência com o assunto tratado no texto, a falta de

leituras, de maturidade e de conhecimento de mundo para fazer uma análise dentro

do contexto, da linguagem figurada e de um texto mais elaborado e complexo.

Neste momento a mediação do professor foi muito importante para o entendimento

deste gênero textual.

A leitura e interpretação da música "Comida" do Grupo Titãs também foi muito

interessante, pois eles perceberam como podemos ter fome e sede, no sentido

figurado, de outras coisas. Uma questão tinha o seguinte enunciado "Você tem sede

do quê? Por quê?, a partir desse questionamento foi possível uma reflexão sobre o

presente e projetos para o futuro. Apesar de serem pequenos, muitos demonstraram

a falta de perspectiva, sem saber muito o que dizer. Outros falaram que querem, por

exemplo, um carro. Que é preciso estudar e trabalhar para comprar e manter o

carro. Uma roda de conversa, um debate sobre esse assunto, poderia render uma

reflexão coletiva muito interessante.

Alguns professores no GTR comentaram sobre a dificuldade de utilização de

equipamentos na escola. A minha escola não tem sala para atividades

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diferenciadas, para projeção de filmes, etc. Então resolvi utilizar o projetor multimídia

no Laboratório de informática, pois poderia montar antes e teria a ajuda do

funcionário responsável. A realidade me mostrou mais complexa: O espaço não

ajudou, as crianças ficaram muito juntas, cutucavam-se, mexiam nos computadores,

brincavam com as cadeiras de rodinhas, ficaram muito dispersas e agitadas. Não foi

muito proveitoso, mesmo passando alguns vídeos propostos no material didático.

Depois utilizando a TV Pendrive, passei um vídeo e foi mais fácil e produtivo. Em

muitos momentos na escola temos que trabalhar com o que é possível, pois faltam

espaços adequados, equipamentos e redes de internet quem funcionem. A escola

pública da periferia sempre fica relegada para 2º plano, não tendo os investimentos

públicos necessários para contemplar os vários alunos e alunos, dificultando a

permanência e prejudicando a qualidade da escola pública.

A linguagem mais formal e rebuscada não foi de fácil entendimento para os

alunos. Neste momento a mediação da professora, com a explicação do conteúdo

do texto verbalmente e uma conversa dialogada foi bem mais produtivo que as

atividades de análise do texto, pois possibilitou aos alunos sua expressão oral, o

pensamento crítico e a formação de opinião.

A leitura coletiva de uma imagem sobre a distribuição, consumo e

desperdício da água no mundo foi uma atividade muito interessante e suscitou

várias interações, tendo bastante participação dos alunos. “Além de valorizar o leitor

como um sujeito dotado de história e valores, busca-se incentivar o diálogo,

momento de trocas singulares e coletivas, com o intuito de promover atitudes sem

preconceitos ou presunção de certezas”(COSTA,2009, p.118). A imagem

possibilitava uma leitura implícita sobre o problema social da água no mundo e sua

divisão desigual. Alguns alunos fizeram essa leitura, outros não, no momento do

diálogo oral houve essa somatória de olhares e leituras.

Nas questões sobre o significado de uma determinada palavra dentro do

contexto ou procurando no dicionário, alguns alunos não conseguiram analisar as

diversas acepções de uma mesma palavra e definir qual poderia substituir ou qual

facilitava a interpretação. Em determinadas questões por desconhecerem o

significado de uma palavra ou frase não conseguiam entender a questão. Muitos

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procuram uma resposta pronta retirada de uma frase no texto, não conseguem fazer

as inferências e não entendem o contexto do texto.

Ao responderem as questões tanto na unidade 1 quanto na unidade 2, os

alunos tiveram dificuldade para expor sua opinião ou elaborar a resposta, buscavam

copiar uma parte do texto como resposta certa. Isso pode ser um mau da escola,

uma atitude que se aprende no espaço da escola, pois muitos professores

consideram uma única resposta ou aquela que está no livro didático. As respostas

devem ser elaboradas utilizando sua escrita, com o sentido que conseguem aferir,

sempre considerando o texto, a imagem, ou o filme assistido, possibilitando pôr em

prática a formação da autonomia leitora e escritora, o senso crítico e as habilidades

argumentativas.

A diversidade de textos, de maior ou menor complexidade, de diferentes

gêneros, com questões que analisam o texto como um todo, pode ajudar nas

dificuldades encontradas no ensino da leitura como construção de sentidos. É

necessário a diversidade de leituras, ultrapassando os horizontes de expectativas

dos alunos e alunas, que eles possam interagir e aferir os possíveis significados

dados a determinado texto, dentro dos limites textuais. Pois a significação não está

somente no texto, mas está no leitor e nos seus conhecimentos. “Se o objetivo mais

relevante da formação de leitores é o de capacitá-los para conviver com a leitura do

mundo e com o mundo de possíveis leituras (...) devem estar abertos e acessíveis

para lidar com diferentes interesses, vontades e capacidades” (COSTA, 2009, p. 89).

O aluno deve ser sujeito de suas leituras. O professor mediador de novos

aprendizados e tentativas. As releituras devem sempre acontecer. Não é o que na

maioria das vezes acontece, mas construir significados e resignificações depende de

motivações, da vontade de todos os envolvidos nesse processo e dos objetivos

pretendidos com a leitura,

Ler o implícito, fazer inferências, buscando conhecimentos anteriores,

reconhecer citações das questões sociais, políticas e culturais que estão em todos

os textos, pois eles pertencem a um tempo histórico e social é nosso maior desafio

com a leitura na escola e na vida.

GRUPO DE TRABALHO EM REDE (GTR)

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Na interação virtual com os professores da rede pública estadual, através do

GTR (Grupo de trabalho em rede) foi possível perceber que não há um trabalho

mais específico de ensino-aprendizagem de leitura e interpretação, a leitura em sua

grande maioria é para aprender um conteúdo, para trabalhar um gênero textual e

posteriormente uma produção escrita. Muitos professores quando se referiam a

leitura, era leitura literária, dia de leitura, etc. Alguns acharam as questões de

interpretações mais difíceis de serem aplicadas no dia a dia, pois muitos alunos não

querem ler e escrever. Muitos consideraram as imagens importantes para a

interpretação.

Uma professora escreveu que: "a leitura instrui, complementa, estimula a

imaginação, informa e transforma o leitor". Muitos comentaram que é

responsabilidade de todas as disciplinas curriculares o trabalho com a leitura e

ponderei que a leitura é base para o entendimento das demais disciplinas e deve ser

prioridade de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. Faz parte do

conteúdo estruturante de Língua Portuguesa, devendo ser trabalhada sobre o ponto

de vista das interações sociais, contextuais e de uso que o aluno/a vier a fazer fora

dos muros escolares. É responsabilidade da disciplina de Língua Portuguesa

propiciar o conhecimento básico para que o aluno/a possa entender qualquer texto,

em qualquer disciplina escolar.

As dificuldades, os desafios, as resistências tanto dos alunos quanto dos

professores/as foram comentados pelos participantes do GTR. A aprendizagem de

leitura, não tem um início e um fim, é um processo, estando os alunos/as em

diferentes níveis tanto intelectuais, físicos e de vivências. Por isso estes aspectos

devem ser levados em conta no momento de aplicação de qualquer metodologia de

leitura.

A Proposta Didático Pedagógica aqui apresentada é uma metodologia de

trabalho, uma possibilidade com a leitura. As questões de análise são para que o/a

aluno/a possa compreender o todo do texto, como foi construído, seus objetivos, sua

forma e sempre nos final das questões há uma interação entre o conteúdo e a

vivência de cada um. Conforme Costa,

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Ao ler, construímos para o texto um sentido que mistura o que foi herdado das vivências de leitura de outros textos (que são fruto do pensamento e da vivência de outros sujeitos, formando uma comunidade) com o que assimilamos e tornamos integrante de nossa subjetividade. Não há, portanto, interpretação pessoal. Ela é sempre a soma dos sentidos que circulam socialmente e a contribuição pessoal de um determinado leitor. (2009, p. 40)

Essa atividade de tutoria do GTR foi um momento de reflexão coletiva, pois os

professores e professores do Estado têm suas vivências, seu tempo de serviço,

suas dificuldades, seus acertos. Proporcionou um momento de leitura, de

contextualização, buscando partilhar os conhecimentos da prática em sala de aulas

de nossas vivências individuais, debatendo com os colegas, refletindo sobre o lido e

escrevendo nossas reinterpretações e conclusões ou mesmo nos fazendo cada vez

mais perguntas, pois as respostas não são tão fáceis e não foram dadas com esta

Proposta de material didático, mas suscitou mais questionamentos e possibilidades.

Ao terminar o GTR concluímos que tem professores e professoras que

acreditam no potencial das crianças, jovens e adultos que encontram todos os dias e

com eles travam uma bela história, de avanços, recuos, brigas, convencimentos,

aprendizados, afetos e ao final podem ainda dizer: valeu a pena.

A cooperação, apoio, palavras de carinho e incentivo, as críticas, as

sugestões, foram importantes e proveitosas nesta etapa do Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após estes quase dois anos de trabalho no Programa de Desenvolvimento

Educacional, voltando a Universidade, dialogando com os colegas do PDE, com os

professores e professoras da Universidade, refletindo sobre a profissão, debatendo

o tema da leitura com os professores na escola e no GTR, sobre formação, sobre o

espaço da escola, seus limites e possibilidades, consideramos que foi um tempo de

muito aprendizado e realizações, que não se encerram aqui, pois o percurso é

longo, alguns obstáculos já conhecemos e outros virão, o importante é sempre

prosseguir firme, com vontade e com o desejo de uma escola pública de qualidade

para todas e todos que nela estão.

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Que as dificuldades relatadas neste artigo em relação a aplicação da

metodologia de ensino-aprendizagem da leitura, nos possibilite vislumbrar as

potencialidades que são inúmeras, que depende de muitos aspectos: tanto

materiais, quanto funcionais (excesso de alunos em sala), quanto pessoais e

profissionais, mas que não deve ser um obstáculo intransponível, mas que deve ser

a ponte para que possamos chegar ao nosso objetivo que é o conhecimento

reflexivo de nossos alunos e alunas da escola pública e que moram na periferia.

Acreditando sempre que a escola é o espaço da reflexão docente e discente,

o espaço do conflito, das discussões e não do silenciamento perante as dificuldades

do dia a dia. Sendo a formação, o estudo científico um dos caminhos de

fortalecimento da profissão, diferente da realidade escolar que muitas vezes não nos

possibilita uma parada, um repensar sobre nosso trabalho, que nos desumaniza em

certa medida, que nos suga as forças e vontades.

Por isso todo o processo de estudo, formação, elaboração do Projeto,

Produção do material didático, diálogo na escola e no Grupo de Trabalho em Rede

(GTR), nos diálogos com as orientadoras da Universidade Federal do Paraná foi de

suma importância para a vida pessoal e profissional, pois foi possível um tempo para

propor um trabalho mais específico, com o olhar mais atento as fragilidades

encontradas no espaço escolar, sem nunca deixar de olhar os sujeitos presentes

nesta escola e nesta comunidade, que é fonte de inspiração, de alegrias, de

emoções, que sempre estão no pensamento, pois me sinto pertenciada a esta

comunidade e acredito nos alunos e alunas que a cada dia também enfrentam as

dificuldades, os anseios e persistem em seus estudos procurando uma vida melhor.

O PDE foi um momento de sermos escritores e produtores do nosso

conhecimento e leitores de nossas próprias ações que podem e devem ser

repensadas e reinventadas cotidianamente, pois nossa escola está permeada de

diversidades, de leituras e releituras da realidade social e imersas em muitas

dificuldades a serem enfrentadas cotidianamente.

REFERÊNCIAS

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COSTA, Marta Morais da. Sempreviva, a leitura.Curitiba: Aymará,2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura). GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula.São Paulo: Ática, 2002. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2012. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. MATENCIO, Maria de Lourdes Meirelles. Leitura, produção de textos e a escola: reflexões sobre o processo de letramento. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2002. (Coleção Letramento, Educação e Sociedade). PARANÁ. Secretaria de estado da Educação do. Diretrizes Curriculares da Educação Básica - SEED – 2008. ORLANDI, Eni de Lourdes Puccinelli. Significação, Leitura e Redação. Trabalhos Em Linguística Aplicada, Campinas: SP, 1984. ________Discurso e Leitura. São Paulo: Cortez. Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 1993.