Os chifres da hiena - smbrasil.com.br
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Os chifres da hiena e outras histórias da África OcidentalMamadou Diallo
Tradução Annita Costa Malufe Ilustrações Yili Rojas Indicação Leitores iniciantes e em processoTemas Astúcia e força; Natureza e destino; Relação entre homens
e animais; Escatologia; Aparências enganosasDisciplinas afins Português; História; Geografia
De boca em boca
As histórias tradicionais guardam a memória do mundo
– um tesouro que se atualiza cada vez que uma pessoa
empresta corpo e voz à transmissão de enredos de
origem anônima e coletiva. A coleção De boca em boca
reúne uma amostra representativa desse rico acervo de
histórias da tradição oral, oriundas de diferentes povos e
regiões. São narrativas singulares que, por trás do traço
pitoresco, da particularidade local, revelam de modo
lúdico e lírico a experiência comum da humanidade.
A fim de recuperar a dimensão vocal dessas histórias,
que se costuma perder na passagem para a escrita,
De boca em boca recria, por meio de recursos
gráficos (como os itálicos e negritos e as variações no
tamanho dos caracteres e na sua distribuição espacial),
inflexões de tom, mudanças de ritmo e ênfase (apenas
uma sugestão, entre as múltiplas possibilidades de
oralização). Dessa maneira, povoa-se a solidão da
página e as palavras ganham altura no céu da boca.
Série De boca em boca
80 páginas
Guia de leitura
para o professor
A fim de promover a paz entre os animais, o rei
elefante propõe a substituição da caça pela agri-
cultura em Por que a lebre pula em vez de andar?
Mesmo estranhando a proposta, os animais logo
se põem a discutir a divisão do solo, o que leva ao
seguinte critério de partilha: os animais receberiam
um terreno equivalente a dez passos de cada espécie.
Inconformada, a lebre decide trapacear para obter
um terreno maior: em vez de passos, dá pulos. Dian-
te do protesto geral, ela se defende dizendo que é da
sua natureza mover-se pulando. Os outros animais
aceitam sua explicação, mas ameaçam cortar-lhe as
orelhas caso a vejam caminhando.
O protagonista da história seguinte – Maalign Sa-
adyo – é um hipopótamo sábio e venerado, Maalign,
que preza a companhia dos homens. Ajudando certo
dia uma mulher grávida a pegar água no rio, ele prevê
o nascimento de uma menina, de quem deseja tor-
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nar-se amigo. Em troca, promete realizar os desejos da mãe e garan-
tir a paz na região. A tal menina, de nome Awa, torna-se então amiga
do hipópotamo e cresce em sua companhia, o que provoca inveja e
hostilidade dos demais. Awa passa a visitar o amigo às escondidas,
mas seu pai logo lhe arranja um noivo, um famoso guerreiro. Muito
ciumento, esse noivo pede a uma feiticeira uma bala de fuzil para
liquidar Maalign. Na madrugada, ouve-se um disparo. O hipopó-
tamo amanhece morto. Uma tempestade sobrevém e mata todos,
exceto uma perdiz, que entoa a canção desta história.
Em Engolindo o leão, somos apresentados a Diabou N’Dao, me-
nina travessa que adora quebrar coquinho. Gosta tanto que nem os
rugidos de um leão ao longe a desviam do seu vício. A mãe a previne
do perigo; o pai e o irmão pedem que se esconda; mas ela não lhes
dá atenção. Implacável, o leão chega à aldeia e engole a menina. Dia-
bou, no entanto, sai pelo fiofó do leão... e o engole... Mas o leão sai
pelo fiofó da menina e a redevora. E assim sucessivamente até que
Diabou prende a fera dentro da barriga enchendo o fiofó de papel.
Sapeca como só, ela vai até o mercado central para libertar o leão no
meio do povo. Apavorados, todos fogem, inclusive o leão.
Mariama, a heroína de A noiva da serpente quer algo impos-
sível: casar-se com um homem de corpo perfeito, sem nenhuma
cicatriz. Após rejeitar vários pretendentes, ela acaba desposando
uma serpente, metamorfoseada em homem por magia. O irmão
de Mariama a adverte, mas ela não lhe dá ouvidos e segue viagem
para o reino do marido, que a devora no caminho. No entanto,
seu suplício é breve, pois ela é salva pelo irmão. Ele rasga o ventre
da serpente adormecida e retira Mariama de dentro dele. Voltam
os dois para a aldeia, onde a garota se casa com o campeão dos
lutadores: um jovem bravo, corajoso, inteligente, bonito, genero-
so e... coberto de cicatrizes.
Na última história (Os chifres da hiena), cansada do esfor-
ço da caça, uma hiena decide tornar-se vegetariana. Mas antes
consulta os herbívoros de longa data (o touro, o antílope e a ca-
bra) sobre que tipo de vegetal deveria comer. Para fazer troça,
os comedores de capim dizem-lhe que só quem tem chifre pode
pastar. A hiena tenta contra-argumentar. Lembra que herbívoros
como o hipopótamo, o elefante e o camelo não têm chifres, mas
acaba se deixando convencer. Pede então a um ferreiro que lhe
fixe no crânio um par de chifres. Após a operação, a hiena co-
meça a sentir dor e vertigem – o mundo pesa-lhe sobre a cabeça.
Por fim, ela desiste da idéia, chegando à conclusão de que comer
capim não é para qualquer um.
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SímboloS Da lebre
A troca de atributos entre seres humanos e animais é um ex-
pediente muito usado em contos folclóricos, como se evidencia
em diversas histórias desta coletânea. Com freqüência, tal troca se
apóia em esquemas simbólicos, que podem variar de cultura para
cultura, o que não impede a ocorrência de símbolos comuns a
diferentes contextos culturais. É por isso que nos habituamos
a ver, por exemplo, o leão como emblema de força e coragem; a
cobra como símbolo sexual, geralmente associado ao perigo;
a pomba como representante da paz; e assim por diante.
Seguindo por essa trilha, a trapaça da lebre em Por que a
lebre pula em vez de andar? nos faz pensar na multiplicida-
de de valores atribuídos a esse mamífero lagomorfo, parente
do coelho.
Animal lunar por seus hábitos noturnos, para os gregos, a
lebre é um animal ligado à Selene, deusa da Lua, do mesmo
modo que para a antiga cultura maia (no Popol Vuh, livro sa-
grado dos maias, a Lua é salva por uma lebre...). Daí deriva
a imprevisibilidade de seu comportamento, mutável como
as fases da Lua. Por outro lado, o coelho se liga também às
idéias de fertilidade e abundância, como atesta a conexão com
a imagem dos ovos, tradicional nas comemorações de Páscoa.
Já no campo das fábulas, a lebre costuma se distinguir pelo
comportamento imaturo e oportunista, como na célebre his-
tória “A lebre e a tartaruga”, do grego Esopo (VII-VI a.C.), em
que a dita cuja, imaginando-se em vantagem sobre a vagarosa
oponente, dá por ganha a corrida, furta-se ao esforço pela vi-
tória e perde a disputa.
O consórcio entre esperteza e fragilidade, contudo, nos traz
de volta à história recolhida neste livro, já que a lebre, trapacean-
do os outros animais, paga um alto preço: o medo permanente
de ter as orelhas cortadas caso seja pega caminhando.
Que a sorte atribuída às patas da lebre – usadas popular-
mente como amuleto – a ajude a sair das enrascadas em que
sua astúcia a enfia.
o ciclo Do noivo-animal
Em duas outras histórias da coletânea – Maalign Saddyo e A
noiva da serpente – vemos o relacionamento entre mulheres e
rede de histórias
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animais. Na primeira delas, é tão intensa a intimidade que se cria
entre o hipopótamo e a menina Awa que as outras crianças pas-
sam a fazer chacota chamando-a de “noiva do hipopótamo” (não
por acaso, mais tarde, seu noivo humano decide matar Maalign).
Já na segunda, Mariama realmente se casa com uma serpente.
O psicanalista austríaco Bruno Bettelheim (1903-1990), em A
psicanálise dos contos de fada (18. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1996), refere-se a um conjunto de contos em que as heroínas são
obrigadas a ter intimidades ou até mesmo a se casar com ani-
mais. A esse conjunto, conhecido como ciclo do noivo-animal,
pertencem histórias como “A bela e a fera” e “O rei sapo”, nas
quais ressalta o aspecto repugnante e/ou feroz do parceiro mas-
culino destinado às heroínas. Quase sempre o noivo-animal é
um homem enfeitiçado que será salvo (isto é, reconquistará a
forma humana) graças ao amor de uma mulher.
Bettelheim encara a bestialização dos homens como fruto da
angústia ligada ao florescimento da sexualidade. Ela é vista como
algo repugnante por causa de uma educação de tipo repressivo
em que “só o casamento torna o sexo permissível, transforman-
do-o de algo animalesco em um laço santificado” (p. 323).
Claro que tal interpretação se prende aos padrões educativos
da sociedade burguesa ocidental – limite considerado por Bette-
lheim, que atenta para as diferenças de perspectiva em culturas
nas quais haja uma relação mais próxima com a natureza, onde
os animais possuam traços totêmicos. De qualquer maneira, é
possível distinguir um elemento comum entre Mariama, por
exemplo, e as protagonistas dos contos analisados por Bette-
lheim, a saber: a animalidade do noivo de Mariama está rela-
cionada a certa idealização do vínculo erótico. Só quando decide
aceitar um homem imperfeito, com cicatrizes, é que ela encontra
o amor verdadeiro.
Humor, eScatologia e conformiSmo
O tratamento humorístico, com viés mais escatológico ou crí-
tico-alegórico, é o que encontramos no cerne de Engolindo o
leão e Os chifres da hiena. Na aventura com a pequena Diabou
N’Dao, a graça avulta na cena em que a menina e a fera se entre-
devoram sucessivamente, num vaivém da goela ao fiofó.
A cena inesperada poderia evocar outras histórias em que
personagens engolidas continuam ativas na barriga do devora-
dor, como ocorre em “O macaco e a velha”, narrativa popular
que apresenta variantes em diversas partes do mundo. O enredo
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resume-se ao seguinte: uma velha mata, pica, cozinha e come um
macaco; dentro de sua barriga, os pedaços do animal começam
a gritar e acabam saindo pelo fiofó da velha. Em Contos tradi-
cionais do Brasil (12. ed. São Paulo: Global, 2003), o folclorista
potiguar Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) apresenta outra
versão dessa história, recolhida na Bahia e intitulada “O macaco
e a negrinha de cera”. Nela, é uma moça que, por vingança, come
o macaco arteiro e passa mal. Arrependida, ela tenta expulsar o
bicho: “ – Saia pela boca./ – Não saio, que tem cuspe./ – Saia pelo
nariz./ – Não saio, que tem catarro./ – Saia pelo vintém./ – Não
saio, que tem malcriação”. O macaco então estoura a barriga da
negrinha e sai assoviando, matreiro.
Em contrapartida, o que há de risível no conto da hiena que
deseja se tornar vegetariana a qualquer custo parece sugerir
que a ordem natural das coisas repousa sobre um fundamento
racional e, portanto, não pode ser alterada por uma decisão
solitária. A cada um compete um papel predeterminado no
concerto do mundo. Tal visão é bastante condizente com os
valores tradicionais, que encarecem mais a permanência que a
ruptura. Em outros contextos, porém, regidos antes pela mo-
bilidade, a ridicularização do desejo de mudança pode soar
conservadora e conformista...
a cor do luGar
A África possui clima quente e úmido e um dos ecossiste-
mas mais ricos da Terra: a floresta equatorial. Ao seu redor,
desenvolve-se um tipo de formação vegetal mista, composta
de gramíneas e arbustos – a savana – um paraíso para animais
herbívoros, como gazelas, zebras, girafas, elefantes, rinoceron-
tes, hipopótamos que, por sua vez, atraem muitos carnívoros,
leões, guepardos e hienas.
Em várias comunidades africanas, cabe aos griôs, contadores
de história, a função de entreter e educar os mais jovens, trans-
mitindo-lhes conhecimento e modelos de conduta. Por meio
dessas histórias, recria-se a tradição, que perpetua a memória de
um grupo e alarga a percepção do presente.
Nesse legado de narrativas, destacam-se os animais das fábu-
las – espelho onde as qualidades humanas se refletem, muitas
vezes em negativo. Reflexo que revela as manobras de um pensa-
mento sensível, apoiado na concretude da experiência.
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Portanto, se os animais constituem ponto de partida para ope-
rações simbólicas e metafóricas, inversamente, tais operações tam-
bém são influenciadas pelos traços concretos da fauna que aí habi-
ta. Vamos conhecer alguns de seus mais ilustres representantes? elefante É o maior animal terrestre – alguns
chegam a pesar 12 toneladas e a
medir 4 metros de altura. Também
encontrado na Ásia, o elefante africano
é maior, tem orelhas mais largas, exibe
presas de marfim e se divide em duas
subespécies: o elefante da savana e o
da floresta. Corpulento e inteligente,
tem poucos predadores e é associado à
paciência e à sabedoria.
hienaPreferencialmente necrófaga. Além
de cadáveres, a hiena também
devora animais vivos. Com sua
gargalhada aterrorizante, simboliza o
conhecimento material desprovido de
transcendência. Voraz, em contos de
diferentes tradições, é retratada como
um bicho ingênuo, tolo.
hipopótamo Vive próximo a rios e pântanos, onde
passa grande parte do tempo imerso,
deixando fora d’água apenas os olhos e
as narinas. Herbívoro que costuma pastar
à noite, às margens dos rios em que
vive, o hipopótamo também costuma
atacar plantações. Evita o contato com o
homem, mas se defende com violência,
caso se sinta ameaçado (é o mamífero
que mais mata africanos anualmente).
leãoSímbolo do poder animal e cósmico.
Com sua imensa juba dourada,
que lembra os raios do Sol, o leão
é considerado “o rei dos animais”
em várias culturas. Seu significado
simbólico é dúplice: os homens
invocam sua proteção (vários templos
são guardados por estátuas de leões) ao
mesmo tempo que temem seus ataques.
além da páGina
uSar o corpo, Soltar a voz
Uma primeira idéia de atividades que podem ser desen-
volvidas em sala de aula a partir deste livro liga-se, é claro, à
oralização/dramatização de algumas das histórias, ou seja, à
leitura compartilhada diante de um grupo. Para tanto, antes
de tudo, é preciso organizar o espaço de um jeito propício à
leitura dramática. Afastar as carteiras de modo a criar uma pe-
quena “clareira”, onde as crianças possam sentar-se em roda,
sempre ajuda. Investido do papel de contador de histórias, o
professor pode e deve empenhar-se corporalmente nessa tare-
fa. Ouvidos e olhos, garganta e músculos devem estar atentos,
à disposição das personagens.
Outra possibilidade, a ser experimentada com crianças um
pouco mais maduras, consiste em dividir os alunos em peque-
nos grupos e incumbir cada um deles da leitura de um con-
to. Convém que, antes de apresentar a cena à roda, cada grupo
“ensaie” um pouco, que os alunos experimentem a voz e a pos-
tura mais adequadas a cada personagem (narrador também é
personagem!) e que se revezem nos papéis. A leitura deve ser
despojada, até mesmo com os alunos simplesmente sentados
diante dos colegas. No entanto, caso eles desejem e haja tempo,
também se pode fazer uma encenação mais “completa”, com
roupas, objetos e cenário.
O que importa, na verdade, é tirar a história do papel e ofe-
recê-la aos demais, usando as pistas gráficas que o próprio livro
fornece para indicar mudanças de ênfase, ritmo e inflexão, ou
criando uma nova marcação: afinal, as histórias são abertas e ad-
mitem mais de uma interpretação.
atraSo e paraliSia: oS impaSSeS Do creScimento
Conforme já se disse, um dos símbolos amiúde associados à
lebre é o da imaturidade, tema presente em histórias de proce-
dência variada, como a que abre este volume e “A lebre e a tar-
taruga”, de Esopo. Nas duas narrativas, seja por presunção ou
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safadeza, a saltitante criatura procede de modo irresponsável e
desastrado, expondo-se ao risco de ser punida pelos companhei-
ros da floresta (a quem logrou) ou ultrapassada pela lentidão
perseverante da tartaruga, que, devagar, vai longe.
Saindo do universo das fábulas e histórias tradicionais, en-
contramos saltadores igualmente problemáticos em Alice no País
das Maravilhas, do escritor inglês Lewis Carroll (1832-1898). Ali
deparamos com um coelho e uma lebre, ambos marcados por
uma relação estranha com o tempo. O primeiro, sempre esbafo-
rido, é afligido pela sensação de estar continuamente atrasado.
A segunda passa o tempo todo tomando chá em companhia do
Chapeleiro Maluco, que, tendo brigado com o tempo, ficou pri-
sioneiro das seis horas da tarde (razão pela qual em sua casa é
sempre hora do chá).
Atraso ou paralisia: duas formas de descompasso em rela-
ção ao tempo que têm tudo que ver com a imaturidade e os
impasses do crescimento (uma das questões centrais na aven-
tura de Alice).
Com base nessa percepção, o professor poderia apresentar
brevemente aos alunos a fábula de Esopo e trechos seleciona-
dos do livro de Carrol, estimulando-os a comparar as lebres
desses autores com a da história tradicional recolhida por Ma-
madou Diallo.
Qual é o bicHo?Sozinhos ou em interação com os seres humanos, em todas
as histórias deste livro os bichos comparecem encarnando va-
lores e transmitindo lições. A fim de explorar as ressonâncias
simbólicas aí contidas, sugere-se dividir a classe em pequenos
grupos que participarão do jogo “Qual é o bicho?”. Nele, cada
membro do grupo deve escolher mentalmente o bicho que o
representa melhor. Feita a escolha, o restante do grupo deve
adivinhar o animal escolhido por meio de perguntas do tipo:
“Do que se alimenta esse bicho? Ele prefere o dia ou a noite;
a água, o céu ou a terra? Tem sangue frio ou quente? Vive em
bando ou sozinho? Qual seu maior defeito ou ponto fraco? E a
maior virtude?”.
Em seguida, os grupos poderiam se reunir para divulgar as es-
colhas, o que permitiria averiguar quais os bichos mais ou menos
populares e que traços subjetivos (psicológicos, morais) entram na
descrição zoológica. Por fim, os alunos poderiam produzir peque-
nos perfis para cada animal, compondo um bestiário particular.
As atividades propostas nesta seção
foram elaboradas tendo em vista
alunos com diferentes graus de
maturidade. Cabe a você, então, julgar,
entre as várias sugestões oferecidas,
quais as que mais se ajustam ao grupo
com que está trabalhando.
atenção, professor!
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MaMadou diallo
na boa Sob o baobá
Kaô
Obá obá obá obá obá
Obá obá obá obá obá
Obá obá obá obá
Xangô baobá obá Xangô[trecho de canção “Kaô”, de Gilberto Gil e Rodolfo Stroeter, faixa do CD O sol de Oslo, 1998]
Um dos principais símbolos do continente africano, o bao-
bá é uma árvore imensa, que chega a viver mais de 2 mil anos,
atingindo 20 metros de altura e 10 de espessura de tronco. Dele
tudo se aproveita. Da madeira mole de seu tronco, se extrai fibra
têxtil; suas folhas, flores, frutos e sementes são comestíveis e têm
inúmeros usos medicinais.
A partir da audição da música “Kaô”, os alunos podem ser in-
citados a observar os efeitos sonoros e semânticos criados pelos
autores por meio de elementos da cultura afro-brasileira – como
Xangô (orixá do fogo, dos trovões e da justiça); kaô (saudação a
Xangô) e Obá (a terceira e mais velha das mulheres de Xangô)
– cujo significado será objeto de pesquisa.
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MaMadou diallo
livros, filmes e SiteS: sugestões
livros
para o profeSSor
• A África na sala de aula – visita à história contemporânea, Leila Leite Hernandez. São Paulo: Selo Negro Edições, 2005.Especialmente concebido para professores, o volume convida a abandonar preconceitos e estereótipos a fim de que se possa ver a África como o entrelaçamento de diversas culturas e processos históricos, de identidades complexas e, muitas vezes, contraditórias.
• África e Brasil africano, Marina de Mello e Souza. São Paulo: Ática, 2006.Um retrato abrangente do continente africano, com informações sobre sua história antes e após a escravidão. O livro também trata da presença africana no Brasil, para onde foram trazidos cerca de 5 milhões de escravos ao longo de mais de três séculos.
para o aluno
• ABC África, Rogério Barbosa. São Paulo: Edições SM, 2007. Uma introdução à cultura e ao continente africanos em 26 verbetes ricamente ilustrados por Luciana Justiniani.
• Caminhos de Exu, Carolina Cunha. São Paulo: Edições SM, 2005. Exu não pára quieto, é dono dos caminhos, sabe de tudo, vê tudo. Histórias sobre uma das divindades mais populares da cultura iorubá.
• Histórias de Ananse, Adwoa Badoe. São Paulo: Edições SM, 2006. Narrativas protagonizadas por Ananse, uma aranha que se comporta como gente, metendo-se em várias enrascadas. Muito populares em Gana, na África Ocidental, essas histórias difundem os costumes e valores de uma tradição milenar.
• O chamado de Sosu, Meshack Asare. São Paulo: Edições SM, 2005.Relato sobre a obstinação de um menino corajoso que, mesmo sem poder andar, consegue avisar seu povo de uma catástrofe iminente.
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MaMadou diallo
Elaboração do guia Luciana araujo (jornaLista e mestranda em teoria Literária peLa universidade de são pauLo); PrEParação Fabio Weintraub; rEvisão GisLaine maria da siLva e carLa meLLo moreira.
filmes
para o profeSSor • Diamante de sangue [Blood diamond], Edward Zwick,
EUA, 2006.Filme de ação que se passa durante a década de 1990, tendo como pano de fundo a guerra civil de Serra Leoa, na África Ocidental. A trama se apóia no esforço para recuperar um diamanate rosa muito valioso, escondido por um pescador da etnia Mende separado de sua família à força e um ex-mercenário traficante de armas.
• Família Alcântara, Daniel e Lilian Solá Santiago, Brasil, 2004.Documentário sobre uma família descendente de africanos escravizados no sudeste brasileiro (Minas Gerais). Partindo das atividades artísticas (coral, teatro, congadas) e religiosas desenvolvidas pela Família Alcântara, o filme mostra como fragmentos de memória ancoram a identidade em condições adversas, tornando-se uma fonte de resistência cultural.
para o aluno
• Kiriku e a feiticeira [Kiriku et la sorcière], Michel Ocelot, França /Bélgica/Luxemburgo, 1998. Desenho animado sobre uma lenda africana tradicional em que um menino minúsculo enfrenta a feiticeira Karaba, que secou as fontes da região e seqüestrou os homens da vila.
SiteS• Casa das Áfricas
www.casadasafricas.org.brEspaço cultural e de estudos sobre sociedades africanas, exposições virtuais, consulta a biblioteca especializada.
• Fundação Cultural Palmares www.palmares.gov.brPágina oficial da fundação ligada ao governo federal. Apresenta informações sobre políticas públicas e dados sobre a população afro-descendente, comunidades quilombolas, artigos e notícias.