OS CICLOS DE APRENDIZAGEM NO COTIDIANO DA SALA DE AULA… OS CICLOS DE... · 2015-06-22 ·...
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OS CICLOS DE APRENDIZAGEM NO COTIDIANO DA SALA DE AULA: A
RESSIGNIFICAÇÃO DA RELAÇÃO ENTRE O EDUCADOR E OS
EDUCANDOS
AGUIAR, Denise Regina da Costa
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/PUC/SP
Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo
Resumo
O presente texto foi construído a partir de minha pesquisa de doutorado, que objetivou
analisar a proposta da organização curricular em ciclos de aprendizagem, de acordo com
referenciais freireanos, nos sistemas públicos de ensino. Foi desenvolvido também um
estudo de caso ilustrativo, no Município de Diadema, para elucidar empiricamente a
proposta curricular em ciclos de aprendizagem, numa perspectiva crítico-emancipatória
fundamentada em Paulo Freire. A organização curricular em ciclos de aprendizagem,
numa perspectiva crítico-emancipatória freireana, funda-se nos princípios de
participação e autonomia e propõe um outro fazer pedagógico, um processo permanente
de formação humana, que ressignifica o processo ensino-aprendizagem. Na visão de
Freire, ensinar inexiste sem aprender, não há docência sem discência e vice-versa.
Assim, ensinar é uma relação de A com B, entre dois sujeitos cognoscíveis, numa
relação dialógica, mediatizados pelo mundo, por objetos de conhecimentos
cognoscíveis. É uma proposta que se efetiva por meio de estratégias diversificadas para
o cotidiano da escola: a organização de agrupamentos, da aula e rotina pedagógica
diferenciada; constituição do percurso formativo do aluno, o registro nos diários de
ciclo e a ressignificação do processo de avaliação da aprendizagem. É uma
possibilidade de um quefazer diferenciado em sala de aula, onde o educador deve,
permanentemente, de maneira dialógica, com rigorosidade metódica, reinventar a
relação educador-educando, para que os educandos possam perguntar, pesquisar, criar,
compartilhar, duvidar, aprender sem medo e com ousadia.
Palavras-chave: Currículo em Ciclos; Relação Educador – Educando; Paulo Freire.
Introdução
Com o período de redemocratização, no Brasil, ocorreram algumas iniciativas
objetivando a democratização da educação nos sistemas públicos de ensino, municipais
e estaduais, com a intencionalidade de reorganização e flexibilização do currículo
escolar em contraposição ao currículo técnico-linear instituído pelo regime seriado.
Tais iniciativas estruturaram-se na tentativa de ruptura e superação do caráter
elitista, classificatório, seletivo e excludente que a escola seriada legitimou até então,
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negando o acesso e a permanência com qualidade a milhares de crianças das camadas
populares à educação.
Inicialmente o currículo em ciclos foi introduzido, na década de 80, com os
Ciclos de Alfabetização nas redes educacionais dos Estados de São Paulo (1983), Minas
Gerais (1983) e Paraná (1983), intitulados de ciclo básico.
O ciclo básico e a reforma curricular, pautados no princípio da democratização
do ensino, visaram combater os altos índices de evasão e repetência, flexibilizando o
tempo de aprendizagem dos alunos das antigas 1ª e 2ª séries do primeiro grau em um
continuum sem interrupção e assim eliminando e/ou limitando a repetência no primeiro
ano de escolaridade.
No final da década de 80 e início da década de 90 a organização curricular em
ciclos expandiu-se para todo o ensino fundamental (com duração de 8 ou 9 anos) com
uma outra lógica mais radical, como uma proposição de efetivar nas escolas públicas
uma proposta curricular político-pedagógica que considerasse a escola pública como um
espaço-tempo de práticas sociais populares e democráticas.
Pode-se afirmar por meio dos estudos acadêmicos que a experiência pioneira de
implantação do currículo em ciclos para todo o ensino fundamental, à época ensino de
1º Grau, ocorreu na gestão (1989 a 1992) de Luiza Erundina, quando assumiu a
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo o Professor Paulo Freire. A proposta foi
denominada de Escola Democrática, tendo como principal ação o movimento de
reorientação curricular, a implantação curricular em ciclos de aprendizagem associados
a um processo de formação permanente de educadores.
A proposta curricular em ciclos de aprendizagem fundamentada em pressupostos
freireanos expandiu-se para outras redes de ensino, sendo mais frequentemente
denominada de ciclos de formação e reestruturada, de acordo com cada contexto,
realidade local, numa perspectiva de construção de uma escola pública, popular e
democrática.
Nessa perspectiva estruturou-se a Escola Plural em Belo Horizonte (1994), a
Escola Cidadã em Porto Alegre (1995), a Escola Cabana em Belém do Pará e a Escola
Sem Fronteiras em Blumenau, os Ciclos de Aprendizagem em Chapecó, os Ciclos de
Aprendizagem em Diadema/SP, dentre outras.
Cada sistema de ensino, estadual ou municipal, definiu a sua proposta político-
pedagógica para a implantação da organização da escola em ciclos, de acordo com sua
realidade, com diferentes caracterizações, concepções, conceitos e intencionalidades,
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cada qual com sua moldura educacional, não sendo possível definir um único conceito
ou maneira de implantar a organização curricular em ciclos de aprendizagem.
Dentre a variedade de propostas e referenciais existentes, sobretudo com a
expansão dessa organização, a partir da Lei nº 9394/96 – Lei de Diretrizes e Básicas da
Educação Nacional, foi escolhida a proposta da flexibilização curricular em ciclos de
aprendizagem fundamentada no referencial de Paulo Freire, para o aprofundamento
teórico deste texto.
Este texto deriva-se de reflexões/problematizações realizadas durante a pesquisa
que deu origem à minha tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em
Educação: Currículo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP e que
objetivou analisar a proposta da organização curricular em ciclos de aprendizagem, de
acordo com referenciais freireanos, nos sistemas públicos de ensino. Foi desenvolvido
também um estudo de caso ilustrativo, no Município de Diadema, para elucidar
empiricamente a proposta curricular em ciclos de aprendizagem, numa perspectiva
crítico-emancipatória fundamentada em Paulo Freire.
Princípios da Flexibilização Curricular em Ciclos de Aprendizagem
A organização curricular em ciclos de aprendizagem, numa perspectiva crítico-
emancipatório freireana, funda-se nos princípios de participação e autonomia no
processo ensino-aprendizagem e propõe um quefazer crítico-reflexivo para o cotidiano
da escola, num processo de construção coletiva na elaboração, nas decisões e ações
sobre a proposta curricular da escola, entendendo a escola como uma comunidade
curriculista.
Articula teoria-prática por meio da ação-reflexão-ação sobre as práticas e
experiências curriculares, objetivando uma análise crítica do currículo, para localizar
pontos vulneráveis, que precisam de modificações e, a partir da fundamentação teórica
crítica, rever práticas para superá-las.
A organização da escola em ciclos de aprendizagem pressupõe o respeito ao
aluno, ao ritmo de desenvolvimento humano, ou seja, cognitivo, motor, social e afetivo.
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Para Freire educar é formar o ser humano, um sujeito histórico-social, consciente da sua
realidade, capaz de valorar, escolher, refletir, ler o mundo, criticar, mudar.
O objetivo dessa organização é assegurar ao educando o desenvolvimento de sua
autonomia, a continuidade e a articulação do processo ensino-aprendizagem,
respeitando seu ritmo, o seu saber de experiência feito, suas vivências, o conhecimento
que o educando traz, sua história de vida.
O regime em ciclos implica uma nova forma de trabalho do professor, com
articulação coletiva, adequando os conteúdos, a metodologia e uma nova concepção de
ensino-aprendizagem, vinculando a aprendizagem de cada educando, a partir de um
conhecimento significativo.
Na visão de Freire, ensinar inexiste sem aprender, não há docência sem
discência e vice-versa. Assim, ensinar é uma relação de A com B, entre dois sujeitos
cognoscíveis, numa relação dialógica, mediatizados pelo mundo, por objetos de
conhecimentos cognoscíveis.
Para Freire, ensinar, aprender e pesquisar não se dicotomizam e constituem os
dois momentos do ciclo gnosiológico: o em que se ensina e se aprende o conhecimento
já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente. A
do-discência e a pesquisa indicotomizáveis são práticas requeridas no ciclo
epistemológico. ( 2001, p.31).
Pôde-se constatar no trabalho desenvolvido pelos educadores, em Diadema, que
a organização curricular em Ciclos de Aprendizagem tem possibilitado o processo
ensino-aprendizagem, pela via do tema gerador, com apreensão do conhecimento já
existente e a produção de conhecimento pelos educandos.
Por fim, a flexibilização curricular em ciclos requer uma organização curricular
que respeita o desenvolvimento dos educandos.
Uma Organização Curricular que respeita o desenvolvimento dos educandos.
Pensar uma organização curricular que respeite o desenvolvimento dos
educandos significa pensar um outro fazer pedagógico, um outro jeito de se fazer a aula,
de se organizar a escola, de se fazer currículo na diversidade cultural, com outra
qualidade do processo ensino-aprendizagem.
A organização curricular precisa ser flexível para respeitar o educando, seu
ritmo de aprendizagem, de desenvolvimento humano, ou seja, cognitivo, motor, social e
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afetivo. Cada educando aprende de um jeito, de uma maneira, dependendo de suas
experiências, do conhecimento que o educando adquire anteriormente à escola, do seu
saber de experiência feito.
Para Freire educar é substantivamente formar (2001, p.37), formar o ser
humano, um sujeito histórico-social, consciente da sua realidade, capaz de valorar,
escolher, ler o mundo, criticar, de ser curioso e criativo. Nessa dimensão, todo ser
humano é inconcluso, inacabado e está em permanente processo de formação, em
desenvolvimento contínuo. Educar não se reduz ao puro treinamento técnico.
Para isso, a escola precisa diversificar e ampliar as possibilidades de modo a
contemplar os percursos formativos de cada educando. Flexibilizar o tempo e o espaço
para a aprendizagem, para que o educando na interação com outro educando e com o
educador vivencie diferentes experiências e diferentes formas e construa conhecimentos
significativos para sua vida.
Além do desenvolvimento cognitivo de construção de conhecimento
significativo, a escola tem a função de socialização das crianças e do desenvolvimento
afetivo, de formação de valores, de solidariedade, amorosidade, respeito, justiça, direito
de ser e estar no mundo.
Para Freire:
Outro testemunho que não deve faltar em nossas relações com os
alunos é o da permanente disposição em favor da justiça, da liberdade,
do direito de ser. A nossa entrega dos mais fracos, submetidos à
exploração dos mais fortes. É importante, também, neste empenho de
todos os dias, mostrar aos alunos como há boniteza na luta ética. Ética
e estética se dão as mãos. (2006, pág. 77).
A educação tem o compromisso histórico de denúncia de um mundo opressor e
de anúncio de um mundo mais solidário e mais justo, pela produção de uma consciência
ético-crítica.
Para Freire os homens são seres da busca e sua vocação ontológica é
humanizar-se. (2004, p.62). A ética humana é a essência da educação crítico-
libertadora, por isso, educadores e educandos devem se orientar no sentido de efetivar
sua vocação para a humanização.
Todo ser humano é incompleto, inconcluso, por isso, é inerente à vida humana
um permanente processo de busca, de conscientização de sua inconclusão, de
conhecimento de si mesmo, de reconhecimento do outro na relação eu-tu e de
conhecimento do mundo, para a formação da vocação ontológica de ser mais.
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Em Freire, a vocação ontológica de ser mais se relaciona com o sonho, a
esperança, o inédito viável, a utopia inerente à própria existência humana na história.
A utopia exige conhecimento crítico da realidade, implica na conscientização de
uma situação-limite e na problematização de uma situação opressora para superá-la.
A utopia é um ato de conhecimento que permite o desvelar da estrutura
desumanizante de uma situação opressora, para denunciá-la e superá-la, a partir do
anúncio de um mundo humanizante, por meio de uma práxis libertadora.
Nesse sentido, não basta apenas que educandos e educadores se conscientizem
do processo de opressão, que desvelem a realidade, é preciso, também, que a reflexão
seja conduzida para uma prática, uma ação de superação, na unidade dinâmica e
dialética entre o desvelamento da realidade e uma prática de transformação, por um
projeto de educação por meio de uma práxis crítica no cotidiano da sala de aula.
1. A Flexibilização do Tempo de Aprendizagem
Pensar em permanência do educando na escola significa uma reorganização do
tempo da escola, um tempo de permanência para aprendizagens, em que se efetive a
construção e reconstrução do conhecimento significativo, o ciclo gnosiológico, para
todos os alunos, como assinala Freire.
Não me parece possível pensar a prática educativa, portanto, a escola,
sem pensar a questão do tempo, de como usar o tempo para aquisição de
conhecimento, não apenas na relação educador-educandos, mas na
experiência inteira, diária da criança na escola. (2001a, p.54).
A prática educativa, numa concepção epistemológica freireana, parte do saber
de experiência feito, do conhecimento que o aluno traz, do saber popular, articulando-o
com o saber científico, para que a apreensão do conhecimento seja significativa e
relevante para o educando.
Não há hierarquização política do conhecimento, ou seja, todo conhecimento
tem valor, não há uma supervalorização do conhecimento científico em detrimento do
conhecimento popular ou a supervalorização de uma cultura em detrimento da outra.
A escola pública, popular, com essa concepção do conhecimento, deve estimular
o educando a perguntar, a criticar, a ser curioso, a construir e reconstruir
conhecimentos, a conviver com os diferentes, a pensar certo e a ler o mundo.
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O que se propõe é que o conhecimento com o qual se trabalha na escola seja
relevante e significativo para a formação do educando. [...] Proponho e
defendo uma pedagogia crítico-dialógica, uma pedagogia da pergunta. A
escola pública que desejo é a escola onde tem lugar de destaque a apreensão
crítica do conhecimento significativo através da relação dialógica. É a escola
que estimula o aluno a perguntar, a criticar, a criar; onde se propõe a
construção do conhecimento coletivo, articulando o saber popular e o saber
crítico, mediados pelas experiências no mundo. (FREIRE, 2001a, p.83).
Nesse sentido, a proposta de trabalho com os temas geradores permite o
levantamento de conteúdos, a partir do saber de experiência feito dos educandos, que
expressam as situações-limite vividas por eles na cotidianidade, situações
discriminatórias e opressoras da realidade. O momento deste buscar é que inaugura o
diálogo da educação libertadora. (FREIRE, 2003, p.87).
A partir do levantamento da temática significativa, educador e educandos
constroem o programa para trabalhar o conteúdo significativo, problematizando a
realidade. A problematização constitui-se em uma ação conscientizadora e
transformadora da realidade e busca a superação da situação opressora. Conhecer é um
meio para mudar o mundo.
Esta investigação implica necessariamente, uma metodologia que não pode
contradizer a dialogicidade da educação libertadora. Daí que seja igualmente
dialógica. Daí que, conscientizadora também proporcione ao mesmo tempo a
apreensão dos temas geradores e a tomada de consciência dos indivíduos em
torno dos mesmos. (FREIRE, 2003, p.87)
O diálogo entre educador e educando torna-se uma condição imprescindível,
pois não há possibilidade de construção de conhecimento e de uma educação libertadora
sem diálogo.
A construção do conhecimento se dá na relação com o outro, intermediado por
objetos de conhecimento. Todo conhecimento é construído numa relação dialética e
numa situação de diálogo, considerando a tríade A com B, mediatizados pelo mundo,
ou, na prática educativa, a tríade educador-educando, mediatizados por objetos de
conhecimento.
O que nas palavras de Freire significa dizer que: ninguém educa ninguém,
ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo
(2004, p.68).
Essa concepção de construção do conhecimento está imbricada com a concepção
de ensino-aprendizagem. Ensinar e aprender são práticas históricas e indissociáveis,
segundo Freire.
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Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente
que, historicamente mulheres e homens perceberam que era possível –
depois, preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar.
Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na
experiência realmente fundante de aprender. Não temo dizer que inexiste
validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz
não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado
que não foi apreendido não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz.
(2001, p.26).
A expectativa é a de que o conhecimento seja construído por educandos e por
educadores em comunhão, em sala de aula.
Para isso, a escola requer uma organização diferenciada, com rotina pedagógica
da escola e da sala de aula que ressignifiquem o tempo de aprendizagem para o uso
bem-feito do tempo escolar, superando a rotina anacrônica e descontextualizada da
escola seriada.
Na sala de aula, o educador deve, permanentemente, de maneira dialógica, com
rigorosidade metódica, reinventar a relação educador-educando, para que os educandos
possam perguntar, pesquisar, criar, duvidar, compartilhar, sem medo e com ousadia.
O educador deve envolver os educandos no planejamento dos trabalhos,
explicitando claramente seus objetivos e intencionalidades da aprendizagem, tornando-
os co-responsáveis pelo processo ensino-aprendizagem.
A organização da escola em ciclos exige a ruptura com a organização tradicional
da sala de aula, com carteiras enfileiradas, que caracterizam o trabalho individual. Há
necessidade de uma organização espacial diferenciada, que favoreça o trabalho coletivo
entre os educandos, em grupos.
2. Organização de Agrupamentos e Rotina Pedagógica Diferenciada.
A organização de agrupamentos diferenciados na realização das atividades pôde
ser observada, por meio da organização do agrupamento referência, agrupamento por
interesse, agrupamento por necessidade.
Conforme definido pela SME em Diadema, o agrupamento referência/turma foi
formado heterogeneamente, com educandos de uma mesma faixa etária, com um
mesmo professor referência. Nesse agrupamento, ocorre uma rotina pedagógica mais
fixa em sala de aula, ou seja, com o educador da turma, com objetivos a serem atingidos
ao longo do ano.
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Há uma rotina pedagógica definida na escola, que precisa ser observada por cada
educador para a organização da rotina da aula, no seu agrupamento referência.
Durante a observação no campo de pesquisa pode-se evidenciar em todas as
salas de aula acompanhadas, que, no início do turno, existia o hábito de o educador
dialogar com os educandos sobre a rotina pedagógica a ser desenvolvida, escrevê-la no
canto da lousa e fazer a leitura com o grupo.
Observou-se também, que a rotina é planejada e tem uma intencionalidade
educativa, com momentos de atividades individuais e coletivas, atividades que são
coordenadas pelo educador e atividades que são coordenadas pelas crianças,
favorecendo assim o desenvolvimento da autonomia do educando.
Além disso, foi observada, também, a organização da sala e disposição das
carteiras e cadeiras, em grupos de quatro ou em duplas. Todas as salas de aula possuem
um quadro mural, em que são fixados trabalhos, pesquisas das crianças, calendários,
curiosidades. Há sempre muitos materiais fixados nas paredes, de modo a favorecer os
questionamentos e as aprendizagens das crianças.
O agrupamento por interesse, também denominado oficinas, foi formado
heterogeneamente, com crianças com faixas etárias diferenciadas, com periodicidade de
uma vez por semana, organizado, de acordo com a manifestação do interesse da criança
em participar. A inscrição no agrupamento é feita mediante uma pesquisa com os
educandos, para identificar as atividades de que gostam. O educador organiza o
trabalho, de acordo com seu conhecimento e habilidade. Há o respeito da escolha pela
criança para participar da atividade, há o respeito à autonomia do educando.
O agrupamento por necessidade, também denominado de oficinas, foi formado
heterogeneamente, com crianças com faixas etárias diferenciadas, com periodicidade de
uma vez por semana. O educador organiza o trabalho, de acordo com seu conhecimento
e habilidade, porém, o educador do agrupamento turma estabelece a atividade para cada
educando, de acordo com o percurso de aprendizagem individual, considerando as
necessidades individuais de aprendizagens.
3. Constituição do Percurso Formativo do Educando.
O objetivo central da organização do sistema em Ciclos de Aprendizagem é
proporcionar a flexibilização curricular, para que todos os educandos possam aprender,
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tendo como premissa que todos são capazes de aprender, ou seja, todo ser humano é um
ser inconcluso em permanente processo de formação.
Para garantir isso, a Secretaria Municipal de Educação implantou a organização
curricular em ciclos, a partir de um grande debate e formação com todos os envolvidos
no processo, educadores e família, de modo que todos compreendessem a importância
da constituição de um processo de ensino-aprendizagem diferenciado, de um percurso
formativo para cada educando, na escola.
Além disso, tal mudança requer o compromisso e uma nova atitude de todos os
educadores, pois o educando passa a ser da escola, ou seja, de todos e não apenas do
educador responsável por aquela turma, portanto, a aprendizagem de todos os
educandos é da responsabilidade de todo os educadores da escola.
O princípio da participação e do diálogo entre a Secretaria Municipal de
Educação com os educadores da Rede, com os instituintes do processo, é condição sine
qua non para que a proposta dos Ciclos de Aprendizagem numa perspectiva freireana se
efetive num Sistema de Ensino.
A Secretaria Municipal de Educação de Diadema, primeiramente, organizou a
estrutura, a base, investiu em formação para os educadores, afim de que a proposta fosse
compreendida e, assim, tivesse adesão dos educadores e da comunidade, em geral, para,
posteriormente, com apoio dos educadores e comunidade implantar os Ciclos de
Aprendizagem. Trata-se de uma postura de respeito ao educador, aos educandos, ao ser
humano, ao processo de ensino-aprendizagem.
A proposta curricular por Ciclos de Aprendizagem, portanto, exige a discussão
pelos educadores do processo de formação, do percurso de aprendizagem de cada
educando e o registro desse processo. Consequentemente, uma nova postura do
educador perante o processo de ensino-aprendizagem e o processo de avaliação da
aprendizagem torna-se necessária.
O Diário de Ciclo foi instituído como um instrumento-referência para o registro
do percurso de aprendizagem de cada educando, dos objetivos de aprendizagem para o
trimestre, das atividades desenvolvidas nos agrupamentos, da avaliação, dos avanços e
intervenções.
A questão do registro do percurso de aprendizagem do educando é um processo
em construção e reconstrução permanente, em que cada educador, de acordo com seu
saber e com sua experiência imprime sua maneira de fazer.
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Pôde-se observar que o registro foi uma dificuldade apresentada pelos
educadores, que, aos poucos, foi sendo superada. A dificuldade de registrar se deve ao
fato de o educador não ter construído o hábito, no seu tempo de formação. A boniteza
do processo é que o educador reconhece que precisa aprender, que precisa melhorar,
reconhece sua inconclusão, enquanto ser humano, em permanente processo de busca. O
educador traz para o grupo a sua dificuldade, no horário coletivo, para discussão.
Outro ponto observado foi que a Secretaria Municipal de Educação de Diadema
não culpabiliza o educador por não saber ou não saber fazer, pelo contrário, investe em
contratação de assessoria externa para sanar as dificuldades dos educadores, perante a
nova estrutura curricular em Ciclos de Aprendizagem.
Esse processo permitiu uma ressignificação do processo de avaliação da
aprendizagem, pois a avaliação centrada no produto, nos resultados, nas notas atribuídas
para a promoção ou retenção, foi substituída por um processo formativo, isso é, a
avaliação passou a subsidiar o processo de ensino-aprendizagem, a diagnosticar os
avanços e dificuldades de cada educando, para o planejamento de atividades
diferenciadas e intervenções do educador.
A avaliação da aprendizagem passou a ser um instrumento formativo e de
emancipação dos educandos e educadores. Permitiu um processo de reflexão sobre a
realidade, para busca de soluções, no coletivo de educadores.
A avaliação da aprendizagem deve ser diagnóstica, contínua, processual,
emancipatória, qualitativa e utilizada para ressignificar o uso bem-feito do tempo
escolar, para indicar intervenções, a fim de superar possíveis dificuldades, como aponta
Freire.
Os critérios de avaliação do saber dos meninos e meninas que a escola usa,
intelectualistas, formais, livrescos, necessariamente ajudam as crianças das
classes sociais chamadas favorecidas, enquanto desajudam os meninos e
meninas populares. E na avaliação do saber das crianças, quer quando
recém-chegam à escola, quer durante o tempo em que elas estão, a escola de
um modo geral não considera o saber de experiência feito que as crianças
trazem consigo [...] Democratizando mais seus critérios de avaliação do
saber, a escola deveria preocupar-se com preencher certas lacunas de
experiências das crianças, ajudando-as a superar obstáculos em seu processo
de conhecer. (2001a, p.22).
Essa avaliação permite identificar as aprendizagens já consolidadas pelas
crianças, as dificuldades, ao longo do processo, e as estratégias de intervenções
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necessárias, direcionando as ações do educador, durante o processo ensino-
aprendizagem para a construção do conhecimento.
Essa prática avaliativa é inerente ao processo de organização da escola em
Ciclos de Aprendizagem e tem por premissa não promover automaticamente, sem
aprendizagem, não classificar, não excluir, não quantificar, não burocratizar e não
reprovar.
Considerações finais
A proposta da organização curricular em ciclos de aprendizagem numa
perspectiva freireana, crítico-libertadora, caracteriza-se por outro fazer pedagógico, um
processo permanente de formação humana, que ressignifica o processo ensino-
aprendizagem.
É uma proposta que se efetiva por meio de estratégias diversificadas para o
cotidiano da escola: a organização de agrupamentos, da aula e rotina pedagógica
diferenciadas; constituição do percurso formativo do aluno; o registro nos diários de
ciclo e a ressignificação do processo de avaliação da aprendizagem.
É uma possibilidade de um quefazer diferenciado em sala de aula, onde o
educador deve, permanentemente, de maneira dialógica, com rigorosidade metódica,
reinventar a relação educador-educando, para que os educandos possam perguntar,
pesquisar, criar, compartilhar, duvidar, aprender sem medo e com ousadia.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 38. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2004.
_____. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 20. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2001.
_____. A Educação na Cidade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001a.
_____. Que Fazer: Teoria e Prática em Educação Popular. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2002.
_____. Professora Sim, Tia Não: cartas a quem ousa ensinar. 16. ed. São Paulo: Olho
d’água, 2006.
SHÖR, Ira; FREIRE, Paulo. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. 10. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 2003.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola
EdUECE- Livro 103365
Fontes Documentais
DIADEMA, Secretaria Municipal de Educação de Diadema, 2007 – Caderno
Introdutório: O movimento de reorientação curricular em Diadema.
DIADEMA, Secretaria Municipal de Educação de Diadema, 2007 – Caderno:
Diadema – Ensino Fundamental – Proposta Curricular: diretrizes político-pedagógicas.
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